Artrópodes Auxiliares na Ilha da Madeira A M. Franquinho Aguiar
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- Bruno Camelo Borba
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1 Artrópodes Auxiliares na Ilha da Madeira A M. Franquinho Aguiar Os organismos auxiliares que serão considerados neste capítulo são essencialmente insectos predadores e parasitóides e ácaros predadores. Estes são os mais activos inimigos naturais das pragas, nos ecossistemas agrícolas considerados. A maior parte dos predadores tem um regime alimentar carnívoro, tanto na fase larvar como na fase adulta. São exemplos os coleópteros carabídeos, coccinelídeos, os neurópteros crisopídeos etc. Outros são carnívoros apenas na fase larvar, como é o caso dos dípteros sirfídeos. Os parasitóides pertencem exclusivamente à ordem hymenoptera. São vespas e micro-vespas, cujas larvas se alimentam geralmente de larvas de outros insectos, causando-lhes obrigatoriamente a morte, depois de garantirem o seu desenvolvimento completo. É este modo de actuação que distingue um parasitóide de um verdadeiro parasita, o qual, para viver, necessita que o seu hospedeiro se mantenha vivo. A maior parte dos insectos auxiliares pertencem às ordens Coleoptera, Diptera, Neuroptera, Hemiptera/Heteroptera e Hymenoptera. Os ácaros, são artrópodes aracniformes, englobados no Sub-Phyllum Chelicerata, ou seja, artrópodes sem antenas nem mandíbulas, mas com quilíceras. Os ácaros predadores que serão abordados, pertencem às famílias Stigmaeidae da Ordem Actinotrichida e Phytoseiidae da Ordem Anactinotrichida. Não existe nenhum inventário de espécies de artrópodes auxiliares para o Arquipélago da Madeira. O Quadro 1, baseado no conhecimento actual, dá-nos uma visão qualitativa e quantitativa da composição desta fauna. Quadro 1 - Composição qualitativa e quantitativa da fauna de auxiliares Auxiliares Hospedeiros/Presas Nº. Especies Coleoptera (Predadores) afídeos, lagartas, larvas, ácaros, aleirodídeos >285 Diptera (Predadores e Parasitóides) afídeos, lagartas, ácaros, cochonilhas >37 Neuroptera (Predadores) afídeos, ácaros, ovos, psilas 14 Heteroptera (Predadores) afídeos, ácaros, psilas, lagartas, ovos 61 Hymenoptera (Parasitóides) lagartas, cochonilhas, aleirodídeos >527 Chelicerata (Predadores) ácaros, tripes 12 Total>936 AGUIAR, A.M. Franquinho. (1999): Artrópodes auxiliares na Ilha da Madeira. In: Contribuição para a Protecção Integrada na Ilha da Madeira. J. Passos de Carvalho (Ed.). DRA/Sec. Reg. Agric. Flor. e Pescas, R.A.M., pp
2 Artrópodes Auxiliares na Ilha da Madeira 310 Classe Insecta Ordem Coleoptera São várias as famílias de coleópteros, cujas espécies tem um regime alimentar carnívoro. Podemos salientar as famílias: Carabidae, Cantharidae, Coccinellidae e Staphylinidae. Em relação aos carabídeos, muitas espécies constituem uma valiosa ajuda para o agricultor na sua luta contra ovos e larvas de outros insectos, lagartas, lesmas, caracóis etc. Tanto as suas larvas como os adultos exercem a sua acção ao nível do solo. Espécies grandes como Campalita maderae, podem consumir por dia alimento correspondente a 3 vezes o seu próprio peso, o que pode equivaler a centenas de lagartas ao fim de um ano. Machado (1995), refere para o Arquipélago da Madeira a existencia de 109 espécies, das quais 58 (53%) são espécies, subespécies e raças endémicas. Os cantarídeos, são coleópteros de corpo alongado, mas pouco quitinizado. As larvas vivem no solo e alimentam-se principalmente de caracóis. Os adultos geralmente encontram-se sobre arbustos e flores e alimentam-se de outros insectos. Na Madeira existem apenas 2 espécies, a espécie mediterrânica Malthinus scriptus e a endémica Malthodes kiesenwetteri. Os estafilinídeos, reconhecíveis pelo facto da maior parte das espécies possuir élitros curtos, que apenas cobrem uma parte do abdómen, constituem uma família rica em espécies. Já Lundblad (1958) citava para a Ilha 143 espécies, 24 das quais endémicas (17%). A maior parte dos estafilinídeos são predadores e tem um regime alimentar semelhante ao das famílias anteriores, embora tenham uma eficácia potencial seja inferior à dos carabídeos. A espécie que se destaca pelo tamanho é Ocypus olens, que ultrapassa os 30 milimetros de comprimento e possui umas mandíbulas possantes. Oligota flavicornis foi detectada predando T. urticae, o aranhiço comum, em papaieira. Os coccinelídeos ou joaninhas (Fig. 1), são sem dúvida dos auxiliares mais importantes e mais utilizados em Luta Biológica e Protecção Integrada. Conhecem-se presentemente 31 espécies, distribuidas por 15 géneros (Bielawski, 1963; Erber & Hinterseher, 1988; Erber, 1990; Erber & Aguiar, 1996). Destas, apenas 4 são endémicas: Scymnus epistemoides, S. limnichoides, Adalia testudinea e Coccinella genistae. Os coccinelídeos são predadores, tanto na fase larvar como na fase adulta. O regime alimentar de muitas espécies é à base de afídeos, embora também Fig. 1 Adulto de Adalia decempunctata, junto a uma postura. As fêmeas fazem as posturas nas imediações de colónias de afídeos, os quais serão o alimento das suas larvas.
