etrospectiva istórica
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- Paula Valgueiro Palha
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1 R 1 etrospectiva H istórica
2 1 Retrospectiva Histórica 1.1 Período Pré-AMCM: Instituto Emissor de Macau ( ) A partir da adopção de reformas económicas inéditas em finais da década de 70, a economia da República Popular da China conheceu um desenvolvimento sem precedentes, tendo contribuído ao mesmo tempo para acelerar o desenvolvimento de Hong Kong e de Macau. Com um ambiente social relativamente estável, Macau soube aproveitar cabalmente a oportunidade e reforçou a sua economia, com base na manufactura. Para fazer face à nova situação económica e satisfazer os requisitos do novo Estatuto Orgânico de Macau, o governo da Administração portuguesa decidiu criar uma entidade que regulasse a emissão de moeda e as instituições financeiras. E assim, através do Decreto-Lei nº 1/80/M, foi criado em Janeiro de 1980 o Instituto Emissor de Macau, IEM, com autonomia administrativa e financeira, cuja função era regulamentar o funcionamento do sector financeiro, incluindo bancos, companhias de seguro e instituições financeiras de crédito, com vista a promover o seu desenvolvimento organizado e salvaguardar os legítimos interesses de todas as partes envolvidas. De acordo com a legislação vigente, o IEM tinha a competência de emitir a moeda local, a pataca (MOP), sendo igualmente responsável pela gestão das reservas cambiais de Macau. Com estas atribuições, pode dizer-se que, de facto, o IEM desempenhava na prática as funções em regra detidas por um banco central. O Banco Nacional Ultramarino (BNU) funcionava como agente emissor do IEM, colocando em circulação notas de patacas. Quando foi criado, o IEM tinha a sua sede na Avenida da República e contava apenas com 17 funcionários. Devido à escassez de recursos humanos e de conhecimentos técnicos, o IEM tinha de contar com o apoio do BNU para a aquisição e gestão dos seus fundos. No cumprimento das leis vigentes em Macau relativas à emissão de moeda, finança e câmbios, o IEM assinou em 1981 Protocolos de Cooperação com o Banco de Portugal e com o Instituto de Seguros de Portugal para reforçar a formação técnica do seu pessoal nas áreas de supervisão. Em finais de 1982, o IEM começou a rever as suas competências e organização interna, que seriam contempladas pelo Decreto-Lei nº 63/82/M de 30 de Outubro, que lhe conferia novos estatutos e competências alargadas para supervisionar o sistema financeiro de Macau, livre e aberto. A nova legislação para as indústrias seguradora e bancária foi promulgada, respectivamente, em 28 de Dezembro de 1981 e 3 de Agosto de A fim de alargar e melhorar a sua cooperação com os sistemas financeiros de outras jurisdições, nomeadamente de Hong Kong e Portugal, o IEM, com o apoio do Banco de Portugal e de outras instituições de investimento estrangeiras, organizou em 1982 uma importante e pioneira visita de uma delegação bancária a Portugal, para troca de experiências com o sector bancário local. Em 1983, o IEM criou em Macau centros de formação e de verificação de cheques, para providenciar uma plataforma para verificação cheques e liquidações e ministrar formação técnica aos operadores do sector financeiro local e bem assim ao pessoal do IEM. 12
3 Ao longo da década de 80, o IEM, no cabal desempenho das suas funções, realizou inspecções on site e monitorização off site ao sistema financeiro local, assegurando a estabilidade do mercado e a eficácia das suas operações, ao mesmo tempo que ponderava e analisava as condições para o respectivo enquadramento jurídico. Na área da banca, e sob estreita supervisão do IEM, foram formuladas propostas relativas a uma série de regulamentos e directivas importantes, como por exemplo, o capital registado, o rácio de serviço de dívida e o cálculo das necessidades de provisão. Na área dos seguros, o IEM prestou especial atenção à supervisão e coordenação entre as diversas companhias de seguros. Através de regulamentos e directivas relevantes conseguiu-se implementar um sistema de gestão orientado para o benefício dos segurados e que garantia a estabilidade financeira do sistema. Entretanto, o IEM incluía entre os seus principais objectivos o apoio à circulação da moeda local, bem como a garantia da sua convertibilidade, e ainda a promoção do mercado financeiro local. A 13 de Abril de 1987, a República Popular da China e a República de Portugal assinaram a Declaração Conjunta Sino-Portuguesa, tendo o documento sido ratificado a 15 de Janeiro de A Declaração Conjunta Sino-Portuguesa representava a garantia de uma estabilidade a longo prazo e