SUPERVISÃO DE ATIVIDADES DE PSICODIAGNÓSTICO EM SERVIÇO-ESCOLA SOB REFERENCIAL PSICANALÍTICO
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- Raphaella Pinho Lacerda
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1 SUPERVISÃO DE ATIVIDADES DE PSICODIAGNÓSTICO EM SERVIÇO-ESCOLA SOB REFERENCIAL PSICANALÍTICO Jefferson Silva Krug 1 Área: Psicologia Clínica Tema: Ensino de Psicologia Resumo: O presente trabalho tem por objetivo refletir acerca da atividade de supervisão das práticas de psicodiagnóstico realizadas no Centro de Serviços em Psicologia (Cesep) do Curso de Psicologia da Faccat/RS. Para tal, aborda-se aspectos da formação em serviço-escola e algumas peculiaridades acerca da aprendizagem de conceitos da teoria psicanalítica durante o estágio. Entende-se que o psicodiagnóstico possibilita ao estagiário a experiência de diversos fenômenos inerente à atividade clínica psicanalítica. Discute-se como o docente pode acolher as necessidades do aluno, além de questões relativas à aliança de trabalho, a condução da supervisão, o papel dos relatos, o uso de testes, o desenvolvimento da identidade profissional do aluno e algumas estratégias de planejamento para supervisão. Por fim, reflete-se sobre o papel do supervisor na busca pelo encorajamento de seu estagiário na vivência do campo psicanalítico que se forma no encontro deste com seu paciente. Palavras-chave: Supervisão, Psicodiagnóstico, Serviço-Escola, Psicanálise. Introdução Pesquisas apontam que em diferentes áreas de atuação, a prática de psicodiagnóstico está entre as atividades profissionais mais desempenhadas por psicólogos brasileiros (GONDIM; BASTOS; PEIXOTO, 2010; BASTOS; GONDIM; BORGES-ANDRADE, 2010), sugerindo que o estudo do psicodiagnóstico tem importante papel na formação do futuro psicólogo (GOMES, 2000). Além disso, também é possível constatar a importância do estudo do referencial psicanalítico durante a formação do bacharel em psicologia, uma vez que estudos têm evidenciado que a psicanálise é a abordagem 1 Psicólogo (PUCRS), Mestre em Psicologia Clínica (PUCRS), Doutorando em Psicologia (UFRGS), Coordenador do Curso de Psicologia das Faculdades Integradas de Taquara (FACCAT), Supervisor das Práticas de Psicodiagnóstico do Centro de Serviços em Psicologia (CESEP/FACCAT), Coordenador do Grupo de Pesquisa APIC/FACCAT (Avaliação Psicológica: instrumentos e contextos), integrante do GEAPAP/UFRGS (Grupo de Estudo, Aplicação e Pesquisa em Avaliação Psicológica).
2 mais utilizada por psicólogos brasileiros (GONDIM; BASTOS; PEIXOTO, 2010). Assim, o estágio em psicodiagnóstico sob referencial psicanalítico pode ser um importante instrumento de formação em psicologia, pois viabiliza a vivência de conceitos fundamentais da psicanálise, possibilitando ao acadêmico o desenvolvimento de um vocabulário técnico necessário para a comunicação com os demais profissionais da área, assim como oportuniza a experiência de uma postura de escuta analítica e entendimento psicodinâmico fundamentais para a prática profissional. O presente trabalho versa sobre as etapas adotadas no processo de supervisão de atividades de psicodiagnóstico do Centro de Serviços em Psicologia (Cesep) do Curso de Psicologia das Faculdades Integradas de Taquara/RS. Para tal, apresenta-se brevemente a realidade da região, do curso e do Serviço-Escola. Posteriormente, discorre-se sobre os procedimentos adotados na supervisão dos estagiários. Contextualização do Serviço-Escola As Faculdades Integradas de Taquara estão localizadas na região nordeste do Estado do Rio Grande do Sul, e abrangem a região denominada Vale do Paranhana. A economia dos municípios circundantes à instituição é fortemente caracterizada pela indústria coureiro-calçadista e pela exploração do turismo de aventura. Em virtude destas características da economia regional, observa-se uma constante instabilidade nas condições de trabalho dos moradores destas cidades. A variação da cotação do dólar, que interfere diretamente nos rendimentos das empresas