PASSAGEM FRANCA TERRA DE SÃO SEBASTIÃO
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- Thereza Batista Tuschinski
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1 PASSAGEM FRANCA TERRA DE SÃO SEBASTIÃO Sousa, Silvanir Lima; Melo,Salânia Maria Barbosa Monografia apresentada à Universidade Estadual do Piauí (UESPI), como requisito parcial para a obtenção do titulo de licenciado em História. Professora de História pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Teresina, Piauí, silvanirlima@hotmail.com.br Resumo Este trabalho tem a finalidade de promover uma melhor análise histórica sobre festas religiosas, especificamente a festividade católica do Festejo de São Sebastião, na cidade de Passagem Franca- MA. uma vez que sua história é marcada pela devoção ao Santo. Para compor nossa pesquisa usamos alguns conhecimentos: Chartier (1982 e 1986), Del Priore (2000), Da Matta (1997), Brandão (1989) Mircea (1992), e muitos outros, em artigos, que embasaram a pesquisa. O processo metodológico foi desenvolvido a partir das referências bibliográficas, análise em fontes escritas de livro de Tombo, metodologia da história oral, que pautaram a estrutura do trabalho. A partir desses estudos, foi possível ter um melhor conhecimento do festejo ao padroeiro, aspectos e memórias da vivência popular, bem como a atuação da sociedade em meio à festividade. Palavras- Chave: Cultura. Festa Religiosa. São Sebastião. Introdução Não é de hoje que surgem festas ao padroeiro que movimentam o meio urbano e rural. Essas festas na maioria das vezes têm uma conotação religiosa, a religiosidade imbuída nessas festividades não só mexe com os elementos sagrados, mas dá uma abertura ao profano, mistura de devoção amparada pela população e sacralizada pela igreja. Padroeiros, divindades ganham altares novos, cortejo, procissão, rituais que caracterizam a comemoração, uma mistura de sentimentos e fé. Em função da movimentação em torno da festa ao padroeiro, procuramos nesse trabalho mostrar como a devoção passa de geração a geração com suas rupturas e permanências, a festa e suas peculiaridades, através de fontes bibliográficas, fontes orais, entrevistando pessoas ligadas diretamente à festividade, lendo documentos
2 oficias, que deram sustentáculo ao trabalho. Entretanto obtivemos muitas informações cedidas pela igreja, nos livros de tombo, onde são guardadas as informações de importância para essa instituição. A partir daí, mostramos a importância do festejo ao padroeiro São Sebastião, expondo seus pontos principais e a religiosidade que envolve a festança, sem deixar de ressaltar os elementos profanos que permeiam o ritual festivo. Um elemento bastante característico na celebração é a tão aguardada festa de rua, a parte mais profana do festejo, com seu ritual. Ressaltamos os pontos altos da festa, não só os elementos sagrados, mas também os profanos. No período analisado (de 1961 até 2000) foi possível perceber a dimensão da devoção ao santo protetor da região e o tamanho do respeito ao pároco Padre Vicente de Paulo Brito, que esteve á frente da paroquia durante esses quarentas anos. Metodologias No campo da história cultural, formamos a base teórica que contribuiu para a elaboração desse trabalho, a partir dos estudos e pesquisas realizados nas bibliografias dos teóricos Chatier, com A História Cultural entre praticas e representações; Jacques Le Goff em Histórias e Memórias; Del Priore com Festas e Utopias no Brasil Colonial; Brandão, com Cultura na Rua; conceituação e fundamentação do conceito de festas e das bases que as estruturam, do sair á rua, do espaço que se cria ao entorno. A identificação das fontes e do aprofundamento do estudo da historiografia relacionada às festas religiosas sobre o padroeiro e a cidade a ser estudada, impulsionaram as pesquisas. Essas fontes possibilitaram uma melhor compreensão do desenrolar da devoção ao mártir. Neste sentido foram analisados os Livros de Tombo da paróquia de São Sebastião (1961 á 2000), depoimentos orais, registros fotográficos, vídeos, bibliografia de autores que escreverem sobre a cidade, filhos de Passagem Franca. Passagem Franca, Terra de São Sebastião. Terras de Pastos Bons, terras de passagens, o sertão do Maranhão como todo o Brasil foi alvo da colonização portuguesa em busca de terra para a criação de gado e captura de nativos, zona de grande influência no médio sertão maranhense. A entrada das fazendas de gado vindas do Piauí começou a dar visibilidade a uma extensão de
3 terras que oferecia condições propicias não só para a criação de animais, mas para o cultivo de culturas distintas. Era vasto o território que compreendia a região de Pastos Bons, que foi agregando povoação advinda para além do rio Parnaíba. O território compreendido ao sul do Maranhão foi atrativo devido a seu solo fértil, que vai viabilizar a povoação do entorno do sertão maranhense, as vilas vão se formando em torno dos riachos e currais, povoadas por viajantes em busca da criação de gado solto ou mesmo da captura dos nativos e de fixação. Os habitantes do sertão maranhense eram atraídos para a região pelas notícias de grande quantidade de pasto, vegetação de boa qualidade e de ótimas condições para alimentação dos animais, como gado vacum e cavalar. Dentre as comunidades que surgiram nas terras de Pastos Bons, em função da pecuária e das fazendas que foram se formando em toda a extensão maranhense, surge uma pequena