3 Artrópodes Auxiliares na Ilha da Madeira 311 existam espécies coccidífagas (predam cochonilhas) e espécies acarífagas (ácaros). Como exemplos de espécies afidífagas, podemos citar Adonia variegata, talvez o coccinelídeo mais abundante e frequente na Ilha. Esécies afidífagas como Adalia decempunctata, na ausencia de afídeos, atacam cochonilhas, como pudemos observar sobre goiabeira em relação às cochonilhas C. viridis e N. nipae. Por seu turno, Chilocorus bipustulatus é um predador de cochonilhas, principalmente diaspidídeos. Já tivemos oportunidade de o encontrar a predar a sarnica M. personata na cultura da estrelícia. As larvas e os adultos deste coccinelídeo podem consumir 20 a 40 cochonilhas por dia. No entanto, e no que diz respeito a cochonilhas, talvez o exemplo mais bem sucedido e conhecido de luta biológica, é o da icéria, I. purchasi, cochonilha cuja actividade nos citrinos está bastante limitada devido à acção predadora de Rodolia cardinalis, coccinelídeo introduzido na primeira metade do século. Outro coccinelídeo coccidífago que se allimenta de uma grande variedade de espécies de diaspidídeos, coccídeos e até psilas, é Lindorus lophantae, frequente nos citrinos, onde já a detectámos a atacar L. gloverii. Também as mosquinhas-brancas podem ser atacadas por coccinelídeos, como se verifica em relação a Clitostethus arcuatus, que observámos a predar T. vaporariorum e Aleyrodes proletella. Ordem Diptera Relativamente a esta ordem vamos considerar a presença de 4 famílias (Syrphidae, Cecidomyiidae, Chamaemyiidae e Tachinidae) na Ilha e a sua importância como auxiliares. Os sirfídeos adultos, são moscas, geralmente com o abdómen listado de amarelo e negro (Fig. 2). Ao contrário das suas larvas (Fig. 3), muitas delas carnívoras, os adultos alimentam-se de néctar e pólen de flores, ou mesmo de meladas de afídeos depositadas sobre a superfície das folhas. O mais recente trabalho (Gomes & Baez, 1990), refere a Fig. 2 Os sirfídeos adultos, neste caso uma fêmea de Scaeva pyrastri, são moscas que se alimentam de pólen e néctar de flores. presença na Madeira de 24 espécies, das quais apenas 3 (12.5%) são endemismos. De acordo com a informação fornecida por Gilbert (1993), acerca dos hábitos alimentares dos géneros, que possuem espécies carnívoras, podemos indicar 13 (54%) das existentes na Madeira, cujos habitats larvares variam desde estratos herbáceos a arbóreos e regime alimentar quase exclusivamente constituido por afídeos. São estas: Syrphus ribesii, S. cf. Torvus, S. vitripennis, Metasyrphus corollae, M. luniger, Scaeva albomaculata, S. pyrastri, S. cf. Selenitica, Meliscaeva
4 Artrópodes Auxiliares na Ilha da Madeira 312 Fig. 3 A larva de Episyrphus balteatus, assim como as de muitas outras espécies de sirfídeos, é predadora de afídeos. auricollis, Episyrphus balteatus, Sphaerophoria scripta, Melanostoma babyssa e M.mellinum. Em relação a estas duas últimas espécies pertencentes ao género Melanostoma, não há uma certeza quanto ao seu regime alimentar. As larvas com regime alimentar carnívoro podem ser extremamente eficazes na destruição de colónias inteiras de afídeos, em todos os estados de desenvolvimento. Durante toda a sua evolução (em média cerca de 10 dias), uma larva de sirfídeo pode consumir 400 a 700 afídeos. Os taquinídeos são moscas de aspecto mais convencional, cuja fase larvar se comporta como um parasotóide, vivendo no interior de lagartas de muitas espécies de lepidópteros e outros insectos jovens, limitando bastante o aumento das suas populações nas biocenoses naturais. Algumas atacam percevejos e gafanhotos adultos. Existem espécies especializadas ao ponto de dependerem apenas de um único e exclusivo hospedeiro. Outras são mais ou menos polífagas e dependem de hospedeiros alternativos para completar um cíclo anual. Os adultos alimentam-se de substâncias açucaradas, como a melada segregada por homópteros e fontes de néctar de acesso fácil. São conhecidas na Ilha da Madeira 10 espécies, resultado de prospecções efectuadas na primeira metade deste século (Tiensuu, 1938; Frey, 1949), no entanto é urgente uma completa revisão da família, não só pela sua importância como auxiliares, mas também por haver indícios de que a fauna é muito mais rica. Apenas 2 espécies são endémicas: Gonia nana e Pales exsulans. Outras tem uma distribuição mais vasta como, Compsilura concinnata, espécie bastante polífaga que parasita lagartas de grande dimensão como noctuídeos, geometrídeos, tortricídeos e Nemorilla floralis que parasita lagartas de tortricídeos (p.e. Cydia pomonella), hyponomeutídeos e outros microlepidópteros de dimensões maiores. Na família Cecidomyiidae (Nematocera), estão incluídos dois géneros, Aphidoletes e Monobremia, cujas larvas predadoras alimentam-se exclusivamente de afídeos (Harris, 1973). Apenas a espécie Lestremia cinerea está referida para a Ilha (Frey, 1949), mas é possível observar com frequência, colónias de afídeos, de variadas espécies, em diferentes plantas, a serem atacados por larvas de dipteros, que pelo tamanho e cor alaranjada (Fig. 4), são provavelmente uma ou mais espécies dos referidos géneros, talvez A. aphidimyza, a mais comum do género e que pode ser encontrada por todo o hemisfério Norte. Também já foi detectada a presença de cecidomiídeos em colónias do aranhiço-do-abacateiro, o que indica a
5 Artrópodes Auxiliares na Ilha da Madeira 313 existencia de outros géneros e espécies que poderão ter bastante importância do ponto de vista da limitação natural de várias pragas. Os adultos da família Chamaemyiidae, são pequenas moscas cinzentas com cerca de 2 milimetros, cujas larvas se alimentam por vezes de afideos (Fig. 5) e estados imaturos de algumas cochonilhas. Segundo Frey (1949), existem na Madeira as espécies Chamaemyia polystigma e Leucopis griseola. Esta última espécie é referida por Vieira et al., 1983, como predadora do coccídeo Parthenolecanium persicae e dos psudococcídeos Phenacoccus madeirensis, Planococcus citri e Pseudococcus longispinus, na Ilha da Madeira. Fig. 4 Larvas de cecidomiídeo, provavelmente Aphydoletes sp., alimentando-se de Aphis fabae. Ordem Neuroptera A maioria das espécies desta ordem são carnívoras, embora as que tem algum impacto na luta contra pragas agrícolas, pertencem às famílias Hemerobiidae, Chrysopidae e Coniopterygidae. As larvas dos crisopídeos são Fig. 5 Larva de camemiídeo alimentando-se de afídeos. Podem observr-se corpos de presas anteriores coladas ao seu corpo. predadores activos relativamente polífagos que incluem na sua dieta, desde afídeos, psilas e outros homópteros, a ovos de lepidópteros, jovens lagartas e ácaros. O aparelho bucal possui um par de mandíbulas curvas (Fig. 6) e ôcas, maiores que a cabeça, que utilizam para capturar, perfurar e sugar a presa. Uma larva pode ao fim do seu desenvolvimento (15-20 dias) chegar a consumir até 500 afídeos. Os adultos tem actividade nocturna, asas membranosas e geralmente apresentam uma coloração verde ou amarelada. Existem espécies cujos adultos tem um regime alimentar carnívoro, outras preferem liquidos açucarados, meladas e pólen. O primeiro estudo sistematizado acerca dos neurópteros do arquípelago, foi feito por MacLachlan (1882), onde refere a presênça das espécies Chrysopa vulgaris e C. atlantica. No século seguinte, Tjeder (1949) descreve 5 espécies novas para a ciencia: C. lundbladi, C. maderensis, C. sensitiva, C. pseudoatlantica e C.
