Artigo 373.º do Código Penal Corrupção passiva
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- Maria Júlia Teixeira Eger
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1 Lisboa
2 Artigo 373.º do Código Penal Corrupção passiva 1. O funcionário que por si, ou por interposta pessoa, com o seu consentimento ou ratificação, solicitar ou aceitar, para si ou para terceiro, vantagem patrimonial ou não patrimonial, ou a sua promessa, para a prática de um qualquer acto ou omissão contrários aos deveres do cargo, ainda que anteriores àquela solicitação ou aceitação, é punido com pena de prisão de um a oito anos. 2. Se o acto ou omissão não forem contrários aos deveres do cargo e a vantagem não lhe for devida, o agente é punido com pena de prisão de um a cinco anos.
3 Artigo 374.º do Código Penal Corrupção activa 1. Quem, por si ou por interposta pessoa, com o seu consentimento ou ratificação, der ou prometer a funcionário, ou a terceiro por indicação ou com conhecimento daquele, vantagem patrimonial ou não patrimonial com o fim indicado no n.º 1 do artigo 373.º, é punido com pena de prisão de um a cinco anos. 2. Se o fim for o indicado no n.º 2 do artigo 373.º, o agente é punido com pena de prisão até três anos ou com pena de multa até 360 dias. 3. É correspondentemente aplicável o disposto na alínea b) do artigo 364.º
4 Dificuldades de prova: O pacto corruptivo A privacidade dos contactos/encontros a ausência de testemunhas Todos os meios de comunicação disponíveis
5 A world wide web: uma revolução também na forma de comunicação O correio electrónico, os chats ou messengers e outros tipos semelhantes de comunicação instantânea substituíram outras formas de correspondência entre as pessoas, em qualquer localização geográfica As múltiplas possibilidades conferidas pela utilização do correio electrónico para agendar encontros, transferir mensagens, ordenar operações bancárias, celebrar contratos, constituir sociedades
6 A prova permitida art.125º e 127º do Código de Processo Penal São admissíveis as provas não proibidas por lei Salvo quando a lei dispuser diferentemente, a prova é apreciada segundo as regras da experiência e a livre convicção da entidade competente Os meios clássicos Título III do Livro III Código de Processo Penal (capítulos I a IV) o as buscas e as apreensões art.174º a 186º o as intercepções telefónicas art.187º a 190º Os meios digitais a Lei do Cibercrime o as buscas em ambiente digital o as intercepções de correio electrónico o a apreensão do correio electrónico
7 A Lei nº109/2009, de 15.09, transpôs para a ordem jurídica interna a Decisão Quadro nº2005/222/jai, do Conselho da Europa, de 24.2, relativa a ataques contra sistemas de informação e adapta o direito interno à Convenção sobre Cibercrime do Conselho da Europa. Inovações: o a sistematização das definições (artigo 2º) o a definição do âmbito de aplicação das disposições processuais (artigo 11º) prescreve que se aplicam, com excepção do disposto nos artigos 18.º e 19.º, também em relação aos crimes em que seja necessário proceder à recolha de prova em suporte electrónico
8 As novas ferramentas na esfera de actuação do Ministério Público: o preservação expedita de dados (artigo 12º) o revelação expedita de dados (art.13º) o injunção para a apresentação ou concessão de acesso a dados (artigo 14º) o pesquisa de dados informáticos (artigo 15º) o apreensão de dados informáticos (artigo 16º) Os segredos profissionais remissão para as formalidades do CPP no caso das pesquisas e apreensão de dados informáticos o exercício da advocacia e das actividades médica e bancária, o exercício da profissão de jornalista, segredo profissional ou de funcionário e de segredo de Estado Os dados pessoais ou íntimos que possam pôr em causa a privacidade do respectivo titular ou de terceiro, devem ser apresentados ao juiz
9 As formalidades das buscas seguem o regime geral previsto no Código de Processo Penal A apreensão clássica ou a apreensão digital - Trazer o equipamento ou efectuar a cópia?
10 A cadeia de custódia da prova refere-se à capacidade de garantir a identidade e integridade de um espécime ou amostra no decurso da sua obtenção (por exemplo numa busca), durante a sua análise e até ao final do processo. Características da prova electrónica: volatilidade, instabilidade e diversidade das tecnologias utilizadas. Boas regras da apreensão de dados digitais e realização de perícias informáticas forenses - elaboração de uma imagem certificada dos dados constantes dos suportes informáticos apreendidos, que se manterão intactos. O correio electrónico é extraído, sem visualização por parte do perito, para um suporte autónomo a fim de ser apresentado ao juiz para conhecimento em primeiro lugar.
11 Artigo 17.º da Lei do Cibercrime Apreensão de correio electrónico e registos de comunicações de natureza semelhante Quando, no decurso de uma pesquisa informática ou outro acesso legítimo a um sistema informático, forem encontrados, armazenados nesse sistema informático ou noutro a que seja permitido o acesso legítimo a partir do primeiro, mensagens de correio electrónico ou registos de comunicações de natureza semelhante, o juiz pode autorizar ou ordenar, por despacho, a apreensão daqueles que se afigurem ser de grande interesse para a descoberta da verdade ou para a prova, aplicandose correspondentemente o regime da apreensão de correspondência previsto no Código de Processo Penal.
