APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA NA APROPRIAÇÃO DE CONCEITOS BIOLÓGICOS

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1 APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA NA APROPRIAÇÃO DE CONCEITOS BIOLÓGICOS Resumo Michele Mezari Oliveira 1 - UNESC Ingrid Fortunato Martins 2 - UNESC Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: não contou com financiamento O presente trabalho descreve uma sequência didática de Biologia do Colégio Marista Criciúma, fazendo relação com aprendizagem significativa, de Ausubel. No intuito DE que seus alunos se apropriassem do conceito de Reino Fungi, a professora planejou uma sequência didática contendo: aula teórica, pesquisa, utilização de sites, softwares e experiência prática. Para verificação dos conceitos apropriados, foi utilizado o mapa conceitual que, segundo Moreira (2006), pode ser utilizado para exteriorizar o entendimento conceitual e proposicional sobre o conhecimento que os indivíduos possuam. Nesse sentido, o mapa conceitual serve de diagnóstico, tanto para professor quanto para aluno, no sentido de reverem conceitos que não foram relacionados corretamente. A metodologia utilizada possuía intencionalidade de construção de uma aprendizagem que não fosse meramente mecânica, mas significativa. Os conceitos que os alunos possuíam anteriormente foram considerados, pois a professora realizou uma pesquisa prévia sobre eles. A partir do que sabiam, planejou suas aulas de forma que as ações posteriores produzissem ancoragens de aprendizagem entre conceitos novos e antigos. Inicialmente, houve aula teórica, dialogada, que serviu de diagnóstico sobre os conceitos prévios, posteriormente, os alunos puderam fazer pesquisas sobre o Reino Fungi, no sentido de adquirirem outras informações sobre o tema. No momento em que se reuniram em grupos para a experiência proposta: feitio do pão, eles já possuíam outros conhecimentos ancorados para poderem discutir os resultados obtidos. A avaliação dos resultados foi positiva, pois houve envolvimento de todos os alunos e a construção dos mapas conceituais demonstrou que eles adquiriam os conceitos que haviam sido propostos nos objetivos iniciais. Palavras-chave: Aprendizagem significativa. Mapa conceitual. Aprendizagem mecânica. Experiência. 1 Mestranda em educação, pela Universidade do Extremos Sul Catarinense. Professora de Ciências da Rede Municipal de Criciúma e de Biologia no Colégio Marista de Criciúma, SC. 2 Mestre em Educação, pela Universidade do Extremos Sul Catarinense. Diretora Educacional do Colégio Marista de Criciúma, SC. ISSN

2 10635 Introdução Os conceitos apresentados no ensino da disciplina de Biologia nem sempre são fáceis de serem entendidos, pois agregam nomenclaturas específicas do conhecimento científico, além de focar em grande parte dos conteúdos no mundo microscópico. Para que os conceitos sobre o Reino Fungi fossem melhor compreendidos, utilizamos uma experiência da vivência dos alunos: o processo de fermentação do pão. Dessa forma, segundo a teoria de aprendizagem significativa de Ausubel, os alunos puderam ligar conceitos novos baseados em outros que já possuíam. A experiência utilizada na fermentação do pão, juntamente com as pesquisas feitas pelos alunos e a aula teórica que foi dada, forneceu condições para que os alunos pudessem entender a constituição do Reino Fungi. A avaliação do trabalho foi feita com mapas conceituais produzidos pelos próprios alunos. Nesse momento foi possível perceber que nossos objetivos foram alcançados, pois os alunos demonstraram apropriação do conceito estudado. A aprendizagem significativa do Reino Fungi Segundo Ausubel, Novak e Hanensian (1980), a aprendizagem significa organização e integração do material na estrutura cognitiva a partir de conhecimentos prévios. Como outros teóricos da linha cognitivista, ele afirma a existência de uma estrutura na qual essa organização e integração se processam. Essa estrutura: é a estrutura cognitiva, entendida como o conteúdo total de ideias de um certo indivíduo e sua organização; ou, conteúdo e organização de suas ideias em uma área particular de conhecimentos. É o complexo resultante dos processos cognitivos, ou seja, dos processos por meio dos quais se adquire e utiliza o conhecimento (MOREIRA, 1999, p. 152). Para Ausubel, Novak e Hanensian (1980), o fator isolado que mais influencia a aprendizagem é aquilo que o aluno já sabe. Dessa forma, cabe ao mediador saber o que o aluno já sabe para poder fazer as devidas intervenções. Novas informações podem ser aprendidas à medida em que conceitos relevantes e inclusivos estejam adequadamente claros e disponíveis na estrutura cognitiva do indivíduo e funcionem, dessa forma, como ponto de ancoragem para os novos conceitos. Entretanto, a experiência cognitiva não se restringe apenas à influência direta do que já foi aprendido, mas abrange também outras modificações relevantes nos atributos da estrutura cognitiva pela influência de novos conceitos ou informações.

