PEIXES DO RIO DAS VELHAS: passado e presente. Carlos Bernardo Mascarenhas Alves & Paulo dos Santos Pompeu (Organizadores)

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1 PEIXES DO RIO DAS VELHAS: passado e presente Carlos Bernardo Mascarenhas Alves & Paulo dos Santos Pompeu (Organizadores) Segunda Edição Belo Horizonte 2010

2 Copyright c 2001, 2010 by Carlos Bernardo Mascarenhas Alves, Paulo dos Santos Pompeu Permite-se reprodução parcial ou total desta obra, desde que haja menção explícita da fonte. REVISOR TÉCNICO: Heraldo A. Britski APRESENTAÇÃO DA 1a EDIÇÃO: Apolo Heringer Lisboa APRESENTAÇÃO DA 2a EDIÇÃO: Carlos Bernardo Mascarenhas Alves PREFÁCIO: Roberto Esser dos Reis TRADUTORES: Luiz Paulo Ribeiro Vaz, Vicente de Paulo Iannini FINANCIAMENTO: Governo Federal DA 1 a EDIÇÃO Ministério do Meio Ambiente Secretaria de Recursos Hídricos FINANCIAMENTO: Governo do Estado de Minas Gerais DA 2 a EDIÇÃO Fundação Estadual de Minas Gerais (FEAM) GERENCIAMENTO: Associação Brasileira de Recursos Hídricos ABRH (1 a EDIÇÃO) Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa FUNDEP (2 a EDIÇÃO) EXECUÇÃO: Projeto Manuelzão (UFMG) REVISÃO: Maria Lina Soares de Souza, Roberto Barros de Carvalho (1a EDIÇÃO) Erick Ramalho (2 a EDIÇÃO) PRODUÇÃO EDITORIAL e PROJETO GRÁFICO: Luiz Paulo Ribeiro Vaz, Dione Dutra DIAGRAMAÇÃO das PRANCHAS (2a EDIÇÃO): Patrícia De Michelis Mendonça CAPA: Carlos Bernardo Mascarenhas Alves e Marcus Antônio Ferreira Ficha catalográfica elaborada pelas Bibliotecárias da Biblioteca FALE/UFMG Adaptada pela ARGVMENTVM Editora CIP-Brasil. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE P427 Peixes do Rio das Velhas: passado e presente / Carlos Bernardo Mascarenhas Alves & Paulo dos Santos Pompeu (organizadores). 2. ed. Belo Horizonte, MG : Argvmentvm, ed. Conteúdo parcial: Peixes do Rio das Velhas: uma contribuição para a ictiologia do Brasil / por Christian Frederik Lütken Inclui bibliografia ISBN: Peixe Velhas, Rio das (MG) Identificação. I. Alves, Carlos Bernardo Mascarenhas. II. Pompeu, Paulo dos Santos. III. Lütken, Chr. Fr. (Christian Frederik), Peixes do Rio das Velhas: uma contribuição para a ictiologia do Brasil CDD : CDU : 597.2/.5(815.1) ISBN: Impresso no Brasil Printed in Brazil

3 Sumário Sumário Apresentação da 1 a Edição Prefácio da 1 a Edição Apresentação da 2 a Edição Tradução ou versão? eis a questão Fishes of Rio das Velhas: Past and Present [Peixes do Rio das Velhas: Passado e Presente] (Abstract) Sobre a Obra Velhas-Flodens Fiske [Peixes do Rio das Velhas] (Heraldo Antônio Britski) Peixes do Rio das Velhas. Uma Contribuição para a Ictiologia do Brasil (Christian Frederik Lütken).. 25 Prólogo I. Bagres (Siluridæ) A. O grupo dos Stegophilus e dos Trichomycterus Stegophilus insidiosus Trichomycterus brasiliensis B. Bagres-de-couraça Loricaria lima Plecostomus lima Plecostomus Francisci Plecostomus alatus C. O Grupo dos Doradina Doras marmoratus Auchenipterus lacustris Glanidium albescens D. O Grupo dos Pimelodus Platystoma emarginatum Platystoma orbignianum Bagropsis Reinhardti Conorhynchus conirostris Pimelodus maculatus Pimelodus Westermanni Pseudorhamdia fur Pseudorhamdia lateristriga Pseudorhamdia vittata Rhamdia Hilarii Rhamdia microcephala Rhamdia minuta Pseudopimelodus charus II. Caraciformes (Characini) A. O Grupo dos Erythrinus Macrodon trahira B. O Grupo dos Curimatus Curimatus albula Prochilodus argenteus e Prochilodus affinis C. O Grupo dos Anostomus e Tetragonopterus Leporinus elongatus Leporinus Reinhardti Leporinus tæniatus Leporinus Marcgravii Leporellus pictus O gênero Tetragonopterus Tetragonopterus lacustris Tetragonopterus Cuvieri Tetragonopterus rivularis Tetragonopterus gracilis Tetragonopterus nanus Chirodon piaba Brycon Lundii e B. Reinhardti Piabina argentea D. O Grupo dos Hydrocyon Cynopotamus (Ræboides) xenodom Salminus Cuvieri e Hilarii Xiphorhamphus lacustris E. O grupo dos Serrasalmos Serrasalmo (pygocentrus) piraya Serrasalmo (s. str.) Brandtii Myletes (Tometes) micans III. Sarapós (Gymnotini) Carapus fasciatus Sternopygus virescens Sternopygus carapo Sternarchus brasiliensis IV. Corvinas (Sciænoidei) Sumário das pranchas (I V) e figuras Sinopse I. Siluridæ a. Stegophilina e Trichomycterina Stegophilus insidiosus

4 Trichomycterus brasiliensis b. Loricarina e Hypostomatina Loricaria lima Plecostomus lima Plecostomus Francisci Plecostomus alatus c. Doradina Doras marmoratus Auchenipterus lacustris Glanidium Glanidium albescens d. Pimelodina Platystoma emarginatum Platystoma orbignianum Bagropsis Bagropsis Reinhardti Conorhynchus conirostris Pimelodus Pimelodus maculatus Pimelodus Westermanni Pseudorhamdia Pseudorhamdia fur Pseudorhamdia lateristriga Pseudorhamdia vittatus Rhamdia Rhamdia Hilarii Rhamdia microcephala Rhamdia minuta Pseudopimelodus Pseudopimelodus charus II. Caracídeos a. Erythrinina Macrodon trahira b. Curimatina Curimatus albula Prochilodus affinis Prochilodus argenteus Parodos Hilarii argenteus c. Anastomatina e Tetragonopterina Characidium Characidium fasciatum Leporellus Leporellus pictus Leporinus Leporinus elongatus Leporinus Reinhardti Leporinus tæniatus Leporinus Marcgravii Tetragonoptera Tetragonopterus Cuvieri Tetragonopterus lacustris Tetragonopterus rivularis Tetragonopterus gracilis Tetragonopterus nanus Chirodon Chirodon piaba Brycon Reinhardti Brycon Lundii Piabina Piabina argentea d. Hydrocyonina Cynopotamus (Roeboides) xenodom e. Serrasalmonina Salminus Cuvieri Salminus Hilarii Xiphorhamphus lacustris Myletes (Tometes) micans III. Gymnotini Carapus fasciatus Sternopygus carapo Sternopygus virescens Sternopygus brasiliensis IV. Sciænoidei Pachyurus Lundii Pachyurus (Lepipterus) corvina. 164 Obras referenciadas A Fauna de Peixes da Bacia do Rio das Velhas no Final do Século XX (Carlos Bernardo Mascarenhas Alves & Paulo dos Santos Pompeu) Índice de nomes (peixes, rios, lagos, etc.)

5 Apresentação da 1 a edição Apolo Heringer Lisboa Coordenador-geral do Projeto Manuelzão 1 Departamento de Medicina Preventiva e Social UFMG A edição em português do livro Peixes do rio das Velhas, de Christian F. Lütken, que o Projeto Manuelzão tornou possível, é uma contribuição ao aprimoramento intelectual de Minas Gerais e um esforço no sentido de ampliar o conjunto de informações sobre a bacia hidrográfica do rio São Francisco. Inicialmente, a Academia Real de Ciências da Dinamarca teve a gentileza de nos enviar um exemplar da primeira edição dinamarquesa da obra 2, autorizando-nos a traduzi-la e publicá-la em português. Para a consecução desse objetivo, foi decisivo o ágil apoio dado pela Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente, por intermédio de seu secretário-geral, José Carlos Carvalho. Agradecemos à Sra. Manuela Maria M.A. Moreira e à diretoria da Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH) o apoio na efetivação dos repasses. Encontrar tradutores para os textos em dinamarquês e latim, proceder às revisões técnica e linguística da versão traduzida e atender às cláusulas burocráticas do convênio, administrado pela ABRH, com sede no sul do Brasil, foram para nós uma corrida olímpica de obstáculos, durante quase dois anos. Os recursos foram consumidos em parte pela desvalorização do real, adicionando-nos uma pequena mas expressiva dose de estresse. Vencidos todos os obstáculos, temos agora o prazer de comemorar e compartilhar os frutos desse trabalho, possível graças ao esforço científico e desbravador de uns no século XIX, à organização dos acervos dinamarqueses, ao esforço técnico-científico de outros na atualidade e à organização do Projeto Manuelzão e dos coordenadores de seu subprojeto S.O.S. Rio das Velhas, os biólogos Carlos Bernardo Mascarenhas Alves e Paulo dos Santos Pompeu. O texto a seguir adaptado do artigo Saúde, meio ambiente e cidadania, da jornalista Maya Mitre, publicado na edição de julho de 2001 da revista Ciência Hoje apresenta de forma sucinta os objetivos, a dinâmica e as linhas de ação do Projeto Manuelzão, cuja principal meta é a revitalização da bacia do rio das Velhas. Criado há quatro anos na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Projeto Manuelzão tem sido avaliado como um exemplo de sucesso no campo da saúde coletiva no Brasil. Seus esforços, que mobilizam diversos segmentos sociais, concentram-se em torno de um objetivo comum: reduzir a degradação ambiental na bacia hidrográfica do rio das Velhas. Para elucidar sua relevância, o projeto lança mão de uma metáfora contundente: A água é o sangue da Terra, já que ela permite diagnosticar a saúde do ambiente e responde diretamente pela qualidade de vida da população. Afluente do caudaloso São Francisco, o rio das Velhas, de 761 km, abrange 51 municípios de Minas Gerais. Com área de drenagem de km 2, estende-se de Ouro Preto à Barra do Guaicuí, abaixo do município de Pirapora. Sua importância remonta ao final do século 1 Visite a página 2 Exemplar doado para a Coleção de Obras Raras da Biblioteca Central da UFMG. 5

6 17, época das grandes expedições pelo interior do estado. A descoberta de ouro em sua bacia atraiu exploradores de todas as partes do Brasil e levou à fundação da cidade de Vila Rica atual Ouro Preto, onde e stá sua nascente. Com o fim do ciclo do ouro e a ascensão da exploração do ferro em larga escala, no período republicano, ergueram-se ao redor da bacia um ativo pólo industrial e inúmeros municípios, entre eles Belo Horizonte. A intensa concentração populacional na região metropolitana da capital mineira desencadeou um processo contínuo de degradação de seus rios, causado por práticas predatórias, como o uso e a ocupação inadequada do solo, o descarte de esgotos não tratados e a coleta mal planejada de lixo - seguidos pela canalização dos córregos -, além da construção de barragens, do corte de matas ciliares e de práticas agrícolas impróprias. A assistência médica à população dos municípios da bacia do rio das Velhas, prestada por alunos do último ano do curso de medicina, através do Internato Rural, levou o Departamento de Medicina Preventiva e Social da UFMG a constatar que boa parte das doenças que afetavam os moradores das áreas urbanas e rurais era causada pela falta de saneamento básico. A disposição inadequada de lixo e esgoto doméstico e industrial ao longo da bacia provoca a transmissão de diversas enfermidades infecto-parasitárias, como esquistossomose, neurocisticercose, dengue, hepatites, gastroenterites e doenças de pele. A importância de exterminar as causas das doenças, mais do que tratá-las, levou professores do Internato Rural a desenvolver um amplo programa de saúde coletiva, que cuidaria de mobilizar a sociedade civil, visando transformar a mentalidade da população com base no princípio de que a qualidade de vida está associada à qualidade do ambiente. Nascia assim, em 1997, o Projeto Manuelzão do rio das Velhas, que não pretende incentivar a indústria da doença, pois saúde não é apenas um problema médico. Ao contrário de outros métodos de análise, o projeto não mede a qualidade da água a partir de critérios exclusivamente físico-químicos, mas sobretudo através de seu indicador biológico mais visível: o peixe. O S.O.S. Rio das Velhas, um subprojeto do Manuelzão, utiliza como principal elemento de avaliação da qualidade da água a diversidade de espécies de peixes e sua distribuição em diferentes trechos do rio. A importância do peixe como bioindicador é incontestável, pois ele ocupa posição de destaque na cadeia alimentar, é facilmente visível e pode ser controlado pela população. Além disso, por se locomover com facilidade, sua ausência em certas áreas indica desequilíbrios ambientais graves, que se refletem em problemas de saúde da população ribeirinha. A meta de trazer os peixes de volta ao rio deu origem a 14 subprojetos de ação específicos, voltados para as áreas da saúde, meio ambiente e cidadania. Além do S.O.S. Rio das Velhas, os demais subprojetos voltam-se para os seguintes temas: lixo, saneamento básico, práticas agrícolas, preservação de matas ciliares, preservação de mananciais, práticas industriais, saúde da família, educação ambiental, ecoturismo, divulgação científica, aspectos legais e arte e cultura. Na tentativa de suprir deficiências na rede de informação entre as comunidades, o subprojeto Manuelzão Dá o Recado distribui gratuitamente pelos municípios da bacia o jornal Manuelzão, hoje com tiragem mensal de 50 mil exemplares. O projeto Manuelzão envolve, além da UFMG, outros centros universitários, empresas privadas, instituições políticas e a sociedade civil, mobilizando aproximadamente 4,5 milhões de pessoas. A população de cada um dos 51 municípios da bacia do rio das Velhas é incentivada a organizar seu próprio Comitê Manuelzão. Nele as demandas pela melhoria da qualidade de vida são discutidas e trazidas à coordenação do projeto, que funciona como ponto de interlocução, sugerindo soluções para os problemas locais e encaminhando as ações 6

7 propostas às prefeituras, ao governo estadual e às empresas. Contrários à política paternalista, os integrantes do projeto procuram, em palestras e reuniões com a população, diagnosticar os problemas e apontar soluções para a ação local, a fim de que a comunidade passe a agir por conta própria. Além de autônomos, os comitês funcionam com base em metas, que devem ser cumpridas em prazos determinados. A participação nos comitês é bastante heterogênea. Neles, universitários, engenheiros, técnicos, donas-de-casa, padres, lavradores, políticos e pescadores aprendem a falar a mesma língua. Todos lutam para recuperar o ambiente degradado, trazer os peixes de volta aos rios e garantir cidadania, qualidade de vida e saúde à população. 7

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9 Prefácio da 1 a edição Roberto Esser dos Reis Presidente da Sociedade Brasileira de Ictiologia Museu de Ciências e Tecnologia PUCRS O ano era 1847 e o local um reino distante, do outro lado do oceano, onde grandes distâncias, altas serras, florestas densas e doenças tropicais eram tão abundantes quanto as novidades científicas que um explorador poderia encontrar o Brasil. Foi nesse cenário que o zoólogo dinamarquês Johannes Theodor Reinhardt conheceu a região do rio das Velhas, nas Minas Gerais, a convite de outro naturalista, conterrâneo seu, Peter Wilhelm Lund, havia alguns anos estabelecido na região. Nos anos seguintes, Reinhardt coletou muitos peixes durante os períodos em que esteve no rio das Velhas, e a grande coleção que formou foi levada para a Dinamarca para ser estudada. A maior parte do estudo e do trabalho descritivo, entretanto, foi feita por outro zoólogo dinamarquês, Christian Frederik Lütken, que publicou em 1875 sua célebre obra Velhas-Flodens Fiske. O valor singular do trabalho de Lütken decorre de vários fatores, mas especialmente da excelente qualidade de suas ilustrações e detalhamento de suas descrições taxonômicas, acrescidas de inúmeros dados biológicos sobre as espécies, cuidadosamente coligidos por Reinhardt. Além disso, esse trabalho representa o primeiro estudo faunístico baseado em um inventariamento cuidadoso e prolongado feito no Brasil. Considerando as impensáveis dificuldades pelas quais os exploradores passavam para viajar e coletar peixes na América do Sul do século XIX e comparando o inventário preparado por Reinhardt no rio das Velhas com estudos recentes feitos nesse rio como nos mostram Carlos Alves e Paulo Pompeu no terceiro capítulo deste volume, compreendemos o quão dedicados e persistentes foram esses zoólogos pioneiros. Como se pode verificar nesta tradução de Velhas-Flodens Fiske, 55 espécies de peixes foram registradas para o rio das Velhas, juntamente com uma quantidade de dados biológicos incomum para a época. Hoje, 150 anos de coletas depois, com técnicas avançadas e artes de pesca variadas, Alves e Pompeu assinalaram apenas outras 53 espécies para a bacia do rio das Velhas. O total de 55 espécies coletadas por Reinhardt se reveste de especial significado quando comparado com as 40 espécies então conhecidas de toda a bacia do rio São Francisco, como nos mostra Heraldo Britski na primeira parte deste livro. Apesar de sua grande importância para o estudo dos peixes do rio das Velhas e do rio São Francisco como um todo, o acesso de ictiólogos brasileiros à obra de Lütken era extremamente limitado em face da linguagem em que foi escrita. Afinal, pouquíssimos de nós se é que há algum somos capazes de entender o dinamarquês. A iniciativa da equipe de Carlos Bernardo Mascarenhas Alves e Paulo dos Santos Pompeu de viabilizar a tradução de Velhas-Flodens Fiske para o português é altamente louvável e abre, entre outras possibilidades, oportunidade de realização de estudos comparativos da ictiofauna atual do rio das Velhas com a de 150 anos atrás. Como nos mostram Alves e Pompeu, certas espécies registradas por Reinhardt, quando a região metropolitana de Belo Horizonte não passava de uma vila, não foram identificadas 9

10 nos levantamentos feitos recentemente ao longo do rio das Velhas, estando mesmo algumas delas ameaçadas de extinção. Os organizadores deste trabalho propiciaram a todos nós, naturalistas do século 21, uma excelente tradução de Velhas-Flodens Fiske, tornando acessível aos ictiólogos brasileiros o conhecimento gerado há mais de um século por naturalistas pioneiros. Vá em frente, vire a página e deleite-se com a ictiologia e a história deste reino distante! 10

11 Apresentação da 2 a edição Carlos Bernardo Mascarenhas Alves Coordenador do Nuvelhas do Projeto Manuelzão 3 Após a Primeira Edição em português do livro Peixes do rio das Velhas, de Christian F. Lütken, ficou bastante clara a necessidade de estas informações terem sido disponibilizadas para a comunidade científica nacional e internacional. Não só pelo rápido esgotamento dos primeiros mil exemplares impressos, como também pelo número de vezes que seus três capítulos têm sido citados. A bacia do rio das Velhas tornou-se, ainda, numa das poucas bacias hidrográficas brasileiras com informações pretéritas de qualidade, permitindo avaliações temporais sobre a distribuição e ocorrência de espécies de peixes O livro foi objeto de um book review bastante favorável na revista Lundiana 4, feito pelo Dr. Richard P. Vari (Smithsonian Institution), no qual ressalta a importância da obra para pesquisadores que trabalham com a fauna de peixes sul-americanos. A importância do livro transcendeu o seu conteúdo técnico, mas também foi um dos marcos políticos na trajetória do Projeto Manuelzão. Decidimos depositar o exemplar original, doado pela Real Academia de Ciências e Letras da Dinamarca para nosso projeto de tradução, na coleção de obras raras da Biblioteca Central da UFMG. Ao entregarmos esse volume em mãos para a então vice-reitora e já eleita para o cargo superior da UFMG no mandato seguinte Ana Lúcia Almeida Gazzola, obtivemos publicamente seu apoio ao Projeto Manuelzão. Segundo a mesma, o Projeto seria um programa institucional da UFMG em seu novo mandato. Esse apoio fez-se refletir, entre outras coisas, na obtenção de área própria no Campus Pampulha, onde hoje funciona o Nuvelhas Núcleo Transdisciplinar e Transinstitucional para a Revitalização da Bacia do Rio das Velhas. O Nuvelhas é uma área de apoio às pesquisas desenvolvidas no projeto, notadamente as de biomonitoramento da sub-bacia, agregando profissionais das mais diversas áreas (biologia, geografia, medicina, computação, engenharia, etc.), visando compartilhar atividades e conhecimentos, rumo à transdisciplinaridade. Poucos anos depois do lançamento da Primeira Edição, em 2001, o Projeto Manuelzão realizou outra atividade que marcaria novamente sua atuação, no campo técnico, político e de mobilização. Em 2003, através da Expedição Manuelzão Desce o Rio das Velhas, que fez o percurso de caiaque, desde a nascente em Ouro Preto até a sua foz, no São Francisco, na Barra do Guaicuí. Após esse importante evento de mobilização da comunidade, foi lançada a Meta 2010: navegar, pescar e nadar no Rio das Velhas na região metropolitana de Belo Horizonte. Dada a importância da proposta, esta foi incorporada como uma das metas do Governo do Estado de Minas Gerais. Os esforços e iniciativas para a despoluição do rio das Velhas rapidamente se refletiram no aumento da área de distribuição de diversas espécies de peixes. Dourados, matrinchãs, curimatás, entre outras, foram espécies que aumentaram em centenas de quilômetros a sua 3 Visite a página bacia/folder pesquisas 4 Texto na íntegra em 11

12 área de distribuição natural, chegando próximo da região metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). A maior parte da fauna descrita do passado ainda ocorre na bacia. O grande ausente, até agora, é o Pirá (Conorhynchos conirostris), que em linguagem indígena significa peixe. Parafraseando meu dileto colega de trabalho e também editor desta obra, Paulo Pompeu, ele não é um peixe e sim O Peixe! A impressão desta Segunda Edição era inevitável, apenas uma questão de tempo e obtenção dos recursos necessários. Com apoio da Fundação Estadual do Meio Ambiente de Minas Gerais (FEAM) foi viabilizada a atualização e impressão dessa Segunda Edição que, esperamos, tenha o mesmo destaque obtido pela primeira. É um consenso entre todos que participaram desta e da edição anterior, que essa empreitada foi um dos mais prazerosos e recompensadores trabalhos de nossas vidas acadêmicas! 12

13 Tradução ou versão? eis a questão Luiz Paulo Ribeiro Vaz Departamento de Física, Instituto de Ciências Exatas UFMG O desafio de traduzir esta obra tornou-se menos difícil com a decisão de se fazer uma tradução direta, sem me preocupar caso tivesse optado por uma versão em reformular a forma utilizada pelo autor para veicular suas idéias. Após tentativas malsucedidas, decidi, mesmo sob pressão dos revisores, que seria mais seguro manter a maior fidelidade possível ao estilo do autor, colocando o leitor na posição de alguém que, compreendendo o dinamarquês e os demais idiomas empregados na obra, a estivesse lendo no original. O estilo de Lütken, bastante individual, foi respeitado, e o resultado foi um texto produzido há mais de 125 anos reescrito em português brasileiro moderno, o que pode parecer estranho aos olhos de um leitor acostumado aos padrões contemporâneos da língua. O extremo cuidado de Lütken em respeitar o que seus antecessores haviam escrito o fez citar trechos de sua autoria no idioma original da obra de que foram extraídos. Essas citações também foram traduzidas. Lütken fez uso freqüente de notas de rodapé e de comentários ao longo de seu próprio texto, muitas vezes entre travessões. Em alguns casos de trechos intercalados, no entanto, usou um travessão no início, sem fechá-lo ao final. Usou, como ainda é costume na Dinamarca, o símbolo, que significa ou seja, ou isto é. Ao referir-se a números, Lütken usou, de forma mais ou menos indiscriminada, a forma por extenso ou em numeral. Tudo isso foi mantido na tradução. As obras referenciadas pelo autor foram reproduzidas em letra inclinada ( slanted ) e agrupadas em uma lista (em ordem alfabética) ao final. Aproveitamos a oportunidade para elaborar um índice de nomes de peixes, de espécies, de rios, de lagos e de localidades citadas no trabalho. Procuramos fazê-lo da forma mais completa possível, incluindo também referências às entradas mencionadas nos capítulos 1, de Heraldo A. Britski, e 3, de Carlos B.M. Alves e Paulo S. Pompeu. O uso de unidades de medida (peso, comprimento) incomuns e de expressões idiomáticas me obrigou a uma estensa pesquisa, cujo resultado aparece ao longo do trabalho. Várias pessoas me ajudaram, muitas vezes sem saber que o faziam. Certamente teria sido mais difícil realizar a tradução que ora apresentamos sem a ajuda de amigos como a Dra. Bodil E. Helt, o Dr. Jens Viggo Clausen e o Dr. Bo Reipurth (todos astrônomos profissionais, como eu), e o casal Francisco Pires e Charlotte Krarup, ele arquiteto português e ela enfermeira, amigos de longa data residentes em Copenhague. Foi um alívio perceber que muitas das minhas dificuldades também não eram de solução imediata para aqueles cuja língua pátria é o dinamarquês. Agradeço à Dra. Bodil Helt o acesso às biografias de Lütken e de Reinhardt, obtidas de uma antiga edição de uma enciclopédia dinamarquesa. O texto foi editado com recursos do TEX e L A TEX e outros programas de domínio público. Aprendi muito com a tradução, não só sobre peixes, mas também sobre o idioma dinamarquês e inúmeras outras coisas. Aprendi, por exemplo, que a bacia do rio das Velhas era bem diferente do que é hoje. Agradeço ao Projeto Manuelzão e à equipe envolvida neste trabalho, em especial ao pesquisador Carlos Bernardo M. Alves, pela oportunidade que me deu, e desejo, de coração, sucesso na empreitada de recuperar esse patrimônio com que fomos abençoados pela Natureza e que estamos dilapidando impiedosamente há mais de um século. 13

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15 Fishes of Rio das Velhas: Past and Present [Peixes do Rio das Velhas: Passado e Presente] Carlos Bernardo Mascarenhas Alves This book is an initiative of Projeto Manuelzão to disseminate historical information on the fishes of Rio das Velhas, the most important tributary of the Rio São Francisco basin. The monograph written by Christian Frederick Lütken in 1875, based on the material collected by Johannes Theodor Reinhardt, was almost inaccessible to the Brazilian ichthyological community since the Danish language is quite unknown within Brazil. The book consists of three chapters. The first chapter, written by Dr. Heraldo A. Britski, outlines the historical position of Lütken s work, in connection with the work of other naturalists who came to Brazil since the early XVIII century to collect fish species to European and American Museums. Britski also updates the systematic nomenclature of the species cited, including the application of recent morphological terms in substitution to those that are not used anymore. The second chapter constitutes the first translation of Lütken s monograph into Portuguese. Dr. Luiz Paulo R. Vaz translated the original, written in Danish (with references and citations in German, French, English and Latin), and Dr. Vicente P. Iannini translated the Latin synopsis. Lütken s work offers the first description of tens of species, at a time when not more than forty species were known for the entire São Francisco basin. It is also remarkable because, at that time, there were no intensive studies on just one river or hydrographic basin. Generally, naturalists collected material of many zoological groups through their extensive trips to the continent, covering many river basins or thousands of kilometers. Finally, the third chapter presents a comparison between Lütken s historical work (middle XIX century) and data collected in the late XX century. Carlos Bernardo M. Alves & Paulo S. Pompeu show how the recent development and population growth could influence the present occurrence and distribution of fish species. They also discuss the perspectives for the fish fauna recovery and for its conservation. 15

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17 Capítulo 1 Sobre a Obra Velhas-Flodens Fiske [Peixes do Rio das Velhas] Heraldo Antonio Britski Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo Recomendação para citação do capítulo: Britski, H.A., Sobre a obra Velhas-Flodens Fiske [Peixes do Rio das Velhas]. In: Alves C.B.M., Pompeu P.S. (Org.) Peixes do Rio das Velhas: passado e presente. Belo Horizonte, ARGVMENTVM. cap. 1, p

18 Sobre a obra Velhas-Flodens Fiske [Peixes do Rio das Velhas] Heraldo A. Britski A monografia ictiofaunística Velhas-Flodens Fiske [Peixes do Rio das Velhas], de Christian Frederik Lütken (1875), é uma das poucas obras publicadas no século XIX que versa especificamente sobre uma bacia hidrográfica brasileira, tendo como base uma coleção relativamente grande de peixes. Escrita originalmente na língua mãe do autor, o dinamarquês, e contendo uma sinopse em latim, a obra sempre ofereceu dificuldades de leitura; sua tradução torna agora possível aos leitores de língua portuguesa conhecê-la no seu todo. A história do Velhas-Flodens Fiske tem relação direta com a vinda para o Brasil, em 1833, de Peter Wilhelm Lund, dinamarquês que se radicou em Lagoa Santa, tornando-se conhecido pelo monumental trabalho sobre os fósseis dessa região, o que lhe valeu depois o cognome de Pai da Paleontologia Brasileira. Lund já realizava suas pesquisas no Brasil havia mais de uma década quando Johannes Theodor Reinhardt, zoólogo do Museu Real de História Natural da Dinamarca, visitou-o pela primeira vez, no ano de Depois disso, porém, Reinhardt voltou à região de Lagoa Santa por mais dois períodos consecutivos ( e ) e, durante sua estada, reuniu uma valiosa coleção dos peixes da bacia do rio das Velhas. Lund também remeteu exemplares àquele museu e forneceu informações sobre os peixes da região, como pode ser constatado pela leitura da presente obra. Como resultado de suas coletas, Reinhardt publicou alguns trabalhos taxonômicos sobre os peixes do Rio das Velhas, descrevendo as primeiras espécies já no ano de 1849 (1851, apud Nielsen, 1974). Entretanto, segundo palavras do próprio Lütken, Reinhadt não se dispôs a empreender o trabalho monográfico sobre os peixes que coletara naquele rio, empreitada que foi assumida solitariamente por Lütken. Antes do aparecimento do Velhas-Flodens Fiske (1875), os trabalhos pós-lineanos publicados por autores europeus sobre peixes do Rio São Francisco basearam-se fundamentalmente nas coleções realizadas por Saint Hilaire, Spix & Martius, Castelnau e Cumberland. Auguste F.C.P. de Saint-Hilaire chegou ao Rio de Janeiro em junho de 1816; em suas viagens, passou pela Serra da Canastra nas cabeceiras do Rio São Francisco e, na sequência, pelas cabeceiras do Rio das Velhas e do Paraopeba para, finalmente, navegar pelo Rio São Francisco entre Pacuí e Jequitaí. Os naturalistas bávaros Johan B. von Spix e Karl F.P. von Martius, que chegaram ao Brasil em 1817, estiveram na bacia do Rio São Francisco em diferentes ocasiões: primeiramente em Sabará e Caeté, depois em Montes Claros e Brasília de Minas, de onde cruzaram o Rio São Francisco e o Rio Carinhanha, atravessaram o grande rio de volta e se dirigiram a Salvador; dali seguiram em direção ao Piauí, cruzando mais uma vez o Rio São Francisco em Juazeiro. Francis L.N. de C. de L. Castelnau viajou pela região nos anos de 1843 e 1844, indo de Barbacena para Queluz (Queluzita), na bacia do Paraopeba, depois a Ouro Preto e em seguida para Itabirito e Curral del Rei (Belo Horizonte), na bacia 18

19 do Rio das Velhas; dirigiu-se finalmente para Goiás, cruzando o rio São Francisco e passando por Mateus Leme e Pitangui (Papavero, 1971). Ch. Cumberland coletou peixes exclusivamente no Rio Cipó, um dos afluentes do Rio das Velhas, e suas coleções foram enviadas ao Museu Britânico. Günther (1864), que estudou essas coleções, não forneceu a data das coletas nem o local exato de proveniência dos peixes. Reinhardt 5 diz que, provavelmente, Cumberland os coletou na Fazenda Rotulo, perto da nascente do Rio Cipó. O total de espécies descritas e mencionadas na literatura, coletadas por esses viajantes no Rio São Francisco, alcança cerca de 40. Considerando que Reinhardt coletou apenas no Rio das Velhas o total aproximado de 55 espécies, pode-se estimar como realmente são expressivas as coleções que reuniu em meados do século XIX, possibilitando um avanço notável no conhecimento dos peixes da bacia. Mas, além da coleta e preparação dos espécimes, a circunstância de permanecer em Lagoa Santa por um período relativamente longo e não de passagem pela região como ocorreu com os viajantes que o precederam permitiu a Reinhardt registrar inúmeras e importantes observações sobre os peixes, as quais foram amplamente dadas a conhecer por Lütken nesta obra. As descrições das espécies que Lütken apresenta neste Peixes do Rio das Velhas destacamse pelo trabalho minucioso e cuidadoso, comparável àquele dos ictiólogos mais destacados que trabalharam com peixes brasileiros em meados do século XIX. Em suas descrições transparece a preocupação constante no sentido da exatidão na definição de cada um dos caracteres examinados. Em muitos casos, quando o material disponível é abundante, apresenta não apenas descrição detalhada dos adultos mas também dos jovens, enfatizando as diferenças entre eles em vários aspectos. Não raro, também as diferenças sexuais da espécie são descritas detalhadamente. Para quase todas as espécies, ele apresenta dados sobre o colorido em vida derivados das anotações de Reinhardt, fato que se reveste de grande valor quando se considera a escassez desses dados na maioria das descrições taxonômicas dos peixes brasileiros, especialmente as do século XIX. Suas discussões são amplas, minuciosas e até exaustivas no sentido de definir, com a maior clareza possível, as diferenças entre as novas espécies que descreve e outras já descritas; e, quando trata de espécie já mencionada em outras bacias hidrográficas, esmera-se em definir as diferenças dos exemplares que teve em suas mãos dos exemplares estudados por outros autores. Deve-se enfatizar também que o trabalho de Lütken nesta obra não se restringe à descrição minuciosa das espécies do Rio das Velhas. Seus comentários, em grande parte transcrições das anotações de campo de Reinhardt, envolvem os mais diversos aspectos referentes à biologia das espécies, incluindo observações sobre seu porte, dimorfismo sexual, hábitos alimentares, período de reprodução, características das gônadas, parasitismo, comportamentos diversos, inclusive migratórios e reprodutivos, distribuição, ecologia. Fornece também dados sobre pesca, valor econômico das espécies, nome vulgar de cada uma delas e faz ainda referências sobre lendas e contos de pescadores locais sobre hábitos, etc. No Peixes do Rio das Velhas, 17 espécies são ilustradas de corpo inteiro em litogravuras, as quais incluem também três desenhos de vistas dorsais da parte anterior do corpo e outros detalhes da morfologia dessas espécies. Nas páginas do texto figuram também outros 17 5 Pág. 31 desta obra, ao final da nota de rodapé

20 desenhos de espécies de corpo inteiro e 20 outros referentes a detalhes anatômicos de caráter diverso. Trata-se, portanto, de uma obra amplamente ilustrada por desenhos preciosos, muitos de uma fidelidade ímpar e rara beleza. Em razão disso tudo, trata-se de tradução de grande utilidade para os especialistas em taxonomia de peixes de água doce neotropicais, que até agora viam seu trabalho muito dificultado toda vez que necessitavam consultar a obra original, escrita numa língua pouco acessível. Pelo número de observações em vários campos da biologia dos peixes, a tradução é de utilidade também para os biólogos em geral e para todos os que se interessam pela história natural e mesmo para os que investigam a excitante história científica de nosso país no século XIX. Sobre o texto original e sua tradução Consideramos oportuno apresentar a seguir alguns esclarecimentos sobre o texto original e sua tradução, no sentido de explicar como foram superadas algumas dificuldades e de facilitar o entendimento dos termos técnicos aí utilizados, bem como outros de interesse na leitura dessa obra. Algumas dessas considerações poderão parecer supérfluas para ictiólogos já versados em descrições taxonômicas, mas certamente poderão ser de utilidade para aqueles ainda não familiarizados com esses estudos. Na descrição, quando são especificados os números de raios, as nadadeiras aparecem abreviadas: D - nadadeira dorsal, P - nadadeira peitoral, V - nadadeira ventral ou pélvica e C - nadadeira caudal. Quando aparecem dois números separados por ponto, o primeiro se refere ao número de raios simples isto é, não ramificados, e o segundo ao número de raios ramificados. Também podem aparecer as abreviações B (referindo-se aos raios branquiostégios) e L.l (linha lateral). Os nomes científicos e de autores foram conservados de acordo com a grafia original; também as abreviações desses nomes, no geral, foram conservadas. Deve-se notar que naquela época era costume escrever com letra maiúscula os nomes de espécies referentes a nomes próprios de pessoas, como por exemplo Bagropsis Reinhardti, Salminus Hilarii, etc. O tamanho dos exemplares e, às vezes, outras medidas frequentemente vêm expressos em polegadas ou pés; na nota de rodapé 37 da página 36 aparece a correspondência dessas medidas no sistema métrico. Lütken utilizou, com muita frequência, nomes vulgares para as categorias superiores a espécie. Muitos desses nomes são de difícil tradução e não têm uma correspondência em português; outros correspondem a nomes de gêneros ou outras categorias dinamarquesados. Em muitos casos, esses nomes foram traduzidos pelo nome científico correspondente ao gênero, à família ou ao grupo utilizado na época da publicação. Alguns erros de grafia e omissões de Lütken foram corrigidos no texto. Entretanto, a fim de lhe dar maior fidelidade no que concerne à nomenclatura, erros de grafia de nomes científicos não foram corrigidos, como por exemplo, os nomes Paradon Hilarii e Parodon Hilarii, respectivamente, no texto (p. 88) e figura (p. 89). Também os nomes de ossos e outras estruturas anatômicas utilizados naquela época foram geralmente traduzidos de acordo com o original. Algumas dessas estruturas têm denominações distintas atualmente: capacete termo utilizado por ictiólogos até a segunda metade do século XIX e que caiu em desuso após esse período designa, nos Siluriformes, o conjunto dos ossos 20

21 do teto do crânio e do escudo pré-dorsal (1 a, 2 a e 3 a placas pré-dorsais, também denominadas placas nucais), recobertos por pele fina e esculturados; interespinais = supraneurais, ossos situados à frente dos radiais sustentadores da nadadeira dorsal e que nos Siluriformes afloram à superfície, na região entre o supraoccipital e aquela nadadeira, e correspondem aos ossos do escudo pré-dorsal; intermaxilar = pré-maxilar; processo escapular = processo umeral ou do cleitro; suborbital = infraorbital. Sobre os tipos das espécies coletadas por Reinhardt Os tipos das espécies de Reinhardt e Lütken estão ainda hoje depositados no Museu de Zoologia de Copenhague. Nielsen (1974), no catálogo dos tipos desse museu, relaciona os tipos de 38 espécies coletadas por Reinhardt na bacia do Rio São Francisco e descritas por ele mesmo e Lütken em diferentes trabalhos. Destas, na presente obra, Lütken apenas não menciona Sternopygus marcgravi e Sternopygus microstomus, ambas descritas por Reinhardt (1853); estas, porém, já na época da publicação do Velhas-Flodens-Fiske, eram consideradas sinônimas de Sternopygus macrurus e Eigenmannia virescens, respectivamente. No geral, o número de tipos existentes hoje no Museu de Zoologia de Copenhague é inferior àquele mencionado por Lütken nesta obra. Disso, pode-se concluir que alguns deles se perderam e outros foram doados a diferentes museus europeus. Eu mesmo tive a oportunidade de examinar síntipos de duas espécies de Lütken despositados nas coleções do Museu Nacional de História Natural de Paris: Leporinus reinhardti e L. taeniatus. O único tipo de peixe das coleções de Reinhardt que não aparece na relação de Nielsen (Op. cit.) é o de Cheirodon piaba Lütken, 1875; tal tipo parece ter se perdido, pois o Dr. Nielsen não conseguiu encontrá-lo nas coleções daquele museu (apud Uj, 1989). Atualização sistemática das espécies citadas na obra Apresentamos abaixo uma relação das espécies na forma como aparecem no texto desta obra e os nomes correspondentes pelos quais essas espécies são conhecidas na atualidade. Muitas dessas atualizações se referem a mudanças de gênero, de grafia, de nome de autor e de data. Aquelas que correspondem a estudos mais ou menos recentes, algumas das quais constam apenas em teses não publicadas, vêm acompanhadas de uma chamada que é explicada em seguida. A autoria das espécies e data estão atualizadas, em sua grande maioria, de acordo com Eschmeyer & Fricke (2009). I. Siluridae = Siluriformes 1. Stegophilus insidiosus Rhdt. (1858) = Homodiaetus sp.n. 2. Trichomycterus brasiliensis (Rhdt) Ltk. = Trichomycterus brasiliensis Lütken, Loricaria lima Kner = Rineloricaria lima (Kner, 1853) 4. Plecostomus lima (Rhdt.) Ltk. = Hypostomus lima (Lütken, 1874) 5. Plecostomus Francisci Ltk. = Hypostomus francisci (Lütken, 1874) 6. Plecostomus alatus Cast. = Hypostomus alatus Castelnau, Doras marmoratus Rhdt. Ltk. = Franciscodoras marmoratus (Lütken, 1874) 21

22 8. Auchenipterus lacustris Rhdt. Ltk. = Trachelyopterus lacustris (Lütken, 1874) 9. Glanidium albescens (Rhdt.) Ltk. = Glanidium albescens Lütken, Platystoma emarginatum Val. = Duopalatinus emarginatus (Valenciennes, 1840) 11. Platystoma orbignianum Val. = Pseudoplatystoma corruscans (Spix & Agassiz, 1829) 12. Bagropsis Reinhardti Ltk. = Bagropsis reinhardti Lütken, Conorhynchus conirostris Val. = Conorhynchos conirostris (Valenciennes, 1840) 14. Pimelodus maculatus Lac. = Pimelodus maculatus Lacepède, Pimelodus Westermanni Rhdt. Ltk. = Bergiaria westermanni (Lütken, 1874) 16. Pseudorhamdia fur (Rhdt.) Ltk. = Pimelodus fur (Lütken, 1874) 17. Pseudorhamdia lateristriga M. Tr. = Pimelodella lateristriga (Lichtenstein, 1823) 18. Pseudorhamdia vittata (Kr.) Ltk. = Pimelodella vittata (Lütken, 1874) 19. Rhamdia Hilarii Val. = Rhamdia quelen (Quoy & Gaimard, 1824) Rhamdia microcephala (Rhdt.) Ltk. = Rhamdiopsis microcephala (Lütken, 1874) 21. Rhamdia minuta Ltk. = Imparfinnis minutus (Lütken, 1874) Pseudopimelodus charus (Val.) = Pseudopimelodus charus (Valenciennes, 1840) II. Characini = Characiformes 23. Macrodon trahira Sp. = Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) 24. Curimatus albula Ltk. = Cyphocharax gilbert (Quoy & Gaimard, 1824) Prochilodus affinis Rhdt. Ltk. = Prochilodus costatus Valenciennes, Prochilodus argenteus Spix = Prochilodus argenteus Spix & Agassiz, Parodon Hilarii Rhdt. (1866) = Parodon hilarii Reinhardt, Characidium fasciatum Rhdt. (1866) = Characidium fasciatum Reinhardt, Leporellus pictus (Kner) = Leporellus pictus (Kner, 1858) 30. Leporinus elongatus Val. = Leporinus obtusidens (Valenciennes, 1837) Leporinus Reinhardti Ltk. = Leporinus reinhardti Lütken, Leporinus taeniatus Rhdt. Ltk. = Leporinus taeniatus Lütken, Leporinus Marcgravii Rhdt. Ltk. = Leporinus marcgravii Lütken, Tetragonopterus Cuvieri Ltk. = Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819) 6 Silfvergrip (1966) considerou várias espécies de Rhamdia, inclusive R. hilarii, como sinônimas de R. quelen. 7 Bockmann (1998), em sua tese de revisão dos Heptapteridae, considera Rhamdia microcephala e Rhamdia minuta como espécies dos gêneros Rhamdiopsis e Imparfinis, respectivamente. 8 Vari (1992) examinou os síntipos de Curimata albula estudados por Lütken e concluiu que a série consiste principalmente de espécimes de Cyphocharax gilbert, mas inclui também um exemplar de Steindachnerina elegans (Steindachner, 1974). 9 Castro & Vari (2004), consideram Prochilodus affinis sinônimo de P. costatus. 10 Gery et al. (1987) examinaram os tipos de Leporinus obtusidens e L. elongatus e consideraram esta última como um possivel sinônimo senior de L. crassilabris Borodin, espécie que ocorre no Rio Jequitinhonha (aparentemente não no Rio São Francisco) e que não corresponde à espécie conhecida popularmente na bacia do Rio São Francisco como piau-verdadeiro. Dessa forma, automaticamente, o piau-verdadeiro deverá denominarse por enquanto Leporinus obtusidens. Porém, como os autores não se manifestaram sobre o status dessa espécie no Rio São Francisco, esta identificação é duvidosa. 22

23 35. Tetragonopterus lacustris Rhdt. Ltk. = Astyanax lacustris (Lütken, 1875) 36. Tetragonopterus rivularis Ltk. = Astyanax rivularis (Lütken, 1875) 37. Tetragonopterus gracilis Rhdt. Ltk. = Hyphessobrycon gracilis (Lütken, 1875) 38. Tetragonopterus nanus Rhdt. Ltk. = Hemigrammus gracilis (Lütken, 1875) 39. Chirodon piaba Ltk. = Serrapinnus piaba (Lütken, 1875) Brycon Reinhardti Ltk. = Brycon nattereri Günther, Brycon Lundii Rhdt. Ltk. = Brycon orthotaenia Günther, Piabina argentea Rhdt. (1866) = Piabina argentea Reinhardt, Cynopotamus (Roeboides) (?) xenodon (Rhdt.) (1849) = Roeboides xenodon (Reinhardt, 1851) 44. Salminus Cuvieri Val. = Salminus franciscanus Lima & Bristski, Salminus Hilarii Val. = Salminus hilarii Valenciennes, Xiphorhamphus lacustris Rhdt. Ltk. = Acestrorhynchus lacustris (Lütken, 1875) 47. Serrasalmo (Pygocentrus) piraya Cuv. = Pygocentrus piraya (Cuvier, 1819) 48. Serrasalmo (s. st.) Brandtii Rhdt. Ltk. = Serrasalmus brandtii Lütken, Myletes (Tometes) micans Rhdt. Ltk. = Myleus micans (Lütken, 1875) III. Gymnotini = Gymnotiformes 50. Carapus fasciatus Pall. = Gymnotus carapo Linnaeus, Sternopygus carapo (L.) = Sternopygus macrurus (Bloch & Schneider, 1801) 52. Sternopygus virescens Val. = Eigenmannia virescens (Valenciennes, 1836) 53. Sternarchus brasiliensis Rhdt. (1853) = Apteronotus brasiliensis (Reinhardt, 1852) IV. Sciaenoidei = Sciaenidae 54. Pachyurus Lundii Rhdt. (1854) = Pachyurus squamipennis Agassiz, Pachyurus (Lepipterus) corvina Rhdt. (1849) = Pachyurus francisci (Cuvier, 1830) 11 O gênero Serrapinnus foi criado por Malabarba (1998), cuja espécie-tipo é Cheirodon piaba. 12 Lima (2003) considerou Brycon reinhardti um sinônimo de B. nattereri, e B. lundii sinônimo de B. orthotaenia, neste último caso, confirmando as suspeitas do próprio Lütken (ver pg. 116 da presente obra). 13 Em recente trabalho, Lima & Bristski (2007) demonstraram que o dourado do São Francisco não tinha um nome específico, pois os nomes empregados para designá-lo até então (Salminus brasiliensis, S. brevidens, S. cuvieri) corespondiam à espécie da bacia do Prata. 23

24 Referências Bockmann, F.A., Análise filogenética da família Heptapteridae (Teleostei, Ostariophysi, Siluriformes) e redefinição de seus gêneros. Tese de doutorado, Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, 424pp. Castro, R.M.C. & Vari, R.P., Detritivores of the South American fish familiy Prochilodontidae (Teleostei: Ostariophysi: Characiformes): A phylogenetic and revisionary study. Smithsonian Contributions to Zoology (622): Eschmeyer, W.N. & Fricke, R. (eds.) Catalog of fishes electronic version. (updated 13 Mar 2009) Géry, J., Mahnert, V. & Dlouhy, C., Poissons Characoïdes non Characidae du Paraguay (Pisces, Ostariophysi). Revue suisse Zool., 94 (2): Lima, F.C.T., Subfamily Bryconinae. In: Check-list of Freshwater Fishes of South and Central America (CLOFSCA). Ed. S. O. Kullander, C. J. Ferraris & R. E. Reis: Lima, F.C.T. & Britski, H.A., Salminus franciscanus, a new species from the rio São Francisco basin, Brazil (Ostariophysi: Characioformes: Characidae) Neurotropical Ichthyology 5(3): Malabarba, L.R., Monophyly of the Cheirodontinae, characters and major clades (Ostariophysi: Characidae): In: Malabarba, L.R., Reis, R.E., Vari, R.P., Lucena, Z.M.,Lucena, C.A.S., (Eds.) Phylogeny and classification of Neotropical Fishes. Edit. L.R. Porto Alegre: 603pp. Nielsen, J.G., Fish types in the Zoological Museum of Copenhagen. Zoological Museum, University of Copenhagen, 115pp. Papavero, N., Essays on the history of Neotropical Dipterology, with special reference to collectors ( ). Ed. Museu de Zoologia, Universidade de São Paulo. vii+216pp, 12 maps. Reinhardt, J.T., Om Svømmeblaeren hos Familien Gymnotini. Videns. Meddr. dansk naturh. Foren., (1852): Silfvergrip, A.M.C., A systematic revision of the Neotropical catfish genus Rhamdia (Teleostei, Pimelodidae). Dept. Vertebrate Zoology, Swedish Museum of Natural History, Stockholm: 156pp, 8 est. Uj, A., Le Cheirodontinae (Characidadae, Ostariophysi) du Paraguay. Revue Suisse Zool. 94 (1): Vari, R.P., Systematics of the Neotropical characiform genus Cyphocharax Fowler (Pisces: Ostariophysi). Smith. Contr. Zool., 529: iv

25 Capítulo 2 Peixes do Rio das Velhas: Uma Contribuição para a Ictiologia do Brasil. De acordo com as coleções e descrições do Professor Johannes Theodor Reinhardt por Christian Frederik Lütken. Tradução do dinamarquês e outros idiomas para o português: Luiz Paulo Ribeiro Vaz Tradução do latim para o português: Vicente de Paulo Iannini Revisão técnica e científica: Heraldo A. Britski Revisão de texto: Maria Lina Soares Souza e Roberto Barros de Carvalho Acrescentam-se cinco estampas litográficas e também uma sinopse, em latim, dos caracteres essenciais dos peixes citados neste trabalho. Escritos da Soc. Científica, Série 5, Seção de Ciências Naturais e Matemática, XII, Copenhague Recomendação para citação do capítulo: Lütken C.F., Peixes do Rio das Velhas: Uma contribuição para a Ictiologia do Brasil. In: Alves C.B.M., Pompeu P.S. (Org.) Peixes do Rio das Velhas: passado e presente. Belo Horizonte, ARGVMENTVM. cap. 2, p

26 Prólogo Quando naturalistas dinamarqueses, com grandes sacrifícios pessoais em viagens perigosas e difíceis por partes distantes do mundo, reúnem e trazem para casa coleções importantes e abrangentes, torna-se uma obrigação de gratidão e coleguismo dar toda a ajuda possível para a organização e o estudo do material coletado, e eu não fugi a esse dever, dando o melhor de minhas habilidades, quando estas foram demandadas ou desejadas. Desde que o Prof. Reinhardt entregou em 1871 o notável resultado ictiológico de suas duas últimas viagens ao Brasil ( e ) à Coleção de Peixes do Museu 14, tinha a firme convicção de que esse material poderia ser trabalhado e os resultados publicados; mas eu tinha esperanças de que o Professor, que já estudou várias partes menores dessas coleções 15, realizaria total ou parcialmente essa tarefa. Ao receber, nesse ínterim, quando me permiti dirigir ao honrado colega nesse sentido, a resposta de que isso não estava entre seus desejos ou planos, decidi realizar esse trabalho sozinho. Lamento a decisão do Prof. Reinhardt; pois ninguém melhor do que ele, que pessoalmente recolheu e observou esses peixes independentemente de todas as outras características e qualificações individuais, estaria em condições de escrever uma monografia sobre os mesmos. Por outro lado, não nego que foi um grande prazer estudar essas coleções; e sou agradecido ao Professor não somente por me ceder o seu direito de estudo e análise das mesmas, mas também por colocar à minha disposição todo seu material de anotações, estudos preliminares, desenhos, etc. para livre uso. Se posso ter pelo menos uma vaga idéia das dificuldades relacionadas com a formação e conservação de tais coleções em um país tropical, estou em condições de compreender e talvez também de testemunhar o extraordinário cuidado e completo conhecimento específico com os quais a presente coleção foi feita. É ainda importante salientar que pela primeira vez se coleciona no continente sul-americano material ictiológico que é fruto da longa estada de um naturalista em uma única área, o que tornou os peixes de água doce do lugar disponíveis como objeto de estudo específico. Portanto, é também a primeira vez que se publica uma monografia descritiva de peixes, baseada em material sobre o qual seu autor pode atestar que é 14 Nota da Tradução (NT): Museu Zoológico da Universidade de Copenhague (maiores detalhes podem ser encontrados no fascinante texto The history of the Zoological Museum, University of Copenhagen, por Torben Wolff, em 15 J. Reinhardt: Novos peixes de água doce sul-americanos (Videnskabelige Meddelelser fra den naturhistoriske Forening, 1849, pp ). Notas sobre o gênero Pachyurus Agass. e as espécies correspondentes (idem ibidem, 1854, pp ). Sobre a bexiga natatória na família Gymnotini (idem ibidem, 1852, pp ) (com descrição de novas espécies). Stegophilus insidiosus, um novo bagre do Brasil e seu modo de vida (idem ibidem, 1858, pp ) (com uma gravura). Acerca de peixes supostamente não descritos das famílias dos Characini [NT: Os nomes dinamarquesados por Lütken foram substituídos pelos nomes científicos das famílias ou grupos correspondentes, vigentes na época, em latim, representados aqui em letra tipo itálico, quando se tratar de gênero ou espécie, e em tipo inclinado (compare com o tipo normal), quando se tratar de categorias superiores. Os nomes de espécies e gêneros estão em latim e com letra em tipo itálico.] (Oversigt over d. K. d. V. Selsk. Forhandl. 1866, 49-63; Resumo pp ). (com 2 gravuras). 26

27 tão completo que não se espera outra importante contribuição posterior sobre a mesma região. O que sabemos até o momento sobre a rica e interessante fauna de peixes da América do Sul é, em geral, o resultado de viagens que não tiveram como propósito principal pesquisar até a exaustão uma determinada bacia piscícola, mas somente reunir e preservar o que se encontrasse por acaso, ou aquilo que por um motivo ou outro atraísse atenção especial 16. Além disso, existe o fato de que numa viagem, mesmo que seja interrompida por curtas estadas em diferentes lugares, a atenção é mais facilmente dirigida para os habitantes aéreos que para os aquáticos; e, apesar de a estada de nosso colega e de suas viagens a Minas Gerais terem também em outros aspectos gerado resultados valiosos, era previsível que o aspecto ictiológico teria ainda em maior grau o interesse pela novidade. E não fiquei decepcionado nessa esperança, pois a Sociedade Real de Ciências Dinamarquesa se encarregou dos custos desta edição encadernada. Fica claro (nota número 15 ao pé da página 26), da contribuição do Prof. Reinhardt publicada sobre a ictiologia brasileira, que ele já havia trabalhado anteriormente o material de suas viagens sobre Sciænoidei, Gymnotini, além de algumas espécies de Characini e um novo tipo estranho de Siluridæ; a mim resta então fazer uma descrição dos Siluridæ (com a exceção mencionada) e dos demais Characini. Essa descrição aparece somente 20 anos após a coleta, o que é lamentável; mas, em todo caso, tive a vantagem de poder me apoiar nos valiosos trabalhos de Kner, Bleeker, Günther, Cope e outros, que apareceram nesse intervalo. Quando, como no presente caso, todo o material é de antemão transportado e preparado, o trabalho de descrição não é especialmente meritório, nem feito com maior dificuldade, à exceção de alguns casos especiais; mas, nesses casos difíceis, nem sempre uma habilidade maior que a que já se aplicou nessa tarefa, tampouco maior diligência e esforço, pode remover os problemas completamente. Penso aqui nos casos em que o presente material, mesmo não sendo pobre, não permite decidir definitivamente se certas discrepâncias são simples conseqüências de diferenças de idade, de sexo ou uma real diferença de espécie. É certamente impossível seguir o único caminho que levaria a uma decisão segura, qual seja, voltar à natureza e examinar a questão no local, com mais material; mas um julgamento tem de ser feito, pelo menos provisoriamente; não se pode, já que as limitações do material estão postas, evitar a questão ou guardá-la para uma outra oportunidade, ignorando tais formas e restringindo a descrição àquelas que não apresentam esse tipo de dificuldades. Mais ainda, refiro-me aos casos em que as descrições existentes na literatura, por motivos diversos que podem estar tanto no material como na descrição, são insuficientes para um julgamento 16 Não me refiro aqui ao que aconteceu mais tarde, especificamente com as viagens de Agassiz à América do Sul. Quando a revisão dos peixes de água doce brasileiros e especialmente do Rio Amazonas e da costa brasileira do Rio Grande do Sul até a Bahia, que Steindachner iniciou recentemente, estiver completa, nosso conhecimento sobre os peixes de água doce sul-americanos entrará em um novo estágio, e então, talvez, se reconhecerá com maiores louvores que a fauna de peixes de um dos rios do interior do Brasil foi minuciosamente investigada e estudada. Os novos trabalhos de Steindachner que me chegaram às mãos enquanto o presente trabalho estava sendo impresso são: 1. Sobre alguns novos Siluridæ brasileiros do grupo dos Doradina (Sitzungsber. d. k. Akad. d. Wissensch., Viena, vol. LXXI, 1875, 13 págs., 4 gravuras) 2. Os peixes de água doce do sudeste brasileiro (idem ibidem LXIX, 1874, 40 págs., 6 gravuras) 3. Contribuição para o conhecimento dos Chromides do Rio Amazonas (idem ibidem LXXI, 76 págs., 8 gravuras). 27

28 decisivo se se trata de determinada espécie ou não; não é possível ter acesso ao exemplar-tipo nem a outros exemplares da mesma localidade e quer se escolha uma saída ou outra, seja confiando na própria experiência, qualquer que possa ser, ou na própria avaliação de casos semelhantes, igualmente se está sujeito a errar e a se expor a uma crítica injusta. Muitos desses casos de dúvida são encontrados na presente descrição, e isso realmente não causa admiração àqueles que sabem quantas questões duvidosas desse tipo ainda existem mesmo na ictiologia européia. Esforcei-me nesses casos para preparar uma descrição quando foi possível fazê-la que possa ser completada por aqueles que me seguirem, mas tão completa que dificilmente seja ignorada, quando esse tempo chegar. Nas minhas descrições procurei manter um equilíbrio entre uma curta demais, que muitas vezes se torna insuficiente, e uma demasiado longa, sempre cansativa e às vezes tão detalhada que desorienta desorienta porque, em última instância, é a espécie e não os indivíduos que se procura descrever. É ainda mais necessário não ultrapassar um limite razoável nesse sentido, pois a publicação do trabalho encarece na mesma proporção em que sua abrangência cresce. As proporções relativas essenciais foram, na medida do possível, incluídas nas descrições; as medidas absolutas, que constam abundantemente de trabalhos já publicados, são, na minha opinião, na maioria dos casos pouco úteis e em muitas situações mais desorientam que auxiliam, quando o número se refere a formas meramente paradoxais, para as quais as proporções podem, desse modo, dar uma expressão mais definida. Valorizei ao máximo, nos casos em que o material permitiu, a variação dentro da espécie, tanto no aspecto puramente individual (que frequentemente é maior do que se costuma imaginar) como ainda naqueles que dependem da idade e do sexo; com relação a este último, diferenças externas quase não existem, mas as modificações em função da idade são quase sempre identificáveis e frequentemente bastante significativas 17. Nas anotações de Reinhardt encontrei, na maioria dos casos, descrições detalhadas das cores 17 Aqui é talvez o lugar mais apropriado para descrever algumas das regras que achei que deveria seguir na composição da descrição. O comprimento total dos peixes, quando não se menciona outro modo, eu o medi em geral da ponta do focinho (ou da parte mais saliente da mandíbula, quando esta se prolonga além da parte superior da boca) até a raiz da nadadeira caudal; e a determinação mais próxima desse ponto nos peixes de escamas é onde a cobertura de escamas termina no meio dos lados da cauda, embora exista a desvantagem de essa cobertura de escamas nos peixes da coleção às vezes não se prolongar igualmente nos lados da nadadeira caudal; nesses casos, para encontrar uma expressão simples para as proporções do corpo, ou porque o limite entre o corpo e a nadadeira caudal era mais difícil de se estabelecer com certeza, achei mais conveniente medir o comprimento total até o entalhe da nadadeira caudal, até a sua borda posterior ou até a sua ponta, o que é mencionado expressamente. O comprimento da cabeça é calculado sempre da ponta do focinho e, quando não for mencionado em contrário, até a abertura branquial, de modo que a borda de pele dos opérculos está incluída; medi os peixes de couro ou cascudos excepcionalmente até a ponta do escudo do crânio, o que está anotado. A largura da testa se mede por uma linha reta entre os olhos. Não é necessário dizer que o comprimento das nadadeiras dorsal e anal é medido ao longo de sua base e, portanto, é igual à distância entre o primeiro e o último raios, em linha reta. As escamas da linha lateral, contei-as naturalmente da forma tão completa quanto possível, ou seja, incluindo também as primeiras ou as últimas da série, sem considerar se elas poderiam ou não ter algum poro ou tubo; e as fileiras transversais, não as conto até o início da nadadeira dorsal ou ventral, mas o número total no lugar onde ocorrem em maior número, até a fileira ímpar no meio do dorso ou do ventre, quando existir. Com relação à contagem de raios, para uma compreensão mais aguda dessa característica, fiz em geral diferença entre os raios com e sem bifurcação; seguindo uma prática comum, não considerei o primeiro raio duro rudimentar nas nadadeiras dorsais de bagres e bagres-de-couraça, apesar de ele estar claramente presente; e, do mesmo modo, ignorei também em outros peixes o primeiro rudimento de raio bastante insignificante das nadadeiras dorsal e anal, nas quais ele também está presente, mas tão escondido entre as escamas, que somente seria visível através de dissecação, pois é quase seguro que em geral ele é ou será omitido, e por isso gerará mais confusão considerá-lo que ignorá-lo; em parte, é pouco importante se esse rudimento é levado em conta ou não, pois o desenvolvimento e a presença desses raios rudimentares no início 28

29 dos peixes vivos; o que nelas foi mencionado sobre sua fase de alevino e modo geral de vida, também reproduzi no seu devido lugar. Foi necessário dar a este trabalho um caráter exclusivamente descritivo (ictiográfico) e renunciar aos estudos anatômicos, que talvez se esperasse ver relacionados aqui, para não se adiar para um futuro indefinido o seu objetivo principal descrição e discussão das espécies. Já se passou muito tempo. Em nome da prioridade, pode-se ainda mencionar que os diagnósticos em latim 18, nos quais resumi as principais características das novas espécies, já estão publicados na Videnskabernes Selskabs Oversigter, de Antes de começar a submeter a descrição detalhada à sociedade e ao círculo dos zoólogos, quero tecer alguns comentários extras que acho que o leitor deveria encontrar neste lugar. Permito-me retirá-los das anotações que o Prof. Reinhardt me cedeu, apesar de ele mesmo já ter comunicado seu conteúdo essencial em outra oportunidade. Entre as gigantescas bacias dos rios Amazonas e Prata encontra-se uma terceira, a do Rio São Francisco, que reúne as águas da maior parte das Províncias de Minas, Bahia e Pernambuco, ou, em outras palavras, do planalto central, que é limitado ao sul pela Serra das Vertentes, a leste pela Serra do Espinhaço, Serra do Grão Mogol, Serra das Almas e pelo prolongamento desta última, Serra Chapada, e finalmente a oeste circundado pela Serra da Canastra, Serra da Tabatinga, Cordilheira de Borborema e Serra dos Dois Irmãos. Esse sistema hídrico de forma alguma se compara aos primeiros em tamanho ou comprimento; mas o Rio São Francisco é, mesmo assim, um rio de 385 milhas dinamarquesas de comprimento 20, sua poderosa massa de águas inunda, em tempos de chuvas, várias milhas de extensão dos chamados alagadiços, e sua bacia, de aproximadamente milhas quadradas, tem superfície maior que a da França ou da Península Ibérica. O tamanho do sistema fluvial e sua localização nos trópicos geram condições adequadas para uma rica fauna piscícola; além disso, a oportunidade de conhecêla foi relativamente favorável, pois o São Francisco flui através da região mais frequentemente visitada do interior do Brasil por naturalistas e colecionadores, e da nadadeira anal estão sujeitos a apresentar uma variação significante. O raio duro rudimentar mais externo na nadadeira ventral dos Characini, que somente com uso de força pode ser separado do primeiro raio não bifurcado que o antecede, tem de ser considerado como unido ou pertencente a este, e também não foi contado. Quando o último raio da nadadeira dorsal ou anal é dividido justamente na raiz, como se fosse um raio duplo, eu sempre contei como dois, sem me preocupar se talvez morfologicamente devesse ser contado como se fosse somente um; o contrário iria provavelmente levar a confusões. É difícil encontrar uma regra, com relação a esse ponto e a muitas outras dificuldades semelhantes, que satisfaça simultaneamente aspectos teóricos e práticos, e acho totalmente razoável que outros desaprovem ou desconsiderem as regras que segui por me parecerem mais convenientes. Embora frequentemente eu também forneça o número de raios das nadadeiras peitorais, devo notar que em geral este varia demais, apesar de muito constante em longas séries de formas, para servir como uma característica da espécie, e o mesmo vale para a nadadeira caudal. Acerca da importância das demais nadadeiras neste aspecto, não se pode fazer generalizações. A variabilidade dos números em certas espécies às vezes causa tanta admiração como a sua estabilidade em longas séries de formas. 18 NT: Os diagnósticos em latim (p. 144), assim como as citações feitas pelo autor, sempre reproduzindo-as no idioma original da publicação (inglês, francês, alemão ou latim), foram todos traduzidos para o português. 19 Novos Siluridæ e Characinidæ do Brasil central, loc. cit., pp e pp quilômetros de acordo com o cálculo de Halfelds (citado por Liais e Burton sem objeção reconhecida), sendo, dessa forma, o terceiro rio do Brasil e o 16 o da Terra. St. Hilaire dá um valor um pouco maior: quase 700 Lieues, um pouco mais de 400 milhas dinamarquesas (Voyage aux sources du Rio S. Francisco et dans la province du Goyaz, Paris, 1847, I, p. 87). (Reinhardt) 29

30 desde longa data tem sido local de uma significativa e regular pesca, cujo produto é salgado e representa uma importante mercadoria naquelas paragens remotas. Existiam, portanto, razões para acreditar que uma importante fração dos peixes de água doce até agora encontrados no Brasil pudesse se originar desse rio e seus afluentes, mas esse não é, de forma alguma, o caso; dos 385 peixes de água doce brasileiros, descritos até , existem (NT: a citação continua à frente) com exceção de poucas espécies que o Prof. Reinhardt já havia descrito de suas viagens e de outras descritas antes, que não foram reconhecidas pela crítica como espécies corretamente justificadas (continuação da citação) somente 29 que com certeza ou, no pior dos casos, com boa probabilidade, pode-se considerar que pertencem ao sistema fluvial do São Francisco. Uma longa e repetida estada na Província de Minas permitiu ao Prof. Reinhardt fazer uma importante contribuição para a tão desconhecida fauna piscícola desse sistema fluvial, já que ele teve oportunidade de coletar e estudar os peixes que ocorrem em um dos maiores afluentes do São Francisco, o Rio das Velhas, de 140 milhas de comprimento, tanto no rio propriamente como em algumas pequenas lagoas encontradas no seu vale 22. O número de 21 A estimativa que deu esse resultado foi realizada por Reinhardt e revisada em 1867; ele comenta: este é, em todo caso, o número a que se chega, quando se somam os poucos peixes de água doce brasileiros registrados nos tratados ictiológicos mais antigos às espécies descritas por Cuvier em Mémoires du Muséum, que o Gabinete em Ajuda (NT: o Real Museu e Jardim Botânico da Ajuda, fundados em 1792, por iniciativa do Marquês de Pombal, deram origem ao Jardim Botânico e ao Gabinete de História Natural da Escola Politécnica, mais tarde formalmente integrados no Museu Nacional de História Natural, estabelecimentos da Universidade de Lisboa, Portugal) cedeu ao Museu de Paris no início deste século, a todas aquelas oriundas das viagens e coleções de St. Hilaire, Spix, Natterer, Rob. Schomburgk, Castelnau e Cumberland, que enriqueceram a ciência, e finalmente a algumas poucas espécies descritas por Lichtenstein, Jenyns e J. Müller e Troschel. No número de espécies acima mencionado não estão incluídas duas de Murænidæ, que habitam estuários em água salobra e, dessa forma, não podem ser consideradas como verdadeiramente de água doce; também não estão incluídas as 4 espécies descritas por Filippi em Revue de Zoologie (1852, p. 164) de um afluente do Rio Amazonas, Rio Napó, no Equador. Por outro lado, esse número deve ser aumentado de 3, considerando as espécies (Characini) do Pará descritas por Cope (mas não incluindo as numerosas espécies do Equador que esse ictiólogo e seu colega, Prof. Gill, descreveram em Proc. Amer. Phil. Soc e em Proceed. Acad. natur. scienc. Philadelphia 1870 e 1872, nem as espécies da parte superior do Rio Amazonas descritas pelo Dr. Günther em Proc. Zool. Soc. 1868, pp ). Não foram levados em consideração os trabalhos mais recentes de Hensel e Steindachner sobre os peixes brasileiros. Naturalmente também não foram levadas em consideração nessa contagem possíveis reduções de espécies nominais, mas mesmo assim ela dará uma idéia aproximada da riqueza da fauna de água doce brasileira, pois resulta de um certo tempo de pesquisa. Reinhardt comenta ainda que, embora 388 (ou cerca de 400) espécies não seja um número pequeno, nosso conhecimento da ictiologia brasileira ainda está em sua infância, o que se evidencia numa comparação com a fauna dos rios de um país vizinho, a Guiana Britânica. Nesse sentido, Rob. Schomburgk comunica ter trazido 147 espécies e acredita ter perdido mais de 30 outras no decorrer de sua viagem; poderiam ser encontrados no mínimo 180 peixes de água doce naquele país, que de modo algum parece ter melhores condições para abrigar uma fauna mais rica do que a do Brasil, sendo quase 25 vezes menor que o país vizinho, que possui os sistemas fluviais mais poderosos da Terra. Deve-se lembrar também que Wallace estima os peixes do Rio Negro em 500, e Agassiz em nada menos de para o Rio Amazonas! este último número deve sofrer uma significante redução. 22 O Rio das Velhas deságua no Rio São Francisco 2 graus ao norte da cidade de Lagoa Santa, principal ponto de parada de Reinhardt; no local onde se une ao Rio S. Francisco (na Barra do Rio das Velhas) ele 30

31 espécies que Reinhardt encontrou por lá chega a 55 (22 Siluridæ, 27 Characini, 4 Gymnotini e 2 Sciænoidei), incluindo aqui uma espécie de bagre-de-couraça que vive no próprio Rio São Francisco e não no Rio das Velhas e um Characini na mesma situação. Que a fauna, com isso, seja totalmente conhecida, ele nunca afirmaria; pelo contrário, ele considera razoável que um ou outro peixe possa lhe ter passado desapercebido; mas ele acredita que as espécies que os investigadores do futuro poderão acrescentar não serão muitas. Têm-se, portanto, todos os motivos para considerar que o presente trabalho apresentará um quadro aproximadamente completo da fauna piscícola daquela parte do interior brasileiro por onde o Rio das Velhas passa. Dessas 55 espécies, acredito, pelo que se conhece no presente, se possa declarar que 35 (ou seja, bem mais que a metade) são até o momento desconhecidas dos registros zoológicos. Seis delas 3 Siluridæ e 3 Characini pertencem a gêneros novos; sabe-se que apenas um pequeno número (talvez uma dezena) ocorre fora do sistema fluvial do São Francisco, cuja lista de peixes mais que dobrou com as viagens e coletas do Prof. Reinhardt; e, das espécies desse sistema fluvial anteriormente descritas, perto de uma dezena foi trazida pelo Prof. Reinhardt do Rio das Velhas ou do Rio São Francisco 23. Foram encontradas até agora 13 ou 14 famílias de peixes de água doce nos rios brasileiros; mas, dessas, existem 3, ou seja, a dos acarás (Chromides) (43 espécies), bagres (Siluridæ) (154 espécies) e Characini (com os Erythrinina) (159 espécies), que são dominantes, somando 356 ou 92% de toda a fauna (pelo menos com base na contagem a que chegamos acima 24, em 1867); as famílias restantes somam somente 32 espécies no total, ou 8%: cavalas (Scomberoidei) (1), (Scomberesoces) (2), gobiídeos (Gobioidei) (1), corvinas (Sciænoidei) (6), baiacus (Tetrodontini) (1), guarus (Cyprinodontes) (6) 25, sardinhas (Clupeacei) com pirarucus (Osteoglossidæ) (4), sarapós (Gymnotini) (6), arraias (Rajæ) (4) e peixes pulmonados (Sirenoidei) (1) 26. Como a grande maioria dessas famílias é apenas escassamente representada, várias delas com uma única espécie no Brasil, não se pode esperar que elas ocorram em é somente um pouco mais estreito que este último; por outro lado, sua largura varia muito com o lugar e a época do ano; as pontes sobre ele têm de ser em vários lugares mais de pés acima do nível mais baixo da água para não serem destruídas na época das chuvas. Reinhardt considera que a sua maior largura no trecho entre Sabará e Lagoa Santa pode ser estabelecida em pouco mais de 200 pés. A lagoa chamada Lagoa Santa possui, na avaliação de Reinhardt, um perímetro de aproximadamente uma milha e o seu maior diâmetro tem talvez pouco menos de meia milha. Sua saída, Sangrador, deságua juntamente com um pequeno riacho a 2-3 milhas de Lagoa Santa; na época de seca a ligação entre o lago e o rio é interrompida. Dos afluentes do Rio das Velhas, pode-se mencionar os seguintes: Ribeirão do Mato, que entra no Rio das Velhas pelo oeste, pouco mais de uma milha ao sul de Lagoa Santa e passa, quando se vem de Santa Luzia para Lagoa Santa, cerca de uma milha e meia ao sul da cidade; Quebra, um riacho quase insignificante a pouco mais de uma milha de Lagoa Santa; Riacho do Sumidouro, que desaparece na caverna do Sumidouro, mas aparece de novo após o seu curso subterrâneo para desaguar no Rio das Velhas; Rio Taquaraçu, afluente do Rio das Velhas pelo leste, deságua neste um pouco ao norte de Lagoa Santa; no local onde Reinhardt o atravessou, a ponte tinha 80 passos. Em razão das coleções levadas por outras pessoas aos museus de Londres e Paris, às vezes mencionamos ainda, no se que segue, o Rio Sabará, que do mesmo modo deságua no Rio das Velhas do lado leste, perto da cidade de Sabará. O Rio Cipó é um afluente do Rio Paraúna, que também pelo leste deságua no Rio das Velhas. Os peixes coletados neste último por Ch. Cumberland foram, na opinião de Reinhardt, possivelmente capturados na Fazenda Rotulo, perto da nascente do Rio Cipó. 23 Ficará claro, no que se segue, que, em virtude de certas dúvidas com relação à possível identidade de algumas espécies com outras anteriormente descritas, não se pode exigir uma precisão total nesses números. 24 Foi também dessa contagem que tiramos os números dados entre parênteses, que expressam o número de espécies brasileiras de cada família. 25 Quatro novas espécies dessa família foram posteriormente descritas do sul do Brasil (Arch. f. Naturg. 1868). 26 Dessas 13 famílias são típicos de água doce somente os Chromides, os bagres, os Characini, guarus, 31

32 todos os grandes rios do Brasil ou mesmo que uma grande parte delas aí esteja presente; e não é, portanto, de se admirar que Reinhardt tenha encontrado no Rio das Velhas e nos lagos situados em seu vale representantes de apenas quatro das famílias mencionadas: Sciænoidæ, Siluridæ, Characini e Gymnotini. Existem duas circunstâncias notáveis: que os Gymnotini sejam relativamente tão numerosos e que os Chromides, que representam um papel tão impressionante nas águas doces brasileiras, estejam totalmente ausentes 27. Com exceção dessas duas circunstâncias, a pequena fauna que aqui se descreve possui em geral a mesma característica de todo o país; Siluridæ e Characini são absolutamente dominantes e perfazem 7 /8 do número total, mantendo entre si um equilíbrio. Em relação ao número de espécies de famílias isoladas coletadas em todo Brasil, são os Gymnotini, por outro lado, que alcançam um quinto do número de espécies conhecidas em toda a América do Sul, sendo os mais representados e existe ainda a estranha situação de que, por exemplo, enquanto nem um quinto das espécies conhecidas de Siluridæ da bacia do Rio São Francisco estão presentes em outras partes do Brasil, principalmente mais ao sul (de Characini ainda menos), das espécies de Gymnotini descobertas na Lagoa Santa e no Rio das Velhas somente 1 era nova: as outras 3 parecem estar espalhadas por uma grande parte da América do Sul. Para essa peculiar característica da fauna piscícola no Rio das Velhas e principalmente da bacia do Rio São Francisco, a de os Chromides estarem ali totalmente ausentes, pode-se certamente citar o fato análogo de que, dentro da família dos bagres, estão ausentes também as espécies de Arius e de Callichthys; mas os Chromides não são apenas uma das três famílias absolutamente dominantes nos rios brasileiros, sendo tão numerosos que perfazem um nono de todos os peixes conhecidos de lá; eles se espalharam anteriormente por todo o país de norte a sul, tanto nos sistemas fluviais do Rio Amazonas como no do Prata; aparecem em quantidades especialmente grandes a oeste do sistema fluvial do São Francisco, nos rios Guaporé, Cuiabá e Paraguai; e Reinhardt os encontrou também a leste e sudeste dessa bacia, no Rio Doce e seus afluentes, bem como pirarucus, sarapós e peixes pulmonados; os demais são na realidade peixes marinhos com algumas formas representadas ou aclimatadas nas águas doces mais quentes; é compreensível que estas representem pouco na contagem. Em outras partes da América do Sul, aparecem ainda, além desses, alguns Symbranchii e Petromyzontes. 27 Com referência à afirmação do Prof. H. Burmeister, feita em seu trabalho Reise nach Brasilien (p. 414) citada em outros trabalhos, de que a fauna piscícola da pequena lagoa situada no vale do Rio das Velhas, Lagoa Santa, é completamente análoga à desse rio, possuindo 45 espécies, das quais 20 seriam de Siluridæ, o mesmo número de Characini, 4 de Gymnotini e 1 de Chromides dados cuja origem está atribuída ao naturalista Dr. P.W. Lund, há longo tempo morador na região, Reinhardt contesta sua veracidade e esclarece que o equívoco só pode se dever a uma completa má interpretação das palavras do Dr. Lund. Não existe qualquer Chromides na lagoa, e esta não possui de maneira nenhuma 45, mas no máximo 16 espécies, das quais 2 /3 são Characini; os restantes são 3 Siluridæ e 2 Gymnotini; e, finalmente, a lagoa tem a maioria de seus peixes em comum com o Rio das Velhas, mas possui também algumas formas peculiares (Characini e Gymnotini), que até o momento não foram encontradas naquele rio (p.ex. Xiphorhamphus lacustris, Serrasalmo Brandtii, Tetragonopterus lacustris, nanos e gracilis, Characidium fasciatum, Carapus fasciatus e Sternopygus virescens). Algumas dessas aparecem também em pequenos riachos da região que têm ligação com o rio, mas não no próprio rio, do mesmo modo que existem umas poucas formas menores, que são conhecidas apenas em tais riachos, mas não ocorrem nem na lagoa nem no rio (talvez porque somente nesses locais essas espécies encontrem segurança contra a perseguição de peixes e outros animais predadores). Além disso, 16 espécies é por si só um número notável para uma pequena lagoa absolutamente insignificante, que não tem mais que 3 milhas de perímetro, e 45 espécies seria uma quantidade completamente desproporcionada para tal lagoa. Esse último número corresponde, por outro lado, ao número de espécies que Lund, na época em que o Prof. Burmeister o visitou, sabia que havia tanto nos rios como nos lagos da região onde vivia. Entretanto, até agora, nem nos rios foi encontrado qualquer Chromides. 32