6 Artrópodes Auxiliares na Ilha da Madeira 314 sororcula, estas duas últimas transferidas para o género Anisochrysa, subgénero Atlantochrysa. Os hemerobiídeos são insectos relativamente mais pequenos e menos frequentes que os crisopídeos. As larvas e os adultos tem regimes alimentares semelhantes aos crisopídeos. As larvas são mais pequenas e os adultos apresentam colorações castanhas ou cinzentas, com o corpo coberto de pelos, ao Fig. 6 As larvas de crisopídeos com a sua característica armadura bucal, são predadores contrário dos crisopídeos. São 6 as frequentes e eficazes de afídeos. espécies existentes na Madeira: Hemerobius madeirae, H. stigma, Micromus angulatus, Sympherobius fallax, Wesmaelius nervosus e W. subnebulosus (McLachlan, 1882; Tjeder, 1939). Os coniopterigídeos (Fig. 7) são, dos neurópteros considerados, os mais pequenos. Os adultos tem cerca de 3 milimetros de comprimento e uma envergadura que varia entre 5 e 8 milimetros. Têm o corpo coberto com uma cera pulverulenta, esbranquiçada, que lhes confere um aspecto semelhante a uma mosquinha-branca. As larvas são pequenas, fusiformes e com as mandíbulas curtas, direitas e aguçadas. Alimentam-se de afídeos, mosquinhas-brancas, cochnilhas e Fig. 7 Adulto de Semidalis candida, a única ácaros. Apenas a espécie Semidalis espécie de coniopterigídeo detectada na Madeira. candida está referida para a Madeira (Ohm & Hölzel, 1999). Estes autores colheram-na essencialmente em resinosas e folhosas fora de ecossistemas agrícolas. No entanto temos observado a presença de coniopterigídeos em fruteiras como os citrinos e o abacateiro, o que poderá ser a indicação da existencia de outras espécies.
7 Artrópodes Auxiliares na Ilha da Madeira 315 Ordem Hemiptera Subordem Heteroptera São várias as famílias de heterópteros que possuem um regime alimentar carnívoro, mas do ponto de vista da importância na limitação natural de pragas, apenas as famílias Nabidae, Anthocoridae e Miridae serão abordadas. Autores como China (1939), Lindberg (1961) e Hoberland (1967) e Carvalho (1992), deram importantes contribuições para o conhecimento da composição destas famílias na Ilha da Madeira. Os nabídeos (Fig. 8) são, destas 3 famílias, os percevejos de maiores dimensões, variando entre 9 e 10 milimetros. Existem esépecies macrópteras e braquípteras, nas quais o hemiélitro não ultrapassa o 4º ou o 5º segmento abdominal. Vivem sobretudo nos esttratos herbáceos e arbustivos perto de zonas agrícolas, mas também podem aparecer nas fruteiras. São ágeis e ferozes carnívoros. O seu regime alimentar inclui entre outros, afídeos e jovens lagartas. São vulgares mas pouco numerosos, sendo a sua acção complementar das outras famílias. Na Madeira existem 3 espécies do género Nabis: N. capsiformis, N. ferus, e N. pseudoferus. Fig. 8 Um percevejo predador do género Nabis. Têm dimensões grandes, são rápidos e actuam isolados. Fig. 9 Ninfa de um antocorídeo do género Orius. São activos e eficazes predadores. Os antocorídeos (Fig. 9) ou percevejos-das-flores, são insectos pequenos que não ultrapassam os 5 milimetros de comprimento. São predadores polífagos, vulgares nas árvores de fruto. Tem um regime alimentar polífago, que inclui ácaros, ninfas de afídeos, psilas, jovens lagartas, etc. Durante os cerca de 20 dias de ddesenvolvimento de uma ninfa de antocorídeo, esta pode consumir 300 a 600 ácaros, ou 100 a 200 afídeos, ao passo que um adulto do género Orius pode consumir 100 ácaros por dia. Os géneros mais activos e que já tem sido produzidos em massa, para utilização em Protecção Integrada, são os Anthocoris e os Orius. As espécies A. alienus, A. gallarum-ulmi, A. nemorum, O. laevigatus, O. limbatus e O.
8 Artrópodes Auxiliares na Ilha da Madeira 316 maderensis (endémica), estão referidos para a fauna da Ilha. Ao todo são 15 as espécies detectadas na Madeira, mas apenas 2 são endémicas. Os mirídeos são predadores importantes, mas algumas espécies são pragas fitófagas como Lygus pratensis e outras apresentam os dois regimes alimentares, como é o caso de Cyrtopeltis tenuis. Os adultos e as ninfas das espécies carnívoras, são muito activos e vorazes. Apresentam frequentemente colorações vivas, brilhantes e com pontuações escuras. Pilophorus perplexus com o aspecto de uma formiga, é frequentemente útil nas macieiras, onde os adultos e as ninfas se alimentam de afídeos, ovos de lepidópteros,jovens lagartas, aranhiços, tripes e vários outros artrópodes. Uma ninfa de Daraeocoris pode consumir até 200 afídeos durante o seu desenvolvimento. Conhecem-se 43 espécies no arquipélago, das quais 13 endémicas. Ordem Hymenoptera Esta é sem dúvida uma das ordens da classe Insecta mais bem representadas na Ilha da Madeira. Devido ao grande número de espécies que podem ser consideradas auxiliares, a análise da ordem será feita por superfamílias e dentro destas as famílias mais relevantes. Ichneumonoidea Ichneumonidae - a maioria das espécies são parasitóides e, menos frequentemente, hiperparasitóides de lepidópteros, coleópteros e com menos frequência ainda os dípteros também podem ser atacados. Um dos ichneumonídeos mais vulgares na Ilha da Madeira é Pimpla hypochondriaca, de corpo negro e patas cor de laranja, fácil de identificar (Fig. 10). As espécies de grande tamanho, de coloração castanho alaranjada, do género Ophion, de que é exemplo O. atlanticus, são muitas vezes atraidos pela iluminação artificial. Estes ichneumonídeos são parasitóides de lagartas de noctuídeos. As espécies Diadegma semiclausum e Fig. 10 Fêmea de Pimpla hypochondriaca, parasitóide vulgar nas ervas e arbustos onde ataca lepidópteros de tamanho médio a grande. Diadromus collaris são parasitóides da traçada-couve, Plutella xylostella. Por outro lado Diplazon laetatorius parasita sirfídeos, principalmente Episyrphus balteatus. No arquipélago da Madeira estão referenciadas
