AS DIFERENTES VISÕES ENTRE MORADORES E VISITANTES EM FESTAS DE PADROEIROS EM GOIÁS: O CASO DE POSSE DA ABADIA 1.

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1 AS DIFERENTES VISÕES ENTRE MORADORES E VISITANTES EM FESTAS DE PADROEIROS EM GOIÁS: O CASO DE POSSE DA ABADIA 1. Dagner de Sousa Machado¹; Mary Anne Vieira da Silva²; Maria Idelma Vieira D Abadia³ ¹ Bolsista PBIC/UEG, graduando curso de Geografia, UNUCSEH-UEG. ² Orientadora, docente do curso de Geografia, UNUCSEH UEG. ³ Co-Orientadora, docente do curso de Geografia, UnU- Pires do Rio UEG. Resumo As festas de padroeiros são responsáveis todos os anos por uma grande aglomeração de pessoas em determinados lugares. Muitas dessas pessoas, movidas pela fé, percorrem milhares de quilômetros em busca da paz que encontram nesse contexto símbolo da religiosidade popular. Várias são as cidades goianas caracterizadas com esse movimento, em que, novas relações entre moradores e visitantes são traçadas com o local e outras são fortalecidas ano após ano, com inicio e fim das festividades. Festas que geralmente são marcadas pela presença de famílias inteiras, que reforçam seus votos de felicidade e prosperidade por meio da fé. Nesse resumo apresentamos uma breve análise das diferentes visões dos moradores e visitantes, em relação a festa de Nossa Senhora D Abadia, no distrito de Posse da Abadia no município de Abadiânia. Palavras-Chave: fé, festa, atividade econômica. Introdução De acordo com informações obtidas no site oficial da Prefeitura Municipal de Abadiânia, a origem do povoamento relaciona-se com romarias promovidas por dona Emerenciana, em devoção a Nossa Senhora da Abadia, no ano de No início, as rezas aconteciam em sua casa. Depois, foi construída uma capela, em torno da qual se fixaram os primeiros habitantes, procedentes, na maioria das vezes, da cidade de Corumbá e do Estado de Minas Gerais. As famílias eram atraídas pela atividade religiosa e pelas terras férteis às margens do Rio Capivari e do Córrego Cururu. 1 Pesquisa desenvolvida com recursos do edital Ch05/2008 da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Goiás- FAPEG. 1

2 Localizada na Microrregião do Entorno de Brasília e na Mesorregião Leste Goiano a 78 km da capital Goiânia. O município de Abadiânia foi criado em 20 de Outubro de Com o advento da BR Belém-Brasília e a má localização da Sede Municipal decidiu-se a transferência para as margens da citada rodovia, pela Lei Municipal nº11, de 3 de agosto de 1960, efetivando-se a mudança em 15 de setembro de A antiga sede retornou à condição de distrito, com a denominação de Posse D'Abadia, pela Lei Municipal nº 67, de 12 de setembro de Após o breve histórico da cidade ressaltamos que, a origem do município foi bastante influenciada pelas romarias em louvor à padroeira Nossa Senhora da Abadia. Crença que só fez aumentar com os anos, o que antigamente era um movimento local, passou a ser uma festa de alcance regional, bastante importante no calendário religioso goiano. Conseqüentemente com a expansão da festa, foram aumentando o número de visitantes, assim a festa, em Posse da Abadia foi capaz de manter uma tradição de longas datas. O objetivo desse estudo é analisar essa questão, tomando como princípio dois pontos de vista sobre essa festa: dos moradores e visitantes, ambos sobre o rumo que essa festividade está tomando. Material e Métodos A metodologia para o desenvolvimento da pesquisa pautou-se, principalmente na revisão conceitual da temática, pautados na abordagem cultural da geografia e na aplicação de instrumentos de coleta de dados: questionários, entrevistas e observação sistematizada na festa religiosa em Posse da Abadia. Os questionários foram aplicados aos visitantes e moradores, e possuíam perguntas que os distinguiam. Para que pudéssemos analisar as visões de um morador quanto de um visitante sobre essa festa, o questionário foi aplicado no povoado de Posse da Abadia no município de Abadiânia, no período da Festa de Nossa Senhora D Abadia, no mês de agosto de Resultados e discussão 2