33 nos pequenos rios da Província do Rio de Janeiro. Seria, portanto, de se esperar que essa família também estivesse representada no Rio das Velhas; apesar disso, Reinhardt não conseguiu achar qualquer Chromides nem obter qualquer informação junto aos pescadores da região que levantasse a suspeita de que espécies dessa família pudessem estar ali presentes, Reinhardt não obteve um único exemplar da espécie por obra do acaso. Também, até agora, não foi descrita qualquer espécie dessa família no Rio São Francisco, e, durante uma estada em suas margens em Porto das Barreiras (um pouco ao norte do lugar onde o São Francisco recebe o Rio Abaeté), Reinhardt não só não conseguiu descobrir qualquer Chromides, como também as informações que coletou reforçaram a ideia de que esses peixes realmente não existem nesse rio. O nome Acará, pelo qual esses peixes são denominados tanto na Província de Mato Grosso como no Rio Doce, era de fato totalmente desconhecido, mesmo entre os pescadores mais experientes de Porto das Barreiras; o nome Acarý 28 se usa ali para as espécies de Plecostomus e Rhinelepis, e as anotações especialmente detalhadas que Reinhardt conseguiu dos peixes do rio, do mesmo modo que as listas de nomes que os viajantes anteriores haviam reunido em outros pontos completamente diferentes do curso do São Francisco (Spix e Martius e também A. de St. Hilaire em Salgado, Gardner em São Romão), não continham nomes em que um Chromides pudesse se ocultar. Vou terminar esta introdução com uma descrição da pesca praticada nesta parte do Brasil, como encontrei nas anotações do Prof. Reinhardt sobre sua primeira viagem, a qual acho que seria lida com interesse pela simplicidade e que não encontraria melhor lugar que este no presente trabalho: 28 Acarý é na realidade contração de Acará-y ou hy e significa água (ou rio), onde vivem Acarás ; é, portanto, um erro transferir essa denominação para um peixe. Com relação aos nomes populares relacionados a seguir, Reinhardt salienta que como estes pertencem à história dos peixes, ele reuniu as denominações dadas aos peixes existentes no vale do Rio das Velhas tão fielmente quanto possível. Muitas espécies aparecem sempre com os nomes que receberam dos habitantes originais; mas, em outros casos, os antigos nomes em Guarani, pelo menos nessa parte de Minas, desapareceram juntamente com as tribos a cujos idiomas pertenciam; e os imigrantes portugueses adicionaram nomes de peixes oriundos de sua língua materna, que frequentemente pertenciam a peixes de sua costa natal com os quais os peixes brasileiros possuíam alguma semelhança, como dourado, corvina e vários outros, mas às vezes também nomes forjados para um peixe desconhecido, com base em alguma de suas características, como papa-terra, papa-isca, cascudo e outros do gênero. Penso poder garantir que os nomes mencionados são os comumente utilizados no vale do Rio das Velhas, mas que eles realmente sejam os corretos e que os nomes indígenas utilizados para os peixes sejam os originalmente dados, isso é outro caso que dificilmente pode ser decidido sem um estudo da língua guarani; existe, mesmo em regiões não muito distantes do Brasil, incerteza e dúvida no uso de vários nomes de peixes, e, para dar alguns exemplos, sempre se usa no vale do Rio das Velhas o nome piaba indiscriminadamente para as espécies locais de Tetragonopterus, ao passo que nas margens do Rio Doce ouvi certas espécies de Leporinus serem chamadas do mesmo modo, e os Tetragonopterus lá recebem o nome de lambari, que no vale do Rio das Velhas é dado a Characidium fasciatum; Natterer informa ainda que vários pequenos Chromides em Mato- Grosso são chamados papa-terra, enquanto esse nome no Rio das Velhas, onde não aparece ciclídeo algum, é dado exclusivamente para uma espécie de Curimatus. Até numa mesma região, os nomes nem sempre são bem estabelecidos; usa-se, por exemplo, no vale do Rio das Velhas o nome pacu tanto para um Characini (Myletes micans) como para vários Siluridæ menores (dos gêneros Auchenipterus e Glanidium), embora nesses casos exclusivamente por mau uso, pois esses Siluridæ na realidade possuem outro nome (pacamão). Tais confusões são raras e normalmente são apenas devidas ao pouco uso e, portanto, só ocorrem com peixes pequenos menos conhecidos. Finalmente deve-se lembrar que vários nomes em guarani agora se usam indiscriminadamente para designar várias espécies pertencentes a um mesmo gênero, enquanto os originais pertenciam somente a uma única espécie, ou, em todo caso, se esses eram genéricos, uma outra palavra servia para denominar a espécie isolada (Reinhardt). 33

34 Nas últimas semanas de minha estada em Lagoa Santa, perto do início da estação das chuvas, em meados de outubro, tanto os moradores da cidade como os fazendeiros locais começaram a praticar com empenho pesca com rede no Rio das Velhas e em seus afluentes menores, bem como em muitos lagos pequenos. Os frutos da pesca eram denominados sob diferentes nomes: mandi, dado às formas de Pimelodus [ou seja principalmente Pimelodus maculatus Lac., talvez também mandiaçu (Platystoma emarginatum Val.) e mandi-bagre (Bagropsis Reinhardti Ltk.)], surubim (Platystoma orbignianum Val.), crumatã (Prochilodus affinis Rhdt.), dourado (Salminus Cuvieri e Hillarii Val.) e matrinchã (Brycon Lundii Rhdt.); finalmente, embora raramente, sob o nome de corvina, um Sciænoidei (Pachyurus corvina Rhdt.). Algumas vezes participei da pescaria a pouco mais de uma légua de Lagoa Santa, no Ribeirão do Mato, que passa dentro de uma floresta bastante fechada e é tão grande como os maiores ribeirões da Selândia 29, embora possivelmente menos profundo. O lugar escolhido para a pescaria era geralmente uma baía pequena, estreita e fechada que o rio escavara na floresta. Algumas pessoas jovens pulavam no rio nuas, equipadas com galhos, a certa distância da baía; faziam uma linha através do riacho, cuja água os alcançava na altura do peito, e caminhavam, gritando e berrando, em direção à baía, enquanto batiam os galhos fortemente na água, empurrando os peixes assustados para dentro da baía, pois a saída para o curso normal do rio estava fechada, como uma parede, por uma rede esticada através do rio, mantida verticalmente dentro d água por pedras em sua parte submersa. Depois de os peixes serem empurrados para dentro da baía fechada que o rio havia formado, eles eram cercados por uma rede igual à anteriormente mencionada, no lugar onde se tinha começado a empurrar os peixes, e, assim que eles ficavam presos naquela parte do rio cercada pelas duas redes, começava de fato a pescaria, já que uma rede muito grande, do mesmo formato que aquelas que cercavam o rio, e com pedras amarradas, de forma a chegar até o fundo, era puxada da parte cega da baía em direção à rede superior e de volta, com a ajuda de pessoas que estavam nas margens do rio. Quando os peixes que escapavam chegavam a uma das barreiras do lugar cercado, as pessoas recolhiam com cuidado a rede de um dos lados, fazendo sempre arcos menores, até que os peixes cada vez mais estreitamente confinados alcançassem a margem. A rede e os peixes aprisionados eram então puxados com segurança, e os animais maiores e mais valiosos, recolhidos. Depois de a rede ter sido puxada algumas vezes para frente e para trás, o lugar ficava praticamente sem peixes. O céu tropical, a densa floresta, quase impenetrável, as muitas pessoas nuas pretas ou morenas que ora estavam se movimentando pelo rio, ora corriam pelas margens aos gritos e gargalhadas, enquanto outros preparavam comida junto a uma fogueira com parte do resultado da pesca, compunham em toda sua simplicidade uma cena pictórica e selvagem; precisava-se de muito pouca imaginação para confundir as pessoas de diferentes cores com índios selvagens e se ver no meio de verdadeiras crianças da selva tropical. 29 NT: Principal ilha da Dinamarca, onde fica Copenhague. 34

35 I. Bagres (Siluridæ) Do sistema do Rio São Francisco eram conhecidas anteriormente, das viagens e coletas de Spix 30, St. Hilaire 31, Castelnau 32 e Cumberland 33, 12 espécies de Siluridæ 34 ; destas, 7 35 foram redescobertas no Rio das Velhas e seus afluentes por Reinhardt. Além dessas, este naturalista coletou dentro dos limites dessa região 14 espécies além de uma 15 a do próprio Rio São Francisco, que não é conhecida do Rio das Velhas, ou seja, 22 no total; destas 15, 13 são desconhecidas dos registros zoológicos e 2 (Loricaria lima e Pseudorhamdia lateristriga) foram anteriormente descritas do sul do Brasil. Do total de espécies de Siluridæ (27) que se conhecem do sistema fluvial do Rio São Francisco, apenas 5 são consideradas originárias de fora do mesmo; do sul do Brasil ou dos grandes rios que se dirigem para o sul (Paraná, Uruguai, Prata), além das duas já mencionadas, figuram: Platystoma orbignianum, Pimelodus maculatus e Plecostomus Commersonii. Três dessas 5 espécies foram anteriormente assinaladas longe dessa região, ao norte da América do Sul: Loricaria lima na América Central (Rio Chagres), Pimelodus maculatus em muitos lugares no norte da América do Sul e Pseudorhamdia lateristriga no Rio Ambyaçu, um dos afluentes ocidentais do Rio Amazonas identificações que, porém, necessitam de confirmação e talvez sejam devidas a confusões com espécies semelhantes. Do grande grupo pertencente à família dos bagres representados na América do Sul, os Hypophthalmina e Aspredinina são limitados à parte norte dessa região (Guiana e norte do Brasil); os pequenos bagres sem couraça (Argiina) são encontrados exclusivamente nos rios andinos. Mais notável é que Arius e Callichthys, que estão representados tanto ao norte como ao sul do Brasil central, não estão representados por espécie nessa região de que estamos tratando. (Em relação aos primeiros, explica-se, pelo menos em parte, por serem na maioria formas de água salgada ou pelo menos de água salobra.) Os mais numerosos são os Pimelodina (13 espécies), seguidos dos bagres-de-couraça (8), e os Doradina (4), Trichomycterina e Stegophilina (caso se deseje manter esses dois grupos separados), cada um com 1. Das novas espécies, aparentemente duas representam novos gêneros, um no grupo dos Pimelodina e outro no dos Doradina. 30 C.F.P de Martius: Selecta genera et species Piscium, quos in itinere per Brasiliam ann colleg. et pingendos cur. J.B. de Spix. Digess. etc. L. Agassiz Cuvier et Valenciennes: histoire naturelle des poissons, vol. XIV-XV ( ). 32 Fr. de Castelnau: Expédition dans les parties centrales de l Amérique du Sud etc. pendant les années 1844 à Part. VII. Zoologie. Poissons. (1855). 33 Günther: Catalogue of fishes in the British Museum, pt. V (1864). 34 Especificamente, além das 7 que se seguem: Rhinodoras niger (Val.), Loricaria nudiventris (Val.), Rhinelepis aspera Sp., Plecostomus Commersonii (Val.) (subcarinatus Cast.) e Pterygoplichthys duodecimalis (Val.): 1 Doradina e 4 bagres-de-couraça. 35 A saber: Plecostomus alatus Cast., Platystoma emarginatum Val. e orbignianum Val. (corruscans Spix?), Conorhynchus conirostris (Val.), Pimelodus maculatus Lac., Rhamdia Hilarii (Val.) e Pseudopimelodus charus (Val.). 35

36 A. O grupo dos Stegophilus e dos Trichomycterus 1. Stegophilus insidiosus Rhdt. Ver monografia do Prof. Reinhardt em Comunicações Científicas à Sociedade de História Natural de 1858, pp Figura 1: (A figura da cabeça está aumentada 3 vezes) 2. Trichomycterus brasiliensis (Rhdt.). (prancha III, fig. 8) Até agora só era conhecida uma espécie desse gênero, a saber, T. nigricans 36, da Província de Santa Catarina. A nova espécie, da qual o Prof. Reinhardt obteve um maior número de exemplares no Rio das Velhas e em um dos riachos que nele deságua, é chamada em Minas Gerais cambeja ou bagre-mole e alcança o comprimento de 6 polegadas 37 ; ela morde vorazmente o anzol, tão logo se turva a água. Em seu estômago o Prof. Reinhardt achou larvas de Libelulæ e outros insetos aquáticos; o peixe vivo é colorido por um muco amarelo. 36 loc. cit., Tomo XVIII, pp NT: No sistema dinamarquês da época, utilizado neste trabalho, usava-se, entre outras unidades de medida de distância ou comprimento, o pé, abreviado frequentemente com o símbolo, a polegada, contida 12 vezes num pé e abreviada por, e a linha, representada por e contida 12 vezes numa polegada. A polegada dinamarquesa corresponde a 2,615 cm, sendo, portanto, maior que a medida correspondente no sistema inglês, que equivale a 2,54 cm. 36

37 Descrição. A cabeça, de forma deprimida, une-se à parte posterior do corpo por uma forte compressão; sua largura, que é também a maior largura do corpo, é contida 6 1 /2 7 1 /2 vezes no comprimento total (nadadeira caudal incluída) e é algo menor que o comprimento da cabeça (até a abertura branquial), o qual é contido 5 1 /2 6 vezes no comprimento total. A origem da nadadeira dorsal situa-se um pouco atrás da metade do comprimento total, logo acima ou um pouco atrás do início da nadadeira ventral, o ânus abaixo da nadadeira dorsal, a nadadeira anal imediatamente atrás daquele, de modo que a posição da nadadeira dorsal corresponde ao espaço entre as nadadeiras anal e ventrais. As aberturas branquiais se tocam debaixo da garganta; a boca fica na parte bem anterior da cabeça e é bastante larga (sua largura, quando completamente aberta, corresponde a mais da metade do comprimento da cabeça); os dentes formam uma lima ou uma lixa tanto na parte de cima como na de baixo da boca. A parte superior da maxila avança um pouco à frente da mandíbula; os lábios em geral possuem papilas, e os barbilhões, ao contrário, são muito lisos. Dos 6 barbilhões, os do meio, isto é, os de cima em relação aos que saem da comissura dos lábios, em geral são os mais longos e alcançam a raiz das nadadeiras peitorais; mas os demais não são muito mais curtos. Os olhos são muito pequenos e completamente dirigidos para cima; a distância entre eles (a largura da área da testa) é aproximadamente igual à sua distância das narinas anteriores (onde se situam os barbilhões superiores); as narinas posteriores têm forma de tubo curto aberto atrás. No opérculo há um grupo de (no máximo 25) espinhos, dispostos em várias (3-4) filas; no interopérculo existem espinhos maiores, quase retos 38, em uma fila, e à frente (acima) uma fila irregular (dupla) com mais ou menos o dobro desse número. O comprimento de toda a faixa de espinhos no interopérculo é igual à distância entre as narinas posteriores. As nadadeiras são todas pequenas, a caudal é arredondada e truncada (não como em várias outras espécies, truncada reta ou mesmo um pouco côncava); o primeiro raio da peitoral se prolonga em um curto fio. Da linha lateral, veem-se, além de alguns poros na cabeça, somente um par atrás de cada abertura branquial; qualquer outro traço de poro se perde a partir desse ponto abruptamente. O número de raios nas nadadeiras é: D.: 11 (4 + 7); P.: 7 39 ; V.: 5; A.: 9 (4 + 5); C.: (além dos numerosos raios curtos escondidos na pele antes da nadadeira caudal, acima e abaixo). Cores e padrões (dos exemplares em álcool): o fundo marrom-amarelado é cheio de manchas redondas algumas das quais às vezes se tocam marrom-escuras; principalmente em exemplares um pouco mais jovens, vê-se com nitidez que também existem várias (três) séries ou filas de manchas azul-claras ao longo de cada lado, interrompendo a uniformidade da cor de fundo, e estas, por sua vez, interrompidas ou cobertas aqui e ali pelas manchas escuras; o lado do ventre é cinza uniforme. Em um único exemplar, esses padrões são menos nítidos, porque tanto a cor de fundo como as manchas são mais acinzentadas. Entre os sexos não há em geral qualquer diferença de cor e absolutamente nenhuma outra diferença externa, além do fato de os machos terem uma papila genital Esse dado se dá em oposição a T. punctulatus Val., no qual eles são fortemente curvados. (Veja à frente.) 39 O número de raios das nadadeiras peitorais parece ser característico dessa espécie; nas demais ocorrem sempre 8 ou 9. Os raios mais à frente nas nadadeiras dorsal e anal, muito curtos e delicados, só são vistos quando expostos, às vezes com certa dificuldade. Não confio muito, portanto, que os números de raios dados pelos autores para outras espécies de Trichomycterus estejam absolutamente corretos. Aqui e no que se segue, eu contei os últimos raios duplos das nadadeiras dorsal e anal como 2 (veja nota 17, ao pé da página 28). 40 Sobre as diferenças sexuais e os aparelhos sexuais nesse gênero podem ser consultadas as anotações de Kner em Sitzungsberichte d. mathem. naturw. Cl. d. k. Akad. d. W., XVII, 1855, Ichthyologische Beiträge, pág. 159 (70). 37

38 muito nítida, curta e grossa. Variedade tristis (Pygidium triste Rhdt. in sched.). Um único exemplar (um macho) é uniformemente marrom-esverdeado escuro, mas em geral não pude encontrar qualquer diferença entre este e os manchados, e ainda menos pude considerar que ele representa uma espécie válida, como referido acima; indivíduos manchados de forma menos nítida podem ser considerados como representando uma transição para essa forma. Já foi anotado que a interpretação não é a de que os machos de T. brasiliensis são uniformemente marrom-acinzentados e as fêmeas têm manchas marrom-escuras, como acontece com T. dispar (Tsch.); de uma meia dúzia de machos, somente este exemplar possui a cor uniforme escura, os demais são manchados como as fêmeas. Mas devo adicionar o comentário de que a regra também não vale rigorosamente para T. dispar, considerando que essa espécie é idêntica a T. punctulatus Val. Desta última possuo numerosos exemplares, que o Prof. Reinhardt adquiriu em Callao, na expedição Galatéa; eles são mais ou menos fortemente manchados, sem diferenças entre os sexos 41. Devo adicionar ainda que, além dessa série de exemplares de tamanho médio ou completamente adultos, nos quais esta descrição se baseia, o Prof. Reinhardt trouxe 5 pequenos Trichomycterus com 2 3 polegadas de comprimento de um dos afluentes do Rio das Velhas, o que se pode talvez levar em conta como justificativa para considerá-los como uma espécie válida, pequena, diferente dos T. brasiliensis. O número de raios é o mesmo, como nos típicos T. brasiliensis (pelo menos com relação aos raios ramificados), e, como nestes, o primeiro raio na nadadeira peitoral é prolongado na forma de um fio; o comprimento da cabeça é contido 6 3 /4 vezes no comprimento total; o barbilhão mais longo alcança mais ou menos o fim do opérculo; existem aproximadamente 10 espinhos neste e cerca de 20 no interopérculo; a cor é marrom-amarelada clara com manchas redondas, que a partir da metade do lado tendem a se unir em uma listra ao longo do comprimento. Essas pequenas diferenças poderiam ser consideradas simplesmente como relacionadas com a idade. Entretanto, a diferença problemática é que a nadadeira dorsal se posiciona um pouco mais atrás, de tal forma que a porção do comprimento total que fica à frente do início da nadadeira dorsal determina com a parte que fica atrás desse ponto uma relação de 9:7; a nadadeira anal se posiciona, portanto, em parte abaixo da nadadeira dorsal, não totalmente, ou quase totalmente atrás da mesma 42, e as nadadeiras ventrais, notavelmente curtas, alcançam somente o ponto correspondente ao início da nadadeira dorsal. Os exemplares examinados nesse aspecto continham ovos, apesar de parecerem imaturos. Quando, apesar de tudo, pensei ponderadamente em considerá-los como de uma outra espécie, a razão, em parte, foi porque 41 Além destes, o Museu possui ainda um macho de Trichomycterus de um marrom-violeta escuro, uniforme (cor de chocolate), que o Prof. Reinhardt obteve do Prof. Pöppig. Este deve ser o Pyg. dispar de Tschudi mas nesse caso eu não consigo assegurar, pois essa espécie é diferente de T. punctulatus. Nesta última, o comprimento da faixa de espinhos do interopérculo, como nos T. brasiliensis, é igual à distância entre as narinas posteriores, os espinhos se situam em uma fileira tripla e são todos encurvados; nos supostos T. dispar, o comprimento da faixa é igual à distância dos olhos à ponta do focinho, seus espinhos são muito numerosos e formam 4-5 fileiras; além disso, somente os superiores são encurvados, sendo os inferiores retos. Uma revisão crítica das espécies desse gênero seria absolutamente desejável, mas exigiria certamente uma comparação imediata dos exemplares-tipo. 42 Infelizmente essa proporção na prancha III, fig. 8, não foi retratada com fidelidade: o início da nadadeira anal ficou um pouco à frente. 38

39 observei também nos T. brasiliensis maiores alguma oscilação se bem que muito menor na posição da nadadeira dorsal; e em parte porque, ao comparar alguns exemplares de T. gracilis (do Lago Titicaca, que, de acordo com Günther, deveriam ser somente jovens da espécie T. punctulatus ou T. dispar) com exemplares adultos desses (ou pelo menos dos primeiros, porque é duvidoso que o único exemplar de T. dispar existente no Museu seja realmente dessa espécie, como a nota 41 ao pé da p. 38 esclarece), observei que a nadadeira anal dos T. gracilis (os possivelmente jovens) realmente se situa um pouco à frente, sob a nadadeira dorsal, ao contrário do que ocorre com T. punctulatus (etc.), além do início da dorsal (como Valenciennes se expressa). Por essas razões, não ousei apresentar esses pequenos Trichomycterus como uma espécie válida e espero ter acertado ao considerá-los como jovens de T. brasiliensis, independentemente dos desvios salientados, que talvez com o tempo se mostrem difíceis de conciliar com essa hipótese. Mais coleções de exemplares jovens dessa ou de outras espécies próximas devem decidir a questão. Aquele que coletou os primeiros tinha essa mesma opinião mesmo sem ter feito qualquer comparação, de que havia pescado somente exemplares jovens de cambeja ou bagres-moles ; e considero que essa opinião será confirmada. B. Bagres-de-couraça 3. Loricaria lima Kner Kner: Die Panzerwelse d. k. k. Hof-Natur-Cabin. zu Wien. I. Loricarinæ (Denkschr. d. mathem. naturw. Cl. d. k. Akad. d. Wiss., vol. VI, p. 89 (25) prancha VI, figs. 1a. 1b.) Kner und Steindachner: Neue Gattungen und Arten von Fischen aus Central-Amerika, gesammelt von Moritz Wagner (Abhandl. d. math. phys. Classe d. kön. bayerschen Akad. d. Wiss., X. I. p. 58) Hensel: Beiträge z. Kenntniss d. Wirbelthiere Süd-Brasiliens (Archiv f. Naturgesch. Jahrg. XXXIV, vol. I, p. 366). Nome brasileiro: cascudo-barbado. Kner apresentou essa espécie baseado em um exemplar pequeno, seco e mal conservado, o qual não possibilitou uma descrição completa de todas as proporções, trazido por Natterer do Brasil, sem maior especificação da localidade. Mais tarde Hensel obteve 3 exemplares de riachos de montanha pedregosos, perto de Santa Cruz, na Província do Rio Grande do Sul, no sul do Brasil. O mais surpreendente é que a mesma espécie, aparentemente, também ocorre no Rio Chagres, na América Central. Reinhardt trouxe 3 exemplares com cerdas (sem dúvida machos) desse cascudo-barbado do Rio das Velhas; com exceção do fato de eu não ter conseguido encontrar o poro axilar ( porus lateralis ) 43 mencionado por Hensel, encontro somente diferenças insignificantes das descrições acima mencionadas, às quais não atribuo qualquer peso. O número de dentes é Existem outros exemplos em que essa formação (aparelho de veneno?) pode ou não estar presente em indivíduos da mesma espécie. Compare com o que segue sob Platystoma orbignianum. 39

40 em cada metade das maxilas, o disco do lábio inferior, coberto de papilas e franjado, é muito grande, os barbilhões são bem curtos, mas evidentes; o tamanho das órbitas, em relação às medidas gerais da cabeça, é corretamente dado tanto por Hensel como por Kner. Os longos espinhos que cobrem os lados da cabeça assemelham-se a densas e duras suíças, formadas de cerdas finas e curvas. O número de placas laterais é algo indefinido e, frequentemente, a união das placas laterais não ocorre nas mesmas placas dos dois lados do corpo; eu as conto da seguinte forma: 14+14, 15+13, ou ainda 17+14; continuando: 5 placas de cada lado da nadadeira dorsal, 2 de cada lado da nadadeira anal, 18 atrás da primeira mencionada, 16 atrás da última; mas pequenas diferenças nesses dados poderiam, como notou Hensel, ser de caráter individual. As placas do peito e do ventre formam somente 2-3 fileiras posteriormente, muitas fileiras mais anteriormente. Reclinada, a nadadeira anal alcança 6 pares de placas. Deve-se destacar que a base dos primeiros raios da nadadeira dorsal, no maior exemplar, fica um pouco à frente e, nos dois outros, perceptivelmente atrás dos primeiros raios da nadadeira ventral, uma vez que esta é uma das relações que normalmente se salienta na descrição das espécies. O número de raios é: D.: 8; P.: 7; V.: 6; A.: 6; C.: 12; o raio superior da cauda se transforma em um fio de 1 1 /2 polegada de comprimento. Não considerando este, o exemplar maior tinha cerca de 7 polegadas (180 mm) de comprimento, os dois outros aproximadamente 5 1 /2 polegadas ( mm). Da cor, preservaram-se somente algumas (seis) listras escuras sobre o tronco e cauda e manchas pequenas escuras nas nadadeiras dorsal e caudal; também nas nadadeiras ventral e anal há indícios de desenhos mais escuros. Dr. Hensel conseguiu, além desses dois exemplares barbados de mm, que ele julgou serem machos, um terceiro sem barba, um pouco maior (100 mm); este ele julga ser uma fêmea. Seu julgamento está de acordo com o que se relata sobre outros bagres-de-couraça, por exemplo, que Loricaria barbata Kner é o macho de L. rostrata Spix 44 ; que o macho de Plecostomus barbatus do mesmo modo é fortemente barbado, enquanto a fêmea não, ou o é muito discretamente. Pelo quadro publicado por Darwin 45 sobre a cabeça da última espécie em ambos os sexos, já se acreditava que a cabeça do macho é muito mais larga que a da fêmea. Analogamente, considero que um quarto exemplar de Loricaria, sem barba, com 130 mm de comprimento, que Reinhardt capturou também no Rio das Velhas, é fêmea de L. lima, apesar de diferir em algumas outras relações dos indivíduos barbados, além da simples falta de barba, como por exemplo na forma da cabeça, e de Hensel expressamente dizer sobre sua fêmea que ela é similar aos machos em todas as suas características. Aqui, contudo, a cabeça, como já indicado, é muito mais pontuda e mais estreita; o disco formado pelo lábio inferior é muito menor este não alcança, como ocorre nos barbados, uma linha que ligaria os ângulos dos ossos interoperculares entre si ; a pele da garganta (quer dizer, entre a boca e uma linha que ligaria a parte inferior da abertura das brânquias) é lisa, não enrugada e sem papilas; o primeiro raio das nadadeiras peitorais é muito mais delicado que nos machos anteriores, sendo este e os raios seguintes desprovidos de cerdas em forma de ganchos; as placas da cabeça e do corpo em geral são um pouco mais lisas, menos ásperas. Na maioria dos casos, essas diferenças poderiam ser descritas como se fossem devidas a diferenças sexuais; não ouso, portanto, considerar como uma espécie distinta esta Loricaria 46 de cabeça pontuda 44 Günther: Proc. Zool. Soc. 1868, p Darwin: The descent of man and selection in relation to sex (1874). vol. II. p Apesar de não estar relacionada com nenhuma dificuldade de decidir a que sexo um bagre pertence, não consegui uma completa clareza nesse aspecto, em parte porque as vísceras não estavam bem preservadas. Mas, 40

41 e sem barba do Rio das Velhas, mas considero essa forma como fêmea de L. lima, ao mesmo tempo que coloco aqui esse ponto para ser pesquisado por futuros viajantes. 4. Plecostomus lima (Rhdt.)? Plecostomus Robini Günther Catal. V. p. 236 (vix 47 Val.). Os 9 exemplares trazidos por Reinhardt têm um comprimento de 3 1 /2 5 3 /4 polegadas 48 ; eles foram capturados debaixo de pedras no Ribeirão do Mato e em outros pequenos afluentes do Rio das Velhas; os moradores o chamam cascudo, assim como a outros bagres-de-couraça. P. lima pertence ao grande grupo de Plecostomus com manchas escuras e ponta do focinho nu 49, entre os quais Hypostomus plecostomus L. 50 pode ser considerada como espécie típica; esta foi classificada, anteriormente, aqui no Museu, como H. Robini Val., o que não considero inteiramente correto. H. Robini alcança um tamanho significativo (8 polegadas); ela vem de perto de Trinidad, ou seja, de uma parte da América do Sul que se sabe não ter qualquer similaridade ictiológica particular 51 com o sistema fluvial do Rio São Francisco ou com Minas Gerais; é bem verdade que o próprio Valenciennes classificou uma forma de tamanho menor dos afluentes do Rio da Prata como sua H. Robini, e seria em todo caso mais aceitável supor que essa forma poderia ter se espalhado em direção ao norte, até aquela província brasileira. O que no momento ainda pesa contra a identificação dessa forma que ocorre no Brasil central como sendo a que aparece em Trinidad, de acordo com o que se conhece da descrição de Valenciennes, é, em terceiro e quarto lugares, que o diâmetro dos olhos não é um terço, mas a metade da distância entre os mesmos, e que o raio duro da nadadeira peitoral nunca alcança mesmo que seja uma pista que o exemplar sem barba é uma fêmea e os 3 exemplares barbados, machos, não estaria ainda provado, rigorosamente falando, que eles são machos e fêmea da mesma espécie. O pescador que trouxe a Reinhardt um desses bagres-de-couraça barbados contou-lhe que havia encontrado dois exemplares barbados (dos quais um escapou) juntamente com uma grande quantidade de filhotes em um buraco no leito do rio; mesmo que esse relato seja verdadeiro e não prove absolutamente nada, ele não é suficiente, como Reinhardt chama a atenção, para confirmar que as formas descritas correspondam a macho e fêmea da mesma espécie. 47 NT: vix aqui siginifica dificilmente : o autor tem dúvidas se o Plecostomus lima (Rhdt.) poderia ser o Plecostomus Robini Günther, mas dificilmente seria o de Val. 48 Errata do autor: Esse tamanho é pequeno demais para o Plecostomus lima; um exemplar doado posteriormente ao Museu, enviado pelo Dr. P.W. Lund, possui quase 8 polegadas de comprimento. 49 Ao se usar esse critério, obtém-se o seguinte agrupamento dos Plecostomus típicos: A. Ponta do focinho nua; lábio superior nu B. Ponta do focinho geralmente granulada e não ou parcialmente granulado. nua; lábio superior também granulado em geral a. Corpo de cor escura, com manchas claras. P. alatus Cast. P. Francisci Ltk. b. Corpo de cor mais clara, com manchas escuras ou negras. P. bicirrhosus, pantherinus, P. spiniger Hens., Villarsi Ltk. Commersonii, punctatus,? P. horridus etc. Wuchereri, brevicauda, lima etc. 50 Já me pronunciei sobre a substituição do nome Plecostomus por Hypostomus em outro lugar (Videnskab. Meddel. fra den Naturh. Forening, 1873, p. 211). 51 Devo salientar, entretanto, que no mínimo uma espécie (Macrodon trahira: veja a seguir) ocorre em ambos os lugares. 41

42 o segundo terço da nadadeira ventral, indo no máximo até a sua raiz ou muito pouco além desta. Há que se reconhecer, no entanto, que essa é uma proporção que varia um pouco com a idade e que exemplares mais jovens de H. Robini talvez nesse aspecto venham a se parecer muito com exemplares adultos de H. lima. Eu também não ouso agrupá-los com as formas descritas como H. Robini Val. (da Bahia) por Günther, pois o peito e o ventre nunca são totalmente nus, mesmo nos menores exemplares disponíveis, sendo, nos maiores, completamente granulados, com exceção das áreas normalmente nuas perto da boca e das nadadeiras pares; exemplares mais jovens realmente possuem a pele do ventre mais nua, cujas placas ásperas são reduzidas a finos espinhos isolados, e estes ocupam uma região menor que a ocupada pelas pequenas placas granuladas nos maiores; mas, de maneira alguma, nem destes se pode dizer que a pele ventral seja nua. Na descrição a seguir, usei principalmente os maiores exemplares disponíveis, mas chamo atenção sobre quais proporções se mostram variáveis com o tamanho (idade). Descrição. O comprimento da cabeça 52 é bem maior que sua largura; ele é contido cerca de 3 (3 1 /4) vezes no comprimento total (sem considerar a nadadeira caudal), mais de 4 vezes, se esta for considerada; sua maior altura (que também é a maior de todo o corpo) é algo mais que a metade de seu comprimento e mais ou menos igual à distância dos olhos até a ponta do focinho. Seu perfil é arredondado, mais ou (mais frequentemente) menos agudo; existem traços no exemplar maior de uma quilha de bordas arredondadas na cabeça (ou seja, de uma baixa saliência longitudinal no crânio) entre as placas do topo da cabeça e da região das têmporas; uma borda similar, que se estende obliquamente dos olhos até logo abaixo das narinas, separa a fronte plana das faces bastante inclinadas e um pouco convexas; também no meio do focinho existe uma saliência pouca nítida e arredondada; mas todas essas fracas saliências estão mais ou menos ausentes nos exemplares de tamanho médio. O topo do crânio termina em um ângulo obtuso, não estreitado em ponta. O diâmetro das órbitas é igual à metade da largura da testa entre os olhos, mas maior que a distância que os separa das narinas ou que a distância entre estas; é igual a um sexto do comprimento total da cabeça e a de um terço a um quarto de sua própria distância da ponta do focinho. Esta é nua, limitada por uma área granulada de cada lado, ou, pode-se também interpretar, dividida por estas em três manchas nuas arredondadas. O lábio superior também é nu, com exceção de uma área oblonga de cada lado, não longe da comissura da boca; o lábio inferior é largo (mas não alcança a linha imaginária que liga as extremidades inferiores da abertura branquial), em geral serrilhado ou franjado na borda, os barbilhões aproximadamente tão longos quanto a largura da parte papilosa do lábio inferior. O número de dentes é aproximadamente 40 em cima e 35 em baixo, em cada metade das maxilas. Existem sempre em todos os Plecostomus? alguns pequenos espinhos ao longo da borda livre dos ossos operculares e interoperculares, mas estes são muito pouco conspícuos e se encontram outros quase do mesmo tamanho na região escapular. A pele do ventre é coberta muito finamente com placas ásperas (de forma que a pele nua do ventre em geral é visível entre suas bordas), à exceção de uma área bem grande de cada lado à frente das nadadeiras ventrais e uma menor na parte de dentro de cada uma das nadadeiras peitorais; a parte inferior da cabeça (garganta) é, do mesmo modo, nua, à exceção de uma área granulada de cada lado entre o lábio inferior e a fenda branquial; 52 O comprimento da cabeça é, como salientado anteriormente, mais prático de se medir nos bagres-decouraça do meio do focinho até a nuca, ou seja, até a ponta do crânio, não como normalmente é feito, até a parte mais distante da abertura branquial. 42

43 nos exemplares mais jovens, essa área quase não existe, do mesmo modo que a granulação da pele do ventre, que é reduzida a finos espinhos isolados, que ocupam uma região muito menor que aquela coberta nos maiores com pequenas escamas realmente espinhosas; também as áreas granuladas do lábio superior são, nestes, muito indistintas. Nos maiores (adultos), a nadadeira dorsal alcança, quando abaixada, a placa de sustentação da nadadeira adiposa; seu comprimento (na base) é igual à sua distância do final da nadadeira adiposa e muito menor que o comprimento de seu primeiro raio (duro), que se situa muito perto da cabeça; mas já nos exemplares de 4 3 /4 polegadas de comprimento, o primeiro raio da nadadeira dorsal é mais curto que a largura da cabeça! O último raio da nadadeira dorsal é tão longo quanto 5-6 placas dorsais, e o raio duro das nadadeiras peitorais, tão longo quanto a largura da cabeça; este é muito chato, largo e fortemente coberto com curtos espinhos curvados na ponta (já nos exemplares de tamanho médio esses espinhos são menos curvados, quase retos); a nadadeira peitoral alcança ou, se sua extensão mole é considerada, um pouco além o raio duro da nadadeira ventral, o qual por sua vez pode alcançar a metade da nadadeira anal, cujo comprimento é igual a 5 placas ventrais. A base das nadadeiras ventrais fica abaixo, entre o terceiro e o quinto raio da nadadeira dorsal, e a nadadeira anal situa-se abaixo do espaço entre as nadadeiras dorsais, mas mais perto da primeira. Entre as nadadeiras dorsais, contam-se 5 placas pares e 1 placa ímpar (a placa de sustentação do raio da nadadeira adiposa), entre as nadadeiras anal e caudal outros 10 pares e 4 placas ímpares (incluindo o raio de sustentação do raio duro da nadadeira caudal). O raio duro da nadadeira adiposa tem a forma comum comprimida, um pouco curvada; a borda posterior da nadadeira caudal é curva para dentro, seu lobo inferior um pouco mais longo que o superior, mas nenhum dos dois se prolonga em filamento. O corpo é ligeiramente poligonal, mas não quilhado; as arestas mais nítidas situam-se de cada lado da nadadeira dorsal, em cima, e no espaço entre as nadadeiras pares, embaixo. As fileiras de espinhos bastante ásperos da couraça corporal são nítidas, com exceção da parte inferior da cauda e também perto da nadadeira dorsal, onde os espinhos são dispostos sem nenhuma ordem. O número de raios é o normal: D.: 8 ( ); P.: 7 (1. 6); V.: 6 (1. 5); A.: 5 (1. 4) (em um exemplar 1. 3); C.: 16 ( ). Cores e padrões: Os exemplares conservados em álcool exibem um tom marrom com manchas escuras, que são menores e mais próximas entre si na cabeça, maiores nas nadadeiras e no corpo; neste elas são frequentemente pouco nítidas, de modo que somente são observadas com nitidez na pele de cada lado da nadadeira dorsal; entre cada um de seus raios existem de 3 a 5 manchas redondas, que têm o dobro do tamanho daquelas da cabeça. Nos peixes vivos a cor básica, em cima, é verde-oliva acinzentado, e o ventre é branco-acinzentado. 5. Plecostomus Francisci (Lkt.) O Prof. Reinhardt trouxe do Rio São Francisco um exemplar de 11 polegadas de comprimento deste peixe que os brasileiros denominam Acary. Das outras poucas espécies conhecidas com manchas em forma de gotas mais claras sobre um fundo mais escuro, esta se destaca imediatamente, pois a ponta do focinho é nua (como nos Pl. alatus e auroguttatus); e 53 Naturalmente aqui, como em todos os outros Hypostomina, dever-se-ia escrever D.: 2.7 etc.; mas é cada vez mais aceito e adotado não considerar o primeiro raio, totalmente rudimentar, situado logo à frente, chamado raio duro da nadadeira dorsal (ver nota 17 à p. 28.) 43

44 das espécies nas quais o focinho também é nu e o lábio superior, do mesmo modo que nesta, completamente coberto com placas granuladas (por exemplo P. spiniger Hens. 54 e P. Villarsi Ltk. 55 ), é facilmente distinta, pois aquelas são claras (acinzentadas) com manchas escuras. Descrição: A cabeça tem uma quilha no focinho, arredondada mas bastante nítida, mas, em geral, nenhuma outra quilha ou crista; seu comprimento, que é bem maior que sua largura, é contido 3 1 /3 vezes no comprimento total (sem a nadadeira caudal), mais de 4 vezes quando esta é levada em conta; o diâmetro das órbitas é contido 6 1 /2 vezes no comprimento da cabeça, muito pouco mais de 2 vezes na largura da testa, 3 1 /2 na sua distância até a ponta do focinho; é um pouco maior que a distância até as narinas, muito pouco maior que a distância entre estas. Na margem do opérculo e interopérculo existem alguns poucos espinhos, que mal são percebidos como tal ao lado da cobertura restante da cabeça. O número de dentes é acima de 60 na parte superior da boca e acima de 40 na parte inferior, em cada metade das maxilas. O lábio inferior é franzido, mas de forma não muito nítida. Tanto a ponta do focinho como o lábio superior são, como mencionado, completamente cobertos com placas ásperas, à exceção de uma estreita borda perto da boca; do mesmo modo, toda a região do ventre, exceto um semicírculo perto da boca e duas áreas nítidas, mas irregularmente delimitadas de cada lado, perto da raiz das quatro nadadeiras pares. O comprimento da nadadeira dorsal é maior que a sua distância até a nadadeira adiposa, mas um pouco menor que seu primeiro raio, cujo comprimento abaixada ela não alcança a nadadeira adiposa é apenas um pouco menor que a cabeça e que o raio duro da nadadeira peitoral; este é um pouco largo e chato, principalmente na sua parte interna, e na parte externa marcadamente coberto com espinhos encurvados. Alcança o segundo terço do raio duro da nadadeira ventral, e este, por sua vez, alcança a nadadeira anal, cujo comprimento corresponde a cinco escudos ventrais. Existem 12+3 (12 pares e 3 ímpares) escudos entre as nadadeiras anal e caudal, 6+1 entre as nadadeiras dorsais. O corpo é ligeiramente poligonal, mas não quilhado, o ordenamento em fileiras dos espinhos dos escudos é nítido, principalmente na parte de baixo da cauda em direção ao ventre. A obliquidade da nadadeira caudal não é pronunciada. O número de raios é o normal, D.: 8 (1. 7); P.: 7 (1. 6); V.: 6 (1. 5); A.: 5 (1. 4); C.: 16 ( ). A cor é marrom-café claro com manchas amareladas, menores na cabeça, maiores no corpo e nas nadadeiras (em álcool); o peixe vivo é marrom-oliva, com uma ou mais manchas de cor um pouco mais para o laranja-amarelado em cada placa e, do mesmo modo, na cabeça e nas nadadeiras dorsal e caudal. 6. Plecostomus alatus (Cast.) Hypostomus alatus Castelnau, Expédition etc. Poissons, p. 41, prancha 21 fig Plecostomus alatus Günther, Catal. Fish. Br. Mus. V. p Os exemplares que dão base para as classificações acima são de Minas Gerais (Rio Sabará e Rio Cipó), como também o são os dois que o Prof. Reinhardt trouxe do Rio das Velhas; mas a espécie ocorre também no Rio São Francisco. Os brasileiros denominam-na cascudo 54 Archiv f. Naturgeschichte, ano XXXIV, vol. 1 (1870) p Videnskabelige Meddelelser fra den naturhist. Forening de 1873, p

45 ou Acary. Reinhardt observa que ela aparece no rio (não na Lagoa Santa) e se engancha nas pedras com seu lábio inferior desenvolvido em forma de ventosa; não morde o anzol e consegue viver muito tempo fora d água. Os exemplares disponíveis têm um comprimento de 13 e 15 1 /2 polegadas, respectivamente. À descrição de Günther quero ainda acrescentar o seguinte, em parte como complementação e em parte para salientar alguns pequenos desvios (irrelevantes com relação à identidade da espécie) do que aquele ictiólogo de alto mérito encontrou. No exemplar menor, o focinho é muito mais agudo e tem uma quilha mais nítida que no maior; o diâmetro dos olhos é contido mais de 2 vezes, quase 2 1 /2 vezes na largura da testa; é um pouco maior que a distância que os separa das narinas e igual ou maior que a menor distância entre estas; o diâmetro dos olhos é contido mais de 6 vezes no comprimento da cabeça, que é muito maior que sua largura máxima. Quase não há traços de saliências no topo da cabeça e nas regiões temporais. Alguns pequenos espinhos ao longo da borda do opérculo e interopérculo salientam-se da cobertura espinhosa ou granulada dessas partes, como nos demais Plecostomus. A nadadeira dorsal é tão alta que, quando dobrada, alcança a nadadeira adiposa com sua ponta ou, no exemplar maior, a raiz da nadadeira caudal. O raio duro da nadadeira ventral é tão longo ou quase tão longo quanto o da nadadeira peitoral, que no exemplar menor somente alcança cerca de um quarto além da nadadeira ventral, e no maior, ao contrário, um terço desta, apesar de esta nadadeira nesse indivíduo ser relativamente um pouco mais longa. O comprimento da nadadeira anal é igual a 5 placas ventrais; entre aquela e a nadadeira caudal contam-se placas pares e 5 ímpares (a quinta dessas últimas é na realidade o curto raio de suporte à frente do raio duro), entre as nadadeiras dorsais 5+1 ou 7+1. No raio duro das nadadeiras peitorais encontra-se (além dos numerosos e curtos espinhos existentes sobretudo na sua borda externa), ao longo de sua superfície mediana (parte de cima), uma nítida fileira (como um serrote baixo) de pequenos espinhos levantados. A borda do lábio inferior não é serrilhada de forma arredondada. Todo o istmo (garganta) e o ventre são cobertos com pequenas placas granuladas, com exceção de um semicírculo nu perto do lábio inferior, que no exemplar menor se junta a uma faixa nua entre as fendas branquiais, mas quase não existe no exemplar maior. Além disso, há algumas áreas nuas insignificantes perto das fendas branquiais e na base das nadadeiras ímpares. A ponta nua do focinho entre as duas áreas largas e curvadas do lábio superior, constituída de cobertura ossificada e granulada da cabeça, já foi mencionada por Günther; do mesmo modo que as áreas granuladas e ovais, nitidamente definidas, de cada lado do lábio superior, bem separadas daquelas extensões. As placas não formam nenhuma quilha, mas três quilhas arredondadas podem ser notadas ao longo de cada lado. A ordenação de pequenos espinhos em numerosas pequenas fileiras e o seu aumento de tamanho em direção à borda livre das placas são nítidos nas filas de placas inferiores, mas nas superiores e na parte de baixo da garganta terminam em granulação uniforme. A cor é marrom-escuro com manchas claras, que são numerosas e próximas na cabeça e nas nadadeiras pares, em menor número e maiores, frequentemente alongadas ou coalescentes, nas placas do corpo e da cauda; também o ventre é escuro com manchas claras, a nadadeira dorsal escura com um padrão marmóreo mais claro. 45

46 C. O Grupo dos Doradina 7. Doras marmoratus Rhdt. (prancha I, fig. 1) O único exemplar desta nova espécie muito distinta, que o Prof. Reinhardt obteve do Rio das Velhas 56, foi trazido por um pescador que alegou nunca ter visto tal peixe antes e que, portanto, não conhecia qualquer nome brasileiro para o mesmo. Pertence aos verdadeiros Doradina, nos quais a cauda, acima e abaixo, entre as nadadeiras caudal e anal e caudal e adiposa, é coberta com uma série de pequenas placas; neste grupo sua posição é mais bem definida pela falta de espinhos no processo escapular, pelo perfil baixo das numerosas placas laterais e pelo número de raios (6 na nadadeira ventral e 7 raios moles na nadadeira dorsal). O comprimento significativo da nadadeira adiposa parece ser uma das características especialmente marcantes dessa espécie, que a aproxima de Rhinodoras, do qual ela se distingue pela disposição dos dentes, que é como nos Doradina típicos. Descrição. O exemplar tem 10 polegadas da ponta do focinho até a ponta da cauda; a cabeça (até a porção posterior do capacete) é superior a um terço de seu próprio comprimento; sua maior largura é maior que sua maior altura, que é a metade do comprimento da cabeça. O raio duro da nadadeira peitoral é mais que dois terços do comprimento da cabeça (medida da forma indicada) e mais longo que o raio duro da nadadeira dorsal, cujo comprimento é igual à metade da cabeça. O capacete é adornado com linhas em relevo e grãos, que se irradiam, se bem que não muito regularmente, do ponto médio de cada placa; ele se dirige para trás, terminando em um prolongamento largo (em geral com o mesmo tipo de escultura) de cada lado das partes mais anteriores da nadadeira dorsal; mais ou menos do seu ponto médio sai uma outra projeção para baixo e para trás até o processo escapular; para frente o capacete termina um pouco adiante dos olhos, com dois prolongamentos separados por uma fenda no meio. No seu todo é bastante plano; a nuca tem a forma de um teto arredondado. A largura da boca é aproximadamente igual ao espaço interorbital; o diâmetro dos olhos é contido cerca de 3 vezes na distância entre eles, que é igual à sua distância até a borda anterior da cabeça; a distância entre o olho e a narina mais próxima é igual à distância desta até aquela situada mais à frente, e a distância entre as duas anteriores é igual à metade da distância entre os olhos. O barbilhão do lábio superior alcança o processo escapular, o da mandíbula, a raiz da nadadeira peitoral, mas os barbilhões do mento têm somente a metade dos demais. A faixa dentígera, composta de dentes viliformes muito finos, é mais larga (ou seja, avança mais para o lado) na parte inferior da boca que na superior. A fenda branquial termina muito próximo e pouco acima da superfície ventral; o processo escapular é plano, pontudo e em forma de espada, sem saliências, espinhos ou serrilhas; termina abaixo do primeiro raio da nadadeira dorsal e acima do início da última quinta parte do raio duro da nadadeira peitoral. Este é plano, finamente ranhurado, com uma série de fortes serrilhas de cada lado; o raio duro da nadadeira dorsal tem a mesma forma e aspecto do anterior, mas é serrilhado somente na sua borda anterior; a base das nadadeiras ventrais fica completamente atrás daquela da nadadeira dorsal, o ânus 56 Esta foi mais tarde descrita e retratada a partir de exemplares do Rio São Francisco por Steindachner, mas sem referência ao meu diagnóstico da espécie em Vid. Selsk. Oversigter (Wien. Sitzungsb. vol. LXXI, p. 10, prancha 4). O Sr. Steindachner recebeu essa publicação a tempo de poder retirar o nome que ele deu à espécie, de corrigir e adicionar aquilo que eu cheguei a usar na caracterização, sem entretanto adicionar qualquer outra referência. 46

47 atrás da metade do comprimento total; as nadadeiras anal e adiposa ficam justapostas; a última é longa tanto quanto a nadadeira dorsal mas nitidamente delimitada à frente; a nadadeira caudal é profundamente bifurcada. As placas laterais são em número de 34 de cada lado; com exceção das 3 mais à frente, que são tão altas que preenchem o espaço entre o escudo pré-dorsal e o processo escapular, e da quarta, que, apesar de ser mais baixa, é ainda bastante alta, as demais são baixas, não tendo um terço da altura do corpo atrás da nadadeira adiposa; além do grande espinho do meio, existem em geral 3 acima e 2 abaixo deste em sua borda livre. Na axila existe um nítido porus lateralis. Pequenas placas acima e abaixo da raiz da cauda unem-se tão uniformente aos raios de suporte da nadadeira caudal, que é impossível (sem preparação do esqueleto) obter um limite entre elas. O número de raios é: D.: 8 (1. 7); P.: 8 (1. 8) 57 ; V.: 6 58 ; A.: 12 (3. 9). O exemplar capturado no final do mês de janeiro é uma fêmea com ovos no ovário do tamanho da cabeça de um alfinete entomológico 59 muito fino. O peixe fresco é descrito por Reinhardt da seguinte forma: a cor do corpo acima da fileira lateral de placas é amareloacinzentada com padrões em forma de uma rede preta (manchas que se fundem); abaixo da fileira de placas laterais, a cor básica também é o amarelo-acinzentado, mas mais pálido, e em lugar do padrão em forma de rede encontram-se pontinhos e sinais negros muito pequenos, que aqui e ali formam manchas pouco nítidas e mais apagadas. A garganta e o ventre até o ânus são brancos, tendendo um pouco para o amarelo; a parte inferior da cauda é brancoavermelhada com pontinhos pretos, o crânio marrom-amarelo-acinzentado, adornado na parte de trás com manchas mais escuras, pouco nítidas. A íris tem um tom dourado-acinzentado. A nadadeira dorsal é cinza-avermelhado com listras irregulares e parcialmente inclinadas que se fundem em manchas; a nadadeira adiposa é negra na base e acinzentada na borda; a nadadeira caudal é acinzentada, mas com laivos fortemente carmim aqui e ali (embora sejam, possivelmente, apenas casuais), manchada de preto, com manchas fundindo-se parcialmente em faixas; as nadadeiras peitorais são esbranquiçadas com tons avermelhados, adornadas com pontinhos finos, que às vezes se ordenam como manchas meio apagadas; as nadadeiras ventrais têm os mesmos laivos carmim e na sua base pontinhos pretos muito pequenos; a nadadeira anal, do mesmo modo, é vermelho-esbranquiçada com pontinhos pretos esparsos. 8. Auchenipterus lacustris Rhdt. Temos 9 exemplares dessa espécie, que é extremamente comum na Lagoa Santa, mas também ocorre no Rio das Velhas. Às vezes os moradores a chamam, como informa Reinhardt, de pacamão, que provavelmente é seu verdadeiro nome, e também de pacu, que 57 Nota da Revisão (NR): Aqui aparece P.: 8 (1. 8), tratando-se evidentemente de um erro de impressão original. O erro poderia ser no primeiro 8 ou no segundo (1.8). A sinopse, à pg. 144, aponta apenas um número 1.8, sugerindo que o erro seria no primeiro 8. Para resolver a dúvida, foi contado num dos exemplares da coleção do MZUSP o número e foi encontrado 1+8, ou seja, 9 no total. 58 Günther assinala 7 raios na nadadeira ventral como característica das espécies de Doras; D. marmoratus tem, porém, apenas 6, assim como D. cataphractus, que além disso tem somente 1. 5 (e não 1. 7) raios na nadadeira dorsal (constatado em vários exemplares). Todas as outras espécies têm, segundo o que se assinala e o que eu mesmo encontro em D. costata (2 exemplares): D.: 1. 6; V.: NT: Apesar de dificilmente poderem ser consideradas como padrão, as cabeças dos alfinetes modernos possuem cerca de 1 mm de diâmetro, enquanto os mais finos produzidos por volta de 1900 na Dinamarca possuíam cabeças menores, com cerca de 3 /4 mm. 47

48 provavelmente é dado a essa espécie somente por engano, mas que, apesar disso, é usado com frequência por todos os moradores da cidade de Lagoa Santa; também é chamada ronca ronca, pois os peixes dessa espécie emitem esse tipo de som quando capturados. Reinhardt conta ainda que eles mordem o anzol principalmente depois das chuvas, quando a água está turva; que os barbilhões são mantidos esticados para frente, formando um arco, com a extremidade para fora; conta também que são extremamente resistentes e que se mantêm vivos fora d água por horas. Um brasileiro contou ao Dr. Lund que uma vez ele viu um pequeno pacamão enfiar seu espeto peitoral no corpo de uma traíra (Macrodon), que era muito maior que ele 60 ; a traíra deu um salto fora d água para a margem e foi capturada junto com o pacu, ainda preso a ela. A situação da espécie dentro do gênero pode ser mais bem determinada pelo fato de ela ter uma nadadeira caudal inclinada e arredondada, a maxila inferior mais longa que a superior, o raio duro da peitoral serrilhado de ambos os lados e a nadadeira ventral com 6 raios. Das espécies conhecidas, parece que essa é a que está mais perto de A. galeatus, que ocorre na Guiana. Descrição. A forma varia de deprimida (a parte anterior da cabeça) rapidamente para comprimida para trás; o comprimento da cabeça (até a borda do capacete, onde o raio duro da nadadeira dorsal se origina) é pouco mais de um quarto do comprimento total (a nadadeira caudal incluída); a largura máxima da cabeça (e do corpo), que é aproximadamente igual à sua altura máxima (na base do raio duro da nadadeira dorsal), é contida 2 vezes na distância entre as nadadeiras dorsal e caudal. O capacete não é áspero, mas mais ou menos enrugado, com pequenos sulcos (vermiformes); ele se estende para trás, de cada lado da nadadeira dorsal, num prolongamento parcialmente coberto de pele, junto com um prolongamento enviesado para baixo a partir da região temporal (cuja parte inferior também está escondida na pele macia), em direção ao processo escapular, que é pontudo, horizontal e dirigido para trás, a ponta visível (ou seja, não escondida) deste último corresponde aproximadamente à metade 60 Tanto essa observação como a anterior, sobre o posicionamento dos barbilhões no peixe vivo na água, me parecem ter interesse como contribuição para o esclarecimento do modo de vida dos bagres, apesar de que, ou, mais corretamente porque, tais comportamentos, pela mesma razão, talvez ocorram em muitas outras espécies. 48

49 do raio duro da nadadeira peitoral. A fontanela é estreita, mais ou menos indistinta. A separação entre as duas narinas do mesmo par é igual à metade da distância entre os olhos, enquanto a separação entre a anterior e a posterior é igual a um quarto da distância entre os olhos, que, por sua vez, é igual à largura da fenda da boca. Existe em cada maxila uma placa de dentes em forma de meia-lua por quase toda a largura da boca. A maxila inferior se estende claramente à frente da superior. Seu barbilhão alcança até a ponta do processo escapular; o barbilhão lateral da maxila inferior é um pouco mais curto; o barbilhão do mento alcança, quando esticado, um pouco além dos olhos. Abaixo do processo escapular existe um porus pectoralis. O raio duro da nadadeira peitoral é um quinto ou quase isso ( 2 /13) do comprimento total (a nadadeira caudal incluída); ele é liso (se bem que finamente estriado) e equipado com forte serrilha ao longo de ambos os lados; ele é mais curto que os raios moles mais próximos dele; o mesmo vale para o raio duro da nadadeira dorsal, que é mais curto que o das nadadeiras peitorais e apenas a metade do comprimento da cabeça (quando esta é medida da forma mencionada acima) ou um pouco menor; normalmente é bastante liso (se bem que estriado como o da nadadeira peitoral), às vezes possui à frente alguns traços muito leves de nódulos. O comprimento da nadadeira anal é igual à largura máxima da cabeça. As nadadeiras ventrais situam-se um pouco atrás da nadadeira dorsal, o ânus na metade do comprimento total. O maior dos exemplares à disposição tem um comprimento de 5 3 /4 polegadas. Os machos são diferenciados das fêmeas externamente pela papila genital ou tubo urogenital 61 ligado à nadadeira anal. O número de raios é: D.: 7 (1. 6); P.: 8 (1. 7); V.: 6; A.: Cor: A cor básica nos peixes vivos é cinza-amarronzado com grandes manchas marrom-escuras, que na maioria dos casos parecem estar distribuídas com certa regularidade em 3 ou 4 filas ao longo da parte de trás do corpo e dos lados da cauda, às vezes deixando uma nítida faixa clara no dorso; o ventre é mais esbranquiçado, mais manchado de cinza; as nadadeiras possuem pequenas manchas irregulares Glanidium albescens (Rhdt.) (prancha III, fig. 5.) Pimelodus albescens Rhdt. (in sched.). Este pequeno Doradina, para o qual eu sugiro o novo nome de gênero acima, se distingue somente genericamente de Centromochlus Kn., pelo fato de toda a cabeça estar coberta de pele macia, de modo que o capacete não é visível ou granulado. Nesse sentido, ele se relaciona com Centromochlus (ambos com nadadeira adiposa e com nadadeira anal curta) da mesma forma que Trachelyopterus com Cetopsis (ambos sem nadadeira adiposa e com nadadeira 61 De acordo com Kner: Ichthyologische Beiträge (Sitzungsb. d. mathem. naturw. Cl. d. kaiserl. Akad. d. Wiss., vol. XXVI, 1857, p. 428.). Compare também com desenho da p. 48, de autoria de Han. 62 Uma anotação do Dr. P.W. Lund descreve sua cor da seguinte forma: Ele é marrom-acinzentado na parte de cima e branco na de baixo. Atrás do opérculo, de cada lado, tem uma mancha escura arredondada muito grande, com pontinhos mais claros por cima. Em volta da base da nadadeira dorsal tem uma mancha similar, ao longo dos lados do dorso, duas grandes manchas alongadas e escuras. A proteção óssea da cabeça é belamente dividida em grandes campos regulares por linhas mais claras. As nadadeiras ventrais têm uma faixa preta transversal ao longo de sua borda posterior, sendo o restante amarelado, assim como a borda da mandíbula e os barbilhões. A nadadeira anal, assim como a nadadeira caudal, é artisticamente marmoreada de marrom em direção à sua borda externa. 49

50 anal longa). Enquanto se der peso a essa característica dentro do grupo dos Doradina sendo nesse aspecto algo inconseqüente, já que no grupo dos Bagrus foi-se obrigado a desistir dessa distinção, Glanidium tem de ser diferenciado genericamente de Centromochlus. Glanidium albescens, que alcança somente 4 3 /4 polegadas, não só aparece no próprio Rio das Velhas (de onde vieram os exemplares), mas, de acordo com o que se relatou a Reinhardt, também nos riachos que deságuam nesse rio. Os brasileiros o chamam jundiá ou pacubranco, razão pela qual Reinhardt salienta que seria mais correto chamá-lo de pacamãobranco. Descrição: O corpo grosso aumenta continuamente em espessura para frente desde a cauda comprimida, de modo que a largura da cabeça acima dos olhos é somente um pouco menor que a largura máxima em frente à base das nadadeiras peitorais, que, por sua vez, são apenas um pouco menores que o comprimento da cabeça, medido da forma usual da ponta do focinho arredondado à borda do opérculo, que perfaz precisamente um quinto do comprimento total até a ponta da nadadeira caudal bifurcada; a maior altura acima do ventre é igual à maior largura à frente do raio duro das nadadeiras peitorais. A cabeça é arredondada para todos os lados, um pouco plana apenas no alto, sendo coberta com pele macia e solta; apenas o processo escapular, que é estreito e pontudo e mede dois terços do comprimento dos raios duros das nadadeiras peitorais, é visto claramente sob essa cobertura de pele. As maxilas superior e inferior são do mesmo tamanho, e a boca é tão grande que suas comissuras são alinhadas com a borda anterior dos olhos. Em ambas as maxilas existe uma faixa de dentes viliformes, mas nenhum na região do palato. Os olhos são grandes, mas cobertos de pele; eles situam-se à frente e voltam-se mais para os lados que para cima; seu diâmetro é mais de um quinto do comprimento da cabeça, mas não mede nem a metade da distância entre eles; as narinas posteriores situam-se bem acima na testa, alinhadas com o meio dos olhos. Os barbilhões superiores, cuja parte basal se ajusta em uma ranhura sob os olhos, alcançam a margem superior do opérculo, o outro par não alcança a base das nadadeiras peitorais. O comprimento da nadadeira dorsal (ao longo de sua base) é contido 3 1 /2 vezes no comprimento da cabeça e sua altura (paralela aos raios), duas vezes; o raio duro é grosso, com uma ponta de pele relativamente longa 63, e com traços de serrilhado na sua parte superior; o raio duro da nadadeira peitoral é forte, largo, correspondendo a três quartos do comprimento da cabeça, com curta ponta de pele e fortemente serrilhado, principalmente do lado de dentro. As nadadeiras ventrais situam-se a meia distância entre as nadadeiras dorsal e anal, a nadadeira adiposa muito pequena situa-se acima dos últimos raios da nadadeira anal; a nadadeira caudal é bifurcada. A linha lateral é, às vezes, um pouco irregular. O porus pectoralis não existe. Número de raios: D.: 6 (1. 5); P.: 7 (1. 6) (mais 63 É quase desnecessário notar que esse segmentado prolongamento de pele, que sempre se encontra na ponta dos chamados raios duros dos bagres (mas que na verdade é bastante insignificante na maioria dos casos, quando o raio duro é relativamente grande e forte), na realidade é a parte não ossificada do raio, e que sua parte ossificada ( raio duro ) continuamente cresce e preenche segmento por segmento a ponta de pele que se transforma no raio duro, em cuja parte superior a linha limite inclinada entre os segmentos é facilmente visível. A ponta perfurante do raio duro origina-se justamente do fato de os segmentos formarem um ângulo agudo com o eixo do raio. Também a formação da serrilha está relacionada com essa segmentação, já que um par de dentes (quando o raio é dentado de ambos os lados) corresponde a cada segmento; de acordo com Kner: Über den Flossenbau d. Fische ( Sitzungsber. d. k. Akad. d. Wiss., XLII, p. 240). De fato, dever-se-ia incluir essa parte não ossificada quando se mede o raio duro e se determina seu comprimento em relação a outras partes do corpo; mas esse procedimento encontra dificuldades nos casos em que a parte não ossificada é muito desenvolvida e alongada, em forma de uma fita, como, por exemplo, em Ælurichthys. 50

51 raramente 5); V.: 6; A.: 13 (4. 9) (excepcionalmente 4. 8). A diferença sexual mostra-se muito claramente na forma da nadadeira anal, que nos machos é alta, pontuda e grande, com um forte desenvolvimento dos últimos raios, não bifurcados, e os primeiros, bifurcados, que são muito longos, mas também muito largos e planos em comparação com os raios correspondentes das fêmeas; além disso, a borda anterior dessa nadadeira é entalhada na sua base para dar lugar à papila genital, bastante grande, situando-se, assim, em um pequeno orifício entre a base da nadadeira anal e uma protuberância atrás do ânus 64. A conformação é, dessa maneira, diferente daquela de Centromochlus aulopygius, no qual ela é como em Auchenipterus 65. As fêmeas também possuem uma papila genital, mas esta é muito pequena em relação à grande abertura genital. As vesículas seminais têm a construção habitual em forma de dedos; os ovos são relativamente grandes; ainda em março se encontram fêmeas com ovos; ao contrário, os ovos eram pequenos, o ovário longo, fino, esbranquiçado e com a forma de uma linguiça em um exemplar capturado no dia 8 de fevereiro (Reinhardt). Cor: Nos exemplares conservados em álcool, as costas apresentam tons de marrom mais claros ou mais escuros; um único exemplar é claramente manchado. Reinhardt descreve da seguinte forma a cor de um exemplar que lhe foi trazido no dia primeiro de agosto: Focinho e testa esbranquiçados, a parte de trás da cabeça e o alto das costas cinza-amarronzado, este último com manchas escuras pouco nítidas; as inúmeras e muito delicadas manchas dos lados de cor cinza-amarronzado sobre um fundo branco; lado ventral branco, ao contrário da cauda, com um belo reflexo avermelhado, que também se estende dos lados da cauda; as nadadeiras peitorais, ventral e anal brancas e brilhantes; a nadadeira caudal branco-amarelada, manchada de preto. D. O Grupo dos Pimelodus 10. Platystoma emarginatum Val. Cuvier & Valenciennes: hist. natur. d. poissons, prancha XV, p. 25. Dessa espécie, já trazida por Aug. de St. Hilaire do Rio São Francisco, Reinhardt coletou 7 exemplares no Rio das Velhas; o maior deles tem aproximadamente o mesmo tamanho do exemplar de St. Hilaire (15 polegadas), mas a espécie alcança ainda um tamanho significativamente maior. Seu nome brasileiro é mandi-açu, ou o mandi grande. À descrição de Valenciennes, que por sinal é suficiente, deve-se adicionar o seguinte: A forma é bastante delgada, o corpo um pouco comprimido, a cabeça não muito deprimida; o comprimento da cabeça (até a borda da aba de pele do opérculo) contido 3 1 /2 vezes no comprimento total, quando não se considera a porção bifurcada da nadadeira caudal; quando medida até a ponta do processo nucal, cabe nesse comprimento 3 vezes; sua largura medida posteriormente é igual a dois terços de seu comprimento e igual à maior altura à frente da nadadeira dorsal; na parte anterior a largura é igual à distância entre as partes inferiores das órbitas. Os olhos situam-se bem alto, um pouco mais distante da ponta do focinho que da borda do opérculo; o diâmetro destes é um 64 Compare com a prancha III, fig. 5, que representa um macho. 65 De acordo com Kner, idem ibidem, p

52 sétimo do comprimento da cabeça, mas mais da metade da distância entre eles. A fontanela é pontuda à frente, arredondada atrás; começa um pouco à frente das narinas posteriores e termina um pouco à frente dos olhos. Os barbilhões superiores alcançam a nadadeira ventral ou a ponta destas, chegando mesmo a passá-las, os inferiores a abertura branquial, e os do meio um pouco além da base das nadadeiras peitorais. A faixa de dentes da maxila superior é, nas extremidades de cada lado, quase duas vezes mais larga (profunda) que no meio, a do vômer é um quadrilátero irregular com um profundo corte em forma de V na parte de trás, bem separado das estreitas e longas placas verdadeiras de dentes palatinos; nos exemplares mais jovens, a parte dentada do vômer é dividida em dois grupos ovais (às vezes, aproximando-se mais ou menos da forma de um losango ou ainda pontudos atrás), que podem se tocar à frente ou ser completamente separados. As nadadeiras ventrais estão inseridas em parte sob o último raio da nadadeira dorsal, em parte atrás, raramente inteiramente atrás, e nesses casos imediatamente atrás dela. A distância entre a nadadeira dorsal e a adiposa é mais curta que esta última, que tem o dobro do tamanho da nadadeira anal. Número de raios: B.: 9; D.: 1. 6; P.: ; V.: 6; A.: (3 4, 8 10). A cor dos exemplares conservados em álcool é escura nas costas; o ventre e os lados abaixo da linha lateral são prateados ou amarelos como latão; há um par de manchas escuras de cada lado das costas, mas nenhuma na cabeça ou nas nadadeiras e, quanto mais jovem o exemplar, menos manchas ele tem, até desaparecerem por completo nos muito jovens. Reinhardt afirma em suas anotações que o Prof. Lund também teve vários exemplares desse peixe completamente sem manchas. Um exemplar fresco é descrito por Reinhardt do seguinte modo: Quando o peixe está vivo e coberto de muco, a superfície ventral parece madrepérola, é branca iridescente; sobre o restante da superfície do peixe, espalha-se um brilho dourado, e manchas bastante fracas e indefinidas são distribuídas por todo o corpo, sendo, porém, mais numerosas sob a nadadeira dorsal (onde estão mais ou menos ordenadas em 3 fileiras) e tornando-se mais raras em direção à nadadeira caudal. As nadadeiras não possuem manchas; as nadadeiras dorsal, adiposa e caudal partilham do brilho dourado do corpo e são delineadas com uma borda escura muito estreita, inconspícua (à frente e acima na nadadeira dorsal, acima na nadadeira adiposa e em toda a nadadeira caudal). Nas nadadeiras peitorais e ventrais o brilho dourado é mais fraco, desaparecendo em direção à sua extremidade, e de aparência menos metálica. A íris do olho possui um tom dourado-avermelhado, e é salpicada com numerosas pintas acinzentadas, que quase superam a cor amarela, à exceção de um fino anel bem perto da pupila. Em uma fêmea examinada em 8 de fevereiro, Reinhardt encontrou relativamente poucos óvulos no ovário branco-avermelhado, imersos em um substrato transparente. Estes, ao contrário, tinham uma aparência completamente diferente na fêmea examinada em 27 de fevereiro: o ovário estava muito mais intumescido, e os óvulos enchendo-o quase totalmente, de modo que quase não se via mais o substrato no qual os óvulos pareciam estar imersos no exemplar examinado no início do mês. Sob a denominação urutu (cujo nome pertence a uma cobra venenosa! 66 ) ou mandiurutu, foi trazido a Reinhardt um jovem dessa espécie com 5 polegadas de comprimento de uma gruta perto de Julião 67 ; o pescador informou que este não aparece no Rio das Velhas, mas somente em riachos e nas grutas onde suas águas penetram e formam poções; mas ele sabia que o peixe deveria alcançar o tamanho de um mandi (Pimelodus maculatus) e ficar mais escuro 66 Ver o relatado para Pseudorhamdia lateristriga, na p Um ajuntamento de casas a algumas milhas de Lagoa Santa. 52

53 com a idade. Como se pode inferir desses relatos, esse exemplar é simplesmente uma forma jovem do Platystoma emarginatum; como informação sobre as modificações que ocorrem nessa espécie com a idade, é oportuno anotar que os barbilhões superiores nesse exemplar jovem alcançam a nadadeira caudal, os inferiores as nadadeiras peitorais e os intermediários a ponta destas (é um fato comum nos bagres os barbilhões serem mais longos nos mais jovens); a faixa de dentes da maxila superior não é mais larga nas extremidades que no meio, os grupos de dentes do vômer são pequenos e bem distanciados, ao mesmo tempo que bem separados dos grupos alongados de dentes palatinos pequenos; os olhos são grandes, quase um quinto do comprimento da cabeça; as estrias e granulações da cabeça, inconspícuas. A cor é de um puro amarronzado, sem manchas nas costas, e branco-amarelada no ventre; Reinhardt descreve-a desse modo, a partir de um peixe fresco: a cor no ventre é branco-madrepérola (iridescente); nos lados, começam a aparecer pontinhos extremamente finos no fundo branco e a dar a essa parte uma aparência suja; para cima, em direção ao dorso, essas manchas tornam-se mais numerosas e unidas, e a cor do dorso fica então quase marrom-oliva-acinzentado, mas o peixe vivo parece, como a maioria dos Siluridæ, estar impregnado com um muco amarelo. Todas as nadadeiras são delineadas com uma borda preta, que é especialmente notável na primeira nadadeira dorsal. A córnea é prateada, a pupila é azul, quase preta, todas as nadadeiras são brancoamareladas, as nadadeiras peitorais e ventrais manchadas com pontinhos pretos; a cabeça é cinza-amarelada na parte de cima. 53

54 11. Platystoma orbignianum Val. (?)? Marcgraf, Hist. r. nat. Brasil., Pisces p. 174 (fig. inferior)? Platystoma corruscans Ag., Spix: Pisces Brasiliensis, p. 25, prancha 13. (?) Platystoma orbignianum Val., d Orbigny: Voyage dans l Amér. méridionale, prancha IV, fig. 3. Pl. orbignianum Valenciennes, hist. natur. d. poissons, vol. XV, p. 12. Pl. orbignianum Günther, Catalogue, vol. V., p Platystoma Forchhammeri Rhdt. (M. S.). O grande Platystoma que ocorre no Rio das Velhas, de onde Reinhardt trouxe um exemplar de 25 polegadas (um outro medido por ele tinha 31 polegadas), é chamado no local sorubim ; exemplares mais velhos são chamados casonete e, muito extraordinariamente, loango (claramente de origem africana, provavelmente o nome de um grande peixe no idioma natal dos negros); é peixe muito valorizado, sendo vendido pelo seu tamanho em palmos ou baldes (1 pataca ou 1/3 de mil réis cada um); existem sorubins, que valem 8 mil réis (aproximadamente 16 coroas dinamarquesas), os quais dão bem mais que um barril de peixe salgado. Ele não aparece no lago Lagoa Santa, mas sim no Rio das Velhas, no São Francisco e também no Ribeirão do Mato, mencionado no Prólogo; alcança 8 10 pés de tamanho, mas exemplares tão grandes só se encontram no São Francisco, não no seu afluente Rio das Velhas; ou, em outras palavras, os indivíduos muito grandes não penetram nos rios menores. Ambos os zoólogos que examinaram o único exemplar disponível desse peixe antes de mim (Reinhardt e Krøyer) foram unânimes em reconhecê-lo como uma espécie nova; possivelmente eu teria seguido a sugestão e utilizado o nome indicado por Reinhardt para ele, se nesse ínterim Günther não tivesse identificado o exemplar encontrado no Rio Cipó (como já mencionado, um dos afluentes do Rio das Velhas) como P. orbignianum Val. Se isso está correto, parece quase inevitável no 54

55 mínimo, é muito provável que a determinação seja também aplicada ao sorubim ocorrente no Rio das Velhas e no Rio São Francisco, desde que, naturalmente, a descrição a ele se ajuste; e não se pode levar em consideração que a bacia do Prata e a do Rio São Francisco normalmente não possuem espécies em comum, independentemente de suas cabeceiras estarem próximas uma da outra; não conheço nos silurídeos outro exemplo, além do Pimelodus maculatus Lac., e mesmo este é algo duvidoso, como logo veremos. Como se sabe, Valenciennes descreveu, usando o mesmo nome, um grande sorubim, que atinge um comprimento de 8 9 pés e que ocorre no Rio da Prata (Paraná), de Buenos Aires a Corrientes. Sua descrição, bastante curta para um exemplar de 20 polegadas, concorda completamente com a de Reinhardt, à exceção de algumas discordâncias sobre o número de raios. O exemplar do Museu de Londres (do Rio Cipó) é uma pele com 3 pés de comprimento; a curta descrição que se fornece da espécie com base nesse exemplar também concorda bem, à exceção de algumas características relativas aos dentes do palato há mais dados sobre isso abaixo, mas, por outro lado, o indivíduo disponível parece concordar nessas características com o exemplar do Museu de Paris. Levando tudo isso em consideração, não me atrevo, como fizeram meus antecessores, a considerar o sorubim do Rio das Velhas como uma nova espécie, mas estou mais inclinado a crer que as pequenas discrepâncias identificadas são somente de natureza individual. Os números de raios apresentam as seguintes discrepâncias e concordâncias: Reinhardt (Rio das Velhas): B: 15; D: 1. 6; P: 1. 9; V: 6; A: 15 (7+9). Valenciennes (Rio Paraná): 17; 1. 6; 1. 9; 6; 15. Günther (Rio Cipó): 17; 1. 6; 1. 9; 6; 14. As diferenças no número de raios da nadadeira anal não são maiores do que as que se poderiam esperar de uma variação individual; além disso, os raios anteriores são tão pequenos e tão escondidos, que facilmente podem passar despercebidos e, de forma alguma, se percebe sua presença sem dissecação. Não dou a menor importância a essas diferenças. Algo mais difícil é a discrepância no número de raios das membranas branquiais; o exemplar do Rio Cipó (que sem dúvida pertence à espécie do exemplar do Rio das Velhas) concorda nesse aspecto com aquele do Rio Paraná; mas deve-se considerar que, nas espécies de Siluridæ com muitos raios nas membranas branquiais, ocorrem exemplares com variação individual semelhante: para dar um exemplo próximo, Platystoma platyrhynchus tem 10 ou Valenciennes diz sobre os dentes que P. orbignianum concorda nesse aspecto com P. tigrinum, cujas características são descritas do seguinte modo: os dentes da maxila superior formam uma faixa que é larga em ambas as extremidades, mas muito estreita no meio; os do palato formam uma meia elipse, cuja parte anterior é muito larga e continua numa extensão curva cujos ramos se estendem para trás. Com base na figura ao lado, vê-se que essa descrição concorda completamente com o surubim do Rio das Velhas, com a diferença que Valenciennes não menciona que a faixa palatal é interrompida no meio por uma faixa nua; esta pode ter passado despercebida, mas pode também ser uma diferença individual. O mesmo padrão encontro nos P. Vaillanti, nos quais a faixa de 68 Kner: Sitzungsb. d. k. Akad. Wiss., Ichthyologische Beiträge, p Outros exemplos encontramse nas espécies de Clarias, nas quais a diferença individual pode ser ainda maior. 55

