Qual a data base para início da correção monetária sobre o valor fixado a título de indenização por danos morais discutidos na Justiça do Trabalho?

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1 DANO MORAL Qual a data base para início da correção monetária sobre o valor fixado a título de indenização por danos morais discutidos na Justiça do Trabalho? ** Thiago Spaulussi Gonçalves Após a Emenda Constitucional nº 45/2004, que alterou o art. 114 da Carta Maior de nosso sistema jurídico hierárquico, a Justiça do Trabalho passou a ser competente para dirimir as questões envolvendo danos morais originados por vínculo trabalhista. Quanto aos valores fixados para as indenizações, temos notado evidente atenção despendida pelo Judiciário ao se manifestar acerca dos critérios de aferição dos montantes, podendo ser destacada, dentre diversas outras razões, a preocupação em não transformar o sistema de justiça brasileiro numa indústria de indenizações milionárias como se tem observado ocorrer na justiça norte-americana. Percebe-se, por conta de todo o subjetivismo que envolve a constatação de um dano moral, que trabalho árduo é aos magistrados, sem dúvida, traçar uma linha de raciocínio que possibilite de maneira coerente e eficaz a inter-relação entre os aspectos abstratos que ensejam a ofensa moral e os aspectos materiais que convertem essa ofensa em valor indenizatório real afinal de contas, a condenação ao pagamento por danos morais não tem como pretensão tabelar o valor da honra, da dignidade ou da vida humana, mas, como ensina a célebre MARIA HELENA DINIZ (2008), tem o intuito de proporcionar algum sentimento de satisfação ao ofendido e impor sanção ao ofensor, visando a diminuição de seu patrimônio pela indenização paga ao ofendido, coibindo-o a não mais tal prática realizar.

2 Para CARLOS ROBERTO GONÇALVES (2002), o dano pode ser patrimonial (material) ou extra-patrimonial (moral), sem que haja repercussão na órbita financeira do lesado. Segundo o citado autor, o termo dano em sentido amplo, significa lesão de qualquer bem jurídico, patrimonial ou moral. Dano seria toda desvantagem ou diminuição sofrida pela vítima em seus respectivos bens jurídicos (patrimônio, corpo, vida, saúde, crédito, honra, dignidade, imagem, etc.). Deixado de lado todo o critério que envolve a constatação e a mensuração do dano e olhando apenas para o valor já fixado em juízo, verifica-se que a Justiça do Trabalho, embora competente para julgar demandas dessa natureza, continua carente de comandos normativos no que tange aos critérios de atualização monetária desses valores em momento pós-decisão. Com isso, destaca-se um aspecto importante concernente aos cálculos de execução dos valores indenizáveis oriundos de tais ações, pois, após serem fixados, natural que obedeçam ao regramento contábil praticado pela justiça competente. Ora, é sabido que as verbas trabalhistas discutidas em via judicial são suscetíveis de juros de mora e correção monetária quando de sua liquidação, seguindo parâmetros bem conhecidos e que não sugerem muita discussão. Todavia, quando se fala em atualização monetária aplicada ao valor fixado com fins de ressarcir dano moral causado, constatam-se posicionamentos divergentes no que diz respeito à data inicial para incidência da correção monetária. Parte dos operadores do Direito não hesitaria em asseverar que a devida correção deve ter início a partir do evento danoso, baseando-se na dicção da Súmula 43 do STJ: Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo. Ou, se não delimitada a data do evento danoso, a correção incide a partir do ajuizamento da demanda. Em via oposta, há aqueles que consideram devida a atualização monetária a partir da data da própria condenação fixada em juízo. Porém,

3 embora haja posicionamentos distintos, é importante não se distanciar da real finalidade que tem a correção monetária, que é, tão somente, a de recompor o poder econômico do valor devido. Pois bem. Tecnicamente têm-se poucas variáveis a serem analisadas com atenção para que se tome uma postura, o que facilita de certa forma o trabalho. Mas não de pouca importância é traçar uma linha de raciocínio lógica, tanto jurídica quanto matematicamente, objetivando eficácia na tarefa de garantir justo pagamento e recebimento. Aplicar a correção monetária sobre indenização fixada em juízo a partir do evento danoso, ou a partir do ajuizamento da demanda, levaria ao encontro de fundamentos análogos àqueles aplicados para as demais verbas trabalhistas pagas como contraprestação por serviços prestados. Quando o objeto da discussão em juízo é o pagamento de determinada verba (horas extras, por exemplo), o montante apurado ao final da lide deverá ser corrigido monetariamente desde a data em que se tornou vencida a obrigação (ou exigível) até a data em que se realizar a quitação, com objetivo claro de restabelecer ao crédito do autor seu efetivo poder econômico ora prejudicado pelo inadimplemento do empregador. Nesse caso, trata-se evidentemente da remuneração devida ao empregado pelas atividades prestadas num dado momento do vínculo, sendo clara a necessidade de recomposição monetária do valor desde a época em que deveria ter sido adimplido. Já em via oposta, quando se fala de indenização por dano moral, não se está diante da questão de remunerar o trabalhador por algum serviço prestado ou de indenizá-lo por alguma verba trabalhista contratual devida, mas sim, como já dito