9 Artrópodes Auxiliares na Ilha da Madeira espécies, das quais 30 são endémicas (Graham, 1988, 1990; Hellén, 1949, 1961; Horstmann, 1980, Horstmann & Graham, 1989, Roman, 1939). Braconidae e Aphidiidae - Os braconídeos têm como hospedeiros uma grande variedade de insectos, mas os lepidópteros são os mais frequentes. Por vêzes, de uma lagarta parasitada podem emergir mais de uma centena de parasitóides de uma determinada espécie. Um exemplo é o braconídeo Cotesia glomerata, parasitóide de lagartas de Pieris rapae, a borboleta-pequena-da-couve. Quando as larvas deste parasitóide atingem a fase final do seu desenvolvimento, saem para o exterior perfurando a pele da lagarta hospedeira e tecem casulos de coloração amareloenxofre, entrelaçados entre si, à volta do cadáver da lagarta. Um braconídeo encontrado na Madeira a parasitar lagartas de Mythimna unipuncta, foi identificado por Oliveira et al. (1998), como sendo Glyptapanteles militaris. Os géneros Dacnusa e Chorebus são parasitóides de moscas mineiras, especialmente da família Agromyzidae. Do género Dacnusa está citada a espécie D. pubescens e mais recentemente foi introduzida a espécie D. sibirica para ser utilizada na luta biológica contra o diptero agromizídeo Liriomyza huidobrensis, em culturas hortícolas de estufa. Do género Chorebus estão referidas 3 espécies, incluindo a espécie endémica C. norae Graham. Por várias vezes foi observada uma espécie do género Diachasmimorpha (=Biosteres), a emergir de pupas parasitadas da moscada-fruta, Ceratitis capitata (Fig. 11). Até ao presente foram identificadas 79 espécies de braconídeos, das quais 14 constituem endemismos. Aphidiidae - Alguns autores consideram os Aphidiidae como sendo apenas uma subfamília (Aphidiinae) dos Brachonidae. Aqui vamos tratá-la, tal como considera Petr Starý, uma família distinta, constituida na sua totalidade por parasitóides específicos de afídeos. Parasitam especialmente fêmeas viviparas ápteras, no interior das quais apenas se desenvolve uma larva. Quando esta larva está perto de pupar, faz uma fissura no ventre do hospedeiro e cola-o na superfície onde este se encontra. O afídeo, já morto, tem um aspecto característico, cor de palha, designado vulgarmente por múmia, que mais tarde apresentam orifícios circulares por onde saíram Fig. 11 Braconídeo do género Diachasmimorpha, que por vezes parasita Ceratitis capitata na Madeira. os afidiídeos adultos. As espécies do género Praon, abandonam o corpo do hospedeiro antes de puparem e tecem um abrigo separado, geralmente por baixo do corpo da sua vitima (Fig. 12). A espécie P. volucre está referida para a Madeira por Graham (1986). Para Starý et al. (1996), o afidiídeo Lysiphlebus testaceipes é uma espécie de introdução recente, que tem alargado o seu leque de hospedeiros na Ilha da Madeira. Ataca afídeos das espécies Aphis fabae, A. gossypii, Pentalonia
10 Artrópodes Auxiliares na Ilha da Madeira 318 Fig. 12 Aspecto de um afídeo mumificado por um afidiídeo do género Praon. (Graham 1986a; Starý et al. 1996). nigronervosa, Toxoptera aurantii, etc. Mais recentemente já foi detectado a parasitar T. citricida, mas com taxas de parasitismo reduzidas. Outras espécies bastante comuns na Madeira, são Diaretiella rapae, que parasita o piolho-da-couve, Brevicoryne brassicae e Lysiphlebus fabarum parasita de várias espécies do género Aphis. Este último afidiídeo era a espécie dominante antes do aparecimento de L. testaceipes. Ao todo estão citadas para a Madeira 11 espécies da família Aphidiidae Cynipoidea Eucoilidae - Família cujas espécies são parasitas de pupas de dípteros. Figitidae - Família cujas espécies são parasitas de dípteros e neurópteros. Charipidae - As espécies desta família são essêncialmente hiperparasitóides de afídeos, i. e. parasitam as larvas dos afidiídeos, os parasitóides primários dos afídeos. Temos observado frequentemente a presença do charipídeo Alloxysta victrix hiperparasitando larvas de D. rapae, por sua vez a parasitar B. brassicae em couve. Destas 3 famílias, estão citadas para a Madeira 19 espécies (Graham, 1984; 1986b). Chalcidoidea Esta é uma das maiores superfamílias da ordem Hymenoptera, no respeita ao número de espécies descritas a nível mundial e inclui alguns dos insectos mais pequenos que se conhecem. A grande maioria destas espécies são parasitóides ou hiperparasitóides de outros insectos e têm maior importância económica como auxiliares do que os Ichneumonoidea. As primeiras abordagens à composição desta superfamília na Ilha da Madeira, foram feitas por Graham (1975, 1979). Segue-se uma apresentação das famílias já detectadas na Madeira. Torymidae - Na sua grande maioria são parasitóides de insectos galícolas: dípteros, himenópteros e lepidópteros. Na Madeira conhecem-se 3 espécies. Chalcididae - Muitos dos membros desta família são parasitóides ou hiperparasitóides de lagartas e crisálidas de lepidópteros ou pupas de dípteros. Na Madeira existem 2 espécies, uma delas endémica. Pteromalidae - É a maior família dos Chalcidoidea. São parasitóides ou hiperparasitóides de insectos de quase todas as ordens. Podemos citar como
11 Artrópodes Auxiliares na Ilha da Madeira 319 exemplos observados na Madeira, Pteromalus puparum (Fig. 13), parasitóide das crisálidas de borboletas do género Pieris. As espécies P. integer e P. ametrus, são parasitóides do díptero tefritídeo endémico Acantiophilus walkeri. Outros pteromalídeos como Nasonia vitripennis e várias espécies do género Spalangia, como S. cameroni parasitam pupas de dípteros. Os géneros Asaphes e Pachyneuron são hiperparasitóides de afídeos, de que são exemplos as espécies bastante comuns P. aphidis (Fig. 14) e A. suspensus. Outras espécies atacam coleópteros, como é o caso de Rhopalicus tutela, cujas larvas parasitam escolitídeos e curculionídeos (gorgulhos). Outras atacam cochonilhas, como Scutellista cyanea, que é um importante parasitóide de coccídeos, tal como observam Vieira et al. (1983), nomeadamente de pragas como Saissetia coffeae, Parasaissetia nigra, Ceroplastes floridensis, C. sinensis, etc. Mais recentemente foi observada pela primeira vez, uma espécie do género Psyllaephagus a parasitar ninfas da psila-do-eucalípto, Ctenarytaina eucalipti. Presentemente conhecem-se no arquipélago, 74 espécies de pteromalídeos, das quais 8 endémicas. Encyrtidae - Os parasitóides da família Encyrtidae apresentam um grande espectro de hospedeiros, que incluem ovos, larvas e pupas de insectos de várias ordens, embora os homópteros e os lepidópteros sejam os seus hospedeiros mais. Mas outros hospedeiros possíveis incluem ácaros, carraças e aranhas. Recentemente foi introduzido na Ilha da Madeira a espécie Ageniaspis citricola, parasitóide específico das larvas da mineira-dos-citrinos, Phyllocnistis citrella. Vários géneros de encirtídeos, incluindo este último desenvolvem-se por poliembrionia no Fig. 13 Larvas de Pteromalus puparum, acabadas de emergir de uma crisálida de Pieris rapae. Fig. 14 O pteromalídeo Pachyneuron aphidis, é um hiperparasitóide comum de afidiídeos parasitóides de afídeos. corpo dos seus hospedeiros. O Quadro 2 mostra-nos exemplos observados na Madeira, de várias espécies de encirtídeos e seus respectivos hospedeiros. Para a Ilha estão citadas 37 espécies de encirtídeos.