56 dentes do palato é totalmente contínua, apesar de Valenciennes a descrever com as seguintes palavras: a faixa vômero-palatina é dividida em 4 partes oblongas, que se tocam. Também não me surpreende que Günther descreva a relação da seguinte forma nos P. orbignyanum: os dentes do palato formam 4 placas que quase se tocam, das quais as do vômer são triangulares e as do osso palatino têm a forma de uma quase cunha, afinando para trás ; o que bem sugere uma configuração similar de todas as partes dos dentes do palato e ainda a existência de uma clara separação entre as partes pertencentes ao vômer e ao palatino, além da linha que divide os primeiros em dois grupos. Provavelmente esses 4 grupos de dentes são bem separados nos exemplares jovens, mas crescem mais ou menos, à medida que o peixe se desenvolve. Dessa forma, mesmo que a classificação como P. orbignyanum pareça justificada, pelo que se conhece no momento, tenho de reconhecer, por outro lado, que uma comparação imediata entre os exemplares do Rio São Francisco e do sistema fluvial do Prata poderia levar ao resultado oposto. Mas resta ainda a possibilidade de que o sorubim que ocorre no Rio das Velhas e no Rio Cipó poderia ser o P. corruscans de Agassiz, espécie que é justamente proposta para um peixe do Rio São Francisco. Essa teria de ser uma forma muito próxima da que temos disponível, mas ela é descrita a partir de um exemplar empalhado e portanto algo razoavelmente deformado. Não conheço outras diferenças além de nuanças de cor, barbilhões mais longos e menos raios (10) na nadadeira anal. Essa última diferença tem de ser mais bem avaliada, antes de se lhe atribuir alguma importância, pois os raios anteriores poderiam ter passado despercebidos ou se perdido na preparação; o exemplar é descrito pelo próprio relator como um pouco mutilado. O tamanho maior dos barbilhões, por outro lado, não pode ser explicado como sendo devido a uma diferença de idade, pois o exemplar de Spix é tão grande quanto o de Reinhardt. Se for o caso de o exemplar de que dispomos ser da mesma espécie do de Spix, o nome P. corruscans deve naturalmente ser retomado; mas é impossível decidir isso no momento. Um novo exame do exemplar-tipo no Museu de Munique dificilmente vai aclarar a situação. Até que se prove o contrário, acho pouco provável que os 3 únicos exemplares de sorubins do sistema fluvial do São Francisco que foram encaminhados aos museus da Europa sejam de 3 espécies diferentes, um deles, além disso, idêntico a outro do Rio da Prata. No momento, acho mais prudente ficar com a determinação de Günther. Quero ainda adicionar às descrições existentes o seguinte: o comprimento da cabeça medido até a porção mais posterior da borda de pele do opérculo é pouco menos de um terço do comprimento total, quando este se mede até a ponta do lobo fortemente arredondado da nadadeira caudal, mais de um terço até seu entalhe; medido até o fim do bastante curto processo occipital, o comprimento da cabeça é muito pouco maior ou precisamente o mesmo (em um dos exemplares medidos por Reinhardt). A cabeça não é somente longa, mas extremamente chata e larga; sua largura à frente, acima da base dos barbilhões, é igual à largura medida abaixo das órbitas, mas não chega a um terço de seu comprimento; sua parte superior é finamente estriada; a fontanela, alongada e pontuda em ambas as extremidades, ocupa, na linha mediana, aproximadamente metade do comprimento da cabeça e termina alinhada com os cantos da boca, cuja distância até a ponta do focinho é aproximadamente igual à sua distância até os olhos. Como a maxila superior avança um terço de polegada à frente da inferior, não se pode dizer que essa seja uma diferença pequena, sem comparar com P. planiceps e formas semelhantes. O olho fica muito pouco mais perto da ponta do focinho que da borda posterior da pele do opérculo; seu diâmetro é contido 15 vezes no comprimento da cabeça até a ponta do processo occipital. Com relação ao comprimento relativo dos barbilhões, posso 56

57 me referir a Günther. O primeiro raio da nadadeira ventral é bastante duro e situa-se bem atrás da nadadeira dorsal 69 ; a nadadeira adiposa é mais curta que a dorsal e que a anal. O forte arredondamento dos lobos da nadadeira caudal (que Reinhardt achou mais acentuado no lobo de cima que no de baixo) é sem dúvida causado por desgaste; originalmente eram ambos, sem dúvida, igualmente pontudos. Reinhardt relata, com relação ao poro acima das nadadeiras peitorais, que ele leva a uma cavidade em forma de bolsa, sem saída; ele não pôde introduzir nela uma sonda mais fundo que 1 1 /2 linha 70, nem encontrar qualquer furo ou abertura de canal no fundo da bolsa, quando, posteriormente, através de um corte, aumentou a abertura externa; não encontrou também nenhuma abertura correspondente na parte ou parede interna da cavidade do ventre; ele duvida, portanto, que Valenciennes tinha razão quando diz que essa abertura externa (nos P. fasciatum) leva à cavidade do ventre. Em um exemplar examinado posteriormente, Reinhardt procurou em vão por esses poros da axila em ambos os lados do corpo. A cor é descrita por Valenciennes: as próprias listras brancas verticais dos lados da linha lateral não faltam. Reinhardt descreve um exemplar fresco do seguinte modo: o dorso é marrom-acinzentado com reflexos amarelados de brilho metálico em toda sua extensão e na superfície da cabeça; a garganta é branca como o ventre; os lobos da nadadeira caudal são uniformemente marrom-acinzentados, sem manchas, como no exemplar trazido para a Dinamarca; a nadadeira anal é acinzentada; a fina pele entre os raios das nadadeiras peitoral e ventral é branco-acinzentada; as manchas do corpo são mais densas que no exemplar do Museu; a íris é acinzentada com um fraco brilho dourado, que se torna mais forte perto da pupila, quase como se esta fosse um anel dourado-avermelhado de um milímetro de largura. Um dos pescadores de cujos serviços Reinhardt se utilizou distinguia dois tipos de sorubins entre aqueles que ocorriam no Rio das Velhas: um com manchas menores e mais densas (segundo ele, a fêmea) e um com manchas grandes mais espalhadas (macho?). Em razão disso, Reinhardt examinou uma grande série de exemplares com manchas menores, mas constatou que, ao contrário, todos eles eram machos; mais tarde ele examinou também uma fêmea muito grande, pesando 18 71, com cabeça incomumente grande, mas não notou qualquer diferença no tamanho das manchas ou em sua posição com relação aos machos anteriormente examinados. De acordo com o que foi dito a Reinhardt, os indivíduos grandes que, como mencionado anteriormente, recebem o nome de loango, sempre são fêmeas. Reinhardt menciona, finalmente, que os grandes indivíduos são relativamente mais gordos e têm cabeça mais larga; a partir de uma certa idade, parece, portanto, que o peixe cresce relativamente menos em comprimento e mais em largura, ficando mais grossos; dessa forma, as medidas relativas são muito alteradas. Pode-se adicionar ainda que esse peixe é parasitado por vários vermes internos; um dos tipos, aparentando ser um trematódeo, encontra-se em maior quantidade na barriga e na 69 Chama-se a atenção para isso, porque essa característica do gênero: nadadeiras ventrais situadas atrás da nadadeira dorsal não é constante; em P. Vaillanti elas estão abaixo dos últimos raios da nadadeira dorsal, assim como em Platystomatichthys. 70 NT: veja nota 37 ao pé da p NT: 18 libras dinamarquesas; 1 libra dinamarquesa = 500,45 gramas. 9 kg é considerado pouco para a espécie. Pode ter havido um erro tipográfico e faltado um L à frente do símbolo, o que tornaria a unidade em lispund (L ), medida de peso originária das terras ao norte da Lituânia, na costa do Mar Báltico, equivalente a 8 kg. Essa unidade podia ser utilizada como medida oficial na Dinamarca até Nesse caso, o exemplar teria a biomassa de 144 kg, compatível com os maiores exemplares da espécie. 57

58 superfície exterior do intestino; ele possui a aparência de um grão branco, com aproximadamente 1 /4 de comprimento; além desse, encontram-se outros bem maiores, espiralados, de aproximadamente 1 polegada de comprimento. (R.) Como o Prof. Reinhardt já mencionou em sua monografia sobre Stegophilus insidiosus, esse estranho pequeno bagre (que procura abrigo na cavidade branquial de nosso sorubim ) é uma das estórias de todos os pescadores mineiros, segundo a qual o surubim guarda seus filhotes sob o opérculo, até que estes alcancem um certo tamanho (alguns mencionam 1 1 /2 palmo, o que é um claro exagero). Esse esconderijo permite que os filhotes nadem em volta da mãe, mas, tão logo um perigo se aproxime, a mãe abre tanto seus opérculos quanto sua boca e os jovens se escondem lá dentro. Reinhardt conversou com um pescador que havia puxado o casonete para dentro da canoa e viu os jovens saírem do esconderijo; apesar disso, é mais raro encontrar filhotes na cavidade branquial, quando se pesca com anzol porque, quando o peixe luta e tenta se livrar do anzol, os filhotes normalmente saem; mas é mais fácil encontrá-los quando se pesca com rede. Um outro pescador contou a Reinhardt dois ou três casos, em que colocou filhotes capturados com sua mãe em um pequeno açude ou tanque, no qual, no curso de um ou dois anos, se transformaram em sorubins de 3 4 palmos de comprimento; certa vez houve ali uma séria briga porque o peixe foi pescado por outra pessoa que não o proprietário. O pequenino filhote já é manchado como a mãe. Alguns acrescentam que, quando a mãe deposita suas ovas, ela imediatamente procura abrigá-las na cavidade branquial 72, onde os ovos eclodiriam. Alguns afirmam que os sorubins copulam entre si e que no final se lançam para cima, barriga com barriga, de modo que uma parte do corpo sai fora d água. Um pescador, que Reinhardt considera pouco confiável, contou ainda ter visto que, quando a fêmea de sorubim lança suas ovas (como se fosse um bloco de muco), ela se vira e olha para elas ; fica então nas proximidades do local de desova e os choca com os olhos, como se expressou (R.). Talvez se possa depreender desse relato que a mãe (ou mais provavelmente o macho?) fica perto das ovas até que elas eclodam. Pela monografia já mencionada do Prof. Reinhardt, sabe-se que, como este pescador deveria provar sua afirmação de que o sorubim choca seu filhote (de acordo com o que ele disse, sempre somente um!) na cavidade branquial, os supostos filhotes de sorubim seriam aqueles pequenos bagres parasitas (Stegophilus insidiosus). Continua por enquanto, até certo grau, como uma questão em aberto, se todas aquelas estórias tiveram sua raiz nesse estranho comensalismo ; ou se o sorubim, apesar de tudo, choca seus ovos ou amadurece seus filhotes na boca ou nas brânquias, como se conhece de outros bagres. Não posso, naturalmente, dar qualquer contribuição para solucionar essa questão, mas gostaria de chamar a atenção para o fato de que todos os bagres sul-americanos e índicos, nos quais se constatou que os machos realmente abrigam os ovos na boca, logo depois de serem depositados e fertilizados, mantendo-os ali, depois de eclodirem, por um tempo suficientemente longo até que a grande bolsa vitelina esteja quase ou completamente absorvida, com uma única exceção, que se menciona abaixo, pertencem ao grupo de Arius (e não somente, como se pensou por certo tempo, às espécies de Arius, que possuem dentes do palato arredondados) 73. Relacionado à peculiaridade está o fato de que os óvulos dessas espécies são poucos em número 72 Isso seria difícil para a fêmea; mais compreensível seria se o macho o fizesse, apesar de não se poder compreender bem como a fertilização aconteceria a menos que, como alguns afirmam, ela aconteça através de cópula. 73 Arius fissus (Caiena), Günther, Catal. of fishes V. (1864) p. 172; A. Boakei e Layardi (Ceilão): Journal of Anatomy and Physiology vol. I (1867); Annals of natural history dezembro 1866, p. 473 (Turner, Boake 58

59 e de tamanho bastante excepcional; ao abrir-se o ventre da fêmea, encontra-se, além dos óvulos, que estão prontos para serem depositados na primeira oportunidade e que por isso alcançaram seu tamanho máximo ou estão próximos dele, um outro conjunto de óvulos de tamanho médio, que serão depositados no ano seguinte, além de um terceiro, que ainda está bem atrasado no desenvolvimento e assim por diante. Um cuidado similar com os filhotes também é encontrado nas espécies de Platystoma, o que poderia na falta de um testemunho direto sobre o caso ser tomado como prova no caso de encontrar-se na fêmea a mesma gradação no desenvolvimento dos óvulos e um semelhante tamanho extraordinário dos óvulos maduros; mas esse não é o caso (de acordo com Reinhardt, loc. cit. p. 84). Por outro lado, era de se pensar que óvulos menores e mais numerosos poderiam ser usados como suprimento dessa maneira. Nas estórias correntes entre os mineiros, não se pode explicar simplesmente que, por algum engano ou confusão, aquilo que eles conheciam sobre as espécies de Arius ou sobre os Chromides tenha sido transferido para os grandes Platystoma porque os Ariidæ e Chromides, como já mencionado, não ocorrem na bacia do Rio São Francisco. Futuros viajantes deverão dirigir sua atenção para essa lenda, apesar de sua veracidade ter sido altamente abalada pela crítica aguda e penetrante do Prof. Reinhardt. 12. Bagropsis Reinhardti Ltk. (prancha I, fig. 2) Foram estabelecidos 4 gêneros de Pimelodina com dentes no palato, focinho não muito alongado, sem raios (ossificações) na nadadeira adiposa e com 6 raios na nadadeira dorsal, além do raio duro, e também com barbilhão em forma de fio, os quais Günther que, apesar disso, não teve oportunidade de examinar nenhuma dessas espécies posteriormente condensou em dois: Piramutana (incluindo Pseudariodes), com o escudo de trás da cabeça (capacete) granulado e com longa nadadeira adiposa, e Piratinga (incluindo Malacobagrus), com cabeça nua e nadadeira adiposa de tamanho médio. O bagre que habita o Rio das Velhas, conhecido dos moradores pelo nome de mandi-bagre, parece não se ajustar a nenhum desses gêneros, sendo necessário, portanto, criar para este um novo gênero Bagropsis m. 74, por e Günther); A. barbus Lac. (Sul do Brasil): Archiv f. Naturgeschichte 1870, p. 70 (Hensel); 4 espécies de Bagrus ( Arius?) do Suriname (indeterminadas): American Journ. of Science vol. 76, 1859 (Wyman); A. subrostratus, gagora, sumatranus e Osteogeneiosus militaris (Índia): Proc. Zool. Soc. 1873, p. 70 (Day). Até agora existe somente a anotação histórica de que Bloch ( Allg. Natur. d. Fische, XI, p. 18) já encontrara em Ageneiosus militaris a boca cheia de ovos amarelos e, interpretando o fato indubitavelmente de modo correto, ele informou que esse bagre que não pertence ao grupo dos Ariina, mas ao dos Doradina estava com seus ovos na boca para protegê-los dos predadores. O relato de Schomburgk (Fishes of Guyana, I, pp. 114 e 194) sobre um grande Siluridæ com pés de comprimento, chamado lau-lau provavelmente um Platystoma, cujos filhotes nadariam em grandes cardumes em torno de sua grande cabeça e, sob perigo iminente, imediatamente procurariam abrigo em sua grande boca, deve, pelo mesmo motivo, ser encarado com suspeita o fato de os filhotes eclodirem no ventre materno, onde se poderia encontrá-los com um embrião tão desenvolvido que olhos, boca e nadadeiras são reconhecíveis. Com isso, deve-se lembrar que Kner ( Über den Flossenbau d. Fische, Sitzungsb. d. Akad. d. Wiss. Viena, vol. LXI, p. 814) em determinadas ocasiões menciona que ele recebeu do Museu de Hamburgo crias de um Pimelodus vivíparo do Brasil. 74 Percebi depois que Kner usou esse nome para uma subdivisão hipotética de Arius: as espécies que no palato somente possuem dentes no vômer. Mas tais espécies parecem não existir e há, portanto, somente uma pequena probabilidade de que venha a ser usado no grupo Arius, mesmo que se possa achar natural com o que absolutamente não concordo dividir o gênero Arius, que na minha opinião é um dos mais naturais que existem. 59

60 mais escrúpulo que se tenha em aumentar o número de gêneros em tais grupos, nos quais a natureza parece desafiar todas as tentativas de se organizarem bons gêneros. Bagropsis m. possui para resumir as principais características que não estão mencionadas acima corpo largo, cabeça deprimida, cuja largura é muito maior que sua altura, e os olhos, por isso, são um tanto voltados para cima; o capacete é recoberto de uma fina pele, mas seu delicado estriamento em forma de raios é visível sob esta; existem dois grupos de dentes no vômer e bem atrás destes um maior de cada lado, nos ossos palatinos; a nadadeira adiposa tem aproximadamente o dobro do tamanho da nadadeira anal. Ao se comparar essa característica com as descrições de Piratinga (reticulata Kn. e goliath Heck.), encontram-se as seguintes diferenças: a pele é lisa e não reticulada; a nadadeira adiposa é mais longa que nas formas mencionadas anteriormente; e os dentes do palato não formam uma placa contínua, mas 4 grupos bem separados. Apesar dessas discrepâncias, ousaria dizer que, levando em consideração seus hábitos, Bagropsis é o que mais se aproxima desse grupo; mas não pude fazer uma comparação direta. Pseudariodes (clarias Bl. e albicans Val. 75 ) e Bagropsis assemelham-se exatamente na distribuição dos dentes do palato (não estamos considerando que os dentes do vômer estão ausentes em muitos indivíduos de Pseudariodes) e por terem nadadeira adiposa muito longa, mas se distinguem porque Pseudariodes possui cabeça alta e comprimida, olhos localizados lateralmente e capacete completamente nu e fortemente granulado. Descrição. Os exemplares de mandi-bagre trazidos por Reinhardt do Rio das Velhas têm comprimento de 8 1 /2 12 polegadas. O comprimento da cabeça (até a abertura branquial) é contido 4 vezes no comprimento total (até a bifurcação da nadadeira caudal); sua maior largura, sobre o opérculo e à frente das nadadeiras peitorais, 6 vezes ou mais no comprimento total (até a ponta da nadadeira caudal bifurcada); sua maior altura nesse mesmo lugar (que é pouco menor que a maior altura à frente da nadadeira dorsal) é igual à metade do comprimento; a cabeça é, dessa forma, larga e deprimida, enquanto o corpo pode ser considerado grosso. Os olhos, cujo diâmetro (10 mm no exemplar maior, de 1 pé de comprimento) é contido 7 vezes na largura da cabeça e 2 vezes na menor distância entre eles (largura da testa) (nos exemplares mais jovens são relativamente um pouco maiores), voltam-se um pouco para cima; e estão um pouco mais perto da borda dos opérculos que da ponta do focinho. As narinas anteriores têm a forma de um tubo curto ou um bico; as posteriores são providas à frente de uma pequena aba; a distância entre as anteriores é igual ao diâmetro dos olhos e um pouco maior que a distância entre as anteriores e as posteriores do mesmo lado, mas um pouco menor que a distância entre as duas de trás, que, por sua vez, é um pouco menor que a distância entre estas e os olhos. A testa é larga e chata com uma pequena depressão rasa no meio, entre os olhos; o processo occipital, muito estreito, o escudo pré-dorsal (na base da nadadeira dorsal), estreito e triangular. A delicada superfície estriada em forma de raios da testa, no topo do crânio e do processo occipital, aparece mais ou menos claramente sob a fina cobertura de pele; também o opérculo é radiado e o processo escapular (acima da raiz das nadadeiras peitorais), fortemente estriado. A abertura da boca é igual à metade do comprimento da cabeça; a maxila superior avança à frente da inferior meio diâmetro dos olhos. A primeira tem uma faixa larga, enquanto a segunda tem uma faixa estreita de dentes viliformes, e atrás da maxila superior encontram-se dois pequenos grupos ovais de 75 Mostrei em outro lugar (Vid. Medd. f. d. naturh. Foren. 1874, p. 192) que Piramutana piramuta provavelmente é genericamente diferente de Pseudariodes e que as espécies do norte e do sul desse gênero foram fundidas em uma só com o tempo. Os Bagropsis são, todavia, mais diferentes de Piramuta que de Pseudariodes. 60

61 dentes do vômer; bem atrás deles ocorrem dois grupos semelhantes de verdadeiros dentes palatinos, mas muito maiores (apesar de o tamanho variar em diferentes indivíduos). Os barbilhões superiores são fortemente constituídos e alcançam a ponta das nadadeiras ventrais (nos exemplares mais jovens a nadadeira caudal); o segundo par alcança o vão das axilas (ou a ponta) das nadadeiras peitorais e o terceiro a abertura branquial (ou a raiz das nadadeiras peitorais). O raio duro da nadadeira dorsal, que não é grosso, mas duro, é levemente serrilhado atrás de sua parte superior, mais longo que metade do comprimento da cabeça, não considerando a extensão mole; o comprimento dessa mesma nadadeira (ao longo de sua base) é igual ou mais curto que a distância até a nadadeira adiposa e mais curto que esta última, cujo comprimento é quase igual a ou um pouco maior que o dobro da nadadeira anal. O raio duro da nadadeira peitoral é curvo, rígido, muito largo e fortemente serrilhado na parte de trás. Número de raios: B.: 10; D.: 7 (1. 6); P.: 11 (1. 10); V.: 6; A.: 11 (3. 8). A cor dos exemplares conservados em álcool é em geral marrom, tendo o ventre e a parte de baixo um tom amarelo-latão; somente no exemplar maior existem manchas claras no corpo e em parte da cabeça; estas, pouco acima da linha lateral, juntam-se parcialmente em uma longa faixa. Sobre a cor desse mesmo exemplar ainda fresco, tem-se a seguinte anotação: No dorso a cor básica é esverdeada, com fortes reflexos amarelos, e o ventre é branco como porcelana, as duas áreas muito nitidamente separadas uma da outra. Na superfície da cabeça e em toda a parte de trás do corpo, encontram-se pequeninos pontos negros, os quais, descendo para os lados, diminuem em número até sumir, de modo que o ventre não é manchado; as nadadeiras dorsal, adiposa e caudal são amareladas com uma fina borda preta; a primeira tem ao longo da base um ponto preto na membrana entre os raios, a cada dois raios; as outras duas não possuem manchas; as nadadeiras peitorais são, igualmente, amareladas, embora mais claras e com uma grande faixa escura ao longo do comprimento no intervalo entre os raios, mas que não alcança suas pontas. As nadadeiras anal e ventrais se parecem com as peitorais na cor, mas são muito mais pálidas, principalmente a anal (R.). 13. Conorhynchus conirostris (Val.) Pimelodus conirostris Val., hist. nat. d. poiss., vol. XV, p. 204, prancha Conorhynchus conirostris Günther, Cat. V, p Reinhardt trouxe do Rio das Velhas 2 exemplares desse peixe impressionante (20 e 21 polegadas de comprimento), além de metade de uma pele e o esqueleto de um exemplar um pouco maior (28 polegadas) do Rio São Francisco. O exemplar do Museu de Paris (20 polegadas de comprimento) também foi trazido deste último rio por Aug. de St. Hilaire; o do Museu de Londres (29 polegadas) do afluente do Rio das Velhas mencionado anteriormente, Rio Cipó. Na Lagoa Santa não é encontrado. Seu nome brasileiro, pirá-tamanduá ou peixe-tamanduá, se deve à semelhança entre as formas da cabeça desses animais. No Rio São Francisco é muito comum e se pesca com uma rede de mão, a qual se estende na forma de uma tela redonda quando é lançada (NT: tarrafa). Reinhardt viu no total 3 exemplares do Rio das Velhas (de fevereiro a março) e, portanto, está inclinado a acreditar que o peixe anualmente, na época mencionada, sobe o Rio das Velhas, apesar de seu verdadeiro lar ser 61

62 o Rio São Francisco. É pescado em geral em rede ou pari, mas o primeiro exemplar que Reinhardt obteve foi pescado com anzol. O intestino era longo e estava cheio de terra. Como a espécie é detalhadamente descrita por Valenciennes, será necessário apenas complementar essa descrição com pequenos comentários que, em parte, a corrigem ou restringem. Em nenhum dos exemplares do Museu existem traços de dentes, e eu pensaria ter sido incorreta a menção a eles em Conorhynchus, não fosse Reinhardt ter felizmente relatado que o primeiro exemplar que lhe foi trazido (mas que não chegou a este Museu) tinha alguns poucos dentes muito finos na maxila superior e nenhum na inferior. O comprimento da cabeça é algo maior que um quarto do comprimento total (nadadeira caudal incluída) e sua largura, igual à sua altura acima dos olhos ou à metade de seu comprimento. A maior altura do corpo (à frente da nadadeira dorsal) é insignificantemente menor que o comprimento da cabeça (até a abertura branquial). O comprimento do processo occipital da cabeça é mais ou menos igual ao dobro de sua largura na base e do comprimento da placa triangular à frente da nadadeira dorsal. O diâmetro dos olhos é de um sexto a um sétimo do comprimento da cabeça, um quarto do comprimento do focinho (distância até a ponta do focinho), a metade ou dois quintos da distância até a abertura branquial ou daquela contida entre os olhos. O primeiro par (superior) de barbilhões alcança até quatro quintos da distância do focinho aos olhos; o terceiro par é somente a metade disso. O comprimento do raio duro das nadadeiras peitorais é entre um sexto e um sétimo do comprimento total; as nadadeiras ventrais não são tão longas como as peitorais. A linha lateral é bonita e ricamente ramificada. O número de raios é: D: 7 (1. 6) (não 8!); P.: 11-12; V.: 6; A.: (3. 15 ou 3. 17, o último raio profundamente bifurcado). O peixe vivo é de um belo azul claro ou celeste por cima e branco por baixo. 14. Pimelodus maculatus Lac. (?).? Valenciennes, loc. cit. p. 192; Günther, loc. cit. p. 115; Kner, Ichthyol. Beiträge loc. cit. p Mesmo que não se queira manter o gênero Pimelodus com a abrangência que aparece, por exemplo, em Günther, que desconsiderou os gêneros nos quais Bleeker o tinha dividido aspecto a que mais à frente eu voltarei, o nome do gênero Pimelodus de Lacepède é, mesmo assim, mantido para esse grupo, no qual P. maculatus Lac. se encaixa; essa espécie tem, além do mais, de continuar a ser o tipo do gênero. Infelizmente ela foi somente citada, mas não descrita, por Valenciennes e somente caracterizada por Kner e Günther. O que foi dito sobre ela por esses autores se aplica em tudo a um Pimelodus chamado mandi ou mandi-amarelo em Lagoa Santa, do qual Reinhardt trouxe 13 exemplares do Rio das Velhas e da Lagoa Santa. Se não existirem mais espécies misturadas sob esse nome, esta deve estar espalhada por uma grande parte da América do Sul; o Museu de Paris a obteve de Buenos Aires, Caiena e do lago Maracaíbo; de acordo com D Orbigny, ela ocorre no Prata, Paraná e Uruguai até a latitude 26 sul (se ocorre mais ao sul não se sabe); Natterer a trouxe (pelo que conta Kner) de vários lugares do Brasil (Irisanga, no Mato Grosso 76, Rio Branco e Barra do Rio Negro); além disso, o British Museum a tem do Suriname e Demerara, do Rio Capim, Pará, de Barranquilla (Nova Granada), e, finalmente, Hensel a encontrou como espécie comum no Sul do Brasil, no Rio Jacuí e seus afluentes. Que Valenciennes relacione 76 NT: Irissanga é localidade do Estado de São Paulo, na bacia do Rio Grande. 62

63 essa espécie a uma das formas retratadas por Marcgraf, a qual, segundo Piso, é comum no Rio São Francisco, está bem de acordo com minha própria determinação do mandi que ocorre no Rio das Velhas 77. Tenho, entretanto, de enfatizar algumas pequenas discrepâncias entre esta e as descrições acima citadas, que nessas circunstâncias, presumivelmente, não são suficientemente grandes para levantar conjecturas bem fundadas sobre uma diferença específica entre as formas descritas pelos autores, quer seja entre si ou entre estas e aquelas à nossa disposição. Günther descreveu o processo occipital como uma quilha arredondada ; daí que, provavelmente, ela não seja suficientemente pronunciada; melhor seria descrevê-lo em forma de telhado ou arqueado. Também não se pode dizer que essa projeção seja muito longa ou larga. O escudo pré-dorsal, na forma de sela à frente da nadadeira dorsal, foi descrito por Günther como grande, enquanto Kner o descreveu como pequeno e muito estreito. O barbilhão da maxila superior não é tão longo quanto o comprimento total do peixe (Günther), mas em média vai um pouco além da parte posterior da nadadeira ventral ou alcança a nadadeira anal. Ao contrário, é correto que a nadadeira adiposa tenha o comprimento aproximadamente igual a um quinto do comprimento total (sem a nadadeira caudal). O raio duro da nadadeira dorsal é insignificantemente maior que a própria nadadeira dorsal e muito mais curto (um quinto a um sexto) que a cabeça não tão longo quanto, o que dizer de maior que esta (como nas descrições de Günther), mas, por outro lado, somente nos exemplares maiores mais curto que a maior altura do corpo (Kner). (Quanto mais jovem o peixe, mais alongado ele é; quanto mais velho, mais grosso e alto; a altura à frente da nadadeira dorsal é, dessa forma, quase igual ao comprimento da cabeça no nosso maior exemplar 78, e somente dois terços dele no nosso menor exemplar.) O raio duro da nadadeira dorsal é rígido, fracamente serrilhado atrás, em sua parte superior, em geral reto, raramente fracamente encurvado (Kner); o da nadadeira peitoral é plano, largo, estriado, um pouco áspero, mas não serrilhado na parte da frente, ao contrário, fortemente serrilhado na parte de trás (de acordo com Kner, esse carácter deveria ser apenas medíocre ). De acordo com o mesmo autor, a parte do escudo da testa, que limita a fontanela (a qual alcança além de uma linha imaginária ligando as bordas posteriores dos olhos), é enrugada no sentido paralelo ao comprimento; provavelmente esse aspecto se acentua nos exemplares secos. Da linha lateral partem sem dúvida curtos tubos duplos para baixo, mas estes são tão curtos que, junto a eles, a linha lateral fica apenas levemente irregular. Ainda se pode adicionar que a parte dianteira do capacete, uma parte do escudo pré-dorsal, uma parte do processo escapular e uma 77 O que me deixa mais inseguro nesse aspecto é que encontrei no Museu 3 filhotes (de 2 1 /2 até perto de 4 polegadas de comprimento) de uma espécie de Pimelodus do Rio da Prata eles foram trazidos pelo falecido Prof. Krøyer, que, entretanto, cometeu o erro de misturá-los ao seu próprio P. Valenciennis e, ao comparar esses exemplares que, todavia, devem ser considerados como pertencentes ao verdadeiro P. maculatus, com o exemplar mais jovem dos exemplares brasileiros, encontrei várias diferenças que não podem ser atribuídas ao fato de serem jovens. Eles têm dessa forma 11 (1. 10) raios nas nadadeiras peitorais e dois deles 13 (4. 9) raios na nadadeira anal (o terceiro 12: 4. 8); e todos três têm o processo escapular com outra forma e outra escultura (estriada, não granulada). Que o raio duro da nadadeira peitoral também à frente seja nitidamente serrilhado é mais uma diferença de idade que de espécie. É, portanto, possível que uma comparação imediata de grandes exemplares das bacias do São Francisco e do Prata levem à conclusão de que duas espécies bem distintas habitam cada uma destas. Por enquanto, porém, é preciso ater-se à determinação dada. 78 A figura de D Orbigny, que mostra que a altura é relativamente ainda maior, deve ter sido feita com base em um exemplar ainda mais velho. De acordo com D Orbigny, ele alcança apenas 15 polegadas de comprimento. 63

64 maior ou menor parte do opérculo são granuladas; que a nadadeira dorsal, quando abaixada, às vezes alcança com sua ponta a nadadeira adiposa; que a parte superior da nadadeira caudal, como em muitos outros Siluridæ, é um pouco mais longa que a inferior; e que o diâmetro dos olhos é contido 6 vezes ou um pouco mais no comprimento da cabeça, mas, somente no maior dos exemplares, 2 vezes e um pouco mais na distância entre eles. Diferentemente de P. ornatus Kn., deve-se anotar ainda que o focinho é relativamente estreito, que a abertura da boca é menos larga, que a faixa de dentes em ambas as maxilas, mas principalmente na superior, é muito mais estreita e não é mais larga nos lados. As nadadeiras ventrais localizamse em ambas as espécies abaixo do último raio da nadadeira dorsal. Número de raios: D: 7 (1. 6); P: 10 (1. 9); V: 6; A: (4. 7, raramente 8). Tamanho: Reinhardt menciona um exemplar com 450 mm (17 1 /4 polegadas); o maior que foi trazido tem 16 1 /2 polegadas. A cor dos exemplares conservados em álcool é marrom-acinzentada, com duas ou três séries mais ou menos nítidas às vezes quase apagadas de grandes manchas ao longo dos lados do corpo e com a parte de baixo esbranquiçada ou amarela como latão. Com a idade, parece que as manchas ficam um pouco mais numerosas e menores. A nadadeira dorsal pode também mostrar traços de manchas. Uma das retratações de um peixe vivo, feita pelo Prof. Burmeister durante sua estada em Lagoa Santa (da qual a litografia da figura anterior foi feita), mostra como cor básica o amarelo-sujo ou amarelo-cinza com 4 fileiras de manchas pretas e a parte de baixo branca. Reinhardt anotou que o brilho dourado que se espalha sobre o peixe pode ser raspado, e o fundo se mostra de uma cor cinza-prateada; na borda frontal das nadadeiras ventrais e na nadadeira anal (principalmente nesta última) encontra-se uma viva mistura de cor laranja-avermelhada. O brilho dourado também se espalha no mínimo pela parte posterior do ventre e pela parte de baixo da cauda; quando este brilho é retirado, estas partes ficam brancas como a parte anterior do ventre. O mandi-amarelo é encontrado não só no Rio das Velhas, mas também no lago (Lagoa Santa). No outono, o peixe deixa o lago em densos cardumes, através do riacho que serve de escoadouro para este; se o peixe retorna em outra estação do ano, não se sabe; mas é avidamente pescado em sua viagem, quando desce o pequeno riacho. No dia 10 de fevereiro de 1855 os mandis estavam saindo do lago, que ficou muito cheio após uma chuva inco- 64

65 mumente forte; foram caçados com rede, anzol, cestos e até mesmo com varas, enquanto eles estavam retidos na parte cheia de junco do lago, onde se situava sua saída. Vários foram capturados, embora não fossem muitos em relação à grande quantidade de peixes que se movimentavam juntos para sair do lago, talvez para depositar suas ovas nas águas correntes do rio; um exemplar que Reinhardt ganhou nessa ocasião era uma fêmea com o ovário fortemente aumentado. Como a época de reprodução ocorre em janeiro e fevereiro, podemos explicar também porque o macho examinado em 8 de fevereiro possuía a vesícula seminal cheia de esperma, cujos espermatozóides se movimentavam vivamente; na fêmea examinada em 27 de fevereiro encontraram-se ovários notavelmente grandes, com óvulos brancos do tamanho da cabeça dos menores alfinetes entomológicos, misturados a outros muito pequenos, muito mais numerosos, invisíveis a olho nu. Reinhardt relata, em seguida, que a fêmea do lago anteriormente mencionada era relativamente mais curta e mais cheia que os mandis que habitavam o rio e tinha sua cabeça manchada, assim como o corpo, o que não é a regra entre estes; também a nadadeira adiposa era manchada. Reinhardt acredita que a longa permanência em águas paradas porque podem passar vários anos sem que a lagoa se encha tanto que permita sua saída pode explicar essas pequenas diferenças. Reinhardt ganhou depois um mandi (9 polegadas de tamanho) totalmente sem manchas e um menor com muito poucas manchas; e em duas fêmeas capturadas ao mesmo tempo no Rio das Velhas ele encontrou uma apreciável diferença nas proporções, já que a mais longa era relativamente mais fina e tinha o focinho mais largo, arredondado, um pouco obtuso, a menor, mais rechonchuda, tinha o corpo um pouco mais curto em relação à cabeça, e esta, sendo mais fina, terminava em um focinho fortemente curvado para frente; a diferença não era muito grande, mas bem apreciável, quando se comparavam os peixes diretamente um ao lado do outro. Finalmente, Reinhardt esclarece que a razão pela qual a barriga nos mandis capturados frequentemente estivesse cheia de uma espécie de Polistes é que são freqüentemente pescados em armadilhas, nas quais se coloca como isca um ninho de vespas. Apesar do fato de este ficar na água, as pupas completam o seu desenvolvimento nas celas fechadas e amadurecem com o tempo; tão logo os mandis as percebem, entram nas armadilhas e as comem, à medida que estas vão saindo. Reinhardt supõe, porém, que, embora raramente, também se poderiam encontrar Polistes em sua barriga sem a necessidade de ajuda humana, pois várias dessas vespas constroem seus ninhos no junco e, dessa forma, de vez em quando poderiam ser presas dos mandis. 15. Pimelodus Westermanni Rhdt. (pranchas II e III, fig. 4) Se, como necessariamente ter-se-á de fazê-lo, o gênero Pimelodus for limitado às espécies (Seção A de Günther) que possuem cabeça em forma de carapaça ( granulada ), cujo processo occipital se encontra com o escudo pré-dorsal em forma de sela à frente da nadadeira dorsal, e um raio duro relativamente forte e rígido à frente desta, a série pode bem começar com P. ornatus Kner, de focinho especialmente largo, na qual a faixa de dentes, particularmente na maxila superior, tem uma largura muito pronunciada; depois vem a recémmencionada P. maculatus Lac., na qual o focinho já é mais estreito e, em concordância com ele, a faixa de dentes, especialmente na maxila superior, é muito mais estreita em ambos os aspectos (no comprimento e na largura); nesses dois aspectos, P. Valenciennes Kr. (do 65

66 Rio da Prata), que descrevi em outro lugar, novamente dá um passo além; mas esta tem uma posição excepcional na série, pelo fato de a nadadeira adiposa ser relativamente curta, pouco maior que a nadadeira dorsal e não maior que a anal, a qual, por outro lado, é maior e constituída de um número maior de raios (4+13) que em P. labrosus Kr. (também do Rio da Prata) e P. Westermanni, mesmo que a nadadeira adiposa aqui seja de um tamanho maior; mas o que especialmente marca essas duas espécies, e tanto que, talvez, se devesse separá-las como um gênero distinto, se isso não fosse considerado uma continuação direta do desenvolvimento seguido pelas espécies anteriores, é o focinho estreito, quase em forma de um cone pontudo, a boca constrita, os lábios largos e a arcada dentária extremamente fraca em P. Westermanni, esta é completamente inexistente na parte de cima da boca, o que é uma evidente aproximação de Conorhynchus. Seria, porém, ainda menos natural incluir essas espécies em Conorhynchus, com uma nadadeira adiposa notavelmente pequena, barbilhões curtos, etc.; seu lugar natural é no final do verdadeiro gênero Pimelodus, mais perto do bagre-tamanduá, mas parece-me também que o gênero Pimelodus (strictu sensu), com a assimilação dessas novas formas, ganha tanto em conteúdo 79 de formas, que se torna duplamente natural limitá-lo nesse aspecto 80 e eliminar as demais subdivisões do gênero mais antigo. Descrição. A forma é afilada, cabeça e corpo algo comprimidos, o focinho estreito, um pouco alongado, com perfil curvo, terminando em uma boca pequena, constrita e voltada para baixo, circundada de todos os lados por lábios livres, voltados para trás e um pouco entumescidos; o comprimento da cabeça é um quarto do comprimento total (sem a nadadeira caudal, um quinto com esta), sua largura a metade de seu comprimento; sua maior altura é igual ao comprimento do raio duro da nadadeira dorsal. A cabeça é parcialmente coberta com uma pele fina e macia, mas a maior parte do chamado capacete, incluída entre a borda posterior dos olhos e o processo occipital, há que se dizer que é nua; essa parte da cabeça é ainda fracamente estriada e granulada; também o curto e largo processo escapular tem uma escultura mais ou menos forte, e no opérculo vê-se um delicado estriamento; o processo occipital tem a forma comum estreita, arqueada e triangular e se situa imediatamente adjacente ao escudo pré-dorsal, que é estreito e granulado na frente. Os olhos voltam-se mais para o lado; seu diâmetro é aproximadamente um quinto do comprimento da cabeça, um pouco menor que a distância entre eles; a fontanela se estende em ponta para a frente e atrás é larga, alinhada com a borda de trás dos olhos; as narinas posteriores situam-se a meio caminho entre a borda anterior destes e a ponta do focinho. Não há traços de dentes na 79 NR: A palavra conteúdo, apesar de ser a tradução literal do original, parece não refletir bem o que Lütken quis expressar. A palavra número parece expressar melhor. 80 Suas características seriam então: Cabeça em forma de capacete, granulada; processo occipital atingindo o escudo pré-dorsal (osso interespinal em forma de sela); raio duro da nadadeira dorsal forte, rígido. a) Focinho muito largo; área dentífera intermaxilar muito larga; nadadeira adiposa um pouco longa. 1. Pimelodus ornatus Kn. b) Focinho de largura média; área dentífera intermaxilar mais estreita. 1. Nadadeira adiposa um pouco longa: 2. P. maculatus Lac. 2. Nadadeira adiposa curta: 3. P. Valenciennes Kr. c) Focinho atenuado, estreito, pontiagudo, quase cônico, boca diminuta, lábios dilatados, poucos dentes; nadadeira adiposa alongada. 1. Presença de dentes intermaxilares: 4. P. labrosus Kr. 2. Ausência de dentes intermaxilares: 5. P. Westermanni Rhdt. 66

67 parte superior da boca, e na inferior há somente uma faixa curta e estreita, interrompida no meio (ou, se se preferir, dois grupos de dentes muito pequenos, quase invisíveis, separados um do outro, um de cada lado da sínfise). O raio duro da nadadeira dorsal é bastante forte, um pouco curvado, pontudo, liso na frente, serrilhado atrás, especialmente na sua parte superior; seu comprimento é a metade de sua distância até a ponta do focinho, um quinto mais longo que o das nadadeiras peitorais, que normalmente é mais largo e nitidamente dentado, ao longo tanto da borda frontal como da posterior. A distância entre as nadadeiras dorsais é maior que o comprimento da primeira, mas muito menor que o da segunda (o da nadadeira adiposa), que tem mais que o dobro do tamanho da nadadeira anal; sua maior altura ocorre atrás da nadadeira adiposa. Existe um grande espaço entre a ponta das nadadeiras peitorais e as ventrais, e entre estas e a nadadeira anal. Os barbilhões superiores alcançam até a raiz da nadadeira caudal ou ainda até a sua bifurcação, o segundo par até a raiz das nadadeiras peitorais, o terceiro até a abertura branquial, ou quase. Número de raios: D.: 7 (1. 6); P.: (9); V.: 6; A.: (4. 8 9). Tamanho: até 9 1 /2 polegadas. A cor é amarronzada em cima, raramente com fracos traços de manchas, branco-prateada ou dourada embaixo. No peixe vivo a cor é descrita do seguinte modo: Ele tinha um brilho prateado puro por todo o corpo, ficando um pouco mais cinza sujo somente nas costas, onde se encontram algumas poucas manchas pequenas ou, melhor dizendo, respingos, quase apagados e pouco nítidos; as nadadeiras dorsal, caudal e adiposa são claras, esbranquiçadas, delicadamente margeadas de preto, as nadadeiras peitorais, ventrais e anal são branco-amareladas. Uma outra anotação soa assim: A cor é verde-oliva por cima, ficando gradativamente mais clara descendo pelos lados, até tornar-se branca no ventre; a parte de cima é densamente ocupada com pequenas manchas escuras, que começam logo atrás da cabeça. Do brilho dourado, muito comum no corpo da maioria das espécies, quase não havia traços; todavia, é possível que tenha sido retirado por esfregamento. As nadadeiras ventrais e anal são de cor amarelo-pálida, a nadadeira caudal também, com vários raios escuros, acinzentados, principalmente no lobo inferior, e com uma estreita e escura moldura ao longo da borda. (R.) Reinhardt trouxe 5 exemplares desse peixe do Rio das Velhas; ele se chama no Brasil papa-isca-açu ou comedor de iscas grande, possivelmente devido à sua semelhança com a espécie apresentada a seguir. No final de janeiro, as fêmeas têm os ovários repletos de óvulos do tamanho da cabeça de um alfinete. 16. Pseudorhamdia fur (Rhdt.) (pranchas II e III, fig. 3) Pimelodus fur Rhdt. (in sched.) Apesar de os Pimelodus do segundo grupo (B) de Günther que são caracterizados pelo fato de a cabeça não ser granulada (uma vez que o crânio, incluindo o capacete, é coberto com uma pele mais ou menos fina), e de terem o processo occipital em ligação direta com o escudo pré-dorsal à frente da nadadeira dorsal fazerem a transição entre as formas mencionadas anteriormente (grupo A), para as quais manteremos o nome Pimelodus, e o grupo C ou subgênero Rhamdia, no qual a cabeça também é coberta com uma pele macia e mais ou menos espessa, mas cujo processo occipital não alcança o escudo pré-dorsal, será provavelmente mais correto manter essas 3 seções ou subgêneros separados uns dos outros como gêneros verdadeiros, desde que não existam formas intermediárias que tornem 67

68 impossível manter tal separação. Mas há que se reconhecer que, em termos de aparência, a espécie sob consideração está em vários aspectos tão próxima de Pimelodus Westermanni, que tal semelhança levanta sérias dúvidas se é natural ou não separá-las em dois gêneros ou subgêneros diferentes, apenas porque P. fur tem o capacete e toda a cabeça recobertos com uma pele macia. Por outro lado, essa forma não poderá, por essa razão, ser separada como um gênero ou subgênero à parte de P. lateristriga e espécies similares do grupo B, que, em aparência, desviam muito dos verdadeiros Pimelodus (A) e se assemelham totalmente a Rhamdia (C). Para esse grupo B (talvez delimitado mais artificialmente que naturalmente) deve-se manter o nome Pseudorhamdia (Blkr.), não importando que originalmente (segundo Bleeker) tenha compreendido tanto B como A (Pimelodus m.). Devo fazer ainda uma mudança em uma característica desse grupo; o raio duro da nadadeira dorsal não deve ser denominado fraco ; embora seja relativamente mais fraco que nos verdadeiros Pimelodus (do grupo A), ele ainda é, por outro lado, perfeitamente rígido, enquanto em Rhamdia é comparativamente mais fino e flexível. Parece, dessa forma, haver uma relação compreensível entre o desenvolvimento desse raio duro e o processo occipital; se este se encurta, o raio duro da nadadeira dorsal enfraquece, e vice-versa. P. fur é chamado no Brasil papa-isca ou come-isca, porque ele come a isca que se prepara para outros peixes. É encontrado no Rio das Velhas, não na lagoa. Sua grande semelhança, na aparência geral, com espécies anteriores já foi mencionada. Descrição. Tanto a cabeça como o corpo são um pouco comprimidos, sendo o focinho mais estreito que largo e a boca, de abertura média; a faixa de dentes na parte superior da boca (que se projeta como ponta acima da parte inferior) é mais estreita (de lado a lado) e comprida (da frente para trás) que na parte inferior da boca; existe um lábio dobrado, livre, envolvendo quase toda a boca, à exceção do meio do focinho (entre as narinas anteriores) e de uma parte correspondente sob a sínfise da maxila inferior; as narinas posteriores situam-se um pouco mais próximas das anteriores que dos olhos. Toda a cabeça é coberta com uma fina pele macia; não existe, portanto, qualquer granulação visível, nem mesmo no opérculo (onde algumas das assim chamadas veias se tornam visíveis), e há somente traços dessa nos ossos pontudos e triangulares da larga região escapular. O comprimento da cabeça é contido cerca de 5 1 /2 vezes no comprimento total (até a ponta do lobo superior da nadadeira caudal profundamente bifurcada, não chegando a 4 1 /2 vezes até a base dessa nadadeira); sua maior altura é um pouco menor que o comprimento da cabeça, sua maior largura quase dois terços do mesmo. O olho é voltado meio para cima, meio para o lado e fica um pouco mais distante da ponta do focinho que da abertura branquial; seu diâmetro é exatamente igual à largura da testa (o espaço contido entre eles) e é contido 4 1 /3 vezes no comprimento da cabeça. A fontanela é pouco nítida; sua extensão corresponde aproximadamente à dos olhos. O processo occipital tem a forma normal triangular, de telhado arqueado, e entra em contato direto com o escudo pré-dorsal; também a forma deste nada apresenta de excepcional. O raio duro das nadadeiras dorsal e peitorais são do mesmo tamanho (três quartos do comprimento da cabeça): o primeiro é bastante grosso, rígido e pontudo, quase reto, liso na parte da frente e fortemente serrilhado na parte traseira superior; o segundo é serrilhado na parte de trás até a ponta. O comprimento da nadadeira dorsal é aproximadamente igual à sua distância da nadadeira adiposa, que é mais alta no meio e duas vezes mais comprida, ou mais, que a nadadeira anal; existe uma grande distância entre esta e as pontas das nadadeiras ventrais, bem como entre estas e as nadadeiras peitorais. Abaixada, a nadadeira dorsal não alcança, nos exemplares adultos, a nadadeira adiposa. Os barbilhões mais longos alcançam a base da 68

69 nadadeira caudal, o segundo par estende-se até as nadadeiras peitorais, o terceiro até a base destas. Tamanho: até 8 3 /4 polegadas. Os exemplares mais jovens disponíveis (2 3 /4 polegadas de comprimento) são relativamente um pouco mais curtos (tendo a cabeça um quinto do comprimento total), a nadadeira dorsal abaixada quase alcança a nadadeira adiposa, esta não atinge o dobro do tamanho da nadadeira anal, o olho é relativamente maior (mais largo que a testa e mais que um quarto do comprimento da cabeça), etc. Número de raios: D.: 7 (1. 6); P.: 11 (1. 10); V.: 6; A.: 14 (4. 10). A cor: amarronzado, com manchas pequenas e difusas na parte de cima, mais claro na parte de baixo; uma sombra escura na borda das nadadeiras dorsais. O desenho manchado é talvez mais nítido nos exemplares mais jovens de não menos que 4 1 /2 polegadas de comprimento; ao contrário, tanto nos ainda mais jovens como em poucos dos mais velhos, as manchas desaparecem. (Não se possui anotação de cor de peixe vivo.) Uma fêmea com 5 polegadas de comprimento já tem o ventre cheio de óvulos. 17. Pseudorhamdia lateristriga (Müll. Tr.) Pimelodus lateristriga M. Tr., Horæ Ichth. III, p. 3; Günther Cat. V, p Este bagre, que vive no Rio das Velhas e que os brasileiros chamam de xué (chué) ou lambari, corresponde perfeitamente à descrição feita em Horæ Ichthyologicæ de um peixe enviado por Olfers provavelmente do sul do Brasil para o Museu de Berlim. Também Hensel obteve, perto de Porto Alegre, no sul do Brasil, 5 exemplares de um peixe, que se assemelha muito ao exemplar original de P. lateristriga, embora a listra lateral escura em todos os 5 fosse pouco evidente 81. Além disso, Cope obteve do Rio Ambyacu 82 (que se diz desaguar no Maranhão, perto de Pebas, no Equador oriental) uma espécie que ele denomina P. lateristriga, mas que, segundo ele, se desvia um pouco da descrição de Günther por ter barbilhões mais compridos (os da maxila superior alcançam três quartos do comprimento da nadadeira adiposa, os da maxila inferior até a ponta dos raios externos das nadadeiras peitorais), e por ter um raio a menos nas nadadeiras dorsal e anal (D: 1. 6; A: 11). Devido à grande distância geográfica há, portanto, razão para supor que a espécie que vive no Rio Ambyacu é diferente das que vivem no Rio das Velhas e no sul do Brasil. Sobre essa espécie Reinhardt comenta que a ponta do espinho da nadadeira dorsal causa ferimentos muito dolorosos; o local ferido incha-se como se fosse picado por uma vespa. É necessário fazer algumas anotações à descrição feita em Horæ Ichthylogicæ : existem exemplares em que o raio duro da nadadeira dorsal não tem qualquer serrilha na parte da frente, mas esta, ao contrário, frequentemente possui uma serrilha mais ou menos nítida na parte de trás; as pontas das nadadeiras ventrais alcançam em geral até abaixo do início da nadadeira adiposa, ao passo que a ponta da nadadeira anal não alcança o fim da mesma. Os barbilhões também são normalmente um pouquinho maiores do que é relatado pelos ictiólogos de Berlim. À descrição de Günther devo acrescentar que o comprimento da cabeça é um pouco maior que um quinto do comprimento total (sem nadadeira caudal) e o fino, 81 Os exemplares maiores de Hensel eram um pouco menores que os nossos maiores: 3 1 /3 polegadas sem a nadadeira caudal (com esta, um pouco mais de 4 polegadas). De que parte do Brasil são os exemplares do Museu de Londres não foi informado. 82 Provavelmente Amuyuca, que deságua no Maranhão um pouco abaixo do Rio Napo, entre este rio e a cidade de Pebas, no território peruano. 69

70 porém rígido e perfurante, raio duro da dorsal está mais próximo de dois terços que de três quartos do comprimento da cabeça, mas ele é menor que o raio duro da nadadeira peitoral, que é um pouco mais largo e curvo; Günther não menciona que este último, na parte de trás, somente é serrilhado na sua metade basal; à frente é fracamente ondulado na sua parte basal e fortemente serrilhado na distal. A nadadeira dorsal não tem qualquer faixa transversal branca, mas é totalmente clara. Aqui será ainda necessário adicionar apenas que a cabeça é completamente coberta com uma pele fina e macia, que também cobre os ossos lisos e pontudos do processo escapular; e que a nadadeira dorsal, cujo comprimento não ultrapassa a parte ossificada do raio duro, é tão alta que, frequentemente, quando abaixada, alcança completamente até a nadadeira adiposa que, no mínimo, tem o dobro do tamanho das nadadeiras dorsal e anal. O focinho é afilado, a boca de tamanho médio, as faixas de dentes das maxilas nada têm de excepcional, quanto a serem largas ou estreitas demais. Os machos diferenciam-se externamente das fêmeas por uma papila genital bastante longa e fina. O tamanho alcança 5 1 /2 polegadas. O número de raios que encontrei é um pouco diferente do que encontraram meus antecessores: A: 7 (1. 6); P: 10 (1. 9); V: 6; A: 13 (4. 9). A cor é (nos peixes conservados em álcool) marrom-chocolate mais claro ou mais escuro, estando presente a listra lateral escura mencionada pelos autores anteriores. Reinhardt descreve a cor do animal vivo do seguinte modo: o peixe é como se fosse metade de um prateado brilhante, tendendo para o acinzentado no alto do dorso; as nadadeiras são branco-acinzentadas, claras, a superfície do ventre e os lados iridiscentes em certas direções; a íris é prateada, mas uma mancha cinza, quase preta, estende-se por sua metade superior, às vezes também por parte da metade inferior; em volta da pupila existe ainda um estreito anel prateado. Num exemplar examinado no dia 7 de fevereiro, os ovários estavam grandes e as ovas branco-acinzentadas; nos capturados em 13 de fevereiro, os ovários estavam ainda mais intumescidos e as ovas amarelas como gema de ovo (R.). Uma fêmea de 4 polegadas de comprimento já contém óvulos bem desenvolvidos. 70

71 18. Pseudorhamdia vittata (Kr.) Pimelodus vittatus Krøyer (in sched.) Em parte em alguns pequenos lagos e riachos (Sumidouro, Quebra) que derramam suas águas no Rio das Velhas, em parte (apenas um único exemplar) nesse mesmo rio (mas não na Lagoa Santa, apesar de esta ficar a apenas algumas léguas do lago Sumidouro), Reinhardt conseguiu alguns exemplares (14) desta pequena espécie nenhum deles maior que 3 1 /2 polegadas da ponta do focinho ao fim do lobo superior mais longo da nadadeira caudal profundamente bifurcada que possui desenho característico, como a espécie anterior (ou seja uma linha ou listra estreita escura sobre um fundo claro, que começa mais larga à frente ou atrás dos olhos e continua paralela à linha lateral) e em tudo é próxima desta, tão próxima que é difícil apontar diferenças características entre elas. No Brasil é chamada, às vezes choralambre, às vezes chué (como a anterior). Descrição: Enquanto P. lateristriga é espécie bastante alongada, cuja maior altura é contida 8 vezes no comprimento total, P. vittata possui um corpo relativamente mais curto; sua maior altura é somente um sexto a um sétimo do comprimento total; mas como esse encurtamento é bem distribuído pelo corpo e cabeça, a relação entre o comprimento da cabeça e o total não é muito alterada: em P. lateristriga 1:6 ou 1:5 1 /2 (nos mais jovens), em P. vittata 1:5. A largura da cabeça (acima da abertura branquial) é, em ambos, aproximadamente dois terços do seu comprimento; o diâmetro dos olhos é um quarto desse comprimento e é contido 1 1 /2 vez na distância entre eles (enquanto em P. lateristriga é igual ou, nos jovens, maior que esta); o olho fica igualmente distante da fenda branquial e da ponta do focinho; as narinas posteriores, a meio caminho entre as anteriores e os olhos. Toda a cabeça é coberta com uma pele macia; o estreito processo occipital alcança o pequeno escudo pré-dorsal; o processo escapular é estreito e pontudo e alcança até a metade do raio duro da nadadeira peitoral. A largura da boca é aproximadamente igual à da testa (entre os olhos). Os barbilhões superiores alcançam, ou ultrapassam, a ponta das nadadeiras ventrais; o par seguinte, um pouco além da nadadeira peitoral; ou seja, os superiores são, portanto, mais curtos que os de P. lateristriga mais jovens que possuímos. O raio duro da nadadeira dorsal é fino, mas pontudo e rígido, com leves traços de irregularidades atrás e uma serrilha na parte anterior, mais próximo à ponta; seu comprimento é a metade do da cabeça ou um pouco maior (três quintos) e quase igual ao das nadadeiras peitorais; (em P. lateristriga ambos são relativamente mais longos, aproximadamente três quartos do comprimento da cabeça). Como na espécie mencionada, o raio duro das nadadeiras peitorais é fortemente constituído, possui à frente, junto à base, algumas indentações pouco nítidas e irregulares, alguns dentes bem distintos em direção à ponta, e um forte serrilhado na parte de trás, até um pouco além da metade. Abaixada, a nadadeira dorsal alcança a nadadeira adiposa, cujo comprimento é maior que o dobro do das nadadeiras dorsal e anal; mas a distância entre as nadadeiras ventrais e a ponta das nadadeiras peitorais, que é pequena em P. lateristriga, é grande nesta espécie, e o mesmo se pode dizer sobre a distância entre a nadadeira anal e a ponta das nadadeiras ventrais. Número de raios: D.: 7 (1. 6); P.: 10 (1. 9); V.: 6; A.: (4. 8 9). 71

72 Como se verá, pode-se apontar uma série de não poucas diferenças entre os Pimelodina com duas listras do Rio das Velhas; mas há que se reconhecer que a maioria das diferenças não são tão grandes ou de outro tipo que não possam ser consideradas diferenças de idade, tanto assim que casos similares podem ser encontrados em outros peixes semelhantes, alguns deles ainda (se bem que em menor grau) entre os exemplares mais velhos e os mais novos da espécie maior; a possibilidade de que P. vittata possa ser a forma jovem de P. lateristriga não pode ser negada definitivamente, enquanto não tivermos exemplares deste último com /2 polegadas de comprimento. Nesse aspecto, Reinhardt registra expressamente em suas anotações e se isso se refere à experiência própria ou ao relato de pescadores, não se pode deixar de dar algum peso que o choralambre não fica maior que os exemplares por ele coletados, e minha avaliação vai também no sentido de que a pequena P. vittata não é a forma jovem de P. lateristriga. O exame do aparelho sexual não solucionou a dúvida; em nenhuma das fêmeas de P. vittata encontrei óvulos tão grandes ou desenvolvidos, que pelo seu amadurecimento eu ousasse procurar uma prova segura do sexo do peixe; e só excepcionalmente a papila genital do macho é suficientemente alongada e desenvolvida para que o sexo possa ser identificado com segurança sem abrir o ventre. Devo, portanto, recomendar que esse ponto ainda duvidoso seja verificado por futuros viajantes nessa parte do Brasil. 19. Rhamdia Hilarii (Val.) Pimelodus Hilarii Val., Hist. nat. d. poissons, vol. XV, p Das Rhamdia ou seja, Pimelodina cujo processo occipital e o escudo pré-dorsal não se encontram e que possuem o primeiro raio da nadadeira dorsal fraco e flexível que habitam o Rio das Velhas, vou descrever primeiramente uma espécie desse grupo que se destaca por ter 7 ou 8 (em vez de comumente 6) raios bifurcados na nadadeira dorsal (além dos primeiros não divididos). O Prof. Reinhardt trouxe uma grande quantidade de exemplares dessa espécie tanto do rio quanto do lago (Lagoa Santa) e seus arredores. É sem dúvida a mesma espécie que St. Hilaire trouxe dos afluentes do São Francisco e que os moradores chamam jandia ; em Lagoa Santa é chamado de bagre (de vez em quando de mandi-bagre, cujo nome, entretanto, pertence a uma outra espécie, de acordo com o que está na p. 59). O maior exemplar tem 12 polegadas de comprimento (o de St. Hilaire, 9 10) 83. A espécie mostra, especialmente no número de raios das nadadeiras, uma variação maior do que a que eu já havia observado em alguns outros Pimelodina, e, dessa forma, isso se torna uma advertência com respeito a dar-se um significado muito grande a pequenas variações nesses caracteres. Descrição. A forma é no geral alongada, o corpo algo comprimido e a cabeça, ao contrário, um pouco deprimida, o focinho bastante largo e chato; existe uma depressão em forma de 83 Hensel obteve no Guaíba e seus afluentes um peixe que ele denomina Pimelodus sapo? Val., lançando a questão se esta espécie e P. Hilarii não deveriam ser fundidas. Deve-se notar aqui que Hensel relata que a maxila inferior é um pouco mais curta que a superior (o que acontece em P. Hilarii nob.), enquanto, de acordo com Valenciennes, o contrário deveria ocorrer com P. sapo (que, por outro lado, não parece ajustar-se à ilustração no trabalho das viagens de d Orbigny, Prancha II, fig. 7). O dado de Hensel sobre o tamanho dos olhos (um quarto da distância entre eles) está mais de acordo com P. sapo (1:3 1 /2, Val.) do que com P. Hilarii (1:2 a 2 1 /2). Com isso não aceitarei de modo algum a possibilidade de que a proposta de Hensel possa ser correta. Seu maior exemplar (12 1 /2 polegadas sem considerar a nadadeira caudal) era bem maior que o maior P. Hilarii do Rio das Velhas. De acordo com a observação de Hensel, ele permanece em buracos nas margens e somente sai à noite, quando é capturado com anzóis. 72

73 um losango (que normalmente não se percebe, porque a pele é solta e lisa em sua volta) entre o meio da testa e o focinho. No maior dos exemplares disponíveis observa-se nitidamente os limites do capacete, seu estreitamento sobre a parte anterior do pré-opérculo, seu curto e pontudo processo occipital, etc., e também o fraco estriamento que também ocorre no opérculo que, entretanto, é quase sempre completamente escondido sob a pele macia. Sob a pele da parte superior da cabeça estão espalhados irregularmente pequenos buquês esbranquiçados de canais de muco ramificados, que são mais ou menos nítidos de acordo com o indivíduo. O comprimento da cabeça é contido 4 5 vezes no comprimento total (até a ponta do lobo arredondado da nadadeira caudal profundamente bifurcada); sua largura é igual ou maior que a maior altura do corpo (que é igual à frente da nadadeira adiposa e à frente da primeira nadadeira dorsal) e a dois terços de seu próprio comprimento. Os olhos, cujo diâmetro é contido /2 vezes no comprimento da cabeça e 2 a quase 2 1 /2 vezes na largura da testa (o espaço entre os olhos) (nos exemplares mais jovens são relativamente algo maiores), situam-se um pouco mais próximos da ponta do focinho que da abertura branquial e voltam-se mais para cima nos indivíduos mais jovens e de cabeça mais chata, e mais para os lados nos completamente desenvolvidos. As narinas posteriores situam-se um pouco para dentro da linha que liga as narinas anteriores aos olhos, e estão mais próximas dos olhos que destas, ou a meia distância entre ambos. A largura da fenda da boca é aproximadamente igual à distância dos olhos até a fenda branquial, e a maxila superior avança um pouco à frente da maxila inferior. Os barbilhões superiores alcançam o final da primeira nadadeira dorsal em outros exemplares um pouco além da origem da nadadeira adiposa ou até a ponta das nadadeiras ventrais o segundo par, até a raiz das nadadeiras peitorais; o terceiro é ainda um pouco mais curto. O comprimento da primeira nadadeira dorsal é maior que sua altura ou igual, e, do mesmo modo, igual à altura da nadadeira anal e ao espaço entre as nadadeiras dorsais ou maior; a nadadeira adiposa é longa, mas seu comprimento um tanto variável, em alguns, por exemplo, é um pouco maior que o comprimento da cabeça, não alcança um terço do comprimento total (sem considerar a nadadeira caudal), mas é um terço da distância da ponta do focinho até a borda posterior da caudal; na maioria, entretanto, alcança acima de um terço do comprimento total (sem considerar a nadadeira caudal); ela é ainda, no mínimo, o 73

74 dobro do tamanho da primeira nadadeira dorsal e acima de 2 vezes, ou 2 1 /2 3 vezes, o tamanho da nadadeira anal e 3 5 vezes sua distância da primeira nadadeira dorsal. O primeiro raio da nadadeira dorsal é fino e liso e, mesmo que se considere sua parte macia, não é tão longo como o segundo; a parte ossificada do raio duro das nadadeiras peitorais pode ser tão longa quanto a distância entre o olho e a ponta do focinho ou ainda maior; livre da pele que o recobre, exibe alguma serrilha ao longo da parte externa de sua borda anterior; os jovens têm ademais serrilha ao longo da borda posterior, e mesmo os mais crescidos apresentam traços desta. As nadadeiras ventrais situam-se abaixo ou logo atrás dos últimos raios da nadadeira dorsal. A abertura genital, que é igual em ambos os sexos, fica na ponta de um intumescimento genital alongado, um pouco atrás do ânus, a meio caminho entre as nadadeiras anal e ventrais. Na significativa série de exemplares disponíveis (29), existe como transparece na descrição precedente uma certa variação que inclui diferenças, as quais normalmente se usam com sucesso para caracterizar espécie; e, particularmente, poderia separar-se uma forma mais curta e outra mais alongada, mas existem todas as formas intermediárias entre estas, e tal diferença que também não pude determinar como sendo referente à idade ou ao sexo não se relaciona com outra, por exemplo, referente ao número de raios. Temos de expressar estes últimos do seguinte modo: D.: ; P.: [6 7]; V.: 6; A.: [11] = 4 [3, 5, 6] [7, 10, 11] 84. Os números sete e oito na nadadeira dorsal não ocorrem com igual frequência; dos 29 exemplares, 12 possuíam oito raios bifurcados na nadadeira dorsal e 17 somente sete. A cor (nos exemplares conservados em álcool) é marrom, claro ou escuro, com manchas escuras mais ou menos nítidas às vezes quase inexistentes ; a nadadeira dorsal tem a faixa clara paralela à sua linha de base e um pouco acima, característica dos Rhamdia. Reinhardt descreve o peixe vivo do seguinte modo: Possui no dorso e nos lados um salpicado escuro, acinzentado, o qual não aparece na cabeça, ventre e nadadeiras, à exceção da nadadeira adiposa, que possui uma orla muito estreita de cor cinza, quase negra; um reflexo dourado-esverdeado (principalmente na cabeça) espalha-se pelo dorso, ao passo que o ventre é branco com brilho de madrepérola; o olho é acinzentado e, próximo da pupila negra, encontra-se um estreito anel dourado, que não é nitidamente delineado, mas vai gradativamente mudando de cor até a parte cinza generalizada da íris. Os barbilhões superiores são dourado-acinzentados, os do mento, brancos; as nadadeiras, especialmente a caudal, possuem um brilho amarelado 85. Rh. Hilarii é, de acordo com Reinhardt, um peixe extremamente resistente; o exemplar que acabamos de descrever foi capturado com anzol e tinha, por isso, um grande ferimento em um dos lados da cabeça e, além disso, foi-me trazido com as nadadeiras já ressecadas; apesar disso, ganhou forças novamente assim que foi colocado em uma bacia com água e lá viveu por mais 3 dias sem que a água fosse trocada mais que uma vez, poucas horas antes de morrer. Na fêmea capturada no dia 14 de janeiro, as ovas amarelas como gema já saíam do ventre. No vale do Rio das Velhas, encontramos duas espécies de Rhamdia com 6 (excepcionalmente 5) raios bifurcados na nadadeira dorsal; a primeira caracteriza-se pelo número de raios incomumente grande na nadadeira anal e pelo comprimento igualmente incomum desta. 84 Os números entre colchetes ([ ]) ocorrem raramente. 85 Uma outra anotação diz assim: na parte de baixo a cor é branco-madrepérola, ao longo do dorso e dos lados, acinzentada; mas o muco amarelo que recobre o peixe esconde a cor quase completamente. O corpo é às vezes repleto de pintinhas escuras, que às vezes não existem, a não ser na longa nadadeira adiposa, que mostra fracos traços destas; entretanto, também podem não existir ali. As nadadeiras dorsal, caudal e peitorais são amarelas, as nadadeiras ventrais e anal branco-amareladas; a córnea é prateada. 74

75 20. Rhamdia microcephala (Rhdt.) (prancha III, fig. 7) Pimelodus microcephalus Rhdt. (in sched.) Desta pequena espécie, que não parece superar 3 3 /4 polegadas de comprimento, Reinhardt trouxe 4 exemplares do Rio das Velhas. Entre as demais espécies com as quais pode ser comparada, ocupa uma posição isolada pela longa nadadeira anal 86. Os pescadores não conheciam qualquer nome para este peixe, mas disseram que era um tipo de bagre. Descrição. O corpo um tanto cheio, a cabeça pequena e redonda e as pequenas nadadeiras dão a esta espécie a aparência de gobiídeo. A cabeça (até a abertura branquial) é um sexto a dois treze-avos do comprimento total (nadadeira caudal incluída), sua largura um quinto menor ou igual à altura do corpo, que é a mesma em uma grande parte do seu comprimento. A cabeça é completamente coberta de pele macia, de modo que nem o opérculo nem os ossos escapulares mostram traço algum de escultura; ela tem uma depressão em forma de canal abaixo da metade do crânio e testa e termina atrás em ângulo obtuso o último traço do processo occipital. Os olhos são pequenos, voltados para cima, e situam-se muito mais próximo da ponta do focinho que da abertura branquial; seu diâmetro é contido 6 7 vezes no comprimento da cabeça, acima de 2 vezes na largura da testa; as narinas posteriores estão muito mais próximas deles que das anteriores, e também mais próximas da linha medial da cabeça que os olhos. A boca é de tamanho médio, sua largura mais ou menos a metade da cabeça, a maxila inferior não é mais curta que a superior, a faixa de dentes é larga e de largura uniforme. O comprimento dos barbilhões não é muito diferente, os superiores alcançam no máximo até a ponta das curtas nadadeiras peitorais, os inferiores no máximo até a raiz dessas. A curta e relativamente alta nadadeira dorsal situa-se tão atrás, que sua distância até o processo occipital em geral é igual ao comprimento da cabeça (até a abertura branquial) e sua distância da ponta do focinho quase um terço do comprimento total; seu comprimento, ao longo de sua base, é no máximo a metade ou mesmo somente um terço da sua distância até a nadadeira adiposa, cujo comprimento é quase igual a esta distância somado ao comprimento da primeira nadadeira dorsal e maior que o da nadadeira anal, que é tão longa quanto a distância entre as nadadeiras dorsais, ou ainda maior. As nadadeiras ventrais são tão grandes quanto as nadadeiras peitorais e localizadas abaixo do último raio da nadadeira dorsal; o primeiro raio das nadadeiras peitorais é largo e chato, sua parte dura e rígida equivale somente a um terço ou, quando muito, quase à metade do comprimento da cabeça e não possui dentes; o primeiro raio da nadadeira dorsal é mais curto mas não mais forte que os que o seguem. A nadadeira caudal é arredondada nos indivíduos mais jovens, mas nos indivíduos mais velhos, claramente mais alongada em sua parte superior que na inferior, e muito fracamente entalhada no meio. A linha lateral aparece como uma fila de traços ao longo dos lados do corpo, mas se dissolve na região umeral em poros isolados, que podem ser com facilidade seguidos nas costumeiras linhas na cabeça, sob os olhos, na maxila inferior, etc. Os machos têm uma papila genital bastante longa; uma fêmea (com grandes óvulos no ovário) tem uma pequena papila atrás da abertura genital. Número de raios 87 : D.: ; P.: 86 A única espécie conhecida com semelhante número de raios na nadadeira anal é Pimelodus notatus Schomb.; em outros aspectos praticamente não existem semelhanças entre elas. 87 Somente 1 de 4 exemplares possui D.: 1. 5; um outro A.: 5. 11; os demais D.: 1. 6 e A.: 5. 13; dois possuem P.: 1. 7; dois 1:8. 75

76 1. 7 8; V.: 6; A.: A cor (nos exemplares em álcool) é elegantemente marmorizada com marrom claro e escuro, com as nadadeiras, ventre e garganta claros. Reinhardt descreve dessa forma dois exemplares, que lhe foram trazidos no dia 20 de dezembro: O peixe vivo era, na parte látero-superior do corpo, acinzentado com pintinhas muito densas cinza, muito escuras, de onde provinha sua aparência marmorizada; o ventre era branco-madrepérola. Sobre todo o corpo também nas nadadeiras espalhava-se um brilho amarelo-âmbar, que se devia principalmente ao muco. A nadadeira adiposa tinha a aparência marmorizada do dorso, as nadadeiras dorsais e anal eram marmorizadas na base, as demais não. A pupila é negra, a íris marrom-acinzentada como o corpo (quando o muco é retirado), fracamente misturado com amarelo; somente abaixo da pupila o brilho dourado aumenta, de modo que quase se forma uma metade de anel, que todavia é indefinidamente limitado do lado da íris. 21. Rhamdia minuta Ltk. (prancha III, fig. 6) Pequeno, magro, com a cabeça e o focinho um pouco deprimidos, nadadeira adiposa com comprimento médio, nadadeira anal curta, nadadeira caudal bifurcada e barbilhões muito curtos. Esta espécie, da qual Reinhardt trouxe 4 exemplares do Rio das Velhas e de pequenos riachos que nele deságuam, não possui peculiaridade alguma que possa rapidamente distinguila de outras espécies da família. Descrição. O comprimento da cabeça é um sexto do comprimento total, incluída a nadadeira caudal e suas pontas; sua largura é mais que dois terços do seu comprimento e maior que a maior altura da cabeça e do corpo, que por sua vez é um pouco maior que a metade do comprimento da cabeça. Toda a cabeça é coberta de pele macia; não há processo occipital e depressão alguma no crânio e no meio da testa. Os olhos voltam-se bem para cima e ficam igualmente distantes da ponta do focinho e da abertura branquial; seu diâmetro é um quinto do comprimento da cabeça e mais da metade da distância entre eles; as narinas posteriores ficam mais perto da linha mediana que dos olhos, e mais perto destes que das narinas anteriores; a boca e suas faixas de dentes são normalmente desenvolvidas, a maxila inferior significativamente mais curta que a superior. Os barbilhões superiores alcançam até as pontas das nadadeiras peitorais, os inferiores até a sua base; (nos indivíduos mais jovens são ao contrário do costumeiro todos mais curtos). A distância da nuca até a nadadeira dorsal é menor que o comprimento da cabeça, mas maior que sua largura; o comprimento da nadadeira dorsal é a metade de sua distância da nadadeira adiposa, cujo comprimento é igual a esta mesma distância, mas não chega ao dobro do comprimento da nadadeira anal; (em um único exemplar, no qual a nadadeira adiposa é notavelmente curta, esta é precisamente igual ao comprimento da nadadeira anal e a distância entre as nadadeiras dorsais é mais que o dobro do comprimento da primeira). As nadadeiras ventral e peitorais são de igual tamanho ou as últimas um pouco maiores; o primeiro raio não bifurcado das nadadeiras peitorais é um pouco diferente dos demais, sendo sua parte rígida não segmentada mais curta que a segmentada (no máximo um terço do comprimento da cabeça) e sem serrilha; também o primeiro raio da nadadeira dorsal é fino e sem serrilha; o lobo superior da nadadeira caudal é um pouco mais longo que o inferior e a papila genital apenas um pouco desenvolvida em todos os exemplares disponíveis, independentemente do sexo. O tamanho é no máximo 3 1 /3 polegadas. 76

77 Número de raios: D.: ; P.: 1. 9; V.: 6; A.: ( ). A cor é marrom mais claro ou escuro; o menor exemplar (uma fêmea com óvulos) tem 5 faixas cruzadas escuras sobre a nuca e o dorso; nos demais elas são menos nítidas, em parte completamente apagadas. 22. Pseudopimelodus charus (Val.). Pimelodus charus Val; loc. cit. p Pimelodus bufonius Gthtr; loc. cit. p. 133 (vix Val.). Do grupo dos Pseudopimelodus, que possuem uma aparência tão estranha e característica que por si só justifica a criação de um gênero próprio, ocorre no Rio das Velhas uma espécie, o pacu-do-rio ou pacamão-do-rio, que eu considero ser da mesma que o British Museum obteve em um dos seus afluentes (Rio Cipó) e que Günther denomina Pimelodus bufonius. Ao comparar o Pseudopimelodus do Rio das Velhas com um exemplar do verdadeiro Pseudopimelodus bufonius de Caiena, cheguei, entretanto, à conclusão de que dificilmente ele pertence a esta espécie, mas sim a uma muito próxima sem dúvida exatamente aquela que Valenciennes propôs como P. charus a partir de um desenho (de Ménestrier) de um outro peixe capturado no curso de nosso rio (Rio Sabará). Antes de começar a detalhar sobre esta espécie, até agora pouco conhecida, tenho de salientar que este gênero ainda não foi caracterizado corretamente; ele foi incorretamente considerado entre os Pimelodina, cujo processo occipital e escudo dorsal (osso de sustentação do raio duro dorsal) não se encontram; o processo occipital é curto, mas o escudo pré-dorsal é mais alongado para frente e estes realmente se encontram uma característica pela qual, mais que simplesmente em aparência, se distingue das Rhamdia, embora seja este o grupo de que essa espécie mais se aproxima. Descrição. A cabeça é arredondada, deprimida, larga; o corpo é volumoso, comprimido atrás, aparentando ser menos cheio que em P. bufonius, pois é menos alto (a altura é um sétimo do comprimento total, a nadadeira caudal incluída, e um quinto nos P. bufonius). A maior largura da cabeça é igual ou pouco menor que seu comprimento (do meio do focinho até a abertura branquial), que é contido 4 vezes no comprimento total (calculado até o raso entalhe da nadadeira caudal 89 ); a cabeça é completamente coberta de uma pele macia, através da qual somente uma leve escultura do processo escapular aparece. A abertura da boca é tão larga que suas comissuras ficam alinhadas com a borda anterior dos olhos; estes são pequenos, voltados para cima, sem borda orbital livre; seu diâmetro é contido 14 vezes no comprimento da cabeça, 6 vezes na distância entre eles; a distância destes até a abertura branquial é quase 3 vezes a distância destes até a borda frontal da cabeça. As narinas anteriores têm forma de tubo com abertura inclinada; as de trás são também circundadas por uma parede de pele baixa, próxima dos olhos; a distância das anteriores às posteriores é igual à distância destas aos olhos, mas elas ficam mais próximas da linha medial que eles. A maxila inferior avança muito pouco à frente da superior, cuja faixa de dentes é tão larga quanto a distância entre os olhos, e seu comprimento (da frente para trás), nos lados, é a metade de seu comprimento no meio, ao passo que a faixa de dentes da maxila inferior estreita-se em direção aos lados. Os barbilhões mais compridos alcançam em geral até a raiz das nadadeiras peitorais, o segundo par até a abertura branquial (em linha reta), o terceiro até a divisão da pele da abertura 88 Também aqui ocorre o número 6 três vezes e o número 5 somente uma vez. 89 O comprimento da cabeça é curto demais pelos dados de Valenciennes porque ele o mediu na figura (em projeção), o que, em virtude de sua grande largura na frente, faz uma clara diferença. 77

