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1 Universidade Federal do Rio de Janeiro POR UMA ABORDAGEM UNIFICADA DA HIPOCORIZAÇÃO EM PORTUGUÊS: ANÁLISE OTIMALISTA Hayla Thami da Silva 2013

2 Universidade Federal do Rio de Janeiro Faculdade de Letras POR UMA ABORDAGEM UNIFICADA DA HIPOCORIZAÇÃO EM PORTUGUÊS: ANÁLISE OTIMALISTA Hayla Thami da Silva Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa) da Universidade Federal do Rio de Janeiro como parte dos requisitos necessários à obtenção do Título de Doutor em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). Orientador: Prof. Doutor Carlos Alexandre Victório Gonçalves. Rio de Janeiro Fevereiro de

3 POR UMA ABORDAGEM UNIFICADA DA HIPOCORIZAÇÃO EM PORTUGUÊS: ANÁLISE OTIMALISTA Hayla Thami da Silva Orientador: Prof. Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves Tese de Doutorado submetida ao Programa e Pós-graduação em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa) da Universidade Federal do Rio de Janeiro como parte dos requisitos necessários à obtenção do Título de Doutor em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). Examinada por: Presidente, Prof. Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves Profa. Doutora Marília Lopes da C. Facó Soares UFRJ Prof. Doutor João Antonio de Moraes UFRJ Profa. Doutora Christina Abreu Gomes UFRJ Prof. Doutor Roberto Botelho Rondinini UFRRJ Prof. Doutor Gean Nunes Damulakis UFRJ, suplente Profa. Doutora Carmen Teresa Dorigo UFRJ, suplente Rio de Janeiro Fevereiro de

4 SINOPSE Estudo sobre um processo não-linear de formação de palavras do português: a hipocorização. Reanálise dos padrões de hipocorização do português brasileiro. Proposta de unificação dos padrões A e B de encurtamentos afetivos. Apresentação dos dados e análise baseada na Teoria da Otimalidade, ROE modelo de ranqueamento ordenado do avaliador. 4

5 AGRADECIMENTOS Há muito a agradecer em virtude deste trabalho que, mais adiante, será contemplado por vocês, leitores. O primeiro agradecimento que faço, sem qualquer dúvida, é aos meus guias e mentores espirituais que foram incansáveis em me dar subsídio nos momentos em que tudo parecia insolúvel. Agradeço a calma que, como a maioria deve saber, não é uma de minhas qualidades e, portanto, aqueles que olham por mim tiveram sua participação em apaziguar angústias e consolidar pensamentos positivos que me fizeram alcançar mais um degrau na minha escala evolutiva aqui na Terra (e, claro, degraus na escritura da Tese em si). Em segundo lugar, o meu muito obrigada aos meus pais Rosilene Thami da Silva e José Luiz Ferreira da Silva e à minha irmã Helyn Thami da Silva. Minha família sempre foi presente na minha vida e, quando foi uma decisão minha assumir a responsabilidade de fazer doutorado, eles estavam presentes a todo instante. Algumas vezes para fornecer algumas palavras de afeto, outras para incentivar novos passos e conquistas, outras para, simplesmente, mostrar como a vida é na realidade: com percalços e decisões difíceis a serem tomadas. E essa minha incrível família sempre depositou em mim toda a confiança necessária para que, hoje, eu pudesse ter a possibilidade de concluir o primeiro doutorado da família. Acredito que venha por ai, com força total, minha irmã, a próxima da fila na empreitada. Espero ter servido de bom exemplo para você, irmã. Amo vocês. Em terceiro e não menos importante lugar, agradeço ao meu marido - Manoel Lage - que, quando me conheceu, abraçou a causa de ter uma namorada e, pouco tempo depois, uma esposa ainda meio enrolada com 5

6 compromissos relativos à feitura desta tese. Além de presente em todos os momentos de tensão que o trabalho acadêmico nos propicia, ele também foi incansável em fazer todo o possível para ajudar no que lhe cabia, sobretudo com números, coisa que não é lá o meu forte. Meu amor, a você, meus mais sinceros agradecimentos. Sei que, muitas vezes, deixamos de ficar juntos vendo um filme ou coisa do tipo para que eu pudesse concluir em tempo o meu trabalho; muito embora saiba que não foi nenhum grande problema para você, muito pelo contrário, você sempre me incentivou muito, desculpe-me por eventuais ausências e obrigada por tudo. Te amo demais! Aproveito também para agradecer a pessoas que são essenciais em nossas vidas os familiares e os amigos. Aos meus familiares, muito obrigada pelo apoio, pelas palavras de carinho e por me acolherem tão bem nessa família que eu amo tanto. Isso, inclui, é claro, a minha também família os Teixeiras Lages. Vocês, desde sempre, participaram ativamente da reta final deste trabalho que hoje se finda. Muito obrigada por tudo. Vocês são incríveis. Aos meus amigos, minhas sinceras desculpas e agradecimentos. Sei que, muitas vezes, não pude estar presente em comemorações, encontro e aniversários, em função de estar escrevendo ou pesquisando algo. Espero recompensá-los a partir de agora! Muito obrigada por tudo. Faço um agradecimento especial aos meus amigos: Janderson, Lilian, Rosângela, Vítor, Bruno, Caio, demais membros do NEMP e a Malu que, embora não seja minha orientadora, é uma grande amiga e fonte de luz de meus conhecimentos. Vocês sempre foram (e continuarão sendo) uma inspiração para mim. Obrigada por tudo. Caio, a você um agradecimento 6

7 especial, pois, sem sua ajudinha internética, não sairiam testes para a metodologia este trabalho. Obrigada. O meu maior agradecimento, sem dúvidas, é para o melhor orientador que alguém pode ter no mundo: Carlos, você é incrível! Sempre que entro em profundo desespero e cansaço, lá está você para, mais do que me acalmar, trazer sensacionais soluções para tudo. Espero um dia ser parecida com você, porque igual será impossível. Muito obrigada por me mostrar o caminho das pedras, caminho este que me fez trilhar uma carreira acadêmica, que eu amo demais, e uma carreira federal. Muito obrigada por tudo. Você é demais. Agora, voltemos à tese. 7

8 RESUMO POR UMA ABORDAGEM UNIFICADA DA HIPOCORIZAÇÃO EM PORTUGUÊS: ANÁLISE OTIMALISTA Hayla Thami da Silva Orientador: Prof. Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves Resumo da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, Faculdades de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Letras Vernáculas Língua Portuguesa. Ao considerar a Gramática Tradicional (GT), pode-se perceber que, na área destinada à Morfologia, mais especificamente à formação de palavras, não se analisam processos que, embora produtivos, são considerados marginais. Nesses processos, comumente conhecidos como processos marginais de formação de palavras, enquadra-se o estudo da redução de nomes próprios, isto é, o fenômeno da hipocorização, como em Cristina > Cris e Francisco > Chico. Como processos morfológicos que não se formam a partir do encadeamento de formativos não são estudados amplamente, busca-se, nesta proposta de análise, apresentar uma abordagem unificada da hipocorização no português brasileiro, a partir da descrição dos quatro tipos de hipocorísticos, apresentados por Gonçalves (2004a). Cumpre salientar que os padrões de hipocorização já foram estudados e descritos por Gonçalves (2004a), Thami da Silva (2008) e Lima (2008); entretanto, até o momento, não houve uma descrição única da hipocorização no português brasileiro. O objetivo desta proposta de trabalho é mostrar, a partir de um mesmo mecanismo de análise, todas as formas possíveis de encurtamento de prenomes utilizados pelos falantes, como é o caso de Filomena, cujas formas de saída na língua podem ser Mena (padrão A), Filó (padrão B) e Fí (padrão C). Dessa forma, o presente estudo visa a analisar, de modo unificado, a hipocorização e, para isso, será utilizada a Teoria da Otimalidade (TO), associada ao ROE (do inglês, rank-ordering model of EVAL). A TO trabalha com a hierarquização de restrições universais, fazendo, assim, emergir dessa hierarquia um candidato ótimo. Com a nova dimensão atribuída a AVAL, um dos componentes da gramática da TO, que funciona como o avaliador das formas candidatas a output, é possível trazer à superfície várias formas ótimas utilizadas pelos falantes, de modo a mostrar efetivamente, em um ranking único, todos os padrões de hipocorização do português. Palavras-chave: morfologia não-concatenativa, hipocorização, Teoria da Otimalidade, ranqueamento ordenado. Rio de Janeiro Fevereiro de

9 ABSTRATC FOR A UNIFIED APPROACH OF HIPOCORISTICS NOUNS IN PORTUGUESE: OPTIMALITY ANALYSIS Hayla Thami da Silva Advisor: Prof. Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves Abstratct da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, Faculdades de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Letras Vernáculas Língua Portuguesa. When considering the Traditional Grammar (GT), one can see that in morphology sections, specifically the formation of words, it does not analyze processes that, although productive, are considered marginal. Among these processes, commonly known as the marginal processes of word formation, there is the study of reduction of proper names, ie, the phenomenon of hypocoristic nouns, as in 'Cristina'> 'Cris' and 'Francisco'> 'Chico'. As morphological processes that are not formed from the linking of formatives are not widely studied, the purpose, in this proposed analysis, is to present a unified approach of hypocoristic nouns in Brazilian Portuguese, based on the description of the four types of hypocoristic nouns presented by Gonçalves (2004a). It should be noted that the patterns of hypocoristic nouns have been studied and described by Gonçalves (2004a), Thami da Silva (2008) and Lima (2008), altough, until now, there was not a unique description of hypocoristic nouns in Brazilian Portuguese. The objective of this proposed work is to show, from the same analysis method, all possible ways of shortening first names used by speakers, as the case of 'Philomena', whose output forms in the language can be 'Mena' (pattern A), 'Filo' (pattern B) and 'Fí' (pattern C). Thus, this study aims to analyze, in a unified manner, the hypocoristic nouns and, therefore, our framework will be Optimality Theory (OT), associated with the ROE (English, rank-ordering model of EVAL). OT works with the hierarchy of universal constraints, making, thus, a candidate emerge from this great hierarchy. With the new dimension assigned to EVAL, a mechanism of OT grammar that works as the evaluator of the forms which are candidates for output, it is possible to bring up several optimal forms used by speakers, showing effectively, in a single ranking, all patterns of hypocoristic nouns of Portuguese. Keywords: nonconcatenative morphology; hypocoristic nouns; Optimality Theory; rank-ordering model Rio de Janeiro Fevereiro de

10 RESUMEN POR UN ENFOQUE UNIFICADO DE LA HIPOCORIZACIÓN EN PORTUGUÉS: ANÁLISIS OTIMALISTA Hayla Thami da Silva Orientador: Prof. Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves Resumen da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, Faculdades de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Letras Vernáculas Língua Portuguesa. Llevando en consideración la Gramática Tradicional (GT), se puede observar que en el área de la morfología, específicamente la que se destina a formación de palabras, no hay un análisis detallado de los procesos que, sin embargo productivos, se considera marginal. En esos procesos, conocidos comúnmente como los procesos marginales de formación de palabras, se incluye el estudio de la reducción de los nombres propios, es decir, el fenómeno de la hipocorización, como en 'Cristina' > 'Cris' y 'Francisco' > 'Chico'. Como los procesos morfológicos que no se forman a partir de la concatenación de formativos no son ampliamente estudiados, el análisis propuesto presenta un enfoque unificado de la hipocorización en portugués de Brasil, a partir de la descripción de los cuatro tipos de hipocorísticos presentados por Gonçalves (2004a). Cabe señalar que los patrones de hipocorización se han estudiado y descrito por Gonçalves (2004a), Thami da Silva (2008) y Lima (2008), pero, hasta ahora, no hay una descripción única de hipocorización en portugués de Brasil. El objetivo de este trabajo es mostrar, desde un único mecanismo de análisis, todas las posibilidades de acortar nombres utilizados por los interactates, como es el caso de 'Filomena', cuyas formas encurtadas pueden ser 'Mena' (default), Filo (forma B) y 'Fi' (forma C). Por lo tanto, este estudio tiene como objetivo analizar, de manera unificada, la hipocorización y, para eso, se utilizará la Teoría de Optimalidad (TO), asociada al ROE (del inglés, rank-ordering model of EVAL). TO trabaja con una jerarquía de restricciones universales, de la cual emerge el candidato que mejor satisface al ranking de restricciones. En el modelo ROE, el componente de la gramática optimalista, EVAL (del inglés, evaluator), pasa a tener una nueva dimensión, ya que funciona como el ranqueador de las formas candidatas óptimas. De ese modo, es posible llevar a la superficie varios outputs utilizados por los hablantes y, entonces, presentar un análisis unificado de la hipocorización en portugués de Brasil. Palabras clave: morfología noconcatenativa; hipocorización; Teoría de Optimalidad. Rio de Janeiro Fevereiro de

11 A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu, mas pensar o que ninguém ainda pensou sobre aquilo que todo mundo vê. (Arthur Schopenhauer) 11

12 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO A HIPOCORIZAÇÃO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO FUNDAMENTOS TEÓRICOS Teoria da Otimalidade Clássica O tratamento da variação sob a perspectiva otimalista O ranqueamento das formas candidatas a output no ROE Uma divergência entre a proposta de Coetzee e a hipocorização a questão da frequência REVISÃO DAS ABORDAGENS OTIMALISTAS PARA OS PADRÕES DE HIPOCORIZAÇÃO DO PORTUGUÊS Os padrões de hipocorização: as propostas de GONÇALVES, LIMA & THAMI DA SILVA (2009) O padrão default de hipocorização O padrão B de hipocorização O padrão C de hipocorização O padrão D de hipocorização Metodologia e a reanálise dos padrões de hipocorização do português brasileiro A ANÁLISE DA HIPOCORIZAÇÃO A PARTIR DO ROE A DEFINIÇÃO DE RESTRIÇÕES QUE ATUAM NO NÍVEL Restritores invioláveis Restritores de fidelidade posicional Demais restrições relevantes A DEFINIÇÃO DAS RESTRIÇÕES QUE ATUAM NO NÍVEL CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANEXOS Anexo I

13 9.2. Anexo II Anexo III Anexo IV Anexo V Anexo VI Anexo VII Anexo VIII

14 1. INTRODUÇÃO A prescrição gramatical caracteriza a morfologia como prioritariamente aglutinativa, o que, por sua vez, faz com que processos não-concatenativos sejam considerados mal-comportados (SPENCER, 1991). Essa perspectiva acerca dos processos de formação de palavras dá à hipocorização o estatuto de fenômeno idiossincrático (CUNHA, 1975) ou assistemático (ZANOTTO, 1989), já que se baseia na perda de material fônico, e não na concatenação de formativos, para originar nova forma, oriunda do encurtamento de antropônimos, cuja marca lexical é a expressão da afetividade, como ocorre em Manuela > Manú 1 ; Eduardo > Edú e Elisabeth > Béth. Considerando que processo de hipocorização é usual e comumente acessado por falantes do português brasileiro, primeiramente Gonçalves (2004a) e, em seguida, Lima (2008) e Thami da Silva (2008) propõem a descrição formal dos quatro padrões estabelecidos em Gonçalves (op.cit.), ratificando que fenômenos de morfologia subtrativa compartilham características gerais no que concerne ao padrão estrutural e, por conseguinte, não são imprevisíveis (MONTEIRO, 1987), conforme preconiza a maior parte da literatura na área. Dessa forma, sob a luz da Teoria da Otimalidade (doravante TO), modelo paralelista que objetiva a seleção de um candidato ótimo através de um ranking de restrições universais passíveis de violação, para cada um dos quatro padrões de hipocorização, diferentes hierarquias foram propostas, como resumido em Gonçalves, Lima & Thami da Silva (2009). 1 Cumpre salientar que o uso do acento agudo, para vogais abertas, e circunflexo, para fechadas, indica unicamente a tonicidade da sílaba e, portanto, não está necessariamente de acordo com as regras de acentuação do português. A indicação da tonicidade é necessária ao trabalho, pois evidencia o respeito ou a violação a certos restritores, que serão abordados mais adiante. Dessa forma, ao longo do presente trabalho, as formações acentuadas, na realidade, denotam unicamente a tonicidade. 14

15 A partir da comparação entre as análises já feitas, observamos que, além de partilhar características comuns, como, por exemplo, o fato de constituir palavra mínima na língua, alguns dados possibilitam vários tipos de encurtamento, como ocorre com o prenome Filomena, cujos hipocorísticos podem ser Filó (padrão B), Mêna (padrão A) e Fifí e Fí (padrão C). Sendo assim, neste trabalho, objetivamos (a) revisitar os padrões de hipocorização propostos por Gonçalves (op.cit.), a fim de determinar se, de fato, há, no português, quatro diferentes tipos estruturais de hipocorísticos; e, também, (b) unificar a abordagem dos padrões de hipocorização reanalisados nesta Tese. A proposta de unificar a análise da hipocorização no português visa a conjugar, em uma mesma hierarquia de prioridades, a seleção de candidatos possíveis, licenciados pela gramática. Para tanto, lançamos mão da proposta de Coetzee (2004, 2006) que verifica, através de uma nova forma de encarar o papel do módulo Avaliador (do inglês, EVAL), a possibilidade de candidatos estarem raqueados numa escala que vai do melhor ao menos frequente 2 output, trazendo à tona todas as formas efetivamente produzidas pelos falantes. Assim, para cada antropônimo passível de hipocorização, em uma mesma hierarquia, poderá emergir mais de uma forma de output. A proposta geral da tese, então, é comprovar que (a) processos de morfologia não-concatenativa, como é o caso da hipocorização, são efetivamente produtivos na língua e, mais do que isso, são regulares do ponto de vista estrutural; (b) a Teoria da Otimalidade, sobretudo no que se refere ao 2 É importante frisar, conforme apresentaremos mais adiante, que, no caso da hipocorização, o que estará em jogo não serão formas mais frequentes no sentido matemático (frequência relativa), como preconiza Coetzee (2004, 2006), mas sim mais aceitas pelos falantes, segundo alguns testes de aceitabilidade aplicados a informantes. 15

16 ROE Rank-ordering of EVAL 3 dá conta da análise de processos de interface morfologia-fonologia; e (c) fenômenos que apresentam mais de uma forma ótima, ou seja, variáveis, podem apontar para um continuum de aceitabilidade/frequência. Além disso, propomos uma redefinição dos padrões de hipocorização elencados por Gonçalves (2004a) e evidenciamos a existência de um ponto de corte crítico para a análise da hipocorização (COETZEE, op.cit), o que torna possível limitar a variação na perspectiva otimalista, uma das preocupações do modelo desenvolvido por Coetzee (op.cit). Para tanto, a presente Tese organiza-se nos seguintes capítulos: em (2), apresentamos a perspectiva tradicional acerca da hipocorização em português, a fim de confrontá-la com a definição que adotamos para o processo. Em (3), definimos a Teoria da Otimalidade e a perspectiva de Coetzee (op.cit.) para o tratamento da variação na TO, o que nos levará à abordagem, ainda que brevemente, de algumas questões cruciais relativas à teoria, como a papel do Avaliador, um dos principais componentes da gramática da TO, frente à seleção dos candidatos ótimos. Em (4), propomos a revisão das análises otimalistas para os padrões de hipocorização do português de acordo com a perspectiva de Gonçalves, Lima & Thami da Silva (2009). Em (5), evidenciamos a metodologia adotada no trabalho, a qual, por sua vez, aponta para a redefinição dos padrões de hipocorização. Em (6), discutimos a nova abordagem da hipocorização sob a ótica do ROE para, então, em (7), tecermos algumas considerações finais sobre a análise ora proposta. 3 Rank-ordering of EVAL traduz-se por Modelo de ranqueamento ordenado do Avaliador. 16

