Continuação - aula princípios

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Ana Salgado Schmidt
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1 Continuação - aula princípios Isso não significa, entretanto, que as partes podem ser tratadas diferentemente. Justamente com o objetivo de compensar eventuais desigualdades, suprindo o desnível da parte inferiorizada para que, efetivamente, se resguarde a paridade de armas. Eventual tratamento diferenciado somente se justifica em função de alguns princípios relevantes, tais como favor rei e in dubio pro reo. O tratamento diferenciado também se justifica, na medida em que, estando a acusação afeta a um órgão oficial, tem a sua disposição todo o aparelhamento estatal preparado para lhe prestar auxílio, enquanto que o réu, normalmente conta com suas próprias forças e as de seu defensor. O juiz tem importante papel para que a igualdade seja efetiva, cabendo-lhe resguardar o equilíbrio das partes, analisando com os mesmos critérios os requerimentos por elas formulados, à luz dos princípios da Magna Carta. Princípio da publicidade Constitui uma garantia para a sociedade, pois de acordo com o art. 5º, LX da CF 1, a lei somente poderá restringir a publicidade dos atos quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem. Também o art. 93, IX da CF prevê que todos os julgamentos do Poder Judiciário são públicos. Segundo a doutrina, há duas espécies de publicidade: 1. Publicidade plena (geral ou popular): aquela que permite o acesso aos atos do processo por qualquer pessoa; 2. Publicidade restrita (especial ou para as partes): aquela em que o acesso aos atos do processo é limitado a algumas pessoas. A regra no processo penal é a publicidade plena. A publicidade restrita somente ocorrerá nos casos em que houver necessidade de defesa da intimidade ou se exigir o interesse público. 1 LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem; 1

2 Princípio da motivação dos atos decisórios Está ligado ao princípio da publicidade, uma vez que não se concebe um julgamento público sem motivação, isto é, sem a exposição das razões que fundamentam a decisão. Está previsto também no art. 93, IX da CF 2, que erigiu a motivação como direito fundamental, sob pena de nulidade. Princípio do devido processo legal (dual process of law) Consiste no conjunto de normas, garantias e princípios, que tem por finalidade tutelar os direitos fundamentais do indivíduo no desenvolvimento do processo, permitindo a justa composição da lide. Está previsto no art. 5º, LIV da CF 3, segundo o qual ninguém pode ser privado de sua liberdade ou de seus bens sem que no procedimento em que se materializa o processo sejam observadas todas as exigências e formalidades previstas em lei. Está previsto também na Declaração Universal dos Direitos do Homem no art. 11, I 4. Segundo a doutrina, o devido processo legal configura dupla proteção ao individuo, uma vez que atua em dois âmbitos: o formal e o material. Do ponto de vista material visa proteger o indivíduo contra condutas do Poder Público relativamente a sua liberdade e propriedade. Já no aspecto formal objetiva assegurar ao indivíduo a paridade total de condições em relação ao Estado persecutor, bem como a plenitude de defesa. Princípios do contraditório e da ampla defesa Estão previstos no art. 5º, LV da CF 5. São corolários do devido processo legal. Ampla defesa é a garantia constitucional que assegura 2Art. 93, IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; 3Art. 5º, LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; 4 Art. XI,1. Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa. 5Art. 5º, LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; 2

3 ao acusado a possibilidade de trazer para o processo todos os elementos necessários ao esclarecimento da verdade e, inclusive, a possibilidade de se calar, entendendo ser essa medida mais adequada. Isso é ampla defesa. A ampla defesa possui duas dimensões: de um lado a autodefesa e de outro a defesa técnica. A autodefesa é aquela exercida pelo próprio acusado, consistente na possibilidade de trazer ao juízo a sua versão dos fatos, sendo disponível. Defesa técnica é aquela exercida por profissional habilitado, advogado, e é indisponível (art. 263 do CPP 6 e Súmula 523 do STF 7 ). O contraditório, por sua vez, é a própria exteriorização da ampla defesa, e para que seja efetivo, devem estar presentes dois requisitos: ciência do ato processual e a possibilidade de reação. Assim, o contraditório e a ampla defesa, embora sejam princípios autônomos, se complementam na medida em que a efetividade do contraditório se dá com o exercício da ampla defesa e é a ampla defesa que garante o contraditório. Princípio da duração processual) razoável do processo (brevidade Está previsto no art. 5º, LXXVIII da CF 8, segundo o qual deve ser assegurada a duração razoável do processo, bem como dos meios que garantam celeridade na sua tramitação. Princípio da oficialidade A repressão ao criminoso constitui função do Estado. Assim, é indispensável que sejam instituídos órgãos incumbidos da persecução penal. Na fase de inquérito a presecução penal está a cargo da autoridade policial e na fase judicial constitui, como regra, função do MP. 6Art Se o acusado não o tiver, ser-lhe-á nomeado defensor pelo juiz, ressalvado o seu direito de, a todo tempo, nomear outro de sua confiança, ou a si mesmo defender-se, caso tenha habilitação. Parágrafo único. O acusado, que não for pobre, será obrigado a pagar os honorários do defensor dativo, arbitrados pelo juiz. 7Súmula 523. No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu. 8 Art. 5º, LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. 3

4 Exceções ao princípio Ação penal privada exclusiva, pois cabe ao ofendido exercer a pretensão punitiva em juízo; e ação privada subsidiária, pois proposta pelo ofendido quando há inéria do Ministério Público, nos crimes de ação pública. Princípio da iniciativa das partes (ne procedat judex ex officio) A jurisdição é inerte, só aje quando provocada. No processo penal vige o sistema processual acusatório, segundo o qual, as funções de acusar, defender e julgar cabem a pessoas diversas. O juiz não pode iniciar o processo de ofício. Princípio da oralidade Significa que vários atos processuais são realizados oralmente, em especial, os atos de instrução. Visando reforçar a oralidade, o art. 405, 1º do CPP 9 previu que sempre que possível, o registro dos atos instrutórios deve ser feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, gravação digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, com a finalidade de garantir maior fidelidade das informações. Princípios decorrentes da oralidade: 1. Imediatidade ou imediação: o juiz deve ter contato direto e imediato com as provas e com as partes para que possa julgar. Este contato, via de regra, ocorre na audiência; 2. Concentração: para que o ato oral possa ser produzido devem ser designadas audiências. Portanto, a produção dos atos orais é concentrada em audiência; 3. Identidade física do juiz: o juiz que realiza a instrução processual fica vinculado ao processo, devendo proferir julgamento. Está previsto no art. 399, 2º do CPP Art. 405, 1o Sempre que possível, o registro dos depoimentos do investigado, indiciado, ofendido e testemunhas será feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior fidelidade das informações. 10 Art. 399, 2o O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença. 4

5 ilícitos Princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por meios Previsto no art, 5º, LVI da CF 11 e também no art. 157 do CPP 12. Prova produzida por meio ilícito é aquela que contraria norma ou princípio do direito material ou do direito processual. São sempre inadmissíveis. Princípio do estado de Inocência (presunção de inocência ou da não culpabilidade) Está previsto no art. º, LVII da CF Art. 5º, LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos; 12 Art São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. 13Art. 5º, LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; 5

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