CONCENTRAÇÕES DE PARTICULAS INALÁVEIS EM SÃO JOSÉ DO RIO PRETO E A GESTÃO AMBIENTAL DO AR
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- Emanuel Danilo Oliveira Henriques
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1 1 CONCENTRAÇÕES DE PARTICULAS INALÁVEIS EM SÃO JOSÉ DO RIO PRETO E A GESTÃO AMBIENTAL DO AR RESUMO José Mário Ferreira de Andrade 1 Em 2011, o ar de São José do Rio Preto apresentou uma concentração média anual de Material Particulado (MP 10 ), de 39 µg/m³. Essa concentração foi a sétima maior dentre as 41 estações de monitoramento da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) e está 95% acima do valor guia da Organização Mundial da Saúde (OMS), o qual é de 20 µg/m³. As principais fontes de poluição do ar em Rio Preto são a queima da palha da cana-de-açúcar, as queimadas urbanas e a fumaça preta emitida pelos veículos diesel. Para manter a qualidade do ar compatível com as metas da OMS, propõe-se a implementação de um plano para a gestão ambiental do ar. Palavras-chave: partículas inaláveis, queimadas, gestão ambiental do ar. ABSTRACT In 2011, the air of São José do Rio Preto had an annual average concentration of particulate material (PM 10 ), 39 µg/m³. This concentration was the seventh largest among the 41 monitoring stations of the Environmental Company of the State of São Paulo (CETESB) and is 95% above the guideline value of the World Health Organization (WHO), which is 20 µg/m³. The main sources of air pollution the Rio Preto are the burning of sugar cane, urban fires and black smoke emitted by diesel vehicles. To maintain air quality compatible with the goals of the WHO, it hasbeen to implement an environmental management plan for air. Key-words: inhalable particles, fires, environmental management of air. 1 Engenheiro civil e sanitarista da CETESB. Professor de Gestão Ambiental do Centro Universitário SENAC. jmfandrade@governo.sp.gov.br - jose.mandrade@sp.senac.br 1º Encontro SENAC de Conhecimento Integrado, ISSN nº , São José do Rio Preto,
2 2 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AIA Auto de Infração Ambiental APP Área de preservação permanente BEESP Balanço Energético do Estado de São Paulo CANASAT Mapeamento de Cana Via Imagens de Satélite) CETESB Companhia Ambiental do Estado de São Paulo CMA Conselho Municipal de Meio Ambiente CNT Confederação Nacional do Transporte CO Monóxido de carbono CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente DENATRAM Departamento Nacional de Trrânsito EENP Estação Ecológica Noroeste Paulista GEE Gases de Efeito Estufa HPA Hidrocarboneto Policíclico Aromático INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais IF Instituto Florestal IPA Instituto Penal Agrícola IQA Instituto de Qualidade Automotiva Kg MP/tc Quilograma de Material Particulado por tonelada de cana Kg NO x /tc Quilograma de óxidos de nitrogênio por tonelada de cana Kg CO 2 eq/tc Quilograma de dióxido de carbono equivalente por tonelada de cana MP 10 material particulado com diâmetro aerodinâmico menor que 10 micras (ou micrômetros) MP 2,5 material particulado com diâmetro aerodinâmico menor que 2,5 micras (ou micrômetros)
3 3 N 2 O Dióxido de nitrogênio NO x Óxidos de nitrogênio O 3 Ozônio OMS Organização Mundial da Saúde PAM Plano de Auxilio Mútuo PMMVD Programa de Melhoria da Manutenção de Veículos Diesel PNQA Plano Nacional da Qualidade do Ar PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos PQAR Padrão de Qualidade do Ar Pró-Ar Programa de Melhoria da Qualidade do Ar Qualar Sistema de Informações da Qualidade do Ar SEADE Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados SIMA Semana Integrada de Meio Ambiente SMA Secretaria de Meio Ambiente SMMAURB Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo, SO X Óxidos de enxôfre UFESP Unidade Fiscal do Estado de São Paulo UNICA União da Agroindústria da Cana-de-açúcar USEPA United States Environmental Protection Agency µm micrômetro ou micra µg/m³ micrograma por metro cúbico 4ºBPAmb 4º Batalhão de Polícia Ambiental de São José do Rio Preto 13ºGB 13º Grupamento de Bombeiros de São José do Rio Preto