17 2. A HIPOCORIZAÇÃO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO Neste capítulo, descrevemos o fenômeno da hipocorização no português brasileiro, de modo a destacar (i) as abordagens do processo sob o olhar da gramática tradicional (GT) e de autores como Monteiro (1983); (ii) a conceituação do fenômeno, demonstrando, assim, as características gerais dos quatro 4 padrões de hipocorização de que pretendemos tratar nesta Tese; e (iii) o contraste entre a hipocorização e outro processo não-concatenativo de formação de palavras o truncamento. Pela tradição gramatical, infere-se que a morfologia do português se fundamenta, sobretudo, na formação de itens lexicais a partir do encadeamento de formativos; logo, pode-se dizer que vocábulos são gerados, basicamente, a partir de dois grandes processos a derivação e a composição. Na derivação, como se sabe, acrescenta-se um afixo a uma base de maneira a formar uma nova palavra na língua; na composição, duas bases (radicais ou palavras) se combinam para gerar um novo vocábulo. Alguns fenômenos, entretanto, não se manifestam pela estrita concatenação de morfemas. A partir da perda de material fonológico, por exemplo, também se constituem novas formas linguísticas, como ocorre com a hipocorização Renata > Rê e com o truncamento refrigerante > refrí. A gramática tradicional, quando cita processos como esses, não os organiza segundo características afins e, com isso, acaba por considerar os fenômenos de encurtamento anômalos ou irregulares do ponto de vista formal, 4 Segundo Gonçalves (2004a), há cinco padrões de hipocorização no português, mas, no presente trabalho, vamos nos ater, unicamente, aos que são formados a partir de uma base simples; logo, formas como Maria Lúcia > Malú e Carlos Eduardo > Cadú, já descritas por Lima (2008), não serão contempladas nesta tese. 17

18 o que, por sua vez, faz deles os mal-comportados do português (SPENCER, 1991). Em Cunha & Cintra (2001), por exemplo, encontramos, nas últimas páginas que abordam os processos de formação de palavras, um item denominado abreviação vocabular. Nesse item, os autores explicitam que, devido ao ritmo acelerado da vida intensa de nossos dias, acabamos por fazer uso de uma elocução mais rápida, de modo que, para economizar tempo e palavra (CUNHA & CINTRA, 2001: 116), utilizamos algumas reduções linguísticas, como ocorre em dados como moto, em lugar de motocicleta, e auto, em vez de automóvel. Cumpre salientar, ainda, que os autores não apresentam nenhum dado de abreviação que tenha como base um antropônimo. Mas, segundo a definição proposta, os hipocorísticos parecem estar incluídos nesse grupo genérico, caracterizado, em linhas bem gerais, pela perda segmental e atrelado, por isso mesmo, à economia linguística. Bechara (2009) propõe um apêndice no capítulo destinado aos processos de formação de palavras do português. No subitem abreviação, definido como emprego de uma parte da palavra pelo todo (op.cit.: 371), o autor inclui dados como extraordinário e extrafino > êxtra, o que confirma que Cunha & Cintra (op.cit.) e Bechara (op.cit.) atribuem o rótulo abreviação a todos os processos de encurtamento do português. Com esse título genérico, os autores nos levam a pensar que dados como televisão > téle são equiparáveis a abreviações como senhor. > sr., por exemplo. É importante ressaltar que a hipocorização, bem como o truncamento, não são abreviações, pois, ao contrário do que ocorre em você > 18

19 vc, típico fenômeno da língua escrita e sem qualquer compromisso com as bordas do constituinte-base, o hipocorístico respeita a integridade da margem mais à esquerda da palavra-matriz, como em Cristina > Crís, ou da margem mais à direita, como em Francisco > Chíco. O mesmo ocorre com o truncamento, que também preserva o material fonológico à esquerda da base, como descrito em Gonçalves (2004), Gonçalves & Vazques (2005), Belchor (2009) e Gonçalves (2011). Por tentarem enquadrar os encurtamentos em um único processo, o de abreviação, Bechara (op.cit.) e Cunha & Cintra (op.cit.), entre outros autores de mesma linha descritiva (p. ex., LUFT, 1978), não conseguem observar regularidades em fenômenos que envolvem perda de massa fônica; daí advém o rótulo de imprevisíveis (ZANOTTO, 1989) ou limitados (CARONE, 2004). Uma abordagem um pouco mais detalhada acerca de processos malcomportados (SPENCER, 1991) do português é a de Rocha Lima (2003). Para o autor, os hipocorísticos são uma alteração, nascida em âmbito familiar, do prenome ou nome próprio individual (op.cit.: 227), como ocorre em Fabiana > Fafá ; Filomena > Filó ; Fernanda > Nânda e Roberto > Betínho. De fato, Rocha Lima (op.cit.) percebe que a hipocorização se refere a antropônimos; no entanto, o grande problema de sua abordagem é denominar subsidiários processos regulares e produtivos. Além disso, o autor agrupa, em um mesmo conjunto de dados, casos de encurtamento e outros de derivação, todos alocados na seção destinada a processos subsidiários ou marginais. É importante reforçar, entretanto, que, se os hipocorísticos fossem formados a partir do encadeamento de afixos, como em Roberto > Betínho, o processo estaria em consonância com a derivação e, por isso mesmo, não 19

20 deveria ser descrito sob o rubrica de subsidiário. Na verdade, a hipocorização é responsável por gerar bases encurtadas que, por sua vez, podem sofrer o acréscimo de afixos expressivos variados, como -ico ( Tonico ), -inho ( Cadinho ), -ito ( Eduzito ) e -ão ( Xandão ), entre tantos outros. Compactuando o ponto de vista de Rocha Lima (op.cit.), Monteiro 5 (1983) propôs a análise dos hipocorísticos e, inclusive, um dicionário de dados 6. O autor, entretanto, ao definir o processo como uma alteração do prenome ou nome próprio individual e apresentar a lista seguinte de hipocorísticos para Antônio Totônio, Toim, Tõe, Totô, Tó, Tozinho, Nanan, Toinho, Tom, Toni, Tonico, Toquinho, Tota, Tuquinho, Tonhão, Tonton, Tonho, Toninho, Toinzin, Niquinho, Tonhozinho, Totoca, Tonheiro, Mitonho, Nini, Nico, Tonca, Antoinho, Antoninho, Toinzinho, Tontonho, Tutu, Tutuca, Tonito, Nito, Sitônio, Tonzinho, Tinoco, Tonico, Antoni, Antonieto e Tonhim faz com que, de fato, o número de dados se torne infinito, considerando que é um hipocorístico qualquer alteração no prenome, sem se preocupar, por exemplo, com a relação de identidade entre a palavra-base e o item formado a partir de seu encurtamento afetivo. No dicionário proposto por Monteiro (1999), há formas hipocorísticas extremamente opacas, a exemplo de Antônio > Tú 7, em que o rastreamento da base a partir da qual se forma o produto não tem relação estrita com o prenome e, por isso, não se observa a formação de um hipocorístico. Logo, se 5 Além de Lemos Monteiro, Brito (2003) também trata a hipocorização como uma alteração do prenome, sendo também designações carinhosas familiares (BRITO, 2003) e, portanto, a autora comete o mesmo equívoco de Monteiro ao considerar qualquer alteração carinhosa do prenome como um hipocorístico. 6 O dicionário de dados está disponível em 7 É importante frisar que essas formas compostas por sílabas CV ou CVC, em grande parte dos dados, podem ser acrescidas de reduplicante, como Tutú, por exemplo. 20

21 não é possível associar Tú a Antônio, a forma linguística resultante é opaca, o que comprova a não-correspondência mínima entre as duas. Sendo assim, a hipocorização não é um vale-tudo de dados sem qualquer relação com o prenome a que fazem referência, como em Tú para Antônio ; hipocorísticos constituem formas estreitamente relacionadas à palavra-matriz. Em oposição a isso, tem-se o uso de apelidos. Estes não são criados a partir de vínculos formais, mas a partir de características extralinguísticas, como é o caso de Anão referindo-se a alguém baixo, ou Marrom, que faz referência à cantora Alcione. O mesmo raciocínio se aplica a dados como Bituca para o cantor Milton Nascimento ou ainda Spider para o lutador Anderson Silva. Nesses exemplos, a relação entre indivíduo-apelido não tem a ver com o seu antropônimo e, portanto, não temos um processo morfológico, como é o caso da hipocorização. Além de conceituar os hipocorísticos, Monteiro (op.cit.) propõe-se a dividi-los em padrões. Para o autor, a hipocorização pode ocorrer por meio dos seguintes processos: (a) duplicação, esta sendo perfeita, como em Fátima > Fafá, ou imperfeita, como ocorre em Anália > Lalá ; (b) braquissemia, esta se subdividindo em braquissemia por aférese, como em Osvaldo > Váldo, por síncope, como ocorre em Catarina > Carína, por apócope, como, por exemplo, Filomena > Filó, e por aférese e apócope simultaneamente, como em Elisabete > Lís ; (c) acrossemia, como ocorre em Maria Tereza > Matê ; (d) sufixação, como em Manuel > Manéco e, por fim, (e) reforço, como, por exemplo, Josefa > Zefínha. A tipologia proposta por Monteiro (op.cit.) apropria-se de termos técnicos da gramática histórica, caracterizando, a partir de fenômenos fonológicos bem definidos, os vários tipos de redução a que o antropônimo está sujeito. Assim, o autor acaba correlacionando um processo morfoprosódico, como é o caso da 21

22 hipocorização, a processos puramente segmentais. Por exemplo, o autor considera a aférese uma estratégia para a formação de hipocorísticos como Osvaldo > Váldo e Roberto > Béto. Esses dados, no entanto, não revelam qualquer motivação para a aplicação desse processo, uma vez que o apagamento não é determinado por questões segmentais, mas por questões prosódicas, como observou Gonçalves (2004a). A partir dessas regularidades, Gonçalves (op.cit.) propôs a descrição da hipocorização, definindo-a e delimitando padrões gerais de formação. Segundo o autor, o fenômeno consiste no encurtamento de antropônimos, de modo a preservar parte da base para que seja possível o rastreamento do prenome a partir da forma encurtada. Gonçalves (op.cit.) observa, ainda, que os encurtamentos constituem palavra mínima na língua, já que são compostos por até um pé binário (as palavras resultantes são maximamente dissilábicas). Tendo em vista a definição do autor, verifica-se que a hipocorização não deve ser entendida apenas como um processo morfológico, mas como um típico caso de interface morfologia-fonologia, já que a perda de segmentos fônicos, condicionada por questões de ordem morfoprosódica, atribui ao item lexical um caráter afetivo, típico dos encurtamentos. Assim, Gonçalves (op.cit.) apresenta quatro tipos de hipocorísticos. O primeiro, amplamente estudado pelo autor, consiste na cópia dos segmentos melódicos à direita da palavra-base, como em Augusto Gúto. O segundo, analisado com mais profundidade em Thami da Silva (2008), copia os segmentos à esquerda da palavra, a exemplo do que ocorre em Rafael Ráfa. O terceiro, abordado com vagar por Lima (2008), copia a sílaba tônica do antropônimo, que, neste caso, é sempre a última, como em Barnabé 22

23 Bé 8. Por último, o quarto padrão, descrito por Thami da Silva (2008), rastreia a primeira sílaba com onset do antropônimo, como ocorre em Alessandra Lê. Embora diferentes em alguns aspectos, os padrões de hipocorização propostos por Gonçalves (2004a) apresentam características comuns. Em primeiro lugar, conforme já mencionado, todos os encurtamentos são formados por até um pé binário 9. Além disso, as formas derivadas sempre guardam alguma identidade com as derivantes, seja porque apresentam uma sequência periférica em comum ( Rafael > Ráfa e Joana > Jô ), seja porque se aproveitam do pé nuclear do antropônimo ( Francisco > Chíco e Alcir > Cí ). Como se pode notar, a hipocorização não só apresenta características gerais, como é o caso de estar atrelada, necessariamente, à redução de antropônimos, como também se distribui em padrões formais, segundo regularidades estruturais. Isso evidencia que, em oposição a autores prescritivistas e à própria descrição de Monteiro (1983), a hipocorização é um processo regular e previsível na língua. Após discutida a definição de hipocorização adotada neste trabalho, é importante destacar a diferença entre a hipocorização e o truncamento outro processo não-concatenativo de formação de palavras, analisado em detalhes por Belchor (2009). Muitos autores, como é o caso de Benua (1995), Colina 8 É importante destacar que os padrões C e D podem ser acrescidos de reduplicantes. No entanto, como a reduplicação é um processo morfoposódico que ocorre após a delimitação da base encurtada, não vamos nos ater a descrevê-la nesta Tese, já que nosso objetivo é checar a formação das bases e não os demais processos a que estas podem ser submetidas na língua. 9 O pé binário é aquele composto por duas moras, ou seja, duas unidades de peso. No português, a posição de núcleo da sílaba e de coda (posição de travamento) constituem unidades peso e, por isso mesmo, são computadas como moras. Além disso, no inventário assimétrico de pés, um pé silábico, isto é, composto por duas sílabas, também é considerado binário; entretanto, em vez de tratarmos da contagem de moras, adotamos a contagem de sílabas. Em síntese, a divisão em pés de uma palavra prosódica pode ser dada pela sensibilidade à mora e, sendo assim, temos um pé binário sempre que houver duas moras (o que, no latim, era representado por duas vogais breves ou uma longa), ou pela sensibilidade à sílaba e, nesse caso, duas sílabas estruturam um pé. 23

24 (1996) e Piñeros (2000), defendem que a hipocorização é um subtipo do que se denomina truncamento. Nesta Tese, contudo, adotamos a visão de Gonçalves (2004a), reiterada por Thami da Silva (2008), Lima (2008) e Belchor (2009). Na proposta do autor, a hipocorização e o truncamento são processos distintos, ainda que impliquem encurtamentos e atuem na interface morfologiafonologia. Em primeiro lugar, é importante salientar que a hipocorização restringese aos antropônimos, enquanto o truncamento expande-se, além de substantivos próprios ( Florianópolis > Floripa ), a outras classes formais, como a dos substantivos comuns ( beleza > belê ) e a dos adjetivos ( sofisticado > sofís ). Em segundo lugar, deve-se frisar que o valor expressivo dos hipocorísticos está associado à afetividade e, portanto, demonstra proximidade entre os interactantes; ao contrário, o truncamento, na maior parte dos casos (cf. GONÇALVES, 2011), relaciona-se à expressão da pejoratividade, como em vagabunda > vagába ; português > portúga, ou à simples expressão do grau de (in)formalidade, como em exposição > expô ; refrigerante > refrí. Por fim, truncamento e hipocorização devem ser vistos como processos distintos, posto que este gera uma forma de superfície de até um pé binário, como ocorre com Mariana > Mári, e aquele admite um encurtamento formado, por exemplo, por três sílabas, como salafrário > saláfra. Esta é a principal diferença entre os dois processos, na visão de Gonçalves (2006): hipocorísticos são palavras mínimas; truncamentos, não necessariamente. Dessa forma, concluímos que a hipocorização, ao contrário do que descrevem a GT e autores como Monteiro, é um processo previsível e regular 24

25 na língua e que, por isso mesmo, obedece a restrições de marcação e de fidelidade, conforme preconiza o modelo teórico adotado nesta tese a Teoria da Otimalidade (PRINCE & SMOLENSKY, 1993), descrita no capítulo 3, a seguir. Retomamos os estudos sobre a hipocorização em português no Capítulo 4, no qual apresentamos a análise dos quatro padrões aqui referenciados. 25

26 3. FUNDAMENTOS TEÓRICOS Neste capítulo, apresentamos as principais características da Teoria da Otimalidade (TO), modelo a partir do qual analisamos os padrões de hipocorização que constituem o objeto de estudo desta Tese. Para tanto, dividimos o capítulo nas seguintes subseções: em (3.1), apresentamos os aspectos gerais que norteiam a TO; e, em (3.2), descrevemos a versão mais recente no que se refere ao tratamento da variação na TO o ROE (do inglês rank-ordering of EVAL) proposto por Coetzee (2004, 2006), associando essa visão à análise da hipocorização no português brasileiro Teoria da Otimalidade Clássica A Teoria da Otimalidade (TO) surge como modelo para análises fonológicas e morfológicas em 1991 na conferência Optimality, realizada por Alan Prince & Paul Smolensky, no Arizona, Estados Unidos. Esse novo modelo, diferentemente do que postulam outras teorias gerativas, não se baseia em regras, ou seja,, uma infração a determinada restrição não representa agramaticalidade, como nos modelos que antecederam no tempo a TO, mas a satisfação a um restritor mais bem cotado em um ranking de prioridades estabelecido para cada língua. Dessa forma, a TO passa a não mais trabalhar com o emparelhamento entre input e output a partir de estratos derivacionais em que regras ordenadas são aplicadas até se chegar ao produto linguístico de superfície, mas com a avaliação de formas em paralelo, sendo essas formas geradas pelo GEN (do inglês, generator), um dos componentes da gramática otimalista, e avaliadas pelo conjunto de restrições universais (CON, do inglês, constraints). 26

27 Para dar conta desse novo modo de encarar as relações entre forma subjacente e de superfície, a TO respalda-se em cinco premissas básicas: (a) universalidade; (b) violabilidade; (c) hierarquização; (d) inclusividade e (e) paralelismo. Na TO, a universalidade está diretamente relacionada ao um conjunto de restrições, presente em qualquer gramática. Desse modo, pode-se dizer que as restrições postuladas pela TO são aplicáveis a todas as línguas e a diferença entre cada língua está no modo como são hierarquizados os restritores. Por isso, a TO pretere restrições particulares a uma única língua, como ocorreu, em larga escala, nos modelos teóricos pautados em regras. No que se refere à violabilidade, pode-se dizer que se caracteriza pela possibilidade de se violarem as restrições universais. Essa violação, no entanto, não ocorre fortuitamente, pois infringir uma restrição significa satisfazer a outra mais bem cotada na hierarquia de uma determinada língua. Assim, a Teoria da Otimalidade traz à tona a violabilidade como um recurso inerente às línguas, mostrando que, para que uma forma seja ótima, ou seja, para que a forma escolhida seja, de fato, a realização do falante, não é fundamental obedecer a todo o conjunto de restrições, pois um candidato ótimo deve apenas consolidar-se em relação às demais formas como o que melhor atende as demandas de uma hierarquia. A hierarquização é uma premissa aplicada às restrições universais. Pode-se afirmar que a hierarquia é o que configura a gramática de uma língua. Dessa maneira, a organização de um ranking de restrições muda em função de cada língua; assim, as diferenças interlinguísticas correspondem a diferenças no ranqueamento de restritores universais. 27

28 A inclusividade é uma premissa que se refere ao conjunto de análises candidatas, ou seja, às formas linguísticas vistas como possíveis candidatos a output. O gerador (do inglês, GEN) pode, em princípio, criar um conjunto infinito de candidatos (propriedade denominada, por Prince & Smolensky (1993), de liberdade de análise ). No entanto, condições gerais de boa-formação e imposições de fidelidade podem limitar o número de formas incluídas na análise, de modo a evitar candidatos absurdos ou muito diferentes do input. Por fim, o paralelismo pressupõe a análise dos candidatos em paralelo, ou seja, sem recorrer a estratos derivacionais, não havendo necessidade de filtros nem de ciclos derivacionais 10 para que sejam avaliadas as formas candidatas a output: todas são analisadas em paralelo pelas várias demandas da hierarquia. A avaliação dessas formas candidatas organiza-se a partir de uma gramática, exemplificada, segundo Archangeli (1997), como em (01), a seguir: 10 Pelo menos no que diz respeito à TO Clássica. Em outros modelos otimalistas, acolhidos na rubrica genérica TO Estrastal, como a LPM-OT (Lexical Phonology-Morphology OT), desenvolvida por Kiparsky (1997), faz-se uso de ciclos, o que leva a descartar a premissa do paralelismo. 28