do desenvolvimento de Macau e constituiu a base para a formulação das políticas contidas na Lei Básica da RAEM, a mini-constituição de Macau. O Artigo 11, do Anexo 1 da Declaração Conjunta refere expressamente que: após a criação da RAEM em 20 de Dezembro de 1999, o sistema monetário e financeiro de Macau deverá permanecer basicamente inalterado. A RAEM deverá formular as suas próprias políticas monetárias e financeiras. A operação em regime livre das várias instituições financeiras, a circulação de capitais na RAEM e o seu fluxo livre além fronteiras deverá manter-se inalterado. Não serão implementados controlos cambiais. A Pataca continuará a ser a moeda de curso legal na RAEM e a sua livre circulação e convertibilidade deverão permanecer inalteradas. O Governo da RAEM terá a autoridade necessária para fazer emitir a moeda de Macau, função que poderá delegar nos bancos emissores. As notas que ostentem símbolos não compatíveis com o estatuto de Macau enquanto Região Administrativa Especial da China, deverão ser substituídas gradualmente. 1.2 Autoridade Monetária e Cambial de Macau ( ) Com o acumular dos anos de experiência e a transferência da competência de emissão de moeda para o governo, a Administração portuguesa de Macau compreendeu a necessidade de redefinir as competências e responsabilidades da entidade supervisora. Em 1989 foi promulgado o DecretoLei nº 39/89/M que substituiu ao IEM pela Autoridade Monetária e Cambial de Macau, (AMCM) a partir de 1 de Julho de Mais uma vez, a sua sigla oficial derivava da designação em português. O diploma definia claramente as funções e a autonomia patrimonial, financeira e administrativa da AMCM. Na sua nova estrutura, incorporava-se o Conselho Consultivo, a Comissão de Auditoria e o Fundo Cambial de Macau. A antiga estrutura deu lugar à nova através de um certo número de 13
4 procedimentos. Embora as instalações e o pessoal se mantivessem os mesmos, a nova instituição possuía funções específicas e um âmbito de competências diferente do IEM, em termos de estatutos, e portanto era justamente considerada uma nova instituição. Quando a AMCM foi criada em 1989, contava com 110 funcionários. Após tomar as necessárias providências em termos de transferência de competências, a AMCM procedeu à reorganização da sua estrutura interna, redefinindo as funções de todas as subunidades, daqui resultando uma instituição mais ágil, com responsabilidades claramente definidas. Um ano após a sua criação, o Decreto-Lei nº 27/90/M, de 18 de Junho, contemplaria as modificações de fundo efectuadas, nomeadamente: i) ii) A criação de um novo Conselho de Administração, em substituição do antigo Conselho de Coordenação, cujos membros seriam nomeados pelo Governador; O estabelecimento de uma nova metodologia de gestão para reforçar a operacionalida- de interna e cumprir as políticas de supervisão da moeda, reservas cambiais, banca e seguros. Além disso: a) Conferir competência à AMCM para realizar certo tipo de operações bancárias; b) Criar um sistema especial de gestão de pessoal Regulamento do Pessoal; c) Definir direitos e deveres em relação à manutenção do segredo profissional. d) Criar um sistema especial de escrituração e contabilidade. Para além de continuar a cumprir as atribuições do IEM, a AMCM trabalhou de forma activa para a modernização e desenvolvimento da estrutura de supervisão do sistema financeiro de Macau. Ao mesmo tempo, para dar resposta à política de localização de quadros da Administração, pessoal de origem chinesa passou a ser gradualmente promovido para lugares de gestão, incluindo membros do Conselho do Administração e chefes de departamento. Entretanto, com a renovação do antigo Hospital de São Rafael, na Rua Pedro Nolasco da Silva, iniciada em meados de 1990 e concluída em Junho de 1991, toda a estrutura da AMCM se mudou para as novas instalações. Em 1996, o Decreto-Lei nº14/96/m veio aprovar os novos estatutos da AMCM, flexibilizando diversas atribuições que se encontravam dispersas por legislação avulsa e redefinindo claramente as funções e competências da instituição. Assim, foi criado o Conselho Consultivo, formado por representantes do sector financeiro, com vista a facilitar a comunicação com os operadores do ramo. Segundo o Decreto-Lei nº 14/96/M, para além da supervisão da moeda local, reservas cambiais e dos mercados bancário e de seguros, a AMCM exerceria também as funções de Tesouro, efectuando a gestão dos vários tipos de reserva e outros instrumentos cambiais. Entretanto, como a sua sede na Rua Pedro Nolasco da Silva teve de ser cedida ao Governo português para albergar o seu futuro consulado-geral na RAEM, em 7 de Agosto de 1999, a AMCM mudou-se para o seu novo edifício-sede, na Calçada do Gaio. A 19 de Agosto de 1999 seria nomeado para presidente do Conselho de Administração o primeiro Administrador de origem chinesa de Macau. Além disso, foram igualmente nomeados chefes dos principais departamentos operacionais funcionários de ascendência chinesa de Macau, revelando assim os resultados frutuosos da política de localização de quadros da Administração. No que respeita aos recursos humanos, os progressos foram notáveis ao longo da década O número 14