4 4 CARACTERÍSTICAS DE RIO PRETO Segundo a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE), o município de Rio Preto tem uma população de habitantes. As cidades de Rio Preto, Mirassol, Guapiaçu, Bady Bassit, Ipiguá e Cedral estão em processo de conurbação e somam habitantes. Atualmente, de acordo com o Departamento Nacional do Trânsito (Denatram), encontram-se licenciados em Rio Preto veículos 1. Desses veículos, são caminhões, caminhonetas e ônibus a diesel. As rodovias Washington Luis (SP 310), Assis Chateaubriand (SP 425) e Transbrasiliana (BR 153) formam o entroncamento rodoviário mais importante do Noroeste do Estado de São Paulo. Essas rodovias cruzam a área urbana central da cidade. A BR 153 liga os polos petroquímicos de Camaçari, na Bahia, ao de Triunfo, no Rio Grande do Sul. Estima-se que por esse entrocamento rodoviário transitam diariamente cerca de caminhões, ônibus e outros veículos a diesel. De acordo com a Conjuntura Econômica de Rio Preto, a população aumenta em habitantes e a frota de veículos cresce unidades por ano. Em Rio Preto ocorre uma das mais altas taxas de veículos por habitante do Brasil (76 veículos para cada 100 habitantes) 2. Conforme o Balanço Energético do Estado de São Paulo (BEESP, 2011), na região administrativa de Rio Preto (96 municípios), ocorre o terceiro maior consumo de combustíveis líquidos do Estado. Anualmente são criados cerca de novos lotes a partir de sítios e chácaras, anteriormente ocupados por pastagens, onde a principal atividade econômica desenvolvida era a pecuária bovina. Com os novos loteamentos, cessa a pecuária e as antigas pastagens, não sendo mais consumidas, transformam-se em biomassa seca, propícia a focos de incêndios. Segundo o 13º Grupamento de Bombeiros (13ºGB), em 2011, houve queimadas urbanas 3. Na região administrativa de Rio Preto, a principal cultura agrícola é a cana-deaçúcar. Em 2011, segundo o projeto CANASAT (Mapeamento de Cana Via Imagens de
5 5 Satélite) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), os canaviais ocupavam ha, dos quais ha (30,8%) ainda eram submetidos às queimadas. A queima da palha da cana, além de provocar poluição do ar, também causa danos aos animais, gera incômodos ao bem-estar público, interrompe as linhas de transmissão de energia elétrica e provoca riscos à segurança das rodovias. Em que pese o avanço da mecanização da colheita da cana, são frequentes os incêndios acidentais. Nos meses de estiagem ocorre a emissão de poeiras provenientes das vias públicas não pavimentadas e das grandes obras de terra, como novos shoppings, acessos rodoviários e conjuntos habitacionais. Nos 108 loteamentos irregulares cadastrados pela Secretaria Municipal da Habitação, as vias públicas são em terra batida, o que torna esses adensamentos populacionais fontes difusas de poluição do ar. Em Rio Preto e demais municípios circunvizinhos, não ocorre a disposição ambientalmente adequada de podas de árvores e da biomassa verde. Por dia são geradas cerca de 200 toneladas de material lenhoso, periodicamente incendiado, o que gera mais poluição do ar. CONCENTRAÇÕES DE PARTÍCULAS INALÁVEIS - MP 10 Segundo a OMS, o material particulado (MP) afeta mais a saúde das pessoas do que qualquer outro poluente 4. Seus principais componentes são sulfato, nitratos, amônia, cloreto de sódio, carbono, pó mineral e água. É constituído por uma mistura complexa de partículas sólidas e líquidas de substâncias orgânicas e inorgânicas suspensas no ar. As partículas são identificadas de acordo com seu diâmetro aerodinâmico. Há o MP 10, particulado grosso, inalável, composto por partículas com um diâmetro aerodinâmico médio inferior a 10 micrômetros 5 (µm). Também há o MP 2,5, particulado fino, respirável, com diâmetro aerodinâmico médio inferior a 2,5 µm. O MP 2,5 é o mais perigoso, já que, quando respirado, pode atingir as regiões periféricas dos bronquíolos e interferir na troca de gases no interior dos pulmões. As partículas mais grossas podem se acumular nas vias respiratórias superiores, agravando os problemas de asma e bronquite. A OMS
