LPN Paula Alçada Castela

Tamanho: px
Começar a partir da página:

Download "LPN Paula Alçada Castela"

Transcrição

1 Candidatura CASTRO VERDE 0 LPN Paula Alçada Castela RESERVA DA BIOSFERA DA UNESCO

2 Candidatura CASTRO VERDE RESERVA DA BIOSFERA DA UNESCO - CONSULTA PÚBLICA (Versão 24 junho 2016)

3 FICHA TÉCNICA Coordenação Geral Câmara Municipal de Castro Verde Liga para a Proteção da Natureza Associação de Agricultores do Campo Branco Equipa Técnica Rita Alcazar Paulo Nascimento Sónia Fragoso Carlos Pedro Ana Nobre Irene Aparício Agradecimentos Natasha Silva Hugo Lousa Miguel Rego Núria Alves Nuno Sarmento

4 ÍNDICE PART I: SUMÁRIO NOME PROPOSTO PARA A RESERVA DA BIOSFERA PAÍS PROPONENTE CUMPRIMENTO DAS TRÊS FUNÇÕES DE RESERVA DA RESERVA DA BIOSFERA CRITÉRIOS PARA A DESIGNAÇÃO COMO RESERVA DA BIOSFERA APOIOS PART II: DESCRIÇÃO LOCALIZAÇÃO (CORDENADAS E MAPAS) AREA REGIÃO BIOGEOGRÁFICA USO DOS SOLOS POPULAÇÃO DA RESERVA DA BIOSFERA CARATERÍSTICAS FÍSICAS SERVIÇOS DOS ECOSSISTEMAS PRINCIPAIS OBJETIVOS DA RESERVA DA BIOSFERA FUNÇÃO CONSERVAÇÃO FUNÇÃO DESENVOLVIMENTO FUNÇÃO APOIO LOGÍSTICO GOVERNANÇA, GESTÃO E COORDENAÇÃO DA RESERVA DA BIOSFERA DESIGNAÇÕES ESPECIAIS DOCUMENTOS DE APOIO (em anexo ao formulário de candidatura) CONTATOS

5 PART I: SUMÁRIO SUMMARY 1. NOME PROPOSTO PARA A RESERVA DA BIOSFERA PROPOSED NAME OF THE BIOSPHERE RESERVE [It is advisable to use a locally accepted geographic, descriptive or symbolic name which allows people to identify themselves with the site concerned (e.g. Rio Platano Biosphere Reserve, Bookmark Biosphere Reserve). Except in unusual circumstances, biosphere reserves should not be named after existing national parks or similar administrative areas.] Reserva da Biosfera de Castro Verde 2. PAÍS PROPONENTE NAME OF THE COUNTRY Portugal (Figura 1). PORTUGAL RESERVA DA BIOSFERA DE CASTRO VERDE Figura 1 Localização de Portugal continental com a localização da Reserva da Biosfera de Castro Verde (região Alentejo NUTS II, código: PT18; sub-região do Baixo Alentejo NUTS III, código: PT144). Página 2

6 3. CUMPRIMENTO DAS TRÊS FUNÇÕES DE RESERVA DA RESERVA DA BIOSFERA FULFILLMENT OF THE THREE FUNCTIONS OF BIOSPHERE RESERVES [Article 3 of the Statutory Framework presents the three functions of conservation, development and logistic support. Explain in general terms how the area fulfills these functions.] 3.1. CONSERVAÇÃO CONSERVATION Contributo para a conservação das paisagens, dos ecossistemas, das espécies e da diversidade genética Contribute to the conservation of landscapes, ecosystems, species and genetic variation. (Stress the importance of the site for conservation of biological and cultural diversity at the regional or global scales) A Reserva da Biosfera proposta localiza-se no continente português, no interior do Baixo Alentejo, nas longas e extensas planícies do distrito de Beja, em pleno coração do Campo Branco (Figura 2). Com ,22ha, integra exclusivamente uma área terrestre que correspondendo à totalidade da área geográfica do concelho de Castro Verde, sendo por isso doravante igualmente referida como: área de Castro Verde, território de Castro Verde, região de Castro Verde ou simplesmente Castro Verde. RESERVA DA BIOSFERA de CASTRO VERDE Legenda: Campo Branco limites concelhos Figura 2 A sub-região homogénea do Campo Branco, também conhecida por Campos de Ourique, reúne um conjunto de características que a destacam das demais sub-regiões do Baixo Alentejo. Modo geral esta abrange os concelhos de Aljustrel, Almodôvar, Ourique, Mértola e Castro Verde, cabendo a este último a totalidade do seu território. De terras chãs, onde a vista se perde até ao horizonte, a área de Castro Verde é detentora de uma grande diversidade de valores naturais e culturais únicos de elevado interesse local, regional, nacional e internacional. Estes valores resultam de uma relação Homem-Natureza milenar, vivenciada no processo histórico da evolução da ocupação e uso do solo. Atendendo à orografia e clima, a ocupação humana esteve desde sempre associada ao cultivo de cereais e criação de gado (ovino e bovino). Com o passar do tempo estas atividades humanas moldaram uma paisagem de rara beleza e de elevado valor natural, caracterizada por um distinto nível de biodiversidade dependente de práticas agrícolas de uso do solo extensivas. Página 3

7 Para tirar o melhor proveito da terra, a atividade agrícola baseia-se num esquema de rotação entre o cultivo de cereais (trigo, aveia ou cevada) e a existência de pousios (em que as terras não são cultivadas para recuperar a fertilidade). Enquanto estão a descansar, estas terras podem ser usadas como pastagens para vacas e ovelhas. Alguns agricultores cultivam ainda leguminosas, como o grão-de-bico, para enriquecer o solo. Em resultado Castro Verde é uma vasta planície aberta, dominada por plantas herbáceas, onde pequenas manchas de árvores e arbustos apenas surgem como apontamentos esporádicos, que complementam e enriquecem este ecossistema. Fortemente humanizado, este sistema agropastoril conhecido por ecossistema estepário detém uma grande variedade de habitats que albergam um leque alargado de espécies (faunísticas e florísticas) de elevado interesse de conservação, sendo muitas delas endemismos ibéricos e até lusitanos. Entre os habitats presentes, e sob a insígnia da Diretiva Comunitária dos Habitats 1, destacam-se dois habitais prioritários: as Subestepes de gramíneas e anuais da Thero-Brachypodietea Habitat 6220* e os Charcos temporários mediterrânicos Habitat 3170*). Ao nível das espécies, a reserva manifesta um elevado grau de endemismos na flora registando 10 endemismos, entre ibéricos e mediterrânicos, e 2 raros endemismos lusitanos, o Coutinho (Linaria ricardoi) e o Caméfito (Armeria neglecta), espécies únicas no mundo e que ocorrem apenas na região onde a Reserva da Biosfera se insere. Para completar esta riqueza, ao nível da macrofauna temos 7 endemismos ibéricos (1 ave, 1 micromamífero, 1 colubrídeo, 2 anfíbios e 3 peixes de água doce). Destaca-se a emblemática Águiaimperial-ibérica (Aquila adalberti) uma das aves de rapina mais ameaçadas entre todas as espécies mundiais. Entre os invertebrados destacam-se 3 espécies de pequenos crustáceos endémicos da Península Ibérica associados aos charcos temporários mediterrânicos. Devido à sua localização geográfica, a área da reserva é um importante ponto de paragem para muitas aves em passagem migratória, em especial entre o Norte da Europa e o continente africano. As massas de água (barragens, açudes e charcas), distribuídas pelo território, são os locais mais procurados para repouso e alimentação, servindo ainda de local de nidificação de muitas aves ribeirinhas e aquáticas Entre migradoras ou sedentárias, ocorrem na área da reserva mais de duas centenas de espécies de aves, que se destacam claramente dentro do Sudoeste peninsular. Na sua maioria estas estão estritamente dependentes da manutenção do mosaico cerealífero, estando muitas delas ameaçadas em Portugal, na Europa, e até a nível mundial. Pela sua importância para a conservação deste conjunto de aves 76,85% da área da Reserva da Biosfera está classificada, ao abrigo da Diretiva Comunitária para as Aves 2, como Zona de Proteção Especial (ZPE) para as aves selvagens. Sob as designações de ZPE de Castro Verde (Decreto-Lei n.º 384-B/99 de 23 de setembro e Decreto-Lei n.º 59/2008 de 27 de março) e ZPE de Piçarras (Decreto Regulamentar n.º 6/2008 de 26 de fevereiro), este território classificado faz parte da rede de espaços naturais protegidos na União Europeia (Rede Natura 2000), sendo um dos últimos redutos para aquele que é considerado como um dos grupos de aves mais ameaçadas na Europa: as aves estepárias. Atendendo ao estatuto de conservação de caráter supranacional, ZPE, estas áreas integram-se, por sua vez, na Rede Fundamental de Conservação da Natureza do território português (RFCN)3. A Diretiva Habitats (Diretiva n.º 92/43/Comunidade Económica Europeia) tem como objetivo contribuir para assegurar a conservação dos habitats naturais (listados no Anexo I) e de espécies da flora e da fauna selvagens (listadas no Anexo II), considerados ameaçados no território da União Europeia. Foi transposta para o direito português pelo Decreto-Lei n.º 140/99, de 24 abril. 2 A Diretiva Aves (Diretiva n.º 79/409/Comunidade Económica Europeia e n.º2009/147/comunidade Europeia) tem como objetivo contribuir para a conservação de todas as espécies de aves que vivem naturalmente no estado selvagem no território da União Europeia e inclui uma lista (Anexo I) com espécies de aves que requerem medidas rigorosas de conservação do seu habitat. Foi transposta para o direito português pelo Decreto-Lei n.º 140/99, de 24 abril. 3 Criada pela Portaria n.º 56/ Portugal 2020, a Rede Fundamental de Conservação da Natureza é aplicável ao um conjunto de valores e recursos naturais presentes no território português e nas águas sob jurisdição portuguesa, abrangendo áreas classificadas por legislação nacional, por estatutos de conservação de caráter supranacional, bem como instrumentos internacionais de conservação da natureza e da biodiversidade de que Portugal seja parte, de que é exemplo o Programa Man and Biosphere, da UNESCO. 1 Página 4

8 Iván Vr A acrescer, o território classificado a nível europeu é igualmente reconhecido pela Birdlife International como Área Importante para as Aves e Biodiversidade, ou IBA4 (do inglês Important Bird and Biodiversity Areas), estatuto que enaltece a importância deste local para a conservação de populações de aves, e dos habitats que as suportam, à escala global. Por fim, é de salientar a existência de 4 Zonas de Interdição à Caça (ZIC - Portaria n.º 1056/2006, de 25 de setembro), que além de assegurarem as condições para o completo desenrolar dos ciclos biológicos das espécies cinegéticas proporcionam um local tranquilo de refúgio para outras tantas espécies, entres aves, mamíferos, répteis e anfíbios. A conservação desta impressionante e ímpar paisagem, de Portugal e do mundo, e cultura do seu povo, como base de toda a riqueza natural que ostenta, constitui a primeira linha de ação no âmbito da Reserva da Biosfera. As IBAs (Important Bird Area) são áreas classificadas segundo critérios definidos pela Birdlife International, que são identificadas através da aplicação de critérios científicos internacionais e constituem a rede de sítios fundamentais para a conservação de todas as aves com estatuto de conservação desfavorável. 4 Página 5

9 3.2. DESENVOLVIMENTO Fomentar o desenvolvimento económico e humano de forma sócio-cultural e ambientalmente sustentável DEVELOPMENT Foster economic and human development which is socio-culturally and ecologically sustainable. (Indicate current activities and the potential of the proposed biosphere reserve in fulfilling the objective of fostering sustainable economic and socio-cultural development, including by securing flows of ecosystem services from the biosphere reserve) Embora povoada desde a Idade do Bronze, a região de Castro Verde ficou marcada ao longo do séc. XIX e XX pela variabilidade demográfica. As políticas protecionistas aos cereais incentivaram a fixação populacional e o consequente aumento da população até meados do séc. XX (nomeadamente, até à década de 40). Com a queda dos níveis de produção de cereais, por esgotamento dos solos, entre a década de 50 e 60, seguiu-se um êxodo rural com consequente decréscimo e envelhecimento da população. Nas décadas de 80 e 90, contrariando a tendência geral do interior do país, Castro Verde conseguiu fazer frente ao problema do despovoamento, sobretudo devido ao desenvolvimento da extração mineira, da construção civil e do dinamismo do setor comercial e serviços, em grande parte induzido pelo primeiro. Desde então as variações populacionais têm sido pouco significativas, tendo-se registado uma taxa de crescimento anual da população de -0,2% e -0,4% em 2001 (com habitantes) e 2011 (com habitantes), respetivamente. Tal reflete uma certa capacidade de retenção da população a que a restruturação, em particular nas últimas três décadas, das atividades e tecido económico na região não terá sido alheio. Fruto da especificidade geológica da área de Castro Verde, que é atravessada pela Faixa Piritosa Ibérica (uma das províncias metalogénicas de maior relevância a nível mundial), junto ao limite Sudeste da Reserva encontra-se aquela que é uma das mais importantes indústrias extrativas do nosso país: a Mina de Neves-Corvo. O papel empregador desta indústria somado às atividades e serviços a ele ligados, assim como o comércio, a construção civil e obras públicas, têm sido fundamentais para a reorganização e revitalização da economia local. Em resultado, atualmente o sector secundário emprega 29,5% da população presente na reserva, o terciário 63,2% e o primário 7,4%. Apesar da diminuição drástica da população agrícola, nas últimas décadas, atualmente continuase a praticar o cultivo extensivo de cereais de sequeiro, a que se associa a criação de gado (ovino e bovino), como forma e majorar as fontes de rendimento de um sistema de produção pouco rentável economicamente. A par da sua vertente produtiva, ao deter valores naturais únicos e oferecer uma paisagem campaniça incomparável, esta atividade humana manifesta um elevado potencial para o desenvolvimento de novas áreas económicas como o turismo multifuncional, em especial do birdwatching. A classificação como Reserva da Biosfera vem reforçar não só a sustentabilidade de um território distinto no panorama regional, nacional e internacional, pelos conjunto de elementos naturais e traços culturais típicos numa região (de cariz rural), mas também o modelo de desenvolvimento sócio-económico local que tem sabido manter a identidade e tradição sem hipotecar os valores patrimoniais presentes no território. Página 6

10 3.3. APOIO LOGÍSTICO LOGISTIC SUPPORT Apoio a projetos demonstrativos, à educação e formação ambientais, à investigação e monitorização relacionadas com a conservação e o desenvolvimento sustentável a nível local, regional e nacional Support for demonstration projects, environmental education and training, research and monitoring related to local, regional, national and global issues of conservation and sustainable development. (Please indicate current or planned activities) Pela especificidade do património natural e cultural, fruto de uma convivência milenar entre o Homem e a Natureza, a região de Castro Verde suscita há muito o interesse da nacional e internacional para realização de trabalhos em diversas áreas do conhecimento. Estas características, associadas ao capital de saber existente no território e às diversas infraestruturas de apoio ao desenvolvimento de atividades técnicas, científicas e de educação sensu lato, tem permitido o estabelecimento de parcerias e a realização de projetos em domínios tão distintos como a investigação, a agricultura, a conservação da natureza, a formação e educação, a valorização de tradições, produtos e saberes locais). Nas últimas duas décadas, têm-se vindo a desenvolver de forma regular projetos de conservação e gestão de recursos naturais, com particular destaque para a avifauna associada à estepe cerealífera, assim como água e solo. A acrescer, o desenvolvimento de ações de informação, sensibilização e formação, junto de diferentes segmentos da população local (agricultores, caçadores, escolas, prestadores de serviços, etc.), assim como da comunidade técnico-científica, têm permitido a mudança de comportamentos, a troca de experiências e a divulgação de conhecimentos em diversas áreas, como as ciências agrárias, a conservação da natureza, a cultura e a etnografia. A realização de atividades que visam o envolvimento social e a participação pública, de que as Jornadas Ambientais são um exemplo, assim como sessões participativas, dias abertos, workshops, têm permitido a mobilização dos diferentes sectores da comunidade local para a conservação de um bem comum e promoção de uma sociedade mais ativa e comprometida. Neste contexto, a Reserva da Biosfera funcionará como um pólo de transferência de conhecimento científico e empírico, impulsionando a realização de novas e mais ações capazes de contribuir para a renovação social, ambiental e económica deste território rural. Página 7

11 4. CRITÉRIOS PARA A DESIGNAÇÃO COMO RESERVA DA BIOSFERA CRITERIA FOR DESIGNATION AS A BIOSPHERE RESERVE: [Article 4 of the Statutory Framework presents 7 general criteria for an area to be qualified for designation as a biosphere reserve which are given in order below.] 4.1. Incluir um mosaico dos sistemas ecológicos representativos da região biogeográfica, incluindo uma gradação da intervenção humana Encompass a mosaic of ecological systems representative of major biogeographic region(s), including a gradation of human interventions. (The term "major biogeographic region" is not strictly defined but it would be useful to refer to the Udvardy classification system ( A Reserva da Biosfera pertence à zona biogeográfica da Região Mediterrânica. Embora grande parte da cobertura vegetal original da floresta mediterrânica tenha desaparecido, é possível encontrar um conjunto de espécies caraterísticas da flora mediterrânica, algumas das quais restritas à Bacia do Mediterrâneo. Dominada por uma paisagem pouco acidentada, de baixo-relevo, e com uma altitude média a rondar os 200 metros, a área da reserva é desde há cerca de anos objeto de uma profunda humanização. Marcada pela presença de comunidades humanas que teriam na exploração mineira e na pastorícia as suas principais atividades, desde cedo que aqui se instalam estruturas comunitárias fortemente desenvolvidas, conhecedoras da escrita e com profundos contactos comerciais com o Mediterrâneo. Hoje, a vasta planície de Castro Verde caracteriza-se pela existência de um mosaico de sistemas ecológicos seminaturais alternados, ricos em habitats e espécies (específicos da região biogeográfica do Mediterrânio), a que se somam aglomerados populacionais, bem distribuídos no território, algum casario disperso, vias de comunicação e uma rede hidrográfica, formada por ribeiras e barrancos de caudal irregular. Com uma área de 569,4km2 e uma população estimada em 2011 de habitantes, a reserva apresenta uma densidade populacional baixa (12,8hab/km2). Grande parte da população encontra-se na vila de Castro Verde (4.199 habitantes), distribuindo-se a restante por cerca de uma vintena de localidades de pequena e média dimensão (2.755 habitantes) e alguns núcleos populacionais isolados, nomeadamente nos montes alentejanos (que totalizam 322 habitantes). A malha urbana das localidades é dominada por um misto de casario mais antigo e novas construções, onde se tenta preservar a traça original das casas alentejanas. Mas, é nas aldeias que a traça arquitetónica que identifica o grande Alentejo continua a dominar a paisagem urbana e nos prende o olhar. As casas baixas, caiadas e com barras que variam entre o azul e o amarelo, integraram-se na paisagem como se dela fizessem parte, apresentam materiais e soluções adaptadas ao clima e à função e formam conjuntos naturalmente equilibrados que, ainda hoje, são fonte de inspiração para as intervenções contemporâneas. Dispersos um pouco por todo o território, os montes alentejanos são na sua maioria construídos em taipa, mantendo o encanto e beleza da traça original, e formam, por vezes, um pequeno núcleo com as dependências de apoio (armazéns, ovil, etc.) construídas em alvenaria. Nesta matriz paisagística humanizada, os campos de cultivo de cereais de sequeiro ocupam a quase totalidade da superfície agrícola útil. Intercalados por terras, onde pastas ovelhas e vacas, estes ocupam vastas áreas abertas, quase planas, compartimentadas em grandes parcelas muitas vezes vedadas (com a tradicional rede ovelheira). Pontualmente surgem pequenos espelhos de água (açudes e barragens) de apoio à atividade agropecuária. De um modo geral, este sistema agropastoril, conhecido por estepe cerealífera mediterrânica, domina mais de metade da área da reserva. Página 8

12 AS CASAS CAIADAS As características mais marcantes da arquitetura rural: as casas só com um piso térreo; as paredes grossas e com poucas aberturas, tradicionalmente construídas em taipa, solução sábia para, com poucos meios, conservar o calor no inverno e a frescura no verão; as enormes chaminés, por vezes mais altas do que as casas, por onde saem os fumos das lareiras que aquecem as noites frias e curtem os enchidos caseiros; o lugar privilegiado que ocupa a cozinha; o forno do pão, por vezes comum a toda a aldeia, com a sua inconfundível forma abobadada; a textura das paredes exteriores e interiores que, ano a ano, as mulheres vão cobrindo com novas camadas de cal; e os coloridos rodapés que, nos velhos tempos, se pintavam predominantemente de ocre e de azul. Esta extensa planície agrícola apenas é descontinuada pela presença de pequenas e esparsas manchas de vegetação arbustivo e/ou arbórea, tipicamente mediterrânicas. Poucos e esparsos, os montados são sobretudo de Azinho (Quercus rotundifolia), sendo o sub-coberto muitas vezes usado como pastagem natural, ou para o cultivo de cereais de sequeiro. Nos chamados terrenos incultos, geralmente áreas com afloramentos rochosos que impedem a lavoura ou terrenos agrícolas entretanto abandonados, surgem espécies arbustivas onde a Esteva (Cistus ladanifer) é quase exclusiva. Formando manchas homogéneas, onde por vezes também aparecem espécies como o Rosmaninho (Lavandula sp.), os estevais servem muitas vezes como abrigo a colmeias que, começam, a ter grande importância na região. Outrora associados a vinha, as raras manchas de olival são ainda hoje mantidas em regime de sequeiro, sendo o sub-coberto muitas vezes aproveitado como pastagem natural. A este mosaico de habitats de elevada riqueza biológica e cultural, acrescem zonas de baixa intervenção humana também de grande valor ecológico, como as áreas de matagal existentes nas encostas mais declivosas dos escassos cursos de água. Há ainda a salientar a existência de alguns charcos temporários mediterrânicos (habitat prioritário 3170* da Diretiva Habitats) que pelo seu carater de excecionalidade são cruciais para a existência de algumas espécies de invertebrados (como os pequenos crustáceos, também conhecidos por grandes braquiópodes) pouco comuns e com elevado valor de conservação. Confinado ao Sul da Europa e Norte de África e fortemente dependente do Homem, este é um dos ecossistemas terrestres mais ameaçados na Bacia do Mediterrânio (e Europa) e que alberga algumas das aves e habitats mais ameaçados da Europa, e do mundo. Página 9