78 branquial entre suas duas metades. O comprimento da nadadeira dorsal é aproximadamente igual à sua altura e é contido duas vezes, ou pouco mais, na sua distância até a nadadeira adiposa, cujo comprimento que é algo variável, em razão de sua porção anterior avançar nitidamente por baixo ou recuar totalmente sob a pele dorsal é aproximadamente igual ao da nadadeira dorsal e ao da nadadeira anal, situada logo abaixo desta, cuja altura é quase o dobro de seu próprio comprimento. A parte rígida do primeiro raio da nadadeira dorsal é escondida pela pele espessa; apesar disso, vê-se que é muito sólida, no máximo tão longa quanto a largura da testa entre os olhos, e serrilhada tanto na parte da frente como na de trás sendo relativamente mais fina nos indivíduos mais jovens. O primeiro raio das nadadeiras peitorais é, do mesmo modo, somente ossificado até um pouco acima da metade, embutido em uma grossa pele (exceto sua superfície superior), sólido, curvado, liso, fortemente serrilhado na parte de trás as rugosidades de seu lado anterior ficam escondidas sob a pele; todo o raio é tão longo quanto a distância entre a narina posterior e a abertura branquial. A base das nadadeiras pélvicas fica totalmente atrás, mas bem perto, da base da dorsal; elas são largas, mas não tão longas quanto as nadadeiras peitorais. A nadadeira caudal é algo truncada, sua ponta superior um pouco mais longa que a inferior. Um pequeno Porus axillaris está presente. O tamanho é no máximo 9 3 /4 polegadas. Todos os (5) exemplares disponíveis são fêmeas (com óvulos mais ou menos desenvolvidos e mais desenvolvidos nas menores), com uma papila genital curta e pontuda. Número de raios: D.: 1. 6; P.: ; V.: 6; A.: (4. 7, 4. 6, 3. 8). Reinhardt descreve a cor de um exemplar trazido a ele em 31 de agosto da seguinte maneira: a cor básica no dorso e lados é de um vivo marrom-amarelado, sendo as manchas de um marrom bem escuro e o ventre mais claro, marrom-cinza-amarelado; as nadadeiras peitorais, ventrais e anal são ainda um pouco mais amareladas que o ventre. Nos exemplares mais jovens (conservados em álcool) aparece um padrão característico: a cor básica é o marrom-acinzentado escuro com pequenas manchas pretas na cabeça e com 5 faixas transversais irregulares sobre o corpo e cauda, a primeira sobre a nuca, a segunda sob a nadadeira dorsal, a terceira à frente e sob a adiposa, a quarta na raiz da caudal e a quinta na borda desta; também as outras nadadeiras possuem faixas escuras, a dorsal e a anal têm duas cada uma, as peitorais e ventrais uma ou duas cada uma; entretanto, nos indivíduos mais velhos esse padrão é mais apagado no corpo (que se mostra difusamente marmorizado e manchado), apesar de em parte ser ainda nítido na cabeça e nas nadadeiras. A parte inferior é algo mais clara. Reinhardt salienta que no exemplar capturado em 17 de fevereiro os ovários estavam já bastante cheios e que as ovas frescas têm uma bela cor, meio pálida, de maçã verde; os grãos são do tamanho da cabeça de um alfinete entomológico médio. 90 Como nos verdadeiros P. bufonius (não 6); esta espécie tem colorido um pouco diferente, nadadeira adiposa um pouco maior, etc. As listras transversais escuras descritas acima são, por outro lado, encontradas em um par de jovens Pseudopimelodus da Venezuela (D.: 1. 5; dentes excepcionalmente fortes ao longo de ambos os lados do raio duro das nadadeiras peitorais talvez apenas uma característica de jovem?) sendo portanto, talvez, um carácter juvenil para todo o gênero. 78

79 II. Characini Desta família incluindo os Erythrinina sem nadadeira adiposa conhecem-se previamente (sem as 4 espécies 91 que o Prof. Reinhardt trouxe e que já foram descritas) 20 espécies nominais da bacia do Rio São Francisco, número este que, entretanto, após uma redução de algumas espécies duvidosas, pode chegar a cerca de 15. Reinhardt trouxe do Rio das Velhas, ou de pequenos lagos e riachos em sua região, o total de 26 espécies desta família (algumas também do Rio São Francisco), e uma 27 a só deste rio; destas, 20 são descritas como novas, em parte nas páginas seguintes, em parte em trabalhos anteriores do Prof. Reinhardt, o que é, para a maioria delas, inteiramente válido; uma 21 a foi anteriormente descrita, mas não de Minas Gerais; desde que sejam novas todas as 20, Reinhardt redescobriu então cerca da metade 92 das espécies anteriormente conhecidas desse sistema fluvial, e o número total de espécies que agora se conhece do Rio São Francisco e dos seus afluentes e lagos chega, desse modo, a cerca de 35; mas não é impossível que uma redução venha a ocorrer, já que algumas das formas relatadas podem mostrar-se sinônimas, apesar de que, com base no que se conhece no momento, ainda não se ouse declará-las como tal, e que o número total de Characini conhecidos, na realidade, mostre não passar de 30. Dos novos gêneros relaciono somente um (Leporellus) cuja descrição talvez ainda venha a ser descartada além de dois outros já relacionados pelo Prof. Reinhardt (Characidium e Piabina). Deve-se salientar que a comprovação da existência de espécies dos gêneros Curimatus, Parodon, Chirodon, Cynopotamus e Xiphorhamphus nessas águas é de interesse geral. No que concerne à América do Sul, todos os grupos maiores de Characini 93 estão em geral representados, mas de uma forma muito desigual; o grande grupo dos Tetragonopterus com 10 espécies, os Anostomina com 6, o grupo dos Hydrocyon com 4, os Serrassalmonina com 4, os Curimatina com 3, os Erythrinina com 2. Algumas das 27 espécies que Reinhardt trouxe não são encontradas no rio (das Velhas) e certamente não ocorrem ali, mas somente na lagoa (Lagoa Santa 94 ) ou nos riachos que deságuam tanto nela como no rio 95 ; mas existem, por outro lado, muitos Characini que não sobem até a lagoa. Sabe-se que somente uns poucos dos Characini do vale do Rio das Velhas ocorrem fora da bacia do Rio São Francisco; destaca-se nesse aspecto Leporellus pictus, que também parece ocorrer no Mato Grosso, Macrodon trahira, que se espalha por uma grande parte da América do Sul, e Serrasalmo (Pygocentrus) piraya, que parece ser o mesmo caso, embora em menor grau. Considero provável que, com o decorrer do tempo, se venha a mostrar que mais alguns dos Characini desse sistema fluvial possuem distribuição geográfica mais ampla do que se acredita; porque como já se verá pelas dúvidas sobre diferentes espécies, as quais eu não pude omitir as informações sobre as espécies desta família estão muito aquém do 91 Estas são: Parodon Hilarii R., Characidium fasciatum R., Piabina argentea R., e Cynopotamus (Rœboides) xenodon R. 92 Ou seja: Macrodon trahira Sp., Prochilodus argenteus Sp., Leporinus elongatus Val., Salminus Cuvieri e Hilarii Val., juntamente com Serrasalmo (Pygocentrus) piraya Cuv. 93 Crenuchina, do qual somente se conhece 1 espécie da Guiana (a outra é africana), é o único dos grupos sul-americanos de Characini que falta nas águas de que tratamos aqui. 94 As espécies que ali vivem e que não se conhecem no Rio das Velhas são: Characidium fasciatum, Tetragonopterus lacustris, Tetrag. gracilis, Xiphorhamphus lacustris, Serrasalmo Brandtii. 95 Parodon Hilarii, Characidium fasciatum, Chirodon piaba, Piabina argentea. 79

80 desejável; as espécies são muito frequentemente descritas com base em material incompleto ou demasiadadamente pobre, em exemplares em mau estado ou jovens, e os resultados nunca aparecem com clareza e nitidez como, por exemplo, na família dos bagres. Portanto, com respeito à presente família, tenho motivos para dizer que, apesar de reconhecer que, pela qualidade do material, se teve muita sorte, e que é justificável esperar que neste trabalho se dará um passo na direção correta, devo também merecer uma certa indulgência, tendo em vista a qualidade de alguns dos trabalhos anteriores nos quais fui obrigado a me apoiar, na falta de algo melhor. A. O Grupo dos Erythrinus 1. Macrodon trahira Spix. Na Lagoa Santa, em várias outras pequenas lagoas da sua região, e em riachos que deságuam no Rio das Velhas, tanto quanto neste próprio, ocorre uma traíra da qual Reinhardt trouxe um grande número de exemplares; o maior tem 14 1 /2 polegadas 96 e o menor, 2 1 /2 polegadas de comprimento. Este Macrodon, que ocorre no Estado de Minas Gerais e no Rio São Francisco, já foi descrito por Agassiz como Erythrinus macrodon e E. microcephalus 97, por Valenciennes como M. trahira, por Castelnau como Erythrinus macrodon brasiliensis e por Günther como M. intermedius (do Rio Cipó 98 ). Não tenho dúvidas de que sob todos esses nomes deve haver somente uma espécie, que eu suponho seja mais correto denominar como acima. Não posso distinguir exemplares do Rio de Janeiro, Cotinguiba (Província de Sergipe), Venezuela, Guiana e Trinidad (M. ferox Gill) daquela forma que ocorre na Lagoa Santa e no Rio das Velhas; a espécie tem assim uma ampla distribuição na América do Sul 99. Para melhor fundamentar essa interpretação, bastará indicar que, na maioria dos exemplares com referência na literatura conhecida, o comprimento da cabeça (a membrana branquial incluída) é aproximadamente igual a um terço (muito pouco mais ou menos) do comprimento total, quando neste não se considera a nadadeira caudal, e esta é igual (muito pouco maior ou menor) à distância dos olhos à abertura branquial ( até à borda livre da membrana branquial); mas encontram-se também, além de formas intermediárias, alguns exemplares mais alongados, com cabeça relativamente menor, cujo comprimento em relação ao comprimento 96 A espécie fica, entretanto, um pouco maior na Lagoa Santa; o British Museum possui um exemplar de M. intermedius com 21 polegadas, e D Orbigny viu um M. auritus de mais de 18 polegadas. 97 Erythrinus brasiliensis Ag. também não é outra espécie distinta. Agassiz, aparentemente, teve apenas um exemplar empalhado de cada uma de suas 3 espécies, para estudos. Não há maior razão para fazer aqui uma crítica mais profunda à descrição dessa espécie. Como dois desses exemplares expressamente vieram do São Francisco, dificilmente poderá haver dúvida. Entretanto, como tanto Günther quanto Valenciennes, em suas descrições, informam que os dentes palatinos frontais apresentam uma pequena parte separada, acrescento que não consegui confirmar isso; a parte frontal menor desses dentes continua sempre sem interrupção até a parte maior de trás. 98 De acordo com Steindachner, loc. cit., volume LXIX, p. 27, também ele une M. intermedius com M. trahira. 99 Das espécies descritas do Rio São Francisco, etc., Brycon Hilarii Val. e Erythrinus unitæniatus são as únicas que, com certeza, posso afirmar que Reinhardt não trouxe. Entretanto, mesmo com relação a Myletes (tometes) altipinnis, a qual ainda penso deveria ser considerada separada na lista de peixes de água doce deste distrito (veja o final deste trabalho), não estou completamente certo de que talvez se mostre injustificada. NT: Esta nota aparece na página 182 do original e não na página 184, sua posição correta. 80

81 total (considerado do modo acima mencionado) é de 1:3 1 /5, 3 1 /3 ou 3 2 /5. Um pouco à frente da nadadeira dorsal, contam-se em geral 12 séries de escamas através do dorso, de uma série de escamas da linha lateral até a outra (estas não consideradas), raramente 11 ou 13; mas há casos também em que se podem contar 12 ou 13, pois, frequentemente, a parte escamosa do dorso mais próxima da frente da nadadeira dorsal é disposta de forma irregular. Atrás da nadadeira dorsal, ao contrário, contam-se sempre 9 séries de escamas. A que contém os poros da linha lateral possui mais frequentemente 41 ou 42 escamas, quando se incluem as duas ou três primeiras, nas quais nenhum poro é visível, mas que, apesar disso, por seu posicionamento, têm de ser consideradas como a parte inicial da série; mas o número pode também aumentar para ou baixar para Número de raios: D.: 14 [13, 15] 100, os 2 ou 3 da frente não divididos (3+11, 3+10, 2+12 ou 3+12); P.: [12, 15]; V.: 8, A.: (3+9 ou 2+9) (quando há 3 não bifurcados, o da frente é muito curto); C: 17 (raramente 18; os curtos raios de cima e de baixo não incluídos). Disso fica evidente que, utilizando a descrição de Günther, não posso distinguir entre duas espécies, uma que tem 12, e outra que tem 13 séries de escamas acima da linha lateral, na parte superior do corpo, uma com 38 39, outra com escamas na linha lateral. Portanto, no material disponível (21 exemplares), não posso distinguir M. trahira de M. intermedius. Em um exemplar maior da Guiana e um menor de Trinidad encontro também 42 escamas na série da linha lateral e, como em um par deles da Lagoa Santa, somente 11 séries de escamas sobre o dorso; os números de raios nesses exemplares de outras regiões da América do Sul são os mesmos: D.: 14 (3+11), P.: 13 15; V.: 8; A.: (2+9; 4+8); C.: 17. Com relação a essa ampla distribuição geográfica, concordo com Valenciennes, que declara que exemplares da Bahia, Rio São Francisco, Rio Amazonas, Caiena e Lago Maracaíbo pertencem à mesma espécie. Hensel reconhece esta espécie na traíra que ele encontrou no extremo sul do Brasil, e é de opinião de que M. auritus Val. (de Montevidéu) é baseada em exemplares jovens (8 9 polegadas) dessa espécie, o que, provavelmente, é bem plausível 102. Com relação a cor e aos desenhos, mostram-se bastante diferentes, mas, apesar de, em geral, parecerem ajustar-se com a idade, nota-se que os exemplares maiores da Lagoa Santa são totalmente escuros, porém, após um exame mais detalhado, mostram-se marmorizados ou manchados de marrom-escuro e amarelo-latão, de modo que a parte superior é toda mais escura e a inferior mais clara; todas as nadadeiras são, do mesmo modo, manchadas ou marmorizadas, os lados da cabeça possuem manchas escuras muito pequenas e sua superfície inferior é marmorizada. Nos exemplares de tamanho médio frequentemente aparece, além das manchas ou do marmorizado, um certo ordenamento, de modo que listras escuras (marrons) ou claras (amareladas), mais ou menos nítidas, aparecem ao longo dos lados do corpo, enquanto o dorso conserva seu carácter escuro uniforme. No geral, pode-se dizer que, quanto mais jovens os exemplares, mais clara sua cor básica e mais vívidos os desenhos; exemplares de somente 6 polegadas de comprimento ou menores são, em geral, claros com uma série 100 Os números entre colchetes ([ ]) representam casos mais raros. 101 Considero que as primeiras escamas sem poros da série de escamas da linha lateral não são consideradas por Günther; somando-se 2 ou 3 aos dados desse autor, obtêm-se números que coincidem com os máximos e mínimos apresentados acima ou se aproximam deles. 102 De acordo com Steindachner (loc. cit.), M. patana e aimara Val. de Caiena e provavelmente M. teres V. (Maracaíbo) também não são espécies diferentes de M. trahira, e M. micropelis da América Central talvez seja somente uma subespécie local; em outras palavras: conhece-se somente uma espécie segura no gênero Macrodon. 81

82 dupla de manchas inclinadas ao longo dos lados, que, na maioria dos casos, formam, em conjunto com algumas manchas ou listras transversais no dorso, uma série de (5 7) figuras angulares; mas existem também exemplares jovens nos quais esses desenhos se perdem na cor básica escura. As nadadeiras ímpares são também manchadas nos jovens, a parte de baixo da cabeça, ao contrário, é completamente sem cor ou branca, nos jovens abaixo de certo tamanho. Algumas listras escuras nas faces, que se irradiam das bordas dos olhos, produzem, em conjunto com algumas manchas escuras no opérculo dos jovens, quase que uma continuação das manchas escuras que ocorrem ao longo dos lados do corpo. Na falta de registros sobre o modo de vida dessa espécie de Minas Gerais, a informação de Hensel pode ainda ter lugar aqui: a traíra no Sul do Brasil representa nossa lúcio e, como esta, evita águas abertas e prefere águas calmas e rasas com tufos cheios de plantas aquáticas, onde se esconde debaixo das folhas largas, espreitando as presas. B. O Grupo dos Curimatus 2. Curimatus albula Ltk. Anodus argenteus Rhdt. (in sched. 103 )? Curimatus Gilberti Qu. & Gaim., Val. Dos cerca de trinta exemplares do Rio das Velhas e Ribeirão do Mato, nenhum tem mais que 4 1 /2 polegadas. Em geral o comprimento da cabeça é contido 4 1 /2 (raramente 4 1 /3 ou 4 2 /3) vezes no comprimento total até a ponta da nadadeira caudal profundamente bifurcada, mas aproximadamente 3 2 /3 vezes quando não se considera a nadadeira caudal. A altura do corpo, ao contrário, é muito variável, como também se observa em outras espécies deste gênero; em geral é contida, nos exemplares maiores, no máximo 2 1 /3 vezes no comprimento total (nadadeira caudal não considerada), mas em alguns outros 3 vezes ou um pouco mais, e esta última proporção nos exemplares mais jovens é praticamente constante. Nos exemplares mais alongados, o início da nadadeira dorsal situa-se muito mais próximo da ponta do focinho que do início da nadadeira caudal, enquanto nos mais altos fica mais ou menos na metade entre ambos. O perfil tem somente uma pequenina depressão no crânio, dificilmente visível; o diâmetro do olho é um quarto do comprimento da cabeça, um pouco mais da metade (três quintos) da largura da testa lisa; o ventre à frente das nadadeiras ventrais é achatado, mas não com cantos agudos. Dos dois primeiros raios da nadadeira anal, o primeiro não é sequer a metade do segundo, frequentemente apenas um terço, e dos raios da frente não bifurcados (segundo e terceiro) da nadadeira dorsal, o da frente é sempre aproximadamente a metade daquele que o segue. A maior altura da nadadeira dorsal é aproximadamente igual à sua distância da nadadeira adiposa, e seu comprimento (na base) aproximadamente igual à metade da distância do seu último raio até a ponta da nadadeira adiposa, a qual se situa logo acima da parte de trás da nadadeira anal. As nadadeiras peitorais não alcançam as nadadeiras ventrais; estas, cujas bases começam na metade da nadadeira dorsal, ao contrário, alcançam até o ânus. A linha ondulada das escamas e as incisões a ela ligadas das bordas de trás das mesmas são raramente mais que 2 ou 3; elas tornam-se menos nítidas na parte da frente do corpo e desaparecem completamente nos seus lados; nos exemplares jovens elas 103 Uma espécie de Trinidad recebeu mais tarde o nome argenteus (Gill.). Sobre o nome de gênero Anodus ver o que anotei em outro lugar (Vidensk. Medd. fra den naturhistoriske Forening 1974, p. 225). 82

83 não alcançam as bordas de trás das escamas. A cobertura de escamas esconde a base da nadadeira caudal, que por sinal é nua; assim como em outros peixes desse gênero, existe na raiz da nadadeira ventral, na parte externa, uma escama comprida, pontuda e escavada com a forma sulcada. Eu conto (o número 39, porém, raramente) escamas na linha lateral (toda ela ou as primeiras frequentemente sem poros 104 ) e em torno da parte da frente do corpo, de modo que existem 5 ou 6 acima da linha lateral e 7 ou 8 abaixo desta, além das filas ímpares de escamas ao longo das linhas medianas do dorso e do ventre, quando estas estão presentes, o que não é sempre o caso; frac68 é a proporção que ocorre mais comumente. Número de raios: D.: 13 (3. 10), o mais da frente geralmente muito curto, e os dois últimos, situados muito juntos, sendo na realidade um só raio profundamente fendido; P.: 13 14; V.: 9 (1. 8) 105 ; A.: 10 (2. 8) 106 ; C.: Uma difusa faixa escura ao longo da linha lateral frequentemente dissolve-se em uma série de manchas mais escuras e termina sempre em uma mancha maior ou menor na raiz da cauda, a algumas poucas filas de escamas do lugar onde a cobertura de escamas termina. Sobre a cor do peixe vivo Reinhardt anotou o seguinte, de uma fêmea capturada no Rio das Velhas no dia 22 de fevereiro, a qual tinha ovário ainda pequeno e grãos de ovas esbranquiçados: O dorso é claro, marrom-amarelado-esverdeado com um brilho prateado; descendo pelos lados desaparece essa tonalidade, que dá lugar a um prateado puro. As nadadeiras peitorais e ventrais possuem um tom levemente amarelo, que também se encontra na nadadeira anal, embora esta seja um pouco avermelhada. A nadadeira caudal é da cor do dorso, somente um pouco mais clara; a nadadeira dorsal também da mesma cor, é delimitada à frente e acima por uma borda pouco notável; na sua raiz, na metade de seu comprimento, ocorre uma mancha preta irregular; a íris tem brilho prateado. Dos inúmeros exemplares que Reinhardt viu, capturados durante o esvaziamento da represa abaixo mencionada, alguns poucos tinham manchas escuras no corpo. Esse belo peixinho cor de prata possui na região de Lagoa Santa o nome papa-terra ou comedor de terra. Somente duas vezes Reinhardt conseguiu obtê-lo em grande quantidade, uma numa pescaria com rede no Ribeirão do Mato, a outra vez quando uma represa desse pequeno rio foi esvaziada por drenagem. Ele não morde o anzol como é natural para um peixe comedor de lama. Apesar de ter acreditado que, junto com Reinhardt, eu deveria ter estabelecido esta espécie como nova, não estou de modo algum convencido de que ela não seja idêntica a C. Gilberti (Q. G.) da região do Rio de Janeiro. Valenciennes relata que a altura é um quarto do comprimento total em um exemplar de 4 polegadas de comprimento, e mesmo que exemplares de C. albula deste tamanho, e ainda mais jovens, costumem ser relativamente mais altos, pode-se todavia encontrar essa proporção entre altura e comprimento, por exemplo, em exemplares com 3 3 /4 polegadas de comprimento; a figura da viagem de Freycinett ( Uranie, prancha 48, fig. 1) mostra uma proporção de 1:3 1 /2. Valenciennes relata ainda 41 escamas na linha lateral, o 104 NR: O revisor considera muito estranha essa afirmação, de que toda a linha lateral ou as primeiras escamas não têm poros, porque todos os exemplares de Curimata albula (= Cyphocharas gilberti) que examinou (dezenas) sempre tinham todas as escamas da linha lateral com poros e nenhum outro autor (inclusive Vari, 1992) menciona tal fato. 105 O raio externo rudimentar, que nos demais Characini é tão insignificantemente pequeno, é aqui um pouco mais desenvolvido; dever-se-ia, talvez, contar 2+8=10. Em todo caso, dificilmente se dará peso para o fato de essa espécie ter 9 ou 10 raios na nadadeira ventral. 106 Os dois últimos poderiam também ser contados como somente um raio profundamente fendido; o raio duro, rudimentar, escondido entre as escamas, não foi contado. 83

84 que representa 2 a mais do que eu encontrei, mesmo nos exemplares que possuem o maior número; mas isto se considera ser um desvio pequeno para, por si só, justificar uma diferença de espécie, ainda mais que na ilustração não se contam tantas escamas, ou seja, somente 36. O número de raios está bem de acordo, considerando-se que o raio rudimentar à frente da nadadeira dorsal não se conta, e que o raio fendido no final das nadadeiras dorsal e anal é contado como somente um. Por outro lado, a figura mostra as nadadeiras ventrais localizadas abaixo da parte mais anterior da nadadeira dorsal, ou seja mais à frente que em C. albula, e isso eu não ouso considerar como uma simples falta de precisão do desenhista. Somente uma comparação direta com C. Gilberti poderia decidir se a espécie de Minas é idêntica a esta, o que por enquanto eu considero pouco provável. Do mesmo modo, C. voga Hensel do sul do Brasil ( Archiv f. Naturg., 1870, p. 78), assemelha-se muito à C. albula no que tange ao número de raios e ao número de escamas da linha lateral, mas desvia-se dela em várias outras características como, por exemplo, o comprimento da cabeça contido mais de 4 (4 1 /5) vezes no comprimento total (sem a nadadeira caudal), uma maior distância entre os olhos, as nadadeiras ventrais alcançando somente a metade da distância até o ânus, etc. Com isso, portanto, também não pude identificar as espécies como sendo as mesmas Prochilodus argenteus Spix. e Prochilodus affinis Rhdt. Existem seis exemplares de P. affinis Rhdt. do Rio das Velhas e de seu afluente Ribeirão do Mato, com aproximadamente um pé de comprimento (10 1 /2 13 polegadas). Eles apresentam as seguintes proporções: o dorso é mais ou menos fortemente curvado entre a nadadeira 107 (Nota posterior) Depois de ter recebido a nova descrição de Steindachner de Curimatus Gilberti (espécie que ele considera sinônima de C. voga H.), desconfio que a forma encontrada no Brasil central (C. albula) mostrar-se-á, com quase toda certeza, idêntica à do sul do Brasil. Como Steindachner pôde examinar muitos exemplares dos rios do sul do Brasil e encontrou que o número de escamas na linha lateral é variável de 37 a 41, ao mesmo tempo que relata que as nadadeiras ventrais são fixadas um pouco atrás do início da nadadeira dorsal, aparentemente isso anula minhas próprias razões para mantê-las separadas. Entretanto é estranho que a forma do sul brasileiro fique tão maior (8 1 /2 polegadas) que a de Minas Gerais. Como uma comparação direta entre exemplares do Brasil meridional e central não foi feita, ainda não quis mudar o nome pelo qual esta espécie foi resumidamente caracterizada em Vid. Selsk. Overs. de Um Hemiodus no Rio da Prata. Não vou deixar de mencionar que se encontra no Rio da Prata uma espécie de Hemiodus até agora não descrita. Sob o nome algo estranho, Leuciscus, e ainda com a inscrição janeiro de 1841, Rio da Prata, feita pelas mãos do falecido Prof. Krøyer, encontrei há pouco tempo, por acaso, no depósito do antigo Museu Real de História Natural um pequeno vidro que continha dois Characini. Um deles tem de classificar-se no gênero Hemiodus; possui o comprimento de 30 mm (até a nadadeira caudal), do qual a cabeça, que é um pouco maior que a maior altura do corpo, representa exatamente um quarto. Não há quaisquer dentes na parte de baixo da boca, mas na de cima, de cada lado, há 5 dentes largos de raiz fina, de perfil reto em direção à raiz, finamente serrilhados na coroa ovalada mais larga. Possui 42 escamas na linha lateral e 4 acima e 5 abaixo dela mesma na parte da frente do corpo (além daquelas da linha mediana acima e abaixo). As nadadeiras ventrais situam-se abaixo do último raio da nadadeira dorsal. Número de raios: D.: 7; V.: 8; A.: 8. As escamas não possuem estrias onduladas nítidas em sua parte exposta, mas possuem, por outro lado, uma escultura própria de finas linhas inclinadas, que na parte superior das escamas correm paralelas para baixo e para trás, e na sua parte inferior na direção oposta, de modo que elas se encontram parcialmente em ângulo na linha do eixo da escama. O pequeno peixe não apresenta qualquer desenho. Como se trata claramente de um jovem, e só tenho um exemplar disponível, não vou dar qualquer nome de espécie ou descrevê-lo detalhadamente, mas apenas aproveitar esta oportunidade para chamar a atenção para o fato de que o gênero está bem mais representado ao sul do que se sabia até agora. 84

85 dorsal e a cabeça, e existe uma depressão mais ou menos nítida, frequentemente quase imperceptível, no limite entre o dorso e a cabeça. A maior altura logo à frente da nadadeira dorsal é contida 3 vezes, ou algo parecido, até 3 1 /3 (mais precisamente de quase 3 até 3 4 /10) no comprimento total (nadadeira caudal não considerada); o comprimento da cabeça 4 vezes ou um pouco mais, quando a larga borda da membrana branquial não é considerada. A largura da testa (em linha reta entre os olhos) é aproximadamente igual ou pouco maior que a distância entre a borda posterior dos olhos e as membranas branquiais, onde esta é mais larga, e 2 1 /2 3 vezes maior que o diâmetro dos olhos, que é contido quase 6 vezes no comprimento da cabeça, considerando a mencionada membrana. O ponto médio dos olhos fica igualmente distante da ponta do focinho e da borda do opérculo (sem considerar a membrana) e um pouco abaixo da linha transversal, que faz o limite entre as superfícies nua e curva da testa e do crânio e a cobertura de escamas da parte anterior do dorso. Uma linha da ponta do focinho até a metade da nadadeira caudal passa, em alguns indivíduos, através do ponto médio dos olhos, em outros, por sua borda superior. O profundo e estreito sulco da testa estende-se da linha limite acima mencionada até uma linha que liga as narinas anteriores. O pontudo lábio superior avança bastante à frente do inferior. É quase desnecessário acrescentar que os dentes possuem o tipo comum deste gênero e formam, além de uma fileira, que tanto em cima como embaixo chega às bordas dos lábios, um grupo em forma de Y em cima e de V embaixo, dentro da boca. Existe uma escultura bem desenvolvida, parte estriada parte granulada, no grande osso principal do aparelho opercular, nos ossos que, como um anel aberto, envolvem os olhos pelos três lados, também no chamado Suprascapulare e mais fraca no crânio. As escamas possuem na sua parte exposta uma superfície irregular, quase áspera, cuja escultura se constitui de saliências concentricamente ordenadas, interrompidas por linhas finas, que se irradiam do centro da escama, saliências estas que em direção ao centro são mais irregulares e em direção à borda livre delicadamente ciliadas, menos nítidas. Existe, na maioria, somente uma estria radial pronunciada, nítida na parte visível de cada escama, que se posiciona ao longo do comprimento, paralelamente à linha lateral e ao eixo do corpo; nas proximidades das nadadeiras caudal e anal estas aumentam em número e aí, na parte da escama escondida 85

86 pelas escamas vizinhas existem, ainda, algumas poucas estrias, que seguem para cima e para baixo até as bordas superior e inferior da escama. A linha lateral é quase reta e seus tubos, em geral simples e retos, nos maiores exemplares são às vezes bifurcados, principalmente na parte da frente. Contam-se em geral 45 46, às vezes 47, escamas ao longo dos lados na linha lateral, da cintura escapular até a parte livre da nadadeira caudal; e, em torno da parte da frente do corpo, à frente da nadadeira dorsal, em geral 38, ou seja 8 acima e 9 abaixo da linha lateral, além desta e das ímpares da linha mediana do dorso e do ventre; (em um exemplar encontro 7 de um lado, em lugar de 8). A altura da nadadeira dorsal é menor que sua distância até a nadadeira adiposa, que se situa acima da metade da nadadeira anal; o comprimento da nadadeira dorsal (em sua base) é maior que a metade da distância mencionada; o seu segundo (aparentemente primeiro) raio é mais que a metade do terceiro em comprimento, e este, por sua vez, é muito pouco mais curto que o quarto, o qual é o mais longo; o último é somente um pouco maior que a metade do segundo. O lugar da nadadeira dorsal, de certo modo, não é bem no meio do dorso, pois a distância entre o seu último raio e o primeiro da nadadeira caudal é um pouco menor que a distância entre a ponta do focinho e seu primeiro raio. As nadadeiras peitorais não alcançam as nadadeiras ventrais; estas, que se situam bem abaixo da metade da nadadeira dorsal, alcançam mais da metade da distância que a separa da nadadeira anal. O número de raios deve ser dado do seguinte modo: B.: 4; D.: 13 (3. 10); P.: 15 17; V.: 9 (1. 8); A.: 12 (3. 9); C.: com o que se nota que os primeiros raios das nadadeiras dorsal e anal são tão rudimentares, que quase se poderia justificar não contá-los (o que provavelmente já foi o caso na descrição deste autor de espécies semelhantes), e que os dois últimos raios das nadadeiras dorsal e anal poderiam ser contados como um raio duplo e fendido até a base; em um exemplar existem nitidamente na nadadeira anal, já que o terceiro raio, normalmente não bifurcado, o é fracamente, e o mais anterior é mais longo que o normal. A cor nos exemplares conservados em álcool é totalmente amarelo-latão ou branco-prateada e somente a nadadeira dorsal possui manchas pequenas. Reinhardt trouxe ainda metade de uma pele de um Prochilodus, com cerca de 17 polegadas de comprimento, do Rio São Francisco. Esta mostra, primeiramente, um número de raios ligeiramente discrepante, ou seja: D.: 12 (3. 9); P.: 17; V.: 9; A.: 10 (2. 8, o último largo); C.: ; além disso, 49 escamas na linha lateral, 11 acima e 10 abaixo desta, na parte anterior do corpo, não considerando as ímpares na linha média. O comprimento da cabeça é como em P. affinis, mas a altura representa acima de um terço do comprimento total (nadadeira caudal não considerada, um pouco menos que isso, quando esta é incluída). A escultura no opérculo e nos ossos da cabeça é bastante forte e bem mais nítida no crânio e acima das narinas; com pouca dúvida, até certo grau, isto é uma consequência do tamanho e idade do exemplar. Por outro lado, a escultura das escamas é diferente: em parte ela é mais grosseira, em parte possui pequenas elevações, que dão à porção descoberta das escamas seu carácter, nesse caso uma direção contínua longitudinal ou radial. Também nesta pele ainda há traços das pequenas manchas na nadadeira dorsal. A questão de este peixe do São Francisco que com uma certa justificativa ouso denominar como o verdadeiro P. argenteus Sp. ser separado ou não da forma do Rio das Velhas como uma espécie distinta parece poder ser respondida positivamente, em especial com base na diferença de escultura das escamas acima salientada; a altura do corpo, ao contrário, dificilmente pode ser utilizada para separá-los, porque um dos maiores exemplares da forma do Rio das Velhas apresenta precisamente a mesma relação entre altura e comprimento (1:2 1 /5) ou, em outras palavras, a mesma forma 86

87 de corpo relativamente alta. Nesse ínterim, será necessário considerar de forma um pouco mais cuidadosa as descrições existentes de P. argenteus, para ver se é possível decidir a qual dessas duas formas deve ser dado este nome. O exemplar de Spix e Agassiz, do Rio São Francisco, empalhado e com 15 polegadas de comprimento, tem os números: D.: 12 (3. 9); P.: 16; V.: 9; A.: 12 (3. 9); C.: ; 52 escamas na linha lateral, e 18 em uma linha transversal entre as nadadeiras dorsal e ventral; o comprimento da cabeça é um quinto do comprimento total (nadadeira caudal incluída). A figura (Spix, loc. cit., prancha 38) fornece aproximadamente a aparência normal do peixe, mas não é precisa nas particularidades: as escamas são demasiadamente escassas e grandes, a nadadeira adiposa é pequena, a distância entre esta e a nadadeira dorsal é grande demais e assim por diante. O exemplar de Valenciennes de P. argenteus, que tem um pé de comprimento e foi trazido do Rio São Francisco por Aug. de St. Hilaire, possuía os números: D.: 12; P.: 16; V.: 9; A.: 10; C.: 23, e 47 escamas ao longo da linha lateral; a altura dada é de aproximadamente um quarto e o comprimento da cabeça quase um quinto do comprimento total (nadadeira caudal incluída), o que concorda com os exemplares mais alongados da forma do Rio das Velhas (P. affinis). Certamente podem ser encontradas algumas discordâncias entre a minha descrição e a de Valenciennes (as no número de raios são apenas razoavelmente aparentes), mas não me parecem ter um grande significado (o olho é descrito como muito pequeno, a nadadeira dorsal muito alta, seu raio mais comprido como sendo o sexto raio em vez do quarto, a nadadeira anal e as peitorais bem longas e a base das nadadeiras ventrais situada sob o terceiro e quarto raios da nadadeira dorsal, em vez de ser abaixo do sexto ou sétimo), ou melhor, necessitam de confirmação. Além disso, Valenciennes descreve sob o nome P. costatus uma pele de 15 polegadas de comprimento (trazida do mesmo rio pelo mesmo viajante), na qual ele, do mesmo modo que eu, no exemplar do Rio São Francisco descrito acima, encontrou além de várias pequenas diferenças menores, às quais também não dou grande significado uma escultura dos ossos da cabeça muito especial, mas por outro lado o mesmo número de escamas [?] que no seu P. argenteus e um raio a menos nas nadadeiras dorsal e anal: ou seja D.: 11; V.: 9; A.: 9 (embora esteja escrito A.: 11, isto só pode ser um erro de escrita). Se quisermos obter algum resultado desses dados, ousaria dizer que a hipótese mais razoável é que o P. argenteus de Valenciennes corresponde à forma que aparece no Rio das Velhas (P. affinis Rhdt.), seu P. costatus, por outro lado, corresponde ao verdadeiro P. argenteus Spix (nob.), conhecido somente do Rio São Francisco. Günther encontrou, em duas peles de 20 polegadas de comprimento do Rio Cipó (como mencionado, um afluente do Rio das Velhas), os seguintes números de raios: D.: 12; V.: 9; A.: 10, o que concordaria melhor com o número encontrado no exemplar de Reinhardt oriundo do Rio São Francisco, supondo que a contagem tenha sido realizada exatamente do mesmo modo; o dado de Günther L. transv concorda mais com a nossa forma do Rio São Francisco, ao passo que L. lat. 45 concorda mais com a relação mais comumente encontrada na forma do Rio das Velhas. O comprimento da cabeça é dado como sendo extraordinariamente pequeno (somente até três quatorze avos do comprimento total, sem a nadadeira caudal); a altura do corpo (dois quintos ou um terço do mesmo comprimento total) mostra uma variação semelhante, mas não tão grande como a que ocorre em P. affinis. Sem poder decidir se a forma que ocorre no Rio Cipó é uma ou outra (mais provavelmente parece ser a mesma do Rio das Velhas), tenho de considerar, por enquanto, que no sistema fluvial do Rio São Francisco devem ocorrer (no mínimo) duas espécies próximas (como Valenciennes também considerou); que estas se diferenciam principalmente pela escultura da cabeça eu atribuo 87

88 tanta importância a esta característica, que uma terceira espécie de Prochilodus, que descrevi em outro lugar 108, mostra-se, nesse aspecto, ser um terceiro tipo talvez pela escultura mais forte ou mais fraca dos ossos da cabeça (desde que isso não seja exclusivamente dependente da idade); provavelmente também pelo número diferente de fileiras de escamas (apesar das anotações publicadas sobre esse aspecto não concordarem bem com o que temos encontrado); por outro lado, é duvidoso que o número de raios das nadadeiras dorsal e anal seja de algum significado nesse aspecto. E dessas duas formas sou mais inclinado a classificar aquela que somente é conhecida do Rio São Francisco como P. argenteus Spix. Ag. e como P. costatus de Valenciennes a outra, que ocorre no Rio das Velhas e, provavelmente, também no Rio São Francisco (conclusão contrária não seria tão justificada), como P. argenteus Val. (não Spix) motivo pelo qual ela receberia o nome sugerido por Reinhardt. Das anotações do Prof. Reinhardt sobre P. affinis, devo adicionar ainda que é muito comum no Rio das Velhas e seus afluentes e ocorre também em águas paradas, especialmente na Lagoa Santa; permanece mais comumente em pequenos grupos, embora seja visto também com frequência isoladamente nos pequenos lagos de águas claras; normalmente se mantém perto do fundo, mas pode ser visto também por longo tempo próximo da superfície. Pode alcançar o comprimento de 1 1 /2 pé, embora a maioria que se pesca no Rio das Velhas seja menor, mais próximo de um pé de comprimento. Não morde o anzol (como, de acordo com D Orbigny, é o caso de P. lineatus do Rio da Prata), mas é capturado com rede ou com o instrumento de pesca conhecido como pari 109. Quando percebe que está preso, dá saltos altos fora da água para sair da rede; como todos os Characini, morre logo depois de ser retirado da água. Sua carne tem geralmente um sabor ligeiro de terra, e apesar de ser comido normalmente, não é muito valorizado nas regiões por onde Reinhardt viajou. Nestas e provavelmente em toda a Província de Minas Gerais, de acordo com as informações que Reinhardt pode coletar, recebe o nome crumatã ou curumutã, que foi mencionado com uma grafia um pouco diferente, curimata há mais de 200 anos por Marcgraf. A denominação pacu, que as espécies desse gênero recebem na língua Guarani, de acordo com D Orbigny, e que Spix igualmente atribui à espécie que ocorre no Rio São Francisco, apesar de os moradores de Porto Salgado usarem o nome curimata, pertence em Minas Gerais a peixes completamente diferentes (Siluridæ, pp. 47, 50 e 77) e se usa na Guiana e ao longo do Orinoco, de acordo com Humboldt e Schomburgk, para um grande Myletes. Com relação a Paradon Hilarii Rhdt. e Characidium fasciatum Rhdt. referimo-nos à dissertação do Prof. Reinhardt acerca de peixes provavelmente não descritos das famílias dos Characini em Oversigt over det K. D. V. Selsk. Forhandl. de 1866, pp , tomo II. As figuras originais estão impressas a seguir. 108 P. asper (Vid. Medd. fra den naturhist. Forening 1874, p. 226). 109 Em lugares onde o rio tem uma pequena queda, faz-se uma represa de gravetos e galhos, na qual se deixa somente uma abertura de 3 4 pés; abaixo desta prende-se uma grande caixa com o fundo de treliça, na qual os peixes que nadam com o fluxo do rio pela abertura ficam presos e são capturados, já que não conseguem voltar subindo a corrente de água em queda que derrama na caixa. Onde o curso normal do rio não facilita o uso desse equipamento, faz-se uma represa mais sólida, e cria-se uma queda dágua artificial, uma vez que a água acumulada, pelo menos no tempo das chuvas, não encontra saída suficiente nos muitos furos e fendas da represa (R.) 88

89 Fig. 1-2 Characidium fasciatum. Rhdt. 3-4 Parodon Hilarii. Rhdt. C. O Grupo dos Anostomus e Tetragonopterus 4. Leporinus elongatus Val. ( L. pachyurus Günth., vix Val.) Os Leporinus assemelham-se tanto entre si nos traços gerais, que considero pouco útil dar descrições detalhadas das espécies que tive de tratar como novas, ou de uma mais antiga, que até agora estava somente descrita de forma incompleta: será suficiente salientar alguns traços principais. L. elongatus é descrita de forma muito imprecisa por Valenciennes, que teve como base um exemplar de 16 polegadas de comprimento que Aug. de St. Hilaire trouxe do Rio São Francisco; além desse, D Orbigny tinha trazido um exemplar, com 1 pé de comprimento, do Rio da Prata, pescado perto de Buenos Aires. De uma espécie de Leporinus, que concordo com o Prof. Reinhardt em considerar como L. elongatus, esse naturalista trouxe três exemplares do Rio das Velhas, dos quais o maior tem um pouco mais de 10 polegadas de comprimento, 89

90 o menor um pouco mais de 7 polegadas. Sobre estes será suficiente falar que a maior altura do corpo (à frente da nadadeira dorsal) é contida 3 1 /3 vezes ou um pouco mais (3 13 /20) no comprimento total, da ponta do focinho até o limite entre a nadadeira caudal e a cobertura de escamas; o comprimento da cabeça (membrana opercular incluída) cabe 4 vezes ou um pouco mais (um sétimo ou até um oitavo) no mesmo comprimento total. O olho situa-se bastante alto do lado da cabeça e está equidistante da ponta do focinho e da borda da abertura branquial, ou um pouco mais próximo desta última, quando a membrana do opérculo não é considerado; se o for, está um pouco mais próximo da ponta do focinho. O diâmetro dos olhos é contido de 2 a 2 1 /2 vezes na distância existente entre eles e, aproximadamente, 6 vezes no comprimento da cabeça; nos mais jovens esse diâmetro é relativamente maior. O focinho avança bem à frente do lábio inferior, e a boca é relativamente grande, de modo que o ponto final das dobras das suas comissuras se situa abaixo das narinas triangulares de trás, as quais são equipadas na parte da frente com uma dobra de pele; as anteriores são, como é comum, da forma de um trompete ou corneta. O número de dentes é 3 3 de cada lado, os da frente, em cada maxila, são em geral os mais longos, todos marcadamente obtusos nos exemplares maiores. Dois exemplares possuem 42 escamas em fila na linha lateral, o terceiro, menor, ; a parte da frente do corpo, à frente das nadadeiras dorsal e ventrais, possui 6 fileiras de escamas acima e 7 abaixo da linha lateral, além desta e das ímpares no meio do dorso e do ventre; dessa forma, 30 no total. As escamas possuem em sua borda livre uma superfície delicada, finamente vermiculada e um maior ou menor número de linhas radiais ou estrias espalhadas, que são muito mais numerosas nos exemplares mais velhos que nos mais jovens, e mais numerosas na parte póstero-inferior do corpo que na parte ântero-superior. As nadadeiras peitorais não alcançam as nadadeiras ventrais (mas vão além da metade da distância até estas); o mesmo se verifica com a nadadeira anal, em relação à nadadeira caudal. O número de raios é dado da forma mais correta como segue: D.: 13 (2. 11); P.: 17 (raramente 18); V.: 9; A.: 11 (2. 9) 111 ; C.: (ou seja, 3 não divididos acima e abaixo; dois destes são, entretanto, muito curtos). O primeiro raio da nadadeira dorsal é mais que a metade do comprimento do segundo. Não existem, nos exemplares conservados em álcool, traços de qualquer padrão. Um exemplar empalhado de Leporinus do Rio Cipó (um afluente do Rio das Velhas como mencionado anteriormente) não foi considerado por Günther como L. elongatus (que ele nunca tivera a oportunidade de dissecar), mas como L. pachyurus Val., espécie originalmente descrita do Rio Amazonas (de acordo com Castelnau oriunda do Araguay), que também alcança um tamanho de 17 polegadas. Eu não posso senão pensar que é muito mais provável que a espécie que ocorre no Rio Cipó seja o L. elongatus Val. aqui descrita; a curta descrição feita por Günther mostra também grandes discrepâncias das características que Valenciennes fornece para seu L. pachyurus; e o nome popular, piao, dado a este peixe trazido por 110 Encontro 41 também em uma metade de pele de um L. elongatus do Rio São Francisco, que Reinhardt trouxe. 111 Entretanto, cumpre-nos lembrar aqui que à frente das nadadeiras dorsal e anal existe um rudimento insignificante de raio, que não quis contar; e que o último raio completamente bifurcado nessa nadadeira foi contado como dois. Além disso, existe na base do raio externo da nadadeira ventral um rudimento ou uma farpa, que com a ajuda de uma faca pode soltar-se desse raio que eu contei como o primeiro. Não posso, de acordo com as regras seguidas aqui, contar esse rudimento como um raio independente; se este raio rudimentar é contado (como sem dúvida frequentemente aconteceu com outros Characini), a espécie tem, obviamente 10 raios na nadadeira ventral. 90

91 Cumberland, é claramente o mesmo pelo qual, segundo Reinhardt, é chamado nas margens do Rio São Francisco e da Lagoa Santa, ou seja, piau 112. Reinhardt dá a seguinte descrição sobre as cores: Nos indivíduos recém-pescados a superfície da testa é cinza-esverdeado e a mesma cor toma todo o dorso, mas produz em determinadas direções um brilho prateado; os lados da cabeça e do corpo e toda a superfície do ventre são branco-prateados; as nadadeiras dorsal e adiposa possuem uma cor esverdeada; as nadadeiras peitorais são, às vezes amarelo-pálidas, às vezes amarelo-alaranjadas mais vivas; as nadadeiras ventrais, a anal e a caudal possuem uma maravilhosa cor vermelho-alaranjada, a última delineada com uma borda preta. A córnea tem uma cor prateada. Apesar de eu ter visto um bom número de indivíduos, nunca notei que esta espécie variasse em cor. Reinhardt obteve esta espécie somente dos rios maiores, mas não dos lagos da região onde esteve; o maior indivíduo que obteve tinha um comprimento de 17 polegadas. Apesar de não estar entre os peixes mais valiosos, possui um sabor muito agradável; morde o anzol, mas não é capturado em grande quantidade na região de Santa Luzia e Lagoa Santa. Nos indivíduos trazidos a Reinhardt em meados de fevereiro, os ovários ainda estavam bastante pequenos e as ovas tinham uma cor avermelhada. 5. Leporinus Reinhardti Ltk. (prancha IV, fig. 10) L. affinis Rhdt., (in sched. 113 ). De uma espécie de Leporinus, que os moradores chamam de timboré-pintado, Reinhardt trouxe 6 exemplares do Rio das Velhas; o maior deles tinha somente pouco mais de 7 polegadas de comprimento; ela pertence ao grupo de espécies que possuem uma série de três manchas escuras ao longo dos lados, a primeira abaixo da nadadeira dorsal 114 ; o número de raios é como em L. elongatus: D.: 13 (2. 11); P.: 15 17; V.: 9; A.: 11 (2. 9); C.: A maior altura do corpo é contida de 3 até acima de 3 1 /2 vezes no comprimento total (até a nadadeira caudal), o comprimento da cabeça (a membrana do opérculo incluída) 4 vezes, um pouco acima ou abaixo disso; a cabeça parece ser relativamente menor nos maiores, relativamente maior nos exemplares mais jovens. O focinho não avança à frente da maxila inferior; a boca é pequena; suas comissuras situam-se, portanto, abaixo das narinas anteriores. O olho fica um pouco mais baixo do lado da cabeça que em L. elongatus, equidistante da ponta do focinho e da abertura branquial; seu diâmetro é contido 2 vezes na largura da testa arqueada (em linha reta), cerca de 5 vezes no comprimento da cabeça. O perfil da cabeça e da parte anterior do dorso nem sempre é suave, mas possui uma interrupção ou depressão mais ou menos reconhecível na passagem de uma para a outra. Como é bem comum, os dentes, cujo número também é 3 3, são mais obtusos nos exemplares mais velhos; os jovens os possuem mais agudos, 112 Reinhardt adiciona: por outro lado, parece que, de acordo com Prindsen af Wied ( Reise nach Brasilien in den Jahren 1815 bis 1817, segundo vol., p. 342, oitava edição), na Província da Bahia denomina-se uma das espécies manchadas de preto com este nome. 113 Este nome foi dado por Günther, nesse ínterim, a uma outra espécie e não poderia, dessa forma, ser utilizado aqui. 114 Em um exemplar mais jovem do Rio São Francisco, essas manchas são, todavia, muito pouco nítidas. 115 O que foi salientado sobre os raios rudimentares e bifurcados em L. elongatus, naturalmente, também vale para esta espécie. 91

92 com uma borda mais arredondada e especialmente uma nítida incisão nos dentes superiores da frente. A linha lateral é nítida e compreende 38 escamas (somente em um exemplar 37 ou 39); na parte anterior do corpo o número de séries de escamas é 30, como em L. elongatus, precisamente 6 acima e 7 abaixo da linha lateral, além das séries ímpares no meio do dorso e do ventre. As nadadeiras peitorais não alcançam as ventrais, a nadadeira anal também não alcança a caudal. O primeiro raio da nadadeira dorsal não é, de modo geral, nem a metade do segundo. As escamas são em sua borda livre ornamentadas apenas com linhas finas, aproximadamente concêntricas à borda; suas estrias são bem marcadas, mas pouco numerosas. Aug. de St. Hilaire trouxe do Rio São Francisco, de acordo com o que Valenciennes relata, dois Leporinus com essas três manchas bem características de cada lado, e ambos das mesmas espécies que D Orbigny havia trazido do Rio da Prata para o Museu de Paris; um deles, que Valenciennes anteriormente havia retratado sob o nome Curimatus acutidens (Viagem de D Orbigny, prancha 8, fig. 1), ele identificou mais tarde talvez meio apressadamente como L. Frederici Bloch do Suriname; o segundo (que ele acredita reconhecer em um dos peixes trazidos por Castelnau do Rio Amazonas 116 ) denomina-se L. obtusidens Val. (D Orbigny, loc. cit., prancha 8, fig. 2). Poderia lançar-se a dúvida se L. acutidens não seria a forma jovem de L. obtusidens; os exemplares de Valenciennes da espécie mencionada por último tinham, respectivamente, 10 e 14 polegadas de comprimento; os da espécie mencionada em primeiro lugar não eram maiores que os exemplares do Museu de Paris de L. Frederici trazidos do Suriname, ou seja, cerca de 8 polegadas; pois, de outro modo, isso certamente seria mencionado, e não há contradição no fato de que a forma maior tenha dentes mais arredondados e cabeça relativamente mais curta. Que Valenciennes tenha encontrado uma pequena diferença em suas duas supostas espécies D.: 12, em lugar de D.: 11 (em L. Frederici); P.: 16, em vez de P.: 15; C.: 23, em lugar de C.: 21 é em parte sem importância (nadadeira peitoral), em parte decorrente de um engano (nadadeira caudal 117 ). Mais importante é que L. obtusidens deve ter 42 escamas na linha lateral, ao passo que L. acutidens deve ser considerado como tendo 38, como se relata para L. Frederici 118. Nosso peixe do Rio das Velhas aproxima-se deste, mas difere de L. obtusidens de Valenciennes por ter 38 (e não 39) escamas na linha lateral; mas não pode, de forma alguma, ser classificado como L. Frederici (Bl.), do qual o Museu possui três pequenos exemplares do Suriname (dois com 38 e o terceiro com 39 escamas na linha lateral), e nos quais existem somente 26 filas de escamas na parte anterior do corpo, ou seja, 5 acima e 6 abaixo da linha lateral e uma ímpar no meio em cima e embaixo; e, finalmente e o mais importante, L. Frederici tem 4 4 dentes119,ao passo que a forma disponível do Rio das Velhas e do São Francisco tem somente 3 3, como em L. elongatus. Não resta outra saída, a não ser considerar que, tanto no Rio das Velhas como no Rio São Francisco, ocorre uma espécie com três manchas, a qual não concorda com qualquer das descritas anteriormente, se não se considera que estas, que tudo indica serem do sistema fluvial do Rio São Francisco, 116 De acordo com Castelnau (loc. cit., p. 58, prancha 29, fig. 1) esta é, todavia, uma espécie distinta, L. bimaculatus. 117 O número de raios no verdadeiro L. Frederici é o mesmo que no peixe do Rio das Velhas (L. Reinhardti m.). 118 As ilustrações no trabalho da Viagem de D Orbigny não esclarecem nada, pois claramente, em ambos os casos, as escamas foram desenhadas demasiadamente pequenas e muito numerosas. 119 As ilustrações mostram 4 (!) dentes nos L. acutidens, 3 nos L. obtusidens

93 foram incorretamente classificadas como sendo das espécies 120 mencionadas, parte no sul, no Rio da Prata, parte no norte, no Suriname. Da forma como as coisas se apresentam, não tive outra opção senão dar um novo nome à forma trazida por Reinhardt. No peixe vivo a superfície da testa tem uma cor oliva-escuro, o dorso é mais claro, cinzaesverdeado, refletindo em certas direções um brilho prateado; para baixo, em direção à linha lateral, sua cor fica mais pálida e transforma-se à frente desta em uma cor prateada pura, que toma os lados e o ventre e, do mesmo modo, predomina nas superfícies laterais da cabeça; nos lados do corpo, exatamente na linha lateral, encontram-se três manchas escuras alongadas, das quais a mais anterior se situa abaixo da nadadeira dorsal, a traseira perto da raiz da nadadeira caudal, e a terceira aproximadamente no meio, entre as outras duas; estas podem, em alguns indivíduos, ser mais pálidas e menos nítidas que em outros, às vezes, no mesmo indivíduo, menos desenvolvidas de um lado que do outro; mas, aparentemente, nunca estão ausentes e sua aparência é, de acordo com minha experiência, completamente independente da idade e do tamanho do peixe. As nadadeiras dorsal e caudal são marrom-esverdeadas; as nadadeiras anal e ventral possuem, às vezes, uma cor amarelo-suja, às vezes mostram um fraco tom alaranjado; as nadadeiras peitorais são quase sem cor. A córnea é prateada, aqui e ali manchada de preto. (R.) Aqui devo acrescentar que exemplares mais jovens possuem uma densa série de listras transversais mais ou menos nítidas no dorso um desenho que efetivamente parece ser muito comum nos peixes desse gênero quando jovens. Apesar de não poucos exemplares chegarem às mãos de Reinhardt em diferentes tempos, entre estes fêmeas cheias de ovas (com o que se pode dizer que teriam alcançado aproximadamente o tamanho normal da espécie), ele nunca viu exemplar algum que tivesse mais que 9 polegadas de comprimento 121. Esta espécie não ocorre somente no Rio das Velhas e seus afluentes, mas também nas águas paradas e nos lagos em seu vale, por exemplo, na Lagoa Santa; Reinhardt salienta, ainda, que o exemplar que ele viu deste lago era relativamente mais alto que a forma ocorrente nos rios, mas, como não conseguiu encontrar outras discrepâncias e somente pode examinar um exemplar ainda imaturo de 5 6 polegadas de comprimento, ele teve de deixar para futuros pesquisadores da fauna piscícola desta região examinarem se esta diferença é constante e se pode ter um significado maior. O tempo de desova da espécie parece ocorrer no início de março, pois, nas fêmeas trazidas a mim no final de fevereiro, os ovários estavam tão fortemente desenvolvidos que os grãos verde-pálidos já começavam a sair da abertura genital, quando se apertava o peixe ou o colocava em aguardente. Ele morde ferozmente o anzol, pelo menos no tempo de acasalamento, mas, devido ao seu tamanho pequeno, não é de grande importância como alimento. Na região da cidade de Lagoa Santa é chamado simplesmente de timboré, palavra indígena que provavelmente na língua guarani denominou uma única espécie, mas que agora se utiliza indiscriminadamente para todos os Leporinus que aparecem; quando se deseja diferenciar esta espécie das demais, muitos chamam de timboré-pintado, ou seja, timboré com pintas. 120 Hensel menciona um peixe, que ele considera L. obtusidens, como muito comum em Porto Alegre; mas seu exemplar estava tão ruim, que uma determinação mais precisa não foi possível. 121 De acordo com D Orbigny, L. obtusidens no Rio da Prata deveria alcançar um comprimento de polegadas. 93

94 6. Leporinus tæniatus Rhdt. (prancha IV, fig. 11) Reinhardt trouxe um maior número de exemplares desta espécie, dos quais, porém, nenhum tem mais que 8 1 /2 polegadas de comprimento. A maior altura do corpo é contida, nos exemplares mais alongados, 4 vezes, nos demais (fêmeas com o ventre inchado de ovas), quase 3 1 /2 vezes no comprimento total (até a nadadeira caudal); a cabeça (a borda de pele do opérculo incluída) 4 1 /4 ou 4 1 /8 no mesmo. O número de raios é exatamente o mesmo das duas espécies anteriores, quando não apresentam, excepcionalmente, um raio a menos nas nadadeiras dorsal ou anal. Em comparação com as duas espécies anteriores o número de escamas na linha lateral é 37, raramente 38; as filas de escamas da parte frontal do corpo continuam sendo 5 acima e 6 abaixo da linha lateral, além das duas ímpares, ou seja 26 no total, ou 2 a menos de cada lado. As escamas, como em L. elongatus, caracterizam-se por apresentarem estrias onduladas menos numerosas e nítidas para cima, em direção ao dorso, mais numerosas e nítidas para baixo, em direção ao ventre. A parte de cima da boca não avança à frente da parte de baixo; as comissuras e a maxila superior terminam abaixo das narinas anteriores, que possuem a forma comum de um cone; o diâmetro dos olhos é quase a metade da largura da testa, aproximadamente um quinto do comprimento da cabeça; o olho situa-se bastante alto do lado da cabeça. A boca é pequena; existem três dentes de cada lado da parte de cima da boca, quatro na parte de baixo, dos quais os da frente são bem longos e pontudos. As nadadeiras peitorais alcançam somente a metade da distância até as ventrais ou um pouco além disso, ao contrário, a nadadeira anal é tão alta que, quando dobrada, alcança até a raiz da caudal, ou quase. O primeiro raio da nadadeira dorsal tem a metade do comprimento do segundo. O padrão característico desta espécie constitui-se de uma faixa escura, que se estende ao longo do lado sobre a fileira de escamas da linha lateral; na realidade é limitada por esta e, portanto, tem a aparência serrilhada, embora com frequência se prolongue, principalmente pelas bordas das duas fileiras de escamas que se unem. Em alguns (jovens) exemplares esta faixa apresenta-se muito fraca; e em três exemplares mais jovens o tom escuro do dorso apresenta-se diferenciado em cerca de 12 manchas ou listras mais ou menos nítidas. A descrição de Günther de L. melanopleura difere em dois pontos da que se apresenta aqui: a faixa escura (que além do mais ele considera um pouco mais larga do que em geral se mostra no peixe de que dispomos) situa-se abaixo da linha lateral, em lugar de sobreporse à própria série de escamas da linha lateral; e ele assinala somente 3 fileiras de escamas acima e 5 abaixo da linha lateral, além da ímpar de cima. Se isso está correto 122, é razoável considerar-se que é da mesma espécie que ocorre no Rio Cipó e no Rio das Velhas e, por isso, considerei como o mais correto descrever a última sob o nome sugerido por Reinhardt. O L. striatus de Kner (do Mato Grosso) certamente está muito perto deste, mas tem uma outra relação de dentes ( 4 4 ). 122 Com todo respeito ao cuidado e precisão do Dr. Günther, eu estaria inclinado a supor que aqui se cometeu um engano, pois nenhum Leporinus que eu conheça possui tão poucas fileiras de escamas, não fosse o caso do Prof. Peters ( Berl. Monatsber. 1868, p. 455) ter descrito resumidamente um Leporinus macrolepidotus, do Rio de Janeiro, do mesmo grupo do presente com respeito à cor (a faixa preta situa-se aqui acima da linha lateral), mas com somente três fileiras de escamas acima e duas abaixo da linha lateral; existem 35 escamas nesta, mas o número de raios é incomum (D.: 10; A.: 8). 94

95 No peixe recém-retirado da água, a testa e o dorso possuem uma cor cinza-amarelo que, em certas direções, mostra um fraco reflexo prateado e ficam mais pálidos para baixo em direção à linha lateral; esta caracteriza-se por uma listra bastante larga marrom-acinzentada, que pode ser mais escura ou mais clara, mas é sempre muito evidente; abaixo desta os lados são de brilho prateado, e, finalmente, esta cor torna-se branco-porcelana no ventre. Às vezes encontram-se, principalmente nos indivíduos mais jovens, ao longo de todo o alto do dorso, linhas transversais escuras, que, entretanto, nunca alcançam a linha lateral, terminando um par de fileiras de escamas acima desta. A nadadeira adiposa é marrom-amarelada, todas as demais nadadeiras esbranquiçadas, sem qualquer cor mais viva. A pupila é negra, a córnea prateada em sua parte mais inferior, cinza, quase preta, na parte superior, embora se encontre mesmo na parte escura uma estreita borda prateada bem perto da pupila. Parece que a cor na época de reprodução fica um pouco mais viva, e, nas fêmeas com ovários fortemente aumentados, os lados do corpo emitem reflexos violeta-avermelhados em certas direções. O número de cecos no intestino é 10 (R.). Esta espécie é muito frequente no Rio das Velhas e seus afluentes; não alcança tamanho muito grande e só raramente é utilizada como alimento; de umas duas dúzias de indivíduos, que Reinhardt obteve nas diferentes estações do ano, nenhum era maior que o mencionado acima. Diferentemente da espécie anterior, é chamada timboré-rajado ou o timboré com listras. A época de reprodução pode-se considerar que começa no final de fevereiro; já no início desse mês, Reinhardt obteve indivíduos cujos órgãos sexuais estavam desenvolvidos em alto grau, e em vários deles, que foram trazidos de 17 a 25 de fevereiro, as ovas verde-pálidas já estavam saindo pela abertura genital; parece que o peixe nessa época morde mais facilmente o anzol que em outras. (R.) Nota. O número de dentes não é considerado em Leporinus como característica de espécie por Agassis, Valenciennes, Müller e Troschel, Kner ou por Günther, e só excepcionalmente é mencionado nas descrições de espécie. Examinando essa relação a fundo, obtém-se a seguinte visão geral das 4 espécies do Rio das Velhas: A) Com 3 3 dentes: 1. L. elongatus Val. O focinho avança fortemente à frente na parte inferior da boca; as dobras das comissuras da boca terminam abaixo das narinas posteriores. A nadadeira anal abaixada fica longe da caudal. Escamas da linha lateral: 42 (40 41); 30 ( 6 7 ) fileiras de escamas na parte anterior do corpo. Nenhum desenho. 2. L. Reinhardti Ltk. O focinho não avança à frente da parte inferior da boca; as dobras das comissuras da boca terminam abaixo das narinas anteriores. A nadadeira anal abaixada fica longe da caudal. Escamas da linha lateral: 38 (39); 30 ( 6 7 ) fileiras de escamas da parte anterior do corpo. Três manchas escuras de cada lado, a mais anterior abaixo da nadadeira dorsal, a última perto da raiz da nadadeira caudal. B) Com 3 4 dentes: 3. L. tæniatus Rhdt. O focinho não avança à frente da parte inferior da boca; as dobras das comissuras da boca terminam abaixo das narinas anteriores. A nadadeira anal abaixada alcança, ou quase, a caudal com sua ponta. Escamas da linha 95

96 lateral: 37 38; 26 ( 5 6 ) fileiras de escamas na parte anterior do corpo. Uma faixa escura ao longo da fileira de escamas da linha lateral. 4. L. Marcgravii Rhdt. O focinho não avança à frente da parte inferior da boca; as dobras das comissuras da boca terminam abaixo das narinas anteriores. A nadadeira anal abaixada fica longe da caudal com sua ponta. Escamas na linha lateral: 36 37; 22 ( 4 5 ) fileiras de escamas na parte anterior do corpo. Três fileiras de grandes manchas escuras ao longo dos lados do corpo. Em outras espécies, que tive oportunidade de examinar, encontrei 3 4 dentes em L. fasciatus Bl.; 4 4 em L. Frederici, L. nigrotæniatus Bl. e na espécie Leporellus pictus Kn. descrita adiante. 7. Leporinus Marcgravii Rhdt. (prancha IV, fig. 9) É o menor dos Leporinus do Rio das Velhas; os 6 exemplares disponíveis possuem comprimento total de no máximo 4 1 /3 polegadas. A altura é insignificantemente maior ( 1 /2 1 mm) ou precisamente igual ao comprimento da cabeça, com a borda de pele da abertura branquial incluída, e ambas são um quarto do comprimento total até a raiz da cauda, onde a cobertura de escamas termina às vezes um pouco além ou aquém disso. A largura da cabeça é igual à metade de seu comprimento. O olho, que fica bastante no alto dos lados da cabeça e um pouco mais próximo da ponta do focinho que da parte mais distante da borda livre do opérculo, tem um diâmetro que é contido quase 2 vezes no espaço entre os olhos ou 4 1 /2 vezes no comprimento da cabeça. O focinho é alto e curvado e não avança à frente da parte inferior da boca; a boca é pequena; a maxila superior e as dobras de suas comissuras terminam abaixo das narinas anteriores, estas possuem a forma comum e situam-se num nível abaixo das posteriores, que aqui se situam bem alto, pouco à frente da linha mediana dos olhos. Como nas espécies anteriores, existem 3 4 dentes, os quais em geral são muito pontudos, mas também podem ser arredondados em virtude do desgaste. A nadadeira dorsal tem o seu começo um pouco mais próximo da ponta do focinho que da raiz da nadadeira caudal; a ponta da nadadeira anal abaixada fica distante da nadadeira caudal. A linha lateral é nitidamente marcada e constitui-se de escamas; a parte anterior do corpo tem somente 22 fileiras de escamas, 4 acima e 5 abaixo da linha lateral, além das ímpares. As escamas não mostram qualquer escultura notável e somente poucas estrias. O número normal de raios 123 é: D.: 12 (2. 10); P.: 16; V.: 9; A.: 11 (2. 9); C.: ; entretanto, por duas vezes encontrei A.: 2. 8; uma vez D.: 3. 9 (ou seja o terceiro raio não era bifurcado), uma vez D.: 2. 9 e uma vez 2 : 11, ou seja, o último raio da nadadeira dorsal, que normalmente nesta espécie não é tão bifurcado para que seja naturalmente contado como 2, era aqui completamente dividido em dois raios. Geralmente o raio mais anterior das nadadeiras dorsal e anal é, no máximo, a metade do comprimento do segundo, mas pode excepcionalmente ser mais longo, às vezes não muito mais curto que o segundo; encontrei essa proporção na nadadeira dorsal de um exemplar e na anal de dois exemplares. Com relação à constituição interna, esclarece o Prof. Reinhardt que encontrou somente oito cecos abaixo da saída do estômago, enquanto o 123 Não se pode obviamente esquecer que à frente das nadadeiras dorsal e anal existe um rudimento de raio duro escondido entre as escamas, e que o raio não bifurcado mais externo da nadadeira ventral tem um pequeno rudimento semelhante na sua base, assim como as demais espécies de Leporinus. 96

97 número mínimo que os autores já reportaram até agora para este gênero foi de dez. A cor é descrita do seguinte modo: no peixe vivo ou recém-morto a superfície da cabeça e o dorso são de cor marrom-esverdeada, que, no dorso, mostra em certas direções um fraco reflexo prateado; descendo pelos lados, a cor do dorso torna-se, pouco a pouco, um branco-prateado puro, que ocupa todo o ventre. Ao longo do corpo, encontram-se três fileiras compridas de manchas cinzas ou negras. Na fileira superior, elas são em número de 8 10 e têm forma arredondada, meio irregular; ao longo do alto do dorso estas se unem mais ou menos completamente com as correspondentes do lado oposto (ou mais corretamente, pelo menos na parte verdadeira do dorso, entre a cabeça e a nadadeira dorsal, apresentam uma fileira ímpar de manchas transversais menores) e transformam-se assim numa faixa transversal irregular. A fileira intermediária segue a linha lateral e constitui-se de 7 manchas, que são maiores e mais alongadas que aquelas da fileira superior; a de baixo finalmente alinha-se com a raiz da nadadeira peitoral e constitui-se de 4 5 manchas meio apagadas, que são sempre muito mais pálidas que aquelas das duas fileiras de cima e, às vezes, quase invisíveis. Como algo muito característico desta espécie, deve ser ainda salientado que a nadadeira adiposa é de um vermelho-coral vivo, com borda negra, e que uma pequena mancha muito nítida da mesma cor vermelha se encontra de cada lado dos cantos da boca na parte inferior do osso da maxila superior. As nadadeiras são branco-acinzentadas, sem manchas ou faixas, a íris prateada brilhante, aqui e ali manchada de preto e a pupila negro-azulada. Os poucos dados que se fornecem na Horæ Ichthyologicæ sobre M. maculatus M. Tr. da Guiana fazem pensar em uma forma semelhante à descrita aqui, quando se exclui a referência a L. fasciatus, que sugere claramente que L. maculatus deve ser bastante diferente de L. Marcgravii. De acordo com a ilustração que Castelnau forneceu da forma que Valenciennes denominou com o mesmo nome 124, pode-se pelo menos considerar a possibilidade de se comparar esta espécie com a que temos. Pela experiência de Reinhardt, esta espécie tem seu lar somente no Rio das Velhas e seus afluentes, mas não aparece nos pequenos lagos e nas partes de água parada. Não é pescado com frequência e somente poucas vezes foi trazido a Reinhardt no mês de fevereiro e início do mês de março, período em que os órgãos sexuais ainda não estavam bem desenvolvidos. Assim como as demais espécies pequenas de Leporinus, também recebe o nome timboré. 8. Leporellus pictus (Kner). Sinônimo Leporinus maculifrons Rhdt. (in sched.) Dos Leporinus típicos, tal como é caracterizada em maiores detalhes nas quatro espécies anteriormente descritas, esta espécie destaca-se pelas três seguintes características: 1) as narinas não se situam a uma certa distância uma da outra, mas uma imediatamente à frente da outra; 2) a membrana branquial não é presa no lado inferior da cabeça, mas completamente livre; 3) a cobertura de escamas avança bastante sobre os lobos da nadadeira caudal, tanto no superior como no inferior. As duas primeiras características são precisamente aquelas que Günther usa para separar o grupo dos Anostomus do grupo dos Tetragonopterus (e dos Hydrocyon); e os Leporellus seriam, de acordo com o arranjo daquele excelente ictiólogo, não somente classificados como um gênero distinto dos verdadeiros Leporinus, mas também como 124 Hist. nat. d. Poissons, vol. XXII, p. 31; Expédition etc., Poissons p. 58, prancha 29, fig

98 um outro grupo dentro da família dos Characini. Isso não me parece natural e, talvez, fosse mais acertado eliminar o limite entre os dois Leporinus e o grupo tratado aqui. O único exemplar disponível, com aproximadamente 6 polegadas de comprimento, tem o corpo alongado; a altura é quase um quinto do comprimento total (medido até a borda da última escama da linha lateral), o comprimento da cabeça um quarto do mesmo, ou seja, claramente maior que a altura; o corpo é ainda bastante comprimido, a maior largura (entre os arcos escapulares, imediatamente acima das nadadeiras peitorais) igual à metade do comprimento da cabeça, a superfície do dorso e da cabeça são muito planas, e o perfil dorsal é uma linha quase reta, que somente a partir da nuca cai levemente em direção à ponta do focinho. O olho situa-se alto nos lados da cabeça, um tanto mais perto da ponta do focinho que da parte mais distante da borda de pele do opérculo; seu diâmetro é mais que a metade da largura da testa, e contido 5 1 /2 vezes no comprimento da cabeça. O focinho é alto e arredondado; as dobras dos cantos da boca não alcançam exatamente abaixo das narinas anteriores; estas, como mencionado, situam-se imediatamente à frente das posteriores; ambos os conjuntos situam-se acima da continuação da linha mediana dos olhos e muito mais perto dos olhos que da ponta do focinho; a narina posterior é uma grande fenda oval, inclinada, a da frente tem forma de um tubo baixo, com um orifício de entrada estreita, quase perpendicular; sua borda posterior prolonga-se numa grande aba redonda, que pode cobrir quase completamente a narina de trás, quando está voltada para trás, mas ela parece ser mais adaptada para fechar a narina da frente. Ambas as maxilas são de igual tamanho. Existem de cada lado 4 4 dentes arredondados, que crescem em tamanho de trás para frente, formando em conjunto um cinzel, sendo os da frente mais longos e maiores. A parte superior da boca possui uma grande aba palatal, entretanto não vejo nódulo algum em forma de papila, que normalmente se encontram em Leporinus junto à parte posterior das fileiras de dentes da porção superior da boca. A nadadeira dorsal começa em um ponto que fica um tanto mais próximo da ponta do focinho que da raiz da nadadeira caudal, as nadadeiras ventrais se originam sob o meio da nadadeira dorsal; a nadadeira adiposa atrás da nadadeira anal, de forma que as extremidades posteriores de ambas caem mais ou menos na mesma linha vertical; existem 3 fileiras de escamas entre a ponta das nadadeiras peitorais e as nadadeiras ventrais e 7 entre a ponta da nadadeira anal e o raio mais inferior da nadadeira caudal. O ânus situa-se no meio da distância entre a nadadeira anal e a ponta das nadadeiras ventrais. As escamas têm numerosas (6 10) estrias sulcadas. Conto 42 escamas na linha lateral, que é bem marcada, quase em forma de cordão, 26 séries na parte da frente do corpo, 5 acima e 6 abaixo da linha lateral (somente 4 até as nadadeiras ventrais), além das ímpares; 12 entre a nuca e a nadadeira dorsal. A cobertura de escamas continua, como foi mencionado, um bom pedaço pelos lobos da nadadeira caudal. O número de raios é, contado do mesmo modo que nas espécies anteriores: B.: 4; D.: 12 (2. 10); P.: 16; V.: 9; A.: 11 (2. 9); C.: Desconheço a cor do peixe vivo. No álcool, tem uma cor cinza-amarronzado no dorso, que desaparece para baixo nos lados, sendo a parte de baixo amarelo-latão (em condições mais frescas, provavelmente é esbranquiçada como o ventre); da nuca até o fim da nadadeira dorsal estende-se uma faixa, que é muito mais escura que a cor básica do dorso e ocupa a linha mediana, assim como metade da série de escamas de cada lado. A linha lateral é salientada por uma estreita e muito tênue faixa escura, que se estende até a nadadeira caudal. Os lados da cabeça têm um brilho prateado e a superfície da testa é acinzentada e densamente coberta com pequenas e irregulares manchas escuras, as quais também podem ser percebidas em direção à parte frontal do dorso, mas que progressivamente se fundem na cor escura do 98

99 dorso e somente se mostram como uma mancha difusa, escura, na base de cada escama. Ao longo da metade superior da nadadeira dorsal estende-se uma larga faixa negra, e a raiz da nadadeira caudal é decorada com duas listras escuras, que convergem para trás. Esta espécie parece ser rara no Rio das Velhas, de onde Reinhardt conseguiu obter o único indivíduo aqui descrito, que foi capturado um par de milhas do local onde ele estava na época, o exemplar lhe foi trazido já no álcool por um dos pescadores que morava nas margens do rio e que não conhecia qualquer outro nome para ele além de timboré. Ao comparar esse exemplar disponível com o Leporinus pictus descrito e retratado por Kner 125, que Natterer capturou em Irisanga, no Mato Grosso, deparamos somente com diferenças insignificantes: a altura dada é um pouco maior e a testa algo mais larga em relação ao tamanho dos olhos nos exemplares de Natterer. Não acho, todavia, que possa haver dúvida quanto à identificação e também não há, com respeito à descrição, nada de mais no fato de Kner considerar que o L. vittatus Val. trazido por Castelnau do Araguaia 126 (Goiás) seja da mesma espécie, motivo pelo qual ele teve de manter o nome mencionado por último; embora aqui se possa notar que Valenciennes assinala 45 escamas na linha lateral. Apesar de nenhum dos autores mencionados fornecer as características da posição das narinas e da membrana branquial, que me motivaram a considerar esta espécie genérica ou subgenericamente diferente dos verdadeiros Leporinus, existe aparentemente razão para considerar que as formas descritas por eles concordam nesses aspectos com o Leporellus do Rio das Velhas. Devido à possibilidade de que uma comparação imediata possa dar como resultado que os Leporellus que ocorrem em Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais sejam especificamente diferentes, acrescentei acima o nome da espécie que o Prof. Reinhardt havia dado antes que a descrição de Kner tivesse sido publicada, para que, eventualmente, lhe possa ser dada a prioridade. O Gênero Tetragonopterus. As 5 espécies desse gênero, que Reinhardt trouxe da Lagoa Santa e suas redondezas, pertencem àquelas nas quais o número de raios da nadadeira anal não supera 40, o osso maxilar é quase ou totalmente sem dentes, alcançando no máximo abaixo da porção mais à frente dos olhos, e nas quais o suporte da nadadeira dorsal se situa (talvez somente um pouco) atrás do suporte das nadadeiras ventrais. Elas são, portanto, muito próximas entre si e, apesar do material disponível para exame chegar a 600 exemplares, houve dificuldades em traçar um limite entre as espécies 127 e talvez nem todas tenham sido superadas. A forma do corpo apresenta claramente algumas diferenças: uma espécie é mais alta, outra mais alongada ou mais baixa, mas, em parte, essa proporção sofre grandes variações com a idade, de modo que os jovens de uma espécie alta são mais ou menos tão baixos quanto os jovens de mesmo tamanho de espécies mais alongadas; em parte, como se verá na descrição seguinte, específica de T. lacustris, isto é devido a diferenças individuais tão grandes que uma 125 Ichthyologishche Beiträge z. Fam. d. Characinen, I. p. 172 (36), tomo VIII, fig Hist. nat. d. Poissons, XXII, pp ; Expédition, Poissons, p. 59, prancha 29, fig Sobre as dificuldades e os aspectos pouco satisfatórios relacionados com a caracterização deste gênero, o Dr. Reinhold Hensel já se pronunciou em relação às espécies sul-brasileiras (Archiv f. Naturgeschichte, XXXVI, vol. 1, p. 82). 99