exportadoras de calçados, assim como a sazonalidade dos movimentos migratórios de turistas para a região, interferem nas condições econômicas das famílias residentes nestas cidades, gerando situações de vulnerabilidade social importantes nas periferias que acarretam, entre tantos problemas, na piora da saúde psicológica destas pessoas. Atento a esta realidade, os projetos do Centro de Serviços em Psicologia da Faccat estão centrados na atenção das demandas da comunidade socialmente vulnerável, articulando a formação dos futuros psicólogos às principais necessidades da população da região. Alguns destes projetos já foram descritos em outras publicações (BOECKEL et al., 2010; KRUG; BOECKEL, 2011), demonstrando a importância do Serviço-Escola na consolidação do Projeto Pedagógico do Curso de Psicologia e de seu papel como centro de referência de todas as ações de extensão da formação. No tocante à prática de psicodiagnóstico no Cesep, esta ocorre em dois momento: durante o Estágio Básico II (quinto semestre), quando os alunos tem sua primeira experiência de intervenção sistemática junto a população; durante o Estágio Profissional I e II (nono e décimo semestres), quando
3 os acadêmicos realizam diversas atividades, entre elas o psicodiagnóstico. Desta forma, salienta-se que a prática do psicodiagnóstico é, muitas vezes, uma das primeiras experiências de estágio do aluno, configurando-se como a porta de entrada do futuro psicólogo no campo das práticas profissionais da psicologia e do contato direto com a realidade da população da região anteriormente descrita. Esta inserção do aluno no campo prático é acompanhada por um supervisor do curso com horas destinadas para tal atividade. A supervisão em grupo ocorre na sede do Serviço-Escola semanalmente, de maneira que os alunos não realizem um novo atendimento sem que o anterior tenha sido supervisionado. O grupo de supervisão é composto pelo docente e por alunos de diferentes níveis (Estágio Básico, Estágio Profissional e estágios voluntários) que têm a responsabilidade de trabalhar os casos atendidos em equipe, com ou sem o uso da sala de espelhos unidirecional. O atendimento é feito por apenas um aluno que relata a sessão de maneira dialogada e lê seu relato em grupo para que todos possam refletir e deliberar sobre a atenção à saúde necessária aos pacientes acompanhados. Todo o processo de supervisão se abastece da teoria e da técnica psicanalítica para orientar os acadêmicos quanto ao atendimento de seus pacientes. Além disso, no Cesep a supervisão das atividades de psicodiagnóstico orienta-se a partir das indicações dos principais manuais de psicodiagnóstico elaborados no nosso país como Ocampo, Arzeno e Piccolo (2009), Cunha (2000), Arzeno (1995) e Trinca (1984). O aporte psicanalítico é utilizado para a elaboração da compreensão psicodinâmica dos casos, e tem como base os principais pressupostos teóricos trabalhados nas disciplinas do currículo quando do estudo de autores como Freud, Klein, Anna Freud, Winnicott, Bion, Mahler, Aberastury, Ferro, entre outros. As etapas do processo de supervisão Embora não se trate de um processo totalmente estruturado, uma vez que sofre múltiplas influências de questões oriundas dos casos em atendimento, do grupo de trabalho e da própria instituição de ensino, pode-se descrever o processo de supervisão das atividades de psicodiagnóstico no Cesep em seis etapas: 1) O acolhimento às necessidades do aluno, 2) O estabelecimento de aliança de trabalho entre as partes, 3) A criação de um plano de aprendizagem individual, 4)A reflexão sobre o desejo do estagiário e a demanda do serviço, 5) A entrada no campo intersubjetivo e 6) A avaliação da experiência. A compreensão sobre o papel do supervisor e o estilo de supervisão deste varia muito de profissional para profissional (ZASLAVSKY; NUNES; EIZIRIK, 2003). No tocante à experiência de ensino na Faccat, entende-se que todo o processo de ensino-aprendizagem do psicodiagnóstico tem
