EXECUÇÃO PENAL & TRABALHO DO PRESO: NOÇÕES GERAIS.
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- Wilson Camilo Canto
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1 EXECUÇÃO PENAL & TRABALHO DO PRESO: NOÇÕES GERAIS. O presente e breve trabalho tem a simples intenção de apontar os principais mandamentos legais, no Brasil, a respeito do trabalho dos presidiários (em sentido amplo, ou seja: relativos a todos os condenados que, nos vários tipos de regimes e de estabelecimentos prisionais, cumprem suas penas). Sobre o thema, como principal diploma vê-se a Lei de Execução Penal (L , de 11 de julho de 1984) e estes são os seus principais ditames: a execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado {art. 1/}; ao condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos não atingidos pela sentença ou pela lei {art. 3º}. O trabalho do condenado, como dever social e condição de dignidade humana, terá finalidade educativa e produtiva {art. 28, caput}. É imperioso notar estes critérios para o trabalho de preso: educativo e produtivo ele deve ser; não apenas uma fonte de renda para o preso, nem uma mera ocupação para mãos, como terapia ocupacional. Além disso, o trabalho é um dever da criatura humana e o preso, uma vez que tem preservados todos os direitos civis não atingidos pela sentença, também tem preservadas as suas obrigações de membro da sociedade, dentre elas a de ser útil, ativo, atuante, inclusive e mais ainda porque sua lesão ao Direito o torna devedor ante a toda a coletividade. Aplicam-se à organização e aos métodos de trabalho as precauções relativas à segurança e à higiene {idem, 1º}; O trabalho do preso não está sujeito ao regime da Consolidação das Leis do Trabalho {idem, 2º};
2 O trabalho do preso será remunerado, mediante prévia tabela, não podendo ser inferior a 3/4 (três quartos) do salário mínimo {art. 29}. Naturalmente, em matéria de trabalho do preso uma das mais importantes questões é a da detração, que a remição (ou, para alguns, remissão - o que, na verdade, não é verdadeiro, pois remissão quer dizer perdão e perdão gratuito, sem que o outro faça nada para merecê-lo, ao passo que remição significa resgate, ou seja: o débito diminui em razão de um esforço, de uma atividade consciente por parte do apenado). E remição é a diminuição do tempo de pena, de acordo com o número de dias trabalhados, geralmente na razão de um dia de pena para cada três dias de trabalho. O produto da remuneração pelo trabalho deverá atender: a) à indenização dos danos causados pelo crime, desde que determinados judicialmente e não reparados por outros meios; b) à assistência à família; c) a pequenas despesas pessoais; d) ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a manutenção do condenado, em proporção a ser fixada e sem prejuízo da destinação prevista nas letras anteriores {art. 29, 1º}; ressalvadas outras aplicações legais, será depositada a parte restante para constituição do pecúlio, em Caderneta de Poupança, que será entregue ao condenado quando posto em liberdade {idem, 2º}. Não é um primor de legislação?... Sim, o é. Mas apenas no papel?... Vê-se que todas as principais preocupações do preso e com o preso estão previstas nesta lei, desde o sustento de sua família (através do auxílio previdenciário aos dependentes) até este pecúlio em caderneta de poupança, para quando houver o retorno pleno à vida social. Outro ponto importante é o das penas alternativas, para as quais está assim definido na lei: As tarefas executadas como prestação de serviço à comunidade não serão remuneradas {art. 30}. Vejamos as disposições específicas para o trabalho interno: O condenado à pena privativa de liberdade está obrigado ao trabalho na medida de suas aptidões e capacidade {art. 31}; Para o preso provisório, o trabalho não é obrigatório e só poderá ser executado no interior do estabelecimento {idem, parágrafo único};
3 Na atribuição do trabalho deverão ser levadas em conta a habilitação, a condição pessoal e as necessidades futuras do preso, bem como as oportunidades oferecidas pelo mercado {art. 32, caput}. Este último dispositivo pode ser considerado uma decorrência do cânone constitucional que estabelece a individualização da pena. Deverá ser limitado, tanto quanto possível, o artesanato sem expressão econômica, salvo nas regiões de turismo {art. 32, 1º}. E isto porque o artesanato sem expressão econômica tem aquele caráter de terapia ocupacional, sem condição de dar sustentabilidade sócioeconômica ao egresso e, portanto, não elidindo a tentação do retorno à criminalidade. Os maiores de 60 (sessenta) anos poderão solicitar ocupação adequada à sua idade {art. 32, 2º}; Os doentes ou deficientes físicos somente exercerão atividades apropriadas ao seu estado {idem, 3º}. E a jornada de trabalho? A jornada normal de trabalho não será inferior a 6 (seis) nem superior a 8 (oito) horas, com descanso nos domingos e feriados {art. 33, caput}; Poderá ser atribuído horário especial de trabalho aos presos designados para os serviços de conservação e manutenção do estabelecimento penal {idem, parágrafo único}. Mas é claro que têm de ser respeitados os limites de duração aqui previstos (que são robustecidos pelas disposições constitucionais relativas ao trabalho). O trabalho poderá ser gerenciado por fundação, ou empresa pública, com autonomia administrativa, e terá por objetivo a formação profissional do condenado {Art. 34, caput}; Nessa hipótese, incumbirá à entidade gerenciadora promover e supervisionar a produção, com critérios e métodos empresariais, encarregar-se de sua comercialização, bem como suportar despesas, inclusive pagamento de remuneração adequada. (dispositivo renumerado pela Lei nº , de 1º ) {idem, 1º};