100 espécie, que muito bem se caracteriza por sua altura, pode, mesmo quando adulta, mostrarse com um aspecto tão afilado quanto outras. O número de escamas é também claramente variável até certo grau nas diferentes espécies; uma tem, por exemplo, escamas ao longo da linha lateral, uma segunda 33-38, uma terceira 38-39; mas limites absolutos não podem ser obtidos também por esse meio. Do mesmo modo, o número de fileiras de escamas verticais pode ser utilizado somente com cuidado; pois na maioria das espécies encontra-se uma variação de 1, às vezes 2 ou, possivelmente, até 3 fileiras de escamas na parte anterior do corpo, tanto acima como abaixo da linha lateral. Algumas espécies possuem usualmente poucas, outras muitas, estrias sulcadas nas escamas, mas, em parte, o número dessas estrias aumenta com a idade, de modo que o jovem sempre possui menos, às vezes muito menos, que o peixe mais ou menos desenvolvido; em parte, existe uma diferença extremamente grande entre o número dessas estrias em diferentes partes do corpo do mesmo peixe; no geral, existem menos nas escamas do dorso e mais nas escamas do ventre que ficam mais próximas das nadadeiras ventral e anal. Decepções semelhantes nos causa o número de raios das nadadeiras; o número normal da nadadeira dorsal é 11 (2+9), e as discrepâncias (nas espécies descritas aqui) em geral são puramente de caráter individual; nas nadadeiras ventrais é quase sempre constante, 8; somente uma pequena espécie, T. nanus, destaca-se por sempre ter 7. A nadadeira anal apresenta diferenças bem características, pois, enquanto algumas espécies (T. Cuvieri e lacustris, por exemplo) geralmente possuem mais (24 31) que outras (T. rivularis e gracilis: 19 24; T. nanus 17 19), em muitos casos essa diferença também não nos ajudará a alcançar uma decisão precisa, pois uma diferença de 4 6 raios dentro da mesma espécie não é rara, e pode ser ainda maior. As duas menores espécies aqui descritas apresentam sempre linha lateral incompleta (pela metade), uma peculiaridade na qual o Prof. Gill baseou seu gênero Hemigrammus 128 ; mas em outros casos essa característica mostra-se muito variável. Mesmo que se dê um peso menor o que, entretanto, não deixarei de mencionar nesta oportunidade ao fato de se poder encontrar, em espécies nas quais a linha lateral normalmente é completa, indivíduos nos quais ela é interrompida em um pequeno trecho (o que, entretanto, pode ser considerado apenas como uma irregularidade individual) ou, ainda, jovens alevinos (por exemplo de T. lacustris) em que ela seja difusa em sua parte traseira, de modo que a interrupção da linha lateral nos adultos de algumas espécies talvez possa ser considerada como uma suspensão no seu processo de formação, deve ser um fator decisivo o fato de existir uma das espécies em questão (T. rivularis) na qual a linha lateral pode ser completa, quase completa ou somente desenvolvida em dois terços ou um terço do comprimento do corpo, pelo que na descrição desta espécie entrar-se-á em maiores detalhes. Os dentes não mostram quaisquer diferenças importantes nas espécies maiores; encontro na fileira da frente do osso intermaxilar 4 5 dentes de cada lado (3, quando 1 ou 2 foram arrancados), separados por um pequeno espaço no meio; na segunda fileira, do mesmo modo, 4 5 de cada lado, mas aqui existe um contato imediato na linha medial; e esses dentes internos, que em parte se alternam com os da frente, são providos com mais cúspides (5 7) que aqueles externos, que possuem somente 3; atrás dos interiores se veem em geral 1 3 pequenos dentes de cada lado, no osso maxilar. Na maxila inferior existem sempre à frente, de cada lado, 4 dentes maiores com várias cúspides (5 8); estes diminuem em tamanho, como na segunda fileira do osso intermaxilar, do meio para os lados e para trás embora o segundo dente a partir do meio seja sempre menor que seus vizinhos e 128 Annals of the Lyceum of Natural History of New York, vol. VI. 1858, p. 60 (separata). 100

101 são seguidos por 6 8, no máximo 11, menores, dos quais porém o mais anterior se aproxima em forma e tamanho dos maiores, como se constituísse uma transição para os localizados mais para trás, de tal forma que às vezes é muito arbitrário contar 4 ou 5 de cada lado como sendo os maiores. Também os menores dentes da maxila inferior são, como os pequenos dentes da maxila superior, em geral providos de várias pontas. (Nas espécies menores, T. gracilis e nanus, a forma dos dentes simplifica-se um pouco, fato a que nos referimos na descrição dessas espécies a seguir.) A cor e os desenhos são tão uniformes neste gênero, que nos casos duvidosos não fornecem qualquer ajuda especial na separação das espécies; neste aspecto, como nos demais, aparece o mesmo padrão em toda a série de espécies. Não se pode, portanto, ater-se exclusivamente a uma única característica, mas é necessário levar em consideração várias delas e deixar-se influenciar pela impressão geral, ao mesmo tempo. É claro que as dificuldades aumentam, quando se trata de identificar exemplares jovens ou alevinos; e essas dificuldades tornam-se menores e secundárias, quando se atenta para o fato de que na Lagoa Santa ocorre uma espécie que raramente atinge 2 polegadas, e outra que nunca supera 1 polegada de comprimento. O quadro geral abaixo pode orientar provisoriamente em relação às características mais adequadas para identificar as 5 espécies aqui mencionadas, que considero ser todas novas. (5) T. lacustris Rhdt. A : Ll , Altura aproximadamente metade do comprimento total. Poucas estrias sulcadas. 5. Mancha na região escapular, mas nenhuma faixa lateral evidente. (6)7 (5) 6 8 (5). T. Cuvieri Ltk. A : Ll , Altura aproximadamente 1/3 do comprimento total. Mais estrias sulcadas. 4 3 /4. Faixa lateral evidente, mas nenhuma mancha na região escapular evidente. 5 6 (5) 6 7. T. rivularis Ltk. A : Ll , Altura aproximadamente 1/3 do comprimento total. Numerosas estrias sulcadas. 4 1 /4. Faixa lateral mais ou menos evidente. Mancha na região escapular evidente, principalmente nos jovens. T. gracilis Rhdt. A : Ll , 5 4. Altura 1/3 ou 1/4 do comprimento total. Poucas estrias sulcadas. 1 1 /2 2. Diâmetro dos olhos maior que a largura da testa. Faixa lateral e mancha na cauda, mas nenhuma mancha na região escapular. T. nanus Rhdt. V : 7; A : Ll , 4 4. Altura um pouco acima de 1/4 do comprimento total. Poucas estrias sulcadas. Diâmetro dos olhos maior que a largura da testa. Frequentemente sem nadadeira adiposa. 1. Faixa lateral e mancha na cauda, mas nenhuma mancha na região escapular. Linha lateral completa. (Linea lateralis continua.) Linha lateral interrompida. (pela metade) (Linea lateralis interrupta.) 101

102 9. Tetragonopterus lacustris Rhdt. (prancha V, fig. 15) É chamada no Brasil piaba-rodoleira ou piaba-da-lagoa e ocorre principalmente na própria Lagoa Santa. Entretanto, existem também exemplares de pequenos riachos na região (Sumidouro, Olhos D água e Ribeirão do Mato). O maior tem um comprimento de 5 polegadas. Das 5 espécies da Lagoa Santa e região, T. lacustris é aquela cuja forma do corpo é relativamente mais curta e alta. Nos exemplares mais ou menos desenvolvidos, em geral, a altura equivale à metade do comprimento total (até o ponto da nadadeira caudal onde a cobertura de escamas termina), pouco mais ou pouco menos do que isso; mas, apesar de os exemplares mais jovens serem em geral relativamente mais afilados que os mais velhos, da mesma forma existem também jovens que são comparativamente da mesma altura e, por outro lado, existem exemplares crescidos (quase 4 1 /2 polegadas de comprimento) nos quais a altura é contida 2 2 /5 vezes no comprimento total; e isso não é manifestação de uma diferença sexual, pois ambas as relações existem em fêmeas igualmente grandes já férteis. A depressão que o perfil forma sobre o crânio é, naturalmente, mais evidente nos mais altos, menos nítida nos exemplares afilados. O diâmetro dos olhos é aproximadamente dois terços da largura mínima da testa e é contido de 3 1 /3 a quase 4 vezes no comprimento da cabeça, que é um quarto do comprimento total ou um pouco mais. O início da nadadeira dorsal situa-se bem próximo do meio da distância entre a ponta do focinho e a raiz da cauda; sua altura é aproximadamente igual ou somente um pouco menor que sua distância até a nadadeira adiposa. A ponta das nadadeiras peitorais situa-se em geral na mesma linha vertical que a base das nadadeiras ventrais, às vezes um pouco à frente ou atrás dessa linha; a nadadeira caudal estendida não é muito bifurcada, mas fortemente entalhada. Ao longo da linha lateral, que em geral é evidente e completa às vezes pode ser interrompida num pequeno trecho, mas continua atrás, contam-se 34, raramente 35 ou 36 escamas, acima da mesma contam-se 6 7 (excepcionalmente 5) fileiras de escamas e abaixo também 6 7, na parte anterior do corpo, além das ímpares na linha mediana, caso estejam presentes; a existência de uma fileira a mais ou a menos acima da linha lateral pode depender de a fileira ímpar na linha mediana ter sido dividida ou não. No total existem apenas poucas estrias sulcadas nas escamas, mas sempre em determinados lugares do corpo, mais especificamente para baixo, em direção ao ventre, poder-se-á encontrar mais ou menos escamas com um grande número dessas estrias nos menores exemplares 6 12, nos maiores até 15, 20 ou 25. Também se pode encontrar alguns exemplares nos quais o número dessas estrias de modo geral é impressionantemente grande. Os dentes apresentam poucas características marcantes; existem, como nas demais espécies, quatro ou cinco em cada fileira (excepcionalmente seis na segunda) de cada lado da parte superior da boca, quatro grandes na maxila inferior seguidos por outros; no osso maxilar, ao contrário, nenhum; somente nos exemplares muito grandes pode-se encontrar um pequeno dente nesse osso. O número de raios da nadadeira anal varia de até 3. 28; é o mais comum, os números grandes são exceção. Quando existe um quarto muito curto à frente do primeiro raio duro, este é, como nas outras espécies, escondido entre as escamas e não visível sem dissecção. Na parte superior dos lados do corpo, o brilho das escamas é algo atenuado pela cor escura do dorso; em geral, ele tem um brilho metálico por todo o corpo, mas não existe uma faixa lateral especialmente marcante. Atrás da região escapular, existe uma mancha 102

103 escura arredondada, que sempre é evidente; na raiz da cauda existe uma semelhante 129, mas esta é alongada, estendendo-se como uma faixa escura até a nadadeira caudal e afinandose em ponta para frente; nos exemplares jovens, pode continuar como uma sombra escura até as proximidades da mancha escura da região escapular. Das cores no peixe vivo, Reinhardt forneceu a seguinte descrição de um exemplar menor, capturado em 2 de fevereiro: O dorso é esverdeado, com brilho prateado em certas direções; para baixo, nos lados, essa cor transforma-se num prateado brilhante puro; a metade inferior da nadadeira dorsal é verdeamarelada, em direção à ponta torna-se puramente amarela; na nadadeira anal, bem como nas peitorais, somente sua borda anterior tem uma cor muito forte e puramente amarela, assim como as nadadeiras ventrais. A faixa prateada da linha lateral tem um reflexo amarelado em direção à cauda. A íris é cor de prata, embora com um estreito anel levemente dourado bem próximo da pupila negra. Com exceção das nadadeiras ventrais e peitorais, as demais nadadeiras são adornadas com uma borda negra muito fina, apenas perceptível. 10. Tetragonopterus Cuvieri Lkt. (prancha V, fig. 12) (Chalceus fasciatus Cuv.? Tetragonopterus fasciatus Autt.? 130 ) Este peixe, que em Lagoa Santa é chamado piaba-do-rio ou somente piaba, ocorre tanto no Rio das Velhas e seus afluentes (riachos perto de Olhos D água e Sumidouro) como no Rio São Francisco, de onde se origina um dos exemplares trazidos por Reinhardt. Na Lagoa Santa atinge um comprimento de 4 3 /4 polegadas. A altura é contida 3 vezes ou um pouco menos (de 2,7 a 2,9 vezes) no comprimento total, este, como de costume, calculado da ponta do focinho até o ponto onde a cobertura de escamas se interrompe, no meio dos lados, na nadadeira caudal. A forma é, no geral, bastante afilada e alongada principalmente nos jovens, e mais ainda nos jovens nos quais a altura é contida quase 4 vezes no comprimento total. O perfil do dorso, em alguns exemplares, é um arco suave da nadadeira dorsal até o focinho arredondado, em outros, a curva é um pouco mais acentuada, com uma fraca depressão na região da testa. O comprimento da cabeça (membrana do opérculo, como de costume, incluída) é aproximadamente um quarto (um pouco acima ou abaixo) do comprimento total (medido como acima). Dos dentes nunca encontro acima de 4 na primeira fileira de cada osso intermaxilar e sempre 5 na sua segunda fileira junto com 1 ou 2 pequenos em cada osso maxilar. O diâmetro do olho é contido 3 vezes ou algo mais (até cerca de 3 1 /2 vezes) no comprimento da cabeça e é igual à largura mínima da testa (nos jovens os olhos são normalmente maiores; seus diâmetros são contidos somente 2 1 /2 vezes no comprimento da cabeça e são significantemente maiores que a largura da testa). Os chatos ossos infra-orbitais, que possuem somente algumas poucas estrias raiadas, separam-se do opérculo por uma nítida faixa de pele. O início da nadadeira dorsal 129 Ainda nos menores indivíduos disponíveis (7 1 /2, nadadeira caudal incluída), a mancha da região escapular e a da cauda são nítidas. Quero ainda registrar que nestes a altura é um terço do comprimento total (até a nadadeira caudal), o diâmetro dos olhos quatro nonos do comprimento da cabeça, e que a metade de trás da linha lateral é mais ou menos invisível. Mesmo em indivíduos de 1 1 /2 polegada de comprimento, a maioria das escamas não tem estrias sulcadas, algumas têm uma ou duas. 130 NT: Autt. aqui significa dos autores ; com referência ao nome Tetragonopterus fasciatus usado correntemente por vários autores. 103

104 situa-se a igual distância da ponta do focinho e da raiz da cauda; seu comprimento (na base) é um terço da altura do corpo e mais da metade de sua própria altura (paralela aos raios mais longos da nadadeira dorsal), mas é mais curto que sua distância até a nadadeira adiposa. A nadadeira caudal é profundamente bifurcada; as nadadeiras peitorais alcançam, ou ultrapassam, a base das nadadeiras ventrais, que vão além do ânus, mas somente nos jovens chegam até a nadadeira anal, cujo comprimento é um quarto do comprimento total (medido como acima). O número de raios é o normal nas três nadadeiras: D.: 11 (2+9); P.: 12 15; V.: 8; na nadadeira anal 3 (4) ; embora seja rara a ocorrência de menos de 22 raios bifurcados ou mais de 24. As estrias sulcadas das escamas são, em geral, mais ou menos numerosas (nem muito poucas nem muito numerosas), mais frequentemente 6 9, às vezes, porém, 4 13, mas nos jovens somente 2 5; ao longo da linha lateral, que é muito evidente, contam-se (37?) escamas, acima dela, na parte anterior do corpo, 7 (mais raramente 6) fileiras e abaixo 7 ou 8 (as ímpares no meio do ventre e do dorso, como de costume, não incluídas); o último desses números parece ser o normal. Em um único exemplar, que, apesar disso, acredito dever incluir aqui, encontrei somente 5 acima e 6 abaixo da linha lateral 131. O brilho prateado dos lados acentua-se acima da linha lateral até uma faixa prateada, nítida, com base escura (pigmentada), a qual se torna aparente, principalmente em direção à raiz da cauda e sobre ela e se estende como uma faixa escura até a bifurcação da nadadeira caudal. Quanto mais jovem é o peixe, mais nítida e mais escura é essa faixa cinza-prateado ao longo do comprimento. Às vezes podem existir traços de uma mancha escura atrás da região escapular, principalmente nos indivíduos jovens. De alguns exemplares capturados em 5 de fevereiro de 1852, no riacho perto de Olhos D água 132, Reinhardt fornece a seguinte descrição: O dorso é verde-amarelado, em certas direções com reflexos prateados; no lado, um pouco acima da linha lateral, essa cor é limitada por uma faixa prateada, fortemente brilhante, com um fraco reflexo amarelado e abaixo dela o resto do corpo é branco-prateado; no alto do dorso, entre a nadadeira dorsal e a nadadeira adiposa, e à frente da primeira, ocorrem duas manchas escuras. A nadadeira dorsal é de um belo amarelo na sua metade inferior, a partir daí vermelha como cinábrio e finalmente adornada com uma moldura preta extremamente fina; a nadadeira adiposa é amarelada e adornada com uma borda preta. A nadadeira caudal possui no meio uma faixa negra, que alcança sua borda; de cada lado desta ocorre uma mancha de um vivo amarelo-limão, cujo tamanho varia um pouco de acordo com o indivíduo; sua parte superior é vermelho-cinábrio vivo, adornada na borda com uma moldura preta muito fina. A nadadeira anal é branco-amarelada e sua parte anterior vermelho-cinábrio, mas o raio anterior é branco-leitoso, as nadadeiras peitorais e ventrais são brancas e transparentes, o raio anterior desta última branco-leitoso; a íris é branco-prateada, tendendo em sua metade superior para o amarelo. Como Tetragonopterus fasciatus (Cuv.) é assinalada no Rio São Francisco, poderia haver motivo para se supor que a espécie aqui descrita é idêntica à de Cuvier; mas, depois de uma 131 Este exemplar mostrou-se no geral algo duvidoso, pois achei somente 37 escamas na linha lateral e 21 raios bifurcados na nadadeira anal em ambos os casos, abaixo do número mais comum. 132 Não vou me furtar a destacar que, neste pequeno curso d água, vivem no mínimo 4 espécies de Tetragonopterus. Dos 3 exemplares conservados na coleção de Reinhardt, que estavam marcados Olhos D água 5/2/52, dois eram T. Cuvieri e o terceiro T. rivularis; dos 15 exemplares capturados no mesmo local dois dias depois, 14 eram T. rivularis e 1 T. lacustris. 12 exemplares de T. nanus estão, do mesmo modo, marcados Olhos D água 5/2. Entretanto, não tenho dúvidas de que a descrição de colorido elaborada por Reinhardt foi feita a partir de um T. Cuvieri. 104

105 avaliação mais cuidadosa, o caso se mostra tão duvidoso, que ousaria dizer que o mais correto é deixar de lado o nome de Cuvier, se as relações não puderem ser mais bem explicadas do que o são no momento. O exemplar de 5 polegadas de Cuvier foi, segundo ele próprio afirmou, trazido do Brasil por Delalande, mas ele não diz de que parte do país; entretanto, não pode haver muita dúvida de que tenha vindo da parte sudeste ou da parte costeira que vai do Rio de Janeiro para o sul. A ilustração mostra um peixe muito alongado com linha lateral fortemente curvada para cima; a descrição assinala uma grande mancha redonda atrás da abertura branquial, duas faixas escuras ao longo do comprimento e somente 18 raios na nadadeira anal. O que se pode julgar sobre este Chalceus fasciatus de Cuvier ( Mémoires du Muséum d histoire naturelle, tomo V., 1819, p. 352, prancha 26, fig. 2) é que parece não haver razão alguma para identificá-lo como T. Cuvieri (mihi) 133 dos rios São Francisco e das Velhas. Poder-se-ia considerar que essas descrições mais antigas de Cuvier nem sempre primavam pela precisão, em todo caso não pelo seu detalhamento; que a ilustração e descrição mal correspondem uma à outra, talvez porque, como opinam Steindachner e Kner, por um engano ou confusão não foram feitas da mesma espécie, já que a ilustração não se parece, de nenhuma forma, com um Tetragonopterus; ou porque a ilustração talvez tenha sido feita de um exemplar seco (empalhado e por isso deformado), como Günther supõe. O artigo de Valenciennes sobre o Tetragonopterus fasciatus, que saiu 30 anos depois ( Histoire naturelle des poissons, tomo XXII, 1849, p. 149), não esclareceu o assunto. Ele assegura que descreve o peixe que Cuvier havia descrito e ilustrado em Mémoires du Muséum sob o nome de Chalceus fasciatus; os 25 raios da nadadeira anal, que ele atribui ao peixe, não concordam com o dado de Cuvier (18), mas concordam com a espécie que aqui descrevemos, na qual, por outro lado, eu nunca vi as asperezas nos raios da nadadeira anal que Valenciennes menciona e que me são bem familiares de outras espécies. Também não concorda com o que Cuvier menciona, ao dizer que os primeiros exemplares que Cuvier obteve foram trazidos a ele pelo Sr. de St. Hilaire do Rio São Francisco. O Museu de Paris, além disso, obteve T. fasciatus do Brasil através de Quoy e Gaimard e Castelnau 134 ; os maiores exemplares possuem 5 polegadas de comprimento. Valenciennes refere-se, ainda, à mesma espécie T. rutilus Jen. 135 do Rio Paraná e, além disso, a identifica, se bem que parece-me com uma 133 NT: mihi (ou simplesmente m., como no final da nota de rodapé 135 à p. 106) significa meu, dativo singular de ego, significando, no caso, o nome que ele, Lütken, deu à espécie. 134 Disso, dever-se-ia concluir que os T. fasciatus ( Expédition etc., Poissons, tomo II, 1855, p. 66, prancha 32, fig. 2) do Araguaia e Tocantins, de 5 6 cm de comprimento, deveriam ser da mesma espécie que aquela do Rio São Francisco, T. fasciatus Val. Mas esta se mostra, porém, diferente. 135 Zoology of the Voyage of H. M. S. Beagle, parte IV, Fish (1842), p. 125, prancha 23, fig. 2. Como esta espécie é muito próxima de T. Cuvieri, quero comunicar aqui uma nova descrição dela, a partir de exemplares trazidos pelo falecido Professor Krøyer do Rio da Prata. O maior deles possui quase 5 1 /2 polegadas de comprimento, ou seja, não pouco maior que o maior dos T. Cuvieri. A altura é contida de 2 2 /3 3 vezes no comprimento total (até a nadadeira caudal), o comprimento da cabeça aproximadamente 4; o diâmetro dos olhos cabe /2 vezes no comprimento da cabeça e é igual ou algo maior que a menor distância contida entre eles, através da testa que é fortemente arqueada. Existe frequentemente uma fraca depressão do perfil, no limite entre o alto do crânio e a testa. A nadadeira dorsal começa, como de costume, a meio caminho entre a ponta do focinho e a nadadeira caudal, mas um pouco atrás do suporte das nadadeiras ventrais; sua altura é, em geral, um pouco menor (em um dos exemplares disponíveis, excepcionalmente maior) que o comprimento da cabeça e, do mesmo modo, menor que sua distância da nadadeira adiposa e que o dobro do tamanho desta. O comprimento da nadadeira anal é maior que o da cabeça, sua altura (paralelamente aos primeiros raios bifurcados) quase a metade (às vezes acima disso) de seu próprio comprimento. As nadadeiras peitorais não alcançam as ventrais, e estas não alcançam a nadadeira 105

106 certa dúvida, com uma das anotações de D Orbigny, que ele conhecia de um peixe que ocorre no Rio da Prata (e no Uruguai?), denominado salmone pelos espanhóis em Buenos Aires, e que atinge um comprimento de no mínimo um pé. O T. fasciatus descrito por Günther ( Catalogue of Fishes, tomo V, p. 322), que ele classifica com dúvida como T. rutilus Jen., deve ter uma distribuição geográfica muito grande, desde o Brasil (e eventualmente o Rio Paraná) até o México. Por sua descrição não consigo apontar qualquer outra diferença de T. Cuvieri, além do fato de ele ter, talvez, 1 ou 2 fileiras de escamas a mais abaixo da linha lateral, na parte anterior do corpo (considerando que tenham sido contadas da mesma forma em ambos, ou seja, até a fileira ímpar de escamas medianas do ventre), e a largura da testa maior que o diâmetro dos olhos; também não posso concordar completamente com o fato de a origem da nadadeira dorsal situar-se imediatamente atrás da raiz das nadadeiras ventrais existe sempre um par de escamas entre essas posições ou com o fato de que a ponta das nadadeiras peitorais possa alcançar um pouco além da raiz das nadadeiras ventrais, quando se refere exclusivamente a exemplares jovens. Mas, em todo caso, essas diferenças são tão insignificantes e vagas que eu tenho de reconhecer a possibilidade, ou melhor, a probabilidade de que meu T. Cuvieri esteja entre os exemplares que foram a base para o T. fasciatus de Günther. Mas sua prerrogativa de levar o nome de Cuvier não é inquestionável, mesmo que se considere como certo que ela não se constitua de várias espécies. Steindachner ( Ichthyologishe Notizen, IX, Sitzungsberichte d. Akad. d. Wissensch. in Wien, Vol. LX, anal; nos exemplares de tamanho médio, ambos os pares de nadadeiras são relativamente mais longos, de modo que as peitorais alcançam as ventrais e estas quase até a nadadeira anal. Contam-se escamas ao longo da linha lateral completa, 6 7 acima e 7 abaixo da mesma na parte anterior do corpo; em algumas escamas existem, dependendo de sua posição pelo corpo, 7 13 estrias sulcadas; nos indivíduos mais jovens muito menos, como de costume. O estreito osso maxilar não alcança, nos indivíduos mais velhos, além de uma linha vertical traçada da borda anterior dos olhos; mais frequentemente ele contém em sua superfície interna, mais próximo de sua extremidade superior, 2 dentes pequenos. Em geral, o número de dentes é o de costume: existem 4 5 na fileira externa e 5 na interna de cada intermaxilar, 4 5 grandes e uma série de pequenos em cada metade da maxila inferior, e assim por diante. Número de raios: D.: 2+9; P.: 13; V.: 8; A.: ( ). A faixa lateral branca e a listra escura na nadadeira caudal são nítidas; ao contrário, a mancha na região escapular é perceptível somente quando não há escamas no local. Entretanto, apesar de Steindachner (loc. cit. p. 10) atribuir a T. rutilus (de Montevidéu) um número médio de raios na nadadeira anal (25 30) e de escamas (37 38) menor do que eu encontrei, e não mencionar os dentes do maxilar, considero que ele também teve o verdadeiro T. rutilus em mãos. Posso também fazer referência à descrição de Hensel (Archiv f. Naturg. XXXVI, p. 80, 1870), que em tudo considero estar de acordo com a forma coletada por Krøyer, à exceção de pequenos detalhes que facilmente podem ser atribuídos a variação individual. Como Hensel também menciona o peixe como desdentado no maxilar, é de se pensar que esses dentes tenham sido contados junto com os do intermaxilar, já que não percebeu que o sexto dente, na realidade, está no maxilar. Seu maior exemplar do Guaíba, perto de Porto Alegre, é, no mínimo, 1 /2 polegada maior que o maior exemplar do Museu, vindo do Rio da Prata; a espécie fica, portanto, não pouco maior que aquela forma oriunda do Rio das Velhas, de acordo com D Orbigny (Valenciennes, loc. cit.), mais que o dobro do tamanho. Entre os 7 exemplares de T. rutilus trazidos pelo Prof. Krøyer, havia também um pequeno exemplar (1 3 /4 de comprimento) de uma forma com somente 20 raios na nadadeira anal (3+17), 10 (2+8) raios na nadadeira dorsal e 39 40: 5 escamas e, ainda, não menos que 3 pequenos dentes em cada osso do maxilar. Trata-se, 6 claramente, da espécie que Steindachner (loc. cit.) considera ser o verdadeiro T. fasciatus (Cuv.) e descreve e retrata (prancha III, fig. 1) sob este nome. Eu a tenho indicada no catálogo do Museu como T. argyreus m. Quero acrescentar, ainda, que pude comparar T. Cuvieri m. com 4 exemplares de uma forma que considero ser o T. microstoma de Günther. Estes foram trazidos de Cotinguiba, Província de Sergipe, pelo falecido Capitão Hygom. À descrição de Günther eu saberia somente adicionar que a mancha na região escapular é muito nítida em todos os 4, e que neles também faltam dentes no maxilar. 106

107 1869, p. 8 10, separata) considera como certo que o T. fasciatus de Valenciennes e de Günther, na realidade, é o T. rutilus Jen. (que é resumidamente descrito de exemplares de Montevidéu), mas, por outro lado, pensa reconhecer o verdadeiro Chalceus fasciatus Cuv. em uma espécie que ocorre junto com ela e que concorda com a descrição de Cuvier, tendo escamas na linha lateral, fileiras verticais de escamas e raios na nadadeira anal. Essa suposição pode estar correta; embora sua exatidão somente possa ser provada com um novo exame do exemplar original de Cuvier, se este existir. Em todo caso, é totalmente justificável que eu não denomine a espécie aqui descrita com o incerto nome de espécie de Cuvier; que, sendo ela a única espécie por mim conhecida do Rio São Francisco, não possa justificar sua identidade com o T. fasciatus de Valenciennes (menos ainda com a de Cuvier); pois certamente se comprovará que este rio é o habitat de várias espécies deste gênero, do mesmo modo que outros cursos d água da parte tropical da América do Sul, cuja fauna piscícola é um pouco mais conhecida. Antes de deixar esta espécie, não posso deixar de mencionar que na coleção de Reinhardt existem dois exemplares de tamanho médio do Rio das Velhas (números 449 e 450 no catálogo do Museu), com relação aos quais me tornei o responsável pela resposta à dúvida se eles pertenceriam a T. Cuvieri ou a T. lacustris. A altura do corpo, que se relaciona com o comprimento total na proporção 1:2 2 /5, concorda mais com certas formas de T. lacustris; o número de fileiras de escamas ao longo do comprimento (35 36) aponta do mesmo modo para essa espécie; de acordo com o seu número na altura ( 6 7 ) e o número de raios na nadadeira anal ( ) poderia referir-se a ambas. O número de estrias sulcadas das escamas (6 9), a falta da mancha na região escapular e a faixa lateral prateada muito nítida, juntamente com a presença de um dente bem desenvolvido em cada osso do maxilar, poderiam, ao contrário, referir-se a T. Cuvieri, e tem-se ainda que notar que T. lacustris nunca foi encontrada no Rio das Velhas propriamente dito, mas somente na Lagoa Santa que certamente está conectada a ele. Considerar a diferença de características entre as espécies mencionadas como inexistente seria tão injustificado como criar uma terceira espécie, baseando-se somente nesses dois exemplares; e considerá-los como uma forma híbrida seria somente levantar uma hipótese que seria duvidosa de se propor sem que pudesse estar mais bem fundamentada. Eu os coloquei no Museu como uma variante de T. lacustris, mas recomendo esta forma algo duvidosa para a investigação de viajantes futuros. 11. Tetragonopterus rivularis Lkt. (prancha V, figs. 13 e 14.) Esta espécie, que além de ocorrer no Rio das Velhas, ocorre também em diversos dos pequenos riachos que nele deságuam (Quebra, Ribeirão do Mato, Sumidouro, Olhos D água, Açude das Contendas, Brumado), e que na região de Lagoa Santa se chama piaba, genericamente como as outras espécies, ou, especificamente, piaba-do-córrego, parece não alcançar o tamanho das espécies anteriores, uma vez que o maior de uma grande quantidade de exemplares disponíveis possui somente 4 1 /4 polegadas da ponta do focinho até a ponta da cauda. Ela se assemelha, tanto na forma do corpo como em seu aspecto geral, bastante bem a T. Cuvieri. As diferenças mais importantes são as seguintes: 1) o número de escamas ao longo da linha lateral (ou em sua continuação) é, na média (se não absolutamente), algo menor, ou seja 33-38; existem, também em média, menos fileiras de escamas na altura, ou 107

108 seja 5 6 acima, 6 7 abaixo da linha lateral (na parte anterior do corpo), as fileiras ímpares acima e abaixo não consideradas, como de costume; 2) o número de estrias sulcadas é, na média, grande: nos exemplares maiores, 5 10 nos menores; com ajuda dessa característica é, em geral, possível distinguir facilmente esta espécie da anterior. 3) Ao lado de exemplares com linha lateral completa, encontram-se aqui exemplares, tanto jovens como adultos, com a linha lateral mais ou menos incompleta (interrompida), nos quais ela é interrompida um pouco antes da metade, por volta da décima segunda escama, décima quinta, às vezes já na oitava ou nona; ou desaparece somente na sua parte final, na própria raiz da cauda, ou a linha lateral interrompida continua novamente por uma pequena extensão, um pouco mais atrás; às vezes não há, com relação a essas características da linha lateral, concordância nem entre os dois lados do mesmo peixe. Dessa maneira, não é possível considerar essas formas com linha lateral interrompida como uma subespécie válida (variedade interrupta), nem como uma espécie válida, e com relação a isto vou adicionar que nos pequenos cardumes de uma dúzia de exemplares da piaba-do-córrego, que Reinhardt capturou em cada um dos pequenos riachos mencionados acima e que frequentemente possuíam uma certa característica local para cada pequeno riacho (por exemplo, serem no conjunto mais claras ou escuras ou relativamente mais curtas na forma do corpo, etc.), existiam na maioria dos casos tanto exemplares com linha lateral completa como com linha lateral interrompida. 4) Finalmente, esta espécie tem, em média, menos raios na nadadeira anal: 3+18 é o número mais frequente, mas este pode variar de 3+16 até Para completar a informação sobre esta espécie, deve-se ainda adicionar que o comprimento da cabeça é contido 4 vezes ou pouco menos e a altura cerca de 3 (2 2 /3 3 1 /6) no comprimento total. O tamanho dos olhos também está sujeito a uma certa variação, já que seu diâmetro pode estar contido de 3 1 /3 até acima de 4 vezes no comprimento da cabeça e ser quase igual à largura da testa ou ter apenas dois terços dela. Os ossos infra-orbitais são, em geral, algo arqueados e bem providos de estrias raiadas; o osso maxilar alcança em geral até bem abaixo dos olhos, mais raramente apenas até a linha vertical traçada a partir de sua borda anterior. Com relação aos dentes, quero somente notar que, frequentemente, existem 5 dentes no intermaxilar na primeira série, o osso maxilar possui 1 3 dentes pequenos. A altura da nadadeira dorsal é, em geral, menor que sua distância da nadadeira adiposa; a ponta da nadadeira peitoral nunca alcança a nadadeira ventral. Com relação à cor e aos desenhos, deve-se notar que esta espécie pode ter uma faixa lateral prateada bem desenvolvida, que termina em uma mancha preta na cauda, a qual, por sua vez, se estende como uma faixa escura ao longo da nadadeira caudal; mas essa faixa lateral pode ser fraca e até faltar completamente (a precária condição de conservação de alguns exemplares pode, porém, ter parte da culpa nisso); existe frequentemente uma nítida mancha escura atrás da região escapular, principalmente nos exemplares mais jovens e, em geral, a faixa lateral é mais escura e a mancha na cauda mais nítida, quanto mais jovens eles forem. No peixe vivo, a cor é, de acordo com Reinhardt, verde-oliva acinzentado claro, mas recebe para baixo e dos lados leves toques de um brilho prateado, que no ventre, principalmente entre as nadadeiras ventrais e a anal, transforma-se em reflexos metálicos de forte vermelho-sangue. A nadadeira dorsal é amarelo-esverdeada em sua maior parte, para cima em direção à sua borda superior torna-se avermelhada; a nadadeira caudal é amareloesverdeada com uma larga borda vermelha, a nadadeira anal amarelo-esverdeada ao longo da base por uma pequena extensão, mas vermelha em sua maior parte; as nadadeiras peitorais e, mais especificamente, as ventrais são vermelhas ao longo de todo seu comprimento. A 108

109 íris é brilhante, amarelo-esverdeada. Algumas poucas escamas do corpo são circundadas posteriormente por uma borda escura. A cor vermelha não é, em geral, igualmente forte ou distribuída em todos os indivíduos, às vezes as nadadeiras são dominadas pelo vermelho, às vezes pela cor amarelo-esverdeada. Reinhardt anota ainda que o pequeno Tetragonopterus, que os brasileiros chamam de piaba-do-córrego, foi por ele frequentemente obtido em um pequeno riacho por onde a Lagoa Santa derrama sua água excedente, e que nem mesmo no tempo da seca fica sem água. Ao contrário, ele nunca o viu ser capturado na própria lagoa e, apesar de ele ter observado muitas centenas de meninos realizando a pesca da piaba-do-lago, nunca havia ali uma única piaba-do-córrego, e, vice-versa, ele nunca viu a piaba-do-lago ser pescada no riacho. 12. Tetragonopterus gracilis Rhdt. (prancha V, fig. 16.) O Prof. Reihardt trouxe desta pequena espécie uma grande quantidade de exemplares, dos quais nenhum com mais de 40 mm ou, aproximadamente, 1 1 /2 polegada de comprimento, a ponta da nadadeira caudal incluída. O Dr. Lund, nesse meio tempo, enviou um exemplar que tinha 43 mm e outro com 50 mm de comprimento; mas é apenas um, em vários milhares de exemplares, que alcança este tamanho; é pescado com anzol e este é o único exemplar desse tamanho que já foi pescado. O peixe se chama no Brasil piabinha-branca e não é conhecido fora do lago Lagoa Santa. A forma do corpo é especialmente alongada; a altura é contida 3 1 /4 4 vezes no comprimento total (calculado do modo usual), o comprimento da cabeça 4 vezes; o diâmetro dos olhos é quase a metade do comprimento desta última, mas algo maior que a largura da testa, às vezes quase o dobro desta. O início da nadadeira dorsal fica igualmente distante da ponta do focinho e da raiz da fortemente bifurcada nadadeira caudal e um pouco atrás do suporte das nadadeiras ventrais; o início da nadadeira anal, ao contrário, situa-se na mesma linha vertical traçada do último raio da nadadeira dorsal. As nadadeiras peitorais alcançam até as nadadeiras ventrais. A altura da nadadeira dorsal é igual ou um pouco maior que sua distância da nadadeira adiposa e igual ao dobro do seu próprio comprimento; também a nadadeira anal é alta na frente, mas não tão alta como a nadadeira dorsal. O segundo dente a partir do meio da maxila inferior é um pouco menor que seus vizinhos, o que, talvez, seja ainda mais nítido aqui que nas espécies maiores. Os quatro grandes dentes da maxila inferior possuem cada um 5 cúspides, os menores apenas uma, com exceção do situado mais à frente deles, que faz uma transição para os maiores; os dentes mais à frente do osso intermaxilar, 3 4 de cada lado, possuem normalmente 3 cúspides, os da outra série de 3 a 5. As escamas são grandes; existem mais frequentemente 2 3, no máximo 6 7 estrias sulcadas em cada uma delas, e seu número ao longo do comprimento é 32 ou 33, das quais porém somente as anteriores 6, 9 ou 12 comportam a linha lateral, existindo 5 fileiras acima e 4 abaixo desta, na parte anterior do corpo, além das ímpares. Número de raios: D.: 2. 9; V.: 8; A.: Nos exemplares conservados, o dorso tem cor marrom-amarela fraca com faixa escura na linha dorsal, os lados e o ventre, ao contrário, têm em sua maior parte um forte brilho prateado, e esta parte de escamas branco-prateadas é separada da parte dorsal de cor fraca por uma nítida, mas extremamente fina linha cinza-prateada. A cor no peixe vivo é descrita do seguinte modo: dorso esverdeado, lado do ventre prateado-brilhante, íris 109

110 cor de prata; na água algumas nadadeiras, que se mostram acinzentadas quando o peixe é retirado da água, são ricamente coloridas, especialmente a nadadeira caudal cuja raiz é de um pálido vermelho-cinábrio e enegrecida em direção à sua borda, embora ainda adornada com uma borda branco-leitosa, muito fina, que fica um pouco mais larga em ambos os cantos da nadadeira; às vezes, a cor avermelhada na raiz é mais pálida, às vezes mais forte, às vezes mais amarelada; exatamente no limite da cauda com a nadadeira caudal encontra-se uma mancha preta. A nadadeira dorsal é, do mesmo modo, de tom vermelho-cinábrio, embora mais pálida na raiz que a nadadeira caudal, branco-leitosa ao longo de sua borda frontal, assim como na ponta; em direção à sua borda superior aparecem fracos reflexos enegrecidos. A nadadeira anal tem reflexo amarelado quase imperceptível na raiz e sua margem frontal é adornada por uma estreita borda branco-leitosa, que se torna mais larga na ponta. As nadadeiras peitorais e ventrais são totalmente transparentes. Ao longo do lado do corpo, no limite entre as partes esverdeada e prateada, encontra-se uma listra prateada (às vezes com reflexo fracamente dourado), que é notável principalmente na metade posterior do corpo e mais brilhante que o lado do ventre. Ao comparar a piabinha-branca com jovens do Tetragonopterus lacustris de igual tamanho, Reinhardt encontrou, além das diferenças de forma (a piabinha é mais alongada, tem olhos maiores, possui dorso menos curvado, etc.) e de cor (os jovens da piaba mostram em certas direções uma cor marrom-avermelhada meio suja, possuem uma grande mancha preta na região escapular, e a mancha preta na raiz da nadadeira caudal situa-se mais à frente, um pouco para dentro da cauda, e para trás frequentemente atinge o entalhe da nadadeira caudal, ao passo que na piabinha é limitada à própria base da nadadeira e, com frequência, falta ou no mínimo é quase totalmente apagada), que a piabinha é mais transparente, tanto que as vísceras são visíveis através da massa muscular do dorso e as costelas são visíveis do exterior. Frequentemente, Reinhardt encontrou nas fêmeas grandes ovários de cor verde-sujo, devido aos óvulos transparentes, que são verdes como maçã e relativamente grandes como a cabeça de um alfinete entomológico fino. As fêmeas, cujos óvulos delas extravasavam tão logo eram colocadas em aguardente, foram capturadas no final de janeiro mas, mesmo em exemplares capturados no início de março, encontravam-se ovas; o período de reprodução compreende, portanto, no mínimo todo o mês de fevereiro. 13. Tetragonopterus nanus Rhdt. (prancha V, fig. 17.) Esta espécie ainda menor, talvez a menor espécie de peixe que se conhece de uma grande quantidade de exemplares, nenhum mede acima de 26 mm (1 polegada) de comprimento, chamada no Brasil de piabinha-vermelha, chama a atenção pelo fato de a nadadeira adiposa frequentemente faltar; quando excepcionalmente está presente 136 (em 1 de cada 17), ela é quase sempre notavelmente pequena. Ela ocorre tanto no lago (Lagoa Santa), quanto no riacho que corre através da fazenda perto de Olhos D água e no Açude de Contendas. 136 De 111 exemplares capturados no lago, 5 possuíam nadadeira adiposa; de outros 128, apenas 8, e somente em 1 desses 13 ela era tão grande como normalmente deveria ser. De 11 e 7 exemplares, respectivamente de cada uma das duas outras localidades mencionadas acima, somente um de cada localidade possuía a nadadeira adiposa (R.). 110

111 Entre 3 de fevereiro e primeiro de março, Reinhardt encontrou exemplares com ovários intumescidos por óvulos relativamente muito grandes, quase do tamanho da cabeça de um dos mais finos alfinetes entomológicos e da mesma cor verde-maçã, clara, como em T. gracilis. A forma é alongada, a altura contida menos de 4 (3 4 /5 até 3 3 /4) vezes no comprimento total (até a nadadeira caudal); o comprimento da cabeça acima de 4 vezes; o diâmetro dos olhos é a metade ou dois quintos do comprimento da cabeça e maior que a largura da testa. A nadadeira dorsal está, como nas demais espécies, situada no espaço entre as nadadeiras ventrais e a nadadeira anal; sua altura é maior que sua distância até a nadadeira adiposa, quando esta está presente; as nadadeiras peitorais não alcançam as nadadeiras ventrais. Dos dentes da maxila inferior, os quatro maiores de cada lado possuem três cúspides (o segundo muito menor que os demais), os outros somente uma ponta, com exceção do primeiro (quinto), que possui uma pequena cúspide lateral. Em cada intermaxilar encontram-se 3 4 pequenos dentes na primeira fileira, 4 5 maiores na segunda, mas não possuem acima de 3 cúspides; o mais próximo do meio na realidade tem somente 2, uma vez que a terceira cúspide mais próxima da linha medial é extremamente pequena ou completamente ausente. Existem escamas ao longo do lado, das quais porém somente as 4 7 primeiras comportam a linha lateral, e 4 acima e 4 abaixo ( 4 4 ) da linha lateral na parte da frente. O número de estrias sulcadas, nas escamas em que são mais numerosas, dificilmente supera 4. Número de raios: D.: ; V.: 7; A.: O número nas nadadeiras ventrais é característico, pois todas as demais espécies do vale do Rio das Velhas possuem 8 raios nessas nadadeiras. O peixe vivo, na água, possui as seguintes cores: Uma cor viva, freqüentemente quase só de um puro e profundo vermelho-alaranjado, é espalhada por todo o lado do dorso; para baixo, nos lados, estende-se um brilho prateado, mas, conforme a iluminação, a cor vermelha também aparece, se bem que de forma um pouco mais clara que no alto do dorso; o ventre é também de um brilho prateado, em certas direções com reflexos avermelhados, e a íris cor de ouro-avermelhado; as nadadeiras têm um vivo vermelho-alaranjado; as áreas frontais das nadadeiras dorsal e anal e as pontas dos lobos da nadadeira caudal são branco-acetinadas, e essas pontas brancas na água são fortemente ressaltadas em contraste com o resto da nadadeira, em geral vermelha. A cor vermelha do corpo pode ser pura, suja ou pálida; os indivíduos maiores são em geral os de colorido mais bonito. É evidente, das anotações de Reinhardt, que em geral as fêmeas são mais verde-amareladas, apresentando somente um tom avermelhado fraco, e que os indivíduos vermelhos (machos) ficam talvez tão grandes quanto as fêmeas, mas que não são tão numerosos. Conservado em aguardente, o T. nanus tem mais ou menos a mesma aparência que T. gracilis; os lados prateados são separados do dorso por uma faixa escura, que continua como uma mancha arredondada na raiz da cauda e em uma linha preta mais ou menos nítida até a bifurcação da nadadeira caudal; também a linha dorsal escura é encontrada aqui, mas não é igualmente nítida em todos os indivíduos. 14. Chirodon piaba Lkt. Entre uma parte dos exemplares de T. rivularis capturados no Ribeirão do Mato, havia um único exemplar de uma pequena piaba, que somente desvia do gênero Chirodon (Cheirodon), tal qual foi caracterizado por Günther 137, por ter no maxilar dois ou três dentes 137 Catalogue of the Fishes in the British Museum. Vol. 5 o, p

112 bem desenvolvidos, de formato semelhante àquele dos dentes do osso intermaxilar, enquanto em Chirodon esse osso é considerado como desdentado. Entretanto, deve-se notar aqui que essa falta de dentes no maxilar pode valer, no máximo, para somente uma das espécies pertencentes a este gênero, especificamente Tetragonopterus interruptus de Jenyns originário de Maldonado 138, ao passo que informação contrária é ressaltada na descrição de Girard do tipo do gênero, Ch. pisciculus Gir. 139, do Chile. Quando se pensa que no gênero vizinho dos Tetragonopterus existem espécies com alguns poucos dentes no maxilar, outras com absolutamente nenhum e ainda outras com fileira de dentes (quase) completa, e que também existem as espécies de Aphyocharax com dentes muito pequenos no maxilar, que somente ocupam um terço do comprimento do osso (A. pusillus Gthr.) 140, e com numerosos dentes no maxilar, que ocupam a maior parte de sua borda (A. filigerus Cope) 141, o mais correto seria não usar essa diferença para uma divisão do gênero Chirodon. Do gênero Odontostilbe de Cope 142, com o qual Chirodon piaba concorda quase perfeitamente com relação aos dentes, este se diferencia pela linha lateral não ser completa como naquele, mas, ao contrário, muito curta, limitada às primeiras escamas. Se não se pode reconhecer a validade desta característica para separar certas espécies (Hemigrammus Gill.) do gênero Tetragonopterus, também não se poderá reconhecer seu peso para separar genericamente Odontostilbe de Chirodon. Será, portanto, necessário unir esses dois gêneros e providenciar a mudança necessária nas características que definem o gênero Chirodon. Com o gênero Aphyocharax Gill., sobre o qual seu proponente diz que é tecnicamente diferente do Chirodon apenas pela presença de dentes no maxilar, eu não me preocuparia mais daqui para frente, em virtude da forma diferente dos dentes 143. A denominação escolhida para esta nova espécie deveria lembrar sua semelhança fisionômica com os Tetragonopterus, dos quais os Chirodon se diferem externamente (quer dizer, sem considerar a dentição) por ter uma boca menor. 138 Zoology of the voyage of H. M. S. Beagle, IV. Fish, pp Girard: Contributions to the fauna of Chile, no The U.S. Naval Astronomical Expedition de J. M. Gillis, II, p. 45: Dentes no maxilar, intermaxilar e no dentário, etc. e dentes no maxilar muito poucos e pequenos. 140 Proc. Zool. Soc. 1868, p Proceed. Am. Phil. Soc. 1870, p loc. cit., p Como pode haver alguma dúvida em atribuir maior peso à forma dos dentes (como eu penso ser o mais correto), ou ao fato de eles ocorrerem ou não no maxilar, vou aqui notar como eles são descritos nas diferentes espécies: Tetragonopterus interruptus Jenyns dentes pequenos multi-cuspidados ; dentes muito pequenos; as pontas da borda cortante numerosas (5 ou 6 em cada dente) e aproximadamente iguais. Chirodon pisciculus Gir. Dentes... dilatados em direção às suas bordas, as quais exibem geralmente 5 pontas agudas. Suas formas são achatadas, dilatadas em direção às suas bordas superiores, as quais são providas geralmente com 5 pontas subcônicas, a do meio sendo a mais longa, com a aparência de um dedo. Chirodon alburnus Gthr. (Proc. Zool. Soc., 1869, p. 424). Dentes escassamente comprimidos, pontudos, com um minúsculo (microscópico) lobo de cada lado; existem cerca de 12 na maxila superior e 18 na inferior. Odontostilbe fugitiva Cope: Dentes... amplamente espatulados e crenulados, 2 em cada maxilar, 5 em cada pré-maxilar, 6 em cada dentário, os pré-maxilares com 7 cúspides cada um, a mediana mais proeminente. Aphyocharax pusillus Gthr.: Dentes pontudos, os do inter-maxilar, cerca de 7 de cada lado, tendo simplesmente uma ponta: mandíbula com 9 dentes de cada lado; dentes maxilares muito pequenos, ocupando cerca de 2 /3 do comprimento do osso. A. filigerus Cope: Dentes pré-maxilares 7 de cada lado, maxilares numerosos, ocupando a maior parte da margem do osso. Como resultado desse agrupamento comparativo, parece-me que Chirodon alburnus Gthr. deve ser mudado para Aphyocharax. Eu mostrei em outro lugar que Tetragonopterus pulcher de Gill (Trinidad) torna-se a quinta espécie do gênero Chirodon ou Odontostilbe (Videnskab. Medd. fra den naturh. Forening, 1874, p. 236). 112

113 Chirodon piaba tem um pouco acima de 1 3 /4 polegada de comprimento da ponta do focinho até a ponta da cauda. A forma é comprimida com os lados do ventre arredondados; a altura é contida quase 3 vezes no comprimento total da ponta do focinho até o início da nadadeira caudal, o comprimento da cabeça 4 1 /3 vezes; o diâmetro dos olhos é mais de um terço do comprimento desta última e igual à largura da testa entre os olhos. O perfil não apresenta qualquer depressão notável entre estes. O início da nadadeira dorsal fica mais ou menos igualmente distante da ponta do focinho e da raiz da nadadeira caudal, mas atrás da base das nadadeiras ventrais; estas não alcançam completamente a nadadeira anal; as nadadeiras peitorais, ao contrário, alcançam as ventrais. A nadadeira caudal é profundamente bifurcada; o comprimento da nadadeira dorsal (na sua base) não é a metade de sua distância até a adiposa. A boca é pequena; existem 5 dentes em cada intermaxilar, 2 3 em cada maxilar, mais próximos do osso do intermaxilar, e 7 (?) 144 em cada metade da maxila inferior. Os mais próximos do meio são os maiores, e os mais extremos, de cada lado, os menores; em geral a sua forma é essencialmente a mesma, ou seja, comprimidos, com uma borda arredondada e finamente serrilhada; existe, porém, a diferença que nos dentes do intermaxilar as 7 9 cúspides tomam toda a borda da coroa, ao passo que os dentes da maxila inferior (sete dentes) são mais largos e somente serrilhados na sua borda superior quase reta (horizontal). Contam-se 35 escamas ao longo da linha lateral e na sua sequência (somente as primeiras 9 10 são realmente perfuradas pela linha lateral), 5 fileiras acima e 6 abaixo na parte anterior do corpo, além das ímpares (nas linhas medianas do dorso e do ventre); em geral existem apenas algumas poucas estrias sulcadas (2, 4, no máximo 6 9) em cada escama. A nadadeira dorsal tem 11 (2+9) raios, a nadadeira ventral 8 e a nadadeira anal 23 (3+20). O brilho prateado dos lados e do ventre é limitado em direção ao dorso por uma faixa cinza-prateada estreita; perto da raiz da nadadeira caudal existe uma grande mancha preta; a mancha da região escapular é, ao contrário, menos nítida. Também o opérculo e o fino anel ósseo debaixo dos olhos são cor de prata. 15. Brycon Lundii Rhdt. e B. Reinhardti Ltk. Existem no Rio das Velhas duas espécies de Brycon, uma maior, chamada matrinchã 145, e uma menor, que se chama peripitinga 146. Desta última existe uma série de 10 exemplares, dos quais o maior tem um comprimento total de aproximadamente oito polegadas e meia até a ponta da nadadeira caudal. Da espécie maior, o Prof. Reinhardt trouxe somente um exemplar 144 Devido aos danos parciais dos dentes, o número não é totalmente seguro. 145 Reinhardt relata que ela é chamada indevidamente piabanha, cujo nome pertence a um outro peixe que não ocorre no Rio das Velhas. É claramente o mesmo nome com o qual B. carpophagus, de acordo com Castelnau, é chamado no Rio Sabará; B. Hilarii, de acordo com a mesma fonte, é chamado em Salinas (Salgado?) matrinchão. 146 De acordo com St. Hilaire (Vol. I, p. 238), de piri, junco, e pitiunga, aquilo que tem um mau cheiro; de acordo com Reinhardt, de pirá, peixe, corrompido para Pirapitanga. Filhotes foram trazidos a Reinhardt sob o nome de douradinho, ou um pequeno dourado, ou seja, os peixes eram confundidos com filhotes de Salminus Cuvieri. 113

114 de quinze polegadas e meia até a ponta da nadadeira caudal, que, devido às condições em que foi guardado 147, não está no melhor estado de conservação; entretanto Reinhardt pôde fazer a ilustração que aparece mais adiante, e, dentre alguns dos peixes coletados pelo Dr. P. W. Lund, felizmente existia um exemplar algo mais jovem (dez polegadas e meia de comprimento), o que possibilitou uma comparação direta muito melhor entre as duas espécies que vivem no Rio das Velhas. A peripetinga (Brycon Reinhardti m.) tem um corpo bem alongado; a altura é contida nos exemplares menores quase 4, nos maiores somente 3 1 /2 vezes no comprimento total, calculado da ponta do focinho até o ponto no lado da nadadeira caudal onde termina a cobertura de escamas, e nos exemplares menores a altura é menor, nos de tamanho médio do mesmo tamanho e nos maiores maior que o comprimento da cabeça, que é contido 3 1 /2 vezes nos exemplares menores e nos exemplares maiores quase 4 vezes no comprimento total mencionado acima. O diâmetro dos olhos é contido 1 1 /2 vez tanto na largura da testa, muito plana, como na distância entre o olho e a borda de trás do opérculo, mas 4 vezes no comprimento da cabeça nos mais jovens e 5 nos mais velhos. A extremidade do osso maxilar (em comparação com B. Lundii) é mais larga e arredondada e alcança até abaixo da parte anterior do olho, nos mais jovens até uma linha vertical traçada da parte anterior da pupila. Contam-se cerca de 50 (50 52) escamas na linha lateral e, em geral, 9 fileiras de escamas acima e 6 abaixo desta, de cada lado da parte anterior do corpo, além daquelas que ocupam a linha mediana do dorso e do ventre. Nos exemplares menores, a constituição da linha lateral é bastante simples, quer dizer, encontra-se em cada uma de suas escamas no máximo um curto tubo dobrado para baixo; mas nos maiores ela é mais ou menos ramificada, ou seja, partida em 2, 3, 4, no máximo 5 ramos curtos bloqueados; a linha lateral continua um pouco além da cobertura de escamas na pele macia da nadadeira caudal, até alcançar ou superar a metade da distância até o entalhe da nadadeira. A nadadeira dorsal situa-se logo acima do espaço entre as nadadeiras ventrais e a anal, igualmente distante de ambas, e igualmente distante da nuca e da raiz da nadadeira caudal, de modo que a distância entre o raio mais à frente da nadadeira dorsal até a ponta do ângulo da nuca é igual à distância do último raio da nadadeira dorsal até a raiz do curto raio superior da nadadeira caudal. O comprimento da nadadeira dorsal é contido uma vez e meia em sua altura; sua distância da nadadeira adiposa é igual, ou um pouco maior que o comprimento da nadadeira anal, mas algo menor que o da cabeça. As pontas das nadadeiras ventrais alcançam até o ânus; as nadadeiras peitorais além da metade da sua distância até as nadadeiras ventrais; a nadadeira anal é mais alta à frente que em sua parte traseira, mas não é desenvolvida em ponta; seu maior raio é tão longo quanto o comprimento da nadadeira dorsal. A nadadeira caudal é profundamente bifurcada, seus raios medianos não são alongados. Número de raios: D.: 11 (2. 9); P.: 14 15; V.: ; A.: (22). Uma mancha negra bastante grande ocupa a raiz da nadadeira caudal de cada lado e prolonga-se para trás como uma faixa preta até sua incisão; nos exemplares mais jovens, vê-se nitidamente um traço de uma sombra negra na ponta das nadadeiras dorsal e anal, que, entretanto, não aparece quando essas nadadeiras são dobradas. No peixe vivo o 147 Ele foi trazido a Reinhardt duas horas antes de sua partida de Lagoa Santa, e, portanto, teve de ser colocado às pressas em um tonel, que foi logo colocado em cima de uma mula, e, apesar de Reinhardt em Lagoa Santa ter retirado as víceras e feito várias incisões na carne, na chegada ao Rio ele encontrou o peixe já parcialmente apodrecido, estado que, na sua viagem até Copenhague, naturalmente progrediu mais ainda. 148 O raio duro rudimentar que cresce junto com o primeiro raio não partido, como de costume, não é contado. 114

115 dorso, de acordo com Reinhardt, é de um azul-acinzentado ou cinza-esverdeado escuro, que nos lados e ventre se transforma em branco-prateado; a pele que liga os raios das nadadeiras caudal e anal é enegrecida; ao contrário, as nadadeiras ventrais são completamente transparentes e sem cor, e as nadadeiras peitorais têm somente aqui e ali alguns poucos pontos pretos ou respingos. A matrinchã (Brycon Lundii Rhdt.) está longe de ser tão alongada como a peripetinga ; a altura é contida somente 3 vezes ou um pouco mais no comprimento total (medido do modo acima); o comprimento da cabeça, ao contrário, 4 1 /2 vezes no mesmo comprimento total, 5 vezes quando este se mede até o meio da borda traseira da nadadeira caudal. Comparandose com a peripitinga, a cabeça mostra-se curta e alta em B. Lundii, relativamente afilada e longa em B. Reinhardti; a testa na primeira é relativamente larga e fortemente arqueada, sua largura maior que a distância da borda dos olhos até a abertura branquial e duas vezes maior que o diâmetro dos olhos, que é contido mais de 4 vezes no comprimento da cabeça; o olho fica na metade de baixo do lado da cabeça, nos B. Reinhardti acima da metade do mesmo. A extremidade do osso maxilar é pontuda e estreita e alcança uma linha vertical traçada da borda anterior do olho 149. A escultura das escamas é um tanto diferente daquela da peripitinga ; numerosas linhas convergem na espécie maior, mais ou menos nitidamente, 149 Por outro lado, nos dentes não encontro qualquer diferença essencial entre as duas espécies. Cada ramo da maxila inferior pode ter 8-12 dentes na fileira mais externa, os grandes com 6 7 cúspides, os menores com somente uma; na fileira interior, que nos exemplares menores de Brycon Reinhardtii começa antes do quarto dente da fileira exterior, nos exemplares maiores assim como nos B. Lundii antes do sexto ou oitavo, há no mínimo dentes além dos dois maiores, que ficam atrás dos mais à frente na fileira exterior. Cada osso do maxilar superior contém cerca de 20 (18 22, se nenhum foi extraído) pequenos dentes com 1 3 cúspides, cada intermaxilar uma fileira externa com cerca de 10 (9 11) e uma interna com cerca de 5 (4 7), com 3 5 cúspides cada uma; mas esta fileira interna continua e bifurca-se na parte da frente da boca novamente em duas fileiras de dentes maiores, 2 ou 3 em cada uma; aqueles na fileira do meio dentre aquelas 3 fileiras da frente possuem 3 cúspides; aqueles na de trás são maiores e possuem nos B. Lundii 5 (4 6) cúspides cada. 115

116 em direção à borda da parte descoberta da escama; a espécie menor tem muito menos dessas linhas, as quais divergem mais que convergem, pelo menos nas escamas do dorso; para baixo, em direção aos lados e no ventre, poder-se-ia também considerar que possuem um padrão mais convergente. Na linha lateral, que como em B. Lundii começa bem alto perto da nuca, várias fileiras de escamas acima da extremidade superior da abertura branquial, e na sua parte mais anterior acompanha de perto o arco da região escapular, conto cerca de 60 (59 61) escamas, acima dela 11, abaixo aproximadamente 8 fileiras de escamas, na parte frontal do corpo; em cada escama a linha lateral forma como que uma árvore fortemente ramificada que se alarga por quase toda sua superfície e continua até a borda de trás da nadadeira caudal; esta nadadeira não é tão fortemente bifurcada como na peripetinga e seus raios medianos são um pouco maiores. A distância da nadadeira dorsal até a nuca é um pouco mais curta que dela até a raiz da nadadeira caudal. A distância da nadadeira dorsal até a nadadeira adiposa é um pouco menor que o comprimento da nadadeira anal, mas muito maior que o da cabeça. A nadadeira anal é, à frente, menos alta que o comprimento da nadadeira dorsal. Número de raios: D.: 11 (2. 9); A.: (27); P.: 14 15; V.: 8 (7); C.: O exemplar menor possui a mancha preta e sua faixa na cauda e na nadadeira caudal; no exemplar maior estas desaparecem. A cor do dorso da matrinchã viva, dependendo da posição, parece ser de um verde ou azul vivos; o lado do ventre é branco; as nadadeiras anal e caudal possuem uma bela e viva cor vermelha, que aumenta em intensidade em direção à ponta das nadadeiras; a nadadeira caudal possui, além disso, uma faixa verde-oliva ao longo do comprimento. Também as demais nadadeiras raiadas possuem um tom avermelhado em direção à ponta, embora mais fraco. O opérculo é verde na parte de cima; o pre-opérculo branco-prateado à frente e vermelho como flor de pêssego atrás. O estômago, em dois dos exemplares examinados por Reinhardt, estava cheio de material vegetal, sementes e coisas similares. Algumas das diferenças mencionadas aqui são certamente do tipo que, em parte, poderse-ia pensar serem devidas a diferenças de idade, mas somente para uma parte menor delas. O número diferente de escamas e sua escultura, o número de raios na nadadeira anal, a forma distinta da maxila superior, etc. demonstram, sem qualquer dúvida, que a peripitinga e a matrinchã são espécies bem distintas. Também não há razão para estabelecer relações de nenhuma delas com B. Hilarii, independentemente de esta ter sido trazida do Rio São Francisco por St. Hilaire; pois esta espécie possui 80 (76 80) escamas na linha lateral e fileiras acima desta na parte anterior do corpo. Entretanto, poderia ser possível que B. Lundii fosse fundida com B. orthotænia Gthr., que foi descrita (Cat. V. p. 335) a partir da pele de um peixe de 16 polegadas que Ch. Cumberland trouxe do rio Cipó, o qual os moradores chamavam de matrinxim ; a contagem de somente 53 escamas na linha lateral pode ser explicada pelo fato de aquelas que formam sua porção elevada, ao longo do arco da região escapular, não terem sido contadas, intencional ou involuntariamente; a falta da fileira interna dos dentes da maxila inferior pode se dever ao fato de terem caído durante a preparação. Estas são, porém, as únicas discrepâncias entre B. Lundii e B. orthotænia nas quais eu poria um peso maior faço aqui referência à descrição de Günther, sem discutir mais detalhadamente as outras diferenças menos importantes e se o futuro não confirmar a existência dessas diferenças, eu as consideraria como idênticas. Também poderia, de certo modo, ser o caso de procurar-se B. carpophagus Val. entre as duas espécies aqui descritas do Rio das Velhas, desde que Castelnau (obra citada p. 68) indica que a observou no Rio de Sabará, em Minas Gerais. A espécie é proposta por Valenciennes ( hist. nat. d. poiss. 116

117 XXII, p. 252) a partir de exemplares de Essequibo (por Schomburgk), mas Valenciennes menciona, ainda, que ele a obteve do Rio Amazonas de Montravel e Castelnau; como o último não menciona ter obtido o exemplar no Rio Amazonas ou em algum de seus afluentes, possivelmente uma ou outra dessas afirmações sobre o coletor ou sobre o local da coleta é devida a um engano ou mal-entendido. Em todo caso, a figura de Castelnau (prancha 34, fig. 3) não corresponde sua descrição menciona somente a distribuição das cores à descrição de Valenciennes, de acordo com a qual a altura deveria ser contida 3 vezes no comprimento total, enquanto a ilustração mostra uma relação de 1:3 1 /2 150 ; talvez menor peso se possa atribuir ao fato de que a nadadeira caudal seja retratada com o bordo posterior fortemente arredondado e seja descrita por Valenciennes como quase nada entalhada. Se se considera que Castelnau fez sua ilustração de uma espécie que também ocorre no Rio das Velhas, uma vez que ela ocorre no Rio Sabará, então há que se observar que ela não concorda bem com nenhuma das espécies que conheço do Rio das Velhas; com B. Lundii (da qual Chalceus carpophagus de Valenciennes parece estar mais próximo) não concorda na forma do corpo, no fraco arqueamento da linha lateral ou no número de raios da nadadeira anal, com B. Reinhardti não concorda na forma da nadadeira caudal (fortemente bifurcada) ou na aparência da linha lateral fortemente ramificada; e nem na posição da nadadeira dorsal, que é distinta do que deveria ser. Por enquanto há que se considerar que no Rio São Francisco vive ainda uma terceira (ou quarta) espécie diferente das aqui descritas, ou que o Chalceus carpophagus de Castelnau, apesar de tudo, coincida com uma delas. Não há razão para relacionar qualquer das duas espécies aqui descritas a Ch. carpophagus de Castelnau. Piabina argentea Rhdt. Esta espécie foi descrita pelo seu descobridor em Oversigt over det kgl. danske Vidensk. Selsk. Forh. de 1866, pp e ilustrada na mesma publicação, na prancha I, figuras 1 2, as quais são reproduzidas a seguir. 150 Portanto é difícil admitir que o exemplar de Natterer de Irisanga possa concordar em todos os pontos com a descrição de Valenciennes ou com a figura de Castelnau (Kner, Characinen, II, p. 12). 117

118 Piabina argentea Rhdt. D. O Grupo dos Hydrocyon Cynopotamus (Rœboides) xenodon (Rhdt.) Epicyrtus xenodon Rhdt., Videnskab. Meddel. fra den naturhist. Foren. 1849, pp Como esta espécie é também descrita detalhadamente pelo seu descobridor, devo apenas acrescentar que seu nome brasileiro é cachorra e falar sobre o nome escolhido para sua espécie. A espécie se inclui no subgênero de Günther Rœboides; como Epicyrtus (M. Tr.) já havia sido usado anteriormente para um gênero de besouro, Günther, em substituição, batizou o gênero de Anacyrtus; mas isso não foi inteiramente certo, uma vez que Cynopotamus de Valenciennes, cuja espécie C. gibbosus (L.) é claramente idêntica ao Anacyrtus gibbosus Gthr. (Epicyrtus gibbosus M. Tr.), tem que ser usado como denominação para todo o gênero. Entretanto, isso não exclui a possibilidade de que ainda possa ser usado como denominação para uma subdivisão deste gênero, e Anacyrtus Gthr., para uma outra, como se encontra em Günther. 16. Salminus Cuvieri e Hilarii Val. Em um dos Salminus trazidos por Reinhardt com 1 1 /2 pé de comprimento do Rio das Velhas, o comprimento da cabeça é igual à maior altura e maior que um quarto do comprimento até a raiz da nadadeira caudal, quer dizer, até a linha atrás da qual os raios da 118

119 nadadeira caudal aparecem livres da cobertura de escamas, que, neste gênero, estende-se um tanto pelos seus lados; se o comprimento total é calculado até o entalhe da nadadeira caudal, o comprimento da cabeça é precisamente um quarto deste. A distância do início da nadadeira dorsal até os raios superiores que sustentam a nadadeira caudal é menor que a distância deste ponto até a ponta do focinho. Número de dentes nos diferentes ossos que os sustentam: em cada intermaxilar, na fileira exterior (pois há mais de uma), existem 6, em cada maxilar 33 36, em cada lado da maxila inferior 24 26; o segundo da frente em cada lado da maxila inferior é significativamente maior que os demais. O número de raios na nadadeira dorsal é 10 (2. 8), na nadadeira anal 29 (3. 26), o mais à frente curto 151, na nadadeira peitoral 14 15, na nadadeira ventral 8 (1. 7) 152, na nadadeira caudal 25 ( ). A nadadeira adiposa localiza-se logo acima do último raio da nadadeira anal. Na linha lateral contam-se cerca de 80 (mais precisamente talvez 78) escamas; mas uma contagem confiável é difícil, em parte porque a parte anterior da linha, fortemente virada para cima, é pouco nítida; ela se estende, assim como nas demais espécies de Salminus que tive oportunidade de ver, até a borda da nadadeira caudal 153, onde esta, assim como em Brycon Lundii, causa um prolongamento dos raios medianos, de forma que o ponto médio da borda fortemente entalhada desta nadadeira avança um pouco. Contam-se cerca de 50 fileiras de escamas completamente redondas ao longo do corpo e 13 acima e 10 abaixo da linha lateral na parte anterior do corpo. As escamas são finamente sulcadas na área periférica de sua porção visível, já que as numerosas e pouco salientes estrias raiadas são ligadas, através de delicadas linhas transversais concêntricas, com a borda e estão bem próximas umas das outras. O diâmetro dos olhos é a metade da largura da testa, onde esta é mais larga, e é contido 6 1 /2 vezes no comprimento da cabeça. O desenho é o comum: uma mancha escura na base de cada escama, formando, de cada lado do peixe, cerca de 15 linhas ou faixas interrompidas, ou pontilhadas ao longo do dorso e dos lados do peixe; a nadadeira caudal tem, como de costume, uma faixa escura no meio de ambos os lados da linha lateral, que é continuação de uma mancha escura na raiz da nadadeira, formada de 3 linhas que se unem ao longo do comprimento. A pele de um Salminus do Rio São Francisco, com 15 1 /2 de comprimento, concorda completamente, em todos os aspectos, com a descrição acima, desconsideradas algumas discrepâncias; ela possui 11 (2+9) raios na nadadeira dorsal, 3+25 ou 26 (?) na nadadeira anal, cerca de 78 escamas na linha lateral, 12 acima e 10 abaixo desta; o número de dentes é 6 no intermaxilar, no maxilar, cerca de 22 em cada ramo da maxila inferior; a nadadeira caudal parece ser um pouco menos profundamente bifurcada, e sua parte mediana ou língua (correspondente à continuação da linha lateral) é um pouco mais nítida. Eu acrescento a esses dois exemplares maiores um exemplar menor do Rio das Velhas (8 1 /4 polegadas de comprimento), que não apresenta outras discrepâncias além de uma altura um pouco menor, claramente menor que o comprimento da cabeça, e, parece, uma nadadeira caudal mais entalhada 154 ; a porção mediana dessa nadadeira é longa e estreita. As escamas nesta parte possuem outra aparência, sendo as estrias raiadas menos numerosas (cerca de 13), mais aparentes e apresentando pequenos sulcos, produzidas nos seus cruzamentos com as linhas 151 À frente deste existe ainda um rudimento extremamente pequeno, mas completamente escondido na pele, de modo que somente é visto ao ser exposto. 152 O delicado raio duro rudimentar não incluído. 153 Kner, loc. cit., p Esta não está completamente conservada, mas suas pontas não parecem ter sido tão desenvolvidas como no primeiro exemplar descrito. 119

120 concêntricas, que se estendem por sobre toda a parte visível da escama; mas também conto cerca de 80 escamas na linha lateral, 13 acima e abaixo dela na parte anterior do corpo. Deve-se também notar que as escamas nesses peixes não são, de forma alguma, tão regularmente desenvolvidas e ordenadas na parte frontal do dorso que se possa dar algum peso ao fato de se contar uma fileira a mais ou a menos. O estriamento raiado dos ossos infra-orbital e do opérculo é muito menos característico que no exemplar maior. A nadadeira dorsal possui também aqui 11 (2. 9) raios, a nadadeira anal somente 28 (3. 25). As nadadeiras ventrais e peitorais e a parte mais alta de frente da nadadeira anal são relativamente menos prolongadas que no exemplar maior, o que está bem de acordo com o fato de a nadadeira caudal ser mais curta e isto é somente um sinal de que o desenvolvimento corporal ainda não foi completado. No intermaxilar encontro 6 dentes, no maxilar 28 32, em cada lado da maxila inferior A escassez de material obrigou-me a entrar em algum detalhe com relação a cada uma das três amostras mencionadas do Rio São Francisco e do Rio das Velhas. Certamente, não há dúvida de que eles pertencem a S. Cuvieri Val., que foram trazidos por A. de St. Hilaire do Rio São Francisco (um exemplar com 19 polegadas de tamanho) e por Hr. Cumberland do Rio Cipó 156. Do Rio das Velhas, Reinhardt trouxe também um segundo pequeno Salminus, exatamente do mesmo tamanho (8 1 /4 ) que o menor S. Cuvieri mencionado acima; isto permite, portanto, fazer uma comparação muito melhor entre eles. Não pude encontrar qualquer diferença nas proporções; neste, o comprimento da cabeça é também algo maior que a maior altura do 155 Pode ser oportuno comparar esses números com os de Valenciennes e de Günther: D. V. A. L. lat. Dentes intermax. maxil. mandibul. Valenciennes : 11; 9 ; 27; 80; 7, 42, 12 Günther : 11; 8; 29; 80, ;, 34 36, Maior exemplar de Rhdt., Rio d. Velhas : 10 (2. 8); 8; 29 (3. 26); 78, ; 6; 33 36, Menor exemplar de Rhdt., Rio d. Velhas : 11 (2. 9); 8; 28 (3. 25); c. 80, ; 6; 28 32, Pele de Rhdt., Rio São Fancisco : 11 (2. 9). 28 ou 29? c. 78, 6; 32 34, c Em algumas cabeças e maxilas isoladas, razão pela qual não se sabe se pertencem a S. Cuvieri ou a S. Hilarii , 30 41, O raio duro rudimentar foi contado. 156 Não concorda muito bem que o comprimento da cabeça, segundo Günther, seja menor que um quarto do comprimento total (sem a nadadeira caudal), e que o início da nadadeira dorsal se situe quase no meio da distância entre a ponta do focinho e a raiz da nadadeira caudal. Valenciennes diz que a nadadeira dorsal tem a altura igual ao dobro de seu comprimento, a nadadeira anal, ao contrário, o comprimento igual ao dobro de sua altura, e o lobo do meio da cauda é quase tão longo quanto os outros dois, afirmações que eu considero muito fortes. Outras imprecisões, por exemplo, na descrição dos ossos dos arcos orbitais (onde os dois primeiros são descritos como um único e o último, ao contrário, como dois), vou ignorar, e considero completamente desnecessário comunicar uma nova e completa descrição da espécie. Apesar disso, vou suprir a descrição de Valenciennes com a seguinte passagem da detalhada descrição escrita de próprio punho por Reinhardt, porque as proporções mencionadas não foram anteriormente descritas para Salminus: O lado côncavo dos arcos branquiais sustenta espinhos ósseos chatos, que são maiores no arco externo onde alcançam um comprimento em torno de 7 mm; nos dois primeiros arcos formam somente uma fileira do lado externo, ao passo que o lado interno é completamente liso; no terceiro e no quarto arcos branquiais encontram-se, ao contrário, duas filas de tais espinhos, uma de cada lado, embora no quarto os espinhos sejam quase rudimentares. Os dentes dos ossos da faringe são muito pequenos, em forma de cone, um pouco curvados na ponta; em cada um dos primeiros ossos superiores da faringe eles formam um pequeno grupo, nos de trás uma grande lâmina oval de dentes, que é somente um pouco menor que esse grupo no osso inferior da faringe. 120

121 corpo, mas acima de um quarto do comprimento total até a raiz da nadadeira caudal (esta determinada do modo usual, como acima), e a distância do início da nadadeira dorsal até o raio de suporte superior da nadadeira caudal é menor que aquela do mesmo ponto até a ponta do focinho, de modo que também aqui a nadadeira dorsal se situa um pouco atrás da metade do corpo; a nadadeira caudal, como nos S. Cuvieri de meia-idade, parece ter tido 157 borda posterior com ponta saliente no meio menos arredondada que nos peixes adultos da espécie mencionada. A nadadeira adiposa situa-se nitidamente à frente, se comparada com S. Cuvieri, o que, entretanto, pode ser apenas uma peculiaridade individual. As estrias raiadas das escamas são aqui menos numerosas (6 10) que nos S. Cuvieri de meia-idade; mas algumas escamas possuem o mesmo número de estrias daqueles. A nadadeira dorsal tem também aqui 11 (2. 9) raios, a nadadeira anal 27 (3. 24) 158. Dessa forma restam somente duas diferenças: o exemplar que dispomos possui dentes um pouco menores (como também Valenciennes relata para S. Hilarii), independentemente do fato de seu número ser aproximadamente o mesmo (6 7 em cada intermaxilar, em cada maxilar e 23 em cada ramo da inferior) e escamas maiores e consequentemente menos numerosas, mais especificamente 67 na linha lateral, 10 acima e 7 abaixo da mesma na parte anterior do corpo. Portanto, não resta qualquer dúvida de que este dourado é de uma espécie diferente daquela descrita anteriormente, e algumas discordâncias menos significativas com a descrição não poderiam levantar muitas dúvidas de que esta é a já conhecida S. Hilarii Val. do Rio São Francisco. Mas parece também que se tem de desistir das demais características escolhidas para diferenciar essas duas espécies (que definitivamente não pude confirmar) e ater-se somente às duas aqui salientadas: a diferença no tamanho dos dentes (que, entretanto, não se pode usar de forma absoluta) e a quantidade e tamanho das escamas, que podem ser expressos em números. Apesar do já afirmado, como esse resultado é baseado no exame de somente um único exemplar jovem de S. Hilarii, uma vez que não tive oportunidade de ver exemplares adultos desta espécie, não vou deixar de finalmente salientar, por ser algo possível, que o desenvolvimento das espécies não é sempre paralelo, e que adultos de S. Hilarii podem apresentar diferenças que desconheço em relação aos adultos de S. Cuvieri. Salminus Cuvieri viva é, de acordo com Reinhardt, adornada com cores magníficas. O dorso é cinza-esverdeado, mas, sob certa iluminação, um belo reflexo prata-azulado substitui completamente a verdadeira cor básica; cada uma das escamas é, além disso, provida de uma pequena mancha negra, que em geral também se encontra nas escamas dos lados e só desaparece completamente mais abaixo em direção ao ventre, de modo que, ao longo do corpo, corre um certo número de fileiras paralelas de manchas, as quais se tornam cada vez mais pálidas e difusas, à medida que se aproximam do ventre. A cor básica dos lados é um brilho prateado, mas a mancha negra acima mencionada, com a qual cada escama é adornada, é circundada de uma borda dourada ou, pode-se dizer, está situada sobre uma base dourada, e, como consequência, espalha-se por sobre os lados um reflexo dourado, que pode, quando o peixe é visto de certos ângulos, substituir quase completamente o brilho prateado; para baixo, em direção ao ventre, a base dourada das manchas aumenta em tamanho, mas logo 157 A nadadeira caudal neste exemplar está muito danificada. 158 Segundo Günther... : D.: 11; V.: 8; A.: 25. L. lat. 69, 10 Dentes: máx Segundo Valenciennes : D.: 10; V.: 9; A.: 23. L. lat. 68, e ele descreve a cauda como muito profundamente bifurcada; o número nas nadadeiras ventrais discrepa certamente do de Günther somente pelo fato de o raio duro rudimentar ter sido contado. 121