29 (01) LÉXICO /INPUT/ GERADOR (GER) [Cand 1] [Cand 2] [Cand 3] [Cand 4] AVALIADOR (AVAL) (CON) [OUTPUT] Como mostra a formalização em (01), o léxico fomenta a escolha do input. Este, por sua vez, após determinado, passa pelo crivo do gerador (GER), componente da gramática que gerencia a criação de formas candidatas a output. É importante destacar que não são geradas formas aleatórias, mas apenas aquelas que mantêm uma relação de identidade com a forma de input. Determinados os candidatos, o avaliador, associado ao conjunto de restrições universais (CON, de constraints, do inglês), verifica a forma que melhor atende à hierarquia de relevância, selecionando, assim, o output ótimo. No caso da hipocorização, a gramática da TO funciona como em (02), a seguir: 29

30 (02) LÉXICO /ANTROPÔNIMO/ GERADOR (GER) [Cand 1] [Cand 2] [Cand 3] [Cand 4] AVALIADOR (AVAL) (CON) [HIPOCORÍSTICO] Conforme sinalizado em (02), o léxico fornece os antropônimos, como Bernadete, por exemplo, já que corresponde ao conjunto de elementos linguísticos que possibilitam a formação do input. Após determinada a forma subjacente (no nosso caso, sempre o antropônimo), o gerador cria candidatos a output, mas, como se sabe, esses candidatos devem possuir similaridades em relação à forma de input. Assim, para o antropônimo Bernadete, podem ser geradas formas como Bêr, Bérna, Nadé, Déte. Os candidatos, então, passam pela fase de avaliação, levada a cabo por EVAL (do inglês evaluator), que, por sua vez, alimenta-se de um conjunto de restrições universais (CON). Finalmente, após avaliadas as formas, tem-se o output ótimo, realizado pelos falantes. No exemplo que serviu de ilustração, o candidato mais harmônico (forma ótima) seria Déte. Vale destacar que a forma ótima pode infringir restrições, desde que a infração seja necessária para que uma outra restrição mais bem hierarquizada seja satisfeita. 30

31 Tratando-se de restrições, é imprescindível salientar que, na TO, há dois grandes grupos de restritores o de marcação e o de fidelidade. O primeiro, segundo Gonçalves (2005a), configura exigências estruturais de vários tipos ; já o segundo requer total semelhança entre input e output, determinando um mapeamento de um-para-um entre essas duas linhas de representação linguística (GONÇALVES & PIZA, 2009:22). Dessa forma, a emergência de um candidato como ótimo advém do conflito entre essas duas famílias de restrições, uma que regula a boa-formação da estrutura linguística e outra que exige a máxima identidade entre input e output. A depender de cada processo analisado, podemos ter rankings em que as restrições de marcação dominam as de fidelidade e vice-versa. Por exemplo, se, em uma língua, um restritor como MAX-IO (antiapagamento) domina a hierarquia de prioridades e ONSET (preenchimento do ataque) é um restritor posicionado abaixo de MAX, a língua requer que não sejam apagados segmentos do input para o output, mesmo que, para isso, haja uma sílaba em que a posição de ataque não esteja preenchida, como em (03) 11, a seguir: 11 A notação utilizada nos tableaux condiciona o uso das barras - / / - à transcrição fonológica dos dados que correspondem ao input; os colchetes - [ ] - indicam palavras prosódica; o uso dos parênteses - ( ) - determina a formação de pés e os pontos delimitam as sílabas. Além disso, a marcação C refere-se à posição subespecificada para consoantes, enquanto V, para vogais. 31

32 (03) /V.CV/ MAX-IO 12 ONSET 13 [(V.CV)] * [(CV)] *! Em (03), observamos o tableau, formalização utilizada no modelo otimalista para representar a avaliação de formas. Nele, no primeiro espaço à esquerda, aparece a forma de input, aqui representada entre barras, /VCV/, em que V e C representam, genericamente, um segmento vocálico (V) e um segmento consonântico (C). Na mesma linha, seguem as restrições ranqueadas conforme as prioridades da língua. Nesse caso, MAX-IO é seguida por ONSET, por dominar esse restritor. Na coluna em que é posta a forma de input, organizam-se as estruturas candidatas, aqui representadas entre colchetes, [(V.CV)] e [(CV)]. A relação de dominância entre os restritores é evidenciada pelo uso de uma linha contínua que delimita, pois, a relação de dominância: A >> B. Iniciada a avaliação de formas, o candidato 2 infringe a restrição de fidelidade e, portanto, recebe o sinal *, seguido de! e está eliminado da disputa; daí o uso do hachurado para indicar que os demais restritores não terão seus efeitos visíveis na avaliação da forma já eliminada. O candidato 1, por mais que viole ONSET, é a forma ótima, já que a infração evidencia um maior respeito à fidelidade, que, nessa língua, é prioritária; logo, em (03), FIDELIDADE >> MARCAÇÃO. 12 Optamos por adotar a nomenclatura de restrições em inglês. Dessa forma, em nota, apresentaremos, sempre que possível, o correspondente em português. No caso. MAX significa MAXIMIDADE e, em português, temos MAX-IO, que corresponde à maximização dos elementos do input no output. 13 ONSET é nomeado, em português, ATAQUE. O restritor obriga que a posição de ataque silábico seja preenchida. 32

33 Conforme salientamos no Capítulo 2, a redução de antropônimos visa à formação de palavras mínimas e, portanto, um hipocorístico compõe-se por até um pé binário. Se, então, uma questão de natureza estrutural é primordial na seleção da forma ótima, MARCAÇÃO >> FIDELIDADE. Dessa forma, pode-se dizer que a relação de identidade entre o input e o output é mínima e capaz meramente de tornar possível o rastreamento do antropônimo a partir da forma hipocorizada, como mostra o tableau em (04) 14 : (04) 15 * ( *. *.) /filomena/ PARSE 16 - ALLFOOT(R) 17 MAX-IO a) [(fi. lɔ)] **** b) [fi.(lõ. me)] *! ** 14 Utilizamos, apenas para fins de exemplificação, a restrição MAX-IO. Na proposta unificada de tratamento da hipocorização no português brasileiro, outras restrições de fidelidade estarão em jogo, como veremos mais adiante, no Capítulo 6. Entretanto, na análise proposta por Thami da Silva (2008) para o tratamento do tipo B de hipocorização (Capítulo 4), MAX tem papel importante na análise dos encurtamentos, por isso adotamos esse restritor para exemplificar a relação de dominância entre MARCAÇÃO e FIDELIDADE. 15 Faz necessário salientar que, no caso da hipocorização, a marcação acerca do acento é essencial à análise. Dessa forma, como na transcrição fonológica não se deve marcar o acento, consideramos uma formação simples que consiste em apresentar a grade métrica imediatamente acima da transcrição do input e, o acento primário da palavra na linha mais alta da grade. Assim, garantimos a formalização métrica do input. 16 PARSE- pode ser traduzida por ANALISE- Quanto à sua definição, requer que a categoria prosódica sílaba esteja intergrada à categoria prosódica pé. 17 ALLFOOT(R) traduz-se por TODO-PÉ (D), ou seja, o pé deve estar alinhado à direita da palavra prosódica. 33

34 Em (04), o antropônimo Filomena é o input, seguido das formas candidatas (a), Filó 18, e (b), Filomê. As restrições PARSE- que exige que sílabas sejam integradas a pés, e ALLFOOT(R), responsável pelo alinhamento do pé à direita da palavra prosódica, estão em um mesmo nível hierárquico (a linha tracejada indica a não-dominância entre elas, que corresponde à relação {A, B}). Esses dois restritores, por sua vez, dominam MAX-IO, responsável pelo não-apagamento de segmentos fônicos do input para o output. O candidato (b) viola PARSE-, já que há uma sílaba não-integrada à categoria prosódica pé. Ainda que não infrinja ALLFOOT(R), (b) está eliminado da disputa, pois a forma (a) passa ilesa pelos dois primeiros restritores. A restrição MAX-IO é atendida, da melhor maneira, pela forma (b), posto que são apagados apenas dois segmentos do input para o output, enquanto, em (a), são apagados quatro segmentos. No entanto, como a hipocorização é um processo caracterizado pela perda de material segmental para a criação de uma nova forma, é importante frisar que MARCAÇÃO >> FIDELIDADE 19 e, portanto, não atender a MAX, ainda assim, garante à forma (a) a vitória como output ótimo. Assim, como podemos observar, a emergência de um candidato como forma de superfície depende do respeito às exigências de nível mais alto. Além disso, as relações de dominância entre as restrições de marcação e de fidelidade garantem a formação de uma hierarquia de relevância baseada no 18 É importante salientar que, no que se concerne às referências feitas aos candidatos no corpo do texto, utilizaremos grafemas, a fim de facilitar a leitura. 19 Na proposta de Thami da Silva (2008), apesar de dominada, a restrição MAX-IO mostrou-se responsável pela seleção de candidatos ótimos na hipocorização, visto que a perda de segmentos fônicos torna uma estrutura opaca e, portanto, a melhor satisfação a MAX pode conferir a uma forma candidata sua emergência como output ótimo. Quando, então, uma restrição dominada torna os seus efeitos decisivos na seleção da forma de superfície, temos a emergência do não-marcado (McCARTHY & PRINCE, 1994b). 34

35 conflito entre essas duas famílias de restritores que compõe CON, o conjunto de restrições universais, conforme prevê a teoria. Como se pode perceber, a TO Clássica, proposta por Prince & Smolensky (1993), é um arcabouço teórico capaz de trazer à tona questões importantes sobre o modo como entendemos o funcionamento das línguas em geral. Sendo assim, não mais tratamos o estudo da linguagem de modo dicotômico: de um lado, formas perfeitas que respeitam todas as regras de uma língua e, de outro, formas agramaticais que, muitas vezes, infringem um único princípio linguístico. Compreender que a variação é inerente a cada língua é fundamental para melhor descrever os fenômenos que nela se processam e, nesse sentido, a TO também nos fornece instrumentais capazes de explicar o comportamento variável de muitos fenômenos, como é o caso da hipocorização, como melhor descrevemos na subseção a seguir O tratamento da variação sob a perspectiva otimalista Conforme dito anteriormente, a TO Clássica, apesar de fornecer uma série de vantagens no que se refere ao estudo linguístico, como se observa, por exemplo, nas premissas referentes à violabilidade e ao paralelismo, ainda assim não havia voltado o seu olhar para o estudo da variação, visto que, de acordo com o modelo, apenas uma única forma de superfície é capaz de melhor atender ao ranking de restrições. Alguns fenômenos linguísticos, no entanto, admitem mais de uma forma de saída e, por isso mesmo, caracterizam-se como variáveis. A fim, então, de 35

36 analisar esses processos, muitos autores passaram a concentrar esforços para explicar a variação sob a perspectiva otimalista 20. O primeiro trabalho de que se tem notícia sobre o tema foi escrito por Hammond (1994) e trata do acento em Walmatjari. Para o autor, a emergência de mais de um output ótimo é oriunda do próprio ranqueamento proposto para a análise de um fenômeno, ou seja, se um processo linguístico varia, cabe à hierarquia proposta trazer à tona todos os outputs possíveis relativos à forma de input a que se referem, como mostra o tableau genérico a seguir: (05) /Input/ A B C [cand 1] [cand 2] [cand 3] *! * Em (05), analisamos, hipoteticamente, um fenômeno linguístico através de um ranking em que A >> B >> C. As formas candidatas 1, 2 e 3 são avaliadas, primeiramente, pelo restritor A, o mais bem cotado da hierarquia. Os candidatos 1 e 2 passam ilesos por esse restritor e, portanto, o candidato 3, que o viola, está eliminado. As demais restrições são respeitadas por [cand 1 ] e por [cand 2 ] e, por isso mesmo, ambos emergem como forma ótima sem que violem uma restrição sequer. Assim, na proposta de Hammond (op.cit.), dois ou 20 Vários estudos acerca da variação na TO foram realizados, como bem observaram Oliveira & Lee (2005), ao tratar de inúmeros trabalhos realizados nessa linha: Zubritskaya (1995); Pesetsky (1995); Broihier (1995); Antilla & Cho (1998); Kager (1994 e 1999); Boersma (1997); Boersma & Hayes (2001); Smolensky & Tesar (1998); Riggle & Wilson (2005) e Vaux (2002 e 2006); no entanto, por uma questão de economia e objetividade, optamos por abordar, unicamente, propostas de variação na TO já aplicadas à hipocorização, a fim de justificar a adoção do modelo de Coetzee (2006). 36

37 mais outputs podem vir à superfície e, mais do que isso, esses outputs, em geral, não violam nenhuma restrição do ranking proposto. No padrão C de hipocorização, como em Eduardo > Dudú e Dú, conforme será descrito no Capítulo 4 desta Tese, as duas formas emergem por passarem ilesas pela avaliação dos restritores. Na análise proposta por Thami da Silva (2008 e 2009), o tratamento adotado para que venham à superfície dois outputs ótimos é equivalente ao de Hammond (op.cit.), conforme exemplificado em (05). Entretanto, o que se verifica acerca desse padrão é a emergência de estruturas fonológicas menos marcadas na língua, o que, na verdade, reforça o fato de que os candidatos ótimos, segundo o modelo de Hammond (op.cit.), respeitam todas as demandas da hierarquia. Dessa forma, se, na TO, o(s) output(s) ótimos deve(m) emergir do conflito entre restrições de caráter universal, candidatos que passam ilesos pela hierarquia de prioridades não se superficializam pelo conflito nesse caso, mas sim porque são formados por estruturas menos marcadas, o que, por sua vez, faz com que esses candidatos respeitem maximamente as restrições que regulam a boa-formação das formas linguísticas. Com isso, candidatos cuja estrutura linguística seja mais marcada não são contemplados pela abordagem de Hammond (op.cit.), o que motivou novos estudos acerca da variação na TO. Um desses estudos foi desenvolvido por Antilla (1997). Segundo o autor, a emergência de mais de um output é possível quando duas restrições não são crucialmente hierarquizadas. Dessa maneira, dois restritores menos cotados na hierarquia passam a atuar em conjunto, como mostra a formalização em (06), a seguir: 37

38 (06) /Input/ A B C [cand 1] * [cand 2] * Em (06), a dominância entre os restritores menos cotados na hierarquia B e C é representada por uma linha tracejada entre eles, o que confere ao ranking uma relação de dominância em que A >> B, C (a primeira domina as demais, que não se hierarquizam crucialmente). O candidato 1 passa ileso pela restrição A, bem como ocorre com o candidato 2. No entanto, [cand 1 ] viola B que, por sua vez, está em pé de igualdade com a restrição C, violada por [cand 2 ]. Assim, emergem como ótimas as formas 1 e 2. Tendo como base o modelo de Antilla (op.cit.), Lima (2008 e 2009) analisa o padrão D de hipocorização. De acordo com o autor, duas restrições RED = CV 21 e EXPONENCE 22 atuam em conjunto no ranking de relevância para a análise do padrão e, por isso mesmo, até duas formas de output podem emergir a partir dessa hierarquia, como ocorre com Isabel > Bebél ou Bél, conforme será mostrado, a seguir, no Capítulo 4. Todavia, por mais que as abordagens apresentadas acerca da variação na TO sejam capazes de selecionar mais de um output ótimo, no caso da hipocorização, isso só se processa quando cada padrão de hipocorístico é descrito separadamente. Desse modo, não seria possível analisar, por 21 RED=CV obriga que o reduplicante (RED), seja composto de uma sílaba CV (CONSOANTE + VOGAL). 22 EXPONÊNCIA MORFOLÓGICA (McCarthy & Prince, 1993) é um restritor que obriga que instâncias morfológicas do input sejam realizadas no output. Nesse caso, computa-se uma infração sempre que um candidato não seja composto de um reduplicante, já que RED, o morfema de reduplicação, está presente no input. 38

39 exemplo, o padrão C tendo como base os restritores e a própria abordagem teórica acerca da variação adotada pelo padrão D ou vice-versa. Sendo assim, a forma Mári, para Mariana, não emerge no mesmo ranking de revelância proposto para Nâna, por exemplo, ainda que, como observado no Capítulo 2, todos os tipos de hipocorísticos admitam características comuns e partam, nesse caso, de um mesmo input. Pensando, então, em unificar a análise dos padrões de hipocorização, é necessário (a) revisar e redefinir o que entendemos como padrão de hipocorização, de maneira a avaliar se, de fato, há, em português, quatro tipos de hipocorísticos legítimos na língua e, feito isso, (b) propor um novo olhar para a variação, capaz de trazer à tona mais de um output, desde que estes sejam utilizados pelos falantes. Em outras palavras, se para o antropônimo Filomena são atestadas as formas Filó e Mêna, ambas deveriam emergir através de uma mesma hierarquia de prioridades e, mais do que isso, dentre as formas encurtadas, deve haver um ranking de boa-formação, a fim de que, assim, saibamos qual forma linguística é mais acessada pelos falantes, sem descartar, no entanto, outras também utilizadas em menor frequência 23. O tratamento da variação que melhor se aplica à hipocorização é também a abordagem mais recente sobre o tema e foi proposta por Coetzee (2004, 2006). De acordo com o autor, a variação não está condicionada ao ranking em si, como postulam Hammond (op.cit.) e Antilla (op.cit.), e sim ao papel desempenhado pelo componente AVALIADOR (EVALUATOR) na gramática otimalista. Este, que, anteriormente, atuava apenas na avaliação de 23 A frequência a que fazemos referência ao longo desta seção será discutida no item (3.2.2). 39

40 formas, passa a impor ao conjunto de candidatos um ranking ordenado de boaformação. Então, para o autor, na produção da fala, o usuário da língua tem acesso ao conjunto completo dos candidatos por meio de um ranking ordenado. A probabilidade de um candidato ser selecionado como output depende da posição que ele ocupa no ranking ordenado quanto mais alta a posição em que o candidato aparece, maior a probabilidade de ser selecionado 24. (2006: 2) Dessa maneira, para o autor, o output da gramática é, na verdade, invariável, visto que o mesmo conjunto de candidatos ranqueados ordenadamente é sempre output, ainda que a forma como o falante o acesse seja diferente. Assim, para se compreender melhor como o AVALIADOR atua na proposta de Coetzee (op.cit.), explicamos, em 3.2.1, a seguir, como se dá a construção harmônica do conjunto de candidatos a output, denominado pelo autor de ROE modelo de ranqueamento ordenado do AVALIADOR (do inglês rank-ordering of EVAL) O ranqueamento das formas candidatas a output no ROE Diferentemente das abordagens de Hammond (op.cit.) e Antilla (op.cit.), Coetzee (op.cit.) não explica a variação através de alterações no ranking de prioridades; o autor propõe outro locus para a variação ela, na verdade, reside na própria arquitetura da gramática, sendo necessário, apenas, acrescentar a essa arquitetura um mecanismo que permita o acesso a vários outputs possíveis. 24 In speech production, the language user then has access to the full candidate set via this rank-ordering. The likelihood of a candidate being selected as output depends on the position the candidate occupies on the rank-ordering the higher a candidate appears, the more likely it is to be selected (COETZEE, 2006:2). 40

41 No modelo standard da TO, o avaliador, um dos componentes da gramática, é responsável unicamente pela avaliação das formas candidatas a output. Entretanto, as informações relativas aos demais candidatos não-ótimos, ainda que estejam presentes no tableau, são hachuradas e, portanto, não contam para a análise desses dados. Essas informações, em contrapartida, estão disponíveis no próprio tableau, como mostra a formalização exemplificativa a seguir: (07) /Input/ A B C [cand 1] * * [cand 2] *! * [cand 3] *! * Em (07), as formas candidatas 1, 2 e 3 passam pelo crivo de AVAL. O candidato 1 não viola o restritor A, já os candidatos 2 e 3 o violam e estão, portanto, sumariamente eliminados da disputa. Apenas para fins de análise, seguimos com a avaliação das três formas candidatas, ainda que [cand 1 ] seja o output ótimo. Quanto ao restritor B, o primeiro candidato o infringe, bem como [cand 3 ], já eliminado da disputa. A forma 1, apesar de ser ótima, e o candidato 2, já eliminado, violam o restritor C. Como se pode observar, todas as informações sobre as restrições B e C tornam-se irrelevantes para a determinação da forma ótima, visto que os candidatos 2 e 3 foram eliminados já na restrição A, a mais bem cotada da hierarquia. Então, pode-se observar, em (07), que, após violada a restrição que elimina os candidatos 1 e 2, as células hachuradas indicam que a avaliação das formas já não tem mais validade para a seleção do output ótimo. No 41