12 Artrópodes Auxiliares na Ilha da Madeira 320 Quadro 2 - Relações parasitóide/hospedeiro de alguns encirtídeos Parasitóide Aphidencyrtus aphidivorus Arrhenophagus chionaspidis Encyrtus infelix Metaphycus flavus Metaphycus helvolus* Hospedeiro afídeos (Aphidoidea) Furchadaspis zamiae (Diaspididae) Coccus hesperidum (Coccidae) Chrysomphalus dictyospermi, Coccus viridis (Diaspididae, Coccidae) Coccus viridis (Coccidae) * Espécie nova para a Madeira. Eupelmidae - Esta família inclui alguns géneros que têm a capacidade de parasitar uma gama extensa de hospedeiros, desde ovos de lepidópteros, (como é o caso de Anastatus bifasciatus) e de pentatomídeos (percevejos), cecidomiídeos (dípterosnematóceros), cochonilhas e vários coleópteros. Estão referidas 3 espécies de eupelmídeos para a fauna da Madeira. Signiphoridae - Na maioria dos casos as espécies da família Signiphoridae relacionados com aleirodídeos, actuam como hiperparasitóides obrigatórios de parasitóides (das famílias Aphelinidae e Platygastridae) desses mesmos aleirodídeos. No entanto, geralmente, os signiforídeos são parasitóides primários de diaspidídeos e mais raramente de dípteros Apenas Signiphora aleyrodis Ashmead, está citada para a Ilha da Madeira por MERCET (1927), mas com a indicação de ser um parasitóide dos diaspidídeos C. dictyospermi e A. nerii. Aphelinidae - A maior parte das espécies desta família, de que se conhecem actualmente 22 espécies na Madeira, têm dimensões reduzidas. A sua acção como parasitóides de diaspidídeos, afídeos e aleirodídeos é muito importante. O género Aphytis, que parasita diaspidídeos, é bastante numeroso a nível mundial. No entanto, para a fauna da Ilha da Madeira, os seguintes exemplos constituem uma novidade: A. lepidosaphes a parasitar de Lepidosaphes becki em laranjeira, A. chrysomphali a parasitar Fiorinia fioriniae em camélia e A. diaspidis (Fig. 15), a parasitar Quadraspidiotus perniciosus em macieira. Na Ilha existem várias espécies do género Aphelinus, parasitóides de afídeos, um dos quais A. mali, parasita Eriosoma lanigerum, o conhecido pulgão-lanígero-da-macieira. O género Encarsia tem espécies cujos hospedeiros principais são diaspidídeos. E. citrina, desconhecida até agora na Ilha, foi observada a parasitar Furchadaspis zamiae em estrelícia e E. lounsburyi, parasitóide bastante eficaz de A. nerii e C. pinnulifer. Esta última espécie foi descrita a partir de exemplares obtidos na Ilha da Madeira encontrados a parasitar o diaspidídeo C. dictyospermi. Posteriormente exemplares de E. lounsburyi da Madeira foram levados Fig. 15 Preparação microscópica de uma fêmea de Aphytis diaspidis, parasitóide de cochonilhas diaspidídeos. para Itália, com o objectivo da sua multiplicação em massa e consequente utilização na luta biológica contra o referido diaspidídeo, que era na altura
13 Artrópodes Auxiliares na Ilha da Madeira 321 uma grave praga dos citrinos na Sicília (Berlese & Paoli, 1916; Paoli, 1922a, 1922b). No entanto na família Aphelinidae cerca de metade das espécies do género Encarsia são parasitóides de aleirodídeos. Durante muito tempo, apenas duas espécies eram citadas para a Madeira, embora nenhuma associada a aleirodídeos. Além de E. lounsburyi a outra espécie é referida por Graham (1983), apenas como E. near aspidioticola. Na presente década, e no âmbito dos Programas POSEIMA de luta contra pragas de mosquinhasbrancas, realizaram-se vários estudos (Aguiar et al.,1995; Polaszek et al 1998; Hernandez- Suarez et al 1999), que resultaram na adição de 6 espécies (E. formosa, E. hispida, E. inaron, E. lutea, E. pergandiella e E. tricolor), todas elas parasitóides de aleirodídeos, e mais 2 novas para a ciência. E. formosa é um afelinídeo de origem Nearctica, hoje considerado cosmopolita, é talvez o parasitóide mais conhecido de toda a história da luta biológica (Fig. 16). Foi introduzida na Grã Bretanha no final dos anos 60 para ser utilizada na luta biológica contra T. vaporariorum em estufas. Posteriormente têm vindo a ser efectuadas largadas para o mesmo fim em estufas de praticamente toda a Europa, America do Norte, Rússia, Japão e Nova Zelândia. E. hispida é um afelinídeo Neotropical descrito do Brasil. Encontra-se referida para alguns outros países da América do Sul, América Central e Indias Ocidentais (Rep. Dominicana, Jamaica, Guadalupe). O seu hospedeiro preferido parece ser Bemisia tabaci, mas na Madeira já foi encontrada a parasitar outras espécies de mosquinhas-brancas. E. inaron é uma espécie actualmente espalhada por uma vasta área, que engloba a Europa, o Norte de África e a Ásia. Na Ilha da Madeira, E. inaron, apenas foi encontrada a parasitar um aleirodídeos do género Pealius, incluindo a espécie endémica, P. madeirensis, cujo habitat é a floresta macaronésica de lauráceas (laurissilva). Fig. 16 Os pupários da mosquinha-branca-dasestufas ficam negros quando parasitados pelo E. lutea é um afelinídeo afelinídeo Encarsia formosa. cosmopolita com um grande número de hospedeiros, mais de 40 espécies de aleirodídeos. Na Madeira, apenas recentemente foi encontrada a parasitar Bemisia tabaci. E. pergandiella que se pensa ser de origem Neártica, está hoje espalhada pela América do Norte, América Central e parte da América do Sul. Este afelinídeo tem a desvantagem de ser uma espécie arrenótoca e também autoparasitóide, tendo como consequência que os machos necessitem de se desenvolver como hiperparasitas nas fêmeas da sua própria espécie ou em outras do mesmo género.a espécie E. tricolor (Fig. 17), encontra-se espalhada por toda a Europa. Mais recentemente tem sido sujeita a estudos com vista à sua potencial utilização na luta biológica contra T. vaporariorum tanto ao ar livre como em estufa, principalmente nas zonas mediterrânicas da Espanha França e Itália, onde pode ser encontrado espontaneamente. Na Ilha da Madeira A. proletella e T. vaporariorum são os seus hospedeiros mais vulgares. Outro género de afelinídeos parasitóides de aleirodídeos, até há pouco tempo desconhecido na Madeira, é o género