13 4.2. Importância para a conservação da diversidade biológica Be of significance for biological diversity conservation. (This should refer not only to the numbers of endemic or rare species, but may also refer to species on the IUCN Red List or CITES appendices, at the local, regional or global levels, and also to species of global importance, rare habitat types or habitats with unique land use practices (for example traditional grazing or artisanal fishing) favouring the conservation of biological diversity) Apresentando um ecossistema estepário tipicamente mediterrânico bem preservado e que sustenta uma comunidade de flora e fauna, com estatutos de proteção elevados, Castro Verde detêm um relevante e valioso património natural importante à escala local, regional, assim como nacional e internacional. O mosaico de searas, restolhos, alqueives, pousios e pastagens, que a estepe cerealífera oferece, é hoje um dos últimos redutos de muitas aves com estatuto de vulneráveis, ameaçadas ou em perigo, em Portugal e no mundo. As aves estepárias e as rapinas diurnas correspondem aos principais valores desta avifauna estritamente dependente da ação do Homem pelo cultivo de cereais e a existência de pousios (e pastagens). Entre as aves estepárias, com estatuto de vulnerável a nível mundial e de ameaçada em Portugal, temos a Abetarda (Otis tarda) que aqui tem o maior número de indivíduos do país (cerca de indivíduos num total nacional de cerca de 1.893) e as mais importantes áreas de parada nupcial. Destaca-se ainda o Sisão (Tetrax tetrax), com a maior densidade de machos (cerca de metade da população nacional durante a época de reprodução), estando classificado como vulnerável no país. A reserva é ainda, a nível nacional, a principal área de reprodução do Rolieiro (Coracias garrulus), a que congrega mais efetivos de Calhandra-real (Melanocorypha calandra) (cerca de 85% da população nacional) e provavelmente a que regista maiores concentrações de Cortiçol-de-barriga-negra (Pterocles orientalis), três espécies que apresentam a nível mundial tendências populacionais regressivas. Entre outras tantas aves residentes, esta área alberga núcleos significativos de Alcaravão (Burhinus oedicnemus), Trigueirão (Miliaria calandra) e Cotovia-montesina (Galerida theklae). Entre as migradoras estivais temos ainda a Perdiz-do-mar (Glareola praticola), o Abelharuco (Merops apiaster) e a Calhandrinha (Calandrella brachydactyla). No seu conjunto estas espécies estepárias, que se encontram no Anexo I da Diretiva Aves, são consideradas um dos grupos de aves mais ameaçadas da Europa, sendo Castro Verde um dos poucos locais com especial relevância para a sua conservação. Nas aves de rapina, destaca-se o Peneireiro-das-torres (Falco naumanni), pela ocorrência de cerca de 70% da população nacional e das duas maiores colónias no país, e o Tartaranhão-caçador (Circus pygargus), pela maior concentração de casais a nível nacional. Acresce a presença de Águiaimperial-ibérica (Aquila adalberti) um endemismo ibérico e uma das aves de rapina mais ameaçadas no mundo, estando classificada como criticamente ameaçada em Portugal. Entre a comunidade de aves invernantes, destaca-se a presença em elevado número de Grou (Grus grus) e Milhafre-real (Milvus milvus), este com categoria IUCN quase ameaçado, que aqui têm alguns dos mais importantes dormitórios de Portugal. Durante o inverno encontram-se ainda importantes densidades de Abibes (Vanellus vanellus), Tarambolas-dourada (Pluvialis apricaria), Petinhas-dos-prados (Anthus pratensis) e Lavercas (Alauda arvensis). Entre as aves de presa há ainda uma presença regular de espécies invernantes como o Tartaranhão-azulado (Circus cyaneus) e o Esmerilhão (Falco columbarius), e estivais, como o Milhafrepreto (Milvus migrans). Os pousios e pastagens (potencialmente habitat prioritário 6220* da Diretiva Habitats) são zonas importantes de alimentação para o Grifo (Gyps fulvus), o Abutre-preto (Aegypius monachus), espécie criticamente ameaçada em Portugal, e o Abutre-do-Egito (Neophron percnopterus), com categoria IUCN de ameaçado. Dada a elevada disponibilidade alimentar, Castro Verde é ainda local de assentamento de juvenis e de invernada de grandes rapinas como a Águia-de-Bonelli (Hieraaetus fasciatus) e a Águia-real (Aquila chrysaetos). Página 10

14 José Pesquero Como raridades, regista-se a presença do Abutre de Rüppell (Gyps rueppellii), espécie com categoria IUCN criticamente ameaçada, do Falcão-de-pés-vermelhos (Falco vespertinus), do Corredor (Cursorius cursor) e do Abelharuco-persa (Merops persicus). As poucas e esparsas manchas de montado, sobretudo de azinho (Quercus rotundifolia), albergam um elenco faunístico cuja presença depende da densidade de árvores e do estrato herbáceo e arbustivo do seu sub-coberto. Esta diversidade vegetal proporciona uma riqueza de habitats para várias aves com alto valor de conservação e constantes no Anexo I da Diretiva Aves, como é o caso do Peneireiro-cinzento (Elanus caeruleus) e do Grou (Grus grus). A IMPONENTE ÁGUIA-IMPERIAL-IBERICA Esta grande águia é uma das aves de rapina mais ameaçadas entre todas as espécies mundiais. Endémica da Península Ibérica estava considerada como extinta em Portugal desde Hoje, após uma lenta recolonização de antigos territórios no interior do país, já é possível observá-la com alguma frequência nas planícies de Castro Verde onde é mais comuns encontrar juvenis em dispersão. Nos terrenos menos férteis, muitas vezes votados ao abandono, surgem frequentemente espécies arbustivas típicas do mato mediterrânico, em maior ou menor proporção, como as do género Cistus, onde merece especial destaque a Esteva (Cistus ladanifer). Normalmente os matos de estevas (estevais) são acompanhados por outras cistáceas como a Roselha (Cistus crispus) e o Sargaço (Cistus salviifolius). Nos solos mais degradados, temos outras plantas xerofíticas características como é a Espinhosa (Genista hirsuta) e o Rosmaninho (Lavandula luisieri), um endemismo da Península Ibérica. Nas clareiras de alguns matos é ainda possível encontrar o Caméfito (Armeria neglecta), uma espécie endémica lusitana restrita à região do Campo Branco que se encontra em perigo de extinção e que consta do Anexo IV da Diretiva Habitats. Ao nível do estrato herbáceo destacam-se gramíneas como a Braquipódio-de-duas-espigas (Brachypodium distachyon), uma espécie observada na região Mediterrânica, Este da Europa, e Oeste da Ásia e Macaronésia (exceto em Cabo Verde). Típicas de ambientes mediterrânicos, estas manchas de mato são particularmente importantes para um conjunto de passeriformes migradores de grande interesse conservacionista como o Cartaxo-nortenho (Saxicola rubetra) e o Rouxinol-do-mato (Cercotrichas galactotes). Nas formações que se aproximam do matagal mediterrânico, mais complexo e diversificado que os matos, e confinadas a certas encostas mais declivosas de algumas linhas de água, encontram-se plantas endémicas, características do mediterrânio, como o Zambujeiro (Olea europaea sylvestris), a Aroeira (Pistacia lentiscus) e o Lentisco-bastardo (Phyllirea angustifolia). Entre as plantas espontâneas que crescem nas searas e nos poucos e velhos olivais destaca-se a Coutinho (Linaria ricardoi), um endemismo lusitano muito ameaçado e restrito ao Baixo Alentejo Interior Página 11

15 Iván Vr estando incluído no Anexo II da Diretiva Habitat, com a categoria de prioritária, bem como no Anexo I da Convenção de Berna5. A azeitona é por sua vez uma fonte de alimento para um elevado número de aves entre as quais se evidenciam felosas, toutinegras, tordos, melros, estorninhos e piscos. No inverno é frequente avistar bandos de Abetardas (Otis tarda) nas orlas a alimentarem-se das azeitonas caídas ao chão. Escassas, as linhas de água têm um regime torrencial. Com as grandes enxurradas enchem em pouco tempo o leito que no verão acaba por secar ou ficar reduzido a pegos. Este carater intermitente condiciona a vegetação destes típicos cursos de água mediterrânicos. A comunidade florística é constituída por espécies com grande tolerância ecológica, como o Loendro (Nerium oleander), a Tamargueira (Tamarix gallica), o Tamujo (Myrsine africana) e silvas (Rubus ssp). No estrato herbáceo, evidencia-se o Trevo-de-quatro-folhas-peludo (Marsilea batardae), espécie endémica da Península Ibérica, que em Portugal ocorre apenas no Alentejo, estando inserida no Anexo II e IV da Diretiva Habitats, Anexo I da Convenção de Berna e conseiderada em perigo pelo IUCN. Nas margens crescem ainda plantas perenes, como o Junquilho (Narcissus jonquilla), um narciso endémico da Península Ibérica, que nasce de bolbos subterrâneos. Presentes na matriz dos campos agrícolas, os charcos temporários mediterrânicos (habitat prioritário 3170* da Diretiva Habitats) albergam durante a fase alagada um grande número de espécies de microrganismos, algas, briófitos, plantas vasculares e insetos aquáticos, destacando-se algumas espécies de crustáceos de água doce (grandes branquiópodes), cuja área de ocorrência é muito restrita no mundo. Entres estes contam-se duas espécies endémicas da Península Ibérica: o Cyzicus grubei, espécie de Spinicaudata e o Triops baeticus, espécie de Notostraca. Acresce a presença do Streptocephalus torvicornis, uma das espécies de Anostraca mais raras em Portugal (com 13 localizações conhecidas até ao momento) e de distribuição Paleartica, e o Chirocephalus diaphanus, a espécie de Anostraca de mais larga distribuição em Portugal e que se encontra na Europa e Ásia (região mediterrânica, Ásia Menor e Ásia Central) e Norte de África. Por fim, é de realçar a presença de uma enorme diversidade de insetos, dado que o clima mediterrânico da região é propício a eclosões ao longo de praticamente todo o ano. Entre borboletas diurnas e noturnas, libélulas e libelinhas e um sem número de outros insetos povoam os campos agrícolas, oferecendo possibilidades infinitas para a fotografia de natureza. A Convenção sobre a Vida Selvagem e os Habitats Naturais na Europa ou Convenção de Berna, foi assinada a 19 de Setembro de 1979 e tem por objetivo conservar a flora e a fauna selvagens e os seus habitats naturais, em particular as espécies e os habitats cuja conservação exija a cooperação de diversos estados, e promover essa cooperação. 5 Página 12

16 4.3. Oportunidades oferecidas para a demonstração e exploração de técnicas de desenvolvimento sustentável numa escala regional Provide an opportunity to explore and demonstrate approaches to sustainable development on a regional scale. (Describe in general terms the potential of the area to serve as a site of excellence for promoting the sustainable development of its region (or "eco-region")) Ao longo das duas últimas décadas, a área da Reserva da Biosfera tem sido palco de um conjunto de apostas no domínio cultural, seja ao nível material (património edificado e equipamentos), seja ao nível imaterial (programação e divulgação cultural), bem como de estratégias de dinamização do património natural e do tecido empresarial. Não obstante, o desafio de robustecimento e diversificação da base económica local e de alargamento (quantitativo e qualitativo) das oportunidades de emprego permanece, facto que se afigura absolutamente crítico para alavancar um novo ciclo de desenvolvimento sócioeconómico. A dimensão e o conjunto de características naturais, históricas, culturais e económicas, do território de Castro Verde, oferecem a possibilidade de desenvolver ações concertadas e inovadoras com capacidade para gerar valor, emprego e fixação de ativo humano (em especial, de jovens), a curto, médio e longo prazo. A acrescer, o facto de se tratar de um território de baixa densidade é entendido como portador de nichos de oportunidade ligados a atividades emergentes que são potenciadoras dos seus valores naturais e patrimoniais, de que são exemplo o turismo de natureza e o touring cultural e paisagístico, e até mesmo a geração de novas tecnologias. Em suma, como valor de identidade futura da reserva, o surgimento de novas iniciativas empresariais e a capacidade de gerar empreendimentos (em especial, por via da junção de áreas tradicionalmente afastadas em termos de gestão e organização), pode contribuir de forma significativa para a restruturação das atividades e revitalização da economia local e melhoria da qualidade de vida das populações. Ao nível da atividade agrícola, e pecuária, importa referir o potencial específico que se associa à valorização de produtos tradicionais, como os enchidos, o queijo campaniço, a carne alentejana e o Borrego do Baixo Alentejo, o qual se destaca pela sua estreita inter-relação com o modelo de exploração dominante no território. Os esforços desenvolvidos de forma a preservar a tipicidade regional e qualidade destes produtos, bem como a sua divulgação, podem favorecer quer o incremento da notoriedade dos próprios produtos, quer a promoção do território, podendo assumir-se como um fator sustentável de suporte endógeno ao desenvolvimento rural. Importa ainda considerar o surgimento de novas perspetivas de desenvolvimento para a área mineira no seu período pós-exploração, onde a componente histórica e ambiental da extração mineira pode ser explorada e valorizada. Esta revitalização da mineralização pode, a longo prazo, assumir-se não só como um fator decisivo para o alargamento do ciclo de vida da atividade mineira mas, também, como uma valência diferenciadora e capaz de suportar lógicas específicas de desenvolvimento territorial. Por outro lado, há que estimular as competências humanas na área da sustentabilidade, promovendo iniciativas de investigação, desenvolvimento e inovação com vista à inclusão de fatores de modernidade, inovação e de capacidade institucional e empresarial, bem como captar massa crítica (jovem e qualificada) essencial ao desenvolvimento desta região. A Reserva da Biosfera constituirá assim um catalisador que congregará não só infraestruturas, como capital humano em torno de valores únicos que também constituem oportunidades de valorização de atividades, bens, produtos e serviços. Este novo ciclo de desenvolvimento pode ser replicado noutras áreas com caraterísticas semelhantes, seja dentro ou fora do território português. Página 13

17 4.4. Demonstrar que a área proposta tem a dimensão adequada para a concretização das três funções de Reserva da Biosfera Have an appropriate size to serve the three functions of biosphere reserves. (This refers more particularly to (a) the surface area required to meet the long term conservation objectives of the core area(s) and the buffer zone(s) and (b) the availability of areas suitable for working with local communities in testing and demonstrating sustainable uses of natural resources) A paisagem da Reserva da Biosfera, onde a memória e a tradição oferecem uma especificidade sócio-cultural única, marcada por um diálogo milenar entre a história e a natureza, é sem dúvida um dos elementos mais distintivos de Castro Verde, que lhe confere uma forte identidade cultural. Dada a grande coerência territorial, o zonamento proposto teve por base a existência de estatutos de proteção legal, a presença de valores biológicos (habitats e espécies) de carácter excecional, ou de importância crítica, e a verificação de boas práticas compatíveis com a conservação e fomento da biodiversidade associada à atividade agrícola, em especial das aves estepárias e as aves de rapina. As Zonas Núcleo, com 2.538,22ha, e a Zona Tampão, com ,59ha, cobrem assim grande parte da Reserva da Biosfera (60,33% da área). Com o estatuto de Zona de Proteção Especial para aves de Castro Verde, no âmbito da Rede Europeia de Espaços Naturais (Rede Natura 2000) ambas têm dimensão suficiente para garantir a longo prazo a integridade ecológica do ecossistema estepário e a preservação do estado favorável de conservação dos habitats e das espécies (animais e vegetais) presentes. A Zona Núcleo permite assegurar as funções de conservação e logística previstas para esta Reserva, por ser o local de ocorrência para as espécies de conservação prioritária, garantindo a conservação da paisagem, do ecossistema, das espécies e a variabilidade genética e, em simultâneo a pesquisa científica, a sensibilização e educação ambiental previstas na função logística. A Zona Tampão assegurará também a função de desenvolvimento, para além da função de conservação e logística, dada a maior abrangência das atividades de cariz agrícola ou agro-pastoril que aqui decorrem. Com ,41ha, a Zona de Transição corresponde ao restante território (39,67%), complementando as atividades económicas desenvolvidas na Zona Tampão e garantindo a existência de outras atividades que são essenciais para o desenvolvimento sustentável desta Reserva da Biosfera. Dadas as características ambientais e sócio-culturais que encerra, esta zona contribuirá decisivamente para a concretizar o desenvolvimento económico e humano que seja sócio-cultural e ecologicamente sustentável. A Zona de Transição estará assim mais vocacionada para a função de desenvolvimento, embora também desempenhe um papel na função logística (designamente por muitos equipamentos e infraestruturas para a área da educação se localizarem nas áreas urbanas, como é o caso da Vila de Castro Verde) e de conservação pois ainda se verifica a ocorrência de alguns valores biológicos nesta Zona (que embora relevantes não tem uma importância ecológica e grau de ameaça tão elevado como os valores que estão na Zona Núcleo ou na Zona Tampão). Assim, esta Reserva da Biosfera possui uma dimensão adequada e um zonamento que permitem desenvolver as três funções previstas numa perspetiva de longo prazo e inter-geracional, assegurando a função de conservação com as Zonas Núcleo e Tampão previstas, bem como, áreas adequadas para as comunidades locais demonstrarem o uso sustentável dos recursos humanos, nos três zonamentos previstos. A Reserva da Biosfera tem a dimensão adequada para que esta funcione como um local de aprendizagem para o desenvolvimento sustentável, efetuada em parceria com todos os setores da sociedade de forma a assegurar o seu bem-estar e o do seu meio ambiente Página 14

18 4.5. Zonamento e descrição das áreas protegidas Through appropriate zonation a) Zonas Núcleo Áreas núcleo legalmente classificadas com objetivos de proteção a longo prazo, que cumprem com os objetivos de conservação de Reserva da Biosfera e de tamanho suficiente para cumprir esses objetivos (a) A legally constituted core area or areas devoted to long term protection, according to the conservation objectives of the biosphere reserve, and of sufficient size to meet these objectives. (Describe the core area(s) briefly, indicating their legal status, their size, the main conservation objectives). As cinco Zonas Núcleo propostas encontram-se completamente integradas na ZPE de Castro Verde (Decreto-Lei n.º 384-B/99 de 23 de setembro e Decreto-Lei n.º 59/2008 de 27 de março; Código Plano Setorial da Rede Natura: PTZPE0046). Totalizando 2.538,22ha a dimensão de cada uma é determinada, na sua maioria, pelos limites prediais das explorações agrícolas que as integram, tendo como objetivo central a conservação da biodiversidade única existente nesta área candidata a Reserva da Biosfera e a proteção dos recursos naturais (água e solo). A Zona Núcleo I tem 256,15ha e corresponde às explorações: Herdade dos Longos; Herdade dos Mancebos. A Zona Núcleo II tem 350,02ha e corresponde às explorações: Herdade do Paraíso; Herdade da Hortinha; Herdade das Figueiras. A Zona Núcleo III tem 242,25ha e corresponde à exploração: Herdade do Vale Gonçalinho. A Zona Núcleo IV tem 257,66ha e corresponde à exploração: Herdada da Achada. A Zona Núcleo V tem 1.432,13ha e corresponde às explorações: Herdade de São Marcos; Herdades da Chada; Herdade de Belver; Curral da Zorra. Todas as áreas incluídas nas Zonas Núcleo correspondem quase exclusivamente a habitat de estepe cerealífera, com exceção de troços de ribeiras ou pequenas linhas de água que cruzam algumas das propriedades. Assim, ocorre essencialmente um mosaico que resulta da rotação inter-anual das áreas de pastagem espontânea com parcelas semeadas de cereal de sequeiro. Dadas as características destas propriedades rurais, as Zonas Núcleo previstas são testemunhos reais e vivos de uma ligação simbiótica entre o Homem e a Natureza, promotora de uma biodiversidade única e altamente dependente de uma agricultura tradicional centrada na pastorícia extensiva e na produção de cereais de sequeiro. Estas cinco zonas, apesar de descontínuas entre si, representam áreas de elevada importância para as aves, nomeadamente para espécies globalmente ameaçadas como a Abetarda (Otis tarda)6, o 6 Estatuto de Conservação global: Vulnerável (IUCN, 2015). Página 15

19 Sisão7 (Tetrax tetrax) e a Águia-imperial-ibérica8 (Aquila adalberti), cujo estatuto de ameaça é Vulnerável mundialmente, que têm nestes locais áreas de ocorrência preferencial. A superfície abrangida pelas Zonas Núcleo detém importantes áreas de parada nupcial de Abetarda, tanto de Portugal como da Europa. Estas espetaculares e exuberantes exibições dos machos, com o intuito de conquistar as fêmeas de abetarda, ocorre apenas em alguns locais privilegiados e que são, por isso, de máxima sensibilidade, até porque se desconhece os fatores biofísicos que levam à escolha destas áreas pelos machos desta emblemática ave. Além de essenciais para as paradas nupciais desta espécie, estas zonas são também um local de abrigo e alimentação da espécie e de nidificação das fêmeas. Esta espécie, que é ave voadora mais pesada da Europa (e a 2ª ave voadora mais pesada do mundo) é a principal razão de visita dos ornitólogos que vem visitar Castro Verde para fazer birdwatching. A importância local que a espécie assume está patente nos inúmeros símbolos de grupos e associações locais de Castro Verde que adotaram a Abetarda como sua mascote ou que a integraram como imagem de marca dos seus produtos, mostrando o sentimento de pertença e de identidade cultural associado a esta ave. A abundância de presas traz até estas zonas a imponente águia-imperial-ibérica, espécie endémica do Sul da Península Ibérica. Aqui tem os seus territórios de caça, quer dos casais que nidificam na vizinhança, mas sobretudo de muitas aves juvenis e imaturas que vem até estas áreas em busca de alimento e abrigo. Além destas duas emblemáticas espécies globalmente ameaçadas que ocorrem nestas zonas, é de realçar a importância destas zonas como áreas fundamentais para a reprodução, abrigo e alimento de outras espécies de aves com elevado estatuto de conservação na Europa e em Portugal, como é o caso do Peneireiro-das-torres, do Rolieiro, do Sisão, do Tartaranhão-caçador, do Cortiçol-de-barriga-negra e da Calhandra-real, todas incluídas no Anexo I da Diretiva Aves da União Europeia. Destas espécies é de destacar a existência da maior colónia Portuguesa de Peneireiro-das-torres, que ocorre numa destas Zonas Núcleo. Esta espécie tem sido alvo de diversas ações de gestão do habitat, que decorreram e decorrem nestas Zonas Núcleo e que contribuíram decisivamente para inverter a tendência de decréscimo populacional que se verificava em Portugal. Este trabalho foi um dos contributos para que o Peneireiro-das-torres tivesse melhorado o seu estatuto de conservação mundial em 2011 de Vulnerável para Pouco Preocupante. Das cerca 35 colónias Portuguesas, 10 colónias estão localizadas nas Zonas Núcleo desta Reserva. Também o Rolieiro beneficiou destas medidas de gestão do habitat que foram efetuadas para o Peneireiro-das-torres, tendo em Castro Verde a quase totalidade da população reprodutora Portuguesa. Estas Zonas Núcleo, identificadas como importantes para a conservação da biodiversidade, são todas em terrenos privados (no território da Reserva da Biosfera não existem terrenos públicos, com exceção de pequenas áreas nos aglomerados urbanos), cujos proprietários voluntariamente aderiram à constituição desta Reserva da Biosfera e a esta delimitação de zonamento. Todas estas propriedades são áreas agrícolas, onde se pratica uma agricultura de baixa intensidade compatível com a conservação destas espécies e com as condições edafo-climáticas desta região. De referir ainda, que estas Zonas Núcleo incluem as seis propriedades da LPN, com cerca de hectares, onde se têm vindo a implementar medidas de gestão do habitat para melhorar o habitat destas espécies da avifauna, desde o início da década de 1990, e que têm funcionado como um laboratório vivo para demonstrar a compatibilização da conservação da natureza e da biodiversidade com as atividades humanas. Na Herdade do Vale Gonçalinho, localiza-se o Centro de Educação Ambiental (CEAVG), onde a LPN desenvolve diversas atividades de sensibilização para a conservação deste ecossistema, que são essenciais para assegurar a função logística desta Reserva da Biosfera. 7 8 Estatuto de Conservação global: Quase Ameaçado (IUCN, 2015). Estatuto de Conservação global: Vulnerável (IUCN, 2013). Página 16