42 entanto, há informações, no tableau, que são descartadas, como, por exemplo, a avaliação das formas 2 e 3 no que diz respeito ao atendimento das restrições B e C. Entre os candidatos já eliminados pelo restritor A, [cand 2 ] satisfaz a restrição B; já [cand 3 ], não. Desse modo, numa escala, a forma 1 é ótima, já que é a única que passa pela restrição A; a forma 2 é melhor do que a forma 3, pois [cand 2 ], embora tenha violado A, passa pelo crivo da restrição B, o que não ocorre com [cand 3 ]. Assim, no modelo standard da TO, há uma espécie de super-geração de informações consideradas irrelevantes, segundo Coetzee (op.cit.). Para o autor, essas informações, que eram descartadas na TO Clássica, conferem ao AVALIADOR um novo papel o de avaliador das informações relativas aos outputs não-ótimos. De acordo com a proposta de Coetzee (op.cit.), a forma ótima é a que melhor atende às demandas do ranking, assim como postula a TO Clássica; em contrapartida, as demais estruturas, apesar de não-ótimas, podem ser acessadas pelos falantes e, assim, ser linguisticamente possíveis em uma determinada língua. Dessa forma, o AVALIADOR, além de validar a forma ótima, também ranqueia os candidatos 25, de modo que, no tableau, a forma 1 seja melhor do que a forma 2 que, também, é melhor do que a 3 e assim por diante. Dito de outra maneira, a hierarquia deve trazer à tona todas as formas de outputs possíveis para um dado fenômeno linguístico, de modo a ranqueálas conforme o uso-acesso dos falantes e, consequentemente, em favor da gramática de cada língua. Com base no novo papel atribuído ao AVALIADOR, em (08), apresentamos um quadro comparativo entre o modelo standard da TO 25 Entende-se, pois, no ROE, que há dois tipos de ranqueamento: (a) o de restrições, já amplamente discutido em outras versões da TO, e (b) o de candidatos, que garante, por sua vez, uma escala de formas que vai da mais aceita pelos falantes a menos aceita, mas, ainda assim, gramatical. 42

43 e o ROE, evidenciando, assim, o novo papel do avaliador na proposta de Coetzee: (08) OT CLÁSSICA ROE Única forma de [output ótimo] [output ótimo] superfície [2º output ótimo] Informações nãorelevantes. {[cand.2]; [cand.3]; [cand.4]} [3º output ótimo] [4º output ótimo] Na formalização em (08), observa-se que, de um lado, na TO, as formas não-ótimas formam um grupo de dados em pé de igualdade, visto que não são destacadas informações sobre essas estruturas; de outro, no ROE, as informações contidas no tableau identificam as formas como mais adequadas formalmente, constituindo, para tanto, um ranking. A fim de justificar o funcionamento do ROE, Coetzee (op.cit.) postula três premissas básicas que regulam a extensão do modelo otimalista. A primeira delas refere-se ao fato de que restritores são interpretados como funções que, por sua vez, mantém o conjunto completo de candidatos sob seu domínio 26 (COETZEE, 2006:5); logo, essa premissa determina que todos os candidatos são avaliados por todos os restritores e as informações 26 [...] with the full candidate set as their domain [ ] (COETZEE, 2006:5) 43

44 anteriormente desprezadas são responsáveis, no ROE, pelo ranking de candidatos possíveis. A segunda diz respeito ao próprio papel do AVALIADOR (doravante AVAL), ou seja, cabe a AVAL utilizar todas as informações oriundas da aplicação dos restritores (premissa 1), a fim de impor um ranking ordenado de boa-formação ao conjunto completo de candidatos. Sendo assim, os falantes acessam todas as informações presentes no tableau e estas moldam o desempenho linguístico dos usuários. Por fim, a terceira premissa afirma que o repertório de outputs emergentes através do ranking de relevância e a posição que cada um ocupa na hierarquia de candidatos é determinante no que tange ao uso-acesso dos falantes. Assim, a forma que melhor atende às demandas específicas da língua e, por conseguinte, mais acessada pelos falantes é também a de melhor formação linguística, o que não impede, entretanto, a seleção de outro output. Como se pode observar, o modelo de ranqueamento ordenado utiliza todo o mecanismo analítico da TO Clássica, adotando, unicamente, um novo atributo ao componente AVALIADOR, que passa a construir um ranking de candidatos. No entanto, uma grande questão a ser discutida acerca do modelo de Coetzee refere-se ao modo como o ROE é capaz de limitar a variação, já que todos os outputs considerados gramaticais e, portanto, disponíveis no repertório linguístico dos falantes devem emergir como forma ótima, ainda que sejam adotadam em menor frequência na língua. Para o autor, toda forma candidata é potencialmente uma forma de superfície, embora haja pouca probabilidade de que as estruturas menos cotadas no ranking sejam selecionadas. Dessa forma, para Coetzee, AVAL 44

45 impõe um ranking ordenado harmônico sobre todo o conjunto de candidatos 27 (COETZEE, 2006:4) que passam, por sua vez, pelo crivo da hierarquia de relevância. Uma proposta possível para limitar a variação, segundo o autor, seria o uso do ponto de corte crítico, responsável por dividir os restritores em dois níveis. As restrições de nível 1 são aquelas mais bem cotadas no ranking e, quando violadas, representam a sumária eliminação do candidato, como ocorre na TO Clássica. Esses restritores são, pois, responsáveis por descartar formas não-licenciadas pela gramática de uma determinada língua. Os restritores de nível 2, diferentemente dos primeiros, não eliminam formas candidatas; ao contrário, constituem o ranking harmônico dos outputs gramaticais e, portanto, licenciados pelas restrições de nível 1. No tableau, o ponto de corte crítico é representado por uma linha contínua de maior espessura, como se observa em (09). As restrições mais à esquerda dessa linha representam o nível 1 e as restrições mais à direita, por sua vez, o nível 2: (09) /Input/ A B C D [cand 1] * [cand 2] * [cand 3] *! Em (09), iniciada a avaliação das formas, [cand 3 ] viola um restritor de nível 1 e, portanto, é, nessa língua, uma estrutura agramatical. As formas 1 e 2, em contrapartida, passam pelas restrições A e B; logo, são estruturas 27 [...] EVAL imposes a harmonic rank-ordering on the full candidate set. (COETZEE, 2006:4) 45

46 linguisticamente possíveis e disponíveis para o falante. O candidato 2 infringe a restrição C; enquanto [cand 1 ],a D. Como C >> D nessa língua, o candidato 1 é a forma ótima e, com isso, de maior frequência de uso e o candidato 2, uma forma sub-ótima, mas igualmente gramatical nessa língua. Dessa forma, o ponto de corte crítico recorre aos mecanismos da TO Clássica e insere no ranking um segundo grupo de restrições, que não eliminam candidatos, mas os ranqueia. Coetzee descreve, ainda, três situações possíveis em que se verifica a atuação dos dois níveis de restritores, como mostram as várias formalizações em (10): 46

47 (10) a. /Input/ A B C D [cand 1] * [cand 2] * [cand 3] *! [cand 4] *! b. /Input/ A B C D [cand 1] * [cand 2] *! [cand 3] *! c. /Input/ A B C D [cand 1] * [cand 2] *! No primeiro tableau (10a) os candidatos 3 e 4 violam as restrições A e B, que compõem o quadro de nível 1; as formas 1 e 2 são avaliadas por C e D, restrições de nível 2. Como o candidato 2 infringe uma restrição mais bem cotada, [cand 1 ] reafirma-se como estrutura mais bem-formada e [cand 2 ] como uma variante também gramaticalmente aceita na língua. No segundo caso, apresentado através da formalização (10b), do conjunto de três candidatos, apenas o primeiro não viola um restritor de nível 1 e, por isso mesmo, não constitui um caso de variação, já que emerge uma única forma de superfície. Dessa maneira, os mecanismos formais da proposta 47

48 de Coetzee conseguem refletir o uso real dos falantes, mesmo que o fenômeno linguístico hipoteticamente apresentado licencie uma única forma de superfície. Em (10c), como não há formas que passem pelo crivo dos restritores de nível 2, já que ambos os candidatos violam uma restrição de nível 1, a hierarquia funciona exatamente como na TO Clássica o output ótimo é aquele que melhor satisfaz o ranking de prioridades e, conforme postula a teoria, não emergem dados de variação. Como se observa através dos exemplos apresentados, postular um ponto de corte crítico não significa afirmar que todo fenômeno é variável, mas evidencia que a variação é inerente a todas as línguas, ao passo que, se um fenômeno traz à tona mais de uma forma de superfície, esta não deve ser descartada por mais que seu uso seja menos frequente. Com isso, o ROE determina que, para a análise de um fenômeno linguístico, devem constar, no tableau, formas possíveis segundo o funcionamento da língua em que o fenômeno ocorre, o que limita a geração de formas que contrariam princípios básicos dessa língua e, além disso, se variável, o avaliador tornará seus efeitos visíveis no ranqueamento de formas; caso contrário, o próprio ranking de relevância eliminará formas não-usuais na língua. O caso da hipocorização parece reforçar a presença do que Coetzee denominou ponto de corte crítico 28, visto que as restrições mais cotadas seriam invioláveis por candidatos gramaticais e, por isso mesmo, aqueles que infrinjam 28 Segundo Coetzee, a existência do ponto de corte crítico é uma questão empírica a ser testada, visto que, por se tratar de um desdobramento recente da TO, poucos fenômenos linguísticos foram testados sob essa perspectiva. No português brasileiro, a análise da hipocorização é uma proposta pioneira de adoção do ROE para estudos de interface fonologiamorfologia. 48

49 as restrições de nível 1 são eliminados e não comporão o ranqueamento ordenado harmônico de construções bem-formadas, como se verifica em (11): (11) * ( *. *.) /filomena/ ALLFOOT(R) PARSE- MAX a) [( mẽ.nɐ)] **** b) [(fi. lɔ)] **** c) [fi.(lõ. me)] *! ** Conforme mencionado no Capítulo 2 desta Tese, formas hipocorísticas constituem palavra mínima na língua; dessa forma, estruturas linguísticas compostas por mais de duas sílabas são, portanto, agramaticais como outputs desse processo morfofonológico. Além disso, vale ressaltar que a relação de identidade entre input e output deve ser preservada minimamente; logo, uma restrição que regule essa relação deve ser postulada na análise do processo ora em discussão. Baseado nisso, em (11), com a finalidade de exemplificar a pertinência da análise da hipocorização tendo como base a proposta de Coetzee e, mais do que isso, a adoção do ponto crítico de corte, restritores que regulam o tamanho da palavra prosódica devem ocupar a posição 1, enquanto um restritor de fidelidade, por exemplo, deve ocupar o nível 2. Quanto aos primeiros, duas restrições merecem destaque na análise da hipocorização PARSE- e ALLFOOT(R). A primeira obriga que sílabas sejam integradas a pés, isto é, a categoria prosódica mais baixa deve se respaldar na mais alta. A segunda requer que os pés estejam sempre alinhados à direita da palavra prosódica. Assim, em (11), na avaliação de possíveis hipocorísticos para um 49

50 antropônimo como Filomena, a forma candidata 3 Filomê é eliminada por violar PARSE- enquanto o candidato 1 e 2 Mêna e Filó não violam esses restritores e, portanto, emergem como outputs ótimos. Desse modo, as formas Mêna e Filó serão avaliadas por restrições de nível 2. Assim, conforme apresentado em (11) e ratificado por Coetzee, tudo o que as restrições ranqueadas abaixo do ponto de corte fazem é impor um ranking ordenado harmônico sobre os candidatos, determinando, assim, a frequência relativa com que eles serão observados como outputs variantes 29 (2006:5). Pode-se concluir, então, que o modelo de Coetzee (op.cit.) atribui um novo papel ao avaliador, utilizando, para tanto, os mecanismos analíticos da TO Clássica, com uma diferença: se, na TO, informações sobre as formas nãoótimas são descartadas, no ROE, essas informações ganham espaço e tornam possível a emergência de mais de uma forma de output, desde que (a) o fenômeno linguístico analisado seja passível de variação, segundo a gramática da língua; e (b) o ranking ordenado harmônico das formas consideradas possíveis reflita o repertório linguístico disponível aos falantes. Sobre este item, faz-se necessário elucidar algumas questões relativas ao que Coetzee denomina frequência relativa, conforme se observa na subseção a seguir Uma divergência entre a proposta de Coetzee e a hipocorização a questão da frequência Ao longo da subseção anterior, citamos, em vários momentos, a palavra frequência para justificar a construção de um ranking harmônico de candidatos 29 All that the constraints below the cut-off do is to impose a harmonic rank-ordering on the candidates, thereby determining the relative frequency with which they will be observed as variant outputs. (COETZEE, 2006:5) 50

51 a output. Para Coetzee (op.cit.), o ranqueamento ordenado configura-se mediante a avaliação da frequência relativa com que cada forma linguística aparece na gramática de uma língua. Segundo o autor, a fim de que se forme um ranking de candidatos, é necessário quantificar estruturas licenciadas pela gramática e determinar qual delas é mais frequente, estabelecendo, assim, uma escala de usos. Para corroborar sua tese, Coetzee (2006) analisa a variação entre redução e apagamento de vogais no português faialense (utilizado na Ilha de Açores, Atlântico). Assim como ocorre no português brasileiro, no faialense, o quadro vocálico completo ocorre unicamente em posição tônica. Em posições átonas, há uma tendência linguística a reduzir o quadro vocálico de sete para quatro vogais, como se observa no esquema extraído de Coetzee (op.cit.), em (12) 30 : (12) O que se nota a partir do esquema em (12) é que, no português faialense, as vogais distinguem-se pela altura altas [i, u], médias [e, ɛ, o, ɔ, ǝ] e baixas [ɐ, a] ; e pelo grau de anterioridade-posterioridade anteriores [i, e, ɛ], centrais [ǝ, ɐ, a] e posteriores [u, o, ɔ]. Além disso, as vogais distribuem-se 30 No esquema em (12), as setas representam a redução vocálica possível para o quadro vocálico. 51

52 numa escala de sonoridade. As vogais centrais [ǝ, ɐ] apresentam menor sonoridade e, nas demais [i, u, e, ɛ, o, ɔ, a], a sonoridade diminui conforme a altura aumenta, como bem observaram De Lacy (2002) e Parker (2002) em trabalhos-base para a proposta de Coetzee (op.cit.). Em alguns casos, ao invés da redução vocálica, há apagamento da vogal. Coetzee, baseando-se em Silva (1997), afirma que a literatura relativa à fonologia do português faialense menciona casos de apagamento; no entanto, apenas Silva (op.cit.) propõe uma quantificação desses dados no VARBRUL (SANKOFF, 1988) a partir de três fatores condicionantes, atribuindo, assim, um padrão para a redução ou apagamento da vogal. São eles: (a) a qualidade da vogal; (b) a sua posição na palavra prosódica e (c) a acentuação da sílaba seguinte (este último é considerado um fator marginal para a avaliação dos dados). Silva (op.cit.) codifica os dados tendo como base a posição que a vogal, ainda que apagada, ocuparia na palavra prosódica (sílaba final e não-final). Os resultados são os seguintes: (a) para a vogal [ɐ], é favorecida a redução em detrimento do apagamento, seja em posição final, seja em não-final; (b) para [ǝ] e [u], o apagamento é predominante em posição final; e (c) [i] não ocorre em final de palavra prosódica; em posição não-final, [i] comporta-se como [ǝ] e [u] a redução é mais frequente. Nesse caso, a frequência é quantificada a partir de condicionamentos fonológicos considerados relevantes fornecidos pelo VARBRUL. O programa calcula o que se denomina frequência relativa dos dados, ou seja, enquanto uma análise pautada na frequência absoluta calcula numericamente uso a uso, a frequência relativa nos revela a porcentagem em que aparece cada vogal sob 52

53 a perspectiva dos condicionamentos aplicados ao conjunto de dados, como se verifica na tabela abaixo, extraída de Coetzee (op.cit.): (13) Tendo, portanto, como base a frequência relativa acerca da variação entre redução e apagamento vocálico no português faialense em (13), Coetzee (op.cit.) propõe uma hierarquia de relevância através da qual possam emergir todas as formas possíveis de uso das vogais, atentando, entretanto, para os casos mais frequentes, que devem ocupar sempre o topo do ranqueamento ordenado harmônico de candidatos, conforme vimos na descrição do funcionamento no ROE 31, nas seções anteriores. Notam-se, a partir do objeto de estudo e da análise de Coetzee (op.cit.), algumas diferenças referentes à sua abordagem e o fenômeno da hipocorização no português brasileiro. 31 Neste trabalho, não se faz necessário detalhar a proposta de análise aplicada às vogais feita por Coetzee (2006), visto que, conforme será discutido mais adiante, há diferenças entre a abordagem do autor e o encaminhamento dado à hipocorização. 53

54 Em primeiro lugar, deve-se observar que o objeto de estudo de Coetzee (op.cit.) restringe-se à fonologia. Ao tratar do quadro vocálico do português faialense, o autor aborda dois temas atrelados à fonologia a redução e o apagamento vocálico em posição átona. Nota-se, pois, que seu estudo não requer interação entre níveis da gramática, como é o caso da hipocorização. Esta, como já mencionado no Capítulo 2, caracteriza-se como um típico fenômeno de interface fonologia-morfologia, posto que a perda de material fonológico da palavra-base é responsável por originar uma nova unidade linguística, na medida em que o hipocorístico veicula uma informação nãodisponível no antropônimo a afetividade. Assim, de Francisco para Chíco, a perda de segmentos fônicos à esquerda da base atribui à forma encurtada um grau de expressividade não transmitido pelo antropônimo propriamente dito; logo, o uso de hipocorísticos instancia o valor semântico de afetividade, diferentemente do prenome. Em segundo lugar, na abordagem de Coetzee (op.cit.) sobre as vogais, há condicionamentos fonológicos aplicáveis a todo o conjunto de dados; desse modo, é bastante adequado determinar a frequência com que cada forma aparece e ranqueá-las com base nos resultados obtidos. Já no que se refere à hipocorização, para cada dado é possível ter um único output ótimo ou vários outputs que, por sua vez, podem variar de maneiras diferentes. Por exemplo, para o input Marcelo, há, em geral, uma única forma de saída Célo ; já para Cleonice, podem vir à tona os hipocorísticos Cléo e Níce. Na análise de Coetzee (op.cit.), uma vogal pode, grosso modo, ser reduzida ou apagada, o que gera, basicamente, duas variáveis possíveis; na hipocorização, um antropônimo pode ter de uma a três variáveis e estas 54

55 podem, por sua vez, corresponder a dois dos padrões de hipocorização, como em Cristina, ou até três, como é o caso de Filomena, que pode gerar as formas Mêna (padrão A), Filó (padrão B) e Fifí e Fí (padrão C, que já é, por si só, variável). Desse modo, por se tratar de um conjunto heterogêneo de dados, não há uma fórmula para se atingir a frequência relativa; o que há, na verdade, são observações oriundas de testes e contextos interacionais a partir dos quais podemos determinar uma escala que vai da forma ótima a menos ótima, sem, para tanto, ter de recorrer a valores percentuais exatos, como é o caso do cálculo da frequência relativa. É claro que, na hipocorização, há várias generalizações que condicionam o processo, como, por exemplo, (a) a estrutura fonológica da palavra-base pode tornar mais suscetível o uso de um padrão em detrimento de outro; e (b) a não-formação de palavras homônimas é fundamental para não romper com a relação de identidade mínima entre input e output. Esses condicionamentos, contudo, vão refletir a construção da hierarquia de relevância para a análise das formas a partir do ROE; dessa maneira, possíveis condicionamentos que estariam vinculados à frequência podem ser transformados em restrições capazes de gerar formas possíveis para cada antropônimo analisado. Em terceiro e último lugar, deve-se perceber que questões puramente fonológicas podem ser evidenciadas em corpora de língua oral estratificados. No caso da hipocorização, fenômeno linguístico atrelado à afetividade, não são frequentes hipocorísticos em corpora estratificados, devido às amostras estarem vinculadas a entrevistas semi-ordenadas e ordenadas, o que inviabiliza o aparecimento de dados de fala espontânea, como é o caso da 55