6 6 declara que o MP é um contaminante do ar, pois pode provocar doenças respiratórias, cardiovasculares e mutagênicas. Na atmosfera, o MP age no clima da Terra pela sua capacidade de absorção e de dispersão da radiação solar. Atua também como núcleo formador de nuvens (Freitas e Solci, 2009). Por meio do Sistema de Informações da Qualidade do Ar (Qualar), da CETESB, obtiveram-se as concentrações médias anuais de partículas inaláveis em 41 estações de monitoramento, conforme a Tabela I, a seguir. Tabela 1 Concentrações médias anuais de partículas inaláveis (MP 10 ) [período entre 01/01/2011 e 31/12/2011] Ranking Estações de Monitoramento MP 10 [µg/m³] 6 1º Cubatão Vila Parisi 99 2º Cubatão Vale do Mogi 61 3º Osasco 50 4º Araçatuba (*) 48 5º Paulínia Sul 47 6º São Bernardo (*), Santos (*) 40 7º São José do Rio Preto, Parelheiros, São Caetano do Sul e Santana 39 8º Nossa Senhora do Ó, Parque D. Pedro, Cubatão Centro, Taboão da Serra, Santos Ponta da Praia 9º Americana, Congonhas, Ibirapuera, Mauá 37 10º Piracicaba, Diadema, Pinheiros, Santo André Capuava 36 11º Araraquara, Bauru, Jaú, Paulínia Centro 35 12º Catanduva, Sorocaba, Santo André Paço Municipal 34 13º Campinas Centro, Mooca 33 14º Ribeirão Preto 32 15º Jundiaí, Cerqueira Cesar 31 16º São José dos Campos, Tatuí 26 17º Jacareí 25 18º Marília, Presidente Prudente Fonte: elaboração própria com dados do sistema Qualar da CETESB. (*) Obs.: número de dias amostrados não representativos. Na Tabela l, verifica-se que a concentração média anual de partículas inaláveis em Rio Preto, (39 µg/m³), foi a sétima maior dentre as 41 estações monitoradas pela CETESB em 2011.
7 7 Para analisar a distribuição das concentrações de partículas inaláveis de forma mais apurada, estudou-se também o período entre os dias 01/11/2011 e 31/03/2012. Nessa época normalmente não ocorrem as queimadas. Os dados obtidos estão reunidos na Tabela 2, a seguir. Tabela 2 Concentrações médias anuais de partículas inaláveis (MP 10 ) [período entre 01/11/2011 e 31/03/2012] Ranking Estações de Monitoramento MP 10 [µg/m³] 1º Cubatão Vila Parisi 82 2º Cubatão Vale do Mogi 65 3º Paulínia Sul 47 4º Osasco 41 5º Santos Ponta da Praia 38 6º Congonhas, Cubatão Centro 34 7º Santo André Capuava, Santo André Paço Municipal, São Caetano 8º Nossa Senhora do Ó, Mauá, Parque D. Pedro II, Santana 32 9º 10º Carapicuíba (*), Diadema, Santos, São Bernardo, Santo Amaro (*), Taboão da Serra, Araçatuba Americana, Cerqueira Cesar, Guarulhos Paço Municipal (*), Ibirapuera, Interlagos (*) 11º Mooca, Parelheiros 28 12º Campinas Centro, Piracicaba 27 13º Paulínia, Sorocaba 26 14º Jundiaí 25 15º Catanduva, São José do Rio Preto 23 16º Jaú 22 17º Jacareí, Araraquara, Bauru 21 18º Tatuí 20 19º São José dos Campos 19 20º Ribeirão Preto 18 21º Marília, Presidente Prudente Fonte: elaboração própria com dados do sistema Qualar da CETESB. OBS.: (*) número de dias amostrados não representativos. Entre os dias 01/11/2011 e 31/03/2012, a concentração média de MP 10 no ar de Rio Preto foi de 23 µg/m³. Esse valor foi a 15ª maior concentração dentre as 44 estações de monitoramento da CETESB relacionadas. Comparativamente ao período entre
8 8 01/01/2011 e 31/12/2011 (Tabela 1), a concentração média anual de MP 10 reduziu-se em 39% e está muito próxima do valor guia da OMS (<20 µg/m³). Excluídos os fatores meteorológicos, como chuvas, umidade do ar, direção e velocidade dos ventos, pode-se inferir que as queimadas são as fontes de poluição do ar que mais impactam as concentrações médias de MP 10 em Rio Preto. Para visualizar a distribuição das concentrações médias de MP 10 ao longo do ano de 2011, elaborou-se o gráfico da Figura I, abaixo. Figura 1 Distribuição da média mensal de MP 10 [período entre 01/01/2011 e 31/12/2011] concentração Guia da OMS para a média anual [<20 µg/m³] Fonte: sistema Qualar da CETESB Apenas nos meses de janeiro a março (período no qual costumeiramente não ocorrem queimadas) é que as concentrações de MP 10 permaneceram inferiores ao valor guia da OMS (< 20 µg/m³). A maior concentração média mensal de MP 10 (67 µg/m³) ocorreu no mês de Setembro.