3 10636 Para a ocorrência de uma aprendizagem significativa é necessário que a nova informação estabeleça relação de interação com aquele material existente na estrutura cognitiva. Segundo Moreira (1999, p.152): Há, pois, um processo de interação, por meio do qual conceitos mais relevantes e inclusivos interagem com o novo material, funcionando como ancoradouro, isto é, abrangendo e integrando este material e, ao mesmo tempo, modificando-se em função dessa ancoragem. A aprendizagem significativa é um processo por meio do qual um novo conceito ou informação relaciona-se com um aspecto especificamente relevante da estrutura de conhecimento que o indivíduo já possuía, ou seja, este processo envolve a interação da nova informação com uma estrutura de conhecimento específica. Ausubel denomina a estrutura de conhecimento específica preexistente de conceito subsunçor (MOREIRA, 1999). Para Moreira (1999, p. 153): a aprendizagem significativa ocorre quando a nova informação ancora-se em conceitos ou proposições relevantes, preexistentes na estrutura cognitiva do aprendiz. Ausubel vê o armazenamento de informações no cérebro humano como sendo organizado, formando uma hierarquia conceitual, na qual elementos mais específicos de conhecimento são ligados (e assimilados) a conceitos mais gerais, mais inclusivos. Estrutura cognitiva significativa, portanto, uma estrutura hierárquica de conceitos que são representações de experiências sensoriais do indivíduo. Diferenciando a aprendizagem significativa, há a aprendizagem mecânica, definida por Ausubel como sendo a aprendizagem de novas informações com pouca ou nenhuma interação com conceitos relevantes existentes na estrutura cognitiva. Na aprendizagem mecânica, a nova informação é armazenada de maneira arbitrária, sem interação entre a informação armazenada e a nova. As atividades desenvolvidas nas aulas de Biologia foram planejadas de modo que o conhecimento prévio que os alunos trazem consigo pudessem ser desenvolvidos, completados e aproveitados. Assim, durante o processo de aprendizagem, esperava-se que o aluno compreendesse o que é senso comum e conceito científico, de maneira significativa (RAMOS; PORTO; GOULART, 2009). Para o desenvolvimento da atividade, ocorreram três etapas, subdivididas da seguinte forma: mediação teórica do conteúdo, experimentação prática e avaliação, em que cada aluno construiu seu mapa conceitual sobre fungos.

4 10637 Procuramos mediar a compreensão do aluno, quanto aos conceitos relacionados ao conceito mais abrangente: Reino Fungi, que trata de um conteúdo curricular obrigatório da segunda série do ensino médio. Para isso, utilizamos aulas teóricas, pesquisa e experimentação prática, observando-se o processo de fermentação na fabricação do pão, pois esse conceito não seria totalmente novo para eles. Ao final do trabalho, foram utilizados mapas conceituais como estratégias de avaliação do conhecimento, dada a possibilidade de ocorrência da aprendizagem significativa, mediante as relações conceituais que se estabelecem. A aprendizagem significativa, ocorre à medida que o material de instrução potencialmente significativo entra no campo cognitivo do aprendiz, interage com ele e é ancorado, de forma adequada, a um sistema conceitual relevante e mais inclusivo (AUSUBEL, 2003). Esse pensamento de Ausubel instigou uma das etapas de nosso trabalho, a mediação teórica sobre o Reino Fungi baseou-se primeiramente na investigação daquilo que o aluno já sabe acerca do conteúdo em questão. A partir dessse reconhecimento, discutiu-se teoricamente o conteúdo por meio de diversos recursos, como vídeos, imagens, amostras vivas de representantes do Reino Fungi (cogumelos, orelha-de-pau). A importância econômica dos fungos também foi discutida, como por exemplo, na fabricação de bebida alcoólicas, de queijos, cogumelos utilizados na culinária, antibióticos, pães. Com base na importância econômica dos fungos, optou-se pela realização de uma experimentação prática para o desenvolvimento de tais conceitos discutidos em sala de aula. O principal objetivo foi o de favorecer aos alunos a compreensão do processo de fermentação, realizado por fungos do gênero Saccharomyces, quando na ausência de oxigênio. No processo de fermentação, tem-se como resultado do processo de respiração anaeróbia a liberação de gás carbônico, que relacionado a outros fatores como temperatura, por exemplo, farão o pão crescer. Sobre a importância das experimentações, Ramos, Porto e Goulart (2009, p.43) salientam que: a experimentação favorece os questionamentos e a busca pelo conhecimento, permitindo a inter-relação do aprendido com o que é visto na realidade. Isso requer do professor sensibilidade, senso de observação e metodologias adequadas para que as crianças, cheias de vontade e curiosidade e também dotadas de conhecimentos, concepções e representações prévias, sejam orientadas na construção de novos conhecimentos de forma plausível, inteligível e frutífera.