20 Nestas zonas têm decorrido também estudos científicos sobre a ecologia e biologia destas aves estepárias e de rapina, bem como, ensaios para demonstração de práticas agrícolas compatíveis com a proteção da biodiversidade e dos recursos naturais (água e solo). Ao incluírem áreas de grande relevância ecológica para algumas das aves estepárias e de rapina mais ameaçadas e vulneráveis, as Zonas Núcleo propostas garantem manifestamente a proteção a longo prazo da riqueza biológica existente e demais recursos naturais (água, solo, paisagem). Este conjunto de Zonas Núcleo permitem assegurar plenamente a função de conservação desta Reserva da Biosfera, garantindo a conservação da paisagem, do ecossistema, das espécies e a variabilidade genética e, em simultâneo a pesquisa científica e a sensibilização e educação ambiental, contribuindo concomitantemente para a função logística desta Reserva Estas Zonas Núcleo contribuem também para providenciar diversos serviços do ecossistema e emprego (não só relacionado com a agricultura mas também com a educação ambiental, a investigação, a implementação de medidas de gestão e o ecoturismo). b) Zonas Tampão Zonas claramente identificadas em torno ou contíguas às zonas núcleo onde as atividades complementares a desenvolver devem ser compatíveis com os objetivos de conservação (b) A buffer zone or zones clearly identified and surrounding or contiguous to the core area or areas, where only activities compatible with the conservation objectives can take place. (Describe briefly the buffer zones(s), their legal status, their size, and the activities which are ongoing and planned there). A Zona Tampão que totaliza ,59 ha foi delimitada de forma a envolver todas as Zonas Núcleo e abranger território classificado como ZPE de Castro Verde onde também ocorrem valores naturais importantes e atividades económicas, essencialmente agrícolas e agropecuárias, compatíveis com os objetivos de conservação. De um modo geral, a área corresponde a uma vasta planície aberta dominada pelo cultivo extensivo de cereais de sequeiro e a existência de pastagens naturais (aproveitadas pelo gado ovino e bovino). Esta atividade agrícola de baixa intensidade é compatível e fundamental para a preservação da biodiversidade que ocorre nesta Zona. Ocorrem ainda pontualmente algumas áreas de montado disperso, sobretudo de azinho, com cereal no sub-coberto ou aproveitamento das pastagens em regime extensivo. Apesar da muito baixa representatividade, destacam-se pequenas zonas de mato, algumas culturas permanentes (nomeadamente, pequenas manchas de olival tradicional e vinha recente) e pequenos povoamentos florestais. Nesta Zona Tampão ocorrem algumas aldeias e os típicos montes alentejanos, geralmente associados às atividades agrícolas que aqui se desenvolvem, sendo uma área com uma muito baixa densidade populacional (cerca de 3 habitantes/km2). As espécies de aves estepárias e de rapina que ocorrem na Zona Núcleo tem também a sua área de ocorrência na Zona Tampão. Esta Zona é área de reprodução, alimento e abrigo ainda de outras espécies de aves de rapina como a Águia de Bonelli, a Águia-cobreira, o Milhafre-real, o Milhafre-preto, o Peneireiro-cinzento, e área de alimentação de aves necrófagas como o Grifo e o Abutre-preto. Pelo estatuto de proteção, bom estado de conservação do ecossistema estepário (com a presença de habitats e espécies, de fauna e flora, com elevado valor) e baixa ocupação humana, a Zona Tampão proposta contribui garantidamente para a preservação da paisagem e manutenção do equilíbrio ecológico das Zonas Núcleo e áreas limítrofes, contribuindo assim decisivamente para a função de conservação desta Reserva da Biosfera. Adicionalmente, ao fomentar atividades humanas compatíveis com a conservação dos valores naturais e culturais (p. ex. educação, recreio e lazer, turismo de natureza e investigação aplicada), numa perspetiva do desenvolvimento sustentável das populações residentes, esta área assegura uma continuidade funcional entre as Zonas Núcleo e de Transição e desempenha um papel importante nas funções de desenvolvimento e logística. Página 17

21 Tal como acontece com as Zonas Núcleo, a Zona Tampão contribui para providenciar diversos serviços do ecossistema e emprego (não só relacionado com a agricultura mas também com a educação ambiental, a investigação, a implementação de medidas de gestão e o ecoturismo). A Zona Tampão assume um papel fundamental na conetividade entre as Zonas Núcleo e de Transição, e representa também um garante da escala de paisagem necessária para a proteção dos valores naturais, económicos e culturais. c) Zonas de Transição Áreas de transição exteriores onde se promovem e desenvolvem práticas de gestão sustentável dos recursos (c) An outer transition area where sustainable resource management practices are promoted and developed. (The Seville Strategy gave increased emphasis to the transition area since this is the area where the key issues on environment and development of a given region are to be addressed. Describe briefly the transition area(s), the types of questions to be addressed there in the near and the longer terms. The Madrid Action Plan states that the outer boundary should be defined through stakeholder consultation). A Zona de Transição totaliza ,41ha e corresponde ao restante território de Castro Verde, não englobado nas Zonas Núcleo e na Zona de Transição. Esta Zona caracteriza-se por uma maior diversidade de usos do solo. Nesta Zona concentra-se a maioria dos aglomerados urbanos, designadamente a Vila de Castro Verde, que corresponde ao maior núcleo urbano. Por este motivo, esta zona tem uma densidade populacional acima da média da totalidade da Reserva, com cerca de 28 habitantes/km2. Também nesta zona se concentram as atividades económicas associadas à extração mineira e os bens e serviços complementares à qualidade de vida da população (serviços públicos e privados, transportes, unidades de ensino, restaurantes, alojamentos e comércio). Existem também áreas de caráter agrícola e agro-florestal (como os montados de azinho) e algumas zonas húmidas, designadamente algumas ribeiras, onde os valores naturais existentes não assumem tanta relevância como os que ocorrem nas Zonas Núcleo e Tampão, mas que complementam também as funções de conservação globais desta Reserva. A Zona de Transição corresponde assim à área onde decorre o quotidiano da maioria da população residente desta Reserva e tem um papel central no desenvolvimento sócio-económico da Reserva da Biosfera proposta. Uma porção da Zona de Transição está também classificada como ZPE de Castro Verde e de Piçarras. O zonamento proposto, incluindo a delimitação da Zona de Transição, resulta de um processo participativo que envolveu desde o início os vários atores locais (stakeholders). Desde as primeiras sessões informativas e participativas que se apresentaram diversas alternativas de zonamento, tendo desde logo em consideração os critérios existentes (como a obrigatoriedade das Zonas Núcleo terem um estatuto legal de proteção), e se incorporam os contributos e comentários que foram efetuados pelos participantes para a delimitação de zonamento apresentada. d) Informação adicional acerca da interação entre os três tipos de zonas (d) Please provide some additional information about the interaction between the three areas A par dos estatutos legais de proteção já existentes, a definição dos três tipos de zonas (Núcleo, Tampão e Transição) teve em conta aspetos diferenciadores e funcionais, que no seu conjunto refletem uma complementaridade e continuidade entre todas as zonas. As Zonas Núcleo e Tampão enquadram, desde sempre, atividades de conservação da natureza e da biodiversidade, interligadas com uma prática agrícola ancestral essencial à preservação dos habitats da avifauna estepária. Estando inseridas na ZPE de Castro Verde, estas já são objeto de várias medidas de proteção e conservação, o que maximiza a preservação da paisagem e salvaguarda do ecossistema estepário. Página 18

22 A Zona de Transição dispõe de um conjunto de atividades económicas de perfil diverso, pelo que contribui objetivamente para o desenvolvimento de atividades humanas sustentáveis e compatíveis com os valores naturais presentes na reserva. O zonamento proposto considerou quer os valores naturais, designamente a presença de espécies ameaçadas e de interesse ecológico, mas também delimitações administrativas, topográficas e funcionais (como estradas, núcleos urbanos, rede hidrológica, domínio público hídrico e cadastro predial). O zonamento teve também em consideração as Unidades Operativas de Planeamento e Gestão previstas no Plano Diretor Municipal de Castro Verde (Resolução de Conselho de Ministros n.º 59/93, de 13 de outubro), designadamente as seguintes Classes de Espaço referidas no Artigo 6º: (i) Perímetros Urbanos; (ii) Classes de espaço de ordenamento agro-florestal-biótopo de Castro Verde; (iii) Reserva Ecológica Nacional; (iv) Reserva Agrícola Nacional e (v) Solo de Transformação Condicionada. Destes são de destacar os seguintes, pela relevância para o zonamento da proposta de Reserva da Biosfera: Classes de espaço de ordenamento agro-florestal-biótopo de Castro Verde (Artigo 8º) definem a oferta de solo para as atividades agro-florestais no município de Castro Verde, considerando o objetivo de conservação da natureza utilização do habitat pela fauna, nomeadamente as aves estepárias, com as seguintes classes de espaço: a) área aberta; b) área de transição ou mista; c) área passível de florestação; Reserva Ecológica Nacional (Artigo 9º) - as áreas abrangidas pela REN são: a) leitos dos cursos de água; b) zonas ameaçadas de cheias; c) albufeiras e faixas de proteção; d) cabeceiras de linhas de água; e) áreas de máxima infiltração; f) áreas declivosas com riscos de erosão; Reserva Agrícola Nacional (Artigo 10º) - as áreas da RAN são constituídas pelas seguintes áreas: a) solos das classes A, B e C; b) de uma forma geral, os solos de baixas aluvionares e os solos de baixas coluviais. Andras Kovacs O zonamento incorporou a realidade existente no território, tendo em consideração as fatores naturais e necessidades locais, tanto presentes como das gerações futuras, e reúne as condições adequadas para assegurar a sustentabilidade operacional e financeira da proposta de Reserva de Biosfera. Página 19

23 Medidas para o envolvimento e participação de autoridades e entidades públicas, comunidades locais e entidades privadas no planeamento e implementação das funções de Reserva da Biosfera Organizational arrangements should be provided for the involvement and participation of a suitable range of inter alia public authorities, local communities and private interests in the design and the carrying out of the functions of a biosphere reserve Medidas previstas ou em curso Describe arrangements in place or foreseen. (Describe involvement of public and/or private stakeholders in support of the activities of the biosphere reserve in core, buffer and transition areas (such as agreements, protocols, letters of intent, protected area(s) plans)) No processo de elaboração da candidatura foram desenvolvidas várias ações de divulgação e participação, junto de vários setores da comunidade presente na futura Reserva da Biosfera, bem como a consulta pública do próprio projeto de candidatura. Entre 2014 e 2015 foram efetuadas três Sessões de Divulgação, com uma afluência de 79 participantes. A primeira destinou-se a instituições (públicas e privadas) com interesses na gestão do território, a segunda aos agricultores residentes na área de Castro Verde e a terceira aos representantes das autarquias locais do concelho de Castro Verde. Estas sessões revelaram-se cruciais para dar a conhecer os objetivos e pormenores de todo o processo de candidatura de Castro Verde a Reserva da Biosfera e qual o potencial desta reserva, nas suas múltiplas vertentes. No seguimento daquelas, realizaram-se em 2015 cinco Sessões Participativas onde foi possível recolher propostas e contributos para o Plano de Ação da reserva. Tendo contado, no seu conjunto, com 54 participantes, estas ações permitiram informar e mobilizar toda comunidade num processo mais proactivo e participativo, para a construção e bom funcionamento da sua Reserva da Biosfera. Por sua vez, o processo de consulta pública, que decorreu de 24 de junho a 10 de julho de 2016, foi complementado com a realização de uma Sessão de Informação e Esclarecimento aberta a toda a comunidade. O apoio decisivo ao processo de candidatura culminou com a assinatura das cartas de compromisso dos proprietários dos prédios rústicos inseridos nas diferentes Zonas Núcleo, assim como cartas de apoio de um conjunto de entidades, com interesse na Reserva da Biosfera. ANO INTERNACIONAL DA CRISTALOGRAFIA A 24 de outubro de 2014, Castro Verde associou-se às comemorações desta efeméride com a inauguração, na Escola Secundária de Castro Verde, de uma exposição itinerante sobre esta matéria e a apresentação de uma placa evocativa alusiva ao Ano Internacional da Cristalografia 2014, na Rotunda do Minério, Situada em plena vila de Castro Verde, esta representa os modelos cristalográficos dos principais minerais associados à mina de Neves Corvo evidenciando, desta forma, a geodiversidade da região de Castro Verde, patente nos seus jazigos ricos em minérios de cobre e zinco. A iniciativa foi promovida pelo Comité Português para o Programa Internacional das Geociências da UNESCO, em parceria com o Município de Castro Verde e teve o apoio da Comissão Nacional da UNESCO, do Laboratório Nacional de Energia e Geologia e do Agrupamento de Escolas de Castro Verde. Página 20

24 Paralelamente, foram dinamizadas ações junto da comunidade escolar, tendo o Agrupamento de Escolas de Castro Verde participado, no ano letivo 2014/2015, na 3ª Edição do Concurso escolar UNESCO: GEA-TERRA MÃE, sob o tema A Água que nos une - É o solo que sustenta a vida". Em resultado, o filme de animação O Solo é que Sustenta a Vida, elaborado por três alunos do 7º ano de escolaridade da Escola EB 2,3 Doutor António Francisco Colaço, foi premiado com o 1º lugar. Este mesmo filme foi posteriormente considerado o melhor trabalho na sua categoria no 3º Ciclo do festival nacional de cinema de animação PORTanima Junior O filme encontra-se disponível em: Fruto desta experiência, bastante positiva, prevê-se para breve a adesão de escolas presentes na reserva à Rede de Escolas da UNESCO. Na ótica do envolvimento plural e pró-ativo dos diferentes sectores da população nos assuntos da Reserva da Biosfera, serão continuados os esforços no sentido de auscultar e mobilizar toda comunidade em torno da dinâmica, funcionamento e desenvolvimento da mesma. Com uma cultura participativa vincada, e bem patente em setores como o da agricultura, prevê-se um envolvimento ativo com todos os elementos da comunidade. Por sua vez, a Reserva da Biosfera prevê a criação de um órgão de gestão que permitirá afinar constantemente a intervenção no território e a execução do seu Plano de Acão. Dele fará parte um Conselho de Gestão, constituído pelas três entidades responsáveis pela presente candidatura, um Conselho Consultivo, constituído por representantes da comunidade local e dos principais grupos de interesse, e um Concelho Científico, constituído por investigadores e cientistas de várias áreas do conhecimento. Esta estrutura de gestão é essencial à implementação dos objetivos a que a reserva se propõe, permitindo inscrevê-la num forte quadro de concordância e parceria territorial. A criação de uma página internet e perfil em redes sociais permitirá a partilha de informação e interatividade com as partes interessadas, a população da reserva e o público em geral. Este festival pretende estimular a exibição pública de filmes que não são distribuídos nem exibidos nos circuitos tradicionais e/ou comerciais de cinema de animação em Portugal, criando um espaço de reflexão, exposição e promoção de trabalhos na área do cinema de animação. 9 Página 21

25 4.7. Mecanismos de implementação Mechanisms for implementation: a) Mecanismos de gestão dos usos e atividades humanas nas zonas tampão (a) Does the proposed biosphere reserve have: a mechanisms to manage human use and activities in the buffer zone or zones? If yes, describe. If not, describe what is planned. Entre os mecanismos já existentes de gestão das atividades decorrentes na Zona Tampão encontra-se o Plano Setorial da Rede Natura 2000 (PSRN2000, aprovado em Resolução do Conselho de Ministros n.º 115-A/2008, de 21 de julho) e o regime jurídico da conservação da natureza e da biodiversidade (Decreto-Lei n.º 242/2015 de 15 de outubro). Acresce o Apoio Zonal, uma medida agroambiental10 definida em Portaria n.º 56/2015 de 27 de fevereiro, contida no Programa de Desenvolvimento Rural do Continente (PDR 2020). Apesar de ser de adesão voluntária, por parte dos agricultores, esta define e condiciona os usos dos recursos naturais tanto em termos da conservação da natureza como no que diz respeito à autorização de atividades de maior impacto, no território classificado como ZPE de Castro Verde. Em suma, a gestão das explorações agrícolas aderentes a esta medida agroambiental terá de obedecer a um conjunto de compromissos conducentes com a atividade agrícola compatível com a conservação da natureza. Por fim, temos o Plano Diretor Municipal (PDM) de Castro Verde (aprovado em Resolução do Conselho de Ministros n.º 59/93 de 13 de outubro) e o PROT Alentejo - Plano Regional de Ordenamento do Território do Alentejo (aprovado em Resolução do Conselho de Ministros n.º 53/2010, de 2 agosto, e Declaração de Retificação n.º 30-A/2010, de 1 outubro). Ao se aplicarem a toda a área geográfica do Município de Castro Verde, estes instrumentos de base local e regional são comuns às três tipologias de zonas da reserva. b) Políticas e planos de gestão para a área de Reserva da Biosfera (b) Does the proposed biosphere reserve have: a management policy or plan for the area as a biosphere reserve? If yes, describe. If not, state how such a plan or policy will be developed, and the timeframe. (If the proposed area coincides with one or more existing protected natural area(s), describe how the management plan of the proposed biosphere reserve will be complementary to the management plan of the protected area(s)). Como suporte à política de gestão de todo o território da Reserva da Biosfera, serão consideradas as orientações e diretrizes tidas no PROT Alentejo e PDM de Castro Verde. Para as Zonas Núcleo, Zona Tampão e as frações classificadas como ZPE na Zona de Transição, além dos planos supracitados, temos ainda o Plano Setorial da Rede Natura 2000 e o regime jurídico da conservação da natureza e da biodiversidade (Decreto-Lei n.º 242/2015 de 15 de outubro). A existência de um Plano de Ação específico para a Reserva da Biosfera permite, por sua vez, a integração dos diferentes instrumentos de gestão (PDM, PROTA, PSRN2000), através da sua constante atualização e envolvimento dos diferentes stakeholders. Ao nível de planos setoriais, será dada especial atenção ao Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação e à Estratégia da União Europeia para a Biodiversidade No âmbito da Política Agrícola Comum (PAC) e desenhadas ao abrigo do Regulamento (da Comunidade Económica Europeia) n.º 2078/92, do Conselho, de 30 de junho, a área classificada como ZPE de Castro Verde dispõe de medidas de apoio a métodos de produção agrícola compatíveis com a proteção do ambiente e a manutenção das características específicas e diversificadas da paisagem rural. Denominadas por Medidas Agroambientais (MAAs), estas instituem um regime de ajudas aos agricultores que, numa lógica de gestão ativa, assumam compromissos que visam a conservação e o fomento da biodiversidade. 10 Página 22

26 c) Identificação das autoridades ou mecanismos envolvidos na implementação das políticas e dos planos (c) Does the proposed biosphere reserve have: a designated authority or mechanism to implement this policy or plan? Na área da Reserva da Biosfera de Castro Verde, a gestão territorial é assegurada pela figura da Câmara Municipal de Castro Verde e outras entidades com responsabilidades na gestão territorial, nomeadamente entidades públicas com responsabilidades na gestão dos recursos naturais (de que é exemplo a CCDR Alentejo). Para as zonas classificadas como ZPE acresce a intervenção da autoridade nacional para a conservação da natureza (Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas). A gestão da Reserva da Biosfera de Castro Verde terá por base um Plano de Ação cuja implementação será assegurada pelas três entidades proponentes da presente candidatura: Câmara Municipal de Castro Verde (CMCV), Liga para a Protecção da Natureza (LPN) e Associação de Agricultores do Campo Branco (AACB). d) Programas de investigação, monitorização e educação ambiental e formação (d) Does the proposed biosphere reserve have: programmes for research, monitoring, education and training? If yes, describe. If not, describe what is planned. Tanto pelas características específicas do seu património, da sua paisagem e do seu ecossistema estepário, como pela biodiversidade que aqui se encontra, o território de Castro Verde é, desde há muito, um eixo fundamental no desenvolvimento de numerosos projetos de investigação em domínios como a biologia, a ecologia, a agricultura e o património (material e imaterial). A investigação irá ser desenvolvida sobretudo por duas vias. Pela via das parcerias e protocolos que já existem com instituições de ensino superior como o Instituto Politécnico de Beja, a Universidade de Évora, a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, o Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa, a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, no quadro de projetos de investigação académicos como de pesquisa de soluções concretas. Mas também por via dos projetos de conservação desenvolvidos pela Liga para a Protecção da Natureza ou de investigação aplicada como os campos experimentais na área agrícola (cereais, forragens e pastagens), desenvolvidos pela Associação de Agricultores do Campo Branco em parceria com a Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Beja, que já estão em curso e que se pretende continuar e desenvolver. Outro exemplo de pesquisa que irá ser desenvolvida é a elaboração da Carta do Património de Castro Verde ou a definição de um conjunto alargado de espécies que possam assegurar uma mais consistente a monitorização ambiental. Na área da monitorização ambiental pretende-se continuar com as contagens das populações de abetardas, grous e sisões e alargar estas contagens a outras espécies. Pretende-se implementar uma monitorização sócio-económica, definindo indicadores que permitam acompanhar a evolução desta Reserva da Biosfera. No que se refere à educação ambiental, esta tem-se centrado muito na população escolar sendo o Centro de Educação Ambiental do Vale Gonçalinho (CEAVG) uma peça chave na dinamização de atividades várias in situ e ex situ à escola. Sendo um público mais recetivo à sensibilização e à mudança de hábitos e rotinas, as crianças e jovens são o meio e o motor dessas mudanças pelo poder que têm sobre as famílias. Assim, têm vindo a realizar-se e irão continuar, para os diversos graus de ensino, várias ações de educação e sensibilização ambiental, de que destacamos: Pequenos Agricultores (agricultura sustentável / 1º ciclo) Plantas Aromáticas e Medicinais do Alentejo (P.A.M. / 1º ciclo) Brinco e sou Amigo do Ambiente (alteração de comportamentos / Pré-escolar) Amigos do Ambiente (boas práticas ambientais, o ambiente numa vertente empreendedora / 1º ciclo) Clube do Ambiente (desenvolvimento sustentável / 3º ciclo e Secundário) Página 23

27 Atividades transversais aos vários ciclos (educação ambiental no âmbito de Projetos Life em curso, ações sobre a água, resíduos, etc.) Naturalmente que são e irão continuar a ser realizadas ações para o público adulto de que são exemplo as ações periódicas sobre resíduos que fazem de Castro Verde o território com maior índice de separação de resíduos sólidos domésticos do distrito de Beja, ou de poupança de água bem como de sensibilização ambiental sobre ambiente e biodiversidade. Também a Universidade Sénior da Associação Sénior Castrense tem realizado e irá continuar a realizar diversas ações e formações nas áreas do ambiente, conservação, sustentabilidade e natureza. Página 24

28 5. APOIOS ENDORSEMENTS (If a large number of Authorities are involved, please enclose the additional endorsement letters as a separate Annex) Assinaturas das autoridades responsáveis pela gestão das zonas núcleo Signed by the authority/authorities in charge of the management of the core area(s) A incluir após aprovação Zonamento e aquando submissão dossier ao Comité Nacional do Programa MaB da UNESCO. 5.2 Assinaturas das autoridades responsáveis pela gestão das zonas tampão Signed by the authority/authorities in charge of the management of the buffer zone(s): A incluir após aprovação Zonamento e aquando submissão dossier ao Comité Nacional do Programa MaB da UNESCO Assinaturas das entidades administrativas nacionais ou regionais responsáveis pela gestão das zonas núcleo e zonas tampão Signed as appropriate by the National (or State or Provincial) administration responsible for the management of the core area(s) and the buffer zone(s): A incluir após aprovação Zonamento e aquando submissão dossier ao Comité Nacional do Programa MaB da UNESCO Assinaturas das autoridades executivas locais ou dos representantes das comunidades locais das zonas de transição Signed by the authority/authorities, elected local government recognized authority or spokesperson representative of the communities located in the transition area(s). A incluir após aprovação Zonamento e aquando submissão dossier ao Comité Nacional do Programa MaB da UNESCO Assinatura do representante do Comité MAB nacional Signed on behalf of the MAB National Committee or focal point: A incluir após aprovação dossier candidatura pelo Comité Nacional do Programa MaB da UNESCO. Página 25

29 PART II: DESCRIÇÃO DESCRIPTION 6. LOCALIZAÇÃO (CORDENADAS E MAPAS) LOCATION (COORDINATES AND MAP(S) Com uma área na ordem dos ,22ha, a zona candidata a Reserva da Biosfera situa-se em Portugal (continental), na região do Baixo Alentejo, distrito de Beja. Está confinada a Norte com os concelhos de Beja e Aljustrel, a Sul com o concelho de Almodôvar, a Este com o concelho de Mértola e a Oeste como concelho de Ourique. A reserva proposta corresponde geograficamente à totalidade do território do concelho de Castro Verde, sendo por isso, muitas vezes, referida como: área de Castro Verde, território de Castro Verde, região de Castro Verde ou simplesmente Castro Verde Coordenadas geográficas gerais da Reserva da Biosfera Provide the biosphere reserve s standard geographical coordinates Área Km2 569,4 Perímetro 163 Comprimento máximo Norte-Sul Este-Oeste Km Máxima 286 Altitude m Mínima 125 Página 26

30 6.2. Mapa de Base cartográfica com a localização e delimitação precisas das três zonas da Reserva da Biosfera Provide a map(s) on a topographic layer of the precise location and delimitation of the three zones of the biosphere reserve (Map(s) shall be provided in both paper and electronic copies). Shapefiles (also in WGS 84 projection system) used to produce the map must be attached to the electronic copy of the form. ZN II ZN I ZN III ZN IV ZN V - ZN - ZTp - ZTs Página 27