5 de funcionários aumentou de 110 para 125 e, notavelmente, 75 dos que trabalhavam na área técnica possuíam formação superior. Por outro lado, tendo em conta os possíveis riscos informáticos resultantes da passagem do milénio, todos os departamentos elaboraram um plano de emergência conjunto para fazer face à eventual ameaça ao sistema informático global. Em retrospectiva, do IEM à AMCM, o sistema financeiro local passou de uma inicial estrutura solta, com regulação prototípica, para um sistema devidamente regulamentado. Na sua condição de entidade supervisora do sistema financeiro, a AMCM soube evoluir no decurso do seu próprio desempenho, não apenas em termos de equipamento de hardware mas também aperfeiçoando e agilizando o seu software. Confrontada com o impacto da crise financeira asiática de 1997, a AMCM elevou o seu nível de vigilância e salvaguardou de forma vigorosa a estabilidade do sistema financeiro local, em preparação para o regresso de Macau à Pátria. Para além de cumprir cabalmente a sua missão como garante da estabilidade do sistema monetário e financeiro local, a AMCM também procurou afirmar-se junto da comunidade internacional, tendo os seus esforços resultado bem frutuosos. Em 1995, a AMCM organizou uma visita de estudo de uma delegação do sector financeiro a Pequim e Xangai, onde esta foi recebida pelo Governo Central e efusivamente saudada pelas entidades financeiras daquelas duas cidades, tendo-se reforçado assim a ligação entre os operadores financeiros de Macau e do interior da China. Em 1998, em coordenação com os respectivos departamentos do governo, a AMCM participou no Artigo IV do FMI da Consulta sobre Macau. Em 1997, quando o FMI e o Banco Mundial realizaram os seus encontros anuais em Hong Kong, a AMCM convidou alguns dos seus delegados a participar num seminário em Macau subordinado ao tema Integração Económica no Sul da China: Desafios e Oportunidades. Em 14 e 15 de Maio de 1999, cerca de seis meses antes do regresso de Macau à Pátria, a AMCM organizou outro seminário, sob o tema Políticas dos Bancos Centrais: Abrindo Caminho ao Desenvolvimento Sustentável, para o qual foram convidados governadores de bancos centrais de prestígio e que tinham contribuído de forma significativa para resolver a crise financeira asiática, então em curso. O seminário gerou uma conclusão geral, sobre as mudanças dramáticas operadas nos mercados, fruto do primeiro grande impacto da globalização, e contribuiu para os participantes ficarem a conhecer melhor Macau. Neste encontro, a comunidade internacional teve também ocasião de se inteirar do estatuto autónomo da futura Região Administrativa Especial de Macau e do funcionamento das instituições financeiras locais. 1.3 Autoridade Monetária de Macau ( ) Em 20 de Dezembro de 1999 deu-se o retorno de Macau à Pátria e foi criada a Região Administrativa Especial de Macau. Cumprindo os desígnios da Lei Básica da RAEM, a estrutura organizacional e bem assim as funções da AMCM passaram por uma transição pacífica, com esta a promover activamente o desenvolvimento do sistema financeiro de Macau. Segundo o Regulamento Administrativo 18/2000 de 15 de Fevereiro, a Autoridade Monetária e Cambial de Macau mudou o seu nome para Autoridade Monetária de Macau, sem qualquer alteração nas suas funções, mantendo-se embora a antiga sigla AMCM. Em 31 de Março de 2000, em representação do Governo de Macau e ao abrigo do Despacho 47/2000 do Chefe do Executivo, a AMCM foi incumbida de uma nova responsabilidade, a de gerir os activos do 15