4 início na etapa de acolhimento do supervisor às necessidades do aluno. Trata-se de um momento ligado à disposição e consciência do supervisor de que receberá pessoas em situação de formação, geralmente com pouca ou nenhuma experiência clínica, que necessitam de amparo e segurança para desenvolver suas habilidades e competências profissionais. Observa-se com frequência que os alunos, mesmo aqueles que obtém excelentes rendimentos nas disciplinas teóricas, passam por momentos de expectativa extrema que, muitas vezes, se refletem em comportamentos regressivos frente à difícil tarefa de atender seu primeiro paciente. O fenômeno do branco (GOMES, 2000) se evidencia ainda que o aluno tenha recebido adequada formação para estar mais seguro nas práticas de estágio. Desta forma, faz-se necessário que o supervisor considere as fantasias que seus alunos tem sobre a atividade a ser desenvolvida. Neste momento, cabe ao supervisor desmistificar, tanto para o aluno quanto para si próprio, a fantasia do erro zero, considerando este momento como formativo e não como um período em que os erros não possam ser reconhecidos e trabalhados. Naturalmente, esta reflexão inicial dá condições de se estabelecer o próximo passo da supervisão: o desenvolvimento de uma aliança de trabalho entre supervisor e supervisionando(s). Entende-se que, novamente, esse processo deva partir da iniciativa do próprio docente, através do estímulo à expressão das expectativas e desejos do estudante quanto ao seu estágio. A aliança se faz necessária uma vez que, trabalhando-se com uma perspectiva psicanalítica de campo intersubjetivo (FERRO, 2011; FERRO 1995), para se analisar os estados emocionais de um paciente, o terapeutaestagiário necessitará ter condições de permitir o livre fluxo dos seus pensamentos, sensações e impressões contratransferenciais quanto ao caso atendido e às situações ocorridas no campo de intervenção. Caso não haja esta aliança do par supervisor-estagiário, entende-se que a própria supervisão pode ficar prejudicada na medida em que o aluno tenderá a não se sentir suficientemente acolhido para revelar sentimentos ou intervenções que, por ventura, possa imaginar serem desaprováveis. Assim, é importante que o encontro de supervisão permita que os equívocos técnicos possam ser admitidos e trabalhados, resultando naturalmente na melhoria da formação e do serviço prestado aos pacientes. O estabelecimento da aliança de trabalho implica num maior estreitamento das relações entre docente e estagiário, permitindo ao primeiro tomar maior consciência das características pessoais e técnicas deste aluno em formação. Assim, a terceira etapa da supervisão, ou seja, a criação de um plano de aprendizagem individual pode ser realizada de maneira mais efetiva. Este plano deve contemplar basicamente a reflexão sobre três elementos importantes: as demandas de ensino compartilhadas por todos os alunos do curso (incluídas aqui as habilidades e competências que devem
5 ser desenvolvidas a partir do planejamento da ementa da disciplina de estágio); os conhecimentos, habilidades e competências já adquiridos e desenvolvidos ou que carecem desenvolvimento pelos estagiários; as características de personalidade do aluno. Esta etapa do trabalho docente implica na individualização do processo de supervisão, ainda que aspectos comuns a todos os aluno devam ser contemplados neste planejamento. O plano de desenvolvimento das habilidades e competências profissionais durante o estágio em psicodiagnóstico deve estar alicerçado na reflexão constante do supervisor sobre as características pessoais e técnicas dos estagiários. A proposta de flexibilização curricular que cada dia mais caracteriza os cursos superiores no nosso país pressupõe que os alunos possam ter maior liberdade para realizarem escolhas quanto a quais disciplinas cursar durante sua formação. Diversos dispositivos pedagógicos têm sido utilizados para esse fim, como as disciplinas optativas, atividades complementares e flexibilização de pré-requisitos para disciplinas. Essa realidade se