9 9 EPISÓDIOS AGUDOS DE POLUIÇÃO DO AR A poluição do ar provavelmente acompanha a humanidade desde os tempos remotos. No entanto, passou a ser sentida de forma acentuada quando as pessoas começaram a viver em assentamentos urbanos de grande densidade demográfica, em consequência da Revolução Industrial, a partir de quando o carvão mineral começou a ser utilizado como fonte de energia. As inovações tecnológicas ocorridas no século XX e a utilização do petróleo como combustível acentuaram ainda mais essa poluição, bem como os processos industriais e a crescente utilização de automóveis e outros meios de transporte movidos a combustíveis fósseis que passaram a predominar no cotidiano como agentes poluidores de destaque. Atualmente a poluição do ar é um problema mundial, com reflexos em todo o planeta, como o efeito estufa e a redução da camada de ozônio (O 3 ) estratosférico. (Assunção, 2004). Segundo Assunção, vários eventos que aconteceram no século XX demonstram que a poluição do ar se constitui numa ameaça grave à saúde pública. Esses eventos são denominados episódios agudos de poluição do ar. Em 2010, na Rússia os incêndios florestais e nas turfeiras atingiram milhares de hectares e se prolongaram por mais de 40 dias. Nessa ocasião o número de mortes em Moscou dobrou e superou a casa de 700 óbitos por dia. No Brasil não há registros de episódios tão severos. Castro (2009), no Rio de Janeiro, comprovou a associação entre a poluição do ar por Material Particulado (MP) e a diminuição da capacidade respiratória. No interior do Estado de São Paulo, a queima da palha da cana-de-açúcar causa o aumento dos sintomas e das internações hospitalares por problemas respiratórios (Arbex, 2004). Internações hospitalares por problemas respiratórios e possíveis associações à exposição humana aos produtos da queima de palha também foram inferidas por Lopes e Ribeiro (2006). Riguera, André e Zanetta (2011) concluíram que a poluição provocada pela queima da palha da cana pode exacerbar os episódios de asma e rinite entre escolares de Monte Aprazível. Na região conurbada de Rio Preto, entre 2010 e 2012 houve uma redução de 80% no número de focos de incêndios registrados pelo INPE 7 (Tabela 3). Contudo, isso não foi
10 10 suficiente para determinar uma diminuição significativa nas concentrações de MP 10, as quais se mantiveram elevadas, comparativamente ao valor guia da OMS de 20 µg/m³. É importante frisar que a maioria dos focos de incêndios detectados pelo INPE referem-se às queimadas de cana, cujo módulo de queima está entre um e três hectares. Como as queimadas urbanas raramente são desse porte, elas podem não ser captadas pelos satélites do INPE. Tabela 3 Focos de incêndio e concentração média anual de MP 10 Município Focos de incêndios [número] Concentração média anual de MP 10 [µg/m³] Rio Preto Mirassol Guapiaçu Bady Bassit Cedral Ipiguá TOTAL Fonte: elaboração própria com dados do INPE. Entre janeiro e abril de 2010, segundo o 13º GB, foram atendidas 290 ocorrências de queimadas urbanas. Esse número praticamente duplicou em relação a 2009, quando, no mesmo período, foram registradas 146 queimadas em áreas sem edificações (terrenos baldios) 11. As queimadas urbanas culminaram, no dia 28/05/2010, com um incêndio que consumiu 20 hectares de pastagens situadas próximas ao antigo Instituto Penal Agrícola (IPA). As chamas atingiram 4,8 ha de mata nativa 12. O gráfico da Figura 2 mostra a distribuição das concentrações médias mensais de MP 10 em Apenas entre os meses de Janeiro/março e novembro/dezembro as concentrações mantiveram-se dentro dos limites recomendados pela OMS (<20 µg/m³).