56 hipocorização, e, portanto, trabalhar com esse tipo de corpus não demonstraria o real uso dos encurtamentos. Assim, as formas hipocorísticas decorrem de usos em contextos vinculados à fala familiar, o que não pode ser obtido em amostras ordenadas: esse tipo de estrutura não aparece no gênero denominado entrevista sociolinguística. Além disso, cumpre salientar que, se fossem utilizadas ferramentas eletrônicas para quantificar ocorrências de tipos de hipocorização, como o Google, por exemplo, a coleta seria prejudicada porque nem sempre ocorrências como Lê (para Leandro ) seriam vinculadas a prenomes, o que prejudicaria a fidelidade deste trabalho no que se refere ao uso dos hipocorísticos. Com base nas divergências existentes entre a proposta fundadora de Coetzee (op.cit.) e a análise da hipocorização, em que medida, então, torna-se pertinente a aplicação do ROE à análise de um fenômeno de interface fonologia-morfologia? Estamos certos de que o modelo de Coetzee é aplicável ao fenômeno da hipocorização em português. Obviamente, em primeiro lugar, a frequência de uso, no caso da hipocorização, deve ser vista através de dados reais de interação e testes aplicados a falantes (e não através de amostras estratificadas e tratamento por meio de frequência relativa), o que, na verdade, caracteriza graus de aceitabilidade das formas em detrimento daquilo que Coetzee (op.cit.) denomina frequência. E, sendo assim, a preferência por certo padrão de hipocorização reflete a seleção das formas ótimas e, portanto, adotadas pelos falantes. 56

57 Dessa maneira, sem dúvida, a hipocorização reforça a ideia-base do ROE há uma tolerância entre formas ótimas e sub-ótimas, de modo que a variação existe porque nem tudo que não é ótimo é descartável. Em outras palavras, a língua varia e, se um processo traz à tona dados de variação, esses devem ser contemplados conforme o uso real dos falantes; logo, há, de fato, formas mais e menos acessadas na língua isso tanto no se refere à fonologia como aos demais níveis da gramática; basta, para tanto, que o conceito de frequência 32 não esteja vinculado, apenas, à quantidade e à estratificação dos dados, mas ao comportamento mais geral das formas linguísticas que falantes utilizam para construir significados. Assim, substituindo a frequência pelo conceito de aceitabilidade, para o tratamento da hipocorização, adotamos um ranking de aceitabilidade a partir de observações feitas acerca de dados coletados em momentos reais de interação linguística e também oriundos de testes aplicados a informantes. Antes, entretanto, de tratarmos da metodologia utilizada na análise, detalhamos, a seguir, no Capítulo 4, as análises otimalistas já defendidas acerca da hipocorização para, então, no Capítulo 5, abordar a metodologia utilizada nesta Tese, que, por sua vez, apontará para a redefinição dos tipos de hipocorísticos do português brasileiro. Com isso, evidenciaremos, mais adiante, a aplicação da noção de aceitabilidade e grau de preferência das formas, conforme defendemos anteriormente. 32 É importante destacar que Coetzee (2006) apresenta dados estratificados e distribuídos conforme indicadores fonológicos. Sendo assim, muito embora o autor lance mão da terminologia frequência de uso, na realidade, o que é determinado em seu trabalho são as possibilidades fonológicas de realização das vogais no português falaiense através da quantificação dos dados com base no conceito matemático de frequência relativa, o que, grosso modo, nada mais é do que apresentar as estatísticas dos condicionamentos encontrados.no caso da hipocorização, substituimos a abordagem de Coetzee (op.cit.) pela noção de aceitabilidade das formas encurtadas. 57

58 4. REVISÃO DAS ABORDAGENS OTIMALISTAS PARA OS PADRÕES DE HIPOCORIZAÇÃO DO PORTUGUÊS Este capítulo dedica-se a (i) tratar da descrição formal dos quatro padrões de hipocorização tendo como base os instrumentos da Morfologia Prosódica (McCARTHY & PRINCE, 1986) 33 ; e (ii) apresentar as abordagens de Gonçalves (2004a, 2009), Thami da Silva (2008, 2009) e Lima (2008, 2009) para o tratamento dos padrões de hipocorização a partir da Teoria da Otimalidade (PRINCE & SMOLENSKY, 1993). Para tanto, dividimos esta parte do trabalho em seis seções: primeiro, tornamos a fazer referência aos quatro tipos de hipocorísticos abordados neste trabalho; depois, apresentamos o padrão default de hipocorização, seguido pelos tipos B, C e D, respectivamente; por último, defendemos uma nova proposta de divisão dos hipocorísticos, justificando, assim, o uso do modelo de Coetzee (2006) Os padrões de hipocorização: as propostas de GONÇALVES, LIMA & THAMI DA SILVA (2009) Conforme mencionado no Capítulo 2, a hipocorização é um processo não-concatenativo de formação de palavras do português caracterizado, sobretudo, pela perda de material fônico da palavra-matriz, de modo a alcançar uma estrutura diminuta com maior grau de afetividade. Dessa forma, um antropônimo como Berenice é encurtado para gerar a forma Berê ou Níce e estas, por sua vez, têm um ganho pragmático um maior grau de proximidade/afetividade em relação à estrutura subjacente. 33 Cumpre salientar que não é nosso objetivo utilizar a Morfologia Prosódica, modelo derivacional proposto por McCarthy & Prince (1986), como arcabouço teórico para a análise dos dados propriamente dita. Na verdade, adotamos os instrumentais da MP apenas para descrever formalmente cada padrão de hipocorização. 58

59 A partir da compreensão de que um hipocorístico é, na verdade, fruto de um processo de interface morfologia-fonologia, já que perda fonológica cria uma forma marcada pelo grau de expressividade instanciado pela redução do antropônimo, reapresentamos os quatro padrões de hipocorização no português brasileiro (GONÇALVES, 2004a), conforme ratifica o quadro em (01), a seguir: (01) Tipos de Hipocorísticos (A) (B) (C) (D) Edvaldo > Váldo Filomena > Filó Juliana > Jujú e Jú André > Dedé e Dé Augusto > Gúto Cristina > Crís Renata > Rê Artur > Tutú e Tú Roberto > Béto Manuela > Manú Leandro > Lelê e Lê Salomé > Memé e Mé Todos os quatro tipos apresentados já foram analisados a partir da Teoria da Otimalidade e, além disso, também descritos, elegantemente, em abordagens de cunho morfoprosódico. Nas seções seguintes, visamos a mostrar o olhar de Gonçalves (2004a, 2009), Thami da Silva (2008, 2009) e Lima (2008, 2009) no que tange à proposta para descrição e análise de cada padrão O padrão default de hipocorização O padrão A, descrito por Gonçalves (op.cit.), no que concerne à estrutura formal, apresenta configuração CV.CV 34, como em Augusto > Gúto, ou CVC.CV, como ocorre em Edvaldo > Váldo. Quanto à ancoragem em relação ao antropônimo, o material fonológico preservado da base encontra-se 34 Nesta representação, típica dos modelos autossegmentais (cf. GOLDSMITH, 1976; McCARTHY, 1981), C e V representam, nesta ordem, um segmento consonantal e vocálico; o ponto delimita as sílabas e o símbolo ' prefacia a sílaba tônica. 59

60 à direita da palavra prosódica. Uma especificidade desse padrão de hipocorização diz respeito à sílaba tônica. Diferente do tipo B, descrito a seguir, no modelo dito default (GONÇALVES, op. cit.), mantém-se a sílaba tônica da palavra-base e, conforme revelam os dados, o hipocorístico compõe-se por um pé troqueu moraico 35. Dessa forma, utilizando os instrumentos da Morfologia Prosódica (McCARTHY & PRINCE, 1986) como recurso para a descrição formal dos dados, apresentamos, em (02), a configuração estrutural 36 do padrão A de hipocorização: (02) (a) (b) (c) Ma.ri. [lê. na] ( *. ) Ed. [ vá l ].[do] ( * ) Ra. [qu e l] ( * ) Como se vê nas representações em (02), o padrão A de hipocorização escaneia os segmentos fônicos à direita da base, mais especificamente um pé 35 Consideramos, para esta análise, a proposta de Collischonn (2005) em que a autora propõe, com base na análise pioneira de Hayes (1995), que a formação de um pé está associada à contagem de moras, que seriam unidades de peso da sílaba; dessa maneira, o pé troqueu moraico constitui-se de duas moras, tendo, portanto, duas unidades de peso e proeminência à esquerda, considerando duas sílabas leves, como em (*.), ou simplesmente ( * ), formando-se um sílaba pesada CVC. 36 É importante destacar que adotamos as seguintes convenções para fins de formalização: (a) [ indica palavra prosódica; (b) [ ] remete ao pé; (c) [ caracteriza as sílabas; (d) [ ] evidencia as unidades moraicas; e (e) [ ] indica a direcionalidade em que atua a circunscrição prosódica. 60

61 troqueu moraico 37. O material rastreado passa por filtros de boa-formação silábica e, posteriormente, são geradas formas de superfície compostas por sílabas CV.CV, como em Marilena > Lêna, em (2a); CVC.CV, como em Edvaldo > Váldo, em (2b); e CVC, como em Raquel > Quel (2c). No primeiro caso, as vogais contabilizam uma mora cada e garantem a formação do pé troqueu; já no segundo, a sílaba final CV, por ser leve, não forma um pé e, por isso mesmo, o escaneamento sinalizado pela seta avança para a sílaba imediatamente seguinte. Como essa sílaba é pesada, a sequência fônica CV mais à direita não será integrada à categoria pé, alinhando-se diretamente à palavra prosódica (cf. GONÇALVES, 2009). Por fim, em (2c), as duas moras necessárias à formação do troqueu se localizam na sílaba final pesada, o que garante a formação um pé binário constituído de uma única sílaba. Sendo assim, são formados, por esse padrão, hipocorísticos minimamente bimoraicos e maximamente dissilábicos (cf. GONÇALVES, 2004a). No que se refere aos filtros de boa-formação silábica que governam o padrão A, pode-se dizer que há uma tendência à emergência de estruturas silábicas CV e, por esse motivo, (a) não são licenciadas sílabas cuja posição de onset não seja preechida (*elma < 'Joelma'); (b) onsets complexos são desfeitos ('Xande' < 'Alexandre'); e (c) codas obstruintes são bloqueadas ('Beto' < 'Roberto'). Além disso, é importante enfatizar que, em casos como o de Murilo > Lílo, por exemplo, o escaneamento da sequência fônica gera, no molde, a forma *Rílo, que é agramatical na língua. Essa agramaticalidade deve-se ao 37 Pé monossilábico com duas moras, a exemplo de 'sol', ou dissilábico com duas moras, a exemplo de 'casa'. Na representação adotada, a sílaba final de 'Váldo' é anexada diretamente à palavra prosódica, não formando pé com a sílaba anterior, bimoraica ('val'), que sozinha forma o troqueu (cf. GONÇALVES, 2004 e GONÇALVES, 2009). 61

62 fato de que, no português, há um bloqueio fonotático que inviabiliza a formação de palavras iniciadas por tepe ([ɾ]) 38. Nesses casos, a estratégia linguística utilizada para preencher a posição de onset é a cópia do ataque da sílaba mais à direita. Assim, pode-se afirmar que o tipo A apresenta as seguintes características formais: (a) compõe-se por um pé troqueu moraico; (b) privilegiam-se estruturas CV, mas, a fim de preservar integralmente a sílaba tônica, emergem dados em que o preenchimento da coda é licenciado ('Naldo' < 'Arnaldo'; 'Meire' < 'Rosimeire'; Irineu > Neu ; Isabel > Bel ); (c) são bloquedas formações iniciadas por tepe e, nesses casos, copia-se o ataque da sílaba mais à direita. Dessa maneira, formas como Francisco > Chíco, Alcebíades > Bíde e Fernanda > Nânda apresentam características afins que, portanto, ratificam a existência de regularidades que fomentam o entendimento da hipocorização como um processo regular na língua. Baseado nessas observações, Gonçalves (2004a e 2009) propõe a abordagem do tipo A através de um modelo teórico que abandona a noção de regras, em prol da adoção de restrições de caráter universal a Teoria da Otimalidade (PRINCE & SMOLENSKY, 1993). Como se pode verificar a partir da descrição do padrão A sob a ótica da Morfologia Prosódica, não há formações hipocorísticas com mais de duas sílabas. Dessa forma, na TO, dois restritores que regulam o tamanho da palavra prosódica devem ocupar a primeira posição no ranking de prioridades 38 O erre-fraco (tepe), como é sabido, não pode ocupar a posição de início de palavra prosódica. Esta é uma característica da própria fonologia do português evidenciada na análise do padrão A de hipocorização. 62

63 do padrão A. O primeiro obriga que sílabas estejam integradas a pés e o segundo postula que pés sejam alinhados à direita da palavra prosódica. As duas restrições de alinhamento de categorias prosódicas não só ocupam o topo da hierarquia do padrão A como também de todos os tipos que analisaremos nas seções subsequentes. Em (03), a seguir, mostramos os efeitos das duas restrições que bloqueiam estruturas linguísticas com mais de duas sílabas: (03) * (. *.) /filipi/ a) [( Ii.pi)] PARSE- ALLFOOT(R) b) [Ii.( Ii.pi)] *! c) [(fi.ii).( Ii.pi)] *! Dada a avaliação de formas referentes ao antropônimo Felipe, observase que os candidatos (b) e (c) violam, respectivamente, PARSE- 39 e ALLFOOT(R) 40. No primeiro caso, há uma sílaba desgarrada e, portanto, não integrada à categoria pé; no outro, a estrutura candidata apresenta dois pés: um alinhado à direita e outro, à esquerda. Desse modo, ratificamos que qualquer candidato que contenha mais de duas sílabas não emerge como output real, fato este que ocorre em todos os tipos de hipocorização. Assim, para fins de análise, utilizamos, nos demais tableaux, apenas candidatos 39 cf. nota cf. nota

64 formados por até duas sílabas e, então, não incluímos esses dois restritores nas formalizações relativas aos outros tipos de hipocorização. Outra característica marcante do padrão A refere-se à fidelidade à margem direita, na qual se localiza o pé núclear. Para assegurar essa vinculação, adotamos a restrição de ancoragem ANCHOR-HIPO(R) 41 que requer que a margem direita do antropônimo coincida com a margem direita do hipocorístico, conferindo, assim, maior identidade entre as formas subjacentes e as de superfície. Para garantir maior fidelidade em relação à base, além de ANCHOR, o restritor STRESSFAITHFULNESS 42 é o próximo a atuar na hierarquia do padrão A de hipocorização, visto que impede qualquer mudança na posição acentual do input para o output. Assim, para ser um bom candidato a output, a forma a ser avaliada deve manter o margeamento à direita e a fidelidade acentual com o input, como mostra o tableau em (04), referente ao antropônimo Felipe, a seguir: 41 ANCHOR-HIPO(R) corresponde, no português, à ANCOR-HIPO(D): ancore a margem direita da base à direita do hipocorístico. 42 STRESSFAITHFULNESS, em português, equivale a FID-AC, fidelidade ao acento da base nas formas de superfície candidatas. 64

65 (04) * (. *.) /filipi/ a) [( li.pi)] ANCHOR STRESS b) [(fe. li)] *! c) [(Ii. pe)] *! Conforme se observa em (04), a forma candidata felí é a primeira a ser eliminada da disputa, visto que não há correspondência entre os segmentos melódicos mais à direita do antropônimo e os à direita do hipocorístico. A forma (c), apesar de maximizar a margem direita, promove a mudança da pauta acentual do antropônimo para a forma hipocorística e, com isso, também está fora da disputa, sendo eleita, então, a forma lípe como ótima. Após regulado o tamanho da palavra prosódica e a fidelidade à margem direita, três restritores de sílaba formam a hierarquia do padrão ora em foco, visto que, como se sabe, para que venha à superfície uma forma hipocorística, algumas mudanças na estrutura interna da sílaba são necessárias, a fim de torná-la menos marcada. Desse modo, três restrições atuam em conjunto: (a) ONSET 43, que obriga o preenchimento da posição de ataque silábico, já que, conforme vimos, no caso do padrão A, antropônimos como Eduardo > Dádo, passam a preencher a posição de ataque a fim de constituir sílabas CVs; (b) NOCOMPLEX 44, que milita contra a complexidade estrutural nas ramificações 43 cf. nota NOCOMPLEX corresponde a *COMPLEX que, conforme visto, bloqueia complexidades estruturais nas ramificações da sílaba. 65

66 da sílaba, impedindo que formas como Xândre < Alexandre venham à superfície em função da presença do onset complexo [dr]; e, por fim, (c) CODACOND 45 [+nasal/+vocóide], que requer que codas sejam preenchidas apenas por semivogais ou nasais, desfavorecendo, assim, candidatos como Berto para Roberto, visto que a posição de coda não pode ser ocupada por uma obstruinte. Dessa forma, em (05), apresentamos um tableau com os exemplos citados: (05) * ( *. *. ) /eduardu/ a) [( aɣ.du)] *! ONSET NOCOMPLEX CODACOND b) [( da.du)] * ( *. *. ) /aleʃandri/ a) [( ʃɐ n.dɾi)] *! ONSET NOCOMPLEX CODACOND b) [( ʃɐ n.di)] * (. *. ) /r obɛrtu/ ONSET NOCOMPLEX CODACOND a) [( bɛx.tu)] *! b) [( bɛ.tu)] 45 CODACOND, também no português CODA-COND, refere-se a condições sobre a coda. Com relação ao sistema de traços adotado, privilegiamos a proposta de Clements & Hume (1995). Por isso mesmo, adotamos a especificação [+nasal / [+vocoide em referência aos dois tipos de segmentos licenciados para coda: nasais ou (daí o uso da barra) vogais. 66

67 Como se pode observar em (05), os restritores de marcação militam, sobretudo, em favor de uma estrutura silábica menos marcada. No entanto, é importante frisar que, apesar de romper a relação de fidelidade estrita entre a palavra-base e a forma de superfície, ainda assim, é possível rastrear o antropônimo a partir do hipocorístico a ele relacionado, a exemplo dos dados Dádo, Xânde e Béto que, embora tenham sofrido mudanças na estrutura interna da palavra prosódica, ainda assim são transparentemente associados aos antropônimos Eduardo, Alexandre e Roberto, respectivamente. Até o momento, temos a seguinte hierarquia de relevância: ANCHOR- HIPO(R) >> STRESSFAITHFULNESS >> ONSET; NOCOMPLEX; CODACOND [+nasal/+vocóide]. O próximo restritor a compor esse ranking é HEADMAX 46, cuja função é impedir deleções da sílaba proeminente. Essa restrição é vital para a análise do padrão A de hipocorização, embora seja uma restrição dominada, visto que só é violada para atender às exigências de estruturação silábica, como bem se observa no tableau (06), a seguir: (06) * (. *. ) /ʒertɾudis/ ONSET NOCOMPLEX CODACOND HEADMAX a) [( tu.dʒi)] * b) [( tɾu.dʒiʃ)] *! * c) [( deʃ)] *! *** 46 HEADMAX obriga que não haja apagamentos na cabeça da palavra prosódica do input para o output. 67

