PLUFT, O FANTASMINHA

Transcrição

1 PERSONAGENS: Sebastião marinheiro - Julião - marinheiro - João marinheiro - Mãe Fantasma - Pluft, o fantasminha - Gerúndio - tio do Pluft - Perna de Pau - marinheiro pirata - Maribel - menina - (Entram os três marinheiros), O FANTASMINHA (Adaptação da obra de Maria Clara Machado) Deve ser aqui, só pode ser aqui! Veja o mapa, Julião! Rápido veja. Veja você, Sebastião, você enxerga melhor do que eu e além do mais eu estou sem meus óculos, fica muito difícil eu ler um mapa sem está usando os óculos. (Troca o mapa pela vela do Sebastião.) É melhor o João ver; João é o encarregado do mapa. Não vou me meter em assuntos que dizem respeito ao João. Ele é especialista em leituras de mapas. (Fazem várias vezes este jogo de trocar o mapa.) JOÃO (Com o mapa) Vejamos... temos aqui uma casinha perdida na areia branca, perto do mar verde, ao lado esquerdo do mar azul, ao leste do mar vermelho. Deve estar por perto... Me faça um favor Julião, pega a luneta. (Olhando pelo gargalo da garrafa) Estou vendo, vejo tudo... mas não vejo nada. (Olha com mais precisão) Opa! Espere, vejo um mar caaaalmo, tenho certeza que esse mar não deve ser professor... e JOÃO Cala a boca, Julião. Pois está muuuito calmo e com algumas ondinhas brancas. Ora, deixe de papo, deixe de brincadeira e vamos seguir em frente. É aqui mesmo! Vamos. (Todos saem)

2 (Entra Pluft) Mamãe, mamãe, mamãe, (Gritando) manhêêêêêêêê! O que foi, Pluft? Por que tanta gritaria? (Entra mexendo a comida em uma panela) (Sempre com o boneco de pano) Ah! Mãe, é por que eu estou com uma dúvida cruel. Me responda mamãezinha... gente existe? Claro, Pluft. Claro que gente existe. Mas, que pergunta meu filho! Você já sabe disso a tanto tempo e ainda vem me fazer essa pergunta! Ora bolas Pluft! (Receoso) Mamãe... eu tenho que te contar um segredo. Eu tenho instagram e watsap. Mas, que segredo mais besta meu filho! Hoje em dia todo mundo tem instagram, watsap. Até eu tenho. Vem aqui, filho. Vamos fazer uma selfie. (Ambos fazem a selfie). Vou enviar para o seu tio. Ai mãe, está bem... na verdade o segredo é outro. Eu tenho medo de gente, pronto falei, (Se esconde e fala ainda escondido). Tenho medo, medinho de gente, não posso nem pesar em gente que já fico geladinho de medo! (Larga o boneco.) Oras bolas, Pluft, deixe de bobagem por favor. Não me faça vergonha. Ontem eu estava passando lá em baixo, perto do mar e vi, tenho certeza que vi, fiquei congelado de medo igual uma estátua. (Imita uma estátua fazendo uma careta.) Viu o que, Pluft? vai me dizer que você viu... Vi gente, mamãe. Só pode ser. Três gentes, tenho certeza que eles eram gente, por que eles eram muito feios e gente é um bicho feio, pode olhar aqui mesmo ó. (Aponta para a plateia). E você teve medo, Pluft?

3 Muito, muito medo mamãezinha. Como que não teria? É a coisa mais estranha do mundo, parece até que eles são de outro mundo, um bicho muito assustador, eu espero nunca mais topar com gente em quanto eu estiver morto. Você é bobo, Pluft. Aonde já se viu fantasma ter medo de gente? Eles é que tem medo de fantasma e não fantasma que tem medo de gente. Pode ficar tranquilo meu filho, o ser humano é uma espécie estranha e as vezes meio burrinha, mas não vão te fazer mal algum. Mas eu tenho medo, tenho muito medo, medo de verdade! Se seu pai fosse vivo, Pluft, você levaria uma surra devido esse medo bobo. (Faz sinal de que vai bater e Pluft foge) Vem cá. Qualquer dia destes eu vou te levar ao mundo para vê-los de perto e aí você vai ver que na verdade, são eles que vão ter medo de nós. Ao mundo, mamãe?!! É, ao mundo. Lá embaixo, na cidade... (Muito agitado vai até a janela. Pausa.) Não, não, não. Eu não acredito em gente, pronto... (Tremendo) Que medo... que medo... que medo... (Olhando para a janela) Olha, Pluft, vem gente. (Abrindo o baú) Acorda, Gerúndio. Vem gente! GERÚNDIO (Levantando-se, espreguiçando) Uuuuuu! Tô com um sono! Estava sonhando com meus amigos. De verdade, tio Gerúndio. Gente mesmo. O mundo todo vem aí! GERÚNDIO (Sonolento) Tô com sono! Me acordem no próximo séééculo. (Fecha a tampa do baú e desaparece, roncando.) (Entra Maribel correndo) Socorro! Socorro! Socorro! João! Julião! Sebastião! meus amigos... me salvem! (Sempre choramingando, Maribel, com muito medo, procura conhecer o sótão, olhando amedrontada para todos os lados; Pluft, que estava à espreita, aproxima-se devagarinho e muito receoso.)

4 Oi! (A menina ao ver Pluft, desmaia.) (Chegando) Ora, Pluft, quem mandou você aparecer?... assustou a menina... (Agarrando-se à saia da mãe) E agora? Será que ela morreu, mamãe? (Coloca a menina na cadeira) Agora temos que esperar que ela volte do desmaio. Coitadinha! (Saindo) Vou procurar algum remédio para desmaio de gente. Fica aí tomando conta dela. (Pluft se aproxima e cutuca a menina. Esta mexe um pouco... Pluft se assusta menos. Maribel torna a ver Pluft, se assusta, mas se levanta e olha Pluft, espantada. Os dois ficam, um em frente do outro, guardando certa distância, em atitude de mútua admiração. Silenciosos, com respiração presa, ficam assim por algum tempo.) (Com medo) Como é que você se chama? (Com medo) Pluft. E você? Eu sou Maribel. Você é gente... não é? Sou. E você? Eu sou fantasma. (Aparece o Perna de Pau) Pluft, ele quer me pegar. Me ajude. (Pluft anda nas pontas dos pés, apaga a vela e corre para o seu lugar; a cena escurece). PERNA DE PAU Oh! O vento apagou a vela... (Olha para os lados) Que vento? Não sinto vento nenhum. Tem algo estranho aqui. (Pluft começa a assustar o Perna de Pau de várias formas até ele sair correndo assustado.) Socorro! Ele fugiu. Obrigado, Pluft, você me salvou. É o meu melhor amigo.

5 e (Festejam pegando na mão e pulando) Viva! Viva! Ele fugiu. Viva! FIM