11 11 Figura 2 Distribuição da média mensal de MP 10 [período entre 01/01/2010 e 31/12/2010] concentração guia da OMS para a média anual [<20 µg/m³] Fonte: sistema Qualar da CETESB Em 2010, houve pelo menos 86 dias sem chuvas entre os meses de maio e agosto, e a umidade do ar baixou a níveis próximos de 10%. No mesmo ano, a maior parte dos focos de incêndio registrados pelo INPE no Estado de São Paulo concentrou-se na região Noroeste 13. O número de pacientes que procurou as unidades de saúde aumentou 50% naqueles dias 14. Esse quadro agravou-se com o incêndio, no bairro de Gonzaga de Campos, em local conhecido como Ponto de Apoio, costumeiramente empregado pela Prefeitura Municipal para o descarte diário de podas de árvores e de outros resíduos de madeira. O fogo consumiu milhares de toneladas de resíduos e as emissões de fumaça e fuligem persistiram por mais de 31 dias 15. Durante 2010, a Polícia ambiental emitiu dezenas de autuações que somaram R$ ,00 em multas relativas a ha de canaviais incendiados.
12 12 Em 2011, o cenário se repetia, o depósito de podas de árvores do IPA voltou a se incendiar duas vezes e a CETESB autuou a Prefeitura Municipal com multa no valor equivalente a Unidades Fiscais do Estado de São Paulo (UFESP[s]) Até o dia 23 de julho daquele ano, foram incendiados ha de canaviais e as multas aplicadas pela Polícia ambiental perfizeram R$ 1.200,000,00. Nos dias mais críticos, o corpo de bombeiros chegou a atender 12 ocorrências diárias de queimadas urbanas 18. Entre janeiro e agosto de 2012, o 4º Batalhão de Polícia Ambiental de Rio Preto (4ºBPAmb) autuou 82 queimadas de cana irregulares, das quais 48 apenas durante agosto. Essas queimadas atingiram ha de canaviais. As multas aplicadas somaram R$ , No dia 1º de setembro de 2012, novamente a área do IPA foi incendiada (Foto 1). Foto 1 Pluma de fumaça sobre a área urbana de Rio Preto 01/09/2012 Fonte: TV TEM Rio Preto.
13 13 Para controlar as chamas foram acionadas equipes do 13º grupamento de bombeiros (Foto 2). Foi necessária a atuação do helicóptero Águia, do Grupo de Salvamento Aéreo de Rio Preto. Foto 2 Ação do corpo de bombeiros 01/09/2012 Fonte: TV TEM Rio Preto. O INPE detectou esse foco de incêndio. As emissões de material particulado eram visíveis até mesmo para moradores do centro da cidade. O sinistro prejudicou a visibilidade junto à Rodovia Washington Luis, alterou os procedimentos de decolagem/aterrissagem do aeroporto local e incomodou alunos de um grande colégio situado nas proximidades. Em virtude desses danos ambientais, a CETESB aplicou à Municipalidade nova multa no valor equivalente a UFESP[s] (R$ ,00).