reflete na supervisão de estágio através de uma grande diferença de trajetória de formação dos alunos, fazendo com que o supervisor necessite identificar as necessidades de cada acadêmico e ebaborar planos individuais de aprendizagem tendo como base os conhecimentos, habilidades e competências já desenvolvidas e aquelas ainda carentes de aprimoramento. Além disso, considerando a perspectiva intersubjetiva de trabalho em psicanálise aqui proposta, também deve interessar ao supervisor as características de personalidade de seus supervisionandos, uma vez que o docente necessitará auxiliar seu aluno na observância destes traços e suas repercussões no atendimento realizado, sem que isso se configure como uma psicoterapia do aluno. Desta maneira, o supervisor, por meio e um estímulo acolhedor e constante que encoraje o aluno a mergulhar e refletir sobre o campo analítico com o qual trabalha e é coprodutor, auxilia o acadêmico a desenvolver um estilo próprio de atendimento. Este deve encontrar fundamento nos pressupostos teóricos e técnicos estudados e contemplar as suas próprias características de personalidade, valendo-se delas como potencializadores da reflexão sobre o campo analítico com o qual se ocupa. A prática de supervisão das atividades de psicodiagnóstico no Cesep tem sugerido que as três primeiras etapas acima descritas norteiam o trabalho durante todo o período de estágio (geralmente seis meses, de acordo com a matriz curricular do Curso de Psicologia da Faccat). No entanto, sua importância é maior no primeiro mês de trabalho e geralmente ocupam de maneira mais sistemática a atividade reflexiva do supervisor durante o período em que ocorrem os seminários teórico-clínicos que antecedem os atendimentos. Desta forma, durante o primeiro mês de estágio, os alunos realizam
6 discussões orientadas a partir da leitura de textos geradores de discussão. O supervisor busca facilitar a expressão dos anseios dos atuais estagiários por meio da apresentação de situações vivenciadas por exestagiários, que se identificam com os relatos lidos e comunicam suas dúvidas e medos por meio da reflexão empática operada a partir das vinhetas clínicas. É neste período também que o enquadre de supervisão é trabalhado, o qual deve incluir os aspectos anteriormente descritos, além de combinações sobre sigilo, horários, elaboração de relatos dialogados, funcionamento do serviço, protocolos de atendimento (como o uso do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido), entre outros. A quarta etapa da supervisão busca encontrar denominadores comuns entre os desejos do estagiário e as demandas do serviço. Neste sentido, o par supervisor-estagiário analisa os casos que aguardam em lista de espera por atendimento, a fim de avaliarem conjuntamente quais pacientes serão contatados. Entende-se que o estagiário deva ser ouvido nesta escolha, uma vez que como profissional ele também poderá escolher com que faixa etária pretenderá trabalhar, por exemplo. A imposição de determinadas situações de atendimento por parte do supervisor pode comprometer a motivação do aluno para com o estágio e, conseqüentemente, para com o serviço prestado ao paciente. Alguns alunos manifestam predileção pelo atendimento de crianças, outros por adultos. A discussão destas preferências em grupo e o respeito pela decisão do aluno parecem ser elementos importantes no comprometimento deste para com a atividade. Imediatamente após a escolha dos casos, iniciam-se os contatos telefônicos para a marcação das consultas que, assim como todas as sessões de atendimento, são registrados de maneira dialogada. Assim, a quinta etapa do processo de supervisão pode ser nomeada como a entrada no campo intersubjetivo. É um momento carregado de ansiedade por parte dos alunos e que exige do supervisor a habilidade de dividir sua atenção entre as necessidades de orientação técnica ao estagiário e a análise do caso atendido. Quanto mais o aluno mostra-se envolvido com a elaboração do material de supervisão (relatos), mais