14 Artrópodes Auxiliares na Ilha da Madeira 322 Eretmocerus, do qual a espécie E. mundus foi encontrada a parasitar várias espécies de aleirodídeos. O Quadro 3 mostra as relações tróficas conhecidas, entre os parasitóides destes dois géneros e os seus aleirodídeos hospedeiros na Ilha da Madeira. Fig. 17 Outra encarsia relativamente vulgar na Madeira, é Encarsia tricolor, aqui a parasitar pupários de Aleyrodes proletella. Quadro 3 - Relações parasitóide/aleirodídeo conhecidas na Madeira Parasitóide Aleirodídeo Encarsia formosa Encarsia hispida Encarsia inaron Encarsia lutea Encarsia pergandiella Encarsia tricolor Eretmocerus mundus Trialeurodes vaporariorum Aleurotrachelus rhamnicola, Bemisia tabaci, T. vaporariorum, Aleurodicus dispersus Pealius azaleae, Pealius madeirensis Bemisia tabaci Bemisia tabaci, Pealius azaleae, T. vaporariorum Aleyrodes proletella, T. vaporariorum Bemisia sp. pr. afer, Bemisia tabaci, T. vaporariorum No entanto, em relação a 4 espécies exóticas de mosquinhas-brancas de introdução recente (Aleuroplatus perseaphagus, Dialeurodes citrifolii, Paraleyrodes bondari e P. citricolus), verifica-se a ausência de ataques de qualquer espécie de parasitóide. Quando a introdução deste tipo de pragas não é acompanhada pela introdução dos complexos parasitários que possuem nos seus habitats de origem, a sua expansão é geralmente rápida e difícil de controlar, que é o que se passa na realidade, principalmente com as duas espécies do género Paraleyrodes nos pomares de citrinos e de abacateiros. A única solução viável do ponto de vista ambiental, será procurar introduzir os parasitóides que as atacam nas suas zonas de origem, neste caso a América do Sul. Em relação à mosquinha-brancadas-estufas, T. vaporariorum, que constitui uma das pragas mais importantes da horticultura protegida na Ilha e no âmbito do respectivo subprograma de luta, iniciaram-se largadas experimentais do parasitóide E. formosa, em estufas privadas com culturas de tomateiro e pepino em Junho/Julho de 1995, com resultados satisfatórios (FÉLIX et al., 1995). Entretanto e com base nas prospecções efectuadas, pudemos constatar a existência de um complexo de parasitóides (i.é. Amitus fuscipennis, Encarsia formosa, E. tricolor, E. pergandiella e E. hispida) associados a T. vaporariorum, tanto ao ar livre, principalmente sobre diversas infestantes, como em estufa (excepto E. hispida ) sobre tomateiro, pepino,
15 Artrópodes Auxiliares na Ilha da Madeira 323 feijão e pimentão. Foi interessante verificar que na maior parte dos casos o parasitismo natural nunca é da responsabilidade de uma espécie apenas, mas quase sempre da acção conjunta de várias (Quadro 4). Quadro 4 - Complexos de parasitóides de T. vaporariorum em várias culturas hortícolas de estufa Cultura Localidade Parasitóides Tomateiro Tranqual A. fuscipennis, E. tricolor Pepino Tabúa A. fuscipennis, E. pergandiella Pepino Caniço A. fuscipennis, E. formosa Pepino Calheta E. formosa, E. tricolor, E. pergandiella Feijão Quinta Grande A. fuscipennis, E. formosa, E. tricolor O estudo dos parasitóides associados a T. vaporariorum também nos permitiu verificar que E. formosa já se encontrava bem disseminada pela Ilha mesmo antes de serem efectuadas as primeiras largadas de exemplares comerciais importados. A. fuscipennis (Platygastrídeo de que falaremos posteriormente), é uma espécie abundante que pelo que nos foi dado observar, atinge taxas elevadas de parasitismo. Poderá eventualmente no futuro ser uma boa escolha para ser criada em massa e utilizada em largadas contra a referida praga. E. tricolor apesar de ser abundante é ainda mais vulgar ao ar livre onde atinge taxas de parasitismo elevadas. Apesar de tudo o material observado desta espécie, apresenta uma proporção semelhante de fêmeas endoparasitas e machos hiperparasitas, o que, em comparação com E. formosa cuja esmagadora maioria são fêmeas, poderá indicar uma menor eficácia. E. tricolor tem uma gama de hospedeiros maior que E. formosa, cujo único hospedeiro conhecido na Ilha da Madeira é justamente T. vaporariorum. A ocorrência das restantes duas espécies é esporádica e além disso E.pergandiella é um autoparasitóide com reprodução arrenótoca, que é uma desvantagem tendo em conta que os machos se comportam obrigatoriamente como hiperparasitas das fêmeas de outras espécies do mesmo género, além das suas. Eulophidae - Na Madeira, é dos Chalcidoidea, a família de que se conhece maior número de espécies, 81, das quais 25 endémicas. Os membros da subfamília Eulophinae atacam principalmente lepidópteros minadores de folhas e alguns também atacam dípteros agromizídeos. No Quadro 5 indicam-se alguns exemplos parasitóide/hospedeiro observados na Madeira.
16 Artrópodes Auxiliares na Ilha da Madeira 324 Quadro 5 - Relações parasitóide/hospedeiro de alguns Eulophinae Parasitóide Cirrospilus pictus f. atlanticus Cirrospilus vittatus* Diglyphus isaea (Fig. 18) Hemiptarsenus dropion Sympiesis sp. (Fig. 19) * Espécie nova para a Madeira. Hospedeiro P. citrella (Gracillariidae) P. citrella (Gracillariidae) L. huidobrensis (Agromyzidae), P. citrella (Gracillariidae) Trifurcula sp. (Nepticulidae) C. staintoni (Gracillariidae) Fig. 18 Os eulofídeos do género Dygliphus, são parasitóides de dípteros agromizídeos. Fig. 19 Um eulofídeo do género Sympiesis, ataca a mineira-do-abacateiro. O macho apresenta ramificações em alguns dos artículos das antenas. As espécies da subfamília Tetrastichinae incluem parasitóides e hiperparasitóides de insectos de quase todas as ordens. A maioria ataca dípteros galícolas, himenópteros e coleópteros. No Género Tetrastichus, as espécies T. pronomus e T.arboreae são parasitóides de psilas (homópteros). No género Aprostocetus, a espécie A. phloephtori parasita coleópteros escolitídeos e A. flavifrons parasita dípteros agromizídeos e por vezes, larvas da mineira-dos-citrinos. Apotetrastichus contractus, outro Tetrastichinae parasitóide das larvas da mineira-dos-citrinos, é uma das espécies autóctones (neste caso endémica) que mais frequentemente ataca esta praga. Na família Eulophidae, são vários os géneros com espécies que parasitam aleirodídeos. A espécie N. formosa, referida no Quadro 6 como uma novidade para a Madeira é, segundo Polaszek (1995), uma espécie polífaga, a única deste género que incluí aleirodídeos nos seus hospedeiros. Do género Euderomphale, Graham (1986b) descreve a espécie E. cortinae com base em um ou mais machos colhidos no Caldeirão Verde, mas sem a relacionar com hospedeiros. Actualmente sabemos que E. cortinae parasita um aleirodídeo ou um complexo de aleirodídeos macaronésicos de identidade incerta, denominado provisoriamente Bemisia sp. pr. afer (bemísia-das-ilhas). No entanto, Cales noacki, talvez seja o mais conhecido dos parasitóides de aleirodídeos. Durante muito tempo este género foi colocado na família Aphelinidae, no entanto Polaszek (1991), propõe a sua colocação na família Eulophidae devido a ter características