14 14 A pluma de MP gerada pelo incêndio do IPA foi captada pela estação de monitoramento da qualidade do ar da CETESB, sendo que houve uma elevação acentuada das concentrações horárias de MP, conforme a Figura 3 Figura 3 Concentração média horária de MP 10 [01/09/2012] concentração guia da OMS para a média diária [<50 µg/m³] Fonte: sistema Qualar da CETESB. Pelo gráfico da Figura 3 acima, pode-se inferir que o incêndio do IPA prejudicou a qualidade do ar no dia 01/09/2012. Nesse dia a CETESB acusou uma concentração média diária de MP de 89 µg/m³, superior ao valor guia da OMS (< 50 µg/m³). Ainda nesse mesmo dia, às 14:00 h, a concentração horária do parâmetro ozônio (O 3 ) [168,0 µg/m³] superou o Padrão de Qualidade do Ar (PQAR) de 160 µg/m³ (Figura 4). O ozônio é um poluente secundário, formado na baixa atmosfera (troposfera), em altas temperaturas, a partir da reação entre óxidos de nitrogênio e compostos orgânicos voláteis (vapores de gasolina, tiner, etanol etc.). Os óxidos de nitrogênio, no caso de Rio Preto, são gerados
15 15 principalmente pelas queimadas. O ozônio troposférico é um forte oxidante e afeta a saúde das pessoas, provocando irritações e a constrição das vias respiratórias Figura 4 Concentração média horária de ozônio (O 3 ) [01/09/2012] Padrão de Qualidade do Ar (PQAR)< 160 µg/m³ Fonte: sistema qualar da CETESB. QUEIMA DA PALHA DA CANA-DE-AÇÚCAR Andrade (2009) enfatiza que apesar de haver restrição ao uso de fogo nas matas e outras formas de vegetação desde 1934, quando do primeiro Código Florestal Brasileiro 20, as queimadas nunca deixaram de ser empregadas na agricultura e em áreas urbanas, como método de minimização de volume de resíduos sólidos, de limpeza de terrenos, de eliminação de árvores e de controle e erradicação de pragas.
16 16 A Lei , de 19/09/2002, estabeleceu que a queima nos canaviais deverá ser eliminada gradativamente, com a proibição total no ano de Em junho de 2007, o governo do Estado de São Paulo firmou, com a União da Agroindústria da Cana-deaçúcar (UNICA), o protocolo agroambiental para reduzir o prazo para o fim das queimadas até 2014, nas áreas mecanizáveis, e 2017, nas não mecanizáveis. Na região administrativa de Rio Preto, a principal cultura agrícola é a cana-deaçúcar. Em 2011, segundo o projeto CANASAT, os canaviais ocupavam ha, dos quais ha ainda eram queimados. Essa área de cana queimada é a maior do Estado. A Tabela 4 mostra as áreas de cana cultivada e de cana queimada nos muncípios limítrofes a Rio Preto ha de canaviais (18%) ainda são queimados. Em Monte Aprazível, dos ha cultivados, ha (66,5%) foram queimados na safra/2011. Tabela 4 - Cana cultivada e cana queimada Município Área de cana cultivada [ha] Área de cana queimada [ha] São José do Rio Preto Mirassol Guapiaçu Bady Bassit Cedral Ipiguá Onda Verde TOTAL Fonte: elaboração própria com dados do CANASAT. O mapa da Figura 5 mostra as áreas de cana queimada e as estações de monitoramento do ar da CETESB.