68 Em (06), o candidato (b), que mantém a complexidade na posição de onset, é eliminado da disputa por NOCOMPLEX, ainda que preserve integralmente a cabeça da palavra prosódica. O candidato (c) e o candidato já eliminado (b) violam a restrição CODACOND, já que apresentam uma sibilante na margem direita da sílaba. A forma (c), então, é também sumariamente eliminada da disputa. Para fins de análise, (c) apaga toda a sílaba proeminente e, portanto, comete três violações a HEADMAX. O candidato (a), que sai vitorioso, apaga um segmento da sílaba tônica da palavra prosódica e é, portanto, o mais bem-sucedido na disputa, visto ser o que melhor satisfaz os restritores de sílaba, evidenciando, assim, que HEADMAX deve ser, pois, dominado por esses restritores de marcação. Esse conflito entre marcação e fidelidade também é trazido à tona devido à necessidade de formulação de uma restrição que impede que hipocorísticos 47 se iniciem com tepe - *ɾ[ Pwd ; no entanto, dois outros restritores de fidelidade atuam em conjunto para garantir que (a) consoantes sejam idênticas em S 1 e S 2, tarefa levada a cabo por IDENT 48 [C], e (b) não haja inserções do input para o output, papel desempenhado por DEP-IO 49. Além disso, para garantir que o preenchimento da posição deixada pelo tepe mantenha uma relação mínima de identidade com a palavra-matriz, faz-se necessário acrescentar o restritor 47 *ɾ[ Pwd é uma restrição fonotática que impede que uma palavra prosódica se inicie pelo segmento especificado na formulação da restrição, no caso, tepe. 48 IDENT [C] prevê a identidade dos elementos consonantais do input para o output. No português, a formalização correspondente é a mesma. 49 DEP-IO, cuja formalização é equivalente no português, é um restritor antiepêntese. 68

69 ALLITERATION 50 que obriga que onsets adjacentes sejam idênticos, conforme ratificado em (07), a seguir: (07) * ( *. *. ) /nazaɾenu/ a) [( nẽ.nu)] * *ɾ[ Pwd IDENT [C] DEP-IO ALLIT b) [( ɾẽ.nu)] *! * c) [( dẽ.nu)] * *! Em (07), verifica-se que o candidato (b) é sumariamente eliminado da disputa a output ótimo, já que não são licenciadas na língua formas iniciadas por tepe. Já os candidatos (a) e (c), embora satisfaçam o restritor fonotático, infringem IDENT [C], pois não há identidade entre os segmentos consonantais do input para o output, como prevê a restrição. A definição do candidato ótimo acontece em ALLIT, pois o restritor requer que onsets adjacentes sejam idênticos; logo, o candidato (c) é eliminado, emergindo, assim, a forma (a) como ótima. Observa-se que o padrão A de hipocorização possibilita promover discussões acerca do conflito em duas grandes famílias de restrição a de fidelidade e a de marcação. Desse modo, o ranking proposto em (08), a seguir, revela que, por mais que a hipocorização seja um processo morfofonológico caracterizado, sobretudo, pela perda de sequências fônicas, o respeito a certas 50 ALLITERATION, que, no português, denominamos ALITERAÇÃO, requer que sílabas contíguas tenham onsets idênticos. 69

70 restrições de fidelidade garante a emergência da forma ótima, conforme apresentado em (09), na análise do antropônimo Augusto : (08) ANCHOR-HIPO(R) >> STRESSFAITHFULNESS >> ONSET; NOCOMPLEX; CODACOND [+nasal/+vocóide] >>HEADMAX >> *[ɾ PrWD >> IDENT [C] ; DEP >> ALLITERATION (09) * (. *. ) /awgustu/ ANCHOR STRESS ONSET NOCOMPLEX CODA COND HEAD MAX *[ɾ PrWD IDENT DEP ALLIT a) [( gu.tu)] * * b) [( guʃ.tu)] *! * c) [(aw. guʃ)] *!* * * d) [( to)] *! *** e) [( guʃ)] *!* * Em (09), os candidatos (c) e (e) violam o restritor mais bem cotado da ranking ANCHOR -, visto que ambos apagam os segmentos mais à direita da base. A forma (d) é, posteriormente, eliminada em STRESSFAITHFULNESS, já que há uma mudança na posição acentual da palavra-matriz para o hipocorístico. Seguem, ainda, na disputa, (a) e (b). Este último é sumariamente descartado em CODACOND, já que a posição de coda é preenchida por uma sibilante. Dessa forma, o candidato (a), apesar de violar HEADMAX, para satisfazer CODACOND, é o vencedor e, portanto, emerge como forma ótima. 70

71 Com base na análise apresentada acerca do padrão A, Gonçalves (2004a) evidencia que o modelo otimalista é capaz de atender às demandas relativas à abordagem de processos de interface morfologia-fonologia, sobretudo por tratar das relações entre marcação e fidelidade. Assim, pautando-se na proposta inovadora de Gonçalves (op.cit.), Thami da Silva (2008) e Lima (2008) analisam os padrões B, C e D, conforme apresentado a seguir O padrão B de hipocorização No que concerne ao tipo B, analisado por Thami da Silva (2008, 2009), são copiados os segmentos à esquerda do antropônimo e a sequência fônica escaneada pode apresentar duas sílabas leves, como em Filomena > Filó, ou uma sílaba pesada, como Gilberto > Gíl, o que caracteriza a formação de um pé bimoraico. Sobre a pauta acentual dos hipocorísticos, os dados revelam que três fatores determinam a localização da tônica, nos casos dissilábicos. O primeiro diz respeito aos encurtamentos terminados em vogais médias. Casos como o de Alessandra > Alê requerem o acento à direita da palavra prosódica para garantir a identidade de traços entre a base e seu encurtamento, já que o português apresenta, na posição postônica final, apenas três vogais /I, U, a/ (MATTOSO CÂMARA JR., 1970) e o acento na primeira sílaba detonaria a aplicação da regra de neutralização das postônicas, levando à forma ['a.li], bem mais distante da base que [a.'le]. O segundo fator que determina a acentuação desse padrão de hipocorização relaciona-se à proíbição de encurtamentos dissilábicos 71

72 terminados em i receberem acento na segunda sílaba, como em Patrícia > Páti. No entanto, vale ressaltar que alguns dados, como Gabriela > Gabí, requerem o acento em i final, de modo a diferenciar o gênero (feminino e masculino), já que o hipocorístico referente à Gabriel é Gábi 51 e, portanto, apenas a mudança da posição acentual distingue as formas encurtadas relativas aos antropônimos ora em destaque. Por fim, os hipocorísticos, sobretudo os efetuados a partir de antropônimos constituídos por quatro sílabas, em geral, são fiéis ao acento secundário, como ocorre em Janaína > Jâna e, portanto, este recai à esquerda da palavra prosódica resultante, conforme comprovam as formalizações em (10), igualmente respaldadas na MP: (10) (a) (b) (c) [ A. le].[ssan.dra] (. * ) [G i l].[ber.to] ( * ) [Ma. ri].[ana] ( *. ) 51 Dados como Gabriel e Gabriela, em que a posição do acento delimita diferença de gênero na hipocorização, não podem ser contemplados numa mesma análise, ou seja, em uma hierarquia de prioridades, apenas uma das formas emerge como ótima. O mesmo observamos com casos como o de Fabiano > Fábi e Fabiana > Fabí e Manuela > Manú e Manoel > Mânu. Entendemos que esta é uma discussão interessante, visto que a fonologia mostra seus efeitos em um processo morfológico; cumpre salientar que pretendemos tratar dessa questão em outros trabalhos (não nesta tese). 72

73 Verifica-se, em (03), que o padrão B explora a margem esquerda do antropônimo, mais especificamente um pé com duas moras. Sendo assim, a circunscrição prosódica 52 copia os segmentos melódicos da esquerda para a direita até formar um pé bimoraico. Quanto ao acento, dados como Alessandra > Alê formam pés iâmbicos, a fim de garantir a identidade de traços com o antropônimo, como mostra a formalização (10a). Outra possibilidade de configuração estrutural é a de casos como o de Gilberto > Gíl. Nesse exemplo, como há uma sílaba pesada mais à esquerda da base, forma-se um pé troqueu moraico, composto por duas moras, como em (10b). Por último, podem ser encontradas formações como a de Mariana > Mári. Nesse caso, a impossibilidade de que o hipocorístico acentue a vogal i final leva à formação de um troqueu; logo, o acento recai à esquerda da palavra prosódica, além de se respeitar o acento secundário, como vemos em (10c). É fundamental destacar que alguns dados do tipo B fogem, em princípio, ao padrão estrutural de formação de pés. Casos como o de Priscila > Prí, em que não se materializa a coda, podem caracterizar, na verdade, a formação de um pé degenerado, ou seja, um pé composto por uma única mora 53. Outra 52 A circunscrição prosódica é um dos instrumentos básicos da Morfologia Prosódica. É responsável pelo mapeamento da sequência fônica que compõe o molde de um processo morfológico. Assim, de acordo com a direcionalidade do material fonológico escaneado pela circunscrição, forma-se o molde e, nesse estrato derivacional, atuam filtros de boa-formação silábica, a fim de, então, gerar um forma de superfície. 53 Casos como o de Priscila > Prí parecem apontar para uma questão prosódica mais abrangente no que concerne ao uso de formas hipocorísticas em posição de vocativo. Observando contextos reais de interação, percebemos que a maioria dos falantes alonga a vogal final ao fazerem referência ao nome encurtado. Em virtude disso, teríamos, na realidade, a formação do pé decorrente do alongamento da vogal final. Entretanto, como não houve testagens mais detalhadas sobre essa observação e, além disso, como nem sempre os hipocorísticos são utilizados em posição de vocativo, o que, de certa forma, favorece o alongamento, preferimos manter a análise respaldando-a na formação de um pé degenerado, já que este se aplica a todos os contextos linguísticos e, então, não se restringe ao uso de um padrão de hipocorização em contexto de chamamento. Destacamos, ainda, o nosso interesse em propor testes experimentais para avaliar a discussão que levantamos nesta Tese. 73

74 interpretação possível para casos como esses é a de Bisol (1994). Segundo a autora, oxítonas terminadas em vogal, como o hipocorístico Prí para Priscila, em um processo derivacional, desenvolvem uma consoante abstrata capaz de relacionar a base ao sufixo, como em Prizinha. A consoante, que apenas se manifesta em processos aglutinativos, é, na verdade, subespecificada na representação da base e vem à superfície na morfologia concatenativa. Dessa forma, considerando a possibilidade de termos um pé degenerado ou ainda uma coda subespecificada no nível subjacente, antropônimos como Priscila apresentam a seguinte configuração estrutural: (11) [Pri(C)].[ci.la] ( * ) Cumpre salientar, ainda acerca do tipo B de hipocorização, que, diferentemente do que ocorre com o padrão A, são permitidas complexidades na estrutura silábica. Desse modo, se considerarmos os filtros de boa-formação da sílaba, o padrão B condiciona o preenchimento da posição de coda, que não pode ser ocupada, unicamente, por obstruintes. Assim, verificamos que o tipo B prioriza a ancoragem estrita com a margem esquerda da palavra-base, em detrimento de condições que regulem a formação de sílabas menos marcadas, que é o caso do padrão CV. 74

75 Conclui-se, então, que o tipo B de hipocorização caracteriza-se pelas seguintes características formais: (a) privilegia-se a ancoragem à esquerda e, com isso, são mantidas estruturas silábicas complexas; e (b) quanto à tonicidade, deve-se ter em conta a alternância decorrente do respeito à identidade de traços do input para o output, a não-possibilidade da vogal i final portar acento e à fidelidade ao acento secundário. Baseada nessas características, Thami da Silva (2008) propõe a abordagem da hipocorização de tipo B sob a ótica da TO Clássica. Como dito anteriormente, a prioridade do padrão B é o estrito mapeamento à esquerda da palavra-base, de modo que o restritor que ocupa o topo da hierarquia é ANCHOR-HIPO(L) 54. Esse restritor obriga que o candidato a output copie, integralmente, os segmentos melódicos à esquerda da base. No entanto, como é sabido, nem sempre a cópia da margem esquerda é feita sem que haja mudanças na estrutura silábica. Isso ocorre porque a hipocorização é um processo que requer perdas segmentais. Sendo assim, três restrições que atuam em conjunto entram em conflito com ANCHOR, a fim de se garantir a simplificação da estrutura silábica. São elas: (a) ONSET, que obriga o preenchimento da posição de ataque na sílaba; (b) NOCOMPLEX, que proíbe complexidades na posição de ataque; e (c) CODACOND 55 [+contínua], que determina que a posição de coda não deve ser ocupada por consoantes oclusivas. Dessa forma, temos o ranking parcial do padrão B em que ANCHOR >> ONSET; NOCOMPLEX; CODACOND, como se verifica em (12), a seguir: 54 ANCHOR-HIPO(L), no português ANCOR-HIPO(E), requer que a margem esquerda do hipocorístico coincida com a margem esquerda do antropônimo. 55 Neste caso, a condição sobre a coda requer que esta não seja ocupada por obstruintes. O traço [contínuo, emanado do nó Ponto de C no modelo de Clements & Hume (1995), é aqui adotado na formalização da restrição. 75

76 (12) * (. *. ) /fɾansini/ ANCHOR ONSET NOCOMPLEX CODACOND a) [( fɾɐ n )] * b) [( si.ni)] *!*** * ( *. *) /itamar/ a) [( i.tɐ)] * b) [( tɐ)] *! ANCHOR ONSET NOCOMPLEX CODACOND * (. *. ) /patɾisja/ a) [( pa.tʃi)] ANCHOR ONSET NOCOMPLEX CODACOND b) [( pat)] *! Em (12), é notório que o desrespeito a ANCHOR promove a sumária eliminação de candidatos, como acontece em cíne para Francine, em que há quatro apagamentos à esquerda; e tá para Itamar, visto que um segmento periférico é apagado. O preço que se paga para a satisfação de ANCHOR são as violações aos restritores de sílaba, já que Fran infringe NOCOMPLEX; Íta, ONSET e Pát, CODACOND. Dessa maneira, as formas Fran, Íta e Páti saem vitoriosas na disputa. Após as restrições de marcação que regulam a estrutura silábica da forma de saída, uma restrição de fidelidade deve ser postulada de modo que se mantenha uma relação mínima de identidade entre a forma subjacente e a de 76

77 superfície. Isso é levado a cabo por MAX-IO 56, restrição que exige que não haja nenhum apagamento do input para o output. Na verdade, MAX é um restritor sempre violado na hipocorização, já que o processo se configura pela perda de material fonológico; no entanto, a violação à MAX deve acontecer de maneira que a forma de saída não se torne opaca a ponto de não reconhecermos a antropônimo a partir do hipocorístico selecionado. Assim, em (13), mostramos os efeitos de MAX na análise do padrão B de hipocorização: (13) * ( *. *. ) /ƷozianI/ MAX a) [( Ʒo.zi)] *** b) [( Ʒo)] ****!* Na análise do antropônimo Josiane, as formas Jôsi e Jô obedecem ao restritor de ancoragem e aos restritores de marcação, de sorte que a eleição de uma ou outra forma vai depender da manutenção de mais material segmental da base. O candidato (b) viola cinco vezes MAX; enquanto (a), apenas três; logo, a forma vitoriosa é Jôsi 57, pois garante uma relação mais transparente entre input e output. Dada a hierarquia ANCHOR >> ONSET; NOCOMPLEX; CODACOND >> MAX, três outros restritores devem ser acrescidos ao ranking de prioridades do padrão B, dado que a delimitação do acento atribuído à palavra prosódica é 56 cf. nota O uso da forma Jô é licenciado linguisticamente; no entanto, como adotamos uma análise a partir de padrões de formação, esse candidato só emerge quando analisado a partir do conjunto de restrições que evidencia o padrão C de hipocorização. 77

78 outro ponto importante na seleção da forma ótima. Para tanto, propomos os restritores (a) IDENT 58 [+aberto 2], que proíbe a permuta da especificação [+ aberto 2] da palavra-base para a palavra-produto, evitando, assim, que formas como Áli para Alessandra emerjam como ótimas; (b) *í] 59 PrWd, cujo objetivo é proibir i acentuado em final de palavra prosódica, limitando a emergência de dados como Mariana para Marí, por exemplo; e (c) STRESSFAITHFULNESS 60, que exige a fidelidade ao acento secundário do input para o output, como ocorre em Rosilene > Rôsi, conforme evidenciado no tableau (14), a seguir: 58 Neste caso, IDENT faz referência a não-permuta da especificação [+aberto 2], uma das camadas de [aberto emanadas do nó Ponto de V (CLEMENTS & HUME, 1995). 59 *í] PrWd impede que a palavra prosódica receba acento na vogal i se esta estiver ocupando a última sílaba. 60 Cf. nota

79 (14) * ( *. *. ) /alesandɾa/ IDENT *í] PrWd STRESS a) [(a. le)] * b) [( a.li)] *! * ( *. *. ) /mariana/ a) [( ma.ɾi)] IDENT *í] PrWd STRESS b) [(ma. ɾi)] *! * * ( *. *. ) /RozilenI/ a) [( xo.zi)] IDENT *í] PrWd STRESS b) [(xo. ze)] *! Como se observa em (14), a restrição IDENT, dentre as que regulam o acento da palavra prosódica, deve ser a mais bem cotada no ranking, já que assegura uma melhor rastreabilidade do input (GONÇALVES, THAMI DA SILVA & LIMA, 2009:134), conforme se ratifica na análise do antropônimo Alessandra, em que a forma [ á.li] é sumariamente eliminada por IDENT. O restritor de marcação contextualizada *í] PrWd ocupa a posição subsequente a IDENT por se tratar de um restritor violável em palavras monossilábicas, como em Prí, para Priscila, por exemplo. No caso de marí, forma apresentada em (14), tem-se a eliminação do candidato, visto que o acento em i final só é licenciado em palavras monossílabas. STRESSFAITHFULNESS é dominado 79

80 pelos outros dois restritores, pois impede, apenas, que emerjam dados completamente infiéis à forma subjacente, promovendo a manutenção de uma relação mínima de identidade, como ocorre com rosê, candidato eliminado em (14), por não respeitar a configuração acentual do input para o output. Dessa forma, o padrão B de hipocorização caracteriza-se, sobretudo, pela máxima coincidência entre a margem esquerda do hipocorístico em relação ao antropônimo, atentando, no entanto, para algumas características na estrutura silábica da forma de superfície que, por sua vez, são demandas atendidas pelos restritores de marcação. MAX, um restritor de fidelidade, é postulado para que seja apagada a menor quantidade possível de segmentos fônicos, de modo a promover o rastreamento do antropônimo a partir da forma hipocorizada. Por fim, a pauta acentual do padrão ora em tela respeita três restrições (duas de fidelidade e outra de marcação contextualizada), de modo que a hierarquia final do padrão é evidenciada em (15), seguida de (16), com a análise do antropônimo Heloísa : (15) ANCHOR HIPO(L) >> ONSET; NOCOMPLEX; CODACOND >> MAX-IO >> IDENT [+aberto 2] >> *í] PrWd >> STRESSFAITHFULNESS 80

81 (16) * ( *. *. ) /eloiza/ ANCHOR ONSET NOCOMPLEX CODA COND MAX IDENT *í] PrWd STRESS a) [(e.'lo)] * *** * b) [('ew)] * ****! * c) [(Io.'lo)] *! **** * d) [('i.zɐ)] *!** * *** e) [('ɛ.lu)] * *** *! No tableau em (16), os primeiros candidatos eliminados são (c) e (d), pois ambos infringem pelo menos uma vez o restritor de ancoragem. As formas (a), (b) e (e) violam ONSET, pois não preenchem a posição de ataque silábico, mas a infração decorre da satisfação à ancoragem; sendo assim, como os demais candidatos já haviam sido eliminados, os três outputs possíveis continuam na disputa. Ao passar pelo crivo de MAX, a forma (b) é eliminada, já que apaga quatro segmentos da palavra-base. Em seguida, o candidato (e) é descartado por IDENT, já que, pelo fato de o acento recair na sílaba à esquerda da palavra prosódica, há permuta de traços do input para o output (aplica-se a regra de neutralização e /o/ passa a [u]). A forma de superfície em (a) é, pois, a vencedora, ainda que viole STRESSFAITHFULNESS, já que o acento secundário da palavra-matriz incide na primeira sílaba ( e ). Sendo assim, a partir da análise de Heloísa, a hierarquia de prioridades do padrão B de hipocorização mostra-se, de fato, satisfatória e, através do conflito entre demandas, conforme postula a TO, vêm à tona questões 81