segura é a atuação do supervisor. É importante lembrar que as responsabilidades técnica e ética com relação aos atendimentos são sempre do supervisor. Assim, se o trabalho desenvolvido nas etapas anteriores de supervisão atingir êxito, certamente o início dos atendimentos e o transcurso do restante do estágio provavelmente dar-se-á de maneira tranqüila. Além da importância acima descrita com relação aos relatos, ressalta-se a necessidade de atenção à Resolução CFP N. 001/2009 que indica a obrigatoriedade de registro de todos os atendimentos realizados. Inicialmente, esta tarefa é vivenciada pelo aluno como uma atividade burocrática e estafante. A experiência de supervisão, no entanto, tem demonstrado uma mudança de sentimento do aluno com relação aos registros na medida em que ele percebe o quanto o detalhamento
7 de seu relato gera oportunidades de entendimento do caso atendido. Através da modalidade dialogada, o supervisor pode analisar os movimentos do campo, sugerir modificações na técnica interventiva e fomentar reflexões entre o grupo de supervisão, de maneira a desenvolver junto aos estagiários uma postura de escuta dos elementos a serem avaliados que não se apresentam de forma manifesta nas entrevistas. Da mesma maneira, a escolha das estratégias de avaliação (como os testes psicológicos, novas observações, entrevistas auxiliares ou encaminhamentos) é discutida a partir das demandas trazidas para as sessões e das dúvidas que os próprios estagiários têm durante os atendimentos. Para essa eleição são consideradas as hipóteses advindas da análise do campo intersubjetivo, baseadas nas reflexões iniciais sobre as manifestações transferenciais, contratansferenciais, identificações projetivas e agregados funcionais (FERRO, 2011; FERRO, 1995) trazidos pelos pacientes e pelas associações do estagiário, de seus colegas e do próprio docente durante os encontros de supervisão. Na medida em que o estagiário passa a desenvolver uma capacidade de escuta analítica mais aprimorada, percebe-se uma mudança em relação à confecção dos relatos. Estes deixam de apenas descrever os fatos ocorridos na sessão e passam a incluir reflexões e pensamentos que os próprios estagiários tiveram ao longo do atendimento e durante a escrita do relato. Perguntas e comportamentos anteriormente realizados de maneira estereotipada passam a se tornar mais raros, dando espaço para o surgimento de um estilo próprio de atendimento, fundamentado na experiência teórica e, agora, prática junto aos pacientes. A última etapa do trabalho de supervisão engloba o processo de avaliação da experiência. Esta fase está diretamente relacionada com a finalização do processo avaliativo, a realização das entrevistas devolutivas e a confecção dos laudos que serão arquivados no Cesep. Isso ocorre na medida que o fechamento dos casos possibilita um feedback dos próprios pacientes em relação às hipóteses diagnósticos psicodinâmicas elaboradas pelo estagiário ao longo de seu trabalho, o que é constatado, entre outras formas, a partir das reações emocionais destes e da adesão às indicações terapêuticas realizadas. Nesta etapa, o supervisor solicita ao estagiário a confecção de um laudo preliminar antes da realização das entrevistas devolutivas, de forma a utilizar essa ferramenta como tarefa integrativa do caso, o que facilitará a preparação do aluno para a atividade de devolução. Para tal, o aluno deve elaborar um documento atendendo a Resolução CFP N. 007/2003, de forma a contemplar aspectos como: dados de identificação do caso atendido; descrição da demanda de avaliação; impressão geral transmitida; descrição e fundamentação das técnicas adotadas durante o psicodiagnóstico; síntese da