17 Figura 5 Localização das Estações de monitoramento do ar da CETESB e das áreas de queima de palha de cana-de-açúcar autorizadas [safra 2011] 17 Fonte: relatório de qualidade do Ar da CETES
18 18 Segundo Leme (2005), a queima da cana emite para a atmosfera cerca de 3,73 Kg MP/tc, 2,01 Kg NO x /tc e 16,5 Kg CO 2 eq/tc. Admitindo-se que na safra houve uma produção média de 70 toneladas de cana por hectare, pode-se inferir que as queimadas de cana nos municípios limítrofes de Rio Preto emitiram para atmosfera toneladas de material particulado (MP), toneladas de óxidos de nitrogênio (NO x ) e t de CO 2 eq/tc como Gases de Efeito Estufa (GEE). Novaes (2011), afirma que existe uma expectativa positiva para que o protocolo agroambiental seja cumprido até 2014 e seja extinta a queima da palha da cana no Estado de São Paulo, ao menos nas áreas mecanizáveis. Esse prognóstico é plausível ao se verificar na Tabela 3 que o número de focos de incêndios registrados pelo INPE em 2012 diminuiu 69%, comparativamente a A redução do número de queimadas está sendo acompanhada pela diminuição de autuações. Em 2011, o 4º BPAmb emitiu 289 Autos de Infração Ambiental (AIA) em virtude de queimadas. Até o dia 15/09/2012, esse número tinha caído para 185, isto é, uma redução de 36%. FUMAÇA PRETA EMITIDA PELOS VEÍCULOS DIESEL Os motores diesel atingiram níveis de eficiência, de robustez e de versatilidade tais que estão presentes em praticamente todas as atividades humanas. Caminhões, ônibus, tratores, guinchos, guindastes, grupos geradores, embarcações, bombas hidráulicas, perfuratrizes e outros são movidos por motores diesel. As máquinas diesel são mais duráveis que aquelas à gasolina, a etanol ou a gás. Além disso, o preço do diesel é bastante inferior ao preço dos outros combustíveis. Não obstante as vantagens dos motores diesel, sua combustão gera gases nocivos à saúde e ao meio ambiente. A OMS declarou recentemente que as emissões gasosas provenientes da queima do diesel são efetivamente carcinogênicas 21. A combustão do diesel gera gases como o monóxido de carbono (CO), óxidos de enxôfre (SO X ), óxidos de nitrogênio (NO x ) e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA).
19 19 Além dos gases, a combustão do diesel gera uma grande quantidade de material particulado (MP). 80% desse material é a fuligem, ou seja, a fumaça preta que sai dos escapamentos. Essa fumaça tem partículas infinitesimais com diâmetro aerodinâmico medido em micrômetros (ou micras, 1 µm = 1/1000 do milímetro). As partículas com tamanho inferior a 10 µm são conhecidas como MP 10 e são chamadas de inaláveis, pois têm a capacidade de vencer as defesas respiratórias e atingir os alvéolos pulmonares. Parte do MP expelido pelos motores diesel tem diâmetro aerodinâmico menor que 2,5 µm e são conhecidas como partículas respiráveis finas (MP 2,5 ). De 80 a 95% do MP 2,5 é formado por partículas que têm entre 0,05 µm e 1,0 µm de diâmetro (média de 0,2 µm). Quanto menor o tamanho das partículas, maior a chance de atingirem a corrente sanguínea. A legislação brasileira não prevê padrões de qualidade do ar para as concentrações de MP 22 2,5. O padrão de longo prazo adotado pela United States Environmental Protection Agency (USEPA) é de 15 µg/m³. Segundo o relatório da qualidade do ar da CETESB, no triênio 2009, 2010 e 2011, a concentração média anual de MP 2,5 em Rio Preto foi de 12 µg/m³. Essa concentração ultrapassou o valor guia anual de 10 ug/m³ estabelecido pela OMS. O Decreto Estadual 8468/1976, alterado pelo Decreto 54487/2009, estabelece: Artigo 32 - Nenhum veículo automotor de uso rodoviário com motor do ciclo diesel poderá circular ou operar no território do Estado de São Paulo emitindo poluentes pelo tubo de descarga: I - com densidade colorimétrica superior ao Padrão 2 da Escala Ringelmann, ou equivalente, por mais de 5 (cinco) segundos consecutivos; II - com níveis de opacidade superiores aos limites estabelecidos nas Resoluções nº 8, de 31 de agosto de 1993, nº 16, de 13 de dezembro de 1995, e nº 251, de 7 de janeiro de 1999, do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, avaliados pelo teste de aceleração livre descrito no Anexo 12. O parágrafo 2º desse Decreto fixou que cabe à CETESB, à Polícia Militar ou, mediante convênio, aos Municípios, fazer cumprir as disposições do artigo 32.