3 As festas religiosas católicas de maneira geral passam por algumas transformações, e uma das mais marcantes é no sentido econômico. Não podemos deixar de mencionar que muitas vezes essas atividades econômicas são movidas pela própria instituição religiosa, em busca de arrecadarem fundos. Assim, são criadas novas atividades durante essas festas, que dinamizam o comércio, seja ele ligado ao sagrado, seja ligado aos momentos de lazer na permanência do romeiro no local visitado de acordo com Rosendahl (2003). Segundo a autora atividades ligadas ao ramo da hospedagem, alimentação, entre outras ganham espaço nessas épocas. O crescimento do comércio ao redor dessas igrejas é a marca e desses fenômenos, as chamadas barraquinhas vêm se transformando em um atrativo a mais para as pessoas que freqüentam a festa. Pessoa (2005) nos afirma que, em uma festa religiosa, passear no comércio é um ritual tão importante quanto à parte religiosa. O comércio estimula o consumo na festa, assim como a própria festa de padroeiro estimula o consumo, principalmente de comida e bebida, na quermesse, pelos leilões, pela venda de variados pratos após a novena. Essa dinâmica de comercio incentivado pela igreja também se faz presente na festa analisada. Assim, baseado no questionário aplicado durante a festa de Nossa Senhora D Abadia no Distrito de Posse da Abadia abordamos aqui uma breve análise das respostas obtidas com a aplicação do questionário aos moradores e visitantes na referida festa em agosto de A maioria das pessoas entrevistadas entre os visitantes é comerciante, tinham entre vinte e seis e trinta e cinco anos de idade, casados e possuem como nível de escolaridade o ensino fundamental. Podemos também destacar que o número de visitantes que comparecem apenas no último dia da festa é grande e a cidade de Anápolis é o destino de origem da maioria questionada, fato também observado nas placas dos veículos que compareceram no encerramento da festa. Sendo que os que ficam mais dias hospedam-se em casa de amigos ou nas barracas, esses geralmente são comerciantes. O que denota uma mudança nas características dessas festas de padroeiro, o aumento do comércio em volta da Igreja onde acontece essa festividade. Um dado que chama a atenção é a variação existente entre a presença de homens e mulheres, o número de mulheres moradoras que freqüentam a festa é maior que o número de homens moradores. Enquanto o número de homens visitantes é maior que o de mulheres. Em relação à freqüência dessas pessoas na festa, dentre os moradores, a maioria dos entrevistados tem mais de vinte anos de festa, já entre os visitantes a grande maioria tinha 3

4 menos de cinco participações na festa, o que ressalta a idéia de que a festa vem sendo freqüentada por um numero maior de pessoas nos últimos cinco anos. A opinião deles em relação à importância da festa para a cidade também foi questionada. Entre os moradores cerca de noventa e cinco por cento das respostas disseram que sim, já para os visitantes o número cai para aproximadamente sessenta e cinco por cento. Os visitantes alegam à fé como principal motivo para comparecerem à festa. O que nos leva a teorizar que a festa ainda representa um espaço simbólico para a manifestação da fé católica e prática da religiosidade popular. Outra pergunta foi em relação à organização da festa, grande parte dos moradores disse que a festa está bem organizada, já entre os visitantes o número cai. Eles alegam falta de iluminação, banheiros, coleta de lixo e sinalização. Os visitantes geralmente vão à festa de carro próprio, ou a pé cumprindo promessa, sozinhos ou acompanhados de apenas uma pessoa. A hospitalidade dos moradores de Posse da Abadia foi considerada ótima pelos visitantes. Com relação à participação nos rituais religiosos, ambas as respostas (moradores e visitantes) tiveram uma grande porcentagem de participação, sendo em missas, procissões, entre outras coisas dessa festa. As procissões são marcas dessa festa, ocupando as vias principais da cidade e congregando centenas de devotos. Outra característica marcante na festa é a participação da comunidade local tanto nos rituais, quanto na preparação da festa, o que esclarece a resposta dos moradores na doação de dinheiro para a organização da festa. Entre os moradores entrevistados a maioria declarou serem trabalhadores rurais e empregados domésticos. A maioria dessas pessoas nasceu na própria cidade. A faixa etária mais evidente está acima de sessenta e cinco anos, são casados e possuem ensino fundamental. Grande parte dos moradores alega que a festa é um marco local e tradicional, e para alguns é muito importante para o turismo da cidade. Conclusão Festas de padroeiros são grandes manifestações de fé por todo Brasil, grandes aglomerações de pessoas com intuito de buscar ali um sentido para a vida, seus problemas e soluções para os mesmos. O que antes era somente uma manifestação de fé vai se tomando um crescente poderio econômico. 4

5 Pelo questionário aplicado no período da festa pode-se entender o que essa festa representa para o povoado, segundo a visão de moradores e visitantes. E o que vemos hoje nessa festa de padroeiro é o crescente número de visitantes que ao comparecerem procuram outras coisas além da crença religiosa. Já para os moradores as respostas levam a crer que se tenta preservar a idéia principal da festa, a devoção à padroeira Nossa Senhora D Abadia. O crescimento do número de pessoas, na festa, faz com que cresça as atividades ligadas as necessidades humanas como: alimentação e hospedagens, ainda que provisórias. Sendo que, o aumento do número de pessoas tende a aumentar as diferenças de propósitos para comparecimento na comemoração. Referências Bibliográficas DEL PRIORE, M. Festas e Utopias no Brasil Colonial. São Paulo: brasiliense, PESSOA, J. M. Saberes em Festa. Goiânia: Editora da UCG, Aprender e ensinar nas festas populares. Programa um salto para o futuro. Bol. 02, Abril, 2007, TV Escola SEED, MEC. ROZENDAHL, Z.; CORRÊA, R. L. Introdução a Geografia Cultural. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, Acesso em 01 de outubro de