31 7. AREA ÁREA Terrestre Terrestrial 7.1. Área das Zonas Núcleo Area of Core Area(s) 7.2. Área das Zonas Tampão Area of Buffer Zone(s) 7.3. Área das Zonas Transição Area of Transition Area(s) TOTAL: 7.4. Total Total Proporção % Percent of total area 2.538, ,22 4, , ,59 55, , ,41 39, , ,22 100,00 Justificação do zonamento face às respetivas funções da Reserva da Biosfera Brief rationale of this zonation in terms of the respective functions of the biosphere reserve. If a different type of zonation also exists indicate how it can coexist with the requirements of the biosphere reserve zonation. (e.g., if national criteria exist for the definition of the area or zones, please provide brief information about these). A proposta de zonamento foi determinada de modo a que as três tipologias de zonas funcionem em conjunto e em estreita articulação, exigindo uma interação harmoniosa entre elas. Este zonamento tem em consideração as caraterísticas naturais, sociais, económicas e culturais deste território, tendo como principal referência a ocorrência dos valores naturais e a relação destes com as atividades humanas que aqui são desenvolvidas. Assim, a delimitação das Zonas Núcleo, Tampão e Transição, foi efetuada em função da presença de valores naturais, em especial de aves de conservação prioritária, e das atividades humanas Para este zonamento tomou-se em consideração a legislação nacional vigente, designadamente a classificação no âmbito da Rede Europeia de Espaços Naturais (Rede Natura 2000) como Zona de Proteção Especial para aves (ZPE), desde 1999, os estatutos de conservação das espécies e os regulamentos aplicáveis de ordenamento do território. As cinco Zonas Núcleo propostas estão inseridas na ZPE de Castro Verde e, portanto, legalmente classificadas. Estas cinco zonas, descontínuas entre si, representam áreas de elevada importância para as aves, nomeadamente para espécies globalmente ameaçadas como a Abetarda (Otis tarda) e a Águiaimperial-ibérica (Aquila adalberti), que tem nestes locais áreas de ocorrência preferencial. Além destas duas espécies com elevado estatuto de conservação no mundo, estas Zonas Núcleo são também áreas fundamentais para a reprodução, abrigo e alimento de outras espécies de aves com elevado estatuto de conservação na Europa e em Portugal, como é o caso do Peneireiro-das-torres, do Rolieiro, do Sisão, do Tartaranhão-caçador e da Calhandra-real, todas incluídas no Anexo I da Diretiva Aves. A delimitação das Zonas Núcleo teve, por isso, em consideração o estatuto legal, a ocorrência destas espécies de conservação prioritária e a prática agrícola de baixa intensidade com culturas de cereal de sequeiro em rotação com pastagens espontâneas extensivas, que permitem assegurar plenamente a função de conservação da Reserva da Biosfera. As Zonas Núcleo propostas coadunam-se assim com a função de conservação de uma Reserva da Biosfera, contribuindo para a preservação de paisagens, ecossistemas, espécies e variabilidade genética, sendo o total da área proposta suficiente para cumprir essa missão. Acresce também a função logística que estas áreas irão desempenhar no âmbito da proposta de Reserva, por se desenvolverem aqui ações de investigação, formação, educação e sensibilização para o desenvolvimento sustentável deste território. Página 28

32 Ricardo Guerreiro A Zona Tampão tem, igualmente, o estatuto de ZPE (de Castro Verde) e carateriza-se por um bom estado de conservação da paisagem e das espécies, tanto de aves estepárias como de aves de rapina, necrófagas e passeriformes, que sendo também de conservação relevante não são prioritárias como as áreas identificadas nas Zonas Núcleo. Com uma baixa ocupação humana, o predomínio das atividades agrícolas e pecuárias, de cariz extensivo, promove a existência de habitats e espécies com elevado valor ecológico e representativos do ecossistema dominante na região (a estepe cerealífera). As manchas de montado disperso, sobretudo de azinho, existentes são igualmente exploradas de modo extensivo estando o sub-coberto ocupado por pastagens aproveitadas pelo gado ou cultivado com cereais. Pelas suas caraterísticas, a Zona Tampão proposta permite assegurar a proteção dos valores naturais das Zonas Núcleo (promovendo a sua conetividade), a existência de atividades humanas compatíveis com a conservação da natureza e, simultaneamente, mitigar os efeitos de atividades mais impactantes que possam ocorrer na(s) Zona(s) de Transição próxima(s). A restante área corresponde à Zona de Transição e engloba quer áreas classificadas (inseridas na ZPE de Castro Verde e na ZPE de Piçarras) quer áreas sem estatuto de proteção legal, onde se destaca o complexo mineiro de Neves-Corvo (centro mineiro mais importante da Faixa Piritosa). É também nesta Zona que se encontra a Vila de Castro Verde e alguns dos aglomerados populacionais de maior dimensão (Entradas, Casével, São Marcos da Ataboeira, Santa Bárbara de Padrões e Sete) e se desenvolvem outras atividades sócio-económicas importantes para a função de desenvolvimento. Esta Zona também irá desempenhar um papel importante na função logística, dado que a maioria das infraestruturas e equipamentos para a formação, sensibilização e educação se localiza em Castro Verde, Entradas e Santa Bárbara dos Padrões. A cooperação, com a partilha de boas práticas, de conhecimento, soluções e abordagens ocorre em toda a área da Reserva da Biosfera, podendo ser replicadas e transferidas à escala regional, demonstrando o papel que esta Reserva da Biosfera terá como laboratório de aprendizagem para o desenvolvimento regional sustentável. Em suma, o zonamento proposto resulta de um compromisso no que diz respeito à conservação e uso sustentável dos valores naturais, em particular, da biodiversidade, da paisagem e de recursos naturais, como o solo, e ao desenvolvimento económico e humano que seja sócio-cultural e ecologicamente sustentável. O zonamento combina, assim, de uma forma integrada e complementar as funções de conservação, desenvolvimento e logística, que promove a articulação e conetividade entre os três níveis de zonamento. Esta Reserva da Biosfera combina de uma forma efetiva os objetivos de conservação, uso sustentável dos recursos naturais e produção de conhecimento através de uma gestão colaborativa Página 29

33 8. REGIÃO BIOGEOGRÁFICA BIOGEOGRAPHICAL REGION [Indicate the generally accepted name of the biogeographical region in which the proposed biosphere reserve is located.]. (The term "major biogeographic region" is not strictly defined but you may wish to refer to the Udvardy classification system ( À escala mundial e de acordo com a divisão biogeográfica da biosfera, definida por Udvardy em 1975, a área proposta a Reserva da Biosfera encontra-se na Região Holártica Mediterrânica. Ao nível europeu, segundo o Mapa Biogeográfico da Europa de Rivas-Martinez et al. (2004) e a zonagem biogeográfica determinada pela União Europeia, no âmbito da implementação da Rede Natura 2000, a mesma situa-se na também designada Região Mediterrânica (Figura 3). Figura 3 Mapa das Regiões Biogeográficas na Europa. (Fonte: Página 30

34 Considerando as zonagens biogeográficas a nível nacional, destaca-se a considerada na Carta Biogeográfica de Portugal de Costa et al. (1998). Neste contexto, a ora área candidata a reserva insere-se hierarquicamente nas seguintes tipologias biogeográficas (Figura 4): Região MEDITERRÂNICA Sub-região MEDITERRÂNICA OCIDENTAL Super-província MEDITERRÂNICA IBERO-ATLÂNTICA Província LUSO-EXTREMADURENSE Sector MARIÂNICO-MONCHIQUENSE RESERVA DA BIOSFERA De CASTRO VERDE Figura 4 Mapa representativo da forma hierárquica das Regiões, Sub-regiões, Províncias e Sectores, da Carta Biogeográfica de Portugal continental (Costa et al. 1998). (Fonte: Em suma, o enquadramento biogeográfico do território de Castro Verde (tanto a nível mundial como europeu, da Península Ibérica e do país) traduz-se na existência de um conjunto de caraterísticas edafoclimáticas típicas de uma área mediterrânica continental, nomeadamente sob o ponto de vista do clima, tipo de solos e comunidades vegetais existentes. Página 31

35 Localizado no interior Sul alentejano, nomeadamente no Subsetor Baixo-Alentejo Monchiquense do Superdistrito do Baixo Alentejo, a área candidata a Reserva da Biosfera apresenta um território maioritariamente plano de ombroclima sub-húmido a seco, situando-se maioritariamente no andar termomediterrânico podendo atingir em alguns locais o andar mesomediterrânico. Aqui as chuvas escasseiam no verão e as plantas estão sujeitas a pelo menos dois meses secos (com grande insolação e temperaturas muito elevadas). Esta condição associada à pobreza dos solos, determina a existência de várias espécies de flora mediterrânicas típicas, de características xerófilas11 e esclerofilas12. Do elenco florístico fazem parte árvores e arbustos de folhas planas, pequenas, coriáceas e persistentes, como a Azinheira e o Sobreiro (que se encontram reduzidos a áreas de montados esparsos, em especial de azinho), o Loendro (presente sobretudo junto aos poucos vales encaixados onde a humidade se mantém), cistos vários (onde os matos de Esteva sobressaem) e plantas aromáticas como a Alfazema, o Tomilho e o Rosmaninho (associadas a manchas de mato e matagal nas zonas mais declivosas e/ou com afloramentos rochosos). Nos estratos herbáceos destas formações, é ainda possível observar espécies herbáceas e gramíneas, anuais e perenes, destacando-se plantas como o Trevosubterrâneo e o Braquipódio-de-duas-espigas, uma espécie restrita à região Mediterrânica, Este da Europa, e Oeste da Ásia e Macaronésia (exceto em Cabo Verde). Outra característica da qual a futura Reserva da Biosfera de Castro Verde é um exemplo perfeito da região biogeográfica Mediterrânica é a sua longa ligação com o Homem. Como resultado direto de uma atividade milenar antrópica, esta área apresenta uma omnipresente mata mediterrânica que se funde com um mosaico agrícola de searas e campos de consistência herbácea (pastagens e pousios). Esta matriz de usos do solo cria uma das mais impressionantes paisagens de Portugal. A estepe cerealífera é sem dúvida um dos elementos mais distintivos da paisagem de Castro Verde, que lhe confere uma forte identidade cultural. É de realçar a grande diferença que aqueles campos apresentam entre a primavera (verdes e com uma enorme profusão de cores em que predomina o branco, o amarelo, o vermelho e o roxo que lhes são emprestadas pelas florações) e o fim do verão com os campos amarelo-palha que transmitem uma sensação de enorme aridez. Esta dinâmica, espacial e temporal, proporciona uma grande diversidade de habitats que albergam uma excecional vida selvagem, onde se incluem espécies únicas, em especial plantas endémicas, com elevado valor conservacionista e científico, bem como muitas espécies de aves raras e ameaçadas de extinção a nível europeu e até mundial, como são as aves estepárias. A nível global, ao se localizar em plena Bacia do Mediterrâneo13, a área proposta a Reserva da Biosfera é em si uma referência mundial como Hotspot de biodiversidade de um dos ecossistemas terrestres mais ameaçados a nível europeu e mundial: a estepe cerealífera mediterrânica. 11 Plantas adaptadas a clima árido, com folhas rígidas e uma grossa cutícula, que lhes permite controlar a transpiração e diminuir a perda de água. Algumas espécies são espinhosas e resinosas e por algumas vezes chegam a ser tóxicas. 12 Plantas adaptadas a condições de secura, com folhas duras coriáceas (consistência semelhante ao couro) e um brilho acentuado. Essas são adaptações para evitar, por exemplo, a perda de água. 13 A Bacia do Mediterrâneo é uma das cinco regiões mediterrânicas do mundo e é considerada pela organização Conservation International como um dos 34 Hotspots de Biodiversidade do planeta. Página 32

36 9. USO DOS SOLOS LAND USE 9.1. Elemento histórico Historical Elements (If known, give a brief summary of past/historical land use(s), resource uses and landscape dynamics of each zone of the proposed biosphere reserve). A paisagem da área proposta tem vindo a sofrer alterações desde há milénios. Moldada ao longo do tempo, ora lentamente ora rapidamente e em espaços de tempo curtos, a atual paisagem resulta de uma marcada intervenção humana cujas primeiras evidências remontam à Pré-história14 recente. Outrora, este território seria dominado por uma vasta charneca ocupada por florestas, mais ou menos densas, de quercíneas (como a Azinheira e o Sobreiro) e matos. Progressivamente, o arroteamento das terras (muitas vezes por intermédio do fogo) para a prática agrícola e a pastorícia levaram à degradação do coberto vegetal nativo dando lugar a extensas áreas abertas quase desarborizadas. Testemunho desta intervenção são as raras manchas de montado, sobretudo de azinho, que ainda hoje observamos e que são o que resta da desflorestação e corte do coberto vegetal original, desde há milhares de anos. Para a fixação e o florescimento destas primeiras civilizações terão contribuído fatores como a relativa amenidade climática, o posicionamento geográfico do território (propicio à mobilidade) e a ocorrência de afloramentos de minério de fácil exploração (associadas à presença da Faixa Piritosa Ibérica). A ocupação humana na região terá ocorrido no período de transição do Neolítico e o Calcolítico, em especial em torno do III milénio a.c. com o aparecimento dos primeiros povoados e com eles uma atividade agrícola e pastoril de subsistência. Este momento marca o início da ação modificadora do Homem na paisagem natural, com a desbrava de matos dos azinhais e sobreirais, das terras mais férteis junto aos pequenos aglomerados humanos. O fogo posto era também muitas vezes usado para a obtenção de pastagens comunitárias. A esta atividade agropastoril já estaria associada alguma extração mineira, sobretudo de formações minerais superficiais de fácil exploração como os chapéus-de-ferro 15. Entre a Idade do Bronze e a Idade do Ferro (II e início do I milénio a.c.), a par do aumento e fortificação dos povoados (de que é exemplo o Castelo de Montel, junto ao limite da reserva a NNE), dá-se início à metalurgia associada ao cobre, ouro e bronze. A fabricação de ferramentas, como o arado ou machado de ferro, permitem a conquista de mais terra arável (pelo arroteamento de mais áreas) e um desenvolvimento agrícola, que mais tarde leva à existência de excedentes agrícolas. Com a 1ª Idade do Ferro (a partir do séc. X a.c.) os povos aqui erradicados assistem a um período de contatos e trocas comerciais com o mundo mediterrâneo. A presença na região de fenícios, gregos e cartagineses, trouxe novas técnicas de extração do minério, práticas de fundição de metais e práticas agrícolas, que permitiram ampliar o cultivo dos cereais e aumentar a produção do vinho e azeite16. Na 2ª Idade do Ferro (séc. V-VI a.c.) o território já verificava uma forte ocupação antrópica, que se dividia por alguns núcleos populacionais mais concentrados e pequenos povoamentos rurais dispersos. À semelhança do Sudoeste da Península Ibérica, a grande caraterística destes povos seria a detenção de rotas comerciais com todo o mediterrâneo e o uso de uma escrita aparentada ao alfabeto fenício, chamada "escrita do Sudoeste"17 ou escrita ibérica. Os primeiros vestígios de assentamentos humanos em Castro Verde situam-se entre o III e início do I milénio a.c. e correspondem a sepulturas do tipo circular e fundos de cabanas (i.e. estruturas habitacionais neolíticas formadas por uma depressão escavada no solo, pouco profunda, que seriam cobertas por materiais perecíveis como ramagens, peles, terra, etc.). 15 Um chapéu de ferro consiste numa rocha intensamente oxidada, erodida ou decomposta, que normalmente corresponde à parte superior e exposta de um jazigo ou veio mineral, rico em cobre, ouro e prata. 16 Nesta altura a vinha existiria em estado selvagem, sendo cultivada só a partir do século XVII d.c.. Quanto ao azeite é possível que a sua exploração fosse já anterior aos fenícios, dada a sua importância como combustível para a iluminação e na alimentação. 17 Datável da 1ª Idade do Ferro, a "escrita do Sudoeste" seria uma forma de comunicar entre os povos do Sudoeste Peninsular e mais tarde com os novos povos, que aqui vinham fazer os seus negócios. Em 1979, foi descoberto perto de Casével a estela de Espanca, um dos 14 Página 33

37 Na Pré-história e na Antiguidade a área da reserva ficou assim marcada por um grande desenvolvimento sócio-económico, tendo-se assistido à formação de núcleos populacionais (como os castellae, a partir da Idade do Bronze), a uma grande atividade mineira de superfície e à expansão da agricultura e pecuária, pelo desmatamento das terras mais férteis. Contudo, a paisagem ainda apresentava um pequeno grau de humanização, por oposição das terras habitadas e usufruídas pelo Homem às terras virgens da floresta climácica. Com a chegada dos romanos, a partir do séc. III d.c., a par da atividade mineira, a agricultura adquire um elevado peso económico, assistindo-se à extensificação do cultivo de cereais (por arroteia generalizada de áreas de charneca) e intensificação da cultura da vinha e olival. Parte da população autóctone abandona os povoados comunitários para adotar um regime de ocupação individualista e de carácter fundiário da terra. Nas imediações dos castellae surgem assim as villae rústicas18, estruturas agrárias que se podem comparar em termos de funcionalidade aos montes alentejanos da primeira metade do séc. XX. Esta ocupação territorial marca a passagem para uma economia com uma forte componente agrícola, a qual se estende até à chegada do povo árabe, no séc. VIII d.c. Embora a base económica dos árabes fosse o comércio e a agricultura (com grande produção de cereais, azeite, vegetais e fruta - dos pomares e hortas em redor das povoações), a pecuária adquiriu neste período um grande peso, tendo-se assistido a um aumento da área ocupada por pastagens naturais. Algumas das antigas villae rústicas dão lugar a pequenas povoações rurais que passam a ser denominadas por alcarias e que hoje correspondem à atual imagem da aldeia. A Alcaria dos Touris e Ado-Corvo são dois exemplos de povoados de época islâmica, cujos vestígios foram encontrados a SEE da área da reserva (junto a Santa Bárbara de Padrões). À reconquista cristã, no séc. XIII, seguiu-se a distribuição de terras como forma de retribuição do auxílio militar prestado (na luta contra os árabes), fixar trabalhadores rurais e necessidade de afirmação e efetivação da posse de terra. Começam a surgir propriedades rurais, de maior ou menor dimensão, com um casario central, onde vivia o proprietário e a sua família ou os seus assalariados. No centro da propriedade a presença de armazéns, pombais, estábulos e cercas (com hortas e pomares) era uma norma. Esta estrutura fundiária terá marcado a evolução da ocupação rural do território e o aparecimento do monte alentejano tal como o conhecemos hoje. Com a Lei das Sesmarias de 1375 e a presença da Ordem Militar de Santiago, até finais do séc. XVI, deu-se a consolidação da estrutura latifundiária e a afirmação das culturas arvenses de sequeiro, com relevo para a cultura trigueira, e da pastorícia que volta a assumir uma importante escala, tonando-se esta região na mais importante pastagem do país e destino de eleição da transumância pastorícia19. Em suma, desde o domínio romano e árabe até à formação de Portugal, a extensificação do cultivo de cereais, associado à estrutura fundiária, e a pastorícia, associada ao fenómeno da transumância, foram os fatores responsáveis pelo início da primeira grande transformação do coberto vegetal e do uso do solo. Por esta altura já eram notórias grandes áreas abertas de pastagens e zonas votadas ao cultivo de cereais na área candidata a reserva, estando o restante território ainda densamente arborizado. Posteriormente a desbrava incansável dos matos e a desflorestação excessiva até ao período histórico do Antigo Regime (fim do séc. XVIII) foram fatores decisivos para o aparecimento de uma paisagem mais aberta composta por campos de cereais ao lado de azinhais e sobreirais, esparsos e onde primava a presença de gado. Este uso agro-silvo-pastoril extensivo, associado a grande exploração fundiária, viria a consolidar o caminho que marcaria para sempre a paisagem local. vestígios mais importantes desta escrita. Com cerca de 40 cm de comprimento, esta é uma lousa escolar pois conserva a gravação de um silabário em que o mestre desenhou numa linha todos os signos que faziam parte do sistema de escrita e um aluno, por baixo, foi copiando. 18 A villa rústica é uma estrutura agrária (grande propriedade) com extensões de terrenos de boa capacidade agrícola, em que o proprietário procura que seja autossuficiente e, ao mesmo tempo, crie excedentes para venda ou troca. A villa é habitada pelo proprietário e sua família e por um grande número de dependentes, que asseguram os trabalhos domésticos e agrícolas. 19 A ancestral vocação pastoril é sobretudo notória no séc. XV, XVI e XVII, sendo a região ora candidata a Reserva da Biosfera uma porta para os famosos Campos de Ourique (i.e. região do Campo Branco), destino de eleição da transumância pastorícia. Vindos da Serra da Estrela, de Espanha e do Algarve, aqui chegavam milhares de cabeças de gado para fruir de pastagens mais ricas e fugir ao inverno mais rigoroso das suas terras de origem. Página 34

38 A existência de extensões ainda consideráveis de charneca mais preservadas criava naquela altura condições ecológicas muito distintas das atuais permitindo a presença de algumas espécies faunísticas hoje extintas na região como o Lobo-ibérico (Canis lupus signatus). A grande disponibilidade de abrigos e alimentos (entre os quais estariam algumas cabeças de gado dos enormes rebanhos que aqui se reuniam) permitiam a ocorrência deste grande predador que motivou batidas organizadas até um passado recente, crendo-se que o último exemplar tenha sido abatido em Na transição do seculo XIX e XX, a par da retoma da atividade mineira, séculos depois da mineração romana, a paisagem terá acentuado radicalmente o seu carater aberto. Quando a cortiça não tinha qualquer importância económica, o sobreiro, juntamente com o azinho, sofreu grandes devastações para alimentar as primeiras máquinas a vapor. Mais tarde, o incentivo ao cultivo de cereal, com a Lei dos Cereais de Elvino de Brito em 1899, e a mecanização agrícola, levaram a uma crescente limpeza de áreas e abate de mais árvores, pois eram obstáculos ao progresso das máquinas no terreno. Com a campanha do trigo de 1929, em que se pretendia que o Alentejo fosse o celeiro de Portugal e que perdurou até ao início da década de sessenta do séc. XX, e mais tarde com a Reforma Agrária (de ), a persistência na lavoura seareira terá contribuído para uma vasta devastação de baldios e terras (de má qualidade) e abate indiscriminado de azinheiras e sobreiros. Estes dois séculos marcaram assim uma mudança radical na paisagem. Esta passa a ser dominada por extensas áreas abertas, semeadas com cereal, e algumas manchas de azinheiras e sobreiros esparsos, nos quais se podem associar outras culturas e produções pecuárias, tornando a paisagem da altura semelhante ao que se observa atualmente em Castro Verde. Hoje, embora a paisagem de Castro Verde esteja associada a práticas agrícolas tradicionais economicamente pouco rentáveis, tem sido efetuado um esforço de preservação da estepe cerealífera para conservar a diversidade avifaunística singular a ela associada. Neste sentido, foi criada em 1995 uma Medida Agroambiental, no âmbito da Política Agrícola Comum da União Europeia, que tem como princípio primordial compensar os agricultores das perdas de rendimento decorrentes da aplicação de medidas de conservação dirigidas aos habitats e avifauna estepária. Atualmente designada Apoio Zonal, esta medida tem tido uma adesão significativa dos agricultores locais, sendo um dos principais fatores que têm contribuído para a manutenção do ecossistema estepário, e consecutivamente da matriz paisagística de Castro Verde. O PDM de Castro Verde têm também salvaguardado da florestação uma parte importante das áreas agrícolas abertas, florestação esta que resultaria numa perda da diversidade e riqueza dos valores naturais que caraterizam a unicidade e atual território de Castro Verde. Com uma agricultura cerealífera de cariz tradicional de sequeiro, associada à pastorícia extensiva, a área candidata a Reserva da Biosfera tem um carácter vivamente rural, que resulta da intervenção humana direta ao longo do tempo, gerador de um património natural e cultural incomparável, e que assim entra no século XXI. Página 35