122 perde completamente seu brilho metálico, de modo que uma cor alaranjada é dominante na parte mais baixa dos lados do corpo. Na altura das bases das nadadeiras peitorais e ventrais, a cor amarela desaparece muito abruptamente e o ventre adquire, em uma largura que corresponde ao espaço entre as nadadeiras pares, uma bela cor branco-madrepérola, que também se estende pela superfície de baixo da cabeça e da cauda. A superfície da testa possui a cor do dorso, mas falta o brilho prateado; os ossos da órbita são na sua metade superior branco-prateados, para baixo o brilho prateado é substituído por um tom amarelado, e isso acontece ainda com maior intensidade na abertura branquial, onde a cor na parte de baixo quase se transforma em vermelho-alaranjado. A parte superior da córnea é de brilho prateado, somente mais próximo da negra pupila ela assume um tom cobre-avermelhado. A nadadeira dorsal é verde-oliva na parte de cima, com uma borda de um pálido vermelhocarmim; a nadadeira adiposa é igualmente verde-oliva, mas mais clara. As nadadeiras pares e a nadadeira anal possuem uma magnífica cor vermelho-alaranjada, a qual, em direção à ponta das primeiras e ao longo da borda da última, transforma-se em vermelho-sangue; embora se encontrem também indivíduos nos quais essas nadadeiras são amarelo-alaranjadas. A maior parte da nadadeira caudal é amarelo-alaranjada, mas em direção à sua borda a cor se torna pouco a pouco vermelho-sangue, com o que se forma uma borda dessa cor, de limites indefinidos, em torno da nadadeira; através da sua porção mediana passa finalmente uma faixa preta de 2 3 linhas 159 de largura, que na realidade é uma continuação de uma mancha preta da cauda, perto da raiz da nadadeira caudal. O exemplar a que a descrição acima se refere foi capturado em 26 de setembro. Em um outro capturado em 13 de fevereiro, um macho jovem de 14 polegadas de comprimento com testículos intumescidos de sêmen, as cores eram menos espetaculares: As nadadeiras peitorais, ventrais e anal eram amareloalaranjadas, e não vermelho-alaranjadas; e o exemplar jovem mencionado anteriormente de 8 1 /4 polegadas de comprimento (capturado em 27 de maio) possuía cores ainda menos vivas; a nadadeira anal era amarelo-alaranjada com algum vermelho na parte da frente, as nadadeiras ventrais e peitorais eram também amarelas com as pontas vermelhas; a nadadeira caudal, ao contrário, era como no exemplar grande. Os lados do corpo com brilho prateado, o ventre também, somente mais fraco; os lados não tinham traços do brilho dourado. Salminus Cuvieri atinge até 4 pés de comprimento e é o maior Characini da parte da Província de Minas Gerais onde Reinhardt ficou; é frequente tanto no Rio das Velhas como nos seus maiores afluentes, mas não ocorre nos lagos e em águas paradas. Com um tamanho de 14 polegadas, já é reprodutor, e em meados de fevereiro encontra-se com órgãos sexuais tão significantemente desenvolvidos que se pode com razão considerar que a época de reprodução ocorre no final de março ou início de abril. Possui carne especialmente saborosa e é dos peixes mais valorizados. Reinhardt nunca ouviu nenhum nome guarani para ele, ao contrário, tanto esta como as espécies próximas recebem em toda Minas e, pelo que parece, numa grande parte do Brasil o nome dourado, uma denominação que os imigrantes portugueses trouxeram de sua terra natal e, naquele tempo, transferiram para esses peixes em virtude de seu jogo de cores. Com relação à denominação sistemática da espécie, para a qual Günther registrou o brevidens de Cuvier, que Valenciennes 160 (em verdade, por razões pouco relevantes) tinha 159 NT: Veja nota 37, ao pé da p Quando Valenciennes diz que este peixe perto do Rio de Janeiro na Província de Minas Gerais se chama barro (deve ser barra ) de Jiquitibá, isso é claramente uma confusão do nome do lugar onde Ménétriés 122

123 sugerido, tenho a observar, junto com o Prof. Reinhardt, que Salminus Cuvieri Val. não pode ser o Hydrocyon brevidens de Cuvier, que, de acordo com a descrição original, tem mais de 100 escamas ao longo da linha lateral e 30 na altura, sendo, portanto, mais provavelmente idêntico à espécie que vive no Rio da Prata 161. Valenciennes não menciona nem uma palavra sobre a diferença entre o pequeno exemplar mutilado do Gabinete em Ajuda 162 e aquele trazido por St. Hilaire, devendo, pois, tê-lo ignorado completamente. 17. Xiphorhamphus lacustris Rhdt. pertence ao gênero com dois grandes dentes (além de vários menores) na parte anterior do maxilar. Das espécies descritas, esta se aproxima mais de X. ferox Gthr. de Essequibo, e está tão próxima desta que pode bem haver dúvidas se na realidade são espécies diferentes, o que, entretanto, pela distância geográfica, deve ser considerado como sendo o mais provável. O comprimento da cabeça é contido em geral 3 1 /2 vezes (3 1 /3 até 3 3 /5) no comprimento total da ponta do focinho até o ponto na nadadeira caudal onde a cobertura de escamas se interrompe; a maior altura nos exemplares jovens é contida quase 5 e nos mais velhos 4 1 /2 vezes no mesmo comprimento total. Exemplares mais jovens possuem focinho mais curto que os mais velhos; naqueles o comprimento do focinho é igual à distância do meio dos olhos até a borda anterior do pré-opérculo, nestes é maior. O diâmetro dos olhos é contido nos mais velhos /2 vezes no comprimento da cabeça, nos mais jovens somente 5 ou um pouco menos; somente em tais exemplares jovens esse diâmetro é maior que a metade do comprimento do focinho, nos mais velhos é mais próximo de um terço deste. Nestes, o fim do osso do maxilar alcança um pouco (por exemplo, 3 mm) atrás da borda posterior da órbita ocular, nos mais jovens fica justamente abaixo desta borda. Como nas demais espécies relacionadas, cada intermaxilar sustenta 2 dentes maiores, além de vários menores; cada maxilar, do mesmo modo, dois maiores, além de vários menores e muito pequenos que ocupam sua parte de trás; cada lado da mandíbula cerca de 4 (3 5) maiores, além de alguns de tamanho médio e menores. A nadadeira dorsal começa em geral muito pouco atrás da metade da distância entre a nuca (a ponta de trás do crânio) e o curto raio superior da nadadeira caudal e, mais raramente, exatamente na metade entre esses dois pontos; ela é muito mais alta que comprida (na base), mas a altura (de seus raios mais longos) não chega a ser o dobro do comprimento; sua altura é ainda igual ou um pouco maior que sua distância até a nadadeira adiposa. A nadadeira anal começa logo abaixo do último raio da nadadeira dorsal; ela possui o dobro do comprimento da nadadeira dorsal, mas não é tão alta quanto aquela. A nadadeira adiposa situa-se logo acima dos últimos raios da nadadeira anal. As nadadeiras peitorais ficam bem longe das nadadeiras ventrais, a ponta destas, ao contrário, atinge o orifício urogenital ou um ponto bem próximo dele. Encontro o seguinte número de raios: D.: 2. 9; P.: 14 16; V.: ; A.: ; excepcionalmente pode-se encontrar somente 8 raios moles na nadadeira dorsal e 22 na anal. obteve o peixe com seu nome comum. 161 Um exemplar jovem de um Salminus do Rio da Prata tem cerca de 100 escamas na linha lateral, 18 acima e 15 abaixo desta na parte anterior do corpo; o segundo dente da maxila inferior é também aqui grande, o que não é referido na descrição de Cuvier nem é sugerido pela figura de Müller e Troschel com respeito aos dentes de S. brevidens (Horæ ichthyologicæ, I & II, prancha VIII, fig. 3). 162 NT: Veja nota 21, ao pé da p O raio rudimentar duro e externo não incluído. 123

124 Ao longo da linha lateral, contam-se aproximadamente 100 (96 98) escamas; a linha continua além da cobertura de escamas, na parte nua da pele da nadadeira caudal. Entre as pontas das nadadeiras ventrais e da nadadeira anal existe um profundo orifício em forma de fenda, que é preenchido (pelo menos na fêmea 164 ) por uma grande, porém baixa e comprimida papila ou intumescência, em cuja parte anterior o intestino se abre; nos exemplares mais jovens esta formação, bem como a fenda, é muito menos desenvolvida. A cor é descrita por Reinhardt do seguinte modo: no dorso e na superfície da cabeça é oliva-esverdeado com algum brilho prateado; para baixo, o flanco perde o reflexo esverdeado e adquire um brilho puramente prateado. As nadadeiras são transparentes, com tons verde-oliva, principalmente em direção às bordas. Tanto na região escapular quanto na raiz da nadadeira caudal encontra-se uma grande mancha negra redonda, a última um pouco menor que a primeira, mas frequentemente de colorido mais intenso. Este peixe é chamado bicuda pelos brasileiros. Reinhardt somente o obteve no lago (Lagoa Santa), onde é muito numeroso e pescado diariamente com anzol. Dessa forma, ele não ocorre no rio (Rio das Velhas), e geralmente pode ser visto isolado ou em grupos de 2 ou 3 nadando nas águas claras e transparentes do lago. Os maiores que Reinhardt viu tinham um pé de comprimento (o maior exemplar do Museu possui cerca de 11 polegadas até a ponta da nadadeira caudal); o tamanho médio, mais comum, é somente de 8 polegadas. E. O grupo dos Serrasalmonina 18. Serrasalmo (Pygocentrus) piraya Cuv Piraya et Piranha: Marcgraf de Liebstad, Historiæ rerum naturalium Brasiliæ lib. IV tus, pp. 164 & Serrasalmo piraya: Cuvier, Sur quelques espèces de poissons, Mémoires du Museum, tomo V, p. 368, prancha 28, fig. 4 ( Il a été envoyé du Brésil par M.A. de St. Hilaire. loc. cit., p. 369.) Serrasalmo piranha Civ.: Spix & Agassiz, Selecta genera et species piscium, p. 71, tomo 28. ( Habitat in flumine Sti. Francisci, inque vicinis lacubus, piscinis, rivulis.) Pygocentrus piraya Müll.: (Cuvier et) Valenciennes, Histoire naturelle des poissons, tomo XXII, p Pygocentrus piraya M. Tr.: R. Kner, Beiträge zur Familie der Characinen, II Abtheilg. p. 28. (Denkschr. d. mathem. naturw. Classe d. Akademie d. Wiss. Wien, Vol. XVIII, p. 36.) Já que tanto Serrasalmo piraya ou piranha de Cuvier e Spix-Agassiz são do Rio São Francisco, não pode haver qualquer dúvida de que esta espécie impressionante do Rio das Velhas, que no Brasil se chama piranha-rodoleira ou a piranha de costas redondas, da 164 Todos os exemplares maiores do Museu são fêmeas. 165 O maior indivíduo conservado nas coleções do Museu mede aproximadamente 17 polegadas de comprimento. Ele foi trazido do Rio São Francisco por M. Aug. de S. Hillaire e foi com base nele que M. Cuvier forneceu a figura de seu Piraya. (Val. loc. cit. p. 293). 124

125 qual o Prof. Reinhardt trouxe um exemplar (sem nadadeiras ventrais) de 12 polegadas de comprimento conservado em álcool e 2 peles de 15 polegadas de comprimento, são todas claramente da mesma espécie, apesar da figura de Spix dar uma idéia não muito boa do peixe e a de Cuvier ser ainda pior em vários aspectos, especificamente com relação à aparência em geral e às proporções do corpo. Não será possível deixar de descrever a espécie novamente. Quero ainda salientar que, quando aqui sigo Günther, ao reconhecer Pygocentrus apenas como subgênero de Serrasalmo, é porque tanto eu como Kner comprovamos que neste gênero os dentes não caem com a idade. A forma do corpo é, aproximadamente, uma elipse regular; o perfil dorsal forma uma curvatura bastante forte e regular da nadadeira dorsal até a testa, que desce quase verticalmente, praticamente sem qualquer depressão acima do olho; também o perfil ventral forma uma curvatura regular do lábio inferior até a nadadeira anal, de modo que o ponto mais baixo do arco se situa à frente das nadadeiras ventrais; a maxila inferior ultrapassa um pouco, mas não muito, a parte de cima da boca. A distância da ponta do focinho até o início da nadadeira dorsal é maior que a distância deste ponto até o início da nadadeira caudal, mas menor que a distância da ponta do focinho até a nadadeira anal, e o início da nadadeira dorsal está um pouco mais perto da nuca que da nadadeira caudal. A altura é maior que a metade do comprimento total até a raiz da nadadeira caudal, mas igual à metade, quando calculado até a ponta da nadadeira caudal. O comprimento da cabeça (da ponta do focinho até a abertura branquial) é contido mais que uma vez e meia na altura do corpo e 3 vezes no comprimento total (até a raiz da nadadeira caudal) e sua largura mais de uma vez e meia no seu comprimento; o olho, pequeno e situado bem baixo, está igualmente distante do perfil dorsal e do ventral, mas muito mais próximo da ponta do grosso e largo focinho que do pré-opérculo; seu diâmetro é um sexto do comprimento da cabeça e é contido 2 2 /3 vezes na 125

126 largura da testa (medida em linha reta) entre os olhos, a qual por sua vez é contida 2 1 /4 vezes no comprimento da cabeça. As narinas ficam na altura ou mesmo um pouco acima da borda superior dos olhos. Os ossos da cabeça que possuem escultura (listrados ou cinzelados) são os suborbitais, o pré-opérculo e os 3 operculares juntamente com um pequeno supra-orbital e supratemporal de cada lado; o segundo suborbital é aproximadamente da mesma altura e comprimento e alcança completamente o pré-opérculo, cuja parte anterior, horizontal, é visível. O opérculo é 4 vezes mais alto que largo. O número de dentes é, como o usual, 6 7 ; os do meio (mais anteriores) são os mais longos (mais altos), os do lado os mais baixos e mais largos, e os da maxila inferior sempre significativamente maiores que os da superior (intermaxilar); suas cúspides laterais são menos salientes que no menor dos S. Brandtii; o primeiro e o terceiro dentes da parte superior da boca (intermaxilar), assim como nesta outra espécie, são um pouco menores que o segundo. O comprimento da nadadeira dorsal (ao longo de sua base) é menor que o da nadadeira anal, que é aproximadamente igual à metade da altura do corpo; a nadadeira caudal é nitidamente entalhada e tem as pontas arredondadas pelo desgaste. A nadadeira adiposa é pequena; situa-se aproximadamente a meio caminho entre a nadadeira caudal e a nadadeira dorsal e é mais ou menos coberta de escamas até a metade; seu comprimento (ao longo de sua base) é de metade a um terço de sua distância até as nadadeiras mais próximas; no exemplar menor ela tem somente um raio, mas em ambos os maiores é completamente ocupada por 7 raios (parece ser possível dar o número preciso dessas estruturas desenvolvidas irregularmente), que ficam bem próximos uns dos outros e são bifurcados e segmentados 166. A altura da nadadeira dorsal na frente, onde ela é mais alta, é nove treze-avos de seu comprimento, não sendo muito mais baixa na parte de trás (mas não mais alta atrás, como Cuvier a descreve); também não há diferença maior na nadadeira anal entre a parte anterior e a posterior, além do fato de o comprimento dos raios posteriores ser aproximadamente a metade dos da frente. As pontas das nadadeiras peitorais caem acima da raiz das nadadeiras ventrais, ao passo que as destas últimas alcançam somente até a metade da distância que separa as nadadeiras ventrais da anal. Existe, em geral, uma faixa nua no meio do dorso, acima da nuca, até a nadadeira dorsal, e a cobertura de escamas sobre a nadadeira anal alcança até a metade da altura do raio, na sua parte posterior e até um terço da altura, na sua parte anterior. O número de escamas ao longo da linha lateral não muito nítida, que não pode ser dado com precisão devido ao seu arranjo pouco regular, é de aproximadamente 100 ou um pouco mais. O número de espinhos ventrais 167 até o ânus é 25 26; à frente da nadadeira anal existe um espinho ou nódulo ósseo duplo, mas aqui não se encontram espinhos nos lados do ânus como nos verdadeiros Serrassalmonina. O número de raios é: D.: ( ); P.: 14 17; V.: 6 7; A.: ( ); C.: Reinhardt descreve a cor do peixe vivo do seguinte modo: no dorso e na superfície da cabeça (a nuca e a testa) era bronze bastante escuro com reflexos dourados (que, entre- 166 Esta característica altamente peculiar, que também se encontra em Myletes e em alguns Siluridæ, já é mostrada na figura de Spix e mencionada nas descrições de Agassiz e Valenciennes. Kner (loc. cit. p. 36) dá o número de raios como sendo 3 ou 4 e acredita que sua presença é certamente uma característica da espécie, ao que se deve acrecentar que o fato de aqui termos encontrado somente 1 raio no exemplar um pouco menor poderia indicar que naqueles ainda mais jovens os raios poderiam faltar completamente, ainda que Valenciennes diga que eles se encontram em todos os seus seis exemplares que eram de todos os tamanhos. 167 Cuvier os descreve corretamente como muito pouco salientes, obtusos e algo espalhados, mas retrata-os como sendo muito agudos, salientes e nítidos. 126

127 tanto, não eram nítidos na cabeça); para baixo, nos lados da cabeça e do corpo, a cor se tornava mais clara e o reflexo dourado mais perceptível; finalmente, em direção ao ventre era quase branco-prateado com muito pouco reflexo dourado, ao passo que, precisamente na fina quilha do ventre, se mostravam traços de um tom vermelho-carmim, que também apareciam nos lados da maxila inferior. As nadadeiras eram de cor bronze como a superfície da cabeça, somente as nadadeiras ventrais eram mais claras, com tons avermelhados. A íris era dourado-esbranquiçada; a pupila, alongada na direção vertical, era circundada acima e abaixo por uma mancha alongada, perpendicular e perto dela um anel muito estreito de puro dourado. Em uma piranha cujo conteúdo do ventre foi examinado, encontrou-se somente um espesso muco verde, algumas escamas de peixes e algumas bolas ovais, com cerca de 2 /3 polegadas de tamanho, de pelos de mamíferos entrelaçados (de rato ou outro pequeno animal semelhante). Reinhardt só teve motivos para considerar os relatos sobre o medo das piranhas como não pouco exagerados, apesar de ele, de modo algum, negar que esses peixes, sob certas circunstâncias, possam se tornar perigosos para animais e pessoas. Certamente, é muito provável que esta seja uma espécie próxima da que foi descrita por Marcgraf; o fato de a ilustração se ela realmente representa esta espécie e não o Pirayæ alias species dele mostrar o peixe demasiadamente alongado não pode entrar em consideração, pois a descrição refere-se expressamente à altura como sendo a metade do comprimento, o que comprovamos ser completamente correto quando a nadadeira caudal é incluída no comprimento total. Pelo que foi esclarecido acima, não restam muitas dúvidas de que Cuvier teve precisamente esta espécie em suas mãos, ainda que se possa objetar tanto contra a descrição e a ilustração como contra suas afirmações de que ela seja relativamente menos alta que Serrasalmo rhombeus (já que o caso é justamente o contrário), que o ponto mais alto do corpo seja logo acima da abertura das guelras, e que a altura (6 1 /2 polegadas) seja muito menor que a metade do comprimento total (17 polegadas), isto é, que a forma do corpo seja relativamente muito alongada; aqui é preciso considerar que Cuvier teve somente um exemplar empalhado em suas mãos, o qual, no processo de preparação, ficou completamente deformado. A descrição da nadadeira dorsal como sendo mais alta na parte de trás talvez seja uma imprecisão, que também se deve ao estado de preservação do peixe, e o fato de Cuvier (assim como Kner mais tarde) ter considerado o espinho horizontal à frente da nadadeira dorsal como sendo apenas um simple tubercule mousse (NT: um simples tubérculo rombudo(?)) parcialmente enfiado na carne também não é muito importante, pois, quando ele é exposto, revela a forma usual de espinho. Valenciennes não faz qualquer menção se estas conjecturas faltam na descrição de Cuvier, mas como sua descrição na realidade somente leva em consideração as diferenças entre esta e Pygocentrus niger, ela não é muito informativa para aquele que não tem a oportunidade de fazer tal comparação. É bastante duvidoso que Castelnau tenha obtido a espécie de piraya que vive no São Francisco e seus afluentes, em Goiás, Araguaia e Rio Amazonas; em sua ilustração (prancha 38, fig. 2) a relação entre comprimento e altura é bem correta, mas não o aspecto da cabeça; a forte depressão acima do olho é desconhecida nesta espécie. A ilustração de Spix, que foi feita de um exemplar empalhado de 15 polegadas de comprimento, mostra um peixe alongado em demasia, mas expressa bem suas características em vários pontos, e na descrição de Agassiz não encontro nada que fale contra a identificação; a contagem dos raios da nadadeira dorsal ter sido dada como naturalmente se deve a um erro de escrita ou um engano; declara-se, além disso, que o exemplar veio do Rio São Francisco. Os exemplares de Kner, de mesmo tamanho, foram trazidos por Natterer, mas infelizmente sem menção à localidade; o fato de ele não ter 127

128 contado todos os pequenos raios de suporte da nadadeira caudal é de menos importância. Como o diagnóstico de Günther também se ajusta a S. piraya que ocorre no Rio das Velhas, embora seus exemplares sejam de outros lugares (Rio Cupai, Demerara), é mister considerar temporariamente que esta espécie possui uma distribuição mais ampla na América do Sul do que se poderia esperar das espécies de peixe da bacia do São Francisco. Não acredito, entretanto, que ela coincida com Serrasalmo nigricans Spix (loc. cit. prancha 30), que penso ter reconhecido em um exemplar de Pernambuco, que existe no Museu. 19. Serrasalmo (sensu strictu) Brandtii 168 Rhdt. Tendo em conta as curtas diagnoses que Günther fornece para as 7 espécies de Serrasalmo, no Catalogue of fishes (tomo V, pp ), dificilmente poder-se-ão evitar as dúvidas acerca da validade das espécies ali reconhecidas, pois são insignificantes as diferenças que demarcam os limites entre elas. Assim, o número de raios da nadadeira dorsal dentro do gênero varia ali somente entre 15 e 18, os da nadadeira anal, por outro lado, na mesma espécie variam de 32 a 36 e os da ventral (também na mesma espécie) entre 6 7; as fileiras de escamas somente entre 95 e 100; os espinhos do ventre entre 26 e 35. As proporções do corpo também não são muito diferentes, com uma ou duas exceções, restando, portanto, somente alguns poucos caracteres o segundo suborbital ser ou não mais largo que alto e separado do pré-opérculo por uma área de pele mais ou menos larga sobre cuja validade não é possível 168 Denominado em homenagem ao fiel colaborador do Dr. P. W. Lund, o norueguês P. A. Brandt, com quem morava em Lagoa Santa. 128

129 ter-se uma opinião bem fundada de antemão. Nessas condições, dificilmente é possível dar uma prova rigorosa de que uma espécie de Serrasalmo é realmente nova, quando ocorre em uma região da qual até agora não se conhecia nenhuma outra e quando ela não pode ser diagnosticada com mais certeza que alguma das anteriormente descritas; e aqui tenho de deixar indefinida apesar de certamente ser pouco provável, a questão se a espécie S. aureus, remetida por St. Hilaire ao Museu de Paris ( Hist. nat. des poissons, tomo XXII, p. 283), poderia ser a que descrevo com o que, entretanto, não ficaria absolutamente claro se ela seria também a espécie que Spix e Agassiz denominaram, que é da bacia do Rio Amazonas 169. Da piranha-da-lagoa, que vive na Lagoa Santa, existe uma meia dúzia de exemplares de 6 9 polegadas de comprimento. Na maioria destes, a maior altura do corpo é a metade ou algo menor que a metade do comprimento total (este calculado do mento ou ponta da maxila inferior, com a boca fechada, até onde a cobertura de escamas termina, no meio da porção lateral da nadadeira caudal); somente em dois exemplares a altura é um pouco maior que a metade do comprimento total, e, em um destes, que, além de ser relativamente o mais alto, é o maior dos 10 exemplares disponíveis, a altura é precisamente igual à metade do comprimento total quando medido até a borda posterior da nadadeira caudal. Apesar de esta relação entre altura e comprimento parecer variar muito durante a vida do peixe, como se verá mais adiante na descrição dos indivíduos muito jovens, pode-se no geral dizer que depois de certo tamanho (por exemplo 6 polegadas), S. Brandtii tende a ficar mais alto com a idade, e a diferença nesse aspecto é muito perceptível quando se compara o maior dos espécimens aqui tratados (9 polegadas de comprimento) com o menor (6 polegadas de comprimento). O comprimento da cabeça (calculado da ponta do focinho até a borda de trás do opérculo) é contido 3 1 /3 (3,3 ou 3,4) vezes no comprimento total (este medido como acima, até a raiz da nadadeira caudal). Também a forma do corpo mostra alguma variação, tanto que o perfil dorsal em alguns, principalmente nos mais jovens, aproxima-se fortemente da linha horizontal e segue daí em curva pronunciada e para frente com uma insignificante depressão acima dos olhos caindo em direção à ponta do focinho, ao passo que, em outros, essa depressão acima do olho é mais profunda e o dorso forma um arco mais suave; o perfil do ventre, ao contrário, é em todos um arco suave, da nadadeira anal até o queixo. A maxila inferior avança, como em outros Serrasalmo, bastante à frente da parte superior da boca, e o olho situa-se relativamente mais alto nos exemplares mais jovens que nos mais velhos; nos maiores, seu diâmetro é contido aproximadamente 4 1 /2 vezes no comprimento da cabeça (da ponta do focinho até a borda de trás do opérculo), mas, nos mais jovens, é mais que um quarto desta; pode-se dizer ainda que ele é igual ao comprimento do focinho (até a órbita ocular) e maior que a metade da distância entre os olhos (medida em linha reta) nos mais jovens é até três quartos desta, 169 O exemplar de Spix no Museu de Munique tinha somente 7 de comprimento, ou seja, era bastante pequeno, talvez um filhote; mesmo assim o artigo de Valenciennes sobre Le Serrasalme doré (Serrasalmo aureus Spix) começa com as palavras: a Amazônia possui uma grande espécie de S. que Spix tornou conhecida. Spix também não afirma que se origina do Rio Amazonas, mas fala algo mais indefinido nos rios e lagos equatoriais brasileiros. As palavras de Valenciennes levam mais a crer que seus exemplares (dos quais o maior tinha 13 polegadas de comprimento), trazidos por Castelnau, St. Hilaire e outros, eram todos do Rio Amazonas, o que Castelnau também menciona em seu trabalho da viagem; mas com respeito aos exemplares de St. Hilaire, este não pode, de qualquer modo, ser o caso, e como os demais peixes deste viajante em geral são do Rio São Francisco, fica fácil supor o mesmo do seu provável S. aureus. Se as palavras de Valenciennes no alto da p. 284 forem compreendidas desse modo, que a nadadeira adiposa nos S. aureus é completamente coberta com escamas, esta não poderia ser a espécie sob consideração. 129

130 e nos muito pequenos somente muito pouco menor que esta. As narinas situam-se acima do meio das órbitas, mas abaixo de sua borda superior. Dos ossos suborbitais, densamente estriados, assim como o alto e estreito opérculo, o segundo é sempre mais longo (medido entre os dois cantos de baixo) que alto (na direção vertical) e separado da parte horizontal do pré-opérculo por uma área de pele, que às vezes é tão estreita que se tem de reconhecer que esses ossos se tocam no mínimo em algum ponto. Em cada intermaxilar, S. Brantdii (assim como S. piraya e tanto quanto conheço todos os Serrasalmo) possui 6 dentes e em cada lado da maxila inferior 7; destes últimos mencionados, o da frente é o mais alto, o posterior o mais baixo; o da frente tem uma cúspide aguda de cada lado, os demais uma cúspide somente em sua borda posterior ou do lado exterior. Os dentes do intermaxilar, do mesmo modo, possuem uma cúspide lateral somente na parte posterior, e os dois ou três últimos, que aumentam fortemente em largura e diminuem em altura, podem mostrar, mais ou menos nitidamente, traços de serem bipartidos. O primeiro e, principalmente, o terceiro dente do intermaxilar são significativamente menores que seus vizinhos mais próximos, o último (de trás) é 3 vezes mais longo (largo) que alto, o segundo (a partir da frente), ao contrário, é um pouco mais alto que largo no nível de sua raiz. Encontram-se 5 7 dentes palatinos em cada série, os quais não faltam em nenhum dos exemplares disponíveis. A borda posterior da nadadeira caudal, quando distendida, é quase truncada reta; a nadadeira dorsal é bastante alta e curta; seu comprimento é menor que sua altura na frente (paralelamente aos raios), entretanto maior que a metade do comprimento da cabeça e aproximadamente um terço da altura do corpo nos exemplares mais baixos. Sua altura na parte de trás é a metade ou dois terços da sua altura na parte da frente, e seu início situa-se mais próximo do olho que da raiz da nadadeira caudal somente nos menores dos maiores exemplares aqui tratados ao contrário, nos exemplares mais jovens parece que esta relação é bastante variável nos demais, mais próximo da última. A nadadeira adiposa (medida paralelamente à sua borda frontal) é tão alta quanto larga (longa) ou mais alta que larga, e sua metade basal é coberta de escamas; seu comprimento (na base) não chega a ser igual à metade de sua distância até a nadadeira dorsal, mas é acima de um terço dela; por outro lado, sua distância da raiz da nadadeira caudal não chega a metade de sua altura (medida como acima). O comprimento da nadadeira anal junto à sua base é igual ao comprimento da cabeça (da ponta do focinho até a abertura branquial), sua borda é regular e corre quase paralelamente à borda de escamas da sua base, elevando-se um pouco somente à frente, de modo que sua altura aí se torna mais que o dobro de sua altura na parte de trás. As nadadeiras ventrais, que estão mais ou menos distantes da nadadeira dorsal, mas sempre completamente à sua frente, alcançam com suas pontas somente até a metade da distância até a nadadeira anal, ao passo que as pontas das nadadeiras peitorais caem um pouco além da raiz das nadadeiras ventrais. O número de raios das nadadeiras, contados em 10 exemplares é o seguinte: D.: ( ); P.: 13 16; V.: 6 7; A.: ( ); C.: existe, como em outras espécies do subgênero, uma grande variação, mais especificamente no número de raios da nadadeira anal. O número comum de raios na nadadeira dorsal é 2 não divididos e 13 ou 14 divididos, porém, frequentemente, também se poderia contá-los como 14 ou 15, se se desejasse contar o último raio, meio frágil, como um raio independente e não simplesmente como uma parte do último; uma única vez encontrei 3 raios não divididos, em vez de 2. A nadadeira anal tem, em geral, 3 raios não divididos (um único exemplar tinha somente 1!) e raios divididos, mais frequentemente O número de dentes na serrilha ventral varia de 30 a 35, além dos 2 ou 3 que se localizam de cada um dos lados do ânus; os da frente 130

131 são muito pouco visíveis, os de trás possuem a forma de um pente de osso de dentes baixos e afiados. À frente da nadadeira dorsal existe um espinho ósseo horizontal, escondido sob a pele. A linha lateral é quase reta, um pouco levantada somente à frente; ela é formada de um canal simples raramente bifurcado e somente nos exemplares muito grandes em cada escama, das quais se contam cerca de 90 ao longo desta linha, acima dela, na parte anterior do corpo, perpendiculamente, contam-se cerca de 30 e, abaixo dela, cerca de 25. Uma larga área de pele, ao longo do perfil dorsal da cabeça até a nadadeira dorsal, não possui escamas. Exemplares de 6 polegadas de comprimento ou acima disso, além do dorso mais escuro (como nos jovens), não mostram outro traço de desenho. Nos exemplares mais jovens (de 4 3 /4 3 1 /2 polegadas de comprimento) a altura é, às vezes, um pouco mais da metade do comprimento total (até a raiz da nadadeira caudal), mas nos ainda mais jovens (de 3 1 /2 2 3 /4 ) a altura é também, frequentemente, igual ou muito pouco menor que a metade do comprimento total; o perfil dorsal é inclinado ou curvo, com uma queda mais ou menos acentuada e uma depressão mais ou menos nítida acima do olho. A área de pele entre o segundo suborbital e o pré-opérculo é especialmente larga nos menores desses exemplares jovens. Não fui capaz de encontrar qualquer diferença nos dentes de acordo com a idade, a não ser que nos jovens o segundo dente do intermaxilar talvez possua uma cúspide lateral mais nítida do lado interno da cúspide principal do que nos adultos. Nos indivíduos muito jovens, a nadadeira caudal é, às vezes, mais profundamente entalhada. Todos esses exemplares mais jovens possuem ao contrário dos adultos um padrão muito nítido, constituído de pequenas manchas negras redondas por todo o corpo, tanto no dorso mais escuro como sobre o resto do corpo mais claro 170. As nadadeiras caudal, adiposa, dorsal e anal possuem a faixa escura na sua borda livre, e existe uma sombra escura em forma de meia-lua sobre a raiz da nadadeira caudal e suas bordas superior e inferior. Os brasileiros chamam esses indivíduos jovens de pirampeba, embora saibam que se trata apenas de filhotes da piranha. Diz-se que S. Brandtii é encontrada somente no lago, não no Rio das Velhas, onde é substituída pela S. piraya; entretanto, Reinhardt certa vez obteve 2 exemplares em um riacho que não tem qualquer ligação com o lago, mas somente com o rio. 20. Myletes (Tometes) micans Rhdt. Do Rio das Velhas e seu afluente Rio Taquaruçu, que deságua no primeiro um pouco ao norte de Lagoa Santa, Reinhardt trouxe dois exemplares de um Myletes com cerca de 13 polegadas de comprimento, os quais, ainda que pareçam pertencer a uma espécie da mesma subdivisão deste gênero, M. (Tometes) altipinnis Val., da qual St. Hilaire trouxe um exemplar de 15 polegadas do São Francisco e Cumberland enviou uma pele de 20 polegadas de comprimento do Rio Cipó, devem, porém, pertencer a uma espécie diferente daquela. A primeira dificuldade que se encontra na determinação das espécies de Myletes é a questão não resolvida sobre as diferenças, com relação aos dentes, encontradas dentro deste gênero, ou seja, se elas expressam uma diferença de espécie ou de sexo. Ainda que o material de outras espécies de Myletes que pude utilizar não fosse grande nem muito adequado 13 exemplares de 6 espécies, certamente todos jovens vou adiantar uma revisão sobre as 170 Este desenho falta, porém, em um exemplar alevino (10 de comprimento). Quero ainda salientar que este pequeno exemplar é, relativamente, o mais alongado de todos, uma vez que a relação da altura com o comprimento é 1:2 1 /4. 131

132 diferenças que encontrei nesse aspecto nestas formas de Myletes. O número de dentes é em essência sempre o mesmo: 5 na fileira externa e 2 na fileira interna em cada intermaxilar; 4 7 na fileira externa e 1 na fileira interna em cada lado da maxila inferior. Mas em algumas formas os dentes internos da maxila inferior são altos e pontudos, de modo que ultrapassam os da fileira externa e os dois dentes medianos da fila da frente da maxila superior são separados por um espaço, assim como existe um espaço perceptível entre as duas fileiras de dentes do intermaxilar, ainda que os internos tenham suas raízes bem próximas dos externos. Esta característica corresponde àquela que Müller e Troschel retrataram em Horæ ichthyologicæ (M. asterias, prancha X, fig. 2a), e que eu reencontrei nos exemplares de Myletes asterias e hypsauchen, bem como em um M. ellipticus, originários do Museu de Berlim. Ao contrário, em outras formas (por exemplo Myletes discoideus Kn.) não encontro qualquer espaço no meio entre os dentes mais da frente do intermaxilar, os internos destes ficam perto dos externos, e os dentes internos da maxila inferior são muito baixos, podendo somente ser considerados rudimentares; levando em conta tudo isso, os dentes nestas formas que claramente correspondem ao gênero Tometes de Valenciennes e Myleus de Müller e Troschel ( Horæ ichthyoligicæ prancha XI, fig. 1a: Myleus setiger), considerando, como o fez Kner, que os últimos autores mencionados (e Valenciennes em parte) ignoraram (o que por si ó é altamente desculpável) os pequenos dentes internos da maxila inferior em vez de serem mais comprimidos e cortantes, como nos primeiros mencionados e que seriam os verdadeiros Myletes, são mais grossos e mais parecidos com os dos primatas, mais adequados para esmagar. Apoiado em sua investigação sobre Myletes setiger, Kner considerou, na época, que esta diferença era uma diferença sexual, de forma que as fêmeas possuíam o primeiro tipo de dentição que descrevi e os machos o último (de acordo com as figuras de dentes de ambos os sexos em M. setiger, no trabalho de Kner sobre os Characini, loc. cit., prancha I, figs. 6a e 6b, junto com a revisão mais detalhada nas páginas 28 e 29). Apesar de ser difícil explicar por que o macho e a fêmea deveriam ter os tipos de dentição diferentes, devo reconhecer que tenho dois casos, que mais confirmam a opinião de Kner; um é que o Museu possui um exemplar adquirido do Museu de Berlim de Myletes Schomburgkii M. Tr. com o tipo de dentes mencionado por último, ainda que se pudesse supor, pela descrição original, que se tratasse do primeiro tipo mencionado; o outro é que, dos 5 exemplares mais jovens, aparentemente todos de uma única e mesma espécie (que eu considero ser M. rubripinnis), 4 possuem o último tipo de dentes descrito e 1 o primeiro. Mas, por outro lado, não se trata de uma hipótese que corresponda à espécie que vive no Rio das Velhas; ambos os exemplares disponíveis dessa espécie são fêmeas, entretanto elas possuem o tipo de dentes que, de acordo com Kner, deveria caracterizar os machos. Não preciso enfatizar o quão desejável seria obter o maior número possível de dados sobre Myletes com respeito a esta característica; mas não se pode ignorar que, mesmo que alguma diferença sexual apareça em certas espécies, não é obrigatório que apareça em todas as espécies ou vice-versa, porque, mesmo que se possa provar que não existe tal diferença nesta ou naquela espécie, isto não quer dizer que ela não possa existir em outras Günther não se pronuncia diretamente sobre a questão levantada, mas divide o gênero Myletes em dois grupos, um correspondente a Myletes M. Tr., com um intervalo entre as duas fileiras de dentes do intermaxilar, o outro correspondente a Myletes M. Tr. [e Tometes Val.], sem o tal intervalo. Pode-se com isso concluir que ele não encontrou confirmação para a diferença entre sexos. Quero, ainda, salientar que M. macropomus é descrito por Valenciennes como possuindo 7 (6) dentes na fileira interna da maxila inferior; Kner encontrou 132

133 As proporções do corpo em M. micans são as seguintes: a maior altura é contida um pouco mais de uma vez e meia no comprimento total, calculado até o ponto onde a cobertura de escamas termina, perto da raiz da nadadeira caudal; a relação é de, aproximadamente, 1:1,6, um pouco acima ou abaixo disso. O comprimento da cabeça (a estreita membrana do opérculo incluída) é contido 4 vezes e meia no comprimento total mencionado, mas menos de três vezes na maior altura, que se situa numa linha que vai do início da nadadeira dorsal até as nadadeiras ventrais e pela qual o peixe seria dividido em duas partes quase iguais, ou, em outras palavras: esta linha situa-se aproximadamente a igual distância da ponta do focinho e da raiz da nadadeira caudal. O olho situa-se quase no meio da superfície lateral da cabeça, e a igual distância da ponta do focinho e da borda posterior do opérculo; seu diâmetro é um quarto do comprimento da cabeça e a metade da distância existente entre eles (em linha reta através da testa muito curva). As narinas, que se separam por uma grande aba de pele, situam-se a meio caminho entre o olho e a ponta do focinho. A largura do opérculo verdadeiro (Operculare) é um quarto de sua altura. O número de dentes da parte de cima da boca é, como de costume, 5 na fileira exterior e 2 na interior de cada lado; na porção inferior da boca, 6 de cada lado além de 2 pequenos na fileira interna; estes, em um dos exemplares, são muito baixos, no outro, da altura dos dentes da primeira fileira, os quais diminuem em largura e principalmente em tamanho daquele situado na frente para o último da fileira que é muito somente 2 como nos outros Myletes e considera que os demais caíram por acaso ou devido à idade. Depois que examinei alguns jovens de Myletes e também encontrei somente 2, não posso senão pensar que esta suposição é muito temerária e estaria mais inclinado a acreditar que Myletes macropomus Val. pertence a um gênero diferente daquele que Kner examinou. 133

134 pequeno; com exceção deste e de seu vizinho, cada um possui uma pequena cúspide mais baixa em seu lado externo, ao passo que o da frente é tricuspidado e sua cúspide lateral interna muito grande. Os dentes da fileira exterior (da frente) do intermaxilar são fortemente comprimidos; eles aumentam de largura em direção ao osso maxilar e os dois últimos de cada lado possuem uma cúspide lateral muito evidente; entre os dois da frente (os do meio da maxila) existe o que normalmente não é comum nos Myletes que possuem em geral os mesmos tipos de dentes um espaço muito grande e um menor entre o primeiro e o segundo. Os da segunda fileira são largos (de lado a lado), comprimidos, com superfície de mastigação plana e estão situados perto daqueles da fileira exterior, formando um V duplo ( ) atrás deles. O perfil superior do corpo descreve um arco do início da nadadeira dorsal até o crânio, onde este se deprime um pouco acima do olho; o perfil ventral descreve um arco muito mais aberto do istmo até as nadadeiras ventrais, e continua daí, como uma linha um pouco inclinada, até o início da nadadeira anal, de modo que esse ponto fica um pouco mais baixo que a base das ventrais. A distância do início da nadadeira dorsal até o início da caudal é, em um dos exemplares, igual à distância do primeiro até a metade da depressão da testa acima do olho no outro, é igual à distância da nadadeira dorsal até as narinas; por outro lado, a distância da raiz das nadadeiras ventrais até o início da caudal é, em ambos os exemplares, maior que a distância da primeira até a ponta do focinho. As nadadeiras ventrais situam-se abaixo, ou um pouco à frente, da parte mais anterior da nadadeira dorsal. O comprimento dessa nadadeira é igual ou um pouco mais curto que o da nadadeira anal, que, por sua vez, é igual ou um pouco menor que a metade da maior altura do corpo; sua altura à frente é, também, mais ou menos a mesma que a da anal e igual ou um pouco maior que o comprimento da cabeça; mas deste ponto mais alto, a borda da nadadeira dorsal abate-se progressivamente até o último raio, cujo comprimento é cerca de um terço do maior deles (o quinto), ao passo que os últimos raios da nadadeira anal (ou seja, aqueles da parte livre da cobertura de escamas) são somente a metade do comprimento do último raio da nadadeira dorsal; em um dos exemplares a borda da nadadeira anal é levemente arqueada. As nadadeiras peitorais são mais curtas que a cabeça, o comprimento das nadadeiras ventrais é a metade ou dois terços desta. A nadadeira caudal é profundamente bifurcada. O tamanho da nadadeira adiposa (em sua base) é menor que sua altura (paralelamente à direção que os raios teriam, se fossem desenvolvidos) e que a metade de sua distância até a nadadeira dorsal. O número de raios é: D.: ( ) (o mais anterior muito baixo); P.; 16; V.: 8; A.: ( ); C.: A linha mediana dorsal da ponta da nuca até o espinho horizontal na base da nadadeira dorsal é uma faixa estreita nua (livre de escamas); ao longo da base da nadadeira dorsal forma-se uma margem, com limites um pouco sinuosos, de pequenas escamas. A linha lateral é quase reta, ou apenas leve e irregularmente sinuosa, embora se eleve um pouco à frente, acima das nadadeiras peitorais; na maioria de suas escamas vê-se um canal dividido em 2 4 ramos. Ao longo dessa linha, contam-se de 100 a 115 escamas uma contagem precisa não é possível e nem todas essas escamas possuem o canal mencionado, cerca de 35 na parte anterior do corpo, entre a linha lateral e a linha dorsal, e até a linha ventral serrilhada, que conta com espinhos, além de 6 de cada lado do profundo orifício da cloaca, em forma de fenda, onde o ânus e a papila genital se localizam. As cores (de um peixe não totalmente fresco) são descritas por Reinhardt do seguinte modo: O dorso é azul-esverdeado, toda a parte superior do corpo (à exceção das nadadeiras) prateada (talvez o peixe vivo, coberto de muco, possua um fraco reflexo dourado), embora o brilho prateado fique mais pálido e esbranquiçado em direção ao ventre; a superfície superior da cabeça é da cor do dorso, o 134

135 restante de brilho prateado; a íris é prateada; a nadadeira dorsal é cinza na base e na maior parte de sua extensão, mas em cima, em direção à borda, espalha-se um vermelho muito vivo que forma uma moldura de cerca de 8 mm de largura. A nadadeira adiposa é marromamarelada com borda escura, a nadadeira caudal acinzentada na raiz e na maior parte de sua extensão, mas com uma moldura vermelha, que é mais estreita (5 6 mm) em seu entalhe mediano, que fica um pouco mais larga em direção à ponta de seus lobos; a nadadeira anal é vermelho-sangue vivo, as nadadeiras ventrais brancas, e as peitorais branco-amareladas. A barriga, em todos os exemplares examinados por Reinhardt, estava cheia com restos de plantas. Esses exemplares lhe foram trazidos sob o nome de pacamão. Não passaria despercebido ao leitor o fato de os dentes, com suas abas muito características, lembrarem um pouco os do gênero Mylesinus; mas como encontrei também nítidos traços nesse sentido em outros Myletes (especialmente naqueles que mais possuem o aspecto de Tometes), estou mais inclinado a acreditar que, até agora, não se prestou atenção a essa característica e, além do mais, não encontrei motivo suficiente para considerar esta espécie como um gênero ou subgênero à parte, principalmente porque não pude contar com outros Myletes ou Tometes adultos na coleção. Também chamará a atenção que, ao propor a presente forma como uma nova espécie, surge a circunstância um tanto surpreendente de que no Rio Cipó e no Rio São Francisco ocorra uma espécie (Myletes altipinnis Val.) que se sabe não ocorrer no Rio das Velhas, que liga aqueles dois rios entre si e, por outro lado, que a espécie Myletes (M. micans n.) seja desconhecida em ambos aqueles rios. Aparece, novamente, a questão se M. micans Rhdt. e M. altipinnis Val. não poderiam ser fundidas. Comparando-se M. micans com as duas descrições e a ilustração mencionada de M. altipinnis, essa hipótese é imediatamente rejeitada, pois a forma da espécie de Valenciennes é muito mais alongada, a altura sendo dois quintos do comprimento total (calculado até o meio da borda um pouco entalhada da nadadeira caudal); esta proporção não concorda bem com o dado de Günther, segundo o qual a altura é a metade do comprimento total (até a nadadeira caudal), e ainda menos com M. micans, no qual a relação entre altura e comprimento (até o início da nadadeira caudal) é de 2:3. O comprimento da cabeça, referido como um pouco menor em M. altipinnis, está em bom acordo com esta diferença. Os dados referentes aos números de raios das nadadeiras e de dentes na serrilha do ventre talvez não fossem impedimento para tal identificação; mas o mais decisivo é que os raios de trás da nadadeira dorsal sejam dados como medindo dois terços do tamanho dos da frente (Val.) (de acordo com a ilustração eles são na realidade bem mais longos que aqueles), ou um pouco mais longos que os intermediários (Gthr.); também a nadadeira anal parece ter uma outra forma e, especialmente, ser muito mais alta na frente que em M. micans. Entretanto, há que se considerar que a descrição e a ilustração de Valenciennes foram feitas com base em um exemplar seco ( empalhado?) e as de Günther, do mesmo modo, em um exemplar empalhado, e considerar também que já tive em outras oportunidades a necessidade de ignorar diferenças em condições semelhantes, como por exemplo em Serrasalmo piraya Cuv. Mas a descrição desta última era anos mais antiga, e me parece inadmissível deixar de lado discrepâncias como as indicadas, quando sua existência é sustentada pelas descrições de dois autores que concordam entre si em quase tudo. 135

136 III. Sarapós (Gymnotini) Marcgraf já menciona um sarapó do Rio São Francisco; das poucas palavras que ele diz sobre o peixe, pode-se bem ver que se trata de uma espécie de Sternopygus, mas, naturalmente, não digo que seja a mesma que Reinhardt encontrou no Rio das Velhas, o que, porém, ouso considerar muito provável. Os quatro Gymnotini que Reinhardt trouxe do Rio das Velhas e da Lagoa Santa, dos quais ele descreveu como novos, devem ser listados sob os seguintes nomes: 1. Carapus fasciatus Pall. Nome brasileiro: sarapó Na Lagoa Santa e no riacho Quebra em tempo de chuva (e também na região do Rio de Janeiro). Na Lagoa Santa, não no rio. No Rio das Velhas. No Rio das Velhas. 2. Sternopygus virescens Val. Sinônimo: St. microstomus Rhdt. loc. cit. p Nome brasileiro: peixe-espada-da-lagoa 3. Sternopygus carapo (Lin.) Sinônimo: St. Marcgravii Rhdt. loc. cit. p Nome brasileiro: peixe-espada-do-rio 4. Sternarchus brasiliensis Rhdt. (loc. cit. p. 148.) Nome brasileiro: peixe-espada-com-boca-rachada Troschel já mencionou no Archiv f. Naturgeschichte, quando adotou uma tradução da tese de Reinhardt Sobre a bexiga natatória nos Gymnotini, que Sternopygus Marcgravii provavelmente é sinônimo de St. macrurus (Schn.) (carapo L.) e St. microstomus de St. lineatus M. T. ( St. virecens Val.). Kaup 173 uniu, do mesmo modo, St. Marcgravii com St. macrurus e St. microstomus com St. virecens, mas sugeriu, ainda, que Sternarchus brasiliensis talvez fosse somente uma variedade de St. albifrons; e Steindachner 174 deu ainda um 172 Sobre a bexiga natatória na família Gymnotini. (Videnskab. Meddel fra den naturhist. Forening, 1852, pp ; Archiv für Naturgeschichte, XXer Jahrg., vol. 1 (1854), pp Kaup: Catalogue of Apodal Fishes in the British Museum, 1856, pp Die Gymnotidæ des k. k. Hof-Naturaliencabinetes zu Wien, (Sitzungsberichte der k. k. Akad. d. Wissensch. Wien. vol. LVIII; 1868). 136

137 passo além e reduziu todas as 3 espécies de Reinhardt, uma vez que ele, sem qualquer formalidade, identificou Sternarchus brasiliensis como St. albifrons L. Este erro foi corrigido por Günther 175, que, ao contrário, está de acordo com seus antecessores com relação a Sternopygus Marcgravii e microstomus, e como ele teve oportunidade de examinar exemplares tipos destes e compará-los com os exemplares do Museu de Londres, oriundos de outros lugares, sua opinião nesta questão tem um grande peso. Além dos exemplares trazidos por Reinhardt, tive oportunidade de examinar outros de Carapus fasciatus, Sternopygus virescens e St. carapo, mas todos mal conservados, sem indicação segura de localidade de origem (embora quase certamente não de Minas e mais provavelmente do Suriname), mas não me considero em posição de proferir nenhum outro julgamento nesta questão, além do que não encontrei evidências para rejeitar a opinião de Günther. Fica salientada a estranha situação que Sternarchus brasiliensis é o único Gymnotini do vale do Rio das Velhas que não é conhecido fora deste; quanto aos outros, Sternopygus carapo é conhecido da Guiana e do norte brasileiro, St. virescens também do Rio Paraná, Carapus fasciatus ocorre do Rio de Janeiro até algumas das Antilhas (Trinidad, Grenada) e América Central (Rio Motagoa). IV. Corvinas (Sciænoidei) Reinhardt já havia anteriormente 176 esclarecido que dois Sciænoidei ocorrem no Rio das Velhas: Pachyurus corvina Rhdt. e P. Lundii Rhdt., ambos, tanto quanto se possa julgar, não descritos anteriormente; e além do Pachyurus Francisci (Cuv.), ocorre provavelmente ainda uma quarta espécie, P. squamipennis (Cuv.), no Rio São Francisco. P. corvina (Rhdt.) já foi descrita detalhadamente há muito tempo; sobre P. Lundii foi, de fato, comunicada somente uma diagnose, entretanto penso poder me limitar a relatar os pontos importantes nos quais estas espécies concordam entre si e onde não é tão evidente que elas pertençam ao mesmo gênero tal como, por exemplo, a dupla cobertura de escamas descrita por Reinhardt, juntamente com aqueles em que elas discrepam entre si e de outras espécies do gênero. No que toca às concordâncias entre estas duas espécies, mencionarei em primeiro lugar que nossos exemplares são aproximadamente do mesmo tamanho; nosso maior exemplar de P. Lundii tem 15 1 /2 polegadas de comprimento, o maior P. corvina somente 1 polegada a menos. A última espécie mencionada atinge um tamanho significativamente maior; ela fica, de acordo com dados do Prof. Reinhardt, aproximadamente com um pé e meio de tamanho. Em seguida, que há uma grande concordância nas proporções gerais; a maior altura do corpo é contida em P. Lundii quatro vezes e meia no comprimento total (calculado até a ponta da nadadeira caudal em forma de losango); nos exemplares jovens de P. corvina, do mesmo modo, a altura é contida mais de quatro vezes no comprimento total (4 1 /3 ou 4 1 /2) e no nosso 175 Catal. VIII (1870). 176 Videnskabelige Meddelelser fra den naturhistoriske Forening 1849, pp e 1854, pp

138 maior exemplar, por outro lado, não chega a quatro vezes. Dessa forma, em geral, a altura é um pouco maior em P. corvina que em P. Lundii. O tamanho da cabeça (medido da ponta do focinho até a ponta do opérculo) em P. Lundii é um pouco maior (6 9 mm) que a maior altura do corpo e não chega a um quarto do comprimento total; em jovens de P. corvina ela é, do mesmo modo, menor que um quarto do comprimento total, nos mais velhos, porém, algo acima de um quarto deste, mas, em ambos os casos, igual ou somente uma insignificância (1 2 mm) maior ou menor que a maior altura do corpo. Nos exemplares adultos, o diâmetro do olho é aproximadamente um sexto do tamanho da cabeça, nos jovens, por outro lado, está entre um quarto e um quinto deste. A cobertura de escamas prolonga-se em ambas as espécies pela segunda nadadeira dorsal e pela nadadeira caudal, mas deixa uma estreita margem livre em ambas; nas nadadeiras ventrais a cobertura avança um pouco ao longo dos raios das nadadeiras, e na nadadeira anal e primeira nadadeira dorsal podem, em ambos os casos, aparecer algumas poucas escamas entre os raios das nadadeiras, mais próximo de suas raízes. O número de raios é também aproximadamente o mesmo, mais especificamente: P. Lundii : D 1 : 10; D 2 : ; P: ; V: 1. 5; A: 2. 8; C: P. corvina : D 1 : 10; D 2 : ; P: ; V: 1. 5; A: ; C: Tanto quanto se pode julgar dos não muito numerosos exemplares disponíveis (2 de uma espécie e 3 da outra), aparece uma pequena diferença no número de raios bifurcados da segunda nadadeira dorsal. O segundo raio duro da nadadeira anal é em P. Lundii mais longo que a metade da cabeça; em P. corvina isto ocorre somente no menor dos três exemplares disponíveis, nos outros ele é ou a metade do comprimento da cabeça ou (no maior deles) não chega à metade deste. Finalmente, pode-se ainda acrescentar que a nadadeira caudal possui a mesma forma de losango inclinado, arredondado no canto de baixo em ambos, e que os 5 poros na parte de baixo da maxila inferior (mento) é, igualmente para ambos, uma característica distintiva. Deve-se ainda adicionar que uma brânquia dupla ou uma brânquia do opérculo está presente, pois este, até agora, somente foi mencionado em P. Schomburgkii e P. corvina. (Com relação à bexiga natatória e ao intestino, ver descrição de Reinhardt de P. corvina na obra mencionada em primeiro lugar.) O desenho é, em tudo, igual em ambos, pois ambas as nadadeiras dorsais em ambas as espécies são adornadas com pequenas manchas escuras, e linhas transversais escuras correm da linha mediana dorsal para baixo em direção à linha lateral, paralelamente à direção das séries de escamas; e em ambos podem-se encontrar ainda, ao longo dos lados do corpo, algumas manchas escuras pouco nítidas, que possuem uma direção vertical ou um pouco inclinada tanto de cima para baixo como da frente para baixo Aqui é de se notar que o último raio completamente dividido das nadadeiras anal e dorsal sempre é contado como 2, e também que eu não incluí os curtos raios de sustentação da nadadeira caudal, cujo número não podia constatar sem danificar demais os exemplares, e cuja variação em número seria, além disso, destituída de significado. O dado mais importante é que o número de raios bifurcados da nadadeira caudal em ambas as formas é o mesmo. 178 A cor de P. Lundii fresco é descrita por Reinhardt do seguinte modo: ele é, ao longo do dorso, cinzaprateado claro e na parte superior do corpo branco-prateado puro; do alto do dorso estendem-se algumas faixas acinzentadas, quase imperceptíveis, até um pouco abaixo nos lados em direção inclinada. Os raios da primeira nadadeira dorsal têm brilho prateado, a pele entre eles é acinzentada com um salpicado ou pequenas manchas irregulares; na segunda nadadeira dorsal, ao contrário, os próprios raios são manchados de preto e a nadadeira possui, além disso, uma borda preta em cima. A nadadeira caudal é amarela com borda negra, a nadadeira anal e as nadadeiras pares são branco-amareladas. A córnea é de cor prateada, aqui e ali jogando com um reflexo dourado. Sobre P. corvina: o peixe fresco possui um brilho prateado, que no alto do dorso assume um 138

139 As diferenças mais importantes entre P. corvina e P. Lundii são (além das já mencionadas relativas às proporções e ao número de raios na segunda nadadeira dorsal): 1. O focinho, como já citado por Reinhardt, em P. corvina avança à frente da maxila inferior, de tal forma que a boca chega a situar-se completamente na superfície inferior da cabeça, e a maxila inferior, quando a boca se fecha, é coberta pelos ossos intermaxilares. Em P. Lundii a maxila inferior, ao contrário, avança à frente do focinho, de tal forma que a boca se volta para frente e para cima; é, pois, uma consequência natural que o intermaxilar não possa cobrir a maior parte da maxila inferior quando a boca está fechada. 2. O focinho é comprimido em P. Lundii, em P. corvina mais grosso e arredondado e a testa mais estreita na primeira espécie, na qual a cabeça, no geral, é mais comprimida; portanto, naquela o diâmetro dos olhos é igual à largura da testa ou insignificantemente maior que esta, mas em P. corvina é visivelmente menor que a largura da testa. Sua posição também é outra, devido às diferentes disposições da boca, de tal modo que, traçando uma linha do final da linha lateral até a ponta do focinho, em P. corvina ela passará completamente abaixo do olho, enquanto em P. Lundii ela cortará o olho não longe de sua metade. 3. As escamas são menores e mais numerosas em P. Lundii, na qual se contam ao longo da linha lateral da abertura branquial até a raiz da nadadeira caudal, ao passo que em P. corvina somente se contam algo em torno de O início da nadadeira dorsal situa-se em P. corvina na mesma linha vertical que passa pelo suporte do primeiro (mais externo) raio da nadadeira ventral ou, ainda, um pouco à frente deste ponto; em P. Lundii, ao contrário, está alinhado com o ponto de origem dos raios de trás (mais internos) da nadadeira ventral. Em P. corvina, o comprimento da segunda nadadeira dorsal é contido aproximadamente três vezes (um pouco acima ou abaixo disso) no comprimento total, em P. Lundii, 3 1 /3 ou 3 1 /2 vezes. 5. Nos indivíduos mais jovens de P. Lundii, o perfil deprimido da testa é muito discrepante do perfil da testa quase reto de P. corvina; a diferença ainda existe nos exemplares mais velhos (adultos), mas é um pouco menos nítida. Se o P. squamipennis (Cuv.) Ag. 179 (descrito a partir de um exemplar empalhado, em mau estado, de 17 polegadas de comprimento, dado como sendo do oceano Atlântico, mas que, de acordo com a conjectura provavelmente acertada do Prof. Reinhardt, seria, na realidade, do Rio São Francisco 180 ) tiver de ser comparado com uma das espécies aqui descritas, reflexo verde-acinzentado e na superfície da testa torna-se violeta; ao longo do dorso cada escama é adornada com um risco acinzentado, que produz listras cinzentas muito finas, que se estendem em direção inclinada para baixo em direção à linha lateral; em ambas as nadadeiras dorsais, a pele que une os raios é adornada com pequenas manchas pretas irregulares. As nadadeiras ventrais, peitorais e anal são amarelo-alaranjadas, cuja cor é viva principalmente nas nadadeiras ventrais e anal. 179 Selecta genera et species piscium etc. p. 128, prancha Reinhardt mostrou que a gorubina ( curvina), que na viagem de Spix e Martius (II, pp. 536 & 558) se menciona como observada e capturada no Rio São Francisco perto de Salgado, não pode ser outra senão P. squamipennis Cuv. 139

140 deverá ser com P. Lundii, da qual se aproxima pelo seu perfil de testa deprimido, sua boca voltada para cima, maxila inferior maior e pela posição da nadadeira dorsal em relação às nadadeiras ventrais. Na especificação do número de raios (D 1.: 10; D 2.: 1. 36; P.: 15; V.: 7; A.: 2. 9) considero que se introduziu um erro com relação às nadadeiras ventrais; nas nadadeiras anal e dorsais a diferença de P. Lundii é somente de um raio. Na realidade podem ser apontadas algumas outras discordâncias menores (por exemplo, que a segunda nadadeira dorsal e a nadadeira caudal seriam cobertas de escamas até sua borda caso isto seja interpretado literalmente e que os raios da última são muito pouco visíveis e que a cauda é muito grossa e quase cilíndrica), as quais, entretanto, poderiam ser convenientemente explicadas, sem maiores dificuldades, pelas más condições em que se encontravam os exemplares do Museu de Munique; diz-se ainda que os ramos da maxila inferior, quando a boca está fechada, posicionam-se entre os ramos da maxila superior, e se isto for interpretado como se a inclusão fosse completa, não é certo nem para P. Lundii. Aqui deve-se ainda mencionar que Günther 181 (que teve em mãos um exemplar empalhado de 19 polegadas de comprimento, infelizmente em más condições e sem indicação de localidade de origem) atribui a ele um raio a menos na nadadeira dorsal e na nadadeira ventral, mas, no geral, o mesmo número de raios (D.: ; V.: 1. 5; A.: 2. 9) e somente 96 escamas na linha lateral; também de acordo com esse autor, a segunda nadadeira dorsal e a nadadeira caudal são densamente cobertas com escamas até a sua borda, característica que não se pode mencionar para nenhuma das espécies do Rio das Velhas; o comprimento da cabeça é dado, assim como por Agassiz, como um quarto do comprimento total, o que somente se ajusta mais ou menos a P. Lundii, quando se mede a cabeça até a ponta da maxila inferior; que o diâmetro do olho seja somente um sétimo do comprimento da cabeça poderia ser explicado satisfatoriamente pelo maior tamanho do exemplar; ao contrário, mais uma vez, não está de acordo com o nosso exemplar de P. Lundii o fato de o segundo raio da nadadeira anal não ser a metade do comprimento da cabeça devendo-se lembrar que esse raio em P. corvina mostrou-se relativamente mais curto nos exemplares mais velhos que nos mais jovens, de modo que poderia ser bem provável que uma relação semelhante pudesse valer para P. Lundii, se esta espécie atingisse um tamanho significativamente maior que o do maior exemplar de que dispomos. Nesta situação ou seja, tendo em conta as más condições de ambos os exemplares descritos de P. squamipennis não acredito que se possa negar completamente a possibilidade de que P. squamipennis e P. Lundii sejam a mesma espécie, apesar de ser correto mantê-las separadas, até que as Pachyurus do Rio São Francisco possam ser submetidas a um novo estudo. Tal estudo trará também outras informações sobre P. (Lepipterus) Francisci, que estão faltando em alto grau; na realidade, no momento não se pode dizer muito mais sobre esta, além de que, de acordo com o posicionamento da nadadeira dorsal, concorda com P. corvina, mas discrepa daquela por sua forma muito mais alongada (a altura não chega a um sexto do comprimento total), fato que não pode ser consequência de ser mais jovem, pois o exemplar trazido do São Francisco por St. Hilaire possui de 19 a 20 polegadas de comprimento; mas talvez tenha sido deformado pelo empalhamento? O número de raios (D.: ; A.: 2. 7) concorda completamente com P. corvina; também sobre o P. Francisci se menciona que ambas as nadadeiras dorsal e caudal são completamente cobertas de escamas, o que talvez não deva ser tomado de forma completamente literal. 181 Cat. Acanthopt. Fishes Brit. Mus. II, p

141 Que P. Nattereri Steind. 182 (descrito de exemplares do Rio Negro e Rio Branco, de /2 de comprimento) não seja, de forma alguma, idêntica a P. Lundii, como Steindachner 183 manifestou, transparece já pelo fato de ela pertencer, pela posição da boca e outras características, à mesma subdivisão de gênero de P. corvina; mas também discrepa desta por ter várias características óbvias, como o tamanho dos olhos (pois, aparentemente, este não é uma consequência da idade) e o fraco desenvolvimento do segundo raio da nadadeira anal; o número de raios (D 1.: 10; D 2.: 1. 31; P.: 2. 16; A.: 2. 8) e de escamas na linha lateral (80 96) concorda, por outro lado, bastante precisamente com ela. Não alimento qualquer dúvida de que uma comparação imediata de exemplares igualmente desenvolvidos dessas duas espécies, que pertencem a diferentes sistemas fluviais, viria provar completamente a diferença entre elas. A espécie descrita e retratada por Steindachner lembra em vários aspectos o P. Schomburgkii Gthr. 184 (9 4 de comprimento, do Pará), que do mesmo modo pertence ao mesmo grupo que P. corvina, mas é muito diferente desta por ter boca menor, olho maior (um quarto do comprimento da cabeça), pelo fato de a linha lateral não se estender até a nadadeira caudal, pelo número de fileiras de escamas (85) e pelo número de raios (D 1.: 10; D 2.: 1. 26; A.: 3. 7). Se fosse necessário dividir o gênero Pachyurus de acordo com as diferentes posições da boca o que parece ser razoável em analogia com outros gêneros da família das corvinas, o grupo ao qual P. corvina, Nattereri e Schomburgkii deveriam pertencer, muito razoavelmente, poderia permanecer com o nome dado por Cuvier, Lepipterus; aquele que abrange P. squamipennis e P. Lundii seria, naturalmente, denominado Pachyurus Ag. 185 Ambas as espécies que ocorrem no Rio das Velhas denominam-se curvina, nome que os portugueses trouxeram consigo para o Brasil. P. corvina não é rara no Rio das Velhas e seus afluentes, mas está totalmente ausente nos numerosos pequenos lagos no vale do Rio das Velhas. 182 Steindachner, Beiträge zur Kenntniss der Sciænoiden Brasiliens und der Cyprinoiden Mexikos, p. 10, tomo III (Sitzungsber. d. Akad. Wiss. Wien, XLVIII, 1863). 183 Ichthyologische Mittheilungen. VII, p. 9 (231). (Verhandl. d. K. K. zool. bot. Ges. Wien. 1864). 184 Catalogue of Acanthopterygian Fishes in the Brit. Museum, II, 1860, p Os autores caracterizaram também o gênero de formas diferentes, de acordo com o tipo que tinham em mãos; Agassiz (loc. cit.) da seguinte forma boca direcionada de baixo para cima, Steindachner, ao contrário (loc. cit., p. 3), a boca inferior, a maxila inferior recolhida sob o intermaxilar. 141

142 Sumário das pranchas (I V) e das espécies retratadas em figuras introduzidas no texto. 1. Stegophilus insidiosus Rhdt Trichomycterus brasiliensis (Rhdt.) Ltk P. III Fig. 8. A Fig. 8a mostra uma ampliação do grupo de espinhos do opérculo e interopérculo. Um jovem provavelmente da mesma espécie Doras Marmoratus Rhdt. Ltk P. I Fig. 1. A Fig. 1a mostra a cabeça, vista dorsal, a Fig. 1b, a boca com os grupos de dentes. 4. Auchenipterus lacustris Rhdt. Ltk. (Han) Glanidium albescens (Rhdt.) Ltk. (Han) P. III Fig Platystoma emarginatum Val. Dentição da parte superior da boca na forma adulta (esboço). 51. A mesma nos jovens Platystoma orbignianum Val. (?) Dentição da parte superior da boca (esboço) Bagropsis Reinhardtii Ltk P. I Fig. 2. Fig. 2a, a cabeça e outros detalhes, vista dorsal; Fig. 2b, a parte superior da boca com os grupos de dentes. 9. Pimelodus maculatus Lac. (?) Pimelodus Westermanni Rhdt. Ltk P. II e III Fig. 4. Prancha III Fig. 4a, cabeça e outros detalhes, vista dorsal; Fig. 4b, boca com os lábios, etc. 11. Pseudorhamdia fur (Rhdt.) Ltk P. II e III Fig. 3. Prancha III Fig. 3a, boca com os lábios, os dentes, etc. 12. Pseudorhamdia lateristriga (M. Tr.) Pseudorhamdia vittata (Kr.) Ltk Rhamdia Hilarii (Val.) Rhamdia microcephala (Rhdt.) Ltk. (Han) P. III Fig. 7. Fig. 7a, parte anogenital e outros detalhes de um macho; Fig. 7b, o mesmo de uma fêmea. 16. Rhamdia minuta Ltk P. III Fig Prochilodus affinis Rhdt. Ltk Parodon Hilarii Rhdt , Fig Fig. 4, boca, para mostrar as caracteríticas dos dentes. 19. Characidium fasciatum Rdht , Fig Fig. 2, cabeça e outros detalhes, vista de baixo. 20. Leporinus Reinhardtii Ltk P. IV Fig Leporinus tæniatus Rhdt. Ltk P. IV Fig Leporinus Marcgravii Rhdt. Ltk P. IV Fig Tetragonopterus lacustris Rhdt. Ltk P. V Fig Tetragonopterus Cuvieri Ltk P. V Fig Tetragonopterus rivularis Ltk P. V Fig. 13 e 14. (Dois exemplares são retratados para ilustrar a variação na forma do corpo dentro de uma espécie deste gênero.) 26. Tetragonopterus gracilis Rhdt. Ltk P. V Fig Tetragonopterus nanus Rhdt. Ltk P. V Fig. 17. (As duas últimas espécies são retratadas maiores do que são na realidade; os números ao lado das figuras dão a proporção para o tamanho natural.) 28. Chirodon piaba Ltk Brycon Lundii Rhdt. Ltk Piabina argentea Rhdt Fig. 2, boca, para mostrar as características dos dentes 142

143 31. Serrasalmo (Pygocentrus) piraya Cuv Os dentes e a segunda nadadeira dorsal raiada são mostrados separadamente. 32. Serrasalmo Brandtii Rhdt. Ltk Os dentes são mostrados separadamente 33. Myletes (Tometes) micans Rhdt. Ltk Os dentes são mostrados separadamente 143

144 Sinopse dos caracteres essenciais 186 dos peixes recolhidos pelo ilustríssimo Professor J. Reinhardt na província brasileira de Minas Gerais, lugarejo de Lagoa Santa, especialmente no Rio das Velhas e afluentes pesquisados. I. Siluridæ a. Stegophilina e Trichomycterina. 1. Stegophilus insidiosus Rhdt. (1858). Aspecto de Trichomycterus; tamanho diminuto; cabeça larga, curta, arredondada, deprimida; boca inferior com numerosos dentes pequenos em ambas as maxilas; lábio inferior dilatado; barbilhões orais diminutos, dois de cada lado; ausência de barbilhões nasais; olhos superiores bastante grandes; espículos operculares e interoperculares presentes. Comprimento da cabeça 187 contido sete vezes, e altura do corpo dez vezes no comprimento total (nadadeira caudal incluída). Nadadeira adiposa, linha lateral e bexiga natatória ausentes. Orifícios branquiais diminutos, laterais. Ausência de raios pungentes nas dorsais e nas peitorais mais fortes. Nadadeira dorsal deslocada para trás, situada no interstício entre a nadadeira anal e o ânus; nadadeiras peitorais quase horizontais; poro lateral (peitoral) geralmente presente. Números de raios: D: 9 (2. 7); P: 6 (1. 5); V: 5 (1. 4); A: 7 (2. 5); C: 11 ( ) 188. Comprimento: 50 mm. Frequentemente encontrado na cavidade de Platystoma orbignianum (Ver figs. p. 36). (R.). 2. Trichomycterus brasiliensis (Rhdt.) Ltk. Boca um pouco larga; barbilhões orais quase equivalentes ao comprimento da cabeça e à sexta parte do comprimento total (nadadeira caudal incluída); o primeiro raio peitoral alongado num fio curto; espinhos operculares em várias séries, no máximo 25; interoperculares, cerca de 30, também em três séries externas quase retas; o comprimento da área de espinhos interopercular equivale ao espaço que separa as narinas posteriores. Nadadeira dorsal situada sobre o interstício entre as nadadeiras ventrais e a nadadeira anal, nadadeira caudal arredondada, truncada. Coloração escura em ambos os sexos, com três faixas longitudinais azul-claras em ambos os lados, mais ou menos distintas, densamente pigmentada em manchas redondas escuras. Números de raios: D: 11 (4+7); P: 7; V: 5; A: 9 (4+5); C: O comprimento atinge 6 polegadas. Encontra-se no Rio das Velhas e afluentes. Nomes brasileiros: cambeja, bagre-mole. (Ver Prancha III, fig. 8). α) variedade tristis ; escuro, uniforme. β) Os indivíduos mais novos (da mesma espécie?) diferem pelos espinhos operculares e interoperculares em menor número, pelas nadadeiras ventrais muito curtas, pela anal situada parcialmente sob a nadadeira dorsal, deslocada mais para trás. Comprimento 2 ou 3 polegadas. (Ver Fig. p. 38). 186 Achei suficiente fazer breve menção a algumas espécies conhecidas anteriormente, de modo a enumerar principalmente aqueles caracteres que diferem de descrições anteriores ou que os ictiólogos não anotaram. Os caracteres essenciais das espécies já anteriormente descritas pelo Professor Reinhardt foram extraídos dos escritos deste celebérrimo autor, e são assinalados mediante um (R.). 187 Até à margem posterior do opérculo. 188 Exceto os raios anteriores superiores e inferiores rudimentares. 189 Exceto os raios anteriores superiores e inferiores rudimentares. 144

145 b. Loricarina e Hypostomatina. 3. Loricaria lima Kner. Cabeça lanceolada, curta, larga; largura da cabeça cerca de um quarto menor que o comprimento dela própria (até ao final do escudo parietal); o diâmetro longitudinal da órbita é igual ao espaço interorbital; lados da cabeça (faces) com barba (nos machos), ou seja, densamente recobertos de cerdas curvadas; 7-8 dentes nos dois lados em ambas as maxilas; disco oral muito grande, barbilhões laterais curtos, porém distintos. Placas da nuca com quilhas, escudos peitorais e ventrais plurisseriados, somente em duas ou três séries na parte posterior. Cabeça nua na parte inferior. Placas laterais ; na base da nadadeira dorsal 5 de cada lado, 18 atrás desta; na base da nadadeira anal 2 de cada lado, 16 atrás desta. Raio superior da caudal transformado em fio. Números de raios: D: 8; P: 7; V: 6; A: 6; C: 12. Comprimento 7 polegadas. Um exemplar com 4 polegadas de comprimento (fêmea?) difere por ter cabeça mais estreita e muito mais pontuda, faces nuas sem cerdas, isto é, não barbadas, disco oral menor, primeiro raio peitoral mais frágil, escudos do corpo e da cabeça e ainda raios peitorais menos ásperos, etc. Encontra-se no Rio das Velhas. Nome brasileiro: cascudo-barbado. 4. Plecostomus lima (Rhdt.) Ltk. Tamanho pequeno; verde-oliva acinzentado com máculas escuras; a ponta do focinho é nua, com uma área oval granulada de cada lado do lábio superior; superfície ventral granulada; o diâmetro dos olhos, igual à sexta parte do comprimento da cabeça, equivale à metade da largura da fronte; corpo não carenado, indistintamente angulado; a cabeça 190 mais longa que larga, pouco mais curta que a terça parte do comprimento total (nadadeira caudal excluída), tem comprimento equivalente, nos adultos, ao do primeiro raio da nadadeira dorsal, que quase atinge, em posição abaixada, a nadadeira adiposa; a primeira nadadeira dorsal é mais longa que a distância que separa as nadadeiras dorsais; o primeiro raio peitoral, igual em comprimento à largura da cabeça, atinge a base da nadadeira ventral. Número normal de raios: D: 1. 7; P: 1. 6; V: 1. 5; A: 1. 4 (raramente 3); C: O comprimento quase atinge 8 polegadas. Encontra-se nos afluentes do Rio das Velhas. Nome brasileiro: cascudo. 5. Pl. Francisci Ltk. Tamanho avantajado; marrom-oliva, salpicado com pequenas manchas menos escuras e ligeiramente douradas; a ponta do focinho e o lábio superior parcialmente granulados; superfície ventral granulada; diâmetro dos olhos igual à sexta parte do comprimento da cabeça e pouco menor que a metade da largura da fronte; corpo não carenado, indistintamente angulado; cabeça mais longa que larga, mais curta que a terça parte do comprimento total (excluída a nadadeira caudal). O primeiro raio dorsal é quase igual ao comprimento da cabeça, abaixado não atinge a nadadeira adiposa; primeira nadadeira dorsal mais longa que a distância que separa as nadadeiras dorsais; primeiro raio peitoral, igual ao comprimento da cabeça, estende-se além da base do primeiro raio ventral, não atingindo, no entanto, a metade da nadadeira. Números de raios iguais aos da espécie anterior: D: 1. 7; P: 1. 6; V: 1. 5; A: 1. 4; C: Comprimento: 11 polegadas. Encontra-se no Rio São Francisco. Nome brasileiro: acari. 6. Pl. alatus Cast. Tamanho avantajado; marrom-escuro salpicado com manchas menos escuras; ponta do focinho nua, lábio superior geralmente granulado; superfície ventral granulada. Diâmetro dos olhos menor que um sexto da cabeça ou que a metade da largura da fronte. O primeiro raio da dorsal é bastante grande, em posição abaixada atinge a nadadeira 190 Até o fim do processo parietal em Hypostomatina. 145

146 adiposa ou, nos peixes maiores, a base da nadadeira caudal; o primeiro raio da peitoral, ainda nesses últimos, ultrapassa a terça parte da nadadeira ventral; o raio duro da nadadeira ventral é igual, ou quase igual, à nadadeira peitoral. Nadadeira dorsal de coloração escura e marmorizada. Comprimento: 15 1 /2 polegadas. Encontra-se no Rio das Velhas e no São Francisco e ainda nos rios Cipó e Sabará. Nome brasileiro: cascudo ou acari. c. Doradina. 7. Doras marmoratus Rhdt. Ltk. A cabeça (até a borda posterior do capacete) é igual a um terço do comprimento total (até as pontas da nadadeira caudal bifurcada); o diâmetro dos olhos equivale a quase um terço do espaço interorbital. O primeiro raio duro da peitoral é serrilhado de ambos os lados e ultrapassa em comprimento mais que dois terços do comprimento da cabeça e, ainda, o processo escapular ensiforme, não espinhoso; o primeiro raio duro da dorsal é menor que o da peitoral, serrilhado somente na parte anterior; a nadadeira adiposa equivale em comprimento à dorsal verdadeira. Acima e abaixo da cauda, antes da nadadeira caudal, há uma guarnição de várias placas ímpares. Trinta e uma placas laterais de cada lado, não altas, com alguns espinhos na parte posterior, sendo as anteriores mais altas. Cor marmorizada, amarelo-cinzenta, com manchas negras confluentes, que se tornam mais claras para baixo; nadadeiras dorsal e caudal marmorizadas ou manchadas de escuro. Números de raios: D: 1. 7; P: 1. 8; V: 6; A:12 (3. 9). Comprimento: 10 polegadas. Encontra-se no Rio das Velhas (e no São Francisco). (Ver Prancha I fig. 1) 8. Auchenipterus lacustris Rhdt. Ltk. (Afim a A. galeatus). O comprimento da cabeça (até o entalhe posterior do capacete) ultrapassa ligeiramente um quarto do comprimento total (incluída a nadadeira caudal); cabeça lisa, embora com sulcos vermiformes mais ou menos nítidos; o processo escapular (exceto a parte subcutânea) atinge a metade do raio duro peitoral; fontanela frontal estreita, mais ou menos nítida; a maxila inferior, um pouco mais comprida que a superior. Os barbilhões supramaxilares alcançam a ponta do processo escapular, os inframaxilares laterais são um pouco mais curtos, os anteriores estendem sua extremidade para além dos olhos. O raio duro da nadadeira peitoral é igual ou quase igual a um quinto do comprimento total (não excluída a nadadeira caudal), fortemente serrilhado em ambos os lados, afora isso liso; o da dorsal é mais curto, igual ou pouco menor do que a metade do comprimento da cabeça, liso, raramente com saliências à frente; nadadeira caudal arredondada obliquamente. Papila genital dos machos ligada à parte anterior da nadadeira anal. Cor cinza-amarronzada, com manchas escuras, tornando-se esbranquiçada na parte inferior. Números de raios: D: 1. 6; P: 1. 7; V: 6; A: O comprimento não atinge 6 polegadas. Encontra-se no Rio das Velhas e no lago de Lagoa Santa. (Ver fig. p. 48). Nome brasileiro: pacamão ou pacu. Glanidium Ltk. (novo gênero de Doradina, difere de Centromochlus pela cabeça sem capacete). Cabeça coberta de pele macia; abertura branquial curta; orifícios nasais não aproximados; a abertura da boca é média; 6 barbilhões orais cilíndricos, barbilhões mandibulares curtos, formando duas séries; dentes maxilares viliformes, ausência de dentes palatinos; nadadeira dorsal curta, situada à frente e distante das ventrais, sustentada por um espinho rígido e 5 raios bifurcados; nadadeira anal curta; nadadeira adiposa diminuta; ventrais com 6 raios; tamanho pequeno. 9. Gl. albescens (Rhdt.) Ltk. Arredondado, comprimido na parte de trás; a cabeça é igual a um quinto do comprimento total (não excluída a nadadeira caudal bifurcada); 146