4 Os governos federal, estadual e municipal poderão celebrar convênio com a iniciativa privada, para implantação de oficinas de trabalho referentes a setores de apoio dos presídios (Incluído pela Lei nº , de 1º ) {idem, 2º}. Agora, esta cooperação se dará, principalmente, por duas formas: Parceria público-privada (de acordo com a legislação federal ordinária, aprovada neste segundo semestre de 2005) ou por um dos modos previstos na Lei de Licitações & Contratos da Administração Pública. E quanto ao trabalho de voluntariado? Ele não pode ser utilizado? Pode, mas deve ser formalizado por instrumento público, preferencialmente por contrato, de modo a evitar-se gravames decorrentes da responsabilidade civil da Administração Pública. Os órgãos da Administração Direta ou Indireta da União, Estados, Territórios, Distrito Federal e dos Municípios adquirirão, com dispensa de concorrência pública, os bens ou produtos do trabalho prisional, sempre que não for possível ou recomendável realizar-se a venda a particulares {Art. 35, caput}; Todas as importâncias arrecadadas com as vendas reverterão em favor da fundação ou empresa pública a que alude o artigo anterior ou, na sua falta, do estabelecimento penal {idem, parágrafo único}. Vê-se como o legislador foi cuidadoso com a sustentabilidade e eficácia do sistema penitenciário. Contudo, é com grande tristeza que se vê o abandono deste sistema, que tem tudo para ser realmente um nicho de soerguimento social e moral do detendo... E quanto ao Trabalho Externo? Vejamos os ditames precípuos: O trabalho externo será admissível para os presos em regime fechado somente em serviço ou obras públicas realizadas por órgãos da Administração Direta ou Indireta, ou entidades privadas, desde que tomadas as cautelas contra a fuga e em favor da disciplina. {art. 36, caput}; O limite máximo do número de presos será de 10% (dez por cento) do total de empregados na obra {idem, 1º};
5 Caberá ao órgão da administração, à entidade ou à empresa empreiteira a remuneração desse trabalho {idem, 2º}; A prestação de trabalho à entidade privada depende do consentimento expresso do preso {idem, 3º}. A prestação de trabalho externo, a ser autorizada pela direção do estabelecimento, dependerá de aptidão, disciplina e responsabilidade, além do cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena {art. 37, caput}; Revogar-se-á a autorização de trabalho externo ao preso que vier a praticar fato definido como crime, for punido por falta grave, ou tiver comportamento contrário aos requisitos estabelecidos neste artigo {idem, parágrafo único}. Encerrando as transcrições legais e seus comentários, avançamos para o trecho final deste brevíssimo trabalho e, com esteio nesse conjunto principiológico, apontamos texto que resume a moderna comunis opinio doctorum em nosso país: A pena tem caráter progressivo e o condenado evolui em sua vida carcerária, de um regime mais rigoroso para um mais tolerante, dependendo do seu comportamento e de sua readaptação (...). O sistema penitenciário deve ter sempre a preocupação de procurar resgatar a integridade moral do preso como ser humano, respeitando-lhe a personalidade e dando-lhe senso de dignidade.... A palavra penitenciária vem de penitência, que está na origem do cumprimento da prisão carcerária no período da Idade Média, sob a inspiração do Direito Canônico. Entendia-se que o condenado igual aos monges dos conventos, deveria ficar trancado em celas, fazendo sacrifícios e penitências, isolado do mundo, pedindo a Deus perdão por seus pecados. Hoje em dia já se chegou à conclusão de que o mais importante é preparar-se o condenado para
6 seu reingresso na vida social, encinando-lhe atividades profissionais honestas e criando-lhe hábitos de higiene, de ordem e de disciplina. A preocupação máxima deve ser sua construção ou reconstrução moral. Por isso, a disciplina carcerária olha mais para o homem do que para o preso. (...) Atualmente, a execução penal se fundamenta nos seguintes princípios: disciplina, trabalho, descanso, silêncio, instrução, lazer e, finalmente, a liberdade.... O Trabalho, por sua vez, é de utilidade extrema tanto para o homem livre como para o condenado. Nele estão aplicadas as energias físicas e intelectuais do homem. Faz com que o homem se realize e ao mesmo tempo realize algo em benefício do próximo e da comunidade. Nele se desenvolve a capacidade produtiva do homem e se criam condições para que atinja sua finalidade sobre a terra.... Este trabalho tanto pode ser executado dentro do estabelecimento, como fora (...). {Antônio J. Miguel Feu Rosa, in Processo Penal, Ed. Consulex, 1ª edição, pp. 881 usque 885.} Que tudo isto não seja apenas mera mendacia... Fortaleza, sábado, 31 de dezembro de 2005, 19:59 hs. José INÁCIO DE FREITAS Filho {Advogado OAB/CE }
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