8 história de vida; análise das funções de ego; hipótese nosológica descritiva, seguindo orientações do DSV-IV e CID-10; hipótese psicodinâmica; indicação terapêutica e prognóstico. Após a devolução dos resultados, o fechamento do estágio ocorre com a entrega de todos os documentos produzidos durante o semestre e com uma avaliação individual pautada na reflexão sobre as habilidades e competências profissionais adquiridas ao longo do estágio. O trabalho do supervisor e o serviço também devem ser avaliados pelos estagiários, de maneira a qualificar as experiências futuras de aprendizado proporcionadas pelo Cesep. Considerações finais Sem a pretensão de apresentar um modelo que atenda a todas as realidades dos Serviços-escola dos Cursos de Psicologia, este estudo buscou relatar a experiência desenvolvida em um contexto de trabalho específico de formação de futuros psicólogos. Sabe-se que, assim como almeja-se que cada aluno desenvolva um estilo próprio de trabalho e que este não seja uma cópia do estilo do seu professor, o processo de supervisão também deve ser moldado a partir das características de cada supervisor. Entende-se, no entanto, que dentro de uma perspectiva psicanalítica intersubjetiva, o supervisor deva trabalhar com uma perspectiva de orientador de reflexões do par de supervisão, não apenas traduzindo e interpretando os fatos descritos nos relatos de seus alunos como um oráculo que possui as respostas e os diagnósticos para todos os casos. A adoção de um modelo compreensivo relacional/experencial (ZASLAVSKY; BRITO, 2005) na supervisão significa dar especial importância aos sentimentos vividos e pensamentos despertados entre a dupla paciente-estagiário durante o processo de reflexão clínica. O predomínio deste modelo de supervisão na atualidade se relaciona com a crescente influência da valorização de fenômenos do campo analítico, da transferência e da contratransferência e dos aspectos interacionais do par analítico (ZASLAVSKY; NUNES; EIZIRIK, 2003). Pautado numa concepção bioniana, entende-se que transformar sensações em pensamentos também pode ser considerada uma das mais significativas funções do supervisor. Essa função de transformação operada pelo supervisor é a principal ferramenta para o aprimoramento da escuta psicanalítica do estagiário. Referências ARZENO, M. E. G. Psicodiagnóstico clínico: novas contribuições. Porto Alegre: Artmed, 1995.
9 BASTOS, A. V. B.; GONDIM, S. M. G.; BORGES-ANDRADE, J. E. As mudanças no exercício profissional da psicologia no Brasil: o que se alterou nas últimas duas décadas e o que vislumbramos a partir de agora? In: BASTOS, A. V. B.; GONDIM, S. M. G. O trabalho do psicólogo no Brasil. Porto Alegre: Artmed, BOECKEL, M. G.; KRUG, J. S.; LAHM, C. R.; RITTER, F.; FONTOURA, L. O.; SOHNE, L. C. O papel do serviço-escola na consolidação do Projeto Pedagógico do Curso de Psicologia. Psicologogia: Ensino & Formação, v.1, n.1, p CUNHA, J. A. Psicodiagnóstico-V. Porto Alegre: Artmed, FERRO, A. Evitar as emoções, viver as emoções. Porto Alegre: Artmed, FERRO, A. A técnica na psicanálise infantil: a criança e o analista, da relação ao campo emocional. Rio de janeiro: Imago, GOMES, I. C. A formação em psicodiagnóstico e os testes psicológicos. Psicologia: Teoria e prática, v.2, n.2, p GONDIM, S. M. G.; BASTOS, A. V. B.; PEIXOTO, L. S. A. Áreas de atuação, atividades e abordagens teóricas do psicólogo brasileiro. In: BASTOS, A. V. B.; GONDIM, S. M. G. O trabalho do psicólogo no Brasil. Porto Alegre: Artmed, KRUG, J. S.; BOECKEL, M. G. Descrição dos serviços e caracterização da clientela do Centro de Serviços em Psicologia. Anais do V Congresso Brasileiro de Avaliação Psicológica OCAMPO, M. L. S.; ARZENO, M. E. G.; PICCOLO, E. G. O processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas. São Paulo: Martins Fontes, TRINCA, W. Diagnóstico psicológico: a prática clínica. São Paulo: EPU, ZASLAVSKY, J.; BRITO, C. L. S. Ensino da psicoterapia de orientação psicanalítica. In: EIZIRIK, C. L.; AGUIAR, R. L.; SCHESTATSKY, S. S. Psicoterapia de orientação psicanalítica. Porto Alegre: Artmed, ZASLAVSKY, J.; NUNES, M. L. T.; EIZIRIK, C. L. A supervisão psicanalítica: revisão e uma proposta de sistematização. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, v. 2, n. 25, p
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