39 9.2. Principais utilizadores da Reserva da Biosfera Who are the main users of the biosphere reserve? (for each zone, and main resources used). If applicable, describe the level of involvement of indigenous people taking into account the United Nations Declaration on the Rights of Indigenous Peoples. ( A área dimensionada para a Reserva da Biosfera proposta corresponde a todo o concelho de Castro Verde, pelo que dela usufruirão a generalidade da população local e todos os que a visitem. Face à vocação e forte cariz rural de toda a área candidata, os agricultores são entre os habitantes da reserva os principais utilizadores de todo o território, pela prática do cultivo extensivo de cereais de sequeiro e criação de gado (ovino e bovino). Pela crescente importância económica da atividade cinegética, destacam-se ainda os caçadores. A quase totalidade da Reserva da Biosfera está cinegeticamente ordenada estando vocacionada para a caça menor. Sejam Zonas de Caça Associativa (ZCA) sejam Zonas de Caça Turísticas (ZCT), a caça é essencialmente uma atividade de lazer que permite reunir amigos e companheiros num ambiente alegre, descontraído e festivo. Por sua vez, ao contribuírem para gestão e a preservação dos valores naturais associados ao ecossistema estepário, estas atividades possibilitam o usufruto público de uma paisagem única que encerra um património natural excecional, sobretudo de aves, quer por residentes quer por visitantes (destacando-se os observadores de aves). Numa lógica de utilização da Reserva da Biosfera como laboratório para a realização de estudos, nas diferentes especialidades, e implementação de modelos de gestão dos recursos naturais orientados na perspetiva do desenvolvimento sustentável, a comunidade científica será também um utilizador frequente de todo o território. Página 36

40 9.3. Regra de uso da terra e de acesso a cada zona da Reserva da Biosfera What are the rules (including customary or traditional) of land use in and access to each zone of the biosphere reserve? O uso e ocupação do solo em toda a área candidata a Reserva da Biosfera estão condicionados por servidões administrativas e restrições de utilidade pública, tal como se encontram representadas nas cartas de condicionantes do PDM de Castro Verde e para as quais vigora o estipulado na lei. Pela sua importância destacam-se as figuras da Reserva Agrícola Nacional (RAN), Reserva Ecológica Nacional (REN) e Domínio Público Hídrico (DPH). Como instrumentos complementares, definidores do regime de uso do solo e gestão territorial, há ainda a salientar o regime jurídico da Rede Natura 2000 (ZPE de Castro Verde PTZPE046 e ZPE de Piçarras - PTZPE0058), a Proteção aos sobreiros e azinheira (Decreto-Lei n.º 169/2001, de 23 de outubro, na redação dada pelo Decreto-Lei n.º 155/2004, de 30 de junho) e o enquadramento legal das medidas agroambientais (para os agricultores envolvidos). Neste quadro, as orientações centram-se na necessidade de preservação dos sistemas agrícolas extensivos, o que é traduzido em recomendações e/ou obrigações quanto aos usos nas atividades agrícolas e no âmbito da silvicultura, bem como, quanto a construções e obras de infraestruturas. Quanto à posse, toda a propriedade rústica da área proposta a Reserva da Biosfera é privada pertencendo a pessoas singulares ou coletivas, maioritariamente com morada ou estabelecimento estável no território. Como titulares estes têm o direito de adquirir bens; o direito de usar e fruir dos bens de que se é proprietário; o direito de os transmitir; o direito de não ser privado deles (art. 62º, n.º 1 da Constituição da República Portuguesa Anotada). Regra geral, a aquisição destas terras advém por herança ou compra, sendo estas usadas pelo próprio proprietário ou usufruídas por arrendatários ou outros agricultores titulares de direitos transferidos sobre as explorações agrícolas. Na Zona Nuclear destacam-se as herdades pertencentes à LPN (Herdade do Paraíso, Herdade das Figueiras, Herdade de Vale Gonçalinho, Herdade de São Marcos, Herdade da Chada e Herdade de Belver) cuja aquisição foi possível através do Programa LIFE da Comissão Europeia20, na componente Natureza e Biodiversidade. Estritamente vocacionadas para a conservação, a gestão agrícola destas áreas tem sido feita através de acordos anuais com agricultores da região comprometendo-se estes a seguir um plano de gestão que considera diversos tipos de ações (a nível agrícola, cinegético, ambiental e patrimonial) com o objetivo de criar melhores condições para a avifauna estepária e proteger o seu habitat. Localizada na Zona de Transição destaca-se a Herdade do Monte dos Aivados onde os 407ha são de posse e usufruto de todos os moradores da aldeia existente dentro dos seus limites 21. Com quase quatro séculos de história, Aivados é uma das poucas aldeias comunitárias de Portugal. Contudo, a organização deste comunitarismo agropastoril não é, nem nunca foi, um sistema social vulgar na região e em todo o Alentejo. Nesta aldeia vive-se de acordo com uma organização social baseada na propriedade coletiva da herdade, que afirma o princípio de igualdade entre todos os moradores a terra é de todos e não é de ninguém. Subjacente a esta ideologia, a Associação do Povo de Aivados, com estatutos e uma direção, é quem gere o património da comunidade e representa os seus habitantes. Esta história única no país é contada num espaço museológico próprio, o Núcleo Museológico dos Aivados Aldeia Comunitária, que muito orgulha a comunidade aivadense. O LIFE Natureza é um instrumento financeiro da Comunidade Europeia que visa apoiar Projetos de demonstração de Boas Práticas, para implementação dos objetivos da Diretiva Aves 2009/147/EC e da Diretiva Habitats 92/43/CEE Versão Consolidada de 2007, incluindo sítios da Rede Natura Não existem certezas quanto à origem exata desta propriedade comunal. Alguns autores defendem a tese de que estes terrenos (com o estatuto de rossio) teriam sido atribuídos ao povo de Aivados em 1655 por Sentença Régia. Mas a tradição oral afirma que os mesmos foram doados pela benemérita dona Maria de Lemos (senhora aristocrática provavelmente sem herdeiros). 20 Página 37

41 9.4. Descrição das diferenças entre homens e mulheres no acesso e controle dos recursos Describe women s and men s different levels of access to and control over resources. Do men and women use the same resources differently (e.g., for subsistence, market, religious/ritual purposes), or use different resources? A nível social, na perspetiva da igualdade de género, as mulheres assumem nesta região uma maior preponderância e envolvimento: (1) na esfera familiar, sendo muito relevante o seu papel enquanto cuidadora familiar e como elemento aglutinador, para fixação das famílias, em especial, nas localidades rurais; (2) a nível comunitário, nomeadamente no acompanhamento da vida escolar dos jovens, cuidados com idosos e participação em organizações informais da sociedade, como ações de voluntariado e de entreajuda; (3) na identidade cultural local, pela marcada presença em manifestações culturais diversas, como o Cante Alentejano, as festas religiosas e populares, o artesanato e a gastronomia; (4) na adoção de medidas inovadoras, fator relevante na gestão de períodos críticos, como é frequente, por exemplo no sector agrícola. Relativamente à empregabilidade, o envolvimento empresarial em meio rural é apontado como o contexto onde as mulheres ainda têm que vencer muitos preconceitos e estereótipos, sendo necessário promover mais a sua visibilidade e desfrutar melhor dos seus direitos. Quanto ao acesso à formação e educação, assim como participação nas atividades e nas políticas da comunidade local, podemos considerar uma equidade entre os géneros. Tal será fruto do investimento feito nas últimas décadas na formação e consciencialização da população, em todo o país, sobre a importância da mobilização e plena participação de todos e de todas na sociedade. Neste domínio, destaca-se ainda a Rede Social do de Castro Verde a qual assenta num trabalho de parceria alargada e dinâmica, de diferentes parceiros públicos e privados. Ativa desde 2002, esta plataforma pretende promover a prevenção e solução de problemas sociais locais, que reforcem a igualdade de género e a qualidade de vida de todos, bem como a inclusão de grupos sociais específicos (população económica e socialmente desfavorecida, população idosa, população com deficiência, jovens desempregados, crianças e jovens em risco). Página 38

42 10. POPULAÇÃO DA RESERVA DA BIOSFERA HUMAN POPULATION OF PROPOSED BIOSPHERE RESERVE [Approximate number of people living within the proposed biosphere reserve] Permanente Zonas Núcleo Permanently Percentagem % 3 0, , Zona de Transição ,16 Total: ,00 Core Area(s) Zonas Tampão Buffer Zone(s) Transition Area(s) Sazonal Seasonally Zonas Núcleo Core Area(s) A população nas diferentes Zonas Núcleo é maioritariamente não residente e usa esporadicamente os poucos e dispersos prédios rústicos, como unidades de apoios aos trabalhos agrícolas e arrecadação de produtos e alfaias agrícolas. Apenas a Herdade de Achada na ZN IV é habitada por 1 núcleo familiar de 3 pessoas, correspondendo a aproximadamente 0,04% da população da área candidata a Reserva da Biosfera. Zonas Tampão Buffer Zone(s) A Zona Tampão inclui os seguintes lugares: Casével, Geraldos, Galeguinha, São Marcos da Ataboeira, Rolão, Viseus, Monte das Sorraias, Alcarias e Guerreiro. Com uma população estimada em 786 habitantes, esta zona compreende cerca de 10,80% do total da população da área candidata a Reserva da Biosfera. Destes cerca de 171 vivem em lugares isolados, nomeadamente em montes alentejanos, alguns formados por mais do que uma habitação (de que é exemplo o lugar de Montinhos, a SEE da área da reserva). Zona de Transição Transition Area(s) Pala além do principal núcleo populacional da área da reserva, ou seja a vila de Castro Verde, a Zona de Transição inclui os seguintes lugares: Estação de Ourique, Aivados, Almeirim, Piçarras, Entradas, Monte do Cerro, Namorados, Santa Bárbara dos Padrões, Beringelinho, Lombador, A-do-Corvo, A-dasNeves, Salto, Sete e Figueirinha. Com uma população estimada em habitantes, esta zona compreende cerca de 89,16% do total da população da área candidata a Reserva da Biosfera. Destes habitantes encontram-se na vila de Castro Verde e cerca de 140 em montes alentejanos ou lugares isolados. Pelo papel de grande empregador, destaca-se nesta zona a comunidade trabalhadora no complexo mineiro de Neves-Corvo (a maior mina de cobre e zinco da Europa a operar desde 1988) que com cerca de trabalhadores que se distribuem entre a superfície e os poços de extração, sendo 90% oriundos do território de Castro Verde, assim como Almodôvar, Aljustrel, Ourique e Mértola. Em toda a área da reserva existe algum grau de sazonalidade que se prende com os trabalhadores rurais, que de acordo com a época do ano agrícola deslocam-se, em maior ou menor número, às várias explorações agrícolas em toda a área da reserva. Acrescem os turistas, que têm vindo a ganhar cada vez mais expressão tendo-se registado a presença de em 2015 (segundo dados do Página 39

43 Centro de Promoção do Património e do Turismo - Posto de Turismo e do Centro de Educação Ambiental do Vale Gonçalinho). Oriundos de vários países da Europa e até do Canadá e Austrália, estes são na sua maioria observadores de aves, sendo frequente observá-los um pouco por toda a reserva com o seu equipamento praticando birdwatching Breve descrição das comunidades locais que vivem na Reserva da Biosfera ou próxima desta Brief description of local communities living within or near the proposed biosphere reserve. (Indicate ethnic origin and composition, minorities etc., main economic activities (e.g. pastoralism, tourism) and the location of their main areas of concentration, with reference to the map (section 6.2)). Objeto de uma profunda humanização milenar, a presença humana na área candidata a Reserva da Biosfera foi desde cedo impulsionada pelo clima e riqueza do subsolo. Em algumas épocas, fatores como a pastorícia, a exploração do montado e a cerealicultura, foram igualmente determinantes para o crescimento e a consolidação de comunidades humanas. Num passado recente, esta região sofreu variações demográficas significativas ligadas, por exemplo, ao protecionismo que a produção de cereais teve desde 1899 e que terá contribuído para um crescimento populacional até início do séc. XX. Neste período, o trabalho permanente nos campos proporcionou a chegada de mão-de-obra agrícola, de várias partes do país, muita da qual acabou por se fixar em aldeias ou montes alentejanos, existentes na região. Mais tarde, em especial nos anos 60, verificou-se um movimento inverso, com a saída de população para capitais de distritos próximos (como Beja), a região de Lisboa (nomeadamente para a margem Sul do Rio Tejo) e até para fora de Portugal (para países como França). Este êxodo rural foi acompanhado pelo abandono de muitos montes alentejanos, cujas ruínas são ainda hoje evidentes nos campos. Maioritariamente campesina, a esparsa comunidade então presente na região só terá tido um novo crescimento na década de 80 graças, em boa parte, à abertura da Mina de Neves-Corvo e ao papel empregador assumido, após a Revolução do 25 de Abril de 1974, pela Câmara Municipal de Castro Verde. Estas alterações do tecido económico proporcionaram uma regeneração da vila de Castro Verde, onde começa a surgir uma comunidade mais urbana, por oposição à comunidade rural. Com uma densidade populacional em 2001 de 13,4hab/km2 e em 2012 de 12,8hab/km2, a área proposta a Reserva da Biosfera demonstra uma certa capacidade de retenção da população a que o desenvolvimento do tecido económico na região não será alheio. A relativa estabilidade do efetivo demográfico residente corresponde a um especto claramente positivo e distintivo desta área em relação à generalidade do território regional, onde se insere. Hoje, o panorama de distribuição de habitantes pela região proposta a Reserva da Biosfera assenta numa matriz formada por aglomerados populacionais, de pequena e média dimensão, de baixa densidade e algum casario disperso, a que se soma uma rede viária pouco densa. De acordo com o último Censo Nacional (em 2011), a população residente na área proposta a reserva é de habitantes. Destes cerca de encontram-se na vila de Castro Verde, 332 vivem isoladamente (nos ditos montes alentejanos ), estando os restantes habitantes distribuídos por cerca de uma vintena de pequenos povoamentos rurais, mais ou menos dispersos pelo território. Tendo mais de metade da população da reserva a vila de Castro Verde é a localidade de maior dimensão e a mais central, apresentando uma "comunidade urbana com uma limitada dependência da agricultura e uma base económica mais diversificada. Os que habitam lugares de casas baixas, caiadas e com barras que variam entre o azul e o amarelo, representam uma comunidade rural que se encontra bastante dependente da agricultura, quer no que se refere ao emprego quer como fonte de identidade e de estilo de vida. Ao nível da estrutura da população, a distribuição por sexo é relativamente equilibrada verificandose um predomínio pouco expressivo de mulheres (3.709) relativamente aos homens (3.567). A maior Página 40

44 diferença ocorre na faixa etária de 75 e mais anos, onde as mulheres superam em 20% a população de homens. Este envelhecimento da população é particularmente notório na comunidade rural presente na reserva. No que respeita à empregabilidade, cerca de 63,2% da população empregada encontra-se no sector terciário, em atividades ligadas ao comércio e serviços. Segue-se o sector secundário com uma taxa de 29,5%, a qual é maioritariamente justificada pela presença do Complexo Mineiro de Neves-Corvo (a maior mina de cobre e zinco da comunidade europeia) e que em 2014 empregava cerca de trabalhadores. Apesar da sua representatividade ao nível da paisagem da reserva, a agricultura praticada (maioritariamente baseada na criação de gado e cultura cerealífera) apenas ocupa 7,4% da população ativa. Contudo esta é, muitas vezes, a principal fonte de rendimentos de grande parte dos que residem nos vários aglomerados rurais, que o tempo teceu e os homens afeiçoaram. Quanto ao contingente populacional de origem externa, segundo o Anuário Estatístico da Região Alentejo de 2012, residem na área proposta a reserva 160 cidadãos estrangeiros. As nacionalidades mais significativas são a Ucraniana e a Brasileira. Estes imigrantes estão maioritariamente associados a trabalhos sazonais, na agricultura e construção civil, acompanhando a tendência verificada nos últimos anos no Alentejo. Apesar do seu carater nómada, existem 15 famílias de etnia cigana a residir na área da reserva (12 na vila de Castro Verde, 2 na localidade de Entradas e 1 em São Marcos de Atabueira) e que têm os seus filhos na escola (nomeadamente 22 crianças em idade escolar). Formada por 52 elementos, aquando a Feira de Castro esta comunidade vê-se alargada com a chegada de feirantes ciganos, vindos dos quatro cantos do Alentejo (e Algarve), para esta grande feira do Sul de Portugal, fazendo-se ouvir pelos seus pregões que ecoam pelas ruas das bancas de feira. A FEIRA DE CASTRO Instituída por Filipe II, em 1620, em resposta a uma solicitação feita pelos moradores do concelho que pretendiam obter com o rendimento dos terrádegos (imposto sobre o terreno ocupado pelas barracas e tendas dos feirantes), os fundos necessários à reconstrução da Igreja das Chagas do Salvador (ou Igreja de Nossa Senhora dos Remédios), a Feira de Castro depressa se tornou um dos mais importantes acontecimentos da vida social, económica e cultural do concelho de Castro Verde. Durante quatro dias e encerrando, invariavelmente, numa tradição que se perpetua, no terceiro domingo de Outubro, e que originou o dito popular de «tão certo como a Feira de Castro», a feira mantém vivos alguns elos com o passado, desde a tradicional venda dos produtos do pequeno comércio e da indústria familiar, das mantas de lã aos queijos, dos frutos secos aos artefactos da latoaria, das quinquilharias às loiças de barro, das alfaias agrícolas ao mobiliário rústico. Com o passar dos tempos, a feira acabou por se moldar às exigências do presente e aos ditames da modernidade, tanto no comércio como na indústria do lazer e do divertimento. Porém, continua a mesma no apelo que faz ao convívio, atraindo a Castro Verde muitos milhares de pessoas, que vêm para vender e para comprar, mas que vêm também à procura das manifestações culturais que lhe estão associadas, como o cante alentejano ou a viola campaniça, uma vez que continua a ser ponto de encontro destas culturas musicais e uma das últimas grandes feiras do sul. Página 41

45 10.5. Principais núcleos urbanos existentes na Reserva da Biosfera ou próximo desta Name(s) of the major settlement(s) within and near the proposed biosphere reserve with reference to the map (section 6.2). A área candidata a Reserva da Biosfera tem a localidade de Castro Verde, uma lindíssima e histórica vila Alentejana, como maior núcleo populacional. Beja é a cidade mais próxima estando a cerca de 45km a Norte da vila de Castro Verde e fora dos limites da reserva. Sendo sede de concelho (de Castro Verde) é nesta vila que os habitantes da região tratam de assuntos de saúde (existe um Centro de Saúde), de assuntos administrativos (entre serviços municipais e públicos como os correios, instituições bancárias, entre outros), das compras para o dia-a-dia (comida, vestuário, entre outros). Nas últimas décadas esta vila registou um crescimento populacional, a que a taxa de empregabilidade no setor terciário (na área dos serviços, comércio, construção civil e obras públicas) e secundário (na atividade mineira da Mina de Neves-Corvo) não será alheia. Com novos bairros, onde se respeita o urbanismo do Sul, novos espaços de cultura e lazer, que refletem a preocupação da valorização ambiental urbana e onde a arte pública tem um papel de destaque, hoje a vila de Castro Verde concentra 58% da população residente na área da reserva (ou seja, habitantes). Em outubro a população da vila aumenta pela chegada de filhos da terra, que outrora saíram em busca de melhores condições de vida, para quatro dias de convívio e encontros na feira das feiras da região alentejana e algarvia: a secular Feira de Castro. Como espaço de reencontro, entre a tradição e a modernidade, o ontem e o hoje, esta última grande feira do Sul recebe anualmente milhares de visitantes, que em romaria festiva mantêm vivos alguns elos com o passado. Numa prestativa urbana e arquitetónica, embora pouco numerosos, os edifícios religiosos constituem o conjunto patrimonial mais representativo da vila, a que se juntam edifícios de traça tradicional e moderna, alguns apontamentos de construções solarengas e marcas contemporâneas, em peças de arte pública de escultores como o João Cutileiro, António Trindade e Domingos Tavares. TESOURO DA BASÍLICA REAL DE CASTRO VERDE A Basílica Real de Castro Verde é um templo imponente que marca de forma bem visível o núcleo urbano da vila. O seu altar mor é revestido a talha dourada e o interior coberto por riquíssimos painéis de azulejos do século XVIII que retratam a Batalha de Ourique, episódio lendário ligado à fundação da nacionalidade. O título de Basílica Real foi concedido por D. João V em homenagem à vitória do primeiro rei de Portugal D. Afonso Henriques sobre os cinco reis Mouros, ocorrida no dia 25 de Julho, dia de Santiago, corria o ano de Na Basílica Real de Castro Verde pode também visitar o Tesouro da Basílica, núcleo museológico de arte sacra, onde se pode apreciar alguns dos mais extraordinários objetos do património religioso do Alentejo, como a Custódia da própria Basílica e a Cabeça-Relicário de São Fabião, uma peça notável de características únicas na arte sacra medieval portuguesa. Este Tesouro está integrado na rede de núcleos de arte sacra do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja. Página 42

46 Encontrada em Casével, a Cabeça Relicário de São Fabião é uma obra-prima da ourivesaria românica peninsular (séc. XIII). Formada por elementos em prata e prata dourada, julga-se que fez parte dos bens e objetos de culto da princesa Vataça, neta de um imperador grego, que a terá trazido quando chegou à corte portuguesa em Comprovou-se que possui no interior um crânio humano que, segundo a tradição, pertenceria ao mártir São Fabião e teria poderes para curar as doenças do gado. Por este motivo até ao séc. XVII, esta cabeça relicário era levada aos pastos para benzer o gado. Perto da Igreja Matriz, encontra-se um outro espaço religioso dedicado a Nossa Senhora dos Remédios (por alusão à fama de milagreira que alcançou uma imagem da Virgem, de roca, oferecida por um devoto, em 1630), a Igreja das Chagas do Salvador, onde é possível visitar algumas telas setecentistas. De origem medieval a sua história cruza-se com o imaginário criado em torno da Batalha de Ourique. Segundo a lenda, esta igreja terá sido construída por voto de D. Afonso Henriques após a vitória sobre os cinco reis mouros. É na zona histórica da vila que se encontram os monumentos mais relevantes, como a Igreja Matriz, conhecida por Basílica Real, a Igreja das Chagas do Salvador, em devoção à Nossa Senhora dos Remédio, os Paços do Concelho (edifício de 1980 que terá sido utilizado como cadeia até à década de cinquenta do século XX) e o obelisco em memória do Milagre de Ourique (aparição de Cristo a D. Afonso Henriques22 na véspera da Batalha de Ourique). Ao ter uma posição central na área proposta a reserva e deter infraestruturas de acesso rodoviário de boa qualidade, a vila de Castro Verde combina a sua localização privilegiada no corredor de ligação do Norte ao Algarve com a facilidade de acessos a eixos de comunicação fundamentais, como o aeroporto de Faro a 100 Km, o aeroporto de Lisboa a 190 Km, o porto marítimo de Sines a 95 Km e à estação da Funcheira a 32 Km, uma interface ferroviária da Linha do Sul (que liga Lisboa ao Algarve). Também apelidado de "o Conquistador", "o Fundador" e "o Grande", Afonso Henriques e foi o primeiro Rei de Portugal de 1139 até sua morte (como Afonso I de Portugal). 22 Página 43