4 alhures, está-se diante de situação imaterial primeiramente. Segundo preleciona YUSSEF SAID CAHALI (2006), dano moral, portanto, é a dor resultante da violação de um bem juridicamente tutelado, sem repercussão patrimonial. Seja dor física (dor-sensação) ou a dor moral (dor-sentimento), de causa imaterial. Logo, nada mais está sendo discutido além de possível lesão praticada contra a honra e a moral do trabalhador, e que, após ser constatada (e se o for), poderá converter-se em obrigação de reparação material pelo dano causado. Importante evidenciar que a remuneração devida pelo trabalho realizado e a indenização pecuniária pelo dano moral são questões de naturezas distintas e que não devem ser tratadas sob a mesma ótica quando de sua contabilização no momento de executá-las por cálculos. Reconhecidas as diferenças peculiares entre a natureza da remuneração por serviço prestado e da indenização por dano moral causado, constata-se que a hipótese de aplicação da correção monetária a partir do evento danoso, com base na Súmula 43 do STJ, é equivocada, pois, observando que a finalidade da correção é a de recompor o valor real do débito servindo para que o crédito, quando do recebimento seja efetivamente fiel à respectiva expressão econômica conclui-se que ao fixar o juiz o quantum indenizatório, o faz pensando que o valor, naquele momento, é o suficiente para reparar o dano, vindo o montante fixado a sofrer perdas econômicas apenas daquele instante em diante. No próprio STJ prevalece entendimento contrário ao teor da mencionada Súmula 43 nos casos de indenização por dano moral fixada em juízo, justamente pelo fato de que, no momento em que o valor é fixado, este se encontra atualizado: Nas indenizações por dano moral, o termo a quo para incidência da correção monetária é a data em que foi arbitrado o valor, não

5 se aplicando a Súmula 43/STJ. (Resp /SE 1ª Turma Relator Ministro Teori Albino Zavascki publicação no DJ de p ). "Fixada pela sentença a indenização em valor determinado, a correção monetária flui a partir da data em que prolatada a decisão, à consideração de que o quantum se encontrava atualizado naquele momento." (Resp Relator Ministro Barros Monteiro). "Dano moral. Correção monetária. Precedente da Corte. 1. Na forma de precedente da Corte, a correção monetária em casos de responsabilidade civil tem seu termo inicial na data do evento danoso. Todavia, em se tratando de dano moral o termo inicial é, logicamente, a data em que o valor foi fixado. 2. Recurso especial conhecido e provido." (Resp /ES Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito). Assim, com base na doutrina e na jurisprudência dos Tribunais, a correção monetária na Justiça do Trabalho, nos casos de indenização por ato ilícito, começa a fluir na data do arbitramento do valor e, havendo recurso que enseja a reforma do montante, a partir da data do acórdão regional, quando fica estabelecido, em definitivo, o total da indenização. Esta é a época própria para efeito do cômputo da correção monetária dos danos morais fixados na Justiça do Trabalho: A data em que houve a prestação jurisdicional que fixou ou alterou o valor da indenização por dano moral.

6 Referências: CAHALI, Yussef Said. Dano Moral. São Paulo: 3. ed. São Paulo: RT, DALAZEN, João Oreste. Competência material trabalhista. São Paulo: LTr Editora, DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Responsabilidade Civil. 22. ed. São Paulo: Saraiva, GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito das obrigações: parte especial (responsabilidade civil). 2 ed. Saraiva, LIMA, Erick C. L. O valor do dano moral na casuística do STJ. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 743, 17 jul Disponível em: < Acesso em: 22 abr SANTOS, Antonio Jeová. Dano Moral Indenizável. 2. ed. São Paulo, Lejus, VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003.