82 referentes à interface morfologia-fonologia do português, também evidenciadas na análise do padrão C, a seguir O padrão C de hipocorização O padrão C, também descrito por Thami da Silva (2008, 2009), rastreia a primeira sílaba à esquerda do prenome com a posição de ataque preenchida. Essa sílaba pode ser reduplicada, o que faz do padrão C variável, visto que podem vir à superfície encurtamentos compostos por um pé mononoraico (degenerado) ou por um pé bimoraico formado por RED cv. CV e, então, o acento posiciona-se à direita da palavra prosódica, caracterizando, assim, a formação de pés iâmbicos 61, como mostra a formalização em (17): (17) (a) (b) E.[du].[ar.do] ( * ) E.[du].[ar.do] RED + [du] (. * ) 61 Cumpre salientar que, mais adiante, discutiremos a relevância de adotar iambo na hierarquia de prioridades relativa à análise da hipocorização. De acordo com observações mais gerais, pudemos perceber que a formação de iambos acontece em dois contextos fonológicos: (a) em palavras monossilábicas; e (b) quando há necessidade de manutenção da identidade de traços do input para o output, como ocorre em Alessandra > Alê e não * Áli, conforme discutiremos no Capítulo 6. 82

83 Em (17), observamos, mais uma vez, assim como no tipo B, que se escaneia a borda esquerda da palavra-matriz, especificamente a primeira sílaba com onset. A sílaba copiada para o molde pode ser reduplicada, gerando duas formas possíveis de output uma simples, como em (17a), e outra com reduplicante, como em (17b). Os únicos casos que não apresentam possibilidade de trazer à superfície duas formas de output são antropônimos iniciados com erre-forte, como em Renata > Rê. Para esse antropônimo, por exemplo, não emerge a forma *Rerê, posto que, no português, uma regra fonotática bloqueia a contiguidade de erres-fortes, como sinalizado em Thami da Silva (2008) 62. Ressalte-se, portanto, que há um impedimento da própria fonologia da língua para o uso do reduplicante, o que traz à superfície uma única forma, no caso equivalente à estrutura (17a). É importante destacar que o padrão C, diferentemente do que ocorre no tipo B, caracteriza-se pela manutenção de sílabas com padrão CV. Dessa maneira, a posição de ataque sempre deve ser preenchida, não são licenciadas complexidades no onset e as sílabas devem ser livres (abertas), ou seja, não são permitidas codas. Sendo assim, no que se refere ao padrão C, os aspectos formais relevantes são os seguintes: (a) privilegia-se a margem esquerda, mais especificamente a primeira sílaba com onset; (b) a estrutura silábica da base é sempre CV; (c) a sílaba CV escaneada é passível de reduplicação, trazendo à tona duas formas de output; e (d) antropônimos iniciados por erre-forte só admitem uma forma de superfície, devido à impossibilidade, revelada pela 62 De fato, nenhuma palavra da língua apresenta duas vibrantes múltiplas em onset de sílabas vizinhas. Quando róticos ficam adjacentes, um deles é sempre o tepe, como se vê em 'arara' e 'pirapora', entre tantos outros exemplos. 83

84 própria organização fonotática do português, de haver contiguidade de erresfortes em ataques silábicos adjacentes. Tendo em vista essas características estruturais, na abordagem Otimalista proposta por Thami da Silva (2008), o restritor que ocupa a posição mais privilegiada do ranking é RhTYPE=I 63, já que formações do tipo C constituem-se, invariavelmente, de formas cujo acento recai à direita da palavra prosódica. Além disso, as formações de tipo C geram, necessariamente, estruturas silábicas do tipo CV e, por isso mesmo, as restrições ONSET, NOCOMPLEX e NOCODA atuam em conjunto na análise das construções candidatas, como se verifica em (18), a seguir: 63 RhTYPE=I, no português, equivale a IAMBO, ou seja, pés devem ter cabeça à direita. 84

85 (18) * ( *.. ) /fatima/ a) [( fa)] RhTYPE=I ONSET NOCOMPLEX NOCODA b) [( fa.tʃi)] *! * (. *. ) /fernanda/ a) [( fe)] RhTYPE=I ONSET NOCOMPLEX NOCODA b) [( fex)] *! * ( *. *. ) /eduardu/ a) [( du)] RhTYPE=I ONSET NOCOMPLEX NOCODA b) [(e. du)] *! Em (18), a forma fáti para Fátima viola o restritor RhTYPE=I, posto que o acento não recai à direita da palavra prosódica, emergindo, assim, a forma fá. No caso de Fernanda, apesar de fer respeitar RhTYPE=I, a forma candidata é eliminada ao infringir NOCODA, já que sílabas devem ser sempre leves no caso do tipo C de hipocorização. Com isso, fê é o candidato que melhor satisfaz o ranking parcial de prioridades. Em Eduardo, a forma edú, por mais que respeite RhTYPE=I, é eliminada em ONSET 64, já que a posição de ataque da sílaba mais à esquerda não foi preenchida; logo, tem-se como output o candidato dú. 64 Como vimos na seção precedente, Edú é a forma que emerge no padrão B de hipocorização. 85

86 Outra restrição que merece destaque na análise do padrão ora em discussão é ANCHOR-HIPO(L) 65. Esse restritor, que obriga que os segmentos copiados da palavra-matriz estejam à esquerda, só é violado para que as restrições de marcação sejam atendidas. É o caso, por exemplo, da forma edu para Eduardo, exemplificada em (18). A cópia não-exata da margem esquerda ocorre para a satisfação do restritor ONSET e, por essa razão, ANCHOR é uma restrição dominada na hierarquia, mas, ainda assim, de grande importância, como se verifica em (19): (19) * ( *. *. ) /filomena/ a) [( fi)] ANCHOR b) [( Iɔ)] *!* No caso do exemplo apresentado em (19), a forma ló para Filomena, por mais que respeite os demais restritores já apresentados para a análise do tipo C de hipocorização, visto que se trata de um iambo com estrutura silábica CV, ainda assim está eliminada por ANCHOR devido ao apagamento da sequência fônica fí, que aparece a mais à esquerda da base. Desse modo, a forma fí consolida-se como ótima. Assim, até o momento, temos o ranking estruturado da seguinte maneira: RhTYPE=I >> ONSET; NOCOMPLEX; NOCODA >> ANCHOR. Contudo, ainda há necessidade de acrescentar dois outros restritores a esse 65 Cf. nota

87 ranqueamento NOALLITERATION[h] 66 e ALLITERATION 67. O primeiro proíbe adjacência de aspiradas em onsets de sílabas contíguas 68, em dados como Rejane > *Rerê, já que o português, como vimos, não apresenta nenhuma palavra com realizações de erres-fortes (vibrantes, fricativas velares, aspiradas etc) em ataques contíguos 69. O segundo requer que segmentos adjacentes sejam idênticos. Essas restrições estão em conflito, uma vez que a primeira impede que um segmento fônico específico seja idêntico a seu constituinte adjacente (a genérica aspirada, representada, na formulação da restrição, por [h ), enquanto o segundo requer essa identidade. Segundo Thami da Silva (2008), o padrão C é variável e, portanto, traz à tona duas formas de superfície uma com e outra sem reduplicante; todavia, não é possível haver a cópia da sílaba CV para a formação de um RED caso esta sílaba se inicie com erre-forte, como comprova o tableau em (20), a seguir: 66 NOALLITERATION[h], no português NÃO-ALITERAÇÃO[h], proíbe a contiguidade de erresfortes. 67 cf. nota Nessa restrição, a realização aspirada, [h é tomada como modelo, abrangendo, portanto, não apenas a fricativa glotal, mas também a fricativa velar, [x, e as vibrantes. Tal restrição é motivada pela evidência empírica de não haver, em português, ataques contíguos preenchidos por duas realizações de erre-forte. 69 De fato, quando palavras do português apresentam sílabas contíguas iniciadas por róticos, temos dois tepes, como em arara e perereca, ou um tepe seguindo ( raro, horrores ) ou precedendo uma realização de erre-forte ( carreira, barreira). 87

88 (20) * (. *. ) /r enata/ a) [( xe)] NOALLIT ALLIT b) [(xe. xe)] *! * (. *. ) /teɾeza/ a) [( te)] NOALLIT ALLIT b) [(te. te)] c) [(te. ɾe)] *! Como se pode observar em (20), a forma *Rerrê para Renata é sumariamente eliminada da disputa a output ótimo por apresentar contiguidade de aspiradas, aliterando esse segmento no ataque silábico. Já na análise de Tereza, as formas tê e tetê saem vitoriosas, dado que terê 70, uma das estruturas candidatas, possui consoantes adjacentes não-idênticas e, portanto, desrespeita ALLIT. Dessa forma, para o padrão C, sete são os restritores ativos, segundo Thami da Silva (2008): RhTYPE=I >> ONSET; NOCOMPLEX; NOCODA >> ANCHOR >> NOALLITERATION[h] >> ALLITERATION, como se pode comprovar através da análise do tableau (21), a seguir: 70 É fundamental destacar que a forma Terê para Tereza não emerge em virtude da associação que há como o truncamento Terê para Teresópolis. Como esta já está bastante lexicalizada, se os falantes adotassem o encurtamento referindo-se ao antropônimo, haveria maior opacidade da estrutura linguística. Desse modo, o candidato em questão não vem à tona para a análise da hipocorização. 88

89 (21) * (. *. ) /r odɾigu/ a) [('xo)] IAMBO ONSET *COMPLEX NÃO-CODA ANCOR NO- ALLIT[h] ALLIT b) [('dɾi.gu)] *! * ** * c) [(xo.'dɾi)] *! * d) [(xo.'dʒi)] *! e) [(xo.'xo)] *! Em (21), a forma (b) é eliminada em RhTYPE=I, visto que a cabeça do pé localiza-se à esquerda. Dos candidatos (a), (b), (d) e (e), que seguem na disputa, (c) é sumariamente descartado em NOCOMPLEX, visto que a posição de onset da sílaba [dri] é ramificada. Posteriormente, a forma (e) é eliminada em NOALLIT, visto que mantém a contiguidade de realizações de erres-fortes, restando, então, os candidatos (a) e (d). A forma (d) é eliminada em ALLIT, visto que os onsets adjacentes não são idênticos. Assim, emerge como ótimo o candidato (a) 71. Como se pode evidenciar, o padrão C de hipocorização prioriza a estrutura silábica CV e a manutenção da margem esquerda submete-se aos restritores que regulam a constituição da sílaba. Dessa maneira, Thami da Silva (2008) consegue, através de um modelo pautado em restrições, trazer à tona até dois outputs ótimos para a análise de cada dado, mostrando, assim, 71 É imprescindível atentar para o fato de que pés degenerados não são pré-categorizados como iambos ou troqueus e, por isso mesmo, tais formas não chegam a desrespeitar o restritor RhTYPE=I. 89

90 que a TO também é capaz de dar conta de dados de variação, como também podemos observar na análise de tipo D, a seguir O padrão D de hipocorização Sobre o padrão D, analisado por Lima (2008, 2009), deve-se afirmar que também constitui um padrão variável de hipocorização, assim como o tipo C. A sílaba tônica é copiada e esta é passível de reduplicação, como em André > Dedé e Dé. A principal característica desse padrão é que a sílaba tônica sempre está à direita da palavra prosódica e, além disso, quando apresenta alguma complexidade na posição de ataque, há simplificação da estrutura silábica, de modo a constituir padrão CV ou CVC, já que é licenciado o preenchimento da posição de coda. Nesse último caso o de sílaba com travamento, é copiada para o reduplicante apenas a estrutura CV, como se pode verificar na formalização a seguir, em (22): (22) (a) (b) I.sa.[b e l] ( * ) I.sa.[b e l] RED+ [b e l] (. * ) 90

91 Pode-se notar, com os instrumentos da MP, que o material fonológico rastreado é a sílaba tônica da base. Tal sílaba pode ou não ser acrescida de um reduplicante, o que caracteriza o tipo D como um padrão variável de hipocorização, já que podem vir à superfície duas formas de output: uma sem reduplicante, como em (22a), e outra com RED, como em (22b). Cumpre enfatizar que o padrão D, bem como o C, proíbe complexidades na posição de ataque e, por isso mesmo, filtros são acionados para garantir a forma Dé, em vez de Dré para André, por exemplo. Em contrapartida, apesar de bloquear onsets complexos, é possível o preenchimento da posição de coda, desde que esta seja vocálica. Sendo assim, o tipo D de hipocorização caracteriza-se por (a) rastrear a sílaba tônica da palavra-base, que deve, necessariamente, ter cabeça à direita, garantindo, então, a formação de pés iâmbicos; (b) privilegiar sílabas CVs, à exceção de vocábulos cuja coda seja vocálica, o que possibilita uma estrutura CVC [vocóide] ; e (c) gerar duas formas de output, uma simples e outra com acréscimo de reduplicante. Semelhante ao que ocorre com o tipo C de hipocorização, no padrão D, o restritor mais bem cotado é RhTYPE=I 72, já que o acento sempre está à direita da palavra prosódica. Também como em C, três restrições, que atuam em conjunto, focalizam a estrutura silábica das formações hipocorísticas ONSET; NOCOMPLEX e CODACOND [+vocóide]. A primeira obriga o preenchimento da posição de onset; a segunda proíbe complexidades estruturais e a terceira obriga que a posição de coda seja ocupada somente por vogais (incluindo glides oriundos da vocalização da lateral alveolar Raquel > 72 Cf. nota

92 Quel ). A consolidação desses restritores como os mais bem cotados é evidenciada em (23), a seguir: (23) * (. * ) /andrɛ/ a) [( dɛ)] RhTYPE=I ONSET NOCOMPLEX CODACOND b) [( dɾɛ)] *! c) [( ɐ n.dʒi)] *! * * Em (23), o primeiro candidato eliminado é (c), pois o acento está à esquerda da palavra prosódica e, portanto, fere a restrição RhTYPE=I. Das formas restantes, (a) e (b), (b) é eliminada por violar NOCOMPLEX, enquanto a forma (a) sai vitoriosa. Outro restritor, segundo Lima (2008), é ALIGN RED(L) 73 cuja função é garantir que o reduplicante seja alinhado à esquerda da palavra prosódica, o que o configura como um prefixo. Desse modo, por se tratar de um padrão variável, quando houver o acréscimo de um morfema de reduplicação, este, necessariamente, deve estar à esquerda da base, a exemplo do que se verifica em (24): 73 No português, a restrição pode ser traduzida como ALIN-RED(E), ou seja, alinhe o reduplicante à esquerda da palavra prosódica. 92

93 (24) * (. * ) /awsew/ a) [(se. sew)] ALIGN b) [(sew. se)] *! No tableau (24), que mostra estritamente a atuação de ALIGN RED, nota-se que o candidato (b), eliminado da disputa, utiliza um reduplicante do tipo CV como um sufixo e, com isso, fere a restrição de alinhamento. Dessa forma, (a) emerge como output para o antropônimo Alceu. Uma característica que já foi apresentada acerca do padrão D de hipocorização diz respeito ao fato de que a estrutura rastreada para a formação do encurtamento é sempre a sílaba tônica. Com isso, o restritor HEADMAX é fundamental, pois requer que a sílaba proeminente seja maximizada. É importante destacar que esse restritor é dominado, pois, em alguns casos, apagamentos na sílaba tônica são feitos a fim de que sejam respeitadas as restrições de sílaba, como ocorre, por exemplo, em André > Dé. Na verdade, a forma Dré, que respeitaria HEADMAX, não emerge como ótima devido ao fato de apresentar onset complexo. Além disso, uma generalização importante acerca do padrão D é que o reduplicante não é equivalente, necessariamente, à cópia integral da base e sim a uma sílaba CV. Desse modo, RED=CV 74 é um restritor imprescindível, como se observa em (25): 74 RED=CV, cuja formalização equivale ao português, obriga que o reduplicante tenha formato CV consoante + vogal. 93

94 (25) * (. * ) /matews/ HEADMAX a) [(te. tew)] * RED=CV b) [(tew. tew)] * *! Em (25), testamos os efeitos dos restritores HEADMAX e RED=CV. No caso, para a satisfação a CODACOND, ambas as formas candidatas violam HEADMAX, mostrando, assim, que a restrição é dominada pelos restritores de sílaba. No entanto, ao passar pelo crivo de RED=CV, a forma (a) é a que melhor atende às demandas do ranking, já que não copia integralmente a base teu, reproduzindo apenas a sequência melódica CV (te) para a formação do reduplicante, sendo, assim, a forma vencedora. Como se pode notar, o raqueamento referente ao padrão D de hipocorização organiza-se da seguinte forma: RhTYPE=I >> ONSET; NOCOMPLEX; CODACOND >> ALIGN RED(L) >> HEADMAX >> RED=CV. A última restrição a compor esse ranking é UNIQUENESS 75. Esse restritor é de anti-homonímia, de modo que seu papel é bloquear a emergência de produtos morfológicos idênticos, como é o caso de dêu para Amadeu, por exemplo. Assim, o ranqueamento completo pode ser confirmado em (26), seguido da análise do antropônimo Amadeu, em (27): 75 UNIQUENESS, no português traduzida por NÃO-HOMONÍMIA (BELCHOR, 2009), impede a emergência de produtos morfológicos que sejam foneticamente idênticos a palavras da língua, numa clara tendência contra a criação de homônimos. 94

95 (26) RhTYPE=I >> ONSET; NOCOMPLEX; CODACOND >> ALIGN RED(L) >> HEADMAX >> RED=CV >> UNIQUENESS (27) * (*. * ) /amadews/ RhTYPE=I ONSET NOCOM -PLEX CODA COND ALIGN HEAD MAX RED=CV UNIQ a) [(de.'dew)] * b) [( ɐ.mɐ)] *! * *** * * c) [(dew.'dew)] * *! * d) [(dew.'de)] *! ** e) [('dew)] * *! Em (27), o candidato (b) é o primeiro a ser eliminado da disputa, visto que o membro forte do pé está à esquerda e, portanto, há uma infração a RhTYPE=I. Dos candidatos restantes, a forma (d) é eliminada em ALIGN por incluir um reduplicante do tipo sufixo. O candidato (c) viola RED=CV, posto que copia integralmente a base deu e, por isso mesmo, não usa uma estrutura CV para a formação do reduplicante. Entre as formas (a) e (e), este último é eliminado por UNIQUENESS, já que deu corresponde ao pretérito perfeito do verbo dar e, por isso mesmo, infringe o restritor anti-homonímia. Sendo assim, (a) é a forma vencedora. Como se pode observar, a proposta de Lima (2008) é satisfatória no que se refere à análise da hipocorização, mais especificamente no que concerne ao tipo D. No entanto, uma questão se faz latente ao analisarmos todos os quatro 95

96 tipos de hipocorísticos propostos por Gonçalves (2004a): na verdade, existem, de fato, quatro padrões de hipocorização em português? É com base nessa questão que organizamos o próximo capítulo. 96

97 5. METODOLOGIA E A REANÁLISE DOS PADRÕES DE HIPOCORIZAÇÃO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO Conforme discutimos anteriormente, o português brasileiro apresenta quatro padrões básicos de hipocorização já analisados sob a perspectiva da TO Clássica. No entanto, a partir do olhar de uma nova vertente da teoria, o ROE, e da própria observação dos dados, é possível verificar semelhanças entre os padrões de hipocorização. Essas semelhanças referem-se, basicamente, a dois aspectos: (a) ao contexto linguístico em que se adotam as formas e, para tanto, precisamos analisar a questão da aceitabilidade dos encurtamentos, a fim de verificar se eles concorrem nas mesmas situações sócio-interacionais; e (b) à questão do próprio formato morfofonológico dos hipocorísticos, de maneira a verificar semelhanças estruturais que apontem para a unificação do fenômeno. Com base nessa discussão, visamos a sugerir uma nova organização dos padrões de hipocorização do português brasileiro. O processo de hipocorização, por se tratar de um fenômeno considerado marginal na língua e, portanto, rechaçado por grande parte dos estudos morfológicos, foi analisado mais a fundo a partir do trabalho pioneiro de Gonçalves (2004a), em que o autor verifica que as formações hipocorísticas, além de produtivas no PB, obedecem a padrões gerais de formação. Com base nessa constatação, abriram-se portas para o estudo do processo enquanto gerador de formas linguísticas vinculadas à expressão da afetividade por meio da perda de segmentos fônicos. A partir dessa proposta, surgiram, então, as análises do próprio Gonçalves (op.cit.) acerca do padrão mais básico de hipocorização o tipo A -, já descrito no capítulo anterior; seguidas pelas análises de Lima (2008) e 97