47 10.6. Relevância cultural Cultural significance: (Briefly describe the proposed biosphere reserve's importance in terms of past and current cultural values (religious, historical, political, social, ethnological) and others, if possible with distinction between material and intangible heritage (c.f. UNESCO Convention concerning the Protection of the World Cultural and Natural Heritage 1972 and UNESCO Convention for the Safeguard of the Intangible Cultural Heritage 2003 ( and Castro Verde é desde sempre um território de gentes que lançam a semente à terra do seu sustento, gentes que criam nos campos gado e mineiros que exploram as riquezas minerais do subsolo marcado pela agricultura e uma baixa densidade populacional. Esta realidade influenciou a cultura e o desenvolvimento de um povo que, ainda hoje, detêm um conjunto de manifestações que marcam uma relação muita estreita com a terra. Neste mosaico social e económico, Castro Verde construiu e constrói a sua cultura, os seus hábitos, as manifestações do seu património de raízes imemoriais. Expressões visíveis no seu artesanato, nas feiras, no saber estar destas gentes campaniças. PATRIMÓNIO IMATERIAL No colorido mosaico do cante alentejano, Castro Verde contribuiu para reavivar uma das tonalidades mais interessantes: o regresso das mulheres ao cante. O afastamento das mulheres das tarefas comunitárias do mundo agrícola, o aconchego do cante nas tabernas e a formatação dos grupos corais, abafou as vozes femininas. Após umas breves experiências de cante no feminino em Castro Verde, no início dos anos 70, a Cortiçol Cooperativa de Informação e Cultura de Castro Verde, em 1984, criou um dos primeiros grupos corais femininos do Alentejo: As Camponesas, um marco importante na história do nosso cante, que ainda hoje perdura. Em Castro Verde, o cante alentejano marca o quotidiano dos dias. Se outrora teve uma forte ligação ao trabalho, agora é uma catedral de convívio, de encontro, um espaço de afirmação cultural, de identidade e de salvaguarda da memória. Mas também é sinónimo de partilha e de disponibilidade criativa, uma manifestação cultural que foi inscrita em 2014 pela UNESCO na lista de bens imateriais da Humanidade. Esta relação pródiga com o cante está presente em várias recolhas musicais realizadas ao longo do tempo, por musicólogos como Michel Giacometti, entre outros. E as últimas décadas testemunham a importância que Castro Verde teve, e ainda tem, na dinâmica do cante alentejano, protagonizando alguns dos momentos fundamentais como o regresso das mulheres ao cante. Após breves experiências de cante no feminino no início dos anos 70, a Cortiçol Cooperativa de Informação e Cultura de Castro Verde, em 1984, criou um dos primeiros grupos corais femininos do Alentejo: As Camponesas, um marco importante na história do cante, que ainda hoje perdura, tal como Os Ganhões de Castro Verde, grupo com uma longa vivência de experiência e saberes e que se tornou uma referência no cante, com seis trabalhos discográficos editados, que permitiu caminhar para uma antologia que testemunha a importância do seu cantar. Muito importante foi também a criação do Grupo Coral Infantil Os Carapinhas, em 1987, com o objetivo de envolver os mais novos, incutindo-lhe o gosto e proporcionando-lhe a aprendizagem do cante, um trabalho que trouxe ganhos, que ainda hoje se mantém, e que foi reforçado pelo Projeto Cante Alentejano na Escola. Atualmente, existem no concelho de Castro Verde 10 Grupos Corais, sendo o cante alentejano motivo para que 651 pessoas se juntem todas as semanas. São homens e mulheres dos grupos corais, mas também crianças que na escola têm o cante como expressão musical, ou como simples atividade de animação que procura iniciar o caminho do sentido de pertença. Página 44

48 O cante encontrou na estrutura associativa a forma de organizar a sua atividade, juntando à sua dinâmica outras ações no campo da tradição, como a Viola Campaniça ou a recolha de materiais e documentos ligados à memória, de que são exemplo o trabalho desenvolvido pela Associação de Cante Os Cardadores e pela Associação de Cante Vozes das Terras Brancas. Não menos importante tem sido a criação de uma atitude onde o cante dialoga com outras expressões artísticas, bem patente na programação cultural de Castro Verde e nos projetos em que os grupos participam. O CANTE ALENTEJANO A classificação do Cante Alentejano como Património Cultural Imaterial da Humanidade, veio proporcionar sua valorização e incutir na comunidade a importância de assumir responsabilidades que tem para com o futuro deste traço cultural, e que hoje é visível na criação do Grupo de Trabalho do Cante Alentejano, na promoção do Projeto Cante Alentejano na Escola e de atividades planeadas com o objetivo da salvaguarda, afirmação e divulgação do cante alentejano. Atualmente são dez os grupos corais do concelho no ativo. Cantam com alma e com o claro objetivo de contribuir para a sua afirmação e salvaguarda enquanto traço maior da cultura alentejana. Fruto de um trabalho de várias décadas que tem envolvido pessoas, associações e autarquias locais, os grupos corais são hoje os agentes principais de uma ação de valorização do cante, atuando em diversos momentos da vida cultural do concelho (e fora dele), levando o cante às escolas, sensibilizando as crianças para esta marca da nossa tradição oral. PROJECTO CANTE ALENTEJANO NA ESCOLA Um contributo para a salvaguarda do cante e enriquecimento da escola Quando se fala na salvaguarda do cante alentejano, uma das questões que se levanta é a sua continuidade. Como transmiti-lo às novas gerações? Com o objetivo de contribuir para a resposta a esta missão, a Câmara Municipal de Castro Verde, reuniu parceiros e criou o projeto Cante Alentejano na Escola. O projeto está a ser desenvolvido no concelho desde 2009, abrange a população escolar que frequenta o Ensino Pré-escolar e o 1º Ciclo do Ensino Básico, num total de 389 alunos, e tem como objetivo afirmar o Cante Alentejano como expressão da cultura local, contribuir para o reforço das ações existentes em torno do cante, para o surgimento de novas dinâmicas comunitárias e para o Enriquecimento Curricular através de uma abordagem lúdica do cante. O entusiasmo das crianças marca esta atividade, que acontece em contexto de sala de aula, e privilegia também a interação com agentes locais que dinamizam o cante. Os resultados obtidos têm sido positivos, embora alguns não sejam visíveis a curto prazo, pelo que importa continuar a discussão em torno do projeto com o objetivo de definir linhas de atuação que permitam a sua afirmação como peça importante no mecanismo de valorização e dinamização do cante. O projeto está enquadrado num protocolo de cooperação celebrado entre a Câmara Municipal de Castro Verde e o Agrupamento de Escolas de Castro Verde. E se o canto às vozes - cante - é um dos mais puros reflexos do património cultural desta região, a viola campaniça, instrumento cordiforme, tem aqui um dos seus últimos redutos e depositários da memória musical dos descendentes dos instrumentos de cordas medievais. Até ao final da década de 50 do séc. XX, a Viola Campaniça era a rainha dos bailes da região campaniça ou das serranias do sul do Baixo Alentejo. Com o passar dos anos foi perdendo importância. Página 45

49 No início dos anos 80 daquele século era dada praticamente como extinta. Hoje, a Viola Campaniça assume-se hoje como embaixadora da identidade do concelho. Utilizada para acompanhar os cantares ao desafio, o Cante ao Despique e, mais tarde, o Cante ao Baldão, bem como algumas modas campaniças, o seu som oferece emoções únicas e diferentes. Outrora usada por tocadores e cantores nos bailes populares, presentemente é dinamizada por grupos organizados em associações como os Moços de uma cana dentro e fora portas do concelho, como forma de transmitem às novas gerações os sons únicos deste instrumento. A VIOLA CAMPANIÇA O ressurgimento da Viola Campaniça passa obrigatoriamente pelo espaço territorial de Castro Verde. Até ao final da década de 50, a Viola Campaniça era a rainha dos bailes da região campaniça ou das serranias do sul do Baixo Alentejo. Na memória das gentes mais velhas perduram noites de dança e cantorias animadas por brilhantes tocadores. Mas o habitat da Campaniça não se limitava ao espaço do baile. Muitas eram as tabernas onde marcava presença e acompanhava o cante, com destaque para os cantares ao desafio, o Cante ao Despique e, mais tarde, o Cante ao Baldão, marcando a toada dos improvisos horas a fio. Em feiras e romarias era presença obrigatória. A Feira de Castro terá sido uma das catedrais desses encontros de cantadores e tocadores. Com o passar dos anos a Viola Campaniça foi perdendo importância. No início dos anos 80 era dada praticamente como extinta, restando alguns exemplares do instrumento. As últimas gravações de tocadores tinham sido efetuadas por Ernesto Veiga de Oliveira e Michel Giacometti. Em 1986, o trabalho de José Alberto Sardinha, a investigação e a recolha que realizou, e posteriormente, a edição do trabalho Viola Campaniça: o outro Alentejo, retirou do esquecimento os últimos tocadores, contribuindo para o renascer do interesse pela Viola Campaniça e afirmando que ainda havia homens que dominavam esta tradição musical. Mas Decisiva foi a entrada em cena da Cortiçol Cooperativa de Informação e Cultura de Castro Verde que, no final da década de oitenta, trouxe de volta os cantadores e tocadores da Aldeia Nova. O surgimento deste trio, a riqueza, a beleza e a autenticidade das suas interpretações, apanhou todos de surpresa. Uma pérola resgatada ao esquecimento que iria marcar para sempre a sonoridade desta viola e das suas modas. A Campaniça ganhava novo ânimo, encantava e começava a piscar o olho às novas gerações, surgiram jovens tocadores, com destaque para Pedro Mestre. Hoje, a Campaniça assume-se hoje como embaixadora da identidade do concelho. Exemplo disso é a participação na rede cultural internacional do Festival Sete Sóis Sete Luas, onde dialoga com outros instrumentos e culturas do Mediterrâneo. Por outro lado, sob a batuta da Viola Campaniça Produções, num espirito de partilha, a Campaniça tem procurado conhecer as outras violas de arame e Castro Verde tem sido palco do toque e da reflexão em torno da tradição violeira. Mas um dos grandes passos para a salvaguarda deste instrumento de tradição foi a introdução do ensino da sua construção e do seu toque na Escola Secundária de Castro. PROJECTO VIOLA CAMPANIÇA NA ESCOLA Um contributo para a salvaguarda da Viola Campaniça Em 2005 uma parceria entre a Escola Secundária de Castro Verde, a Cortiçol Cooperativa de Informação e Cultura de Castro Verde, a Junta de Freguesia de Castro Verde e a Câmara Municipal de Castro Verde permitiu a introdução de uma componente de aprendizagem do toque e construção da Viola Campaniça na Escola Secundária de Castro Verde, cujos resultados contribuem para uma nova dinâmica deste instrumento na comunidade castrense, perspetivando o crescimento de um projeto importante para a salvaguarda e dinamização da tradição musical local, ajudando, por outro lado, a cumprir a existência de uma escola aberta ao meio, onde a par dos conteúdos curriculares, os projetos contribuem de forma evidente e clara para o cumprir de objetivos coletivos. Página 46

50 Ao longo de todo o ano os balhos são uma forma de reencontro da comunidade castrense. Na Pinha, na Semana Santa, nos Santos Populares, nas festas religiosas ou nas simples comemorações de aldeia. Mas a Feira de Castro23 continua a ser o ponto de encontro e de reencontro, entre a tradição e a modernidade. Realizada desde há séculos ao terceiro fim-de-semana de outubro, a Feira de Castro depressa se tornou a principal feira do sul, primeiro de gado, depois de mil e uma mercadorias, manufaturas e produtos da terra, animando o comércio local e regional. É aqui que todos os anos vendedores apregoam, entre o fumo da castanha assada e a parafernália de gente, artigos e mercadorias numa autêntica roda-viva de gentes das mais diversas regiões do país. Este apelo ao convívio, à troca e ao (re)encontro de rostos e vivências num misto de experiências, convívio e encontro - entre familiares e amigos, comerciantes e fregueses - intensificado pelo ambiente de feira, foi imortalizada em músicas recentes como a que o Paulo Abreu e Rui Veloso fizeram, e que Mariza24 tão bem interpreta. A par da Feira de Castro ainda ser uma das catedrais dos encontros de tocadores de viola campaniça e cantadores de despique e baldão, é ainda espaço dinamizador de artesanato e produtos locais. PATRIMÓNIO RURAL O mundo rural assistiu a alterações profundas nos últimos trinta anos que silenciam, pouco a pouco, uma cultura ancestral, para dar lugar à modernidade e à globalização. Aberto em 2012, o Museu da Ruralidade, pretende não deixar perder esta realidade histórica, indispensável para a salvaguarda da memória coletiva, assumindo-se, por isso, como um projeto em construção. Com um núcleo específico dedicado à oralidade, o museu abriu as portas ao imaterial, procurando privilegiar a memória oral, a construção e a renovação do efémero. O caminho que se percorre passa obrigatoriamente por criar uma relação dialética entre património material e património imaterial, documentar materiais através da oralidade, associando-lhe personagens e mestres que marcaram e marcam a região. O Museu da Ruralidade assenta numa estrutura polinucleada descentralizada pelo concelho: Núcleo da Oralidade (Entradas), Núcleo Moinho de Vento (Castro Verde), Núcleo A Minha Escola (Almeirim) e Núcleo Aldeia Comunitária (Aivados). Para breve estão a criação de um núcleo dedicado à tecelagem e de um núcleo sobre a mineração e o património geológico. PATRIMÓNIO EDIFICADO Os metais nobres que entre o século I a.c. e o século III d.c. os romanos exploraram na região, levando-os a construírem uma impressionante grelha de pequenos entrepostos em todo o território, os castella, e que ainda hoje se assumem como referentes paisagísticos no suave ondulado destas terras. O Castelo do Vale de Mértola, o Castelo das Juntas ou o Castelo da Amendoeira, são alguns desses sítios. Mas do processo de romanização, o Castelo Velho do Cobres é, sem dúvida, a grande estrutura amuralhada que marca a ocupação proto-histórica no concelho de Castro Verde. A riqueza das pastagens do Campo Branco e, em particular, das terras da região de Castro Verde, leva ao aparecimento de pequenos aglomerados agropastoris em particular no território dos concelhos de Entradas, Padrões e Castro Verde. No ano de 1620 nasce por ordem de Filipe II uma feira de gado na vila de Padrões com o objetivo dos terrádegos (imposto que se pagava pelo lugar de venda na feira) serem utilizados nas obras da Igreja dos Remédios. Mais tarde esta foi substituída pela Feira de Castro, que ainda hoje ocorre na vila de Castro Verde e é tida como uma das mais importantes feiras do Sul de Portugal. 24 Mariza é hoje a voz da nova geração do Fado. Em menos de doze anos, Mariza passou de um fenómeno local quase escondido, partilhado apenas por um pequeno círculo de admiradores lisboetas, para uma das mais aplaudidas estrelas do circuito mundial da World Music. 23 Página 47

51 Com os processos de transumância dos séculos XV/XVIII, que todo o concelho vai ganhar uma personalidade económica de invejável pujança, que leva ao aparecimento de um importante conjunto de edifícios religiosos, demonstrativo da importância social deste concelho na estrutura sócio-económica da região. Por sua vez, a religiosidade não tem um tempo em Castro Verde. Veste-se no sentir da memória. Há dois mil anos, no sítio da Igreja de Santa Bárbara, ergueu-se um templo onde os crentes deixaram dezenas de milhares de lucernas homenageando os seus deuses e que se encontram hoje reunidas no Museu da Lucerna. A dois passos do Salto, no limite com o concelho de Mértola, a Senhora de Aracelis continua a acolher a devoção das comunidades rurais da zona. O S. Pedro das Cabeças, próximo dos Geraldos, recorda a lendária Batalha de Ourique. MUSEU DA RURALIDADE Evocar o passado e construir a memória do futuro Em 2012, na localidade de Entradas, o Museu da Ruralidade abriu ao público, afirmando-se como museu do território que pretende intensificar a ação dos diferentes atores que, todos os dias, desenvolvem práticas de dinamização e salvaguarda, mas também de criação, da identidade rural. Subjacente a esta ideia está a existência indispensável de um diálogo com a comunidade que edifica a especificidade das terras de Castro Verde. O Museu é, seguramente, a resposta a necessidades que surgiram nas últimas décadas na área sócio-cultural. Perante o conhecer, promover e preservar o mundo rural, tornava-se urgente a criação de um espaço de visibilidade para o trabalho desenvolvido, que potenciasse as vivências da comunidade que, ao mesmo tempo, permitisse uma relação desta com o exterior e fortalecesse o encontro de gerações, assumindo para tal as funções pedagógicas que um museu deve desempenhar. O logótipo do Museu da Ruralidade sintetiza de forma objetiva a essência inerente à intervenção que o mesmo quer fomentar: entender a mão, mas também as palavras misturadas com o olhar. A industrialização foi calando as máquinas rudimentares que não funcionavam sem a mão e o olhar do homem. Máquinas sofisticadas, idealizadas para serem economicamente mais eficazes, que motivaram o desaparecimento de artes e ofícios levando consigo as histórias, as memórias vestindo os objetos de um tempo poético que hoje importa questionar para descobrir a utilidade, o ritual, as vozes do gesto que estão associados ao próprio objeto. Desde a primeira hora que o Museu tem um núcleo específico dedicado à oralidade, abrindo as portas ao imaterial, procurando privilegiar a memória oral, a construção e a renovação do efémero. O caminho que se percorre passa obrigatoriamente por criar uma relação dialética entre património material e património imaterial, documentar materiais através da oralidade, associandolhe personagens e mestres que marcaram e marcam a região. O Museu da Ruralidade assenta numa estrutura polinucleada descentralizada pelo concelho: Núcleo da Oralidade (Entradas), Núcleo Moinho de Vento (Castro Verde), Núcleo A Minha Escola (Almeirim) e Núcleo Aldeia Comunitária (Aivados). Para breve estão a criação de um núcleo dedicado à tecelagem e de um núcleo sobre a mineração e o património geológico. MUSEU DA RURALIDADE Núcleo da Oralidade Localizado na Rua de Santa Madalena, em Entradas (Castro Verde), o Núcleo da Oralidade assume um importante papel na salvaguarda do património imaterial do Campo Branco e, em particular, na criação de um espaço de diálogo entre o património material e imaterial, perspetivando a salvaguarda e o estudo da especificidade cultural e social do Campo Branco. Numa área de aproximadamente 500m2, este espaço divide-se em três áreas expositivas: a zona de exposições temporárias onde estão patentes algumas alfaias agrícolas e objetos representativos da ruralidade campaniça; a zona de exposições semipermanentes onde se poderá visitar uma oficina do ferreiro, o espólio do último abegão de Castro Verde e algumas miniaturas de alfaias agrícolas e uma área particularmente vocacionada à oralidade, tendo como pano de fundo a Feira de Castro, o Cante Alentejano e a Viola Campaniça enquanto manifestações singulares do património imaterial desta região. MUSEU DA RURALIDADE A Minha Escola "A Minha Escola", Núcleo de Almeirim do Museu da Ruralidade, pretende ser o centro aglutinador do trabalho de recolha, estudo e dinamização da memória da comunidade escolar de Castro Verde. A partir da sala de aula, onde se multiplicam e misturam tempos históricos, onde os manuais escolares respiram a distância do seu tempo, onde cada um de nós conta a sua "estória", o projeto vai ganhando forma. Procura-se que, pouco a pouco, vá conquistando o seu espaço e a sua função de reconstrutor do tempo da comunidade escolar de Almeirim, em particular, e de Castro Verde, em geral. Através de fotografias, de livros, de cadernos, de testes de avaliação, de memórias dos jogos de recreio, este núcleo do Museu da Ruralidade procurará reconstruir e conhecer a genealogia do tempo histórico da nossa comunidade Página 48

52 MUSEU DA RURALIDADE Aldeia Comunitária O Núcleo dos Aivados Aldeia Comunitária é um espaço reservado à salvaguarda e à dignificação da memória de uma das últimas aldeias comunitárias de Portugal, onde podem ser lidos os testemunhos, observadas as fotografias e os objetos desta aldeia do concelho de Castro Verde com quase quatro séculos de história e que nos remetem para tempos distantes, como a máquina da fábrica de pirolitos que existiu na Estação de Ourique, ou o dia 20 de abril de 1975 em que a população de Aivados recuperou parte dos terrenos que lhes haviam sido retirados, ao longo do século XX. O Núcleo dos Aivados dispõe ainda de um mapa, a construir ao longo do tempo em conjunto com a comunidade, onde serão assinalados os acontecimentos mais marcantes que ocorreram na propriedade, através de fotografias e testemunhos dos aivadenses. MUSEU DA RURALIDADE Moinho de Vento O concelho de Castro Verde, tal como todo o Alentejo, registou a existência de um grande número de moinhos de vento. Atualmente quase todos eles estão entregues ao abandono e à degradação, restando em muitos casos, apenas breves vestígios da sua presença. Com o objetivo de proceder à salvaguarda desta memória, a Câmara Municipal procedeu, no âmbito do projeto do Parque de Feiras e Exposições, à recuperação de um dos moinhos mais emblemáticos de Castro Verde, o Moinho do Largo da Feira, que a 14 de Setembro de 2003, 70 anos depois, pensa-se, de as suas mós se terem calado, voltou a moer. O moinho do Largo da Feira é um moinho de torre, cuja origem se perde no tempo. Existe um registo da sua existência num esboço do núcleo urbano de Castro Verde, datado de Antes da sua recuperação, poucos são os castrenses que têm memória de o ter visto a funcionar. A sua reconstrução passou por todo o mecanismo do moinho e de parte da sua estrutura, do original apenas restam a torre e os dormentes que suportam os soalhos dos pisos. Atualmente, com moleiro residente, o moinho é uma peça viva que produz farinha sempre que o vento e a disponibilidade do homem o permitem. Insere-se numa política de recuperação e valorização do património, de afirmação e divulgação da nossa identidade, que pretende ser contributo para o desenvolvimento no concelho de Castro Verde de um turismo de cultura e ambiente. Na imensidão das terras de Castro Verde, como marcos da memória e espiritualidade, destacam- se: Basílica Real de Nossa Senhora da Conceição - vila de Castro Verde Igreja das Chagas do Salvador / Igreja de Nossa Senhora dos Remédios - vila de Castro Verde Igreja da Misericórdia - vila de Castro Verde Ermida de São Sebastião - Castro Verde Ermida de São Pedro das Cabeças - Castro Verde Casa Dona Maria - vila de Castro Verde Obelisco em Memória da Batalha de Ourique - vila de Castro Verde Igreja Matriz - localidade de Entradas Igreja da Misericórdia - Entradas Ermida de Nossa Senhora da Esperança - Entradas Ermida de S. Sebastião - Entradas Pelourinho da Vila - Entradas Capela de Santo Isidoro - Entradas Igreja Matriz - Casével Ermida de S. Miguel - Casével Igreja Matriz de S. Marcos - São Marcos da Atabueira Ermida de Nossa Senhora de Aracelis - São Marcos da Atabueira Igreja Matriz de Santa Bárbara - Santa Bárbara de Padrões Ermida de São Pedro - São Marcos da Atabueira Casa da Torres - vila de Castro Verde Página 49

53 MUSEU DA LUCERNA O Museu da Lucerna abriu no ano de 2004 e oferece-nos uma coleção única de Lucernas de época romana (Século I-III d.c.), descobertas em 1994, na localidade de Santa Bárbara dos Padrões. Os milhares de lucernas trazidos à luz do dia durante os trabalhos arqueológicos, permitiram preparar e agora mostrar ao público um conjunto único desses utensílios de iluminação, decorados com os mais diversos motivos. Desde cenas da vida quotidiana ao universo mitológico da Antiguidade, passando por representações de animais a simples objetos. O Museu, para além das exposições temáticas e temporárias que oferece ao visitante, pretende ser também um centro de estudo de Lucernas. Este é um projeto de parceria entre a Cortiçol - Cooperativa de Informação e Cultura de Castro Verde e o Município de Castro Verde. PROGRAMAÇÃO CULTURAL A dinâmica cultural é uma marca da identidade de Castro Verde, tendo uma relevância, a par da educação e do desporto, que está claramente identificada como elemento fundamental no processo de desenvolvimento local, assumindo-se como estímulo de dinâmicas de âmbito comunitário. Baseada, num conjunto de critérios (que passam Formação de Público, Pluralidade Cultural, Descentralização Geográfica, Criação Local, Dinamização da Tradição, Festa e Lazer, Coesão e desenvolvimento social), a programação cultural afirma-se como uma componente da qualidade de vida, criando a oferta de um quadro de vida atrativo em contexto de baixa densidade populacional, consolidando práticas de cooperação entre agentes internos e externos ao concelho que incentivem a reinvenção de um território e que possam contribuir para a emergência de novas dinâmicas na comunidade. A dinâmica cultural de Castro Verde passa também pela participação em várias redes culturais, cujas raízes mergulham num vasto conjunto de parcerias que se foram construindo e operacionalizando ao longo dos anos, contribuindo para a afirmação do território e para a atracão de públicos. Neste campo, há a realçar a manutenção e aprofundamento de parcerias com agentes exteriores ao concelho, no âmbito da Rede de Museus Rurais do Sul, da Rede de Museus do Distrito de Beja, da Rede Cultural dos Municípios com Batalhas Históricas e da Rede de produção e programação de exposições (envolvendo um conjunto de municípios). Acresce outras festividades de forte participação do público como é o caso do Festival Sete Sóis Sete Luas (uma Rede Cultural de 30 cidades de 13 países do Mediterrâneo e do mundo lusófono), do Festival Terras Sem Sombra (uma iniciativa da sociedade civil para divulgação da Música Sacra do Baixo Alentejo), do Festival Dansul (uma rede intermunicipal para a Dança na Comunidade Sudoeste Alentejana), do Festival Entrudanças (uma parceria da Associação Pedexumbo, Junta de Freguesia de Entradas e Câmara Municipal de Castro Verde, que junta às tradições do Entrudo a música e a dança) e da Planície Mediterrânica (uma parceria da Associação Pedexumbo, Câmara Municipal de Castro Verde e Associação Sete Sóis Sete Luas) Castro Verde detêm ainda um conjunto de iniciativas que se encontram enraizadas na comunidade, onde importa destacar: o Programa Cultural Primavera no Campo Branco (entre abril e maio), as Festas da Vila (em junho), Há Festa no Largo (entre junho e julho), Noites Ao Relento (em agosto), a Feira de Castro (em outubro) e os Pequenos Concertos de Inverno (entre novembro e janeiro). A existência de uma rede de equipamentos permite dar resposta a um conjunto de necessidades e propostas, pautando por uma dinâmica e programação regular, o que se traduz num número significativo de atividades, como espetáculos de artes do palco (teatro, concertos, dança), exposições, oficinas, colóquios, apresentações e lançamentos, cinema, entre outras. A atividade regular inerente ao funcionamento dos equipamentos de cultura é, sem dúvida, um elemento determinante no processo de desenvolvimento cultural em curso. Atendendo à missão que define o objeto das suas ações destacamos a Rede de Museus e a Biblioteca Municipal, dois equipamentos com uma ação territorial descentralizada orientada por princípios de valorização das comunidades. Página 50