5 10638 Isto se evidenciou quando a parte empírica da fabricação do pão foi executada. Os alunos atendem prontamente ao chamado sinestésico de pôr a mão na massa. Figura 1: Alunos da segunda série do Ensino Médio, fabrincado pão para observar o processo de fermentação realizado por fungos do gênero Saccharomyces. Fonte: Marista Criciúma, Figura 2: Os alunos misturando os ingredientes para fabricar o pão. Fonte: Colégio Marista Criciúma, A experimentação foi desenvolvida em grupos, pois o trabalho em grupo estimula a participação, facilita a circulação de informações, a argumentação e sugestões, permite a troca de ideias e opiniões, possibilitando a prática da cooperação para a consecução de um fim comum. Dessa forma, as atividades em grupo proporcionam a socialização das pessoas (RAMOS; PORTO, GOULART, 2009).

6 10639 No desenvolvimento da atividade, o professor foi o mediador entre o conhecimento teórico, anteriormente estudado, e os resultados visualizados na prática. Reis e Linhares (2008) afirmam que uma das funções do professor é ser o parceiro mais capaz, que atua na condução do processo de ensino e orienta a aprendizagem do estudante por meio de interações sociais adequadamente planejadas. Vygotsky (1984) salienta que o caráter sociocultural do ensino e da aprendizagem fazse presente na mediação, onde o aprendiz depende inevitavelmente de outros atores, como colegas e professores, principalmente. O momento da experimentação prática foi de aprendizagem e diversão. Os alunos levantaram vários questionamentos e mostraram-se interessados no resultado do processo. Figura 3: Ao final, com os pães produzidos, antes de ir ao forno. Fonte: Colégio Marista Criciúma, Pode-se dizer que, a aprendizagem aconteceu durante todo o processo, desde as discussões sobre a lista de ingredientes, a mistura destes pensando-se no processo de fermentação ocorrido por meio das leveduras presentes no fermento biológico, a influência da temperatura no crescimento e cozimento do pão e todas as trocas de conhecimentos ocorridas nesta atividade prática. Após esperarmos o tempo necessário para o crescimento do pão e levá-lo ao forno, os pães foram entregues aos alunos, para serem degustados, assim que ficaram prontos.

7 10640 Figura 6: alunos degustando o pão fabricado na experimentação prática. Fonte: Colégio Marista Criciúma, junho de Na aula seguinte, para avaliar a aprendizagem dos conceitos sobre o Reino Fungi, foi proposto aos alunos a construção de um mapa conceitual com a ajuda do software CmapTools. O uso de mapas conceituais é considerado uma estratégia de ensino, sendo uma aplicação da Teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel, desenvolvida por Joseph Novak (1998) e Novak e Gowin (1999), que considera o mapa conceitual como uma estruturação hierárquica de conceitos. Para Moreira (2010), os mapas podem ser utilizados como instrumento de avaliação da aprendizagem e segue afirmando que mapas conceituais podem ser usados para se obter uma visualização da organização conceitual que o aprendiz atribui a um dado conhecimento. Pode ser utilizado para observação da evolução de conceitos e principalmente com um importante atributo para o feedback sobre a prática pedagógica do professor (AMORIN; ARAUJO, 2009). A avaliação do conhecimento a partir da construção de um mapa conceitual permite ao professor verificar como está ocorrendo a ligação entre os conceitos. Tavares (2007, p. 74) sugere que um mapa conceitual hierárquico se coloca como um instrumento adequado para estruturar o conhecimento que está sendo construído pelo aprendiz.... Ou seja, o mapa conceitual permite que, tanto o professor quanto o aluno, julguem se ocorreu a correta relação entre os conceitos, ou seja, a aprendizagem significativa.