98 Thami da Silva (2008), no primeiro caso, para o tipo D e, no segundo, para os tipos B e C. As abordagens dos autores reforçam a produtividade dos hipocorísticos em português e a não-idiossincrasia das formações, como defendem autores como Cunha & Cintra (2001), por exemplo. No entanto, após visitados os quatros padrões de hipocorização (cf. Capítulo 4) e, sobretudo, após descritas as características fundamentais de cada um desses padrões, podemos verificar não só regularidades do ponto de vista estrutural, mas também semelhanças capazes de nos fazer repensar a hipocorização como processo não mais composto por quatro tipos formais, mas por três grandes padrões a que outros se vinculam. Em outras palavras, os hipocorísticos formam-se a partir de dois grandes processos: (a) através da cópia da margem direita da palavra e, para tanto, esta deve conter a cabeça da palavra prosódica; e (b) através da cópia da margem esquerda da palavra-matriz. Isso quer dizer que, na verdade, há dois padrões básicos de hipocorização no PB os tipos A e B -, como em Augusto > Gúto e Daniel > Dâni. Do ponto de vista estrutural, poderíamos considerar que, de um lado, há um padrão de hipocorização que requer a presença da sílaba tônica da base na formação encurtada, o que faria com os tipos A e D se fundissem e, portanto, fossem interpretados como um único padrão de encurtamento. Formas, como, por exemplo, Chíco < Francisco e Cecêu < Alceu, constituem-se formalmente de estruturas morfofonológicas afins. Se a padrão A é categoricamente aquele que preserva o pé nuclear da palavra-matriz e D, por sua vez, compõe-se de bases monossilábicas extraídas da tônica do prenome, e, mais do que isso, ambas rastreadas a partir da margem direita da palavra- 98

99 base, não teríamos, então, um indício de que A e D são, na realidade, um mesmo tipo de formação hipocorística? Por outro lado, em casos como o de Mariana > Mári e Fernanda > Fê, o que está em jogo não é o margeamento entre a borda esquerda do antropônimo e a do hipocorístico? No que concerne aos tipos A e D, segundo a proposta de Gonçalves (2004a), podemos verificar que o padrão A, bem como o D, respeita a borda direita da base e mantém a sílaba tônica do antropônimo na forma hipocorística. Em outras palavras, dados como Alcir > Cí e Marilena > Lêna são semelhantes em decorrência de privilegiar a margem direita da palavrabase, em função de nessa margem se localizar o acento. No que concerne à construção de pés, o padrão A forma, necessariamente, troqueus moraicos 76, assim como D. Além dessas características formais, tanto os dados do tipo A como os do D, obrigatoriamente, têm a posição de ataque silábico preenchida e, também, não admitem complexidades na estrutura interna da sílaba. Uma diferença que pode ser observada a partir das descrições propostas por Gonçalves (op.cit.) e Lima (2008) para os tipos A e D diz respeito ao preenchimento da posição de coda. Na análise dos autores, observamos que os dados do tipo A admitem o travamento da sílaba, desde que ele ocorra com segmentos vocóides e nasais. Já o tipo D limita-se ao uso de vocóides na posição de coda. Observemos, a seguir, as representações tendo como base os instrumentos da morfologia prosódica (McCARTHY & PRINCE, 1986): (01) 76 Aqui consideramos a proposta de inventário de pés assimétricos proposta por Hayes (1995). Nela, o autor evidencia que há ambiguidade da formalização de troqueus e iambos. O troqueu moraico, assim como o pé iâmbico, pode ter uma única sílaba pesada, ou seja, com duas moras ou uma vogal longa. Nesse caso, valendo-nos dessa ambiguidade, podemos evidenciar que a formação de pés é uma semelhança entre os padrões A e D. 99

100 (a) (b) Ma. ri.[le. na] ( * (. )) A l.[ c í r ] ( * ) O que se verifica nas formalizações é, em (01a), o rastreamento de um troqueu composto de duas moras, os núcleos vocálicos das sílabas 1 e 2, e, então, a formação de uma palavra prosódica CV.CV. Já em (01b), a sílaba tônica é a última, sendo esta pesada, o que garante, então, a formação do troqueu moraico CVC. No entanto, no caso de (01b), a posição de coda somente pode ser ocupada por segmentos vocálicos. Com isso, tem-se, na forma de superfície, o hipocorístico Cí. Outra questão importante a ser destacada diz respeito à possibilidade de acréscimo de um reduplicante nos dados relativos ao tipo D de hipocorização. De fato, esta seria uma diferença; entretanto, nesta proposta de análise da hipocorização, estamos preocupados em checar as possíveis bases oriundas do encurtamento dos antropônimos, ou seja, como não consideramos formas hipocorísticas aquelas que têm acréscimo de formativos, como Biazinha para Beatriz, por exemplo, fatalmente não analisamos a possibilidade de se adjungir à base um reduplicante, já que, em ambos os casos, tem-se uma operação morfológica sobre a base encurtada. Como as bases hipocorizadas ficam disponíveis na língua, estão sujeitas a processos morfológicos variados a que não nos ateremos nesta proposta de análise. 100

101 A partir dessas observações, elaboramos a tabela a seguir que mostra a síntese das observações formais que aproximam e distinguem os padrões A e D de hipocorização: (02) Aspectos formais observados PADRÃO A PADRÃO D Rastreamento prosódico à direita da palavra-matriz à direita da palavra-matriz Manutenção da sílaba tônica da base obrigatória obrigatória Formação de pés troqueu moraico troqueu moraico Questões da sílaba: a) Preenchimento da posição de ataque obrigatório obrigatório b) Preenchimento da posição de coda possível, por segmentos vocóides ou nasais X possível, por segmentos vocóides X c) Complexidades estruturais no interior da sílaba não são licenciadas não são licenciadas Como se pode verificar, considerando os aspectos formais mais gerais acerca dos padrões A e D, percebemos que predominam as semelhanças estruturais entre esses tipos de hipocorização. Além disso, no que tange às divergências, em alguns casos, elas não são totais, como ocorre, por exemplo, no preenchimento da posição de coda. Tanto A como D licenciam codas vocóides, o que aponta para o fato de que A contém D, já que o primeiro permite o uso de segmentos vocoides e nasais; já D, apenas de vocoides. 101

102 Deve-se acrescentar ainda que, em alguns dados, como apresentamos anteriormente, há formação de troqueus no padrão D, o que, na verdade, é uma exigência do padrão A. Dessa forma, ainda que haja uma diferença, D, de fato, está contido no tipo A de hipocorização, considerando, para tanto, aspectos formais. Quanto aos padrões B e C, verificamos como principal semelhança o fato de ambos privilegiarem a margem esquerda da palavra-matriz, o antropônimo. Essa posição fonológica, considerada proeminente segundo Beckmann (1998) 77, pode ser, no caso do tipo B, o pé mais à esquerda, como em Filomena > Filó ou a primeira sílaba com onset preenchido, no caso do tipo C, como em Eduardo > Dú. Ademais, outra semelhança diz respeito a não-obrigatoriedade da sílaba tônica da palavra-matriz na formação encurtada. Do ponto de vista estrutural, as semelhanças entre as formas B e C param por aí. Enquanto B, de um lado, requer a manutenção praticamente total do constituinte prosódico à esquerda, em detrimento de uma formação silábica menos marcada, o padrão C leva a cabo a simplificação da sílaba, trazendo à superfície dados constituídos de sílabas CV e, portanto, menos marcadas quanto à forma, conforme comprovamos com a tabela, em (03), a seguir: 77 Segundo Beckmann (1998), há um pequeno inventário de posições linguisticamente privilegiadas. Sâo elas: sílabas iniciais de raízes/palavras, sílabas acentuadas, onsets silábicos, raízes, vogais longas. 102

103 (03) Aspectos formais observados PADRÃO B PADRÃO C Rastreamento prosódico à esquerda da palavramatriz à esquerda da palavramatriz Manutenção da sílaba tônica da base não-obrigatória não-obrigatória Formação de pés troqueu moraico ou iambo X degenerado X Questões da sílaba: d) Preenchimento da posição de ataque não-obrigatório X obrigatório X e) Preenchimento da posição de coda possível, por segmentos não-obstruintes X impossível X f) Complexidades estruturais no interior da sílaba licenciadas para respeito ao margeamento X não são licenciadas X Pela tabela, em (03), verificamos que, formalmente, os tipos B e C são bastante divergentes. O padrão B de hipocorização preconiza a manutenção do constituinte prosódico mais à esquerda, exigindo, ainda, a sua cópia quase que total, mesmo que, para isso, seja necessária a emergência de um hipocorístico bastante marcado estruturalmente, como ocorre em Cristina > Crís ou Cleonice > Cléo, por exemplo. Já o tipo C traz à tona dados compostos de uma única sílaba CV e, por isso mesmo, menos marcada formalmente. O ônus de ter um encurtamento composto de uma sílaba CV é, sem dúvida, uma maior perda de segmentos, o que acarreta maior opacidade nos encurtamentos, visto que se torna mais difícil detectar a que antropônimo o hipocorístico se refere; e, 103

104 ainda, o fato de termos a formação de pés degenerados, pois, como não se mantém a sílaba tônica da base na maioria esmagadora dos dados, não temos a formação, necessariamente, de pés iâmbicos, mesmo o acento recaindo na última sílaba. Cumpre destacar, também, que não há um padrão acentual nítido no que se refere ao tipo B de hipocorização. Thami da Silva (2008) aponta que três fatores condicionam o acento: (a) o respeito ao acento secundário, como ocorre em Ráfa para Rafael ; (b) a manutenção da identidade entre input e output, como em Alessandra > Alê, e (c) a não-possibilidade de o acento recair na vogal i, sendo o pé composto por duas moras, como em Larissa > Lári. Dessa maneira, ora tem-se a formação de pés trocaicos, ora de iâmbicos. Entretanto, analisando mais detalhadamente os dados, verificamos que, na verdade, a formação de pés iâmbicos ocorre, majoritariamente, para garantir o não-alteamento de vogais médias finais, o que, por uma questão de identidade na relação prenome-hipocorístico, tornaria o encurtamento mais opaco, como no já citado caso Alessandra > Alê. A forma Áli não emerge como ótima exatamente pelo respeito à identidade de traços entre input e output. Fora casos como esses, há algumas poucas exceções, como Jaqueline > Jáque. Nesses casos, a pressão pelo respeito ao acento secundário predomina em detrimento da relação mais estrita de identidade das formas. O padrão C, em contrapartida, dificilmente, estrutura-se a partir de uma sílaba tônica e, essencialmente, leva a uma formação hipocorística cujo pé é degenerado, como ocorre com Jú para Juliana, Ná para Natália e Gí para Gisele. Nesses casos, o que se tem é a cópia da sílaba mais à esquerda com 104

105 a posição de onset preenchida; assim, a força pela manutenção da margem é maior do que a necessidade de a forma encurtada ter um pé bem formado. Sendo assim, vejamos, em (04), a seguir, como se estruturam os padrões B e C através dos instrumentos da morfologia prosódica (McCARTHY & PRINCE, 1986): (04) (a) (b) [ L e o].[nar.do] ( * ) F i. [ l o ].[me.na] (CV) Como se pode observar, em (04a), há o rastreamento do constituinte prosódico mais à esquerda da base, como é o caso de Léo para Leonardo, aproveitando, assim, todo o material fonológico à esquerda da palavra-matriz, ainda que haja complexidades estruturais no nível da sílaba. Em (04b), o antropônimo Filomena pode privilegiar não mais o margeamento perfeito à esquerda da base, mas a estrutura silábica CV. Nesse último caso, a formação Fí para Filomena pode ser acrescida de um reduplicante, como em Fifí ; contudo, conforme dito anteriormente, não vamos nos ater na descrição de operações morfológicas (reduplicação, sufixação avaliativa) que eventualmente incidam sobre as bases formadas pelo processo de hipocorização, ainda que 105

106 saibamos haver esta possibilidade para as formas compostas de uma única sílaba CV e, portanto, pertencentes ao padrão C de hipocorização. Uma questão acerca de possíveis relações formais entre os tipos B e C diz respeito ao fato de que, em alguns casos, C parece estar, estruturalmente, contido em B, como ocorre em Alessandra > Alê ou Lê, sendo a primeira forma diminuta relativa ao tipo B e a segunda, ao C. Nesses casos, podemos pensar em uma espécie de hipocorístico do hipocorístico, ou seja, inicialmente, tem-se a formação de tipo B de hipocorização e, depois, o encurtamento deste para, então, a formação do tipo C, como mostra a formalização a seguir: (05) (a) (b) [ A. le].[ssan.dra] (. * ) [ A. l e ].[ssan.dra] (C V) O que se verifica em (05) é que, após Alê, pode-se ainda encurtar mais o hipocorístico, aproveitando-se, assim, apenas a sílaba CV mais à esquerda. A partir de casos como o de Alessandra, ainda que haja inúmeras divergências formais entre os padrões B e C, não seria possível considerar que C está contido em B, visto que nada mais seria do que uma simplificação de B? 106

107 Na realidade, após analisar dos dados que compõem o corpus desta Tese 78, admitimos que não. O que dizer de nomes como Rosemary em que se pode usar a forma Rôse e Rô. Como afirmar que Rôse precede Rô? Diante desse impasse, resolvemos não só avaliar os hipocorísticos no que concerne à equivalência ou à aproximação entre os aspectos formais dos quatro tipos de hipocorização do português brasileiro, mas também verificar a questão sóciointeracional quanto à eleição de uma ou outra forma de encurtamento. Dito de outra maneira, seriam os tipos A e D utilizados, indistintamente, nos mesmos contextos interacionais? E quanto aos padrões B e C? Primeiramente, para tentar esclarecer essa questão, retomamos um teste que foi aplicado por Thami da Silva (2008). No teste, a autora procura dar ao informante contextos em que é possível o uso de formas encurtadas, a fim de verificar o que, para os falantes, é mais afetivo 79, como mostra a questão proposta, a seguir, em (06) 80 : 78 O corpus da Tese é primariamente constituído de dados de hipocorização utilizados nas análises precedentes, sobretudo Gonçalves (2004a), Lima (2008) e Thami da Silva (2008). Na parte do trabalho referente à apresentação da metodologia, voltamos a falar sobre esse assunto. 79 É importante salientar que o trabalho de Thami da Silva (2008) trata estritamente dos processos B e C e, por isso mesmo, os exemplos versarão sobre esses dois padrões de hipocorização. 80 O teste completo e os resultados estão disponíveis no Anexo I. Vale lembrar que não serão comentadas todas as questões do teste, visto que estamos retomando, para esta análise, apenas o que for indispensável à descrição do fenômeno. 107

108 (06) Responda as questões abaixo de forma espontânea e, se achar pertinente, marque mais de uma opção. a) Se você tivesse uma amiga cujo nome é Luciana, como a chamaria? ( ) Lú ( ) Luci ( ) Lulú ( ) Luciana ( ) outro: b) Um amigo do seu pai se chama Carlos. Vocês não têm muita intimidade, mas se conhecem há bastante tempo. Como o chamaria? ( ) Carlos ( ) Cá ( ) Cacá ( ) outro: Podemos observar, a partir de (06), que Thami da Silva (op.cit.) procura verificar se havia formas encurtadas que pudessem ser usadas em contextos mais afetivos/proximais que outras. Fazendo a leitura do resultado desses testes, o uso de formas diminutas mais opacas, ou seja, com maior perda segmental, é mais proximal. Em outras palavras, o uso de hipocorísticos do tipo C, compostos de uma única sílaba CV, podendo esta ser passível de reduplicação, segundo a autora, é mais afetivo do que um encurtamento em que haja menor perda segmental, como no caso de dados como Eduardo > Edú, que seria, então, menos afetivo; e Dú, considerada pelos informantes uma estrutura mais expressiva quanto à afetividade. A partir da análise do teste aplicado por Thami da Silva (op.cit.), resolvemos observar o seguinte aspecto na formação dos hipocorísticos: se o padrão C, efetivamente, é mais afetivo do que os padrões A e B, ele deveria ser sempre possível do ponto de vista estrutural, a depender, unicamente, do contexto de uso em que está inserido. Com base nessa premissa, formulamos um teste que, na questão 1, avalia se formas CV com cópia à esquerda são predominantemente possíveis de serem acessadas pelos falantes, mostrando, para tanto, a concorrência entre essas formas e outras referentes aos tipos A e 108

109 B de hipocorização. E, depois, na questão 2, pedimos que os informantes marcassem a forma encurtada que, para ele, seria mais afetiva e, portanto, mais dependente do contexto de uso para ser acessada, conforme mostram as cópias dos comandos das questões utilizadas, em (07), a seguir: (07) (a) Questão 1 Avalie os apelidos abaixo e marque (P) para os que você considerar possíveis de serem usados; (PP) para aqueles plenamente possíveis e, portanto, mais usados por você; e (I) para casos considerados impossíveis. a) Para Mariana, como você avalia os dados? ( ) Mári ( ) Nâna ( ) Má b) Para Nazareno, como você avalia os dados? ( ) Náza ( ) Nêno ( ) Ná (b) Questão 2 Escolha, dentre as opções abaixo, o apelido que represente para você maior grau de afetividade/intimidade. a) Para Fernanda, ( ) Fê ( ) Nânda b) Para Rosemary, ( ) Rô ( ) Rôse ( ) Máry É importante destacar que os testes 81 foram disponibilizados em formato online a partir da elaboração organizacional das questões feita no site e, posterior difusão em dois blogs, disponíveis nos links e Encaminhamos os links para os informantes que executavam uma ou ambas versões do teste 81 O modelo em formato Word dos testes realizados online encontram-se nos Anexos III e IV desta Tese. Responderam ao teste 172 informantes, de sexo, idades e níveis de escolaridade variados. 109

110 e, após feito o envio das respostas online, recebíamos, via , os resultados. Uma vez encerrado o prazo de envio de respostas, elaboramos uma tabela quantificando os resultados item a item, como pode ser vista nos Anexos V e VI desta Tese. E, além disso, fizemos um gráfico final para consolidar as respostas, generalizando-as. Nos gráficos, dispostos a seguir, em (08a), temos o total, em porcentagem, do resultado da questão 1 que aponta o uso de formas CV como essencialmente possíveis e, além disso, para a questão 2, em (08b), elaboramos um gráfico em que há predomínio de uso de formas mais encurtadas em contextos mais familiares/afetivos. (08a) 110

111 (08b) Como se pode comprovar, os resultados obtidos nos testes aplicados reforçam a proposta de Thami da Silva (2008): o padrão C, que se forma a partir de grande perda de segmentos e, em muitos casos, concorre com os tipos A e B de hipocorização é usado pelos falantes principalmente em contextos sócio-interacionais que demandam maior proximidade entre os interactantes. E quanto ao padrão D? O mesmo que ocorre em C aplica-se aos encurtamentos de uma sílaba margeados à direita da palavra-matriz? A resposta para essa pergunta está no corpus relativo ao tipo D de hipocorização, disponível em Lima (2008). Esse padrão, composto de um número bastante ínfimo de dados, cerca de 14, em geral, não concorre com outras formas de hipocorização e, se concorre, nunca é com o padrão A, o que aponta efetivamente para o fato de que A e D sejam um único tipo estrutural de hipocorização. 111

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