54 LITERACIA A taxa de analfabetismo do concelho ainda é relevante, tendo-se, no entanto, assistido entre 2001 e 2011 a uma descida passando de 15,7% para 8,8% da população. Apesar disso, o nível de instrução mais representativo da população residente é o básico. No que refere ao ensino superior, constata-se que o município de Castro Verde se insere na média da região alentejana, com cerca de 7% da população com curso superior, valor este inferior à média do país (10,8% da população total). Neste contexto, tem-se verificado nos últimos anos uma série de ações de formação em diferentes domínios de intervenção. O livro, a leitura e o acesso à informação são o mote para a sua realização onde o envolvimento das bibliotecas escolares, quer dos seus coordenadores e docentes em geral, quer dos coordenadores inter-concelhios e formadores da área, têm sido cruciais. BIBLIOTECA MUNICIPAL MANUEL DA FONSECA A Biblioteca Municipal Manuel da Fonseca (BMMF) iniciou a sua atividade a 22 de Abril de 1995, assumindo o compromisso de ser uma porta aberta ao conhecimento, ao serviço da comunidade, sempre com o intuito de servir mais e melhor os seus utilizadores, tendo sempre os presentes princípios definidos no Manifesto IFLA/UNESCO sobre Bibliotecas Públicas, de onde podemos destacar os seguintes objetivos: Criar e fortalecer os hábitos de leitura na população, com especial atenção para as crianças, desde a primeira infância; Apoiar a educação individual e a autoformação, assim como a educação formal a todos os níveis; Assegurar a cada pessoa os meios para evoluir de forma criativa; Estimular a imaginação e a criatividade das crianças e dos jovens; Promover o conhecimento sobre a herança cultural, o apreço pelas artes e pelas realizações e inovações científicas; Fomentar o diálogo intercultural e a diversidade cultural; Assegurar o acesso dos cidadãos a diferentes tipos de informação; ( ) Passados 21 anos de existência, a BBMF tem inscritos 5 255, que têm à sua disposição um fundo documental constituído por documentos, que estiveram na base de um movimento de empréstimos no ano de Integrada numa política de descentralização concelhia de acesso à cultura e ao conhecimento, a BBMF manteve a funcionar os seguintes equipamentos: Biblioteca Mãe Castro Verde; Pólo de Entradas; Pólo de Casével; Ponto de Empréstimo de Santa Bárbara de Padrões; Serviço de Itinerância restantes localidades do concelho; Quiosque das Piscinas Municipais durante a época balnear. Nestes espaços foram assegurados os seguintes serviços: Empréstimo domiciliário de documentos; Consulta presencial de documentos; Espaço internet e acesso Wireless; Espaço de leitura de periódicos; Espaço infantil; Fotocópias, impressão e scan de documentos; Orientação bibliográfica. Importa também referir que a BBMF dispõe, nos diferentes equipamentos, de um espaço de leitura de periódicos e de acesso à Internet, quer nos terminais disponíveis, quer via wireless, e que todos os serviços contribuíram para que em 2015 se registassem entradas no total dos diferentes equipamentos. A BMMF desenvolve o um papel coordenador no âmbito da Rede de Bibliotecas do Concelho de Castro Verde, conforme protocolo estabelecido para o efeito, onde há a destacar o acompanhamento ao nível do tratamento de documentos nas Página 51

55 bibliotecas escolares, com realce para as bibliotecas das escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico, e tem uma participação ativa e regular na Rede de Bibliotecas do Baixo Alentejo, dinamizada ao nível da CIMBAL. Tendo presentes as linhas de orientação definidas, a BMMF inúmeras atividades culturais e lúdicas (encontros com escritores, recitais, workshops, concertos, teatro, etc.) e um conjunto de projetos, direcionados a diferentes públicos, dos quais destacamos: Conto com a poesia A atividade Conto com a Poesia privilegia a leitura em voz alta de poesia, assim como a sua escrita por palavras soltas, a nível individual e em grupo. Realiza-se semanalmente no Polo de Casével. Hora do Conto no lar Esta atividade realiza-se uma vez por mês, destina-se ao público utente de todos os lares e centros de dia do concelho. Bebeteca A Bebeteca é uma biblioteca especialmente destinada aos bebés, dos 0 aos 36 meses, e aos seus familiares, e tem como objetivo primordial envolver a criança no mundo lúdico, onde se realizam peças de teatro, música, contos Para além das sessões programadas, o equipamento tem possibilidade de utilidade diária por parte das famílias. Hora do Conto A hora do conto desempenha, desde sempre, um ponto de referência na vida das Bibliotecas Municipais abrangendo principalmente o público em idade do jardim-de-infância e do 1º ciclo. As sessões são dinamizadas nos diferentes espaços das BMMF. Atividades de Tempos Livres A BMMF desenvolve ATL s nas férias escolares da Páscoa, Verão e Natal, proporcionando às crianças participantes um programa lúdico em tempo parcial. A relevância do trabalho desenvolvido pela Biblioteca Municipal Manuel da Fonseca é um importante contributo para a educação, a cultura e a informação, e para a afirmação de valores como a tolerância e a solidariedade, valores fundamentais no desenvolvimento das sociedades Línguas faladas e escrutas na Reserva da Biosfera Specify the number of spoken and written languages (including ethnic, minority and endangered languages) in the biosphere reserve. (Refer, for instance, to the UNESCO Atlas of Endangered languages ( A língua oficial exclusiva da Reserva da Biosfera de Castro Verde é o português. Página 52

56 11. CARACTERÍSTICAS FÍSICAS BIOPHYSICAL CHARACTERISTICS Descrição geral das características e topografia do local General description of site characteristics and topography of área. (Briefly describe the major topographic features (wetlands, marshes, mountain ranges, dunes etc.) which most typically characterize the landscape of the area). Com um perímetro de 163km, comprimento máximo de 30km, segundo Norte-Sul, e 35km, segundo Este-Oeste, o território de Castro Verde apresenta uma superfície na ordem dos 569,44km 2. Com um relevo relativamente homogéneo, a cota mais elevada localiza-se a Sul no marco geodésico da Urza, perto do Serro da Bandeira, correspondendo a 286m de altitude. A cota mais baixa encontra-se na Ribeira de Cobres, a nordeste da área e perto de São Marcos da Ataboeira, tendo 125m de altitude. De forma geral, podemos referir que a altitude é menor a Norte, Nordeste e Este, ao longo da Ribeira de Cobres, e mais elevada a Oeste e a Sul. Os valores de declive com maior representação situam-se entre os 0-2%. Os declives mais acentuados, superiores a 15%, encontram-se ao longo da Ribeira de Cobres e Ribeira Maria Delgada, e junto ao limite da reserva que toca com o concelho de Almodôvar, ao longo da Ribeira de Oeiras. Localizando-se, por entre as terras chãs do Alentejo que encostam à serra algarvia do Caldeirão, a Peneplanície25 Alentejana é a estrutura geomorfológica que marca a topografia de Castro Verde. Datada da era Terciária, esta consiste numa vasta superfície aplanada, onde não se diferençam formas marcantes, que se insere na zona Sul do Maciço Ibérico 26 (também chamado Antigo ou Hespérico), estando no prolongamento meridional da unidade geomorfológica mais antiga da Península Ibérica: a Meseta Ibérica Dominado por terras planas ou pouco onduladas, quase desarborizadas, e cuja altitude média ronda os 205 metros, mais de metade do território de Castro Verde chega a adquirir características de uma planície perfeita. Esta aparente uniformidade topográfica apenas é interrompida por pequenas manchas de vegetação, em que predomina a azinheira e a esteva, e alguns vales de ribeiras mais encaixados. Aqui e ali, algumas árvores isoladas pontuam a paisagem e afloramentos rochosos, como o de Aracelis, S. Pedro das Cabeças e Castro Verde, rasgam o horizonte, oferecendo uma magnífica panorâmica sobre a peneplanície alentejana e o enrugado resultante da influência próxima da serra algarvia. A peneplanície é uma superfície quase plana, devido à erosão normal das águas correntes, que desgastaram as elevações e as foram aplanando. 26 O Maciço Ibérico (Maciço Antigo ou Hespérico) é a unidade geológica que ocupa a maior extensão em Portugal continental. Pela sua antiguidade de formação (no Paleogénico), sua constituição geológica e riqueza mineralógica, a parte do território português que lhe corresponde é a mais rica e diversificada em termos minerais e rochosos. 25 Página 53

57 A Ribeira Maria Delgada, a Ribeira de Cobres e a Ribeira de Oeiras, são os principais cursos de água da rede hidrológica da região de Castro Verde. Serpenteando suavemente pelo território, temos ainda a Ribeira de Alvacar, a Ribeira da Fontinha, a Ribeira da Chada, Ribeira de Terges, a Ribeira da Cinceira e a Ribeira da Sete. Todas estas ribeiras pertencem à Bacia Hidrográfica do Guadiana. Já a Ribeira da Gata, o Barranco de Amoleias e o Barranco do Montinho drenam para a Bacia Hidrográfica do Sado. Excetuando a Ribeira da Gata, com orientação Noroeste-Sudoeste, o rendilhado das restantes linhas de água apresenta uma orientação aproximada de Nordeste-Sudoeste. Nas margens da Ribeira Maria Delgada, no barranco do Tabelião e na Ribeira da Cachopa é de salientar uma área de afloramentos rochosos, que pode ser classificada como área improdutiva. Embora pouco acentuados, a Norte e a Sul encontram-se dois relevos estruturais paralelos com orientação Nor-noroeste/Su-sudeste, em consonância com os afloramentos da Faixa Piritosa que se desenvolve entre Castro Verde e Messejana e entre Neves-Corvo e Panóias Amplitude altimétrica Altitudinal range Elevação mais alta acima do nível do mar: Highest elevation above sea level: 286 metros (no marco geodésico da Urza, a Sul da área da Reserva da Biosfera e perto do Serro da Bandeira) Elevação mais baixa acima do nível do mar: Lowest elevation above sea level: 125 metros (na Ribeira de Cobres, a Nordeste da área da Reserva da Biosfera e perto de São Marcos da Ataboeira) Clima Climate (Briefly describe the climate of the area, you may wish to use the regional climate classification by Köppen as suggested by WMO ( Segundo a classificação climática de Köppen-Geiger, a região de Castro Verde apresenta características de um clima tipicamente mediterrânico (Csa) com duas estações do ano bem definidas, sendo os verões quentes e secos e os invernos frios e pouco chuvosos. Principalmente condicionada pela latitude, pelo afastamento do mar, pelo relevo e pelo regime e exposição dos ventos, a temperatura média anual varia entre os 15,5 e os 16,4ºC. De modo geral, as temperaturas aumentam gradualmente ao longo do ano, atingindo os valores mais elevados nos meses de julho e agosto, podendo ultrapassar os 40ºC, a partir daí a temperatura decresce gradualmente atingindo os valores mais baixos entre dezembro e fevereiro, registando-se muitas vezes temperaturas inferiores a 0ºC. Estes registos negativos estão normalmente relacionadas com massas de ar polar continental seco e frio e são acompanhadas de céu limpo ou pouco nublado e vento de Leste ou Nordeste, geralmente fraco. Em relação à humidade relativa do ar, verifica-se uma variação na razão inversa da evolução da temperatura, atingindo-se os valores mínimos durante a tarde quando a temperatura do ar é mais elevada, sendo essa diminuição mais significativa nos meses mais quentes do ano. Por sua vez, é nos meses de verão que se verificam as maiores amplitudes térmicas diárias, devido a um acentuado arrefecimento noturno, determinado pela escassez de nebulosidade nesses meses. Fazendo jus á sua classificação como zona semi-árida, a precipitação média anual oscila entre os 400 a 600m3, chovendo em média 50 a 75 dias por ano. As chuvas concentram-se no período de dezembro a março, sendo responsáveis por mais de metade da pluviosidade anual. Nos meses de julho e Página 54

58 agosto a precipitação chega a ser nula. A acrescer, a variação interanual também é elevada, verificandose alterações significativas entre um ano seco e um ano húmido típicos. Por vezes a precipitação registada num ano húmido é mais do dobro da registada num ano seco. Em 2012, houve 272 dias sem chuva tendo a máxima diária atingido 93,5mm3. Relativamente à nebulosidade, a ocorrência de nevoeiros verifica-se com maior regularidade nos meses mais frios do ano, devido à elevada humidade do ar, ao arrefecimento noturno e à reduzida velocidade do vento durante a noite e a manhã. Com uma média anual de apenas cerca de 67 dias de céu encoberto esta é, sem dúvida, uma das regiões mais soalheiras da Península Ibérica. Os ventos dominantes são do quadrante Oeste, seguido do quadrante Noroeste. Esta tendência intensifica-se nos meses de verão, onde se verifica uma velocidade média entre 14,2 e 15,8km/h. Por vezes verificam-se ventos fortes (com velocidade igual ou superior a 36km/h), sendo a ocorrência de vento muito forte (rajadas com velocidade igual ou superior a 55km/h), pouco frequente Temperatura média do mês mais quente Average temperature of the warmest month O mês mais quento é agosto com uma temperatura média de 24,8 C Temperatura média do mês mais frio Average temperature of the coldest month O mês mais frio é fevereiro com uma temperatura média de 7,4 C Precipitação média anual Mean annual precipitation A precipitação média anual atinge um valor médio próximo dos 500mm Identificação da estação metereológica na Reserva da Biosfera proposta e ano a partir do qual os dados climáticos foram registados Is there a meteorological station in or near the proposed biosphere reserve? If so, what is its name and location and how long has it been operating? A área proposta dispõe de 1 estação udográfica e 2 estações udométricas, que fazem parte da rede de monitorização do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos do Instituto da Água (SNIRH-INAG): estação udográfica da vila de Castro Verde (em funcionamento desde 1 de Setembro 1932 e a 217 metros de altitude); estação udométrica de São Marcos da Ataboeira (em funcionamento dia 1 de Outubro de 1956 e a 182 metros de altitude); estação udométrica de Santa Bárbara dos Padrões (em funcionamento a 1 de Outubro de 1979 e a 239 metros de altitude). Existem ainda mais 2 estações udométricas, pertencentes ao Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), que se localizam na vila de Castro Verde e em São Marcos da Ataboeira, respetivamente a 190 e 174 metros de altitude. As estações meteorológicas mais próximas são a de Neves-Corvo, a 225 metros de altitude, e a de Beja, a 246 metros de altitude. Página 55

59 11.4. Geologia, morfologia e solos Geology, geomorphology, soils (Briefly describe important formations and conditions, including bedrock geology, sedimentary deposits, and important soil types). Castro Verde insere-se no subsetor do Pomarão-Castro Verde, da zona paleogeográfica SulPortuguesa do Maciço Ibérico. Também conhecido por Maciço Antigo ou Hespérico, este é uma das estruturas geomorfológicas mais antigas da Península Ibérica, sendo essencialmente formada por rochas eruptivas e metassedimentares, formadas à milhões de anos. Apesar da aparente planura do território não permitir a individualização de formas geomorfológicas marcantes, do processo evolutivo do Maciço Ibérico é possível identificar na envolvente da vila de Castro Verde dois relevos estruturais sub-paralelos: um a Norte, que se desenvolve entre Castro Verde e Messejana (no concelho de Aljustrel), e o outro a Sul entre Neves-Corvo e Panóias (no concelho de Ourique). Com orientação Nor-noroeste Su-sudeste estes resultam de um afloramento regional de rochas do complexo vulcano-sedimentar da Faixa Piritosa Ibérica (Figura 5). Formada em ambiente vulcânico e sedimentar submarino, há cerca de 362 a 346 milhões de anos, a Faixa Piritosa Ibérica desenvolve-se a partir do Su-sudeste de Lisboa (Portugal) até Sevilha (Sul de Espanha) sendo responsável pela existência de alguns dos maiores depósitos de sulfuretos maciços vulcanogénicos do mundo. Vulgarmente conhecidos como pirites, a região de Castro Verde tem o principal jazigo de sulfuretos maciços da Europa, o jazigo de Neves Corvo, o que lhe confere um estatuto de província metalogenética de classe mundial. Figura 5 Mapa geomorfológico de Castro Verde (Fonte: LNEG) Página 56

60 Somincor A Norte é ainda visível uma faixa, com sentido Sudeste-Noroeste e que se estende de Albernoa (concelho de Beja) até Mértola, onde se verifica a presença de filitos e quartzitos que integram o Grupo Filito-quartzítico da Faixa Piritosa Ibérica. Sobrepondo-se à formação geológica da Faixa Piritosa (constituída por rochas vulcânicas e sedimentares), temos uma espessa sequência de sedimentos turbidíticos pertencentes ao Grupo do Flysch do Baixo Alentejo. Formada por deposição, há cerca de 340 a 330 milhões de anos, em meio marinho, esta unidade geológica é constituída fundamentalmente por rochas metamórficas de baixo grau, como grauvaques, siltitos, xistos e conglomerados, tendo uma grande expressão local. O JAZIGO GIGANTE DE NEVES-CORVO Somincor A região de Castro Verde é atravessada por uma das províncias metalogénicas de maior relevância a nível mundial, a Faixa Piritosa Ibérica. Aqui encontram-se jazigos de sulfuretos polimetálicos que, pela sua dimensão e pelos teores em metais neles contidos (cobre - Cu, chumbo - Pb, zinco - Zn, estanho - SN, ouro - Au, prata - Ag, etc.) estão, dento do seu tipo, entre os mais importantes à escala mundial. Vulgarmente conhecidos como pirites, a génese destes maciços polimetálicos está relacionada com a circulação de fluídos quentes entre as rochas vulcânicas e sedimentares, ocorrida há milhões de anos em ambiente marinho. Fruto desta especificidade geológica, a Reserva da Biosfera proposta alberga o centro mineiro mais importante da Faixa Piritosa, o jazigo de Neves Corvo. Operado pela empresa Somincor desde 1987, este jazigo apresenta reservas que ascendem a mais de 290 milhões de toneladas de pirites, ricas em cobre, zinco e estanho. Esta mina é uma das mais importantes indústrias extrativas de Portugal, razão fundamental para o acréscimo de população de Castro Verde nas décadas de 80 e 90, contrariando a tendência geral das regiões do interior, invertendo a situação de crescimento populacional negativo em que se encontrava desde a década de 40, do séc. XX. Ao localizar-se no escudo duro e resistente do Maciço Ibérico, a área apresenta um substrato rochoso de idade paleozóica e pré-câmbrica. Com uma elevada complexidade estrutural e variedade de tipos litológicos, o subsolo é essencialmente constituído por xistos argilosos, grauvaques, arenitos, por vezes com quartzitos e raros vulcanitos, em parte fortemente metamorfoseados e de permeabilidade altamente reduzida. Os solos mais representativos são os Mediterrâneos, com predominância dos Pardos de xistos e grauvaques (Px) e dos Vermelhos ou Amarelos de xistos e grauvaques (Vx), e os Litossolos, com predominância dos Litossolos de xistos e grauvaques (Ex). Página 57

61 Identificam-se ainda uma pequena mancha de solos Cb - Barros, Castanho Avermelhados Não Calcários, de basaltos ou doleritos ou outras rochas eruptivas básicas no sentido Castro Verde-Casével e nas proximidades desta freguesia, onde se identificam ainda alguns Coluviossolos (Sb) de textura mediana. No sentido NNW, e a partir de Entradas, encontram-se algumas manchas de solos Sr - Solos Mediterrâneos Vermelhos e Amarelos de materiais Não Calcários, de rañas ou depósitos afins, também presentes a Norte de São Marcos da Ataboeira. De uma forma geral estamos perante solos delgados, de espessura efetiva entre os 15 e 30cm, pouco férteis e com drenagem deficiente. Conhecidos por esqueléticos, os elevados riscos de erosão e a baixa capacidade de uso agrícola, associados às características climáticas da região, levam a que os solos do concelho de Casto Verde tenham significativas limitações de utilização. As classes D e E representam cerca de 82,17% da área total do concelho, expressando solos com uma capacidade de uso muito baixa, com riscos de erosão elevados e altamente suscetíveis a práticas agrícolas desadequadas. Seguem-se 15,49% de solos de classe C (com limitações acentuadas), 1,9% de solos de classe B (com limitações moderadas) e apenas 0,05% de solos de classe A (com poucas ou nenhumas limitações). Pelas suas características, esta paisagem árida onde a terra empobrecida apresenta uma cor pálida, fazendo jus à designação de Campo Branco, é única em Portugal e incomparável com outras na Europa. Página 58

62 11.5. Zona Bioclimática Bioclimatic zone (Indicate the bioclimatic region in which the proposed biosphere reserve is located, refer to the table below and tick the appropriate box for each area of the biosphere reserve). Com clima tipicamente mediterrânico, Castro Verde localiza-se no estádio bioclimático Mesomediterrânico, de ombroclima sub-húmido a seco, apresentando amplitudes térmicas pronunciadas, tanto diárias como anuais, e duas estações bem definidas. Os verões quentes e secos e invernos húmidos e frios com temperaturas que podem ser negativas. Geralmente, com menores quantitativos de precipitação e temperatura mais elevada, os meses de junho, julho, agosto e setembro, indicam a estação mais quente do ano. De forma inversa, os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, tidos como os mais chuvosos e de menor temperatura, representam a estação mais fria e húmida. Localizada em pleno coração do Baixo Alentejo, Castro Verde é uma das áreas mais vulneráveis no país à desertificação e à seca. A paisagem que nos oferece, fora do período de dezembro a maio, transmite-nos a sensação de uma enorme aridez, derivada dos solos pobres. Esta fragilidade intrínseca dos solos na reserva tem sido alavanca, nas últimas duas décadas, para a realização de projetos de combate à erosão dos solos e desertificação e o ensaio de novas formas de aumentar a capacidade de suporte dos solos. Como reconhecimento deste empenho continuo e conjunto, de base local e envolvimento de vários atores, foi atribuído à Liga para a Proteção da Natureza o prémio Dryland Champions 2013 pela Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação. Por sua vez, o conhecimento e experiência já adquirida permitiram, no âmbito Plano de Ação Nacional de Combate à Desertificação (PANCD ), a indicação de Castro Verde como um dos locais a integrar a rede nacional de centros temáticos de referência no combate à desertificação, ou seja, com um polo de ensaio, aplicação, demonstração e difusão de boas práticas de prevenção e combate à desertificação. Tabela 1 - Índice de aridez resultante da utilização P/ETP - Precipitação média anual (P) / Média anual do potencial de evapotranspiração (ETP) Table1 - Aridity index resulting from the use of P/ETP - Mean annual precipitation (P)/mean annual potential evapotranspiration (ETP) Áreas Areas Hyper-arid Arid Semi-Arid Dry Sub-humid Moist Sub-humid Per-humid Precipitação media anual (P) Average annual rainfall/mm P< P>1200 Índice Aridez Aridity index Penman < >0.90 (UNEP index) < >0.65 Zona Núcleo Core area(s) Zona tampão Buffer zone(s) Zona Transição Transition area(s) x x x x x x Página 59