12 Comunicação vs. Correio electrónico O percurso do correio electrónico a circulação da mensagem entre emissor e receptor o Emissão e recepção não são simultâneas processo comunicacional é diferido o Recepção equivalente à mensagem jacente na caixa de correio do receptor o Trânsito findo com a recepção, mas comunicação ainda se mantém até que a mensagem chegue ao conhecimento do destinatário
13 Visão bipartida o Comunicação desde o envio até à leitura o Resultado da comunicação conhecimento pelo destinatário e armazenamento (decisão de armazenar pressupõe o prévio conhecimento do conteúdo) Visão tripartida o Transmissão pela rede o Fim da transmissão (correio jacente na caixa de correio) o Conhecimento do conteúdo da mensagem pelo destinatário
14 Na fase da comunicação intercepção de correio electrónico art.18º da Lei do Cibercrime Finda a comunicação apreensão de correio electrónico art.17º da Lei do Cibercrime o Dados já estão na disponibilidade fáctica do destinatário (mesmo que ainda não na sua disponibilidade cognitiva ainda não há intersubjectividade comunicacional perfeita) o O conteúdo do correio electrónico é ainda secreto o Tutela agravada equivalente ao segredo da correspondência
15 Dados chegaram ao conhecimento do destinatário art.15º e 16º da Lei do Cibercrime o Perdem a natureza de intersubjectividade comunicacional o Está esgotado o procedimento técnico, dinâmico, objetivo e subjetivo do acto comunicacional merecedor da especial tutela da privacidade formal, à distância o Passa a ser um vulgar dado armazenado num sistema informático e, por isso, apenas sujeito às garantias gerais que a lei confere à pesquisa informática e à apreensão de dados informáticos reserva da privacidade (16º, nº 3) (cf. Acórdão do TRL de Relator Desembargador Simões Carvalho)
16 Se estivermos perante correio impresso documento Se for correio em formato digital: o podem colocar-se dificuldades técnicas quanto à concreta situação da mensagem o o art.17º da lei do Cibercrime não distingue
17 Artigo 179.º Apreensão de correspondência 1 - Sob pena de nulidade, o juiz pode autorizar ou ordenar, por despacho, a apreensão, mesmo nas estações de correios e de telecomunicações, de cartas, encomendas, valores, telegramas ou qualquer outra correspondência, quando tiver fundadas razões para crer que: a) A correspondência foi expedida pelo suspeito ou lhe é dirigida, mesmo que sob nome diverso ou através de pessoa diversa; b) Está em causa crime punível com pena de prisão superior, no seu máximo, a 3 anos; e c) A diligência se revelará de grande interesse para a descoberta da verdade ou para a prova. 2 - É proibida, sob pena de nulidade, a apreensão e qualquer outra forma de controlo da correspondência entre o arguido e o seu defensor, salvo se o juiz tiver fundadas razões para crer que aquela constitui objecto ou elemento de um crime. 3 - O juiz que tiver autorizado ou ordenado a diligência é a primeira pessoa a tomar conhecimento do conteúdo da correspondência apreendida. Se a considerar relevante para a prova, fá-la juntar ao processo; caso contrário, restitui-a a quem de direito, não podendo ela ser utilizada como meio de prova, e fica ligado por dever de segredo relativamente àquilo de que tiver tomado conhecimento e não tiver interesse para a prova.
18 A apreensão de correio electrónico Remissão para o regime da correspondência o Identidade subjectiva de remetente/destinatário o Proibição de apreensão de correspondência entre o arguido e o seu defensor, salvo se o juiz tiver fundadas razões para crer que aquela constitui objecto ou elemento de um crime. o Ser o juiz a primeira pessoa a tomar conhecimento do conteúdo da correspondência o Ser a apreensão determinada por juiz - momento Acórdão do TRL de , Relator Desemb. Ricardo Cardoso Não aplicável o catálogo de crimes do art.179º do CPP, por força do art.11º, nº1 da Lei do Cibercrime Pertinência material probatória é aferida em momento distinto
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20 Destarte, só após esta constatação a de que a diferenciação de regimes se faz pela natureza actualista, em tempo real, da intervenção é realizável fazer apelo às características dos dados, assumindo que onde se permite o mais se permite o menos, para concluir que: a) no caso do artigo 17º estamos a tratar de dados de tráfego e de conteúdo de correio electrónico, armazenados; b) no caso do artigo 18º falamos de interceptar dados de tráfego e de conteúdo; c) no caso dos artigos 12º a 16º - e na competência do M.P. é possível pesquisar e apreender dados de base e de tráfego armazenados (v.g. artigo 1º, nº 2 da lei n.32/2008, não revogado pela Lei n.109/2009). Nos dois primeiros casos é necessária a intervenção de Juiz, no terceiro da entidade judiciária que presidir à fase processual. Neste último caso será sempre necessária a intervenção judicial se forem encontrados dados a inserir na previsão do artigo 16º, ns. 3 e 6.
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