17 Artrópodes Auxiliares na Ilha da Madeira 325 morfologicamente importantes, mais próximas desta. Este minúsculo insecto, apesar de ser mais vulgar como parasitóide da mosquinha-branca-dos-citrinos, Aleurothrixus floccosus, parece ter uma grande variedade de hospedeiros, incluindo outros aleirodídeos, diaspidídeos e até lepidópteros. C. noacki apesar de ter uma origem Neotropical, é hoje uma espécie praticamente cosmopolita. Isto deve-se ao facto de ser um eficáz controlador biológico da mosquinha-branca-dos-citrinos, tendo sido introduzida para esse efeito em quase todas as regiões citricolas que o aleirodídeo ia invadindo e que hoje abrange a Região Neotropical, o Sudoeste da Palearctica e parte da Etiópica. Na Ilha da Madeira apesar da presença de A. floccosus ser conhecida desde 1920 só em 1976 se efectuou a primeira largada de C. noacki provenientes da Estação de Antibes. Actualmente este parasitóide está presente em toda a área de destribuição de A. floccosus na Ilha. Na subfamília Entedontinae, os géneros Chrysocharis e Neochrysocharis têm uma gama semelhante de hospedeiros, como mostra o Quadro 6, relativamente a casos observados na Madeira. Quadro 6 - Relações parasitóide/hospedeiro de alguns Entedontinae Parasitóide Chrysocharis chilo Chrysocharis gemma Chrysocharis entedonides Neochrysocharis formosa* * Espécie nova para a Madeira. Hospedeiro dípteros (Drosophilidae, Ephydridae) Cerodonta pygmaea (Agromyzidae), P. citrella (Gracillariidae) dípteros (Agromyzidae) Phyllonorycter juncei madeirae (Gracillariidae) Trichogramatidae - São exclusivamente parasitóides oófagos e incluem alguns dos insectos mais pequenos que se conhecem. O género Trichogramma parasita geralmente ovos de lepidópteros, de cada um dos quais podem chegar a emergir mais de 20 tricogramas adultos. Temos observado tricogramatídeos deste género emergindo de ovos de noctuídeos e de Acherontia atropus, o besouro-da-caveira (Fig. 20). Mais recentemente Garcia et al. (1998), refere a presença na Ilha das espécies T. cordubensis e T. evanescens, a primeira parasitando ovos dos noctuídeos Autographa gamma e Chrysodeixis chalcites, a segunda, ovos de A. gamma, Agrotis spp. e da borboleta-pequena-da-couve, Pieris rapae. Graham (1981), já tinha mencionado a presença da espécie Oligosita subfasciata. Elasmidae - Família que apresenta uma vasta área de distribuição. Podem ser parasitóides ou hiperparasitóides de lepidópteros. Na Madeira conhecem-se as espécies Elasmus maderae (endémica) e E. elongatus. Mymaridae - As espécies desta família têm dimensões bastante reduzidas e são exclusivamente parasitas de ovos. O género Alaptus, que está citado para a Madeira (Graham 1984b), inclui provavelmente os insectos mais pequenos de que há conhecimento. O género Anagrus, cosmopolita e um dos mais vulgares, parasita ovos de homópteros e heterópteros, e tem sido usado em programas de luta biológica contra pragas de cicadelídeos e cercopídeos (homópteros). São cerca de 9 as espécies presentes na Ilha. Proctotrupoidea Fig. 20 Os tricogramatídeos são parasitóides exclusivos de ovos de lepidópteros. Na imagem um adulto do género Trichogramma, acaba de sair de um ovo de Acherontia atropos.
18 Artrópodes Auxiliares na Ilha da Madeira 326 Proctotrupidae - É uma pequena família cujas espécies parasitam larvas de coleópteros. Na Madeira, de acordo com Graham (1984a), existem 4 espécies, sendo 3 do género Codrus. Diapriidae - Família de dimensões moderadas, composta essêncialmente por parasitóides de dípteros. A espécie Diapria conica, citada para a Ilha, ataca o sirfídeo Eristalis tenax. Na totalidade estão citadas para a Madeira 27 espécies de diapriídeos (Wollaston, 1858; Graham, 1984a, 1986a). Scelionidae - Família bastante numerosa e com uma vasta distribuição mundial. Todas as espécies são parasitas de ovos (Fig. 21), com maior frequência, ovos de lepidópteros, hemipteros ou ortópteros e ocasionalmente aranhas. O género Scelio ataca massas de ovos de ortópteros acridídeos. A espécie S. walkeri está citada para a Madeira. O género Telenomus parasita ovos de lepidópteros ou heterópteros. Das 5 espécies citadas para a Ilha, T. sp. pr. Chloropus, segundo Graham (1988b), parasita ovos dos percevejos pentatomídeos Piezodorus lituratus e Aelia acuminata, pragas de cereais. Os scelionídeos conhecidos na Madeira ascendem a 29 espécies(wollaston, 1858; Graham, 1984a, 1988b). Platygastridae - Outra família numerosa, cujas espécies parasitam principalmente dípteros cecidomiídeos. Vários géneros estão citados para a Madeira (Graham, 1984), no entanto, o género Amitus, ao contrário da maioria, são parsitóides de mosquinhas-brancas. A espécie A. fuscipennis (Fig. 22), foi encontrada a parasitar a mosquinhabranca-das-estufas, T. vaporariorum (Aguiar et al., 1995). Esta espécie é de origem Neotropical, descrita de exemplares provenientes da Costa Rica onde foi encontrada parasitando T. vaporariorum que é o seu único hospedeiro conhecido. A. fuscipennis reproduz-se por partenogénese telitoca, comportamento que parece estar a verificar-se na Ilha da Madeira, pois do material que tivemos oportunidade de estudar, em mais de 373 fêmeas, apenas observámos dois machos. Mais recentemente foi importada de Espanha para a Madeira, a espécie A. spiniferus, como complemento a C. noacki, na luta biológica contra a mosquinha-branca-dos-citrinos. As espécies de platigastrídeos conhecidas na Madeira são 10 no total. Chrysidoidea Dryinidae - A maior parte das espécies desta interessante família são identificadas através dos tarsos anteriores, modificados, semelhantes a pinças. As fêmeas de muitas espécies são ápteras. Todas as espécies comportam-se como parasitóides de ninfas de Fig. 21 Scelionídeo adulto. Estes pequenos himenópteros são parasitas de ovos de outros insectos. Fig. 22 Fêmea de Amitus fuscipennis, emergindo de um pupário de Trialeurodes vaporariorum.