6 Fundo de Terras, que havia sido criado recentemente, de acordo com o disposto na Declaração Conjunta Sino-Portuguesa, assinada em Pequim em 13 de Abril de A partir de inícios de 2000, a AMCM passou a receber representantes dos bancos centrais e das entidades reguladoras, tanto do interior da China como do estrangeiro, com o objectivo de reforçar os laços de comunicação e cooperação. Em Fevereiro de 2000, a convite do Banco Popular da China (BPC) e em companhia de representantes da Autoridade Monetária de Hong Kong (HKMA), a AMCM participou em Pequim na primeira reunião tripartida, para estabelecer mecanismos de cooperação mais estreitos. Ainda em Fevereiro, uma delegação da AMCM efectuou uma visita à Autoridade Monetária de Singapura. Em Abril, a AMCM organizou uma visita a Pequim e Xangai de representantes do sector de seguros local. Em Maio, a AMCM organizou uma Conferência Internacional sobre Comércio Bancário subordinada ao tema Perspectivas de Desenvolvimento e Cooperação entre as Instituições Bancárias da Região Ásia-Pacífico, para a qual foram convidados representantes de instituições financeiras da China Continental, Portugal, Hong Kong e Macau, que tiveram ensejo de proceder a uma troca de experiências num ambiente descontraído e cordial, com os discursos oficiais a serem proferidos pelo Chefe do Executivo da RAEM e pelo Governador Adjunto do Banco Popular da China. Em Outubro, a AMCM organizou uma visita de representantes do sector financeiro a Portugal, Reino Unido e França, durante a qual se mantiveram contactos cordiais com as autoridades reguladoras e instituições financeiras dos três países. Estas actividades propunham-se atingir dois objectivos principais, a saber, a promoção, interna e externamente, do desenvolvimento do sistema financeiro da RAEM e facilitar a comunicação e cooperação entre as instituições financeiras locais e estrangeiras. Aquando da criação da RAEM, a comunidade internacional não possuía um conhecimento cabal do sistema financeiro de Macau nem das alterações entretanto ocorridas no estatuto político do território. Por isso havia a necessidade de promover no exterior a nova identidade política da RAEM e bem assim o seu sistema financeiro. A participação em seminários permitia assim aos operadores financeiros estrangeiros observar os mais recentes desenvolvimentos da RAEM, na sequência do seu retorno à Pátria, e avaliar devidamente a sinceridade dos operadores financeiros locais no seu esforço de cooperação externa. Além disso, a AMCM, como parte integrante da delegação da China, participou em actividades do Banco Mundial e do FMI, mantendo assim uma estreita ligação a estas organizações internacionais. Desde o retorno de Macau à Pátria, a AMCM tem cumprido de forma consistente a sua missão de supervisão e promoção dos mercados financeiros. Apesar de privilegiar a sua capacidade de supervisão e a actualização dos regulamentos, a AMCM criou também uma estrutura financeira para facilitar os fluxos de informação sobre os mercados. Tendo em conta as características do mercado de Macau e as condições das instituições financeiras locais, a AMCM tem levado a efeito consultas abertas, mostrando total respeito pelas opiniões da indústria, encorajando esta a desenvolver as suas capacidades de gestão, a fortalecer os controlos internos e a prestar muita atenção à gestão do risco. Em termos genéricos, pode dizer-se que no cumprimento das suas funções, a AMCM atingiu os objectivos de salvaguardar a estabilidade financeira e promover um desenvolvimento sustentável, tendo oportunamente rectificado práticas que colidiam com as regras e os regulamentos, fazendo-o sempre de forma atempada e mantendo a disciplina do mercado através sobretudo de persuasão moral. Na prossecução destes objectivos, o crescimento da própria AMCM foi fenomenal. Em 2008, as reservas de capital da AMCM eram de MOP12,2 biliões, equivalentes, respectivamente, a 53 vezes o valor de há 20 anos e 5 vezes o de há 10 anos. O valor dos seus activos aumentou para 16
7 MOP141,0 biliões, com as reservas cambiais em MOP127,2 biliões e o Fundo de Reserva da RAEM em MOP12,4 biliões. Estribada nas suas enormes reservas cambiais, a AMCM conseguiu com relativa facilidade assegurar a estabilidade do câmbio da Pataca, garantindo a convertibilidade da moeda local e criando assim a base para um desenvolvimento económico estável. Em 2009, o sistema financeiro local enfrenta desafios tanto internos como externos, com os impactos da crise financeira mundial a afectar ainda a estabilidade económica de Macau. Como sempre o fez, a AMCM desempenha cabalmente as suas funções definidas pela lei, em colaboração com o Governo da RAEM, no prosseguimento da política de promover uma diversificação adequada da economia. Em cooperação com a indústria, a AMCM irá tentar manter o desenvolvimento estável e sustentável dos mercados financeiros. Ao mesmo tempo, a AMCM continuará a promover a cooperação entre a indústria financeira local e as suas congéneres regionais e internacionais, nomeadamente as do Delta do Rio das Pérolas e as da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), com o objectivo de alargar fronteiras e explorar novos mercados mais abrangentes. 17
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