147 olhos bastante grandes, cobertos de pele, de diâmetro maior que um quinto do comprimento da cabeça, não igualando a metade do espaço interorbital. Os barbilhões supramaxilares alcançam a extremidade do opérculo branquial, mas não a base da nadadeira peitoral, cujo raio duro, resistente, largo, fortemente serrilhado principalmente na parte posterior, é igual a três quartos do comprimento da cabeça; o raio da dorsal é curto e espesso, um pouco serrilhado na parte superior da frente, munido de um apêndice articulado mole e de pequena extensão. Os machos se distinguem pela nadadeira anal maior, escavada na base da borda anterior à papila genital bastante grande. Números de raios: D: 1.5; P: 1.6 (raramente 5); V: 6; A: 13 (4.9, raramente 12: 4.8). Coloração marrom-clara, por vezes manchado de maneira pouco nítida. Atinge comprimento de 4 3 /4 polegadas. Habita o Rio das Velhas e seus afluentes. (Ver Prancha III, Fig. 5). Nome brasileiro: jundiá ou pacu-branco. d. Pimelodina. 10. Platystoma emarginatum Val. Cabeça um pouco deprimida, equivalente a dois sétimos do comprimento total (até a fissura caudal); sua largura, na parte posterior, é um terço menor que seu comprimento; o diâmetro dos olhos, que estão um pouco mais próximos da abertura branquial do que da ponta do focinho, é igual a um sétimo do comprimento da cabeça, ultrapassando, porém, a metade do espaço interorbital. Os barbilhões supramaxilares alcançam ou ultrapassam as nadadeiras ventrais nos adultos, os mandibulares externos alcançam o orifício branquial, os internos, a base das nadadeiras peitorais. A faixa intermaxilar de dentes nos adultos, em ambos os lados, é quase duas vezes mais larga que na parte mediana; área dentígera do vômer irregularmente quadrangular, dividida profundamente na parte posterior, nos peixes mais jovens separada em duas áreas ovais, distando amplamente das áreas alongado-oblongas do palatino. (Ver Fig. p. 51). Nadadeira adiposa duas vezes mais longa que a anal. Números de raios: B: 9; D: 1. 6; P: ; V: 6; A: ( ). Coloração do peixe vivo ouro-brilhante, com algumas manchas escuras indefinidas, ventre esbranquiçado, iridescente. O comprimento ultrapassa 15 polegadas. Encontra-se no Rio das Velhas (e também no Rio São Francisco). Nome brasileiro: mandiaçu. Os peixes jovens diferem pelos olhos maiores, estrias e grânulos da cabeça difusos, barbilhões mais longos (os supramaxilares atingem a nadadeira caudal), faixa dentígera intermaxilar não dilatada lateralmente, áreas do vômer afastadas entre si, palatinas diminutas, etc. (Ver Fig. p. 53). Nomes brasileiros: urutu ou mandi-urutu. 11. Platystoma orbignianum Val.? Cabeça larga, achatada; sua largura é, na parte anterior, um pouco menor que um terço do comprimento, ultrapassando este um terço do comprimento total até a abertura caudal; a mandíbula estende-se bastante à frente da maxila superior; o diâmetro dos olhos, que se situam um pouco mais perto da ponta do focinho que da abertura branquial, equivale à décima quinta parte do comprimento da cabeça. Área dentígera intermaxilar estreita no meio, muito mais larga lateralmente, alongada de ambos os lados na parte de trás, separada das áreas vômero-palatinas por um interstício estreito, sendo estas separadas entre si, muito alongadas posteriormente. (Ver Fig. p. 55). Nadadeira adiposa mais curta que a anal. Números de raios: B: 15; D: 1. 6; P: 1. 9; V: 6; A: 16 (7. 9). Cor marrom-escura, ouro-brilhante, manchada, ventre esbranquiçado. O comprimento no Rio São Francisco alcança 8 10 pés; exemplares menores aparecem no Rio das Velhas (e também no Rio Cipó). Nomes brasileiros: sorubim, casonete, ou loango. 147

148 Bagropsis Ltk. (novo gênero de Pimelodina que deve ser colocado entre Piratinga e Pseudariodes, sobretudo talvez afim com Platystoma). Pele não reticulada; corpo um pouco arredondado; cabeça deprimida; focinho não alongado; maxila superior um pouco mais comprida; olhos quase voltados para cima, sendo livre a margem supra-orbital; capacete não granulado, delicadamente estriado, recoberto com pele fina; seis barbilhões orais arredondados; dentes do palato dispostos em 4 áreas; dentes do vômer muito separados dos palatinos; nadadeira dorsal anterior curta, sendo o primeiro raio fino e rígido, seguido de 6 raios moles; a posterior, adiposa, sem raios, bastante longa; ventrais inseridas sob os últimos raios da nadadeira dorsal, com seis raios; nadadeira anal curta; nadadeira caudal bifurcada. 12. B. Reinhardti Ltk. O comprimento da cabeça é igual a um quarto do comprimento total (até a bifurcação da caudal); a altura é menor do que a metade de seu comprimento, a largura é igual a um sexto do comprimento total (até as extremidades da nadadeira caudal bifurcada). O diâmetro orbital, um pouco mais próximo da abertura branquial que da ponta do focinho, é igual à metade do espaço interorbital e a um sétimo do comprimento da cabeça; áreas maiores de dentes nos palatinos e áreas diminutas ovais no vômer. Os barbilhões maxilares alcançam a ponta das nadadeiras ventrais (ou além, quase até a nadadeira caudal, nos mais jovens), os mandibulares externos, a fossa axilar, (ou além, até a ponta das nadadeiras peitorais), os internos, a abertura branquial (ou além). Primeiro raio da nadadeira dorsal delgado, embora rígido, um pouco serrilhado na parte posterior, mais longo do que a metade do comprimento da cabeça; o peitoral curvo, rígido, um pouco largo, fortemente serrilhado na parte posterior; nadadeira adiposa quase o dobro ou mais do que o dobro do comprimento da anal. Números de raios: B: 10; D: 1. 6; P: 1. 10; V: 6; A: 11 (3. 8). Cor nos peixes vivos ouroesverdeada em cima, manchas amarronzadas no meio, leitosa embaixo. Comprimento de um pé. Encontra-se no Rio das Velhas. (Ver Prancha I, fig. 2). Nome brasileiro: mandi-bagre. 13. Conorhynchus conirostris Val. Focinho cônico alongado, boca diminuta, geralmente sem dentes, às vezes com alguns dentes intermaxilares, barbilhões muito curtos, não atingindo superiormente os olhos. O comprimento da cabeça ultrapassa um quarto do comprimento total (incluída a nadadeira caudal) e ultrapassa um pouco a altura do corpo. Diâmetro dos olhos um sexto ou um sétimo do comprimento da cabeça, um quarto do focinho, metade ou dois quintos do espaço interorbital. Números de raios: D: 7 (1. 6); P: 11-12; V: 6; A: (3. 15 ou 3. 17). Cor azulada em cima, leitosa no ventre. Comprimento: 28 polegadas. Encontra-se no Rio das Velhas e no São Francisco (e também no Rio Cipó). Nome brasileiro: pirá-tamanduá. Pimelodus Lac. (Char. emend. 191 ). Cabeça coberta com capacete, granulada, processo occipital alcançando o escudo dorsal (osso interespinal em forma de sela); raio duro da nadadeira dorsal forte, rígido. (parte de Pseudorhamdia Blkr.) [Seção a. Focinho muito largo; área dentígera intermaxilar muito larga; nadadeira adiposa um pouco comprida]. Seção b. Focinho moderadamente largo; área dentígera intermaxilar mais estreita. 14. Pimelodus maculatus Lac. Processo occipital convexo, em forma de telhado, não muito mais comprido que largo; os barbilhões maxilares alcançam as pontas das nadadeiras ventrais ou a base da nadadeira anal. A altura do corpo nos maiores é igual ao comprimento da cabeça; os mais jovens são mais delgados. Diâmetro dos olhos quase um sexto do comprimento 191 NT: caracteres emendados ou corrigidos, significando alteração dos caracteres que definem o gênero (o taxon). 148

149 da cabeça, nos adultos quase a metade do espaço interorbital. Raio duro da nadadeira dorsal rígido, reto ou mais raramente suavemente curvo, um pouco serrilhado em cima na parte posterior, muito mais curto que a cabeça, um pouco mais longo que o raio duro da nadadeira peitoral, o qual é largo, achatado, estriado, ligeiramente áspero na parte anterior, fortemente serrilhado na parte posterior. A nadadeira dorsal em posição abaixada alcança a nadadeira adiposa. Números de raios: D: 7 (1. 6); P: 10 (1. 9); V: 6; A: (4. 7, mais raramente 8). Cor marrom-escura, manchas escuras dispostas em séries, esbranquiçada em baixo. Comprimento cerca de polegadas (Ver Fig. p. 64). Encontra-se no Rio das Velhas e no lago conhecido como Lagoa Santa, e também no Rio São Francisco, conforme Marcgraf. Nomes brasileiros: mandi ou mandi-amarelo. Seção c. Focinho atenuado, estreito, agudo, quase cônico, boca diminuta, com lábios dilatados, poucos dentes; nadadeira adiposa alongada. 15. Pimelodus Westermanni Rhdt. Ltk. Forma bastante delgada, corpo e cabeça moderadamente comprimidos; focinho estreito, alongado; boca pequena, inferior, envolvida por lábios livres, um pouco intumescidos e voltados para trás, sem dentes intermaxilares; pouquíssimos mandibulares, diminutos. A cabeça é igual a um quinto do comprimento total (com a nadadeira caudal), sendo parcialmente coberta com uma pele tênue, à exceção, porém, do capacete verdadeiro e do processo occipital estriados e granulados. O diâmetro dos olhos é quase igual a um quinto do comprimento da cabeça, pouco menor que o espaço que separa os olhos. Raio duro da nadadeira dorsal bastante forte, suavemente curvado, pontiagudo, liso na parte anterior, serrilhado atrás, principalmente na parte de cima, equivalendo à metade do comprimento da cabeça, medido da ponta do focinho até a inserção do raio (NT: igual à distância pré-dorsal), um quinto mais comprido, porém, que o raio duro peitoral mais largo, serrilhado de ambos os lados. Espaço que separa as nadadeiras dorsais maior que a dorsal anterior, mas muito menor que a nadadeira adiposa, que ultrapassa a anal em mais que o dobro de seu comprimento. Os barbilhões maxilares alcançam a base ou a bifurcação da nadadeira caudal; os mandibulares externos, a base das nadadeiras peitorais, os internos, a fissura branquial. Números de raios: D: 1. 6; P: (9); V: 6; A: (4. 8-9). Cor prateada em cima, nos vivos, acinzentada ou cinza-esverdeada, sem manchas distintas. Comprimento: 9 1 /2 polegadas. Encontra-se no Rio das Velhas (Ver Pranchas II e III, fig. 4). Nome brasileiro: papa-isca-açu. Pseudorhamdia Blkr. (Char. emend.). Cabeça sem capacete não granulada, inteiramente recoberta com pele macia e nua; o processo occipital alcança o primeiro osso interespinal; raio duro da nadadeira dorsal rígido, bastante forte. 16. Pseudorhamdia fur (Rhdt.) Ltk. Semelhante ao anterior pelo formato; cabeça e corpo moderadamente comprimidos; focinho mais estreito que largo, com a maxila superior um pouco proeminente; boca mediana quase inteiramente circundada por lábio livre e dobrado para trás; área dentígera da maxila superior mais estreita que a da inferior. Cabeça não granulada, totalmente coberta com uma pele tênue e macia; o comprimento total até a extremidade superior da nadadeira caudal, profundamente bifurcada, é cinco vezes e meia maior que o comprimento da cabeça; o diâmetro do olho é igual à largura da fronte (espaço interorbital) e está contido quatro vezes e um terço no comprimento da cabeça. Os raios duros das nadadeiras dorsal e peitoral são iguais, equivalentes a um terço do comprimento da cabeça, o dorsal um pouco espesso, rígido, pontiagudo, quase reto, liso na frente, fortemente serrilhado na parte superior de trás, os peitorais mais largos e mais curvados, muito serrilhados na parte superior da frente, fortemente serrilhados até a ponta na parte posterior. A primeira 149

150 nadadeira dorsal é quase igual ao espaço entre as nadadeiras dorsais, a adiposa o dobro ou mais que o dobro da anal. Os barbilhões maxilares alcançam a base da nadadeira caudal, os barbilhões mais curtos da mandíbula atingem a base da nadadeira peitoral. Números de raios: D: 1. 6; P: 1. 10; A: 14 (4. 10); V: 6. Cor marrom-escura, indistintamente manchada. O comprimento atinge 8 3 /4 polegadas. Encontra-se no mesmo lugar que o anterior. (Ver Pranchas II-III, fig. 3). Nome brasileiro: papa-isca. 17. Ps. lateristriga M. Tr. Tamanho médio, forma bastante alongada, altura máxima equivalente a um oitavo do comprimento total (nadadeira caudal incluída), comprimento da cabeça contido seis vezes ou cinco vezes e meia no comprimento total. O diâmetro dos olhos equivale ao espaço interorbital ou, nos jovens, o ultrapassa. Cabeça totalmente recoberta com pele macia, boca média. Os barbilhões maxilares alcançam a ponta da nadadeira anal. Raio duro da dorsal delgado, rígido, pungente, equivalendo a dois ou três terços do comprimento da cabeça, às vezes inteiramente liso à frente, atrás, muitas vezes, muito pouco nitidamente serrilhado, mais curto que os peitorais que são mais largos, levemente curvados, crenulados na parte da base, fortemente serrilhados na parte da ponta, pouco serrilhados atrás. As nadadeiras peitorais alcançam as ventrais, e essas quase atingem a anal. Papila genital dos machos alongada, delicada. Números de raios: D: 1. 6; P: 1. 9; V: 6; A: Cor do peixe vivo semibrilhante, prata, puxando para acinzentada na parte de cima, iridiscente embaixo; uma listra marrom-escura acompanha a linha lateral. Comprimento: 5 1 /2 polegadas. Encontra-se no Rio das Velhas. (Ver Fig. p. 70). Nomes brasileiros: xué (chué) ou lambari. 18. Ps. vittatus (Kr.) Ltk. Tamanho pequeno, forma mais curta, sendo a altura máxima equivalente a um sexto ou um sétimo do comprimento total (nadadeira caudal incluída) e o comprimento da cabeça a um quinto. O diâmetro dos olhos equivale a um quinto do comprimento da cabeça, mas a dois terços do espaço interorbital. Cabeça inteiramente coberta com pele macia; o processo occipital estreito alcança o escudo pré-dorsal (interespinal) pequeno; a boca é igual à largura da fronte. Os barbilhões superiores alcançam ou ultrapassam a ponta das nadadeiras ventrais, os inferiores externos apenas se estendem até a ponta das peitorais. Raio duro da dorsal delicado, embora rígido e agudo, um pouco serrilhado em ambos os lados na direção da ponta, igual ou mais comprido que a metade do comprimento da cabeça, quase equivalente aos peitorais mais fortes, crenulados de modo pouco nítido na parte anterior junto à base, mas claramente denteados na direção da ponta, fortemente serrilhados na posterior. Nadadeira adiposa o dobro ou mais que o dobro da dorsal verdadeira ou da anal. As nadadeiras peitorais não alcançam as ventrais nem estas, a anal. Números de raios: D: 1. 6; P: 1. 9; V: 6; A: (4. 8-9). Cor do peixe morto, preservado no álcool, marrom pouco escuro, muito menos escuro que Ps. lateristriga, com listra longitudinal escura em ambos os lados. O comprimento não ultrapassa 3 1 /2 polegadas. Encontra-se no Rio das Velhas, nos córregos afluentes e lagos próximos. (Ver fig. p. 71). Rhamdia Blkr. Cabeça nua, coberta com pele macia, não granulada, o processo occipital não atingindo o escudo pré-dorsal, sendo o primeiro raio da nadadeira dorsal débil, flexível. Seção a, com 7 ou 8 raios moles na nadadeira dorsal. 19. Rh. Hilarii Val. Tamanho médio, forma alongada ou mais robusta, corpo um pouco comprimido, cabeça, no entanto, um pouco deprimida, focinho um pouco mais largo e mais achatado. Cabeça um quinto ou um quarto do comprimento total (até as pontas da nadadeira caudal), inteiramente coberta com pele macia, terminada com um processo occipital curto e agudo. Olhos muito mais próximos da ponta do focinho que da abertura branquial, maiores e voltados para cima nos jovens, nos adultos um pouco laterais, sendo seu diâmetro igual 150

151 ou quase igual à metade da largura da fronte, mas equivalente a um sexto ou um sétimo do comprimento da cabeça. A abertura da boca é igual ao espaço entre os olhos e à largura da abertura branquial; a maxila superior se projeta um pouco. Os barbilhões maxilares alcançam a ponta da nadadeira dorsal ou das nadadeiras ventrais. A nadadeira dorsal é igual ou ultrapassa em comprimento a nadadeira anal e o espaço entre a dorsal verdadeira e a adiposa; a nadadeira adiposa alongada é duas ou três vezes mais comprida que a anal e três ou cinco vezes maior que o espaço entre as dorsais. Primeiro raio dorsal delgado, liso; os peitorais denticulados na ponta na parte da frente, nos jovens também serrilhados na parte posterior. A papila genital está situada entre as nadadeiras ventrais e a anal. Números de raios: D: ; P: [6-7]; V: 6; A: [11] = 4 [3. 5-6] [7,10,11]. Cor marrom-escura, com manchas mais ou menos nítidas, nos vivos, cinza-ouro, esbranquiçado e iridiscente na parte de baixo; nadadeira dorsal com uma faixa branca sobre a base como nas outras espécies de Rhamdia. Comprimento equivalente a um pé. Encontra-se no Rio das Velhas e no lago conhecido como Lagoa Santa com seus afluentes (e também no Rio São Francisco). (Ver Fig. pág. 73). Nome brasileiro: bagre, mais raramente mandi-bagre. Seção b, com 5 ou 6 raios moles na nadadeira dorsal. 20. Rh. microcephala (Rhdt.) Ltk. Tamanho pequeno, aspecto de gobiídeo, corpo arredondado, cabeça pequena, redonda, com nadadeiras em geral diminutas. Cabeça um sexto do comprimento total ou pouco mais (nadadeira caudal incluída), completamente coberta com pele macia, terminando posteriormente em ângulo obtuso. Olhos diminutos voltados para cima, muito mais próximos da ponta do focinho que da abertura branquial; seu diâmetro é igual a um sexto ou um sétimo do comprimento da cabeça, mas não chega à metade da largura da fronte. Boca média, equivalente à metade da largura da cabeça, maxilas iguais. Barbilhões orais quase iguais; os superiores atingem a ponta, os inferiores a base das nadadeiras peitorais. Nadadeira dorsal um pouco alta, curta, deslocada para trás; a distância que a separa do ângulo occipital equivale ao comprimento da cabeça (até a abertura branquial), e a distância que a separa da ponta do focinho é quase igual a um terço do comprimento total; a nadadeira adiposa ultrapassa em comprimento à anal alongada, igualando ou ultrapassando a distância entre as nadadeiras dorsais. A parte dura do primeiro raio peitoral, não serrilhada, é plana pouco larga, e quase igual a um terço, mas não à metade, do comprimento da cabeça. Nadadeira caudal nos adultos um pouco emarginada. Papila genital alongada nos machos. Números de raios: D: ; P: ; V: 6; A: Cor acinzentada, no dorso marrom-escura com manchas marmorizadas, no ventre esbranquiçada e, de modo geral, nadadeiras esbranquiçadas. Comprimento: 3 3 /4 de polegada. Encontra-se no Rio das Velhas. Nome brasileiro: bagre. 21. Rhamdia minuta Ltk. Pequena, delgada, cabeça e focinho deprimidos; a cabeça é igual a um quinto do comprimento total (até as pontas da nadadeira caudal bifurcada), totalmente coberta com pele macia, sem processo occipital e depressão frontal. Os olhos fortemente voltados para cima localizam-se a meia distância entre a ponta do focinho e a abertura branquial; seu diâmetro é igual a um quinto do comprimento da cabeça, ultrapassando a metade da distância interorbital. A maxila superior se projeta um pouco além da inferior. Os barbilhões superiores quase atingem a ponta, os inferiores a base das nadadeiras peitorais, embora mais curtos nos mais jovens. A distância que separa a nadadeira dorsal da cabeça não é igual ao comprimento desta; adiposa igual à distância entre as nadadeiras dorsais e ao dobro do comprimento da nadadeira dorsal mas não ao dobro da nadadeira anal. O primeiro raio da nadadeira peitoral difere um pouco dos raios restantes; a parte dura não serrilhada é mais 151

152 curta que a parte articulada mole, equivalendo, no máximo, a um terço do comprimento da cabeça. Números de raios: D: ; P: 1. 9; V: 6; A: ( ). Cor amarelo-escura, mais diluída ou escura, às vezes (nos mais jovens?), com cinco faixas transversais no dorso. O comprimento não ultrapassa 3 1 /3 de polegada. Encontra-se no mesmo lugar da espécie anterior. Pseudopimelodus Blkr. (Char. emend.) Cabeça nua, coberta com pele macia, o processo occipital atingindo o escudo pré-dorsal, projetado anteriormente; olhos diminutos, cobertos com pele. 22. Ps. charus Val. Cabeça larga, deprimida, arredondada; corpo avantajado, comprimido posteriormente; a altura do corpo, um sétimo do comprimento total (incluída a nadadeira caudal), o comprimento da cabeça, quase um quarto, igualando ou ultrapassando um pouco sua largura. Abertura bucal ampla, a maxila inferior projetando-se um pouco; o diâmetro dos olhos voltados para cima é igual à décima quinta parte do comprimento da cabeça, à sexta do espaço interorbital. A parte pós-orbital da cabeça quase ultrapassa três vezes a ante-orbital. Os barbilhões maxilares atingem a base das nadadeiras peitorais. Nadadeira dorsal mais curta que a metade do espaço entre as nadadeiras dorsais; nadadeira adiposa igual em comprimento à dorsal verdadeira ou à anal. Parte dura do primeiro raio da nadadeira dorsal forte, denteada anterior e posteriormente, mas delgada nos mais jovens, e igual em comprimento à largura da fronte; a dos peitorais igualmente coberta com pele grossa espessa, forte, curva, plana, fortemente serrilhada na parte posterior. Nadadeira caudal um pouco entalhada. Números de raios: D: 1. 6; P: 1. 7; V: 6; A: ( ). Cor amarelo-escura, com manchas marrons escuras, os mais jovens com 5 faixas transversais escuras e pouco regulares. O comprimento alcança apenas dez polegadas. Encontra-se no Rio das Velhas (e também no R. Sabará e no R. Cipó; P. Bufonii Gthr.). Nomes brasileiros: pacu-do-rio ou pacamão-do-rio. II. Characini a. Erythrinina. 23. Macrodon trahira Sp. O comprimento da cabeça (até a abertura branquial) é igual a um terço do comprimento total (excluída a nadadeira caudal), às vezes um pouco mais curto nos mais delgados (menores). Escamas da linha lateral comumente 41-42, às vezes ou 46-47; à frente da nadadeira dorsal, frequentemente 12 (raramente 11 ou 13) séries horizontais de escamas cobrem o dorso entre ambas as linhas laterais; após ela, sempre 9. Números de raios: D: 14, raramente 13 ou 15 (2 ou 3 anteriores indivisos); P: (raramente 12 ou 15); V: 8; A: (3 + 9 ou 2 + 9); C: 17 (raramente 18, além dos anteriores mais curtos). Os adultos quase de cor uniforme, manchados de marrom-escuro ou amarelo-escuro, os jovens mais ou menos nitidamente estriados longitudinalmente, os mais jovens marcados com uma série dupla de manchas laterais oblíquas. O comprimento pode ultrapassar 15 polegadas. Encontra-se no Rio das Velhas, no lago de Lagoa Santa e ainda nos pequenos lagos e riachos vizinhos; também no Rio S. Francisco e no Rio Cipó (M. intermedius Gthr.). Nome brasileiro: traira. 152

153 b. Curimatina. 24. Curimatus albula Ltk. (C. Gilberti Qu. Gaim.?). A altura do corpo comumente ultrapassa um terço do comprimento total (excluída a nadadeira caudal) nos adultos, mas é equivalente a este em alguns mais alongados e nos mais jovens; o comprimento da cabeça ultrapassa a quarta parte do comprimento total (excluindo a nadadeira caudal). Diâmetro do olho igual à quarta parte do comprimento da cabeça, sendo um pouco maior em largura que a metade da fronte. Primeiro raio dorsal, nos espécimens muito altos, quase no meio da distância entre a ponta do focinho e os primeiros raios rudimentares caudais; nos indivíduos mais alongados, um pouco mais próximo do focinho; a altura da nadadeira dorsal é igual ao espaço que separa a nadadeira dorsal verdadeira e a adiposa; a adiposa é inserida sobre os últimos raios da nadadeira anal; as ventrais, que começam sob a metade da nadadeira dorsal, alcançam o ânus, mas as peitorais não atingem as ventrais; nadadeira caudal profundamente fendida. As poucas estrias radiais das escamas raramente excedem em número a duas ou três. Escamas da linha lateral (raramente 39), 6 ou 5 séries horizontais de escamas (exceto as medianas ímpares), em ambos os lados acima da linha lateral e 8 ou 7 abaixo da mesma linha, na parte anterior do tronco. Números de raios: D: 13 (3+10), o primeiro em geral apenas rudimentar; P: 13-14; V: 9 (1.8) 192 ; A: 10 (2.8); C: Cor do dorso nos vivos verde-amarronzada, das laterais e do ventre prata brilhante, com mancha escura em ambos os lados na base da nadadeira caudal; muitas vezes também uma listra longitudinal escura ou uma série mais ou menos nítida de manchas nos lados do corpo. Comprimento: 4 1 /2 polegadas. Encontra-se no Rio das Velhas e nos riachos afluentes. Nome brasileiro: papa-terra. 25. Prochilodus affinis Rhdt. Ltk.(argenteus Val.? vix Spix). A altura do corpo equivale a um terço do comprimento total (excluída a nadadeira caudal), ou às vezes mais, chegando a dois quintos do comprimento total. O comprimento da cabeça (até à margem do osso opercular) é igual a um quarto do comprimento total; o diâmetro dos olhos, situados no meio da distância entre a ponta do focinho e a margem do opérculo, é igual ou ultrapassa um pouco a um terço do espaço interorbital, mas equivale a um sexto do comprimento da cabeça (até a abertura branquial). Lábio superior saliente, avançando muito além da maxila inferior. Nadadeira dorsal um pouco mais próxima da caudal que da ponta do focinho; sua altura não equivale ao espaço interespinal, entre ela e a nadadeira adiposa, esta última situada sobre o meio da nadadeira anal; mas seu comprimento ultrapassa a metade do espaço interespinal. As ventrais, inseridas sob o meio da nadadeira dorsal, não atingem a anal, nem as peitorais às ventrais. Escamas da linha lateral reta 45-46, raramente 47, séries de escamas acima dela 8 (raramente 7), 9 abaixo da mesma, na parte anterior do corpo (exceto as ímpares medianas); parte exposta das escamas ásperas ornada com saliências diminutas alongadas, dispostas concentricamente. Nadadeira dorsal pigmentada com manchas diminutas. Números de raios: D: 13 (3.10); P: 15-17; V: 9 (1.8); A: 12 (3.9, raramente 2.10); C: Comprimento: 13 (-18) polegadas. Encontra-se no Rio das Velhas e nos riachos afluentes, e também nos lagos, por exemplo, no lago de Lagoa Santa, e ainda no Rio S. Francisco (e Cipó?). Nome brasileiro: crumatã. (Ver Fig. p. 85). 192 Citei como dois o último raio da nadadeira dorsal e da anal, quando é fendido até à base; não encontrei motivo para citar assim o externo da ventral, pois é apenas rudimentar. 153

154 26. Pr. argenteus Spix. Verdadeira = P. costatus Val.?, parece diferir da anterior pela parte exposta das escamas, ornada com saliências alongadas, densamente dispostas em raios, talvez também pela escultura mais forte dos ossos que circundam os olhos, parietais, etc., e também pelo número das séries de escamas (49, ) e talvez dos raios das nadadeiras: D: 3. 9; A: Encontra-se no Rio S. Francisco, de onde Reinhardt trouxe metade de uma pele. 27. Parodon Hilarii Rhdt. (1866). A altura máxima do corpo é quase igual ao comprimento da cabeça, mas ultrapassa a sexta parte do comprimento total (com a nadadeira caudal). O osso maxilar em ambos os lados, próximo aos intermaxilares, sustém dois dentes diminutos, móveis, similares na forma aos maiores do intermaxilar; mandíbula com dois dentes em ambos os lados. Focinho projetado à frente da mandíbula. Último raio da nadadeira dorsal mais próximo da ponta do focinho do que da incisão da nadadeira caudal. Escamas com 8-9 estrias, quando muito; 38 escamas na linha lateral, 12 antes da nadadeira dorsal, o mesmo número entre esta e a adiposa, 8 entre a dorsal e a ventral. Números de raios: D: 11 (2. 9); P: 15; V: 8; A: 9 (2. 7); C: Uma listra longitudinal escura percorre os lados do corpo; sobre esta uma cor cinza amarelada, o alto do dorso verde-amarronzado, o ventre branco-prateado; nadadeiras esbranquiçadas, pontas amarelas (só a caudal esverdeada). Comprimento: 101 mm. Um único exemplar encontrado no riacho perto da cidade de Lagoa Santa. (Ver Fig. p. 89, figuras 3-4) (R.). c. Anastomatina e Tetragonopterina. Characidium Rhdt. (1866). Dentes nos ossos intermaxilares e na mandíbula em série única, cilíndricos, a maioria com borda tricuspidada. Boca pequena. Duas narinas dos dois lados, distantes entre si. Corpo alongado, levemente comprimido, abdômen arredondado. Escamas grandes. Fenda branquial bastante grande. Quatro raios branquiostégios. Nadadeira dorsal acima das ventrais. 29. Ch. fasciatum Rhdt. (1866). Altura máxima e comprimento da cabeça quase um quinto do comprimento total. Focinho curto obtuso, diâmetro dos olhos igual a um quarto do comprimento da cabeça, quase equivalente ao espaço ântero-orbital e interorbital. Escamas com estrias; escamas na linha lateral, 12 entre o occipício e a nadadeira dorsal, 8 entre esta e a ventral, das quais 5 acima da linha lateral. Cor marrom ou cinza-amarelada, menos escura no ventre; uma listra obscurece a linha lateral; 13 a 15 faixas transversais frequentemente guarnecem o dorso. Números de raios: D: ( ); P: 10-11; V: 9; A: 8 (2. 6); C: Comprimento: 57 mm. Encontra-se no lago de Lagoa Santa e nos lagos e riachos vicinais. Nome brasileiro lambari. (R.) (Ver Fig. 1-2, p. 89). Leporellus Ltk. n. g. v. subg. difere de Leporinus pelas narinas próximas entre si, com fendas branquiais profundamente abertas e com membranas branquiostégias inteiramente livres, não unidas à superfície inferior da cabeça, características que o aproximam dos Tetragonopterina e ainda com lobos da nadadeira caudal em parte escamosos. 29. L. pictus (Kner) (L. vittatus Val.?). Focinho alto obtuso não projetado além da maxila inferior; as dobras orais não atingem a linha vertical das narinas anteriores. Altura do corpo igual a um quinto e comprimento da cabeça a um quarto do comprimento total (excluída a parte nua da nadadeira caudal). Quatro dentes superiores e inferiores, em ambos os lados. A nadadeira anal mal alcança a caudal. Linha lateral com 42 escamas: 5 séries horizontais de escamas acima desta, 6 abaixo, na parte anterior do corpo, exceto as ímpares medianas. Números de raios: D: 12 (2. 10); P: 16; V: 9; A: 11 (2. 9); C: Uma listra 154

155 dorsal escura a partir do meio do occipício até à extremidade da nadadeira dorsal; uma listra escura estreita guarnece a linha lateral, uma faixa escura larga, a parte superior da nadadeira dorsal, duas linhas oblíquas, a base da nadadeira caudal, manchas menores escuras, a fronte acinzentada. Comprimento: seis polegadas. Encontra-se, raramente, no Rio das Velhas. Nome brasileiro: timboré. Leporinus. a) três dentes superiores e inferiores em ambos os lados. 30. Leporinus elongatus Val. (pachyurus Günth., vix Val.). Focinho muito projetado à frente da maxila inferior. Boca maior; as dobras orais atingem a linha vertical das narinas posteriores. A nadadeira anal nunca atinge a caudal. Linha lateral com 42 escamas (raramente 40-41): 6 séries horizontais de escamas acima desta, 7 abaixo, na parte anterior do tronco, exceto as medianas ímpares. Cor da fronte e do dorso nos peixes vivos verde-acinzentada, dos lados e do ventre, branco-prateada; nadadeira dorsal e adiposa acinzentadas, peitorais amarelo-descoradas ou douradas, as ventrais, anal e caudal magnificamente douradas, a caudal marginada com cor escura. Números de raios: D: 13 (2. 11); P: 17 (raramente 18); V: 9; A: 11 (2. 9); C: O comprimento atinge 17 polegadas. Encontra-se no Rio das Velhas e no São Francisco; também no Rio Cipó. Nome brasileiro: piau. 31. Leporinus Reinhardti Ltd. Focinho não projetado além da maxila inferior; dobras orais não estendidas para trás além da linha vertical, das narinas anteriores. A nadadeira anal nunca atinge a caudal. Linha lateral com 38 escamas (raramente 37-39): 6 séries horizontais de escamas acima desta, 7 abaixo, na parte anterior do tronco, exceto as medianas ímpares. Cor da fronte nos peixes vivos verde-escura, do dorso, verde-acinzentada, dos lados e do ventre, prata; nadadeira dorsal e caudal verde-acastanhadas, a anal e as ventrais amarelas ou tendendo ao dourado; três manchas mais ou menos nítidas, tendendo para o negro, em ambos os lados, a primeira sob a nadadeira dorsal, a última junto à nadadeira caudal; nos mais jovens, algumas faixas transversais dorsais indistintas. Números de raios: D: 13 (2. 11); P: 15-17; V: 9; A: 11 (2. 9); C: O comprimento não ultrapassa 9 polegadas. Encontra-se no Rio das Velhas e seus afluentes e no Rio São Francisco, e ainda no lago de Lagoa Santa. Nome brasileiro: timboré-pintado. (Ver Prancha IV, fig. 10). b) Três dentes superiores em ambos os lados, quatro inferiores. 32. Leporinus tæniatus Rhdt. Ltk. Focinho não projetado além da maxila inferior. A maxila superior e as dobras orais não ultrapassam as narinas anteriores. A extremidade da nadadeira anal (deprimida) atinge a nadadeira caudal ou dela se aproxima. Linha lateral com 37 ou 38 escamas: 5 séries horizontais de escamas acima desta, 6 abaixo, na parte anterior do corpo, exceto as medianas ímpares. Cor da parte dorsal do corpo e da cabeça nos peixes vivos, amarelo-acinzentada, da parte ventral, branco-prateada; uma faixa castanho-escura percorre as escamas da linha lateral; nos mais jovens, por vezes, manchas ou faixas dorsais mais ou menos nítidas; as nadadeiras, com exceção da adiposa, tendendo para o branco. Números de raios semelhantes aos da espécie anterior, mais raramente D: ou A: Comprimento: 8 1 /2 polegadas. Encontra-se no Rio das Velhas e seus afluentes. Nome brasileiro: timborérajado (afim a L. melanopleuræ Gthr. (ou o mesmo?). (Ver Prancha IV, fig. 11). 33. Leporinus Marcgravii Rhdt. Ltk. Focinho não projetado além da maxila inferior. A maxila superior e as dobras orais não ultrapassam as narinas anteriores. A ponta da nadadeira anal (deprimida) mal atinge a caudal. Linha lateral com escamas: 4 séries horizontais de escamas acima desta, 5 abaixo, na parte anterior do tronco, exceto as medianas ímpares. Números de raios D: 12 (2. 10) (mais raramente 2. 9, 3. 9 ou 2. 11); P: 16; V: 9; A: 155

156 11 (2. 9) (mais raramente 2. 8) 193 ; C: Cor do dorso nos vivos verde-acastanhada, do ventre, prata claro; três séries de manchas grandes cinza escuro em ambos os lados, sendo as inferiores menos nítidas, confluindo a superior, muitas vezes, com a série mediana dorsal de sete manchas em faixas transversais; nadadeiras matizadas de cinza claro, adiposa cor de sangue, margeada de preto; mancha também cor de sangue de ambos os lados, na extremidade posterior da maxila superior. Comprimento: 4 1 /3 polegadas. Encontra-se no Rio das Velhas e seus afluentes. Nome brasileiro: timboré. (Ver Prancha IV, fig. 9). Tetragonoptera. Espécies que se encontram no Rio das Velhas, no lago dito Lagoa Santa e riachos vicinais e que pertencem à divisão típica do gênero Tetragonopterus, caracterizado por um número de raios da nadadeira anal não superior a quarenta, pela abertura mediana da boca, pelo osso maxilar guarnecido de poucos dentes, não estendido para trás além da parte anterior do olho, pela altura do corpo menor que a metade de seu comprimento, ou quase equivalente a ela, e, ainda, pela nadadeira dorsal situada no espaço que separa as nadadeiras ventrais da anal. α) Linha lateral contínua. 34. T. Cuvieri Ltk. (ou Chalceus fasciatus Cuv., Tetragonopterus fasciatus Auct. ex p.?). Forma delgada; a altura do corpo é igual ou ultrapassa ligeiramente a um terço do comprimento total (excluída a nadadeira caudal), nos mais jovens quase equivale à quarta parte do comprimento. O comprimento da cabeça ultrapassa três vezes ou três vezes e meia o diâmetro dos olhos, o qual equivale ao espaço interorbital (Nota do autor: largura da fronte); os olhos dos mais jovens são maiores. A altura da nadadeira dorsal quase equivale ao espaço que a separa da nadadeira adiposa. Nadadeira caudal profundamente bifurcada; as peitorais atingem a base das nadadeiras ventrais ou dela se aproximam. Linha lateral contínua com 38 ou 39 escamas perfuradas; em geral, 7 séries horizontais de escamas na parte anterior do corpo acima da linha lateral, 7-8 abaixo, rarissimamente 5-6/5. Número pequeno de estrias radiais nas escamas. Números de raios: D: 11 (2. 9); P: 12-15; V: 8; A: ( , mais amiúde ). Cor do dorso verde-acastanhada, das laterais e do ventre, prata; nadadeiras dorsal, caudal e anal em parte avermelhadas, cor das demais, amarela ou tendendo para o amarelo; a dorsal, a adiposa e a caudal providas com margens escuras; a anal e as ventrais com margem láctea na parte anterior. Uma faixa prateada matizada para cinza se estende sem interrupção na mancha e listra caudal negra até o ângulo de fissura da nadadeira; vestígio de mancha escapular de ambos os lados, geralmente nos mais jovens. Comprimento máximo: 4 3 /4 polegadas. Encontra-se no Rio São Francisco e no Rio das Velhas e seus afluentes. Nome brasileiro: piaba ou p. do rio. (Ver Prancha V, fig. 12). 35. T. lacustris Rhdt. Ltk. Forma geralmente mais curta e mais alta, altura do corpo equivalente à metade do comprimento (excluída a nadadeira caudal), às vezes menos; os mais jovens em geral mais delgados. O diâmetro dos olhos é quase equivalente a duas partes da largura da fronte, e iguala ou ultrapassa ligeiramente a um quarto do comprimento da cabeça. A altura da nadadeira dorsal é quase igual ao espaço entre esta e a nadadeira adiposa. As nadadeiras peitorais atingem ou quase atingem as ventrais; caudal medianamente bifurcada. Linha lateral contínua de 34 a 36 escamas perfuradas; 6-7, mais raramente 5 séries horizontais de escamas cobrem a parte anterior do corpo acima da linha lateral em ambos os lados, e de 6 a 7 abaixo dela; mais frequentemente, pouquíssimas estrias radiais nas escamas. Em geral, nenhum dente maxilar, apenas um nos exemplares muito grandes. Números de raios: 193 Último raio da anal e da dorsal fendidos. 156

157 D: 11 (2. 9); V: 8; A: ( , em geral 3. 24). Cor do dorso no peixe vivo tendendo para o verde, dos lados e do ventre, prata; nadadeiras amarelas ou tendendo para o amarelo, as ímpares levemente marginadas com preto. Nenhuma faixa lateral nítida nos adultos; mas mancha escapular sempre nítida; a caudal apresenta uma mancha em forma de listra negra que se estende até a incisão da nadadeira; nos mais jovens há também, na parte anterior, um vestígio de faixa lateral estendida para adiante. Comprimento máximo: 5 polegadas. Encontra-se no lago de Lagoa Santa e ainda em alguns riachos vicinais. Nome brasileiro: piaba-rodoleira, p.-do-lago. (Ver Prancha V, fig. 15). β) Linha lateral ora contínua, ora interrompida. 36. T. rivularis Ltk. Forma delgada; altura do corpo quase um terço do comprimento total (excluída a nadadeira caudal). O diâmetro dos olhos é igual ou ultrapassa ligeiramente a quarta parte do comprimento da cabeça, equivalendo à largura da fronte (espaço interorbital) ou sendo um terço menor que ela. A altura da nadadeira dorsal, em geral, não é igual ao espaço entre esta e a adiposa; as nadadeiras peitorais não atingem as ventrais; a caudal é profundamente bifurcada. De 1 a 3 dentes maxilares. Linha lateral em alguns contínua, em outros, mais ou menos abreviada e interrompida, sendo perfuradas somente as escamas anteriores; número de escamas de uma série total, de 33 a 38; número de séries horizontais na parte anterior do corpo em ambos os lados, de 5 a 6 acima e de 6 a 7, abaixo. Numerosas estrias radiais nas escamas. Números de raios: D: 11 (2. 9); V: 8; A: ( , mais frequentemente 3. 18). Cor do peixe vivo cinza-oliva, no ventre vermelho-prata; nadadeiras ventrais e peitorais avermelhadas, as ímpares verde-amarelas, providas de largas margens avermelhadas. Faixa lateral prata matizada para cinza, bastante nítida mormente nos mais jovens, terminando em mancha e listra caudal; mancha escapular frequentemente visível também nos mais jovens. O comprimento não ultrapassa 4 1 /4 polegadas. Encontra-se no Rio das Velhas e seus afluentes. Nome brasileiro: piaba, p.-do-córrego. (Ver Prancha V, figs. 13 e 14). γ) Linha lateral sempre interrompida. 37. T. gracilis Rhdt. Ltk. Tamanho diminuto; forma delgada; a altura iguala ou ultrapassa a quarta parte do comprimento do corpo (sem considerar a nadadeira caudal). O diâmetro dos olhos quase equivale à metade do comprimento da cabeça, ultrapassa a largura da fronte, sendo por vezes quase o dobro maior que esta. Nadadeira caudal profundamente bifurcarda; as peitorais atingem as ventrais; a altura da nadadeira dorsal iguala ou ultrapassa ligeiramente o espaço entre esta e a nadadeira adiposa; linha lateral curta, abrupta, com apenas de 6 a 12 escamas perfuradas anteriores; número total de escamas desta série 32 ou 33; 5 séries horizontais acima e 4 abaixo, em ambos os lados, na parte anterior do corpo; pouquíssimas estrias radiais nas escamas. Números de raios: D: 11 (2. 9); V: 8, A: ( ). Cor do dorso dos peixes vivos pequenos tendendo para verde, cor do ventre, prata; nadadeira dorsal e caudal tendendo para o vermelho, providas de margens pretas e leitosas, a anal com margem leitosa na parte anterior; presença de uma listra estreita lateral prata matizada para cinza em ambos os lados; mancha escapular ausente, nenhuma mancha caudal ou indistinta. Comprimento máximo: 2 polegadas, muitas vezes apenas 1 1 /2. Encontra-se no lago de Lagoa Santa. Nome brasileiro: piabinha-branca. (Ver Prancha, fig. 16). 38. T. nanus Rhdt. Ltk. Tamanho muito diminuto; forma delgada; a altura do corpo ultrapassa ligeiramente a quarta parte do comprimento total; o diâmetro dos olhos ultrapassa a largura da fronte, mas é igual ou quase igual à metade do comprimento da cabeça. Nadadeira 157

158 adiposa raramente presente; as peitorais não atingem as ventrais; a caudal é profundamente bifurcada. Linha lateral muito curta e interrompida, com apenas 4 a 7 escamas anteriores perfuradas; número total de escamas desta série de 30 a 32; 4 séries horizontais acima da linha lateral e a mesma quantidade abaixo, na parte anterior do corpo; pouquíssimas estrias radiais nas escamas. Números de raios: D: (2+8-9); V: 7; A: ( ). Cor do dorso dos pequenos peixes vivos frequentemente dourada, dos lados e do ventre, rubra tendendo para prata; nadadeiras douradas, as ímpares com pontas esbranquiçadas; listra prata estreita matizada para cinza presente em ambos os lados e, ainda, mancha e listra caudal pretas. O comprimento nunca ultrapassa uma polegada. Encontra-se no lago de Lagoa Santa e também em alguns riachos vicinais. Nome brasileiro: piabinha-vermelha. (Ver Prancha V, fig. 17). Chirodon Girard (c. Odontostilbe Cope). (charact. emendatus). Nadadeira dorsal curta, situada no meio do corpo, após as nadadeiras ventrais; a anal é mediana; corpo oval, coberto de escamas de tamanho médio; linha lateral contínua ou interrompida; ventre arredondado; boca pequena e estreita; uma única série de dentes intermaxilares e mandibulares finamente crenulados; alguns dentes maxilares (2-3) ou nenhum. Narinas aproximadas; aberturas branquiais confluentes. 39. Ch. piaba Ltk. Tamanho diminuto; semelhante a Tetragonopterus jovem, porém com boca diminuta, do qual se deve distinguir pela disposição dos dentes etc. A altura do corpo pouco ultrapassa a terça parte do comprimento (excluída a nadadeira caudal), sendo a cabeça quatro vezes mais curta que aquela. O diâmetro dos olhos é igual à largura da fronte, ultrapassando ligeiramente um terço do comprimento da cabeça. O comprimento da nadadeira dorsal (na base) não alcança a metade do espaço entre esta e a nadadeira adiposa; a caudal é profundamente bifurcada; as peitorais atingem as ventrais. Em ambos os lados, 5 dentes intermaxilares estreitos, cerca de 7 mandibulares mais largos; 2-3 maxilares. Linha lateral abreviada, com apenas 9-10 escamas anteriores perfuradas; 35 escamas no total nesta série, 5 séries horizontais acima e a mesma quantidade abaixo, na parte anterior do corpo (exceto as ímpares medianas e a própria linha lateral); poucas estrias radiais nas escamas. Números de raios: D: 11 (2. 9); V: 8; A: 23 (3+20). Cor: uma listra lateral estreita, prateada tendendo para preto e, ainda, mancha caudal ausente, sendo nítida a umeral. Um único exemplar com 1 3 /4 de polegada de comprimento, capturado no riacho afluente do Rio das Velhas. (Ver fig. p. 113). 40. Brycon Reinhardti Ltk. Forma delgada, cabeça mais estreita e mais alongada que em B. Lundii; a altura do corpo, nos mais jovens, é igual a um quarto do comprimento total (até a parte livre não escamosa da nadadeira caudal), mais curta ou igual ao comprimento da cabeça, nos adultos equivalendo a dois sétimos do comprimento total e ultrapassando o comprimento da cabeça. O diâmetro dos olhos, que se situam no meio dos lados da cabeça, cabe duas vezes na largura da fronte que é mais plana e, ainda, no espaço entre a órbita e a margem posterior do opérculo, e equivale a um quarto (nos mais jovens) ou um quinto (nos adultos) do comprimento da cabeça. A extremidade muito arredondada do osso maxilar estende-se para trás sob a parte anterior do olho. A linha lateral, simples nos mais jovens, moderadamente ramificada nos adultos, percorre cerca de cinquenta (50-52) escamas; 9 séries horizontais de escamas acima e 6 abaixo dela na parte anterior do tronco, exceto as medianas ímpares; poucas estrias divergentes nas escamas, pelo menos no dorso. Nadadeira dorsal intercalada exatamente entre as ventrais e a anal e entre o occipício e a nadadeira caudal, sendo duas vezes mais alta que comprida; a altura da nadadeira anal é igual ao comprimento 158

159 da nadadeira dorsal; nadadeira caudal profundamente bifurcada, com os raios medianos não alongados. Números de raios: D: 11 (2. 9); P: 14-15; V: 8; A: 24 (25) ( ). Cor do dorso do peixe vivo cerúlea ou verde-acinzentada, do ventre, prata clara; nadadeira caudal e anal matizando para preto. Mancha escura na base da nadadeira caudal, alongada em forma de faixa até a incisão da caudal. Comprimento: 8 1 /2 polegadas. Encontra-se no Rio das Velhas. Nome brasileiro: peripitinga. 41. Brycon Lundii Rhdt. Ltk. (talvez B. orthotænia Gthr.? da qual difere no número de escamas da linha lateral e também pela presença de dentes internos mandibulares). Forma mais alta, cabeça mais curta e mais alta; a altura do corpo é igual ou quase igual à terça parte do comprimento total (até a nadadeira caudal); o comprimento da cabeça é igual a duas nonas partes do comprimento total e à quinta parte incluindo a nadadeira caudal; a fronte muito larga, convexa, mais larga que o espaço que separa a órbita da margem posterior do opérculo, é igual, em largura, ao dobro do diâmetro dos olhos; no entanto, o diâmetro dos olhos, que ocupam a porção média entre a margem superior e a inferior da cabeça, aproxima-se da quarta parte do comprimento da cabeça. Osso maxilar estreito com extremidade afilada estendendo-se para trás apenas até a margem anterior do olho. A linha lateral percorre cerca de sessenta escamas (59-61), cada uma com suas pequenas e numerosas ramificações; sua parte anterior, quase vertical, dispõe-se paralela ao arco escapular; numerosas estrias convergentes na parte posterior das escamas; onze séries horizontais de escamas acima e cerca de 8 abaixo da linha lateral, na parte anterior do tronco. Nadadeira dorsal um pouco mais próxima do occipício que da nadadeira caudal não profundamente bifurcada, mas com raios médios um pouco alongados, tornando-se quase trilobada; altura da nadadeira anal mais curta que o comprimento da nadadeira dorsal. Números de raios: D: 11 (2. 9); P: 14-15; V: 8 (7); A: ( ); C: Cor do dorso do peixe vivo cerúleo-esverdeada, dos lados do ventre, esbranquiçada, nadadeiras caudal e anal avermelhadas, a caudal com listra longitudinal verde-oliva; mancha caudal presente pelo menos nos mais jovens. Comprimento: 15 1 /3 polegadas. Encontra-se no mesmo lugar da anterior. Nome brasileiro: matrinchã. (Ver fig. pág. 115). Piabina Rhdt. (1866). Dentes trisseriais no osso intermaxilar, cônicos na série anterior, tricuspidados nas posteriores, pouquíssimos na extremidade do osso maxilar, unisseriais tricuspidados na maxila inferior. Corpo alongado, comprimido, abdômen obtusamente carenado. Escamas grandes. Quatro raios branquiostégios. Abertura branquial grande. Dentes faringeanos viliformes. Nadadeira dorsal entre as ventrais e a anal. 42. P. argentea Rhdt. (1866). Comprimento da cabeça menor que a altura do corpo, não alcançando um quarto do comprimento total. Diâmetro dos olhos igual a dois sétimos do comprimento da cabeça, pouco menor que o espaço interorbital. O focinho projeta-se pouco além da mandíbula; narinas aproximadas. Linha lateral com 40 a 41 escamas,11 entre o meio do dorso e as ventrais; de 10 a 12 estrias nas escamas. Números de raios: D: 10 (2. 8); P: 13-14; V: 8-9; A: 22 (3. 19); C: Cor do dorso nos vivos esverdeada, dos lados, prateada, com faixa lateral prateada brilhante; nadadeira dorsal e anal, em parte, enegrecidas. Comprimento: 75 mm. Encontra-se em riacho afluente do Rio das Velhas. Nome brasileiro: piaba. (R.). (Ver fig. p. 118). d. Hydrocyonina. 43. Cynopotamus (Roeboides) xenodon (Rhdt.) (1849). Altura do corpo quase a terça 159

160 parte do comprimento total até as pontas da nadadeira caudal profundamente bifurcada; cabeça ligeiramente mais curta que em C. gibboso; largura da fronte pouco maior que o diâmetro dos olhos; abertura da boca menor que em C. gibboso; parte posterior do maxilar sem dentes; à exceção da série regular dos dentes inter e inframaxilares, há alguns dentes cônicos e horizontais apreciáveis voltados para fora. Linha lateral com 57 a 66 escamas. Números de raios: D: 2. 9; P: 14-15; V: 8; A: (4. 44 ou 47); C: 28 ( ). Cor do peixe vivo prateada, dorso esverdeado, mancha escapular (mais ou menos nítida) e caudal pretas. Comprimento: 115 mm. Encontra-se no Rio das Velhas e nos riachos afluentes. Nome brasileiro: cachorra. (R.) 44. Salminus Cuvieri Val. Comprimento da cabeça igual à altura do corpo e à quarta parte do comprimento total (até a incisão da nadadeira caudal). O diâmetro dos olhos é igual à metade da largura da fronte, um pouco mais curto que um sexto do comprimento da cabeça. Primeiro raio da nadadeira dorsal mais próximo da nadadeira caudal que da ponta do focinho; a adiposa oposta aos últimos raios da nadadeira anal; caudal bifurcada, embora alongada na parte média. Linha lateral, ascendente na parte da frente, com cerca de 80 (78?) escamas; de 12 a 13 séries horizontais de escamas, em ambos os lados, acima, e de 10 a 11, abaixo da linha lateral, exceto as medianas ímpares. Números de raios: D: (2+8-9); P: 14-15; V: 8 (1. 7); A: ( ); C: 25 ( ). Seis dentes intermaxilares, maxilares e em cada ramo da mandíbula. Cor do dorso cinza-esverdeada, prata brilhante; manchas pretas, douradas em volta, guarnecem muitas escamas do dorso e dos lados matizadas de prata; cerca de 15 listras longitudinais paralelas interrompidas ou compostas de pontos, desaparecendo em direção ao ventre. Partes inferiores dos lados do corpo douradas, ventre, cabeça e cauda esbranquiçados na parte de baixo. Nadadeira dorsal olivácea, com margem purpúrea descolorida, peitorais, ventrais e anal douradas, com a ponta ou a margem cor de sangue; uma mancha caudal preta em forma de listra se estende pelo meio da nadadeira caudal dourada, sendo margeada por área cor de sangue. Comprimento: quatro pés. Encontra-se no Rio São Francisco e no Rio das Velhas e seus afluentes maiores (Rio Cipó, s. n. S. brevidentis Gthr., non Cuvier). Nome brasileiro: dourado. 45. Salminus Hilarii Val. Difere da anterior pelos dentes, que são menores; as escamas, no entanto, são maiores e em menor número: 67 na linha lateral, 10 acima e 7 abaixo desta na parte anterior do tronco. Um único exemplar jovem (8 1 /4 polegadas de comprimento), proveniente do Rio das Velhas, apresenta quase os mesmos números de raios: dorsais 11 (2+9), anais 27 (3.24); número igual de dentes: 6-7 intermaxilares, maxilares e 23 em cada ramo da mandíbula. Não parece ser diferente de S. Cuvieri de mesmo tamanho, no que se refere à altura do corpo, no comprimento da cabeça, à inserção da nadadeira dorsal, forma da nadadeira caudal etc. (Encontra-se também no Rio São Francisco). 46. Xiphorhamphus lacustris Rhdt. Ltk. Dois dentes maiores (caninos), em ambos os lados, na parte anterior do osso maxilar com alguns diminutos intercalados. O comprimento da cabeça é comumente igual a dois sétimos do comprimento total (excluída a nadadeira caudal); a altura do corpo nos mais jovens equivale a um quinto do comprimento, nos adultos, a dois nonos. O focinho nos mais jovens é igual em comprimento ao espaço entre o centro do olho e a margem anterior do pré-opérculo, nos adultos o ultrapassa. O diâmetro dos olhos nos adultos é igual ou quase igual a um sexto do comprimento da cabeça, nos mais jovens equivale ou ultrapassa a um quinto do comprimento; nestes é maior do que a metade do focinho, naqueles, quase a terça parte; nos mais jovens, a extremidade do osso maxilar atinge a margem posterior da órbita, nos adultos, estende-se para trás, indo além desta. 160

161 Primeiro raio da nadadeira dorsal comumente situado pouco além do meio do corpo, entre a extremidade occipital do crânio e a origem da nadadeira caudal, raras vezes intercalado exatamente entre elas; nadadeira dorsal muito mais alta que longa, sendo a altura um pouco maior ou igual ao espaço entre as nadadeiras dorsais; a nadadeira anal começa sob o último raio dorsal e é mais longa que o dobro da nadadeira dorsal, embora menos alta que ela; a adiposa está inserida sobre os últimos raios anais; a caudal nos mais jovens é profundamente bifurcada; as extremidades das peitorais ficam bem distantes das ventrais. Papila urogenital grande, oculta em uma depressão, nas fêmeas adultas. Cor nos vivos, em cima, verde-olivácea, embaixo, prateada; manchas pretas, umeral e caudal, presentes. Número de raios: D: 11 (2. 9) (mais raramente 10: 2. 8); P: 14-16; V: 8; A: ( , mais raramente 22). Cerca de 100 (96-98) escamas da linha lateral. Comprimento: 12 polegadas. Encontra-se no lago de Lagoa Santa. Nome brasileiro: bicuda. e. Serrasalmonina. 47. Serrasalmo (Pygocentrus) piraya Cuv. Forma do corpo elíptica, dorso convexo, fronte quase vertical, focinho obtuso avantajado, mandíbula proeminente. Altura do corpo igual à metade do comprimento total (nadadeira caudal incluída); comprimento da cabeça equivalente à metade da altura do corpo e a um terço do comprimento total (nadadeira caudal excluída). Os suborbitais, o pré-opérculo, os operculares, o supra-orbital e o supratemporal são esculturados com estrias. Diâmetro dos olhos maior que um sexto do comprimento da cabeça e que um terço do espaço interorbital. O segundo osso suborbital, contíguo ao préopérculo, é igualmente longo e largo; opérculo quatro vezes mais alto que largo. Nadadeira dorsal (começando mais perto do occipício que da nadadeira caudal, porém mais próxima desta que da ponta do focinho) mais curta que a anal, quase equivalente em comprimento à metade do corpo; nadadeira adiposa nos adultos sustentada por 7 raios ósseos, articulados, ramificados (no mais jovem por um único raio); as peitorais atingem as ventrais, mas as ventrais não atingem a anal; a dorsal e a anal não são muito mais altas na parte anterior. Número de escamas da linha lateral quase 100, de espinhos ventrais, cerca de 25 a 26; de raios D: ( ); P: 14-17; V: 6-7; A: ( ); C: Cor dorsal do corpo e da cabeça, bronze-escuro, assim como da maioria das nadadeiras; nos lados e no ventre é dourada ou prata-brilhante. Comprimento: 15 polegadas. Encontra-se no Rio das Velhas (e também no Rio São Francisco, etc.). (Ver fig. p. 125). Nome brasileiro: piranha-rodoleira. 48. Serrasalmo (s. str.) Brandtii Rhdt. Ltk. Nos exemplares médios a altura máxima é geralmente igual à metade do comprimento (até a base da nadadeira caudal) ou não atinge inteiramente essa proporção (nos mais jovens) ou ainda a ultrapassa um pouco (nos maiores), de tal maneira que é igual à metade do comprimento total até à margem da nadadeira caudal. Em alguns, o dorso é quase horizontal, mas inclinado anteriormente; em outros, mais curvo, sendo a região parietal côncava. O comprimento da cabeça é quase igual a três décimos do comprimento total (até a nadadeira caudal). O diâmetro dos olhos nos adultos é igual a dois nonos do comprimento da cabeça (desde a ponta do focinho até a abertura branquial), ultrapassa a metade do espaço interorbital e iguala o comprimento do focinho; nos mais jovens é maior, igualando ou ultrapassando um quarto do comprimento da cabeça e três quartos do espaço interorbital. O segundo osso suborbital é mais comprido que alto, separado da parte horizontal do pré-opérculo por espaço cutâneo muito estreito, às vezes evanescente, sendo mais 161

162 nítido nos mais jovens. Dentes palatinos sempre presentes. Nadadeira caudal truncada nos adultos, entalhada nos mais jovens; comprimento da dorsal menor que sua altura na frente, embora maior que a metade do comprimento da cabeça; primeiro raio dorsal um pouco mais próximo dos olhos, nos jovens, e da nadadeira caudal, nos adultos. Nadadeira adiposa semiescamosa; a anal equivale à cabeça em comprimento, sendo um pouco proeminente na parte anterior; as ventrais, situadas antes da dorsal, não atingem a anal, mas as peitorais alcançam as ventrais. Adultos de cor uniforme com dorso mais escuro; os mais jovens salpicados com numerosas manchas negras diminutas; uma faixa em meia-lua guarnece a base e a margem anterior 194 da nadadeira caudal. Números de raios: D: ( ); P: 13-16; V: 6-7; A: ( ); C: ; escamas: cerca de 90 e (30 acima e 25 abaixo da linha lateral); espinhos ventrais, além de 2 ou 3 anais. Comprimento: 9 polegadas. Encontra-se no lago chamado Lagoa Santa, e, ainda, nos riachos vicinais afluentes do Rio das Velhas. Nome brasileiro: piranha-da-lagoa, quando jovem, pirampeba. (Ver fig. p. 128). 49. Myletes (Tometes) micans Rhdt. Ltk. A altura máxima (entre a nadadeira dorsal e as ventrais) não chega a duas partes do comprimento total (até a nadadeira caudal); o comprimento da cabeça é igual a quase um terço da altura do corpo, mas a dois nonos do comprimento total (até a nadadeira caudal). Os olhos, situados no meio dos lados da cabeça, estão equidistantes da ponta do focinho e da margem do opérculo e têm um diâmetro equivalente a um quarto do comprimento da cabeça ou à metade do espaço interorbital; a largura do osso opercular é um quarto de sua altura. Dentes , comprimidos e separados, à exceção dos mandibulares internos, que são cônicos, baixos ou pouco altos; intermaxilares anteriores um pouco distantes entre si, os posteriores estreitamente apertados contra eles, mandibulares da primeira série muitíssimas vezes providos de uma cúspide acessória, e os da frente com duas. Dorso convexo, um pouco deprimido sobre os olhos. Primeiro raio da nadadeira dorsal mais próximo da caudal que da ponta do focinho; ventrais, porém, mais próximas do focinho, mas colocadas na mesma linha vertical desse raio. O comprimento da nadadeira dorsal é igual ou quase igual ao comprimento da nadadeira anal e à metade da altura do corpo; a altura à frente em ambas é igual ou ultrapassa ligeiramente o comprimento da cabeça, mas a anal é mais baixa na porção posterior que a dorsal; nadadeira caudal profundamente entalhada; peitorais um pouco mais curtas que a cabeça, tendo as ventrais um terço ou metade do comprimento daquela. Uma linha dorsal estreita, nua, estende-se desde o occipício até a nadadeira dorsal. Números de raios: D: ( ); P: 16; V:8; A: ( ); C: ; espinhos ventrais (anais), cerca de e escamas ( escamas na linha lateral, 35 acima e abaixo dela). Cor nos vivos verde-azulada na parte de cima, prateada clara embaixo, nadadeiras dorsal e caudal cinza, munidas de largas margens vermelho-rubras, anal cor de sangue, ventrais esbranquiçadas, peitorais amarelo-claras. Comprimento: 13 polegadas. Encontra-se no Rio das Velhas e no Rio Taquaruçu. Nome brasileiro: pacamão ou pacu. (Ver fig. p. 133). III. Gymnotini. 50. Carapus fasciatus Pall. Encontra-se no lago de Lagoa Santa e nos riachos vicinais; observado igualmente perto do Rio de Janeiro. Nome brasileiro: sarapó. 194 NR: Esta espécie de piranha tem uma faixa na base (como descrito por Lütken) e uma faixa na margem posterior da nadadeira caudal. Não pode ser margem anterior. 162

163 51. Sternopygus carapo (L.) (Marcgravii Rhdt. 1853). Comprimento da cabeça (até o occipício) igual a um décimo ou 1/11 do comprimento total. Olhos providos de pálpebra circular, com diâmetro equivalente a um terço do espaço interorbital e um quarto do espaço entre os olhos e a ponta do focinho. A maxila superior projeta-se um pouco além da mandíbula. De 17 a 20 dentes palatinos diminutos, bi ou trisseriados, dispostos em sequências em ambos os lados; intermaxilares viliformes. Opérculo envolvido por margem membranosa. A nadadeira anal começa na base das nadadeiras peitorais; número de raios: Cor do peixe vivo uniformemente marrom-escura. Comprimento máximo: 462 mm. Encontra-se no Rio das Velhas. Nome brasileiro: peixe-espada-do-rio. (R.). 52. Sternopygus virescens Val. (microstomus Rhdt. 1853). Olhos cobertos de pele, sem pálpebras, cabendo seu diâmetro duas vezes no espaço interorbital e no espaço entre os olhos e a ponta do focinho. Boca diminuta, quando aberta, mais estreita que o diâmetro ocular; osso maxilar mais curto, com o mesmo diâmetro; dentes palatinos como em S. carapo, porém menores. Opérculo sem qualquer margem membranosa. Corpo bastante comprimido, teniforme, sendo a maior altura (atrás da ponta das nadadeiras peitorais) igual ou quase igual a um sétimo do comprimento total; a espessura do corpo (no mesmo lugar) não atinge a terça parte da altura. A nadadeira anal nasce sob o ângulo basal posterior das nadadeiras peitorais; número de raios: 202. Cor esbranquiçada, mas o dorso e os lados densamente cobertos de pontos amarronzados diminutos. Uma listra escura guarnece a linha lateral; uma segunda listra ocorre junto à base da nadadeira anal; uma terceira é intermediária, embora mais próxima da inferior. Comprimento 140 mm. Encontra-se no lago de Lagoa Santa. Nome brasileiro: peixe-espada-da-lagoa. (R.) 53. Sternarchus brasiliensis Rhdt. (1853). Corpo bastante comprimido; cabeça comprimida e alongada em forma de cunha, comprimento (até o occipício) igual a um nono ou um décimo do comprimento total. Olhos diminutos, cobertos de pele, com diâmetro não alcançando a metade do espaço interorbital. Abertura da boca, grande; os dentes intermaxilares, raríssimos e pouco visíveis, formam pequeno agregado oblongo em ambos os lados; mandibulares maiores em duas séries, retrorsos na série interior. Ânus situado pouco depois dos olhos. As nadadeiras peitorais equivalem a cinco oitavos do comprimento da cabeça; a anal nasce antes da abertura branquial; caudal arredondada. Números de raios: P: 18; A: ; C: Cor do peixe, marrom-escura. Comprimento máximo 400 mm. Encontra-se no Rio das Velhas. Nome brasileiro: peixe-espada-com-boca-rachada. (R.). IV. Sciænoidei. 54. Pachyurus Lundii Rhdt. (1854). A altura do corpo equivale a dois nonos do comprimento total até a ponta da nadadeira caudal obliquamente rombóide e arredondada na parte inferior; o comprimento da cabeça ultrapassa um pouco a altura do corpo e não alcança um quarto do comprimento total. Cinco poros mandibulares. Brânquia opercular presente. Segunda nadadeira dorsal e a caudal escamosas, à exceção de estreita margem; também as ventrais com algumas escamas nos interstícios dos raios, escamas que, às vezes, aparecem na parte basal da primeira nadadeira dorsal e da anal. O segundo raio anal ultrapassa a metade do comprimento da cabeça. Boca algo superior, mandíbula proeminente, não incluída entre os ossos intermaxilares quando a boca está fechada. Cabeça e focinho comprimidos, fronte estreita, côncava, sobretudo nos mais jovens; olhos situados na linha que liga a ponta do focinho à origem da linha lateral; seu diâmetro é igual à largura da fronte ou a ultrapassa 163

164 ligeiramente, nos adultos equivale a um sexto do comprimento da cabeça, sendo maior nos mais jovens. Primeiro raio da nadadeira dorsal anterior inserido sobre o último raio (interior) da nadadeira ventral. O comprimento da segunda nadadeira dorsal é quase igual a um terço do comprimento total. Linha lateral, desde o opérculo até a base da nadadeira caudal com 120 a 130 escamas. Números de raios: D 1 : 10; D 2 : ; P: ; V: 1. 5; A: 2. 8; C: Cor do dorso prateada tendendo para o cinza, com listras oblíquas acinzentadas, o restante prateado; dorsal anterior prateada com membrana matizada para cinza e com manchas negras diminutas, a posterior com raios manchados e margem negra; as demais, branco-amareladas. Comprimento 15 1 /2 polegadas. Encontra-se no Rio das Velhas. Nome brasileiro corvina (compare-se com P. squamipennis, Ag.). 55. Pachyurus (Lepipterus) corvina Rhdt. (1849). Altura do corpo e comprimento da cabeça aproximadamente equivalentes à quarta parte do comprimento total até a ponta da nadadeira caudal. Forma da nadadeira caudal, brânquia acessória, poros mandibulares, escamação das nadadeiras, iguais à anterior. O segundo raio da anal nos mais jovens ultrapassa a metade do comprimento da cabeça, sendo igual ou quase igual àquela nos adultos. Boca inferior, focinho grosso e obtuso que se projetam além da saliência da mandíbula, que fica recolhida entre os intermaxilares, quando a boca está fechada. Os olhos estão situados na linha que une a ponta do focinho à origem da linha lateral, seu diâmetro menor que a largura da fronte, que nesta espécie é mais larga e não côncava, e equivale nos adultos a um sexto do comprimento da cabeça, sendo maior nos mais jovens. Primeiro raio da nadadeira dorsal anterior inserido acima ou antes do primeiro raio (externo) da nadadeira ventral. Comprimento da nadadeira dorsal posterior igual a três décimos ou dois sétimos do comprimento total. Cerca de 90 escamas na linha lateral, desde o opérculo até a base da nadadeira caudal. Números de raios: D 1 : 10; D 2 : ; P: ; V: 1-5; A: ; C: Cor prateada, o dorso cinza-esverdeado com faixas oblíquas acinzentadas, passando a violáceo na fronte; membranas da nadadeiras dorsais manchadas de negro irregularmente; anal, ventrais e peitorais douradas. Comprimento 15 polegadas. Encontra-se no mesmo lugar do anterior. Nome brasileiro: corvina, como a espécie anterior. (compare-se com Lepiptero Francisci Cuv.). 164

165 Além das espécies provenientes do Rio S. Francisco e seus afluentes (Rio Cipó e R. Sabará), já enumeradas nesta sinopse, duas das quais (Plecostomus Francisci Ltk. e Prochilodus argenteus Sp.) recém-chegadas do rio principal, foram descritas as seguintes espécies, ao que parece, importantíssimas, encontradas naquelas águas, mas não no Rio das Velhas: Siluroidei: Loricaria nudiventris Val. S. F. Rhinelepis aspera Sp. S. F. Plecostomus Commersonii Val. (subcarinatus Cast.). Minas. Pterygophlichthys duodecimalis Val. S. F. Rhinodoras niger Val. (edentulus Spix, Humboldtii Ag.). Characini: Erythrinus unitæniatus Sp. S. F. Brycon Hilarii Val. S. F. Myletes (Tometes) altipinnis Val. S. F., Rio Cipó. Sciænoidei: Pachyurus Francisci (Cuv.). S. F. Pachyurus squamipennis Ag. S. F.? Acrescentam-se finalmente algumas espécies descritas por autores, mas muito menos duvidosas ou que merecem ser novamente examinadas, principalmente Characini, as quais se podem ter, em parte, como sinônimas das espécies acima enumeradas. Siluroidei: Platystoma corruscans Ag. (S. F.) = P. orbignianum Val.? (n o 11) Pimelodus bufonius Gthr. (Rio Cipó) = Pseudopimelodus charus Val. (n o 22) Characini: Erythrinus salvus Ag. (S. F.) = E. unitæniatus Spix? E. microcephalus (& macrodon Ag.) (S.F.) = Macrodon trahira Sp. (n o 23) Prochilodus costatus Val. (S. F.) = P. argenteus Spix? (n o 26) Leporinus melanopleura Gthr. (R. Cipó) = L. tæniatus Rhdt., Ltk.? (n o 32) L. acutidens & obtusidens Val. pp. (S.F.) = L. Reinhardti Ltk.? (n o 31) L. pachyurus Gthr. (não Val.) (R. Cipó) = L. elongatus Val. (n o 30). Chalceus (Tetragonopterus) fasciatus Cuv. (S.F.?) = T. Cuvieri Ltk.? (n o 34). Brycon orthotænia Gthr. (R. Cipó) = B. Lundii Rhdt., Ltk.? (n o 41) Brycon carpophagus Cast. (ou apenas Val.?) (R. Sabará); qual? Serrasalmo aureus Val. (p. p.) (S. F.?); qual? 165

166 Referências Bibliográficas Lista das obras citadas no texto de Lütken, e tradução de seus nomes, em ordem alfabética. Abhandl. d. math. phys. Classe d. kön. bayerschen Akad. d. Wiss.: Transações da classe de matemáticas e física da Academia Real de Ciência da Baviera Allg. Natur. d. Fische: História natural dos peixes American Journ. of Science: Revista americana de Ciência Annals of natural history: Anais de história natural Annals of the Lyceum of Natural History of New York: Anais do Liceu de História Natural de Nova Iorque Arch. f. Naturgeschichte: Arquivos de história natural Berl. Monatsber.: Informes mensais de Berlim Characinen: Os caracídeos Catalogue of Acanthopterygian Fishes in the Brit. Museum, II: Catálogo de peixes acantopterígios do Museu Britânico Catalogue of Apodal fishes in the British Museum: Catálogo de peixes ápodes do Museu Britânico Catalogue of fishes in the British Museum: Catálogo de peixes do Museu Britânico Denkschr. d. mathem. naturw. Cl. d. k. Akad. d. Wiss: Memoriais da classe de matemáticas e ciências naturais da Academia Real de Ciências den naturhistorisk Forenings Videnskabelige Meddelelser: Comunicações científicas à Sociedade de História Natural Expédition dans les parties centrales de l Amérique du Sud etc. pendant les années 1844 à Part. VII. Zoologie. Poissons.: Expedição às partes centrais da América do Sul etc. entre os anos de 1844 e Parte VII. Zoologia. Peixes Fishes of Guyana: Peixes da Guiana Histoire naturelle des poissons: História natural dos peixes Historiæ rerum naturalium Brasiliæ lib.: Livro de história das coisas naturais do Brasil Horæ Ichthyologicæ: Momento ictiológico Ichthyologishche Beiträge z. Fam. d. Characinen: Contribuições ictiológicas à família dos caracídeos Ichthyologische Mittheilungen: Comunicações ictiológicas Ichthyologishe Notizen: Notas ictiológicas Journal of Anatomy and Physiology: Revista de Anatomia e Fisiologia Mémoires du Muséum d histoire naturelle: Memórias do Museu de História Natural Oversigt over d. K. d. V. Selsk. Forhandl.: Revisão das transações da Sociedade Real de Ciências Dinamarquesa Proc. Amer. Phil. Soc.: Anais da Sociedade Americana de Filosofia Proceed. Acad. natur. scienc. Philadelphia: Anais da Academia de Ciências Naturais da Filadélfia Proc. Zool. Soc.: Anais da Sociedade de Zoologia Reise nach Brasilien in den Jahren 1815 bis 1817: Viagem ao Brasil nos anos de 1815 a 1817 Revue de Zoologie: Revista de Zoologia Selecta genera et species piscium: Gêneros e espécies selecionados de peixes Sitzungsber. d. k. Akad. d. Wissensch.: Atas da Academia Real de Ciências Sitzungsberichte d. mathem. naturw. Cl. d. kaiserl. Akad. d. Wiss., Ichthyologische Beiträge: Atas da classe de matemáticas e ciências naturais da Academia Real de Ciências, Contribuições ictiológicas The descent of man and selection in relation to sex (1874): A descendência do homem e seleção em relação ao sexo (1874) The U.S. Naval Astronomical expedition: A expedição Astronômica Naval dos Estados Unidos Uranie: Urânia Verhandl. d. K. K. zool. bot. Ges. Wien.: Transações da sociedade de zoologia e botânica da Academia Real de Viena Videnskabelige Meddelelser fra den naturhistoriske Forening: Comunicações científicas da Associação de História Natural Videnskabernes Selskabs Oversigter: Revisões da Sociedade dos Cientistas Voyage aux sources du Rio S. Francisco et dans la province du Goyaz: Viagem às nascentes do Rio S. Francisco e no Estado de Goiás Zoology of the Voyage of H. M. S. Beagle : Zoologia da viagem do navio de Sua Majestade Beagle 166

167 Capítulo 3 A Fauna de Peixes da Bacia do Rio das Velhas no Final do Século XX Carlos Bernardo Mascarenhas Alves Biólogo, Mestre em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre (UFMG) Coordenador do Núcleo Transdiciplinar e Transinstitucional da Bacia do Rio das Velhas NUVELHAS Projeto Manuelzão & Paulo dos Santos Pompeu Biólogo, Doutor em Meio Ambiente, Saneamento e Recursos Hídricos (UFMG) Professor Adjunto da Universidade Federal de Lavras Recomendação para citação do capítulo: Alves C.B.M., Pompeu P.S., A fauna de peixes da Bacia do Rio das Velhas no final do século XX. In: Alves C.B.M., Pompeu P.S. (Org.) Peixes do Rio das Velhas: passado e presente. Belo Horizonte, ARGVMENTVM. cap. 3, p

168 A Fauna de Peixes da Bacia do Rio das Velhas no Final do Século XX Carlos Bernardo Mascarenhas Alves & Paulo dos Santos Pompeu 1 Introdução O rio das Velhas é o maior afluente em extensão da bacia do São Francisco. Orientado no sentido Sudeste-Noroeste, estende-se por 761 km de sua nascente, a m de altitude, nas proximidades de Ouro Preto, à confluência com o rio São Francisco na Barra do Guaicuí. A vazão média anual estimada em sua foz é de 300 m 3 /s e a largura média, de 38,3 m (CETEC, 1983). Sua bacia, com área de drenagem de km 2, está localizada inteiramente no território mineiro (CETEC, 1983), abrangendo, total ou parcialmente, 51 municípios. O rio das Velhas tem hoje importância econômica e social significativa. Em seu curso superior localiza-se a região metropolitana de Belo Horizonte, com mais de 3 milhões de habitantes (IBGE, 2000), sendo responsável pela maior parte de seu abastecimento de água. A história de ocupação da bacia do rio das Velhas começou com os primeiros bandeirantes, na busca de ouro e pedras preciosas. A descoberta destas riquezas fez nascerem os primeiros aglomerados urbanos da região, como as cidades de Sabará e Ouro Preto. Consequentemente, teria início o processo de degradação da bacia. As alterações provocadas pela mineração foram mais intensas nas planícies aluviais cheias de cascalho e nos leitos dos rios. Na década de 1730, registrou-se que os rios Sabará e das Velhas começavam a tornar-se lamacentos devido à lavagem de aluviões (Dean, 1996). A partir de 1898, com a transferência da capital de Minas Gerais para Belo Horizonte, consolidou-se um pólo emergente de urbanização e industrialização que acabou gerando um novo ciclo das atividades mineradoras, caracterizado pela exploração de jazidas de ferro e pela implantação de siderúrgicas próximo às margens do rio das Velhas (Fundo-Fundep, 2000). O rio das Velhas foi um dos primeiros rios mineiros a serem estudados. Na primeira metade do século XIX, museus e governos europeus financiavam a vinda de pesquisadores para a América do Sul. Nessa época, naturalistas como Humboldt, Spix, Martius, Saint-Hilaire, Wallace, entre outros, estiveram em nosso continente. O notável paleontólogo dinamarquês Peter W. Lund chegaria nesse contexto, em viagem patrocinada pela coroa Britânica, da qual participava Charles Darwin (Cartelle, 1994). A partir do estabelecimento de Lund na cidade de Lagoa Santa, a região do alto rio das Velhas passou a ser visitada por naturalistas dinamarqueses. A seu convite, Johannes T. Reinhardt, que já o havia visitado em outra oportunidade, permaneceu na região por duas temporadas, entre 1850 e 1856, quando fez coletas de peixes que permitiram a descrição de cerca de duas dezenas de espécies. Todo o material coletado foi descrito ou redescrito na monografia de Lütken (1875), que pode ser considerada o primeiro trabalho que sintetiza os conhecimentos sobre os peixes de uma bacia hidrográfica brasileira. 168