19 Artrópodes Auxiliares na Ilha da Madeira 327 homópteros, especialmente das famílias fulgoridae, cercopidae, membracidae e cicadellidae. Na Madeira apenas estão citadas 2 espécies, uma delas, Acrodontochelys bouceki parasita cicadelídeos. Bethylidae - Família de espécies pequenas, maioritáriamente de coloração negra. Tanto quanto se sabe, são parasitóides de larvas de lepidópteros e coleópteros. O género Epyris, do qual está citada para a Ilha a espécie E. longicollis, coloca um único ovo por larva, em coleópteros tenebrionídeos. O género Bethylus, com 4 espécies na Madeira, 3 delas endémicas: B. latus, B. linearis e B. tenuis, ataca larvas de lepidópteros, mesmo que estejam escondidas. No total estão referidas para a Madeira 8 espécies de betilídeos Sub-Phyllum Chelicerata Ordem Actinotrichida Alguns géneros da extensa e cosmopolita família Stigmaeidae apresentam as características que nos interessam, nomeadamente Agistemus, Mediolata e Zetzellia. As espécies que pertencem a estes géneros, são na sua grande maioria, predadores de outros ácaros. Possuem quilíceras grandes e aguçadas com as quais conseguem perfurar o córion dos ovos das sua presas, ácaros das famílias Tarsonemidae, Tenuipalpidae, Tetranychidae e Tydeidae. A única espécie, referida para a Madeira por Carmona (1992), é Agistemus africanus, encontrada sobre figueira e videira, predando várias espécies de ácaros fitófagos, principalmente tetraniquídeos. Ordem Anactinotrichida Também nesta ordem, apenas a família Phytoseiidae tem importância na limitação natural de ácaros fitófagos. De acordo com Carmona & Dias (1996), são ácaros cosmopolitas, essêncialmente predadores muito activos de tetraniquídeos, tenuipalpídeos e eriofiídeos, sendo por isso protegidos e utilizados em acções de luta biológica. São 11 na totalidade, as espécies de fitoseídeos presentes na Ilha da Madeira. Os géneros mais representados na Madeira são Amblyseius e Thyphlodromus. Como exemplos do primeiro género temos as espécies A. largoensis e A. hibisci, do segundo, as espécies T. pyri e T. rhenanus (Carmona, 1973). T. pyri é abundante em vários arbustos e árvores, incluindo fruteiras. Ocorre tanto em pomares não tratados com insecticidas, como nos tratados. Mais recentemente, uma espécie do género Phytoseiulus, P. persimilis, foi observada predando Tetranychus sp. em morangueiro e papaieira. Esta é a primeira referência deste género e espécie para a Madeira. A sua origem é Sul Americana, mas alargou a sua área de distribuição devido a ser criada em massa, em vários países para utilização como agente de luta biológica. É um predador eficaz de T. urticae e tem sido usado com sucesso em vários países, na limitação das populações desta praga em estufas de pepino e tomate. Na Madeira, em 1995 e no ambito dos trabalhos do Programa de Luta contra T. vaporariorum, fizeram-se lalgumas largadas de P. persimilis também em estufas de pepino e tomate.
20 Artrópodes Auxiliares na Ilha da Madeira 328 Referências Bibliograficas Aguiar, A. M. Franquinho; Polaszek, A.; Brazão, C. & Félix, A. P. (1995). Algumas notas sobre parasitóides de mosquinhas-brancas (Hymenoptera: Proctotrupoidea, Chalcidoidea; Homoptera: Aleyrodidae) na Ilha da Madeira. III Enc. Nac. Prot. Int. Lisboa Dez., 1995, 20 pp. Berlese, A &. Paoli, G 1916: Un Endofago Esotico efficace contro il Chrysomphalus dictyospermi Morg. Redia 11 (1): Bielawski, R. 1963: X. Coccinellidae (Coleoptera) von Madeira. In Lindberg, H. 1963: A Contribution to the Study of Beetles in the Madeira Islands. Results of expeditions in 1957 and Soc. Sci. Fenn. Comm. Biol., XXV (2): Carmona, M. M. 1973: Ácaros Fitófagos e Predadores da Ilha da Madeira. Agronomia Lusitana, 34 (3): Carmona, M. M. 1992: Ácaros fitófagos e predadores da Ilha da Madeira - II. Bol. San. Veg. Plagas, 18 (2): Carmona, M. M. & Dias, J. C. S. 1996: Fundamentos de Acarologia Agrícola. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 423 pp. Carvalho, J. P. de, 1992: Antocorídeos. Revista de Ciências Agrárias, XV (1/2): China, W. E. 1939: III - Terrestrial Hemiptera and Homoptera Auchenorrhyncha In Die Arthropodenfauna von Madeira nach den Ergebnissen der Reise von Prof. Dr. O. Lundblad Juli-August Arkiv för Zoologi, B30A, (2): Erber, D. 1990: New and little known coleoptera from Madeira. Results of excursions to Madeira in the years Bol. Mus. Mun. Funchal, 42 (223): Erber, D. & Aguiar, A. M. Franquinho 1996: New and remarkable species of the coleopterous fauna of Madeira. Bol. Mus. Mun. Funchal, 48 (265): Erber, D. & Hinterseher, W. 1988: Contribution to the knowledge of the Madeira beetles. Bol. Mus. Mun. Funchal, 40 (202): Félix, A.P.D.; Aguiar, A.M. Franquinho & Mexia, A A mosquinha branca das estufas - Trialeurodes vaporariorum (Westwood) na Região Autónoma da Madeira. Proceed. of the 1st International Symposium on Biological Control in European Islands Sept.Ponta Delgada, Açores. (em publ.). Frey, R. 1949: Die Dipterenfauna der Insel Madeira In Iter entomologicum et botanicum ad Insulas Madeiram et Azores anno 1938 a Richard Frey, Ragnar Storå et Carl Cedercreutz factum. Soc. Scient. Fenn. Comm. Biol., VIII, 16: Garcia, P.; Oliveira, L.; Vieira, V. & Tavares, J Parasitóides entomófagos da Ilha da Madeira: Destribuição e hospedeiros. Actas do VIII Congresso Ibérico de Entomologia, Évora - Portugal, 7 a 11 de Setembro 1998 (em public.) Gilbert, F. S. 1993: Hoverflies. Naturalists Handbooks nº 5. The Richmond Publishing Co. Ltd., 67 pp. Gomes, A. & Baez, M. 1990: Contribución al conocimiento de los Sírfidos del archipiélago de Madeira (Diptera, Syrphidae). Vieraea, 19: Graham, M.W.R.V de Some chalcidoidea (Hymenoptera) from Madeira, including a new genus and two new species. Entomologists Gazette, 26: Graham, M.W.R.V de The chalcidoidea (Hymenoptera of Madeira: A preliminary list. Entomologits Gazette, 30: Graham, M.W.R.V de A survey of Madeiran chalcidoidea (Insecta: Hymenoptera) with additions and descriptions of new taxa. Bocagiana, no. 58: Graham, M.W.R.V de 1983: Madeira Insects: Faunal notes, additions and descriptions of new species of Chalcidoidea (Hymenoptera). Bol. Mus. Mun. Funchal, 35 (151): Graham, M.W.R.V de 1984a. Madeira Insects: Mainly Hymenoptera Proctotrupoidea, Ceraphronoidea and Bethyloidea. Bol. Mus. Mun. Funchal, 36 (159):
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