8 10641 Figura 7: Mapa Conceitual construído por aluna da segunda série do Ensino Médio sobre o Reino Fungi. Fonte: arquivo da professora, O mapa conceitual que foi construído pelo aluno também funciona como norte orientador durante a evolução do seu conhecimento. Para Tavares (2007, p. 74), quando um aprendiz utiliza o mapa durante seu processo de aprendizagem de determinado tema, vai ficando claro para si as suas dificuldades de entendimento deste tema. Moreira (2006, p. 69) afirma que o mapa conceitual pode ser visto como uma técnica para exteriorizar o entendimento conceitual e proposicional que uma pessoa tem sobre certo conhecimento. É um importante diagnóstico tanto para o professor quanto para o aluno, onde é necessário rever conceitos que não foram relacionados corretamente, de forma a alcançar os objetivos propostos, ou seja, para alcançar uma aprendizagem significativa. Guimarães (2009, p. 63) evidencia a avaliação como uma das funções de um mapa conceitual, segundo a autora, na medida em que explicita o estágio da aprendizagem em que se encontra o estudante, o mapa se apresenta como uma radiografia da estrutura cognitiva do aprendiz. A autora ainda indica a possibilidade de o professor, a partir da avaliação do mapa conceitual, encaminhar o estudante para processos cognitivos adequados a sua situação. Guimarães (2009, p. 63)

9 10642 Considerações Finais O ensino de Biologia, muitas vezes, é interpretado como algo difícil, já que utiliza muitos conceitos científicos. Nos dias atuais, presenciamos mudança cultural na forma de aprender e ensinar Ciências. Entretanto muitas dessas práticas debatidas ainda são pouco difundidas, diante disso, poucas mudanças são observadas, persistindo velhas práticas (RAMOS; PORTO; GOULART, 2009). Notou-se a importância da intervenção do professor nas aulas mediadas teoricamente e na experimentação prática, relacionando o conhecimento prévio do aluno com o conhecimento possibilitado pelas etapas anteriormente citadas e possibilitando a aprendizagem dele. Um recurso didático que se mostrou eficiente na avaliação da aprendizagem foi o mapa conceitual, que permite ao professor verificar se ocorreu evolução do conhecimento, ou seja, se o aluno conseguiu relacionar adequadamente os conceitos. Os alunos aprovaram a construção dos mapas conceituais enquanto instrumento de avaliação da aprendizagem, pois concede ao aluno maior autonomia para relacionar seus conhecimentos adquiridos com conhecimentos prévios. Dado o caráter idiossincrático da aprendizagem significativa, os mapas conceituais são uma forma de avaliar o tipo de estrutura que o aluno vê para um determinado conjunto de conceitos (MOREIRA, 1992). Pode-se concluir que o mapa conceitual é uma ferramenta importante que o professor tem em mãos, podendo utilizá-lo de diversas formas, tais como, fazer um diagnóstico do que os alunos sabem sobre o assunto que será estudado, verificar suas dificuldades por meio da avaliação e ajudá-los na evolução dos conceitos. REFERÊNCIAS AMORIM, T. ARAUJO, M. (2009). Processo de inserção dos mapas conceituais, como recurso didático, no ensino de biologia. In: Congreso Internacional sobre Investigación en Didáctica de lãs Ciencias, 8., 2009, Barcelona. Revista Enseñanza de las Ciencias, Barcelona, n.8, p , Disponível em: < file:///c:/users/usuario/downloads/ sm.pdf>. Acessado em: 04 jul AUSUBEL, D.P. ; NOVAK, J.D. e HANESIAN, H. Psicologia educacional. 2. ed. Rio de Janeiro: Interamericana, p. AUSUBEL. D.P. Aquisição e retenção de conhecimentos: uma perspectiva cognitiva. Lisboa: Plátano, Disponível em: <

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