169 Nessa mesma época, a piscosidade do rio das Velhas era salientada pelos exploradores estrangeiros. Richard Burton, que percorreu seu curso superior em 1867 na célebre viagem de canoa de Sabará ao oceano Atlântico, registrou: Esta parte do rio apresenta perspectivas para uma indústria muito mais valiosa nos grandes cardumes de peixe que percorrem as águas (... ) Quem visitar estes rios deve vir munido de caniço com os maiores anzóis de água doce e com sistema de enrolamento mais resistente; do contrário, os peixes que pesam mais de 50 kg o surpreenderão. (Burton, 1977). Atualmente, o rio das Velhas encontra-se em adiantado processo de degradação, que resulta das diversas atividades antrópicas exercidas em sua bacia de drenagem. As maiores fontes poluidoras estão em seu curso superior, que recebe, além de resíduos minerários, a maior parte do esgoto doméstico e industrial da região metropolitana de Belo Horizonte. Os efeitos da poluição no curso superior se fazem sentir ao longo de todo rio, com água de baixa qualidade e frequentes episódios de mortandade de peixes. Apesar do elevado grau de degradação do rio, ainda se encontram afluentes de grande porte com elevado nível de conservação. Entre esses destaca-se o rio Cipó, cujas cabeceiras se localizam no Parque Nacional da Serra do Cipó. A tendência atual de implantação de estações de tratamento de esgotos em vários municípios, Belo Horizonte inclusive, aponta perspectivas de melhoria da qualidade da água do rio das Velhas e de recuperação da bacia como um todo. O presente estudo teve como objetivo realizar um diagnóstico atual da ictiofauna da bacia do rio das Velhas, mais de um século após os levantamentos de Reinhardt publicados por Lütken (1875) e traduzidos, pela primeira vez, neste livro. A proposta deste capítulo é estabelecer um marco comparativo que possa, juntamente com o trabalho de Reinhardt e Lütken, servir de base para futuras avaliações e tomadas de decisões relacionadas à recuperação e preservação da fauna de peixes deste importante afluente do rio São Francisco. 2 A ictiofanua atual do rio das Velhas Com o objetivo de realizar um diagnóstico atual da ictiofauna da bacia do rio das Velhas, foram feitas três campanhas semestrais para amostragem de peixes, entre junho de 1999 e junho de Nesse período, dados sobre a ocorrência das espécies também foram coletados durante episódios de mortandade e em entrevistas com pescadores. Em cada campanha, as coletas foram realizadas em seis pontos da calha do rio das Velhas e em duas regiões no rio Cipó, afluente de grande porte também amostrado por Reinhardt (Figura 1). No rio das Velhas, os locais de amostragem foram distribuídos ao longo de todo o seu curso, incluindo as regiões a montante e a jusante da Região Metropolitana de Belo Horizonte. No rio Cipó foram amostrados o seu médio e baixo curso. RV 01: cabeceira do rio das Velhas, próximo a São Bartolomeu (município de Ouro Preto): Nesse local, o rio das Velhas é raso, com substrato pedregoso, águas frias e de boa qualidade ( S, W); RV 02: rio das Velhas, em Sabará. Apesar de bastante degradado e poluído, este trecho ainda conserva condições mínimas para ocorrência dos peixes. Este ponto foi amostrado durante um episódio de mortandade ( S, W); 169

170 Figura 1: Mapa da bacia do rio das Velhas, com seus principais cursos d água e locais de amostragem no final do século XX. A área sombreada indica a provável área de coleta de J.T. Reinhardt no século XIX. 170

171 RV 03: rio das Velhas, a jusante de Lagoa Santa. Trecho do rio com índices de poluição mais elevados, por estar abaixo da desembocadura dos ribeirões Arrudas, do Onça e da Mata, que drenam os esgotos da região metropolitana de Belo Horizonte ( S, W); RV 04: rio das Velhas, próximo a barra do Luiz Pereira (município de Santana do Pirapama). Apesar de estar em melhor condição que o ponto anterior, a água ainda exala forte odor e apresenta sinais visuais do processo de eutrofisação: ( S, W); RV 05: rio das Velhas, próximo a Caquende (município de Curvelo). Nesta altura, há trechos com vegetação ciliar preservada e uma maior variedade de ambientes, incluindo corredeiras e praias de cascalho ( S, W); RV 06: rio das Velhas, em Lassance. A presença de corredeiras e a entrada, a montante, dos seus principais tributários, conferem à água uma aparência de boa qualidade, semelhante à do ponto RV 01 ( S, W); CP 01: rio Cipó a jusante do Parque Nacional da Serra do Cipó (distrito de Serra do Cipó, antigo Cardeal Mota, município de Santano do Riacho). Possui águas frias, correntosas, transparentes e de excelente qualidade ( S, W); CP 02: rio Cipó próximo à confluência com o rio Paraúna (município de Presidente Juscelino). Nesse trecho, o rio corre sobre grandes lajes, com poções e corredeiras intercalados ( S; W). Para a coleta dos peixes, foram utilizadas redes de espera, com malha de 3 a 16 cm entre nós opostos, redes de arrasto de tela mosquiteira, tarrafas e peneiras. As redes de espera foram armadas na coluna d água ao entardecer e retiradas na manhã seguinte, ficando expostas por um período aproximado de 14 horas. As demais artes de pesca foram utilizadas no período diurno, junto às margens, praias e corredeiras. Até agora foram registradas 93 espécies de peixes na bacia do rio das Velhas (Anexo 1, p. 185). Este valor é bastante expressivo, considerando-se a estimativa que toda a bacia do rio São Francisco tem pouco mais de 200 espécies, da cabeceira à sua foz, no oceano Atlântico, que inclui variada gama de ambientes, como riachos de cabeceira, afluentes de porte variado, lagoas marginais, veredas, a própria calha principal e seu estuário. Das espécies capturadas neste estudo, duas foram registradas pela primeira vez na bacia do rio São Francisco: o timboré (Leporinus amblyrhynchus), espécie de um piau de pequeno porte, coletado no rio Cipó, e uma espécie de saguiru (Steindachnerina corumbae), registrada na calha do rio das Velhas e no rio Cipó. Tais espécies eram até então conhecidas apenas para a bacia do rio Paraná. Outras duas, a rabeca (Bunocephalus sp. n.) e o cascudo (Rineloricaria sp. n.) são espécies novas e ainda não foram descritas. Das três espécies de peixes oficialmente relacionadas como ameaçadas de extinção em Minas Gerais (Minas Gerais, 1996), uma possui distribuição natural na bacia do rio São Francisco: Characidium lagosantense. Essa espécie, que já havia sido registrada no Parque Nacional da Serra do Cipó (Vieira et al., 2005), foi capturada nesse mesmo rio, no ponto CP 01. Esse afluente constitui o único curso d água em que esta espécie tem sido registrada. 171

172 Além de C. lagosantense, pelos menos outras 12 espécies consideradas raras, ameaçadas ou presumivelmente ameaçadas de extinção foram registradas, de um total de 22 citadas para a bacia do rio São Francisco (Rosa & Menezes, 1996; Lins et al., 1997; Alves & Vono, 1999; Romero & McLeran, 2000). A maioria delas foi capturada nos pontos localizados no curso inferior do rio das Velhas e no rio Cipó (Anexo 1). Na bacia do São Francisco, pelo menos 11 espécies podem ser consideradas migradoras, todas com registro na bacia do rio das Velhas. Mas, diante do conhecimento ainda incipiente, esse comportamento ainda não foi avaliado para uma parcela maior da comunidade, principalmente para outras reofílicas 195 (Anexo 1), pouco estudadas em razão de sua pequena importância comercial e de seu menor porte. Entre os migradores, pode ainda haver uma grande variação da extensão percorrida para atender às necessidades de cada espécie. Há espécies que migram alguns poucos quilômetros e que percorrem trechos superiores a 200 km. Em virtude de seu grande porte e abundância, as espécies migradoras são também as mais importantes na pesca comercial na bacia do São Francisco (Sato et al., 1997; Sato & Godinho, 1999). No rio das Velhas, embora a pesca profissional tenha sido proibida diante dos elevados níveis de poluição (Minas Gerais, 1997), inúmeras pessoas vivem dessa atividade. Isso se explica pela deficiência na fiscalização e pela extrema pobreza da população. Esses pescadores atuam principalmente no médio e baixo Velhas e em afluentes mais bem preservados como o rio Cipó. Com base em entrevistas, soube-se da ocorrência de surubins (Pseudoplatystoma corruscans) com mais de 50 quilos e de grandes cardumes de curimatás (Prochilodus spp.) e piaus (Leporinus spp.) no período reprodutivo. Embora em menor quantidade, dourados (Salminus franciscanus) também são capturados nessa época. Além dessas, traíras (Hoplias spp.), mandis (Pimelodus spp.), bagres (Rhamdia quelen) e cascudos (Hypostomus spp.), estão entre as espécies mais visadas. Espécies de menor porte, como os lambaris (Astyanax spp.) também fazem parte do pescado. Merece registro o fato de que membros da população ribeirinha apanham peixes moribundos ou mortos que flutuam nas águas do rio durante episódios de mortandades para consumo próprio ou venda a terceiros. A dosagem de mercúrio total no tecido de traíras (Fundo-Fundep, 2000) do rio das Velhas revelou concentrações cuja ordem de grandeza gira em torno dos limites máximos permitidos pela legislação. Entre as espécies registradas neste estudo, seis podem ser consideradas exóticas, ou seja, foram artificialmente introduzidas na bacia. A carpa (Cyprinus carpio), originária da Ásia, foi introduzida no Brasil no início do século XX (Pinheiro et al., 1988) com fins de aquicultura, sendo amplamente utilizada em programas de peixamento. As tilápias (Oreochromis niloticus e Tilapia rendalii) são provenientes da África, e sua introdução também está associada à atividade de piscicultura. O trairão (Hoplias intermedius 196 ) é uma espécie piscívora originalmente descrita na bacia do Ribeira do Iguape, em São Paulo (Ribeiro, 1908). Supõe-se que, se de fato essa espécie fosse nativa da bacia do São Francisco, o trairão provavelmente teria sido registrado no trabalho de Lütken, dada a sua ampla distribuição atual e importância na pesca. O tamoatá (Hoplosternum littorale), outra espécie nova para a bacia, é denominada pelos ribeirinhos como chegante, uma alusão ao seu recente registro na bacia. Por ser uma espécie muito resistente (leva horas para morrer quando fora da água) é muito utilizada 195 Rheos (do grego) = correnteza; filia (do grego) = afinidade. 196 Em recente trabalho, Oyakawa & Mattox (2009) revisaram o complexo Hoplias lacerdae em 5 espécies. Dentre estas, Hoplias intermedius (Günther, 1864) é nativa da bacia do rio São Francisco. 172

173 como isca viva, tendo ampliado sua distribuição em bacias brasileiras (Oliveira & Moraes Jr., 1997). Por fim, pode-se mencionar o guppy (Poecilia reticulata), espécie de pequeno porte originária da América Central amplamente disseminada nas bacias brasileiras para controle de larvas de insetos (Diptera) transmissores de doenças. A introdução de peixes exóticos é bastante comum, seja em virtude do escape de pisciculturas ou propositalmente, com o objetivo de incrementar a pesca esportiva. No entanto, essa prática tem causado, em inúmeros sistemas, profundas modificações nas comunidades hospedeiras, como remoção da vegetação, degradação da qualidade da água, introdução de parasitas e doenças, alterações tróficas (Courtenay & Stauffer 1984) e alterações genéticas (Ferguson, 1990). 3 Distribuição das espécies de peixes na bacia A distribuição das espécies de peixes ao longo do rio das Velhas e no rio Cipó está diretamente relacionada com qualidade desses cursos dágua. Assim, a análise desta variável forneceu subsídios para o entendimento do efeito dos processos de degradação da bacia sobre as comunidades de peixes. Quanto maior o curso d água, maior o número e a variedade de ambientes disponíveis (Karr & Schlosser, 1978). Assim, espera-se que o número de espécies de peixes (riqueza) em um rio aumente progressivamente das cabeceiras em direção a foz (Vannote et al., 1980). Da mesma forma, também é esperado que rios principais apresentem uma comunidade mais rica que seus afluentes. Estes padrões já foram observados em diversas drenagens tropicais (Welcomme, 1985; Lowe-McConnel, 1975; 1987), incluindo-se a própria bacia do rio São Francisco (Alves et al., 1998). A curva da riqueza de peixes ao longo do rio das Velhas foi construída a partir do número total de espécies registradas em cada um dos pontos amostrados (Figura 2). Sua análise evidencia uma acentuada inflecção a partir do ponto RV 02 (Sabará), recuperando-se gradativamente a seguir. Entre Sabará (RV 02) e Lagoa Santa (RV 03) o rio das Velhas, alimentado pelos ribeirões Arrudas e do Onça, recebe a maior parte dos efluentes da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Nessa região do rio observam-se as piores condições ambientais da bacia, com níveis de oxigênio dissolvido próximos a zero durante a maior parte do ano (Alves et al., 2000). No ponto RV 03 foram registradas apenas nove espécies de peixes, todas capturadas durante a coleta feita na estação chuvosa. Nessa época, há uma ligeira melhoria na qualidade da água do rio graças ao aumento de seu volume e à maior diluição dos esgotos. Algumas dessas espécies têm características que facilitam o seu estabelecimento nesse trecho do rio. O sarapó (Gymnotus carapo) e os tamoatás possuem a capacidade de sobreviver em ambientes com baixos níveis de oxigênio (Acuña & Sanz, 1992; Machado-Allison, 1994). Já o lambari-dorabo-amarelo (Astyanax lacustris) tolera grandes variações na qualidade da água (Menni et al., 1996). Na coleta de junho de 1999, não se capturou um único exemplar nesse ponto, considerando o mesmo esforço de captura feito nos demais locais de amostragem. No baixo rio Cipó (CP 02), ao contrário do que teoricamente se espera, foi registrado um número de espécies (48) superior ao encontrado em qualquer ponto de coleta da calha do rio das Velhas. Também cabe salientar que um quinto das espécies registradas neste estudo foram capturadas exclusivamente no rio Cipó. Destacam-se entre estas algumas raras e/ou 173

174 Figura 2: Número de espécies de peixes registradas nos pontos de coleta ao longo do rio das Velhas, de montante para jusante. ameaçadas de extinção, como as piabas (Characidium lagosantense e Hysteronotus megalostomus) e o timboré (Leporinus marcgravii). Além de ter diferentes graus de tolerância à qualidade da água, a maioria dos peixes apresenta restrições em relação ao ambiente em que vivem, associadas a certas características do corpo d água, como velocidade da corrente, temperatura, profundidade, etc. Algumas espécies, como a cambeva (Trichomycterus brasiliensis) coletada por Vieira et al. (2005) e o lambari (Astyanax rivularis), típicas de cursos dágua de menor porte, só foram registradas nas cabeceiras do rio das Velhas e do rio Cipó. Outras, como a corvina (Pachyurus spp.), são típicas do caudal de rios de maior porte, e foram registradas apenas no baixo curso do rio das Velhas. Alguns grupos, como os cascudos (Loricariidae), são predominantemente encontrados em áreas de corredeiras, enquanto outros, como os sarapós (Gymnotiformes), estão associados à vegetação marginal e flutuante. O bagrinho (Cetopsorhamdia iheringi) e a piaba (Hysteronotus megalostomus) são frequentemente coletados em trechos com forte fluxo d água, junto à vegetação marginal dos rios fato já documentado por Alves & Vono (1999) no rio Paraopeba. Assim, em função de suas características físicas e da qualidade da água, cada ponto amostrado apresentou uma composição de espécies distinta, que foi comparada qualitativamente, com base no Índice de Similaridade de Sørensen (Magurran, 1988). Esse procedimento compara somente a composição de espécies entre as áreas (presença e ausência), pois é dado peso igual para todas as espécies, independentemente da abundância de cada uma. Como método de agrupamento empregou-se a Análise de Cluster, sendo que os pontos de amostragem no rio Cipó (CP 01 e CP 02) foram analisados em conjunto. O ponto localizado em Lagoa Santa (RV 03), que sofre a maior influência da região 174

175 metropolitana de Belo Horizonte, foi o que apresentou a fauna de peixes mais distinta. Os demais pontos se reúnem em dois grupos: o primeiro representado por aqueles localizados a montante de Belo Horizonte e o segundo, pelos localizados a jusante, além do rio Cipó. No segundo grupo fica evidente que, quanto mais distante da RMBH, maior a similaridade da ictiofauna do rio das Velhas com a do rio Cipó (Figura 3). Figura 3: Similaridade da composição da ictiofauna entre os pontos de coleta. A partir dos dados de captura em número com redes de emalhar, calculou-se o Índice de Diversidade de Shannon (H ) (Magurran, 1988) para os pontos de coleta a jusante de Belo Horizonte. A partir da região mais poluída da bacia, nas imediações de Belo Horizonte, observouse aumento progressivo no índice de diversidade, associado a maior riqueza e abundância mais equitativa entre as espécies de peixes capturadas (Figura 4). Nas regiões próximas a Belo Horizonte observou-se acentuada dominância das espécies com elevada tolerância à degradação ambiental. Assim como para a riqueza de espécies, no baixo curso do rio Cipó (CP 02) foi registrado o maior índice de diversidade (H = 2,8). Com base na distribuição atual da comunidade de peixes ao longo do rio das Velhas, fica clara a importância da região metropolitana de Belo Horizonte como fonte de impacto para as comunidades de peixes. Também chamam a atenção a rápida recuperação do rio das Velhas (autodepuração) ao longo de seu curso e o elevado grau de preservação do rio Cipó. 4 A fauna atual do rio das Velhas e o estudo de Lütken O registro da fauna de peixes feito por Reinhardt e Lütken constitui oportunidade única de avaliação das mudanças ocorridas na ictiofauna do rio das Velhas passados mais de cem 175

176 Figura 4: Índice de Diversidade de Shannon (H ) para os pontos de coleta localizados no rio das Velhas, a jusante de Belo Horizonte. anos e, principalmente, após a implantação da região metropolitana de Belo Horizonte. Além da comparação direta com os dados atuais de toda a comunidade de peixes da bacia, os registros históricos foram também comparados separadamente com os dados disponíveis para o rio Cipó e para o alto curso do rio das Velhas. Essas duas regiões da bacia foram intensamente amostradas por Reinhardt e representam, entre os atuais pontos de coleta, os de melhor e pior estado de conservação, respectivamente. Entre as 55 espécies registradas por Lütken, apenas 13 não foram capturadas. No entanto, quando comparamos os rios Cipó e o alto rio das Velhas separadamente, observamos que, no primeiro, a maioria das espécies relacionadas no trabalho de Lütken foi capturada, enquanto que, no alto Velhas, estas representam uma pequena porcentagem das espécies (Figura 5). Das 13 espécies relacionadas em Lütken e que não foram capturadas neste estudo, pelo menos sete (Brycon nattereri, Serrapinnus piaba, Hyphessobrycon gracilis, Pimelodella vittata, Pseudopimelodus charus, Trachelyopterus lacustris e Trichomycterus brasiliensis) foram registradas recentemente em outros trabalhos sobre a bacia do rio das Velhas (Alves et al., 1998). Mas deve-se salientar a possibilidade de que algumas tenham desaparecido de certas regiões do rio, principalmente do seu curso superior. A pirapitinga (Brycon nattereri), por exemplo, é hoje bastante rara em toda a bacia do São Francisco, encontrada apenas em regiões de cabeceira bem preservadas, como o rio Cipó na área do Parque Nacional da Serra do Cipó (Vieira et al., no prelo). Das 5 espécies citadas por Lütken e que não foram registradas na bacia do rio das Velhas (Conorhynchos conirostris, Franciscodoras marmoratus, Glanidium albescens, Rhamdiopsis microcephalus e Rineloricaria lima), uma merece atenção especial devido a sua importância histórica para a pesca comercial na bacia do São Francisco. Segundo relatos de Reinhardt, 176

177 Figura 5: Número de espécies relacionadas em Lütken (1875) e registradas no presente estudo para o rio Cipó, alto rio das Velhas e para toda a bacia ( ) o pirá-tamanduá (C. conirostris) subia o rio das Velhas anualmente, de fevereiro a março. É possível que este movimento corresponda à migração reprodutiva para locais de desova localizados nessa sub-bacia. As populações atuais dessa espécie na bacia do São Francisco podem ser inferiores às do passado em virtude da poluição do rio das Velhas (Sato com. pes.). Em face da longa estada de Reinhardt na cidade de Lagoa Santa, período em que realizou várias coletas, Lütken acreditava que a fauna de peixes da bacia do rio das Velhas fosse quase toda conhecida: Não se espera outra importante contribuição posterior sobre a mesma região que a fauna, com isso, seja totalmente conhecida, ele nunca afirmaria; pelo contrário, ele considera razoável que um ou outro peixe possa ter passado desapercebido; mas ele acredita que as espécies que os investigadores do futuro poderão acrescentar não serão muitas. Entretanto, o presente estudo acrescentou outras 53 espécies às 55 relacionadas por Lütken. Tal incremento foi particularmente significativo para o rio Cipó, onde foram registradas 43 dessas espécies. Por outro lado, para o curso superior do rio das Velhas foram adicionadas somente 15 (Figura 5). Cabe salientar ainda que, a partir dos estudos de Lütken, também se observou um aumento expressivo no número de espécies de peixes da bacia do rio São Francisco: àquela época eram conhecidas 65 espécies, hoje conhecem-se 176 só em Minas Gerais (Alves et al., 1998). O grande número de espécies acrescentadas à lista de Lütken pode ser explicado, em parte, pela diferença de métodos de amostragem. Enquanto boa parte dos exemplares coletados por Reinhardt provinha de pescadores, que raramente capturam exemplares de menor porte, neste estudo foram utilizadas técnicas que permitem a captura de exemplares de todos os tamanhos. Espécies cujos adultos têm menos de 15 cm de comprimento padrão representam 177

178 cerca de 35% da fauna registrada no presente. Quando comparamos a distribuição das espécies por classe de tamanho (comprimento padrão máximo), observamos que de fato a maioria das espécies coletadas exclusivamente neste estudo são de pequeno porte (Figura 6). A carpa (Cyprinus carpio) é a única espécie maior que 50 cm que não foi registrada por Reinhardt. Trata-se de espécie exótica e introduzida posteriormente na bacia. Figura 6: Distribuição das espécies relacionadas em Lütken (1875) e registradas exclusivamente no presente estudo, por classe de comprimento padrão máximo. Entre as 53 espécies registradas exclusivamente neste estudo, merece destaque a captura do cará (Geophagus brasiliensis Cichlidae) e do tamoatá (Callichthys callichthys Callichthyidae). A ausência de representantes dessas famílias havia chamado a atenção de Reinhardt e Lütken por serem absolutamente dominantes nos rios brasileiros. É interessante notar que estas espécies, que podem ser consideradas tolerantes à degradação ambiental, são hoje abundantes em grande parte da bacia. 5 A degradação ambiental da bacia do rio das Velhas Por drenar a região mais industrializada e densamente povoada de Minas Gerais, a bacia do rio das Velhas vem sofrendo acelerado e crescente processo de degradação. Entre os principais impactos sobre a ictiofauna podemos citar: A atividade mineradora nas cabeceiras da bacia, que altera a cor da água e faz elevar os teores de sólidos em suspensão; 178

179 A poluição pelo despejo de esgotos doméstico e industrial não tratados de grande parte da região metropolitana de Belo Horizonte, com nítidos efeitos na qualidade da água do rio; O desmatamento da vegetação ciliar que protege o rio contra o assoreamento e funciona como um filtro de produtos tóxicos (fertilizantes, pesticidas, agrotóxicos, etc.); A construção de barragens para aproveitamento hidrelétrico e acumulação de água para consumo humano, verificada nas cabeceiras e em afluentes do rio das Velhas; A introdução de espécies exóticas, provenientes de outros países ou de outras bacias brasileiras; A retirada indiscriminada de água para projetos de irrigação e o aterro de veredas, várzeas, áreas alagáveis e lagoas marginas, importantes locais de desova e procriação para as espécies de peixes. Além de interferir diretamente na distribuição da ictiofauna na bacia, a degradação produz frequentes mortandades de peixes, que ocorrem sobretudo no início da estação chuvosa. Com as primeiras chuvas, principalmente no curso superior da bacia, verifica-se o carreamento de detritos da bacia de drenagem e revolvimento de poluentes acumulados no leito do rio no período de menor vazão, provocando sensíveis alterações na qualidade da água. A disponibilização desta matéria orgânica na coluna dágua tem como efeito imediato a diminuição dos níveis de oxigênio dissolvido (OD), resultado da atividade de decomposição por microorganismos. Os teores baixos de OD causam então os episódios de mortandade, que se prolongam por todo o médio curso do rio das Velhas (Alves et al., 2000). A coincidência entre esses episódios e o início do período reprodutivo da maioria das espécies de peixes permite supor que estas mortandades afetam diretamente o recrutamento das espécies do rio das Velhas. Uma vez que, nesta mesma época, algumas populações de peixes migradores provenientes do rio São Francisco sobem o rio das Velhas para se reproduzir, a degradação ambiental da bacia representa também um risco potencial para os estoques de peixes de importância comercial do trecho de rio livre entre as barragens de Três Marias (MG) e Sobradinho (BA). 6 Perspectivas de recuperação e conservação dos peixes do rio das Velhas O rio das Velhas e o rio Cipó estão entre as áreas de Importância Biológica Extrema de Minas Gerais, segundo o estudo Biodiversidade em Minas Gerais: um atlas para sua conservação (Costa et al., 1998). Esse é o segundo nível na hierarquia de importância da classificação. Os motivos da inclusão do rio das Velhas foram a ocorrência de fenômeno biológico especial (piracema), alta riqueza de espécies de distribuição restrita, e sua importância, bem como a de outros grandes afluentes do rio São Francisco, para a manutenção da integridade da planície de inundação deste último em Minas Gerais. A inclusão do rio Cipó se justifica pela presença em suas águas de Characidium lagosantense (Minas Gerais, 1996), a única espécie oficialmente ameaçada de extinção da bacia. Cabe salientar que, no referido estudo, foram destacadas 29 áreas prioritárias para conservação dos peixes no estado. 179

180 A degradação ambiental da bacia do rio das Velhas pode ser revertida se algumas medidas de recuperação forem implementadas. A possibilidade de construção de Estações de Tratamento de Esgotos (ETE) em vários municípios é uma perspectiva real de melhoria da qualidade da água do rio a médio prazo. Na Região Metropolitana Belo Horizonte, por exemplo, estão sendo implementados os Programas de Tratamento de Esgotos dos Ribeirões Arrudas e Onça (Prosam) e de Revitalização da Lagoa da Pampulha (Propam), que deverão minimizar os impactos negativos sobre as águas da bacia. A crescente preocupação de vários municípios com o adequado recolhimento e disposição do lixo é um fator que deverá também produzir no futuro melhora na qualidade das águas da bacia. Cabe destacar ainda que o Projeto Manuelzão tem tido papel de destaque nesse sentido, mobilizando a população e exigindo das autoridades competentes a adoção de medidas voltadas para a proteção da bacia. Com a melhoria da qualidade da água, a ictiofauna do rio das Velhas terá plenas condições de recuperar-se, sem a necessidade de adoção de medidas de manejo específicas. A presença de pelo menos 93 espécies de peixes e a manutenção de afluentes bem preservados, como o rio Cipó, são condições suficientes para que espécies que tenham sido extintas em alguns trechos possam repovoá-los. Some-se a isso o fato de que no médio e baixo curso do rio das Velhas e no rio São Francisco, entre as represas de Três Marias e Sobradinho e em seus demais afluentes, não há obstáculos naturais (cachoeiras) ou artificiais (barragens) para o deslocamento dos peixes. Assim, a conectividade do sistema poderá permitir que a recolonização natural do rio das Velhas ocorra a partir dos estoques provenientes desta imensa região da bacia do rio São Francisco. A recuperação da ictiofauna da bacia do rio das Velhas proporcionaria novas perspectivas para uma atividade pesqueira na região. A maioria das espécies visadas pela pesca desportiva e profissional na bacia do São Francisco, que são as de maior porte, foram registradas neste estudo e eram encontradas em grande abundância à época de Lütken. Para que as estas mudanças possam ser diagnosticadas e comprovadas com dados científicos, é preciso que haja um monitoramento de longo prazo dos parâmetros de qualidade da água e da ictiofauna. Além dos peixes, a utilização de bioindicadores como fitoplâncton (algas), zôoplâncton (microinvertebrados) e bentos (invertebrados) poderá ratificar os resultados obtidos com os estudos da comunidade de peixes. O retorno das espécies aos trechos hoje mais poluídos do rio resultado que o Projeto Manuelzão espera, a médio prazo, colher será um indicativo da melhoria da qualidade ambiental da bacia, com consequente melhoria da qualidade de vida e saúde da população que vive sob sua influência. 7 Considerações Finais Com base nos resultados obtidos nos primeiros anos de estudo da ictiofauna da bacia, o subprojeto S.O.S. Rio das Velhas está realizando neste ano (2001), com financiamento da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, o levantamento da fauna dos principais tributários do médio e baixo rio das Velhas e da lagoa central do município de Lagoa Santa. O levantamento dos afluentes se baseia no fato do rio Cipó ter apresentado elevados índices de riqueza e diversidade de espécies. É possível que esses outros também possuam comunidades de peixes mais preservadas, possibilitando a determinação de áreas prioritárias para conservação e indicação de novas unidades de conservação, baseada, pioneiramente, em sua 180

181 fauna aquática. A pesquisa em Lagoa Santa, local intensamente estudado por Reinhardt há mais de 150 anos, possibilitará diagnosticar os efeitos da urbanização sobre a ictiofauna. É importante ressaltar que são necessários estudos de inventário de grande parte dos rios da bacia do São Francisco em Minas Gerais, para se conhecer sua composição em espécies. Comparando-se a situação do passado com a atual, será possível quantificar a extensão dos danos causados nesses cursos. Tais estudos vão desde a taxonomia (descrição e identificação das espécies), biologia básica (reprodução, hábito reprodutivo, tipo de desova, alimentação, crescimento), pesca, relações ecológicas entre as espécies (competição, predação), estrutura de comunidades e populações, interações entre as espécies e os ambientes (locais de desova, de alimentação, de proteção e refúgio), até estudos mais complexos como marcação e recaptura, biotelemetria, genética, entre outros. Só de posse destes dados será possível a implantação de programas efetivos para a conservação da ictiofauna e dos recursos pesqueiros. 8 Agradecimentos Os autores gostariam de prestar seus agradecimentos ao Fundo-Fundep de Apoio Acadêmico da UFMG pelo financiamento. Ao Projeto Manuelzão através de sua coordenação, motoristas (Gilson, Robertinho, Geraldo, José Rezende) e secretárias (Cida, Neiliane, Ludmilla e Meire) pelo apoio logístico. A René Coulaud da Costa Cruz e José Ângelo Nogueira pela hospedagem em suas propriedades. A René Coulaud Santos da Costa Cruz, Edélcio de Castro Monteiro, Perciliano (in memoriam), Jaime José Gonçalves, Ilídio Raimundo Teixeira, Dalvânio Soares Silva, Xavante, Dinho, Onézio e Humberto Alves Pereira, pescadores e auxiliares durante as amostragens de peixes. Aos amigos do rio Carlos A. Pereira, Manoel do Ouro, Jorge da Silva, Tequinho, Jovelino, Marcos Aurélio Soares Costa, José Soares Batista, Maria Aparecida de Oliveira, Joaquim Raimundo de Oliveira, Domingues Alves, Geovane Alves Teixeira, Antônio Pereira de Carvalho, Nilton, Roberto Ribeiro da Glória e Rosa Amélia, pela coleta de peixes durante os episódios de mortandade. Aos Drs. Roberto Esser Reis (PUC-RS) e Heraldo Antonio Britski (USP) pelas sugestões ao manuscrito. Ao Roberto Barros de Carvalho pela revisão do texto. Ao Dr. Richard P. Vari pela confirmação da identificação de Steindachnerina corumbae. Bibliografia Acuña, M.L., Sanz, M., Estudio preliminar sobre las variaciones de la citomorfologia sanguinea del pez de agua dulce Hoplosternum littorale sometido a hipoxia experimental. Acta. Biol. Venez., 13: Alves, C.B.M., Estanislau, C.A.M., Araújo, M.A.R., Polignano, M.V., Pompeu, P.S., Projeto S.O.S. Rio das Velhas: Estudo das Possíveis Causas das Mortandades de Peixes na Sub-bacia. Relatório técnico. Projeto Manuelzão / IEF. 62p. Alves, C.B.M., Vono, V., Ampliação da área de distribuição natural de Hysteronotus megalostomus Eigenmann, 1911 (Characidae; Glandulocaudinae), fauna associada e características do hábitat no rio Paraopeba, bacia do rio São Francisco, Minas Gerais, Brasil. Comun. Mus. Ciênc. Tecnol. PUCRS sér. Zool., 12:

182 Alves, C.B.M., Vieira, F., Pompeu, P.S., Plano diretor dos recursos hídricos das bacias de afluentes do rio São Francisco em Minas Gerais Ictiofauna. ECOPLAN / MAGNA / CAB, 154p. Britski, Heraldo A. (com. pes.). Museu de Zoologia da USP, Seção de Ictiologia. Av. Nazaré, 481, São Paulo (SP). CEP Britski, H.A., Sato, Y., Rosa, A.B.S., Manual de identificação de peixes da região de Três Marias (com chave de identificação para os peixes da bacia do São Francisco). Brasília, Câmara dos Deputados/ CODEVASF, 143p. Britski, H.A., Silimon, K.Z.S., Lopes, B.S., Peixes do Pantanal: manual de identificação. Brasília, Embrapa, 184p. Burton, R., Viagem de canoa de Sabará ao oceno Atlântico. Belo Horizonte: Editora Itatiaia. 359p. Cartelle, C., Tempo passado. Mamíferos do pleistoceno em Minas Gerais. Belo Horizonte: Editora Palco. 131p. CETEC Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais, 1983 Diagnóstico Ambiental do Estado de Minas Gerais. Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais/CETEC. Série de Publicações Técnicas/SPT p. Costa, C.M.R, Herrmann, G., Martins, C.S., Lins, L.V., Lamas, I.R., Biodiversidade em Minas Gerais: um atlas para sua conservação. Belo Horizonte: Fundação Biodiversitas, 92 p. Courtenay Jr., W.R., Stauffer Jr., J.R., Distribution, biology and management of exotic fishes. The Johns Hopkins University Press. Baltimore. 430p. Dean, W., A ferro e fogo. A história e a devastação da mata atlântica brasileira. São Paulo: Companhia das Letras. 484p. FEAM - Fundação Estadual do Meio Ambiente Monitoração da qualidade das águas na sub-bacia do rio das Velhas. Relatório Técnico. Fergusson, M.M., The genetic impact of introduced fishes on native species. Can. J. Zool., 68: Fundo Fundep, Integração homem - natureza e seus efeitos na saúde: uma intervenção interdiciplinar na bacia do rio das Velhas.. UFMG, FUNDEP & Projeto Manuelzão, Belo Horizonte. 319p. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia a Estatística Sinopse preliminar do censo demográfico. IBGE, Rio de Janeiro. 450p. Karr, J.R., Schlosser, I.J., Water resource and the land-water interface. Science, 201:

183 Lins, L.V., Machado, A.B.M., Costa, C.M.R., Herrmann, G., Roteiro metodológico para elaboração de listas de espécies ameaçadas de extinção: contendo a lista oficial da fauna ameaçada de extinção de Minas Gerais. Publicações Avulsas da Fundação Biodiversitas, 1:1-50 Lowe-McConnell, R.L, Fish communities in tropical freshwaters, Longman, London and New York, 337p. Lowe-McConnell, R.L., Ecological studies in tropical fish communities. Cambridge University Press, London. 382p. Machado-Allison, A., Factors affecting fish communities in the flooded plains of Venezuela. Acta Biol. Venez., 15: Magurran, A.E., Ecological diversity and its measurement. Croom HEBN, London. 179p. Maia-Barbosa, P.M., Santos, M.B.L., Rocha, L.A., Menendez, R.M., Cambraia, B.N., Pelli, A., Barbosa, F.A.R., 2005, Estudos limnológicos em coleções de água da Serra do Cipó, MG: primeira proximação. In: Fernandes, G.W. (ed.) Serra do Cipó: ecologia e evolução. Editora Atheneu. Menni, R.C, Gómez, S.E., Armengol, F.L., Subtle relationships: freshwater chemistry in southearn South America. Hydrobiologia, 328: Minas Gerais, Deliberação COPAM n o 041/95. Aprova a lista de espécies ameaçadas de extinção da fauna do Estado de Minas Gerais. Minas Gerais, Órgão Oficial dos Poderes do Estado, Belo Horizonte, 20 de janeiro de Minas Gerais, Decreto Regulamenta a Lei n o , de 24 de julho de 1996, que dispõe sobre a política de proteção à fauna aquática e de desenvolvimento da pesca e da aquicultura no Estado. Minas Gerais, Órgão Oficial dos Poderes do Estado, Belo Horizonte, 10 de abril de MMA - Ministério do Meio Ambiente Avaliação e Ações Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade da Mata Atlântica e Campos Sulinos. MMA/SBF, 40p. Oliveira, J.C., Moraes Jr., D.F., Presença de Hoplosternum Gill, 1858 (Teleostei, Siluriformes, Callichthyidae) nas bacias do rios São Francisco, Paraíba do Sul e Alto Paraná: primeiro registro e comentários. Bol. Mus. Nac. Rio de J. Zool., (383):1-8. Pinheiro, J.L.P., Silva, M.C.N., Silva, M.S., Soares, M.A.A.Q., Souza, N.H., Amorim, A.S., Woynarovich, A., Carpa comum (Cyprinus carpio, Linnaeus) produção intensiva de larvas no baixo São Francisco. Brasília, Ministério da Irrigação, CODEVASF. 25p. Ribeiro, A.M., Peixes da Ribeira, resultados de excursão do Sr. Ricardo Krone, membro correspondente do Museu Nacional do Rio de Janeiro. Kosmos, 5:

184 Romero, A., McLeran, A., Threatened fishes of the world: Stygichthys typhlops Brittan & Böhlke, Environ. Biol. Fishes, 57:270. Rosa, R.S., Menezes, N.A., Relação preliminar das espécies de peixes (Pisces, Elasmobranchii, Actinopterygii) ameaçadas no Brasil. Revta. Bras. Zool., 13(3): Sato, Y., Godinho, H.P., Peixes da bacia do rio São Francisco. In: Lowe-McConnell, R.H. (ed.) Estudos ecológicos de comunidades de peixes tropicais. São Paulo, EDUSP. p Sato, Y. (com. pes.). Estação de Hidrobiologia e Piscicultura de Três Marias, CODEVASF. Caixa Postal 11. Três Marias (MG). CEP Sato, Y., Cardoso, E.L., Amorim, J.C.C., Peixes das lagoas marginais do São Francisco a montante da represa de Três Marias (Minas Gerais). Brasília, CODEVASF, 42pp. Vannote, R.L., Minshall, G.W., Cummins, K.W., Sedell, J.R., Cushing, C.E., The river continuum concept. Can. J. Fish. Aquat. Sci., 37: Vieira, F., Santos, G.B. & Alves, C.B.M., A ictiofauna da Serra do Cipó e áreas adjacentes. Lundiana, 6 (supplement): Welcomme, R.L., River Fisheries. FAO Fish. Tech. Pap., 262:

185 Anexo 1: Relação das espécies de peixes coletadas no período de na bacia do rio das Velhas 1, com seus respectivos nomes populares, ocorrência no século XIX, estado de conservação, comportamento quanto à migração/reofilia e locais de ocorrência atuais. Locais de Amostragem Espécies 2 Nome Popular 3 L 4 C 5 M 6 RV CP N 7 Família Acestrorhynchidae Acestrorhynchus lacustris 1 (Lütken, 1875) Família Characidae Astyanax lacustris 2 (Lütken, 1875) Astyanax eigenmanniorum 3 (Cope, 1894) Astyanax fasciatus 4 (Cuvier, 1819) Astyanax rivularis 5 (Lütken, 1875) Astyanax taeniatus 6 (Jenyns, 1842) Brycon orthotaenia 7 Günther, 1864 Bryconamericus stramineus 8 Eigenmann, 1908 Hemigrammus gracilis 9 (Lütken, 1875) Hysteronotus megalostomus 10 Eigenmann, 1911 Moenkhausia costae 11 (Steindachner, 1907) Myleus micans 12 Lütken, 1875 Orthospinus franciscensis 13 (Eigenmann, 1914) Phenacogaster franciscoensis 14 Eigenmann, 1911 Piabina argentea 15 Reinhardt, 1867 Psellogrammus kennedyi 16 (Eigenmann, 1903) Pygocentrus piraya 17 (Cuvier, 1819) Roeboides xenodon 18 (Reinhardt, 1851) Salminus franciscanus 19 (Lima & Britski, 2007) Salminus hilarii 20 Valenciennes, 1850 Serrapinnus heterodon 21 (Eigenmann, 1915) Serrasalmus brandtii 22 Lütken, 1875 Triportheus guentheri 23 (Garman, 1890) Família Crechunidae Characidium cf. zebra 24 Eigenmann, peixe-cachorro 18 lambari-do-rabo-amarelo 57 lambari 24 lambari-do-rabo-vermelho 31 lambari 19 lambari 7 matrinchã 2 piaba 15 piaba 7 piaba 2 piaba 1 pacu? 12 piaba 1 piaba 3 piaba 18 piaba 1 piranha 2 lambari-cachorro 3 dourado 6 tabarana, douradinho voador 6 piaba 2 pirambeba 9 piaba-facão 1 mocinha 4 185

186 Anexo 1: Relação das espécies de peixes coletadas no período de na bacia do rio das Velhas 1, com seus respectivos nomes populares, ocorrência no século XIX, estado de conservação, comportamento quanto à migração/reofilia e locais de ocorrência atuais. (continuação) Locais de Amostragem Espécies 2 Nome Popular 3 L 4 C 5 M 6 RV CP N 7 Characidium fasciatum Reinhardt, 1867 Characidium lagosantense Travassos, mocinha 9 mocinha 2 27 Characidium sp. mocinha 3 Família Parodontidae 28 Apareiodon ibitiensis Amaral Campos, Apareiodon piracicabae (Eigenmann, 1907) 30 Parodon hilarii Reinhardt, 1867 Família Prochilodontidae 31 Prochilodus argenteus Spix & Agassiz, Prochilodus costatus Valenciennes, 1850 Família Curimatidae 33 Cyphocharax gilbert (Quoy & Gaimard, 1824) 34 Steindachnerina corumbae Pavanelli & Britski, Steindachnerina elegans (Steindachner, 1874) Família Anostomidae 36 Leporellus vittatus (Valenciennes, 1850) 37 Leporinus amblyrhynchus Garavello & Britski, Leporinus marcgravii Lütken, Leporinus obtusidens (Valenciennes, 1836) 40 Leporinus reinhardti Lütken, Leporinus taeniatus Lütken, Schizodon knerii (Steindachner, 1875) Família Erythrinidae 43 Hoplias intermedius Günther, Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) Família Apteronotidae 45 Apteronotus brasiliensis (Reinhardt, 1852) canivete 1 canivete 18 canivete 8 curimatá pacu, curimatá curimatá pioa, curimatá 6 12 saguiru 6 saguiru 12 saguiru 20 piau rola, solteira, piancó 6 timboré 13 timboré 9 piau-verdadeiro 8 piau-três-pintas 15 piau, timboré 14 piau-branco 1 trairão 28 traíra 8 sarapó 2 186

187 Anexo 1: Relação das espécies de peixes coletadas no período de na bacia do rio das Velhas 1, com seus respectivos nomes populares, ocorrência no século XIX, estado de conservação, comportamento quanto à migração/reofilia e locais de ocorrência atuais. (continuação) Locais de Amostragem Espécies 2 Nome Popular 3 L 4 C 5 M 6 RV CP N 7 Família Gymnotidae Gymnotus carapo 46 Linnaeus, 1758 Família Sternopygidae Eigenmannia virescens 47 (Valenciennes, 1842) Sternopygus macrurus 48 (Bloch & Schneider, 1801) Família Trichomycteridae tuvira, sarapó peixe espada, sarapó sarapó 4 49 Homodiaetus sp.n. 3 Família Heptapteridae 50 Cetopsorhamdia iheringi Schubart &Gomes, Imparfinnis minutus (Lütken, 1874) 52 Phenacorhamdia cf. somnians (Mees, 1974) 53 Pimelodella lateristriga (Lichtenstein, 1823) 54 Rhamdia quelen (Quoy & Gaimard, 1824) Família Pimelodidae 55 Bergiaria westermanni (Lütken, 1874) 56 Duopalatinus emarginatus (Valenciennes, 1840) 57 Pimelodus fur (Lütken, 1874) 58 Pimelodus maculatus Lacépède, Pimelodus pohli (Ribeiro & Lucena, 2006) 60 Pseudoplatystoma corruscans (Spix & Agassiz, 1829) Família Pseudopimelodidae 61 Lophiosilurus alexandri Steindachner, Cephalosilurus fowleri Hasemann, 1911 Família Aspredinidae bagrinho 6 bagrinho 5 bagrinho 6 chorão, mandizinho 3 bagre 17 mandi 5 mandi, mandi açu 5 mandi-prata 34 mandi-amarelo? 16 mandi 10 surubim, pintado 2 pacamã 4 peixe sapo, bagre sapo 4 63 Bunocephalus sp.n. 1 Família Callichthyidae 64 Callichthys callichthys (Linnaeus, 1758) 65 Hoplosternum littorale (Hancock, 1828) tamoatá 5 (8) chegante, tamoatá, caborja

188 Anexo 1: Relação das espécies de peixes coletadas no período de na bacia do rio das Velhas 1, com seus respectivos nomes populares, ocorrência no século XIX, estado de conservação, comportamento quanto à migração/reofilia e locais de ocorrência atuais. (continuação) Família Loricariidae Harttia leiopleura 66 Oyakawa, 1993 Locais de Amostragem Espécies 2 Nome Popular 3 L 4 C 5 M 6 RV CP N cascudinho 6 67 Harttia sp. cascudinho 2 68 Pareiorhaphis mutuca Oliveira & Oyakawa, Hypostomus alatus Castelnau, Hypostomus cf. commersonii Valenciennes, Hypostomus francisci (Lütken, 1874) 72 Hypostomus garmani (Regan, 1904) 73 Hypostomus macrops (Eigenmann & Eigenmann 1888) 74 Hypostomus margaritifer (Regan, 1908) 75 Hypostomus sp. (de Britski et al., 1988) cascudinho 2 cascudo 1 cascudo 7 cascudo 9 cascudo 10 cascudo 2 cascudo 5 cascudo Hypostomus sp1. cascudo 1 77 Hypostomus sp2. cascudo 5 78 Hypostomus sp3. cascudo 5 79 Hisonotus sp. cascudinho 2 80 Neoplecostomus franciscoensis Langeani, Otocinclus xakriaba Schaefer, 1997 cascudinho 8 cascudinho 2 82 Parotocindus sp. cascudinho 2 83 Rhinelepis aspera Agassiz, 1829 cascudo-preto 1 84 Rineloricaria sp.n. 3 Família Poeciliidae Phalloceros uai 85 (Lucinda, 2008) Poecilia reticulata 86 Peters, 1859 Família Sciaenidae Pachyurus squamipennis 87 Agassiz, 1831 guppy 2 barrigudinho 6 corvina 2 188

189 Anexo 1: Relação das espécies de peixes coletadas no período de na bacia do rio das Velhas 1, com seus respectivos nomes populares, ocorrência no século XIX, estado de conservação, comportamento quanto à migração/reofilia e locais de ocorrência atuais. (continuação) Locais de Amostragem Espécies 2 Nome Popular 3 L 4 C 5 M 6 RV CP N 7 Família Cichlidae Australoheros cf. facetum 88 (Jenyns, 1842) Cichlasoma sanctifranciscense 89 Kullander, 1983 Geophagus brasiliensis 90 (Quoy & Gaimard 1824) Oreochromis niloticus 91 (Linnaeus, 1758) Tilapia rendalli 92 (Boulenger 1877) Família Cyprinidae Cyprinus carpio 93 Linnaeus, 1758 (8) (8) (8) cará 9 cará 2 cará 1 tilápia 26 tilápia 4 carpa 3 TOTAL (1) = Em ordem filogénetica (adaptada de Britski et al., 1999); (2) = Nomes e autores atualizados com base em Eschmeyer: ( (3) = Nomes adotados nos locais de coleta ou em Britski et al. (1988); (4) = Ocorrência no século passado (Lütken, 1875, = sim); (5) = Estado de conservação: espécies consideradas raras, ameaçadas ou presumivelmente ameaçadas; (6) = Hábito migrador ( = sim;? = indeterminado); (7) = Número de indivíduos capturados; (8) = Espécies exóticas à bacia do rio das Velhas. Locais de amostragem: RV 01 = rio das Velhas em São Bartolomeu (Ouro Preto); RV 02 = rio das Velhas em Sabará; RV 03 = rio das Velhas em Lagoa Santa; RV 04 = rio das Velhas em Barra do Luís Pereira e Jataí (Santana do Pirapama); RV 05 = rio das Velhas em Caquende e Nossa Senhora da Glória (Curvelo); RV 06 = rio das Velhas em Lassance; CP 01 = rio Cipó abaixo do Parque Nacional da Serra do Cipó (Cardeal Mota); CP 02 = rio Cipó, em Presidente Juscelino. Observação: Espécies capturadas por Reinhardt no século passado e ainda não registradas na sub-bacia do Rio das Velhas (nomes científicos atualizados): Trichomycterus brasiliensis Lütken, 1874, Rineloricaria lima (Kner, 1853), Hypostomus lima (Lütken, 1874), Franciscodoras marmoratus Lütken, 1874, Parauchenipterus galeatus (Linaeus, 1766), Glanidium albescens Lütken, 1874, Bagropsis reinhardti Lütken, 1874, Conorhynchos conirostris (Valenciennes, 1840), Pimelodella vittata (Lütken, 1874), Rhamdiopsis microcephalus (Lütken, 1874), Pseudopimelodus charus (Valenciennes, 1840), Hyphessobrycon gracilis (Lütken, 1875), Serrapinnus piaba (Lütken, 1875), Pachyurus francisci (Cuvier, 1830). 189

190 Índice de nomes (peixes, rios, lagos, localidades, etc.) Tentamos fornecer um índice tão completo quanto possível, relacionando nomes de rios, lagos, lagoas, etc. Nomes populares e científicos de espécies, gêneros e famílias também estão relacionados, além de nomes de localidades brasileiras mencionadas no texto. Se a referência em questão estiver no Capítulo 1 (Britski), o número aparece em tipo inclinado. Números de páginas referentes ao Capítulo 2 estão dados em tipo de corpo normal ou em negrito, quando a entrada se referir a uma descrição mais detalhada do item relacionado (ou seja, entrada coincidente com uma do Sumário, à p. 3). Se esse item estiver mencionado na Sinopse do Capítulo 2, o número da página aparece em tipo itálico. Caso a referência esteja no Capítulo 3 (Alves & Pompeu), o número aparecerá em tipo inclinado sublinhado. acará, 33 acarý, 43, 45, 145 Acestrorhynchidae, 185 Acestrorhynchus lacustris, 23, 185 Açude das Contendas, 107, 110 Ageneiosus militaris, 59 Anacyrtus, 118 Anacyrtus gibbosus, 118 Anastomatina, 154 Anodus argenteus, 82 Anostomidæ, 186 Anostomina, 79 Anostomus, 89, 97 Apareiodon ibitiensis, 186 Apareiodon piracicabæ, 186 Aphyocharax, 112 Aphyocharax filigerus, 112 Aphyocharax pusillus, 112 Apteronotidæ, 186 Apteronotus brasiliensis, 23, 186 área (provável) de coleta de J.T. Reinhardt (Capítulo 2), 170 área de coleta do material da Parte 3, 170 Ariidæ, 59 Ariina, 59 Argiina, 35 Arius, 32, 35, 58, 59 Arius barbus, 59 Arius fissus, 58 Arius gagora, 59 Arius Layardi, 58 Arius sumatranus, 59 Arius subrostratus, 59 Aspredinidæ, 187 Aspredinina, 35 Astyanax, 172 Astyanax lacustris, 23, 173, 185 Astyanax eigenmanniorum, 185 Astyanax fasciatus, 22, 185 Astyanax rivularis, 23, 174, 185 Astyanax taeniatus, 185 Auchenipterus, 33, 51 Auchenipterus galeatus, 48, 146 Auchenipterus lacustris, 22, 47, 146 Australoheros cf. facetum, 188 Ælurichthys, 50 bagre, 72, 75, 150, 151, 172, 187 bagre-mole, 36, 39, 144 bagre-sapo, 187 bagre-tamanduá, 66 bagrinho, 174, 187 Bagrus, 50, 59 Bagropsis, 59, 60, 148 Bagropsis Reinhardti, 22, 34, 59, 148 Barbacena MG, 18 Barra do Guaicuí, 168 Barranquilla (Nova Granada), 62 barrigudinho, 188 Belo Horizonte-MG, 18, 168, 169, 171, 173, 174, 175, 179, 180 Bergiaria westermanni, 22, 187 bicuda, 124, 161 Brasília de Minas-MG, 18 Brycon, 22, 113 Brycon stramineus, 185 Brycon carpophagus, 113, 116, 165 Brycon Hilarii, 34, 113, 116, 165 Brycon Lundii, 23, 80, 113, 114, 115, 116, 119, 158 Brycon nattereri, 23 Brycon orthotaenia, 23, 116, 159, 185 Brycon Reinhardti, 23, 113, 114, 115, 117, 158, 176 Bunocephalus, 171, 187 caborja, 187 cachorra, 118, 159 Caeté MG, 18, Callichthyidae, 178, 187 Callichthys, 32, 35 Callichthys callichthys, 173, 178, 187 cambeja, 36, 39, 144 cambeva, 174 canivete, 186 Caquende-MG, 171, 189 cará, 178, 188, 189 carapo, 136 Carapus fasciatus, 23, 32, 136, 137,

191 Cardeal Mota-MG, 171, 189 carpa, 172, 178, 189 casonete, 54, 58, 147 cascudo, 33, 41, 45, 145, 171, 172, 174, 188 cascudo-barbado, 39, 145 cascudo-preto, 188 cascudinho, 187, 188 Centromochlus, 49, 146 Centromochlus aulopygius, 51 Cetopsis, 49 Cetopsorhamdia iheringi, 174, 187 Chalceus carpophagus, 117 Chalceus fasciatus, 103, 105, 107, 156, 165 Characidium, 79, 152, 154, 186 Characidium fasciatum, 22, 32, 33, 79, 88, 154, 186 Characidium lagosantense, 171, 174, 179, 186 Characidium cf. zebra, 185 Characidæ, 185 Characiformes, 22 Characini, 21, 22, 26, 27, 30, 31, 32, 33, 79, 83, 84, 88, 90, 98, 122, 132, 165 Characinidæ, 29 chegante, 172, 187 Chirodon (Cheirodon), 79, 111, 112, 158 Chirodon alburnus, 112 Chirodon piaba, 21, 23, 79, 111, 112, 158 Chirodon pisciculus, 112 choralambre, 71, 72 chorão, 187 Chromides, 27, 31, 32, 33, 59 Cichlasoma facetum, 188 Cichlasoma sanctifranciscense, 188 Cichlidae, 178, 188 Clarias, 55 Clupeacei, 31 Conorhynchus, 66 Conorhynchus conirostris, 22, 35, 61, 148, 176, 177, 189 Corvinas, 137 Cotinguiba SE, 80, 106 Crenuchidæ, 185 Crenuchina, 79 crumatã, 34, 88, 153 curimata, 88, 172 Curimata albula, 22 curimatá-pacu, 186 curimatá-pioa, 186 Curimatidæ, 186 Curimatina, 79, 153 Curimatus, 33, 79, 82 Curimatus acutidens, 92 Curimatus albula, 22, 82, 83, 84, 153 Curimatus Gilberti, Curimatus Gilberti, 82, 83, 84, 153 Curimatus voga, 84 Curral del Rei MG (Belo Horizonte), 18 curumutã, 88 Curvelo-MG, 171, 189 curvina (corvina), 33, 34, 141, 164, 174, 188 Cynopotamus, 79, 118 Cynopotamus gibbosus, 118, 159 Cynopotamus (Roeboides) xenodon, 23, , 159 Cyphocharax gilbert, 22, 186 Cyprinidæ, 189 Cyprinodontes, 31 Cyprinus carpio, 172, 178, 189 Diptera, 173 Doradina, 27, 35, 46, 49, 59, 146 Doras, 47 Doras cataphractus, 47 Doras costata, 47 Doras marmoratus, 21, 46, 47, 146 douradinho, 113 douradinho-voador, 185 dourado, 33, 121, 122, 160, 172, 185 Duopalatinus emarginatus, 22, 187 Eigenmannia virescens, 21 23, 187 Epicyrtus, 118 Epicyrtus gibbosus, 118 Epicyrtus xenodon, 118 Erythrinidæ, 186 Erythrinina, 31, 79, 152 Erythrinus, 80 Erythrinus brasiliensis, 80 Erythrinus macrodon, 80, 165 Erythrinus microcephalus, 80, 165 Erythrinus salvus, 165 Erythrinus unitæniatus, 80, 165 Fazenda Rotulo-MG, 19, 31 Franciscodoras marmoratus, 21, 176, 189 Geophagus brasiliensis, 178, 189 Glanidium, 33, 50, 146 Glanidium albescens, 22, 49, 50, 146, 176 Gobioidei, 31 gorubina (corvina), 139 guppy, 173, 188 Gymnotidæ, 187 Gymnotiformes, 23, 174 Gymnotini, 23, 26, 27, 31, 32, 136, 137, 162 Gymnotus carapo, 23, 173, 187 Harttia s., 188 Harttia leiopleura, 187 Hemigrammus, 100, 112 Hemigrammus gracilis, 23, 185 Hemiodus, 84 Hemipsiliichthys cf. mutuca, 188 Heptapteridae, 22, 187 Hisonotus sp., 188 Homodiaetus sp.n., 187 Hoplias, 172 Hoplias intermedius, 172, 186 Hoplias malabaricus, 22,

192 Hoplosternum littorale, 172, 173, 187 Hydrocyon, 79, 97, 118, 159 Hydrocyon brevidens, 123 Hyphessobrycon gracilis, 23, 176, 189 Hypophthalmina, 35 Hypostomatina, 145 Hypostomina, 43, 145 Hypostomus, 172, 188 Hypostomus alatus, 21, 188 Hypostomus cf. commersonii, 188 Hypostomus Francisci, 21, 188 Hypostomus garmani, 188 Hypostomus lima, 21, 42, 189 Hypostomus macrops, 188 Hypostomus margaritifer, 188 Hypostomus plecostomus, 41 Hypostomus Robini, 41 Hysteronotus megalostomus, 174, 174, 185 Imparfinnis, 22 Imparfinnis microcephalus, 176 Imparfinnis minutus, 22, 187 Irissanga MS, 62 Itabirito MG, 18 jandia, 72 Jataí MG, 189 Jiquitibá (Barra do)-rj, 122 Juazeiro-BA, 18 Julião MG, 52 jundiá, 50, 146 Lagoa da Pampulha, 180 Lagoa Santa MG (cidade), 18, 19, 30, 34, 48, 52, 62, 64, 72, 91, 103, 114, 131, 144, 154, 171, 173, 174, 177, 180, 189 Lagoa Santa, 31, 32, 34, 45, 47, 54, 64, 72, 79, 80, 81, 88, 91, 93, 99, 101, 102, 103, 107, 109, 110, 124, 129, 136, 146, 148, 150, 152, 153, 154, 155, 156, 157, 161, 162, 163, 180, 181 Lago Maracaibo, 62, 81 Lago Sumidouro, 71 Lago Titicaca, 39 lau-lau, 59 lambari, 33, 69, 150, 154, 172, 174, 185 lambari-cachorro, 185 lambari-do-rabo-amarelo, 173, 185 lambari-do-rabo-vermelho, 185 Lassance MG, 171, 189 Lepiptero Francisci, 164 Lepipterus, 141 Leporellus, 79, 97, 99, 154 Leporellus pictus, 22, 79, 96, 97, 154 Leporellus vittatus, 22, 186 Leporinus, 33, 89, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 98, 99, 155, 172 Leporinus acutidens, 92, 92, 165 Leporinus affinis, 91 Leporinus amblyrhynchus, 171, 186 Leporinus bimaculatus, 92, Leporinus crassilabris, 22, 92 Leporinus elongatus, 22, 79, 89, 90, 91, 92, 94, 95, 155, 165 Leporinus fasciatus, 96, 97 Leporinus Frederici, 92, 96 Leporinus macrolepidotus, 94 Leporinus maculatus, 97 Leporinus maculifrons, 97 Leporinus Marcgravii, 22, 96, 155, 174, 186 Leporinus melanopleura, 94, 155, 165 Leporinus nigrotæniatus, 96 Leporinus obtusidens, 22, 92, 165, 186 Leporinus pachyurus, 89, 90, 155, 165 Leporinus pictus, 99 Leporinus Reinhardti, 21, 22, 91, 92, 95, 155, 165, 186 Leporinus striatus, 94 Leporinus taeniatus, 21, 22, 94, 95, 155, 165, 186 Leporinus vittatus, 99, 154 Leuciscus, 84 loango, 54, 57, 147 Lophiosilurus alexandri, 187 Loricaria, 40, 145 Loricaria barbata, 40 Loricaria lima, 21, 35, 39, 40, 41, 145 Loricaria nudiventris, 35, 165 Loricaria rostrata, 40 Loricariidæ, 174, 187 lúcio, 82 Luiz Pereira MG, 171, 189 Macrodon, 48, 80, 81 Macrodon aimara, 81 Macrodon auritus, 80, 81 Macrodon ferox, 80 Macrodon intermedius, 80, 81, 152 Macrodon maculatus, 97 Macrodon micropelis, 81 Macrodon patana, 81 Macrodon teres, 81 Macrodon trahira, 22, 41, 79, 80, 81, 152, 165 Malacobagrus, 59 mandi, 34, 52, 62, 65, 148, 172, 187 mandi-açu, 34, 51, 147, 187 mandi-amarelo, 62, 64, 148, 187 mandi-bagre, 34, 59, 60, 72, 148, 150 mandi-prata, 187 mandi-urutu, 52, 147 mandizinho, 187 Mateus Leme MG, 19 matrinchã, 34, 113, 115, 159, 185 matrinchão, 113 Moenkhausia costæ, 185 matrinxim, 116 mocinha, 185, 186 Montes Claros-MG,

193 Murænidæ, 30 Mylesinus, 135, Myletes, 88, 126, 131, 132, 135 Myletes (tometes) altipinnis, 80, 131, 135, 165 Myletes asterias, 132, Myletes discoideus, 132, Myletes ellipticus, 132, Myletes hypsauchen, 132, Myletes macropomus, 132, Myletes (tometes) micans, 23, 33, 131, 133, 135, 162 Myletes rubripinnis, 132, Myletes Schomburgkii, 132, Myleus, 132, Myleus micans, 23, 185 Myleus setiger, 132 Neoplecostomus franciscoensis, 188 Odontostilbe, 112, 158 Odontostilbe fugitiva, 112 Olhos D água-mg, 104, 110 Oreochromis niloticus, 172, 189 Orthospinus franciscensis, 185 Osteogeneiosus militaris, 59 Otocinclus xakriaba, 188 Ouro Preto-MG, 18, 168, 169, 189 pacamã, 187 pacamão, 33, 47, 135, 146, 162 pacamão-branco, 50 pacamão-do-rio, 77, 152 Pachyurus, 26, 140, 141, 174 Pachyurus corvina, 23, 34, 137, 138, 139, 140, 141 Pachyurus (Lepipterus) Francisci, 23, 137, 140, 164, 165, 189 Pachyurus Lundii, 23, 137, 138, 139, 140, 141, 163 Pachyurus Nattereri, 141 Pachyurus Schomburgkii, 138, 141 Pachyurus squamipennis, 23, 137, 139, 140, 141, 164, 165, 188 pacu, 33, 47, 88, 146, 162, 185 pacu-branco, 50, 146 pacu-do-rio, 77, 152 papa-isca, 33, 68, 149 papa-isca-acú, 67, 149 papa-terra, 33, 83, 153 Pareiorhaphis cf. mutuca, 188 Parodon, 20, 79 Parodon Hilarii, 20, 21, 22, 79, 88, 154 Parodontidæ, 186, Parotocindus sp., 188 peixe-cachorro, 185 peixe-espada, 187 peixe-espada-com-boca-rachada, 136, 163 peixe-espada-da-lagoa, 136 peixe-espada-do-rio, 136, 163 peixe-sapo, 187 peripitinga (peripetinga), 113, 114, 115, 116, 158 Petromyzontes, 32 Phalloceros uai, 188 Phenacogaster franciscoensis, 185 Phenacorhamdia cf. somnians, 187 piaba, 33, 103, 107, 111, 156, 157, 159, 174, 174, 185 piaba-da-lagoa, 102 piaba-do-córrego, 107, 108, 109, 157 piaba-do-lago, 109, 156 piaba-do-rio, 103, 156 piaba-facão, 185 piabanha, 113 piaba-rodoleira, 102, 156 Piabina, 79, 159 Piabina argentea, 23, 117, 159, 185 piabinha, 110 piabinha-branca, 109, 110, 157 piabinha-vermelha, 110, 157 Piabina argentea, 79 piancó, 186 piau (piao), 90, 155, 171, 172, 186 piau-branco, 186 piau-rola, 186 piau-três-pintas, 186 piau-verdadeiro, 22, 186 Pimelodella lateristriga, 22, 187 Pimelodella vittata, 22, 176, 189 Pimelodidæ, 187 Pimelodina, 35, 59, 72, 77, 148 Pimelodus, 34, 51, 59, 62, 63, 65, 67, 68, 148, 172, 187 Pimelodus albescens, 49 Pimelodus bufonius, 77, 78, 152, 165 Pimelodus charus, 22, 77 Pimelodus conirostris, 61 Pimelodus fowleri, 187 Pimelodus fur, 21, 22, 67 68, 187 Pimelodus Hilarii, 72 Pimelodus labrosus, 66 Pimelodus lateristriga, 68, 69, 71, 72 Pimelodus maculatus, 22, 34, 35, 52, 55, 62, 63, 65, 66, 148, 187 Pimelodus microcephalus, 75 Pimelodus notatus, 75 Pimelodus ornatus, 64, 65, 66 Pimelodus sapo, 72 Pimelodus vittatus, 71, 72 Pimelodus Valenciennis, 63, 65, 66 Pimelodus Westermanni, 22, 65, 66, 68, 149 pintado, 187 piracema, 179 pirambeba, 185 pirampeba, 131, 162 Piramutana, 59 Piramutana piramuta, 60 piranha, 127,

194 piranha-da-lagoa, 129, 162 piranha-rodoleira, 124, 161 pirapitinga, 176 pirá-tamanduá, 61, 148, 177 Piratinga, 59, 148 Piratinga goliath, 60 Piratinga reticulata, 60 piraya, 127 Pirayæ alias species, 127 Pitangui MG, 19 Platystoma, 54, 59, 148 Platystoma corruscans, 35, 54, 56, 165 Platystoma emarginatum, 22, 34, 35, 51, 53, 147 Platystoma fasciatum, 57 Platystoma Forchhammeri, 54 Platystoma orbignianum, 22, 34, 35, 39, 54, 55, 56, 144, 147, 165 Platystoma planiceps, 56 Platystoma platyrhynchus, 55 Platystomatichthys, 57 Platystoma tigrinum, 55 Platystoma Vaillanti, 55, 57 Plecostomus, 33, 41, 42, 45 Plecostomus alatus, 21, 35, 41, 43, 44, 145 Plecostomus auroguttatus, 43 Plecostomus barbatus, 40 Plecostomus bicirrhosus, 41 Plecostomus brevicauda, 41 Plecostomus Commersonii, 35, 41, 165 Plecostomus Francisci, 21, 41, 43, 145, 165 Plecostomus horridus, 41 Plecostomus lima, 21, 41, 145 Plecostomus pantherinus, 41 Plecostomus punctatus, 41 Plecostomus Robini, 41 Plecostomus spiniger, 41, 43 Plecostomus subcarinatus, 35 Plecostomus Villarsi, 41, 44 Plecostomus Wuchereri, 41 Poecilia reticulata, 173, 188 Poeciliidæ, 188 Porto Alegre RS, 69, 93, 106 Porto Salgado MG, 88, 139 Presidente Juscelino MG, 171, 189 Prochilodontidæ, 186 Prochilodus, 86, 88, 172 Prochilodus affinis, 22, 34, 84, 86, 87, 88, 153 Prochilodus argenteus, 22, 79, 84, 86, 87, 88, 153, 165, 186 Prochilodus asper, 88 Prochilodus costatus, 22, 87, 88, 154, 165, 186 Prochilodus lineatus, 88 Psellogrammus kennedyi, 185 Pseudariodes, 59, 60, 148 Pseudariodes albicans, 60 Pseudariodes clarias, 60 Pseudoplatystoma corruscans, 22, 172, 187 Pseudopimelodidae, 187 Pseudopimelodus, 77, 78, 152 Pseudopimelodus bufonius, 77 Pseudopimelodus charus, 35, 77, 152, 165, 176, 189 Pseudorhamdia, 68, 148, 149 Pseudorhamdia fur, 22, 67, 149 Pseudorhamdia lateristriga, 21, 22, 35, 52, 69, 150 Pseudorhamdia vittata, 22, 71, 150 Pterygoplichthys duodecimalis, 35, 165 Pygidium dispar, 38 Pygidium triste, 38 Pygocentrus, 125 Pygocentrus niger, 127 Pygocentrus piraya, 23, 124, 185 Queluz (Queluzita) MG, 18 rabeca, 171 Rajæ, 31 Rhamdia, 21, 67, 68, 72, 74, 77, 150 Rhamdia Hilarii, 22, 35, 72, 74, 150 Rhamdia microcephala, 22, 21, 75, 151 Rhamdia microcephalus, 22 Rhamdia minuta, 22, 76, 151 Rhamdia quelen, 22, 172, 187 Rhamdiopsis, 22 Rhamdiopsis microcephalus, 189 Rhinelepis, 33 Rhinelepis aspera, 35, Rhinodoras, 46 Rhinodoras niger, 35, 165 Riacho Brumado, 107 Riacho Olhos D água, 102, 107 Riacho do Sumidouro, 31, 71, 102, 107 Riacho Quebra, 31, 71, 107, 136 Ribeira do Iguape, 172 Ribeirão Arrudas, 171, 173, 180 Ribeirão do Mato, 31, 34, 41, 54, 82, 83, 84, 102, 107, 111, 171 Ribeirão do Onça, 171, 173, 180 Rineloricaria, 171, 188 Rineloricaria lima, 21, 176, 189 Rio Abaeté, 33 Rio Amazonas, 27, 29, 30, 32, 35, 81, 90, 92, 117, 127, 129 Rio Ambyacu (Rio Amuyuca?), 69 Rio Ambyaçu, 35 Rio Araguaia, 99, 105, 127 Rio Branco, 141 Rio Capim, 62 Rio Carinhanha, 18 Rio Chagres, 35, 39 Rio Cipó, 19, 31, 44, 54, 55, 56, 61, 77, 80, 87, 90, 94, 116, 120, 131, 135, 145, 147, 148, 152, 153, 155, 160, 165, 169, 171, 173, 174, 175, 176, 177, 179, 180 Rio Cuiabá,

195 Rio Cupai, 128 Rio das Velhas, 18, 19, 30, 31, 32, 33, 35, 40, 41, 44, 46, 47, 50, 51, 54, 55, 56, 59, 60, 61, 62, 64, 68, 69, 71, 72, 74, 76, 77, 79, 80, 82, 84, 86, 87, 90, 91, 92, 94, 95, 96, 97, 99, 103, 106, 107, 113, 114, 116, 118, 120, 122, 124, 128, 131, 132, 135, 136, 137, 140, 141, 144, 145, 146, 147, 148, 149, 150, 151, 152, 153, 154, 155, 156, 157, 158, 159, 160, 161, 162, 163, 164, 165, 168, 169, 171, 173, 174, 175, 176, 177, 178, 179, 180, 185, 186, 187, 188, 189 Rio de Janeiro-RJ, 18, 114 Rio Doce, 32 Rio do Peixe, 18 Rio Guaíba, 72, 106 Rio Guaporé, 32 Rio Jacuí, 62 Rio Jequitaí, 18 Rio Jequitinhonha, 22 Rio Maranhão, 69 Rio Motagoa, 137 Rio Napo, 30, 69 Rio Negro, 30, 141 Rio Orinoco, 88 Rio Pacuí, 18 Rio Paraná, 35, 55, 62, 105, 137 Rio Paraguai, 32 Rio Paraopeba, 18, 174 Rio Paraúna, 31, 171 Rio da Prata (La Plata), 29, 32, 35, 41, 55, 56, 63, 84, 88, 89, 92, 93, 105, 106, 123 Rio Sabará, 31, 44, 77, 113, 116, 145, 152, 165, 168, 189 Rio São Francisco, 18, 19, 21, 22, 29, 30, 31, 32, 33, 35, 41, 43, 44, 51, 54, 55, 56, 59, 61, 63, 72, 79, 80, 81, 86, 87, 88, 89, 91, 92, 103, 104, 105, 107, 116, 119, 120, 121, 124, 127, 129, 131, 135, 137, 139, 140, 145, 147, 148, 150, 152, 154, 155, 156, 160, 161, 165, 168, 169, 171, 172, 173, 176, 177, 179, 180, 181 Rio Taquaraçu, 31, 131, 162 Rio Tocantins, 105 Rio Uruguai, 35, 62 ronca ronca, 48 Roeboides, 118 Roeboides xenodon, 23, 185 Sabará MG, 18, 31, 168, 169, 173 saguiru, 171, 186 Salminus, 118, 119, 120, 123 Salminus brevidens, 23, 122, 160 Salminus Cuvieri, 23, 34, 79, 113, 118, 120, 121, 122, 123, 160, 160 Salminus franciscanus, 23, 172, 185 Salminus Hilarii, 23, 34, 79, 118, 120, 121, 160, 185 salmone, 106 Salvador-BA, 18 Sangrador, 31 Santa Cruz RS, 39 Santa Luzia MG, 31, 91 Santana do Pirapama MG, 171, 189 Santa Rita MG, 18 São Bartolomeu MG, 169, 189 sarapó, 136, 136, 162, 173, 174, 186, 187 Schizodon knerii, 186 Sciaenidae, 23, 188 Sciaenoidei, 23, 27, 31, 34, 137, 165 Sciænoidæ, 32, 163 Scomberoidei, 31 Scomberesoces, 31 Serra da Canastra, 18 Serra do Cipó, 169, 171, 176, 189 Serrapinnis piaba, 23, 176, 189 Serrapinnus, 23 Serrapinnus heterodon, 185 Serrasalmo, 125, 128, 129 Serrasalmo aureus, 129, 165 Serrasalmo Brandtii, 23, 32, 79, 128, 129, 131, 161, 185 Serrasalmo nigricans, 128, Serrasalmonina, 79, 124, 126, 161 Serrasalmo piranha, 124 Serrasalmo (Pygocentrus) piraya, 23, 79, 124, 128, 130, 131, 135, 161 Serrasalmo rhombeus, 127 Serrasalmus brandtii, 23 Siluridæ, 21, 27, 29, 31, 32, 33, 35, 55, 59, 64, 88, 126, 137 Siluroidei, 21, 165 Sirenoidei, 31 Sobradinho-BA, 179, 180 solteira, 186 Steindachnerina corumbæ, 171, 186 Steindachnerina elegans, 22, 186 Stegophilina, 35, 144 Stegophilus insidiosus, 21, 26, 36, 58, 144 Sternarchus brasiliensis, 23, 137, 163 Sternopigidæ, 187 Sternopygus, 136 Sternopygus albifrons, 136 Sternopygus carapo, 23, 136, 137, 163, 163 Sternopygus lineatus, 136 Sternopygus macrurus, 21, 23, 136, 187 Sternopygus Marcgravii, 21, 136, 163 Sternopygus microstomus, 21, 136, 163 Sternopygus virescens, 23, 32, 136, 137, 163 surubim (sorubim), 34, 54, 55, 57, 58, 147, 172, 187 Symbranchii, 32 tabarana, 185 tamoatá, 172, 173, 178, 187 Trachelyopterus lacustris, 22,

196 traíra, 80, 81, 82, 152, 172, 186 Três Marias-MG, 179, 180 Tetragonopterina, 154 Tetragonopterus, 33, 79, 89, 97, 99, 104, 105, 109, 112, 156, 158 Tetragonopterus argyreus, 106 Tetragonopterus Cuvieri, 22, 100, 101, 103, 104, 105, 106, 107, 156, 165 Tetragonopterus fasciatus, 103, 104, 105, 106, 107, 156, 165 Tetragonopterus gracilis, 23, 32, 79, 100, 101, 109, 111, 111, 157 Tetragonopterus interruptus, 112 Tetragonopterus lacustris, 23, 32, 79, 99, 100, 101, 102, 107, 110, 156 Tetragonopterus microstoma, 106 Tetragonopterus nanus, 23, 32, 79, 101, 104, 110, 111, 157 Tetragonopterus pulcher, 112 Tetragonopterus rivularis, 23, 100, 101, 104, 107, 105, 157 Tetragonopterus rutilus, 105, 106 Tetrodontini, 31 tilápia, 172, 189 Tilapia rendalli, 172, 189 timboré, 93, 97, 99, 154, 155, 171, 174, 186 timboré-pintado, 91, 93, 155 timboré-rajado, 95, 155 Tometes, 132, 132, 135 Trachelyopterus, 49 traíra, 172 trairão, 172, 186 Trichomycterisæ, 187 Trichomycterina, 35, 144 Trichomycterus, 37, 38, 144 Trichomycterus brasiliensis, 21, 38, 144, 174, 176, 189 Trichomycterus dispar, 38, 39 Trichomycterus gracilis, 39 Trichomycterus nigricans, 36 Trichomycterus punctulatus, 37, 38, 39 Trichomycterus tristis, 144 Triportheus guentheri, 185 tuvira, 187 urutu, 52, 147 Xiphorhamphus, 79 Xiphoramphus lacustris, 23, 32, 79, 123, 160 Xiphoramphus ferox, 123 xué (chué), 69, 71,

197 PROJETO MANUELZÃO Endereço: Caixa Postal Av. Alfredo Balena, o andar, sala 813 Santa Efigênia - Belo Horizonte, Minas Gerais (Brasil) CEP: Tel.: (0xx31) e Telefax: (0xx31) manuelzao@manuelzao.ufmg.br home-page: Coordenação geral: Apolo Heringer Lisboa Antônio Leite Alves Antonio Thomaz Gonzaga da Mata Machado Marcus Vinícius Polignano Tarcísio Márcio Magalhães Pinheiro Subprojeto S.O.S. Rio das Velhas Carlos Bernardo Mascarenhas Alves (coordenador) Paulo dos Santos Pompeu

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