povoação ás margens do riacho Inhumas, caminho de escoamento das boiadas para as outras regiões do médio sertão, que durante muito tempo foi trocando de nome e de jurisdição, mas em 8 de maio de 1835 é oficialmente intitulada freguesia de São Sebastião da Passagem Franca, pela lei provincial de n 13 dessa data. Teixeira (1983) afirma, que há muito não se sabe com exatidão quando surgiu esse povoado. São Sebastião, do Mártir ao Santo, conquistou adoração pelo mundo, ganhando destaque no Brasil em quase todas as suas regiões. Passagem Franca, na microrregião do Estado do Maranhão, uma cidade de pequeno porte e de ares provincianos, mas todo o ano, desde a sua criação, homenageia São Sebastião, eleito padroeiro pelos seus moradores. Esta festa é realizada pela igreja juntamente com a comunidade e não sabemos com exatidão quando começou palavras do escritor Fonseca Neto (2006). O festejo de São Sebastião ocorre oficialmente do dia 10 ao dia 20 de janeiro dia do santo. A cidade e os moradores se preparam meses antes para receber a festa, que duras dez dias, a elaboração da festa fica a cargo de dois setores: a igreja, que cuida das atribuições sagradas e uma comissão de homens que se intitulam amigos do mastro, que cuidam de um ritual de homenagens ao Mártir, com um apoio popular muito forte. No desenrolar do festejo de São Sebastião, a cidade ganha vida, o reencontro de pessoas com a terra natal, confraternizações, um avivamento no centro comercial, as áreas de lazer antes monótonas passam a ganhar vida, a noite ilumina-se de gente e de luz, festas profanas em clubes, bares, que vão acontecendo em toda a cidade, eventos esquecidos durante o decorrer do ano. A festa ao Mártir possui duas
4 características uma religiosa e outra profana, que, em algum momento, se entrelaçam. A festa na rua vai se desenrolando no decorrer do dia, pessoas e mais pessoas vão tomando conta da cidade, em todos os lugares se encontra um motim a se reunir á espera do mastro. A la vandera, como é chamada pelos populares, é uma festividade que começa á meia noite do dia 9 ao final do dia 10 de janeiro especificamente em Passagem Franca-MA. Não se tem um registro com exatidão quando começou a festa do mastro ou a la vandera, só se sabe que é uma celebração que atravessa séculos O dia a se passar e o mastro a percorrer a cidade, cantorias, batuques ecoam pelas ruas ao som de pifeiros, cantadores, repentistas, homens que comandam as rimas e improvisações ao Santo, a festa de rua é um acontecimento que vai além do querer da igreja, a população fica á espera durante todo o ano, fazendo planos, se organizando, para no dia 10 estar disponível para brincar com mastro. Vivenciar a La Vandera tem um significado que não se incorpora apenas á festança regada à bebida, é um sentimento que enobrece a alma. Considerações Finais A homenagem ao Mártir Santo proporciona á pequena cidade de Passagem Franca um encontro com suas raízes, reviver uma festa realizada há dois séculos, mostra o poder da tradição que ecoa no coração dessa gente de sangue quente e sofrido. É a construção da festa religiosa como um espaço de sociabilidade e cultura, como a atuação de fiéis no envolvimento com cada detalhe da comemoração, elementos que estão presentes nos folguedos, barracas, de comidas, bebidas e jogos de azar, que são encontradas ao redor da igreja elementos que compõem a festa e que só são encontrados nesse período de festivo. O festejo cria na população uma identidade coletiva, possibilitando a integração de uma sociedade a algo comum com se e o outro, criando um reflexo das ações das pessoas em prol de um bem comum a todos, fosse uma linguagem expressa nas ações e interação da população como instituição católica e ao mesmo tempo a propagação do profano em suas atuações. O passado e o presente se confundem, o sagrado e o profano se unem.
5 Referências FREYRE, Gilberto. Casa-Grande e Senzala. 48. ed. São Paulo: Global Editora,2003. DURKHEIM, E. As formas elementares da vida religiosa: o sistema totêmico na Austrália (J. P. Neto, Trad.) 2. ed. São Paulo: Edições Paulinas. (Originalmente publicado em 1912), SANTOS NETO, Antônio Fonseca dos. Memorias das Passagens/ Antônio Fonseca dos Santos Neto. Teresina EDUFIP/Academia de Letras, história e Ecologia de Pastos Bons, SANTOS NETO, Antônio Fonseca dos. História do Padre Vicente. Teresina : Paroquia de São Sebastião/ Academia de Letras, História e Ecologia de Pastos Bons, DEL PRIORE, Mary Lucy. Festas e Utopias no Brasil colonial. São Paulo: Brasiliense, (O caminho das utopias) DAMATTA, Roberto. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro. 6. ed. Rio de Janeiro: Rocco.1997 SOUSA, Raimundo Nonato Rodrigues de. Rosário dos Pretos de Sobral CE: Irmandade e festa ( )/ Fortaleza: Edição NUDOC / Expressão Grafica e Editora, p. 146 (Coleção Mundo do Trabalho) LE GOFF, Jacques, História e memória. Tradução Bernardo Leitão... [et al.] -- Campinas, SP Editora da UNICAMP, (Coleção Repertórios) MORAES FILHO, Mello, Festas e Tradições Populares do Brasil / Melo Morais Filho; com um prefácio de Sílvio Romero ; desenhos de Flumen Junius. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, ELIADE, Mircea, O sagrado e o profano. [tradução Rogério Fernandes]. São Paulo: Martins Fontes, (Tópicos) BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A cultura na Rua. Campinas: Papirus, 1989.
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