20 20 A escala de Ringelmann (Figura 6) consiste em um cartão com um pentágono vazado no centro. Em cada lado desse pentágono, estão posicionados os padrões colorimétricos (escalas 1 a 5, densidades de 20 a 100%, respectivamente). Figura 6 Escala de Ringelman Fonte: CETESB. A aferição da conformidade de emissão de um veículo diesel é feita segurando-se a escala com o braço totalmente estendido e comparando-se a fumaça (vista pelo orifício) com o padrão colorimétrico, determinando-se qual tonalidade da escala que mais
21 21 se assemelha à tonalidade (densidade) da fumaça. A atividade de fiscalização de fumaça preta emitida por veículos diesel tem como objetivo primordial proteger a saúde da população. A escala de Ringelmann pode ser empregada também como uma ferramenta educativa para que os alunos e professores tenham percepção da poluição do ar, quer a provocada por veículos automotores, quer a provocada pelas fontes estacionárias (chaminés). Nesse caso, o padrão colorimétrico exigido é a escala I Densidade 20%. A popularização da escala, entretanto, esbarra em seu custo relativamente alto 23. A CETESB fiscaliza os níveis de fumaça preta desde Durante o inverno, quando as condições meteorológicas são mais desfavoráveis à dispersão dos poluentes, intensifica-se a fiscalização 24. Aos proprietários dos veículos infratores é emitida uma multa no valor equivalente a 70 UFESP[s] (R$ 1.290,80). Em 2011 foram lavradas multas. Em 2012, até agosto, contabilizavam-se multas. A legislação concede 70% de desconto aos infratores que comprovam que periodicamente regulam os veículos em oficinas e retíficas credenciadas pela CETESB. Por meio dessas oficinas credenciadas pelo Programa de Melhoria da Manutenção de Veículos Diesel (PMMVD), implementado em parceria com o Instituto de Qualidade Automotiva (IQA), as empresas, os frotistas e os proprietários podem aferir as emissões dos motores através de opacímetro. A CETESB estimula a participação do cidadão por meio do serviço Denuncie Fumaça Preta. No seu site ou através do telefone , recebe denúncias de veículos que transitam emitindo fumaça preta em excesso. Mediante a comunicação da placa do veículo, é endereçada ao proprietário uma carta educativa, orientando-o a fazer as regulagens necessárias. Em 2011, foram enviadas correspondências educativas. De acordo com CETESB observa-se que 4% dos veículos diesel transitam emitindo fumaça em excesso. A Confederação Nacional do Transporte, (CNT) por meio do programa despoluir, promove a avaliação ambiental veicular, com vistas à redução da poluição e o uso racional de combustíveis. Entre 2007 e setembro de 2012, a entidade avaliou a opacidade de veículos a diesel, com 88,05% de aprovação 25.
22 22 Pró-AR PROGRAMA DE MELHORIA DA QUALIDADE DO AR No dia 24/04/2012, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (SMMAURB), ouvido o Conselho Municipal de Meio Ambiente (CMA), definiu que a Semana Integrada de Meio Ambiente (SIMA) enfocaria como tema central o Pró-Ar (Programa de Melhoria da Qualidade do Ar). O Pró-Ar objetiva: Capacitar os professores quanto aos diversos aspectos da poluição do ar; Capacitar dos alunos instrumentalizando-os para ações que contribuam para a melhoria da qualidade do ar; Otimizar do controle dos terrenos baldios de forma a reduzir o número das queimadas urbanas; Conscientizar a população para as boas práticas que evitam a ocorrência de queimadas e a queima ao ar livre de resíduos de qualquer natureza; Conscientizar os proprietários de veículos automotores para a necessidade da regulagem frequente dos motores, de maneira a evitar a emissão de fumaça preta e outros poluentes; Prevenir a ocorrência de incêndios florestais. CONCLUSÃO/RECOMENDAÇÕES As concentrações médias anuais de partículas inaláveis (MP 10 ) em Rio Preto estão acima dos valores guias da OMS. As principais fontes de poluição do ar são as queimadas de cana, as queimadas urbanas e a fumaça preta emitida pelos veículos a diesel. Para se reduzir o número de queimadas urbanas, especificamente aquelas que ocorrem nos terrenos baldios dos grandes loteamentos, será necessário um trabalho de convencimento dos empreendedores, das imobiliárias, dos projetistas e dos proprietários.
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