63 11.6. Caraterísticas biológicas Biological characteristics. List main habitat types (e.g. tropical evergreen forest, savanna woodland, alpine tundra, coral reef, kelp beds) and land cover types (e.g. residential areas, agricultural land, pastoral land, cultivated areas, rangeland). - REGIONAL: se o tipo de habitat ou ocupação do uso do solo está amplamente distribuído na região biogeográfica em que a reserva da biosfera proposta está localizada, avaliar a representatividade do tipo de cobertura do solo ou habitats - REGIONAL if the habitat or land cover type is widely distributed within the biogeographical region within which the proposed biosphere reserve is located, to assess the habitat's or land cover type's representativeness; - LOCAL: se o tipo de habitat ou ocupação do uso do solo é de distribuição limitada dentro da reserva da biosfera proposta, avaliar a singularidade do tipo de cobertura do solo ou habitats - LOCAL if the habitat or land cover type is of limited distribution within the proposed biosphere reserve, to assess the habitat's or land cover type's uniqueness. For each habitat or land cover type, list characteristic species and describe important natural processes (e.g. tides, sedimentation, glacial retreat, natural fire) or human impacts (e.g. grazing, selective cutting, agricultural practices) affecting the system. As appropriate, refer to the vegetation or land cover map provided as supporting documentation. Os territórios da sub-região homogénea do Campo Branco apresentam um padrão de ocupação e uso do solo semelhante em que a área agrícola ocupa a maior parte da terra arável prevalecendo a cerealicultura e pastoreio extensivo. Seguem-se as áreas agroflorestais, com os montados de azinho e/ou sobro, onde se opera um sistema agro-silvo-pastoril de acordo com as potencialidades de cada zona27. Com muito pouca expressão, existem ainda manchas florestais bem localizadas com povoamentos puros ou mistos (eucalipto, pinheiro manso, pinheiro bravo e outras espécies resinosas ou folhosas). As áreas ocupadas por vegetação natural herbácea/arbustiva de porte baixo, como matos e pastagens permanentes, concentram-se maioritariamente na zona Sul do Campo Branco, onde o relevo já adquire maior expressão. Inserida em plena matriz do Campo Branco, a Reserva da Biosfera de Castro Verde detém a maior superfície agrícola. O predomínio de terra limpa cultivada com cereais de sequeiro, em regime de rotações de culturas de cereais e pousios longos, é evidente e marca diferenciadora do uso e ocupação do solo da reserva. Inseridos nesta vasta área de estepe cerealífera encontram-se raras manchas de montado esparso, alguns matos e pequenas áreas de culturas permanentes, como o olival e a vinha. Associado a esta ocupação do solo temos um povoamento rural concentrado em montes isolados ou em pequenas aldeias. Contudo, estas áreas edificadas, que expressam padrões de uso urbano do solo, juntamente com a vila de Castro Verde e o couto mineiro de Neves-Corvo assumem pouca representatividade. Acresce uma rede hidrográfica, formada por linhas de água de dimensões variáveis, e várias massas de água, entre charcas, açudes e barragens. Estes pontos de água estão espalhadas pelo território, oscilam entre menos de 1 e 25ha e são essenciais à atividade agropecuária, assegurando o abeberamento do gado (em especial na época mais quente do ano). Segundo o mapa de ocupação do solo (Figura 6), as áreas agrícolas abertas (campos de cereais, pousios e pastagens) ocupam cerca de 66% da superfície da reserva. Segue-se o montado de azinho (com culturas arvenses e/ou pastos em sub-coberto), com 16%, e as manchas de vegetação natural subarbustiva e/ou arbustiva, ou seja, áreas de mato, com 10%. Aqui destaca-se Ourique (que toca os limites da reserva a Noroeste), cujo concelho é ocupado em cerca de metade da sua área por montados. Tal deve-se à importância económica e ecológica que as áreas de azinho têm na criação extensiva do porco ibérico, uma raça autóctone, com origem no Tronco Ibérico, cujo solar é a região do Alentejo, sendo criado em regime de montanheira (que se caracteriza essencialmente por os animais pastarem ao ar livre no montado, à base dos recursos naturais existentes) e as de sobro na produção de produtos lenhosos e extração de cortiça. 27 Página 60

64 O restante território corresponde a povoamentos florestais (4%), zonas húmidas de água doce naturais e seminaturais (1%), áreas improdutivas onde se incluem as áreas urbanas e o couto mineiro de Neves-Corvo (1%) e outros usos agrícolas do solo, nomeadamente pequenas manchas de vinha, olival e algumas hortas familiares (2%). Figura 6 Mapa ocupação do solo área da Reserva da Biosfera de Castro Verde. Página 61

65 ESPÉCIES CARATERÍSTICAS Áreas Agrícolas Com domínio evidente de vegetação rasteira mais ou menos densa, a vasta área de estepe cerealífera (com searas, restolhos, pousios, alqueives), coincidente quase na sua totalidade com o total da área da Reserva da Biosfera de Castro Verde, apresenta a maior concentração de aves estepárias do país, e uma das maiores da Europa. Altamente especializadas na exploração deste ecossistema, muitas delas são raras e têm estatuto de conservação desfavorável, como é o caso da Abetarda (Otis tarda), do Sisão (Tetrax tetrax), do Cortiçol-de-barriga-preta (Pterocles orientalis), do Alcaravão (Burhinus oedicnemus) e da Calhandra-real (Melanocorypha calandra). Acresce a presença no período estival do Rolieiro (Coracias garrulus) e no período de inverno o Grou (Grus grus). No grupo das aves de rapina destacam-se o Peneireiro-das-Torres (Falco naumani), o Tartaranhão-caçador (Circus pygargus), o Tartaranhão-azulado (Circus cyaneus) e a Águia-imperial-ibérica (Aquila adalberti). Dada a diversidade, abundância e estatuto de conservação das aves que aqui ocorrem, a estepe cerealífera de Castro Verde é reconhecida como uma das áreas de conservação prioritária em termos de biodiversidade na Europa. Inseridos na matriz estepária, os olivais tradicionais são de grande importância para uma comunidade avifaunística que tem a azeitona como alimento. Destaca-se a Abetarda que no inverno recorre às orlas destes olivais para se alimentar. Entre as pequenas aves, o Pisco-de-peito-ruívo (Erithacus robecula), a Felosa-comum (Phylloscopus collybita) e o Estorninho-malhado (Sturnus vulgaris) são das espécies invernantes mais abundantes, assim como o Estorninho-preto (Sturnus unicolor), que é residente. A presença destas espécies é determinante pelo papel de auxiliares contra algumas pragas do olival. Os muros de pedra (das velhas cercas que ainda delimitam os olivais) são também paraísos para vários seres vivos, entre musgos, líquenes e alguns anfíbios, como a Salamandra-de-costelassalientes (Pleurodeles waltl) e a Rã-verde (Pelophylax perezi), e répteis como a Cobra-de-escada (Rhinechis scalaris). A estrutura, diversidade florística e variações espaciais da componente herbáceo-arbustivo, quer nos pousios quer no sub-coberto dos olivais, abrigam uma microfauna de invertebrados de elevada importância para o equilíbrio ecológico, e que pode funcionar como indicadores do estado de conservação de todo o ecossistema. Por fim, há a registar a presença de alguns charcos temporários (habitat prioritário 3170* da Diretiva Habitats), de reduzida dimensão, mas de elevada importância pela diversidade de flora e fauna que detêm, destacando-se espécies de crustáceos grandes branquiópodes, cuja área de ocorrência é muito restrita no mundo. Áreas AgroFlorestais As manchas de montado proporcionam um elevado número de habitats, que albergam uma grande biodiversidade, em especial de aves. Para além de vários chapins, o Pica-pau-malhado-grande (Dendrocopos major), a Trepadeira-azul (Sitta europaea) e a Trepadeira-comum (Certhia brachydactyla), são algumas das aves insetivoras mais comuns. No inverno, espécies como o Tordo-comum (Turdus philomelos) e do Pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula), aproveitam os montados como refúgio de inverno. Fortemente associados ao sub-coberto arbustivo temos o Cartaxo-comum (Saxicola torquata), e ao estratos herbáceos abertos o Picanço-barreteiro (Lanius senator) e a Cotovia-pequena (Lullula arborea). Entre as rapinas conta-se o Milhafre-real (Milvus milvus) e o Peneireiro-cinzento (Elanus caeruleus) como espécies diurnas, e o Mocho-pequeno-d'orelhas (Otus scops) e o Bufo-pequeno (Asio otus), como nocturnas. As árvores maiores servem de suporte para o ninho de algumas rapinas de maior Página 62

66 porte como a Águia-de-asa-redonda (Buteo buteo), a Águia-calçada (Hieraaetus pennatus). O facto de serem predadoras atribui-lhes um papel importante em toda a dinâmica de todo o ecossistema estepário, uma vez que controlam o número de outras espécies. No caso dos mamíferos destacam-se espécies como o Javali (Sus scrofa) que a par da bolota procura (fossando o solo) as apreciadas túberas. A Geneta (Genetta genetta), o Saca-rabos (Herpestes ichneumon) e o Rato-dos pomares (Eliomys quercinus). Áreas Vegetação Natural (Herbácea e/ou Arbustiva) Nas formações sub-xerofíticas que correspondem a áreas de mato e matagal ocorre uma grande diversidade de fauna. É o caso do Coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus), do Saca-rabos (Herpestes ichneumon), do Javali (Sus scrofa), do Texugo (Meles meles) ou da Raposa (Vulpes vulpes). Os matos são ainda utilizados por pequenos passeriformes como é o caso das toutinegras. Servem ainda de abrigo a vários répteis como a Cobra-de-escada (Elaphe scalaris) e Cobra-de-ferradura (Coluber hippocrepis). Zonas Húmidas Numa região seca e quente, as zonas húmidas são concentram uma grande diversidade tanto de fauna, como de flora, contribuindo decisivamente para o enriquecimento da biodiversidade da região. Nas áreas adjacentes destes locais encontra-se uma flora diversa e rica, tendo como vegetação característica das ribeiras, que se repete em todo o sul da Europa (Bacia do Mediterrâneo), o Loendro (Nerium oleander), a Tamargueira (Tamarix gallica), o Tamujo (Myrsine africana) e as Silvas (Rubus spp.). Destaca-se o Trevo-de-quatro-folhas-peludo (Marsilea batardae), espécie bastante rara e ameaçada, portanto, protegida a nível mundial. Entre a fauna ocorrem espécies com o Abelharuco (Merops apiaster) e o Rouxinol-do-mato (Cercotrichas galactotes). É ainda de assinalar um conjunto de espécies de caraterísticas mais aquáticas como é o caso de garças, o Maçarico-das-rochas (Actitis hypoleuca), o Borrelho-pequeno-de-coleira (Charadrius dubius), o Pássaro-bique-bique (Tringa ochropus), o Pernilongo (Himanthopus himanthopus), o Guarda-rios (Alcedo atthis) entre outros. As zonas húmidas são também um habitat importante para os anfíbios e répteis ocorrendo muitas espécies típicas do sul de Portugal. PROCESSOS NATURAIS IMPORTANTES Dadas as características edafoclimáticas e orográficas, e com solos de pouca espessura e escassa fração orgânica, a todo o território, em especial a superfície agrícola, é vulnerável a diversos fenómenos erosivos. Nas manchas de montado, o aumento de clareiras quer seja em resultado da queda de árvores velhas de grande porte, do corte de algumas para fins de lenha e adoecimento de algumas árvores (com perda de folhas e secura dos troncos e ramos), criam condições para a germinação de sementes das plantas dos substratos herbáceo, que ao completarem os seus ciclos de vida, voltam a depositar sementes nos solos, efetuando a manutenção natural do banco de sementes. IMPACTES HUMANOS PRINCIPAIS Como o cultivo tradicional de cereais de sequeiro é pouco rentável, existe uma tendência crescente para o desaparecimento da rotação cereal-pousio e aumento de pastagens permanentes, associadas a um aumento do encabeçamento, principalmente de gado bovino. Esta tendência tem-se verificado um pouco por toda a Europa sendo a principal causa de perda de habitat favorável e declínio da maioria das aves estepárias, hoje tidas como as aves mais ameaçadas do continente europeu. Salientam-se ainda os charcos temporários mediterrânicos, quem mesmo seno um habitat classificado como prioritário em termos de conservação, no âmbito da Rede Natura 2000, tem assistido a um declínio dos mesmos por más práticas agrícolas, em consequência da intensificação da atividade agrícola, entre outros fatores de ameaça Página 63

67 Rui Constantino PRÁTICAS DE GESTÃO RELEVANTES Devido à pobreza dos solos, os sistemas agrícolas tradicionais que se praticam na região baseiam-se na rotatividade das culturas e na utilização de pousios, de um ou mais anos, para a recuperação do potencial produtivo dos solos. Nos montados com sub-coberto arbustivo, é essencial manter o pastoreio, o desbaste e/ou o cultivo de cereais de sequeiro, de forma a impedir que o sub-bosque seja invadido por matos lenhosos. Acresce uma atividade cinegética, dirigida para a caça menor, cujas práticas de gestão favorecem igualmente outras espécies da fauna selvagem. Página 64

68 12. SERVIÇOS DOS ECOSSISTEMAS ECOSYSTEM SERVICES: Identificar os serviços prestados por cada ecossistema da reserva da biosfera e os seus beneficiários If possible, identify the ecosystem services provided by each ecosystem of the biosphere reserve and the beneficiaries of these services. (Please refer to the Millennium Ecosystem Assessment Framework and The Economics of Ecosystems and Biodiversity (TEEB) Framework ( and Para o levantamento preliminar dos serviços do ecossistema existentes na Reserva da Biosfera de Castro Verde, foram considerados os três sistemas de classificação internacional existentes para os serviços do ecossistema: Millennium Ecosystem Assessment Framework (MA) 28, The Economics of Ecosystems and Biodiversity (TEEB) 29 e Framework and the Common International Classification of Ecosystem Services (CICES) 30 (Tabela 2). Estes sistemas estão bastante interrelacionados entre si, incluindo todos os serviços aprovisionamento, regulação e cultura, tendo cada um as suas vantagens e desvantagens devido ao contexto específico para o qual foram desenvolvidos. A Reserva da Biosfera de Castro Verde inclui dois tipos de ecossistemas: terrestres e zonas húmidas de água doce. Os ecossistemas terrestres presentes incluem as seguintes subdivisões: zonas urbanas, áreas agrícolas (tanto áreas semeadas como áreas de pastagem), áreas agroflorestais (montados) e matos. As zonas húmidas de água doce presentes incluem as ribeiras, barragens e charcos temporários. As áreas agrícolas são o elemento dominante e identificador da paisagem da Reserva da Biosfera proposta, sendo o suporte para a existência de um habitat único: as estepes cerealíferas ou pseudoestepes31. Este habitat alberga uma comunidade de aves diversa, com aves que ocorrem apenas neste habitat e que estão ameaçadas a nível nacional e internacional. Estas extensas áreas de peneplanície onde predomina a atividade agropecuária, são pontuadas por exíguas áreas de montado, zonas húmidas, matos mais ou menos densos e pequenas áreas esparsas de culturas permanentes (olival e vinha), que diversificam a paisagem e servem de complemento às áreas agrícolas. Assim, este território fornece diversos serviços do ecossistema que deverão ser adequadamente identificados e avaliados. A estepe cerealífera surge da tradição centenária da pastorícia e mais tarde do cultivo extensivo de cereais, num sistema de rotação que preserva o solo da erosão e da perda de fertilidade. A produção de cereais e a pecuária extensiva que lhe estão associadas são assim a base da economia agrícola local, sustentando serviços de produção de alimento mas também locais de alimentação, abrigo e reprodução da avifauna selvagem. Para além destes, há ainda produção de biomassa e reposição de matéria orgânica no solo, precavendo a depauperização de uma camada arável esquelética e sensível à erosão. A manutenção da paisagem em boas condições, a gestão do recurso solo, a manutenção do ciclo hidrológico são outros dos serviços do ecossistema que poderão ser identificados. O MA foi o primeiro sistema de larga escala que foi desenvolvido e que foi posteriormente adotado e aperfeiçoado pelo sistema TEEB e CICES. O MA organiza os serviços do ecossistema em quatro categorias: aprovisionamento, regulação, suporte e cultural. 29 O TEEB propõe uma tipologia de 22 serviços subdivididos em quatro categorias, decorrentes da classificação do MA: aprovisionamento, regulação, habitat e cultural/amenidade. O TEEB omitiu os serviços de suporte por os considerar como uma subdivisão dos processos ecológicos. Em alternativa os serviços do habitat são identificados numa categoria separada para realçar a importância dos ecossistemas para as espécies migradoras e como protetores da diversidade genética, pelo que a disponibilidade destes serviços estará diretamente dependente do estado de conservação do habitat que fornece estes serviços. 30 Na classificação do CICES os serviços do ecossistema são fornecidos tanto pelos seres vivos (biota) como pela combinação dos seres vivos com os processos abióticos. Por exemplo, os serviços da componente abiótica podem afetar os serviços do ecossistema mas não dependem dos seres vivos que aí residem. Um destes exemplos é a produção de minerais pela indústria extrativa e mineira ou a produção de energia eólica. Neste caso são considerados como parte do capital natural global, que podem ser ou não renováveis e depauperáveis, nomeadamente os recursos geológicos (minerais, solo, combustíveis fosseis, sedimentos, etc), os fluxos abióticos (solar, eólico e hidrológico) e o capital do ecossistema que inclui os ecossistemas como um valor (para a estrutura e condição) e os fluxos dos serviços do ecossistema (que inclui o aprovisionamento, regulação/manutenção e cultura). 31 Estas terminologias advêm da similaridade do coberto vegetal (domínio de plantas herbáceas, sobretudo da família das gramíneas) e caraterísticas de relevo (vastas planícies aplanadas) com as estepes naturais da Europa Central. 28 Página 65

69 O calendário das atividades agrícolas para as culturas arvenses, aliadas ao cariz torrencial do regime de chuvas, pode favorecer a erosão do solo. No entanto, a alternância com pousio praticada nos sistemas vigentes em Castro Verde, tende a reduzir o impacte da erosão, podendo ser considerado uma prática mais protetora do solo, em especial quando comparada com explorações intensivas como o olival intensivo, que está associado a elevado risco de erosão e de desertificação. Acresce a prática da sementeira direta32 em algumas explorações. A prática agrícola de rotação de culturas e alternância com pousio e exploração pecuária extensiva tem também um impacte positivo e significativo ao nível do ciclo de nutrientes, o que é especialmente importante numa região em que predominam os solos com limitações severa ou acentuadas no que diz respeito à capacidade de uso do solo. Esta paisagem constitui um registo atual das vivências de gerações passadas, sendo espaço gerador de informação estética, de oportunidades de recreio, reflexão e relaxamento, fonte de inspiração artística, desenvolvimento de investigação científica e educação ambiental Em termos dos serviços de aprovisionamento na Reserva da Biosfera de Castro Verde destacase a produção de: a. Cereais; b. Forragens; c. Pastagens; d. Pecuária (maioritariamente ovinos e bovinos mas também suínos e caprinos em menor escala); e. Cogumelos e de ervas aromáticas e medicinais; f. Espécies cinegéticas (coelho, perdiz e lebre) e piscícolas (barbo, achigã); g. Água para consumo (tanto superficial como subterrânea), quer humano quer para abeberamento do gado e espécies selvagens; h. Água para outros fins, como o apoio à atividade mineira e extrativa e irrigação; i. Madeira (geralmente como biomassa para aquecimento). Em termos dos serviços de regulação, manutenção e suporte na Reserva da Biosfera de Castro Verde destaca-se: a. A regulação pelo biota, nomeadamente nos processos de decomposição da matéria orgânica e a mineralização do solo, bem como, nos processos de filtragem e acumulação de poluentes (nas estações de tratamento de efluentes e na atividade mineira); b. A regulação dos ciclos hidrológicos e a regulação do clima; c. A formação e composição do solo, através das rotações culturais que promovem a existência de pousios para o restauro da fertilidade do solo; d. A polinização e a dispersão de sementes; e. A proteção de áreas de reprodução de espécies, nomeadamente de espécies ameaçadas a nível nacional e internacional. Em termos dos serviços culturais na Reserva da Biosfera de Castro Verde destaca-se: a. O uso recreativo e lúdico das paisagens e do biota, incluindo a observação de aves, a pesca, a caça, o pedestrianismo, a fotografia de natureza, entre outros; b. A promoção do conhecimento científico e da educação para os valores naturais e culturais; c. A inspiração decorrente dos valores paisagísticos, naturais e culturais; d. A valorização dos legados e do sentimento de pertença dos valores naturais e culturais; e. O valor simbólico de espécies como a abetarda que representam o fator diferenciador desta Reserva da Biosfera; A sementeira direta consiste na instalação de uma determinada cultura sobre os resíduos inertes da cultura anterior sem nenhum tipo de mobilização primária nem de preparação da cama da semente, sendo a sementeira realizada com um semeador especial, capaz de semear diretamente em solo não mobilizado. 32 Página 66

70 f. A intenção de preservar os seres vivos e o seu ecossistema como legado para as gerações futuras. Tabela 2 - Serviços do ecossistema da Reserva da Biosfera de Castro Verde de acordo com o Millennium Ecosystem Assessment Framework (MA), The Economics of Ecosystems and Biodiversity (TEEB) Framework and the Common International Classification of Ecosystem Services (CICES). TEEB34 Alimento (forragem) Alimento Água doce Água Fibras e madeira Matérias-primas Recursos Genéticos Recursos Genéticos Bioquímicos Recursos Medicinais Recursos Ornamentais SERVIÇOS DE APROVISIONAMENTO MA33 Recursos Ornamentais CICES v.4.3. (aglutina as divisões e classes)35 Reserva da Biosfera de Castro Verde Biomassa: nutrição Ocorre Biomassa: materiais de plantas, algas e animais para uso agrícola Ocorre Água: para fins de consumo Ocorre Água: para outros fins que não o consumo Ocorre Biomassa: fibras e outros materiais de plantas, algas e animais para uso direto e processamento Ocorre Biomassa: materiais genéticos de todo o biota Ocorre parcialmente Biomassa: fibras e outros materiais de plantas, algas e animais para uso direto e processamento Ocorre Biomassa: fibras e outros materiais de plantas, algas e animais para uso direto e processamento Ocorre Biomassa: como fonte de energia Regulação da qualidade do ar Regulação da qualidade do ar Saneamento e tratamento da água Tratamento de efluentes (saneamento pela água) Regulação pela água Regulação da erosão Regulação dos fluxos aquáticos Moderação de eventos extremos Prevenção da erosão SERVIÇOS DE SUPORTE E DE REGULAÇÃO (MA); SERVIÇOS DE REGULAÇÃO (TEEB) E SERVIÇOS DE REGULAÇÃO E MANUTENÇÃO (CICES) Energia mecânica (baseada em força animal) Mediação dos fluxos gasosos Ocorre Mediação pelo biota (de resíduos, tóxicos ou de outras pragas) Ocorre Mediação pelo ecossistema (de resíduos, tóxicos ou de outras pragas) Ocorre Ocorre Mediação pelos fluxos aquáticos Ocorre Medição pelos fluxos de massa Ocorre parcialmente A classificação do MA é globalmente reconhecida e usada em avaliações sub-globais. A classificação TEEB é baseada no MA mas tem uma atualização que está a ser usada a nível nacional e na Europa A classificação CICES é um sistema hierárquico, construído com base no MA e TEEB mas que tem como objetivo a quantificação dos serviços do ecossistema Página 67

71 Regulação do clima Regulação do clima Composição atmosférica e regulação climática Ocorre Formação do solo Manutenção da fertilidade do solo Formação e composição do solo Ocorre parcialmente Polinização Polinização Manutenção do ciclo de vida e proteção do habitat e da diversidade genética Ocorre Controlo Biológico Controlo de pragas e doenças Ocorre Manutenção dos ciclos de vida de espécies migradoras (incluindo áreas de maternidade) Manutenção do ciclo de vida e proteção do habitat e da diversidade genética Ocorre Controlo de pragas Controlo de doenças Produção primária e ciclo dos nutrientes Formação e composição do solo Ocorre Manutenção da diversidade genética (incluindo a proteção dos genes) Manutenção do ciclo de vida e proteção do habitat e da diversidade genética Ocorre Valores espirituais e religiosos Experiência espiritual Espiritual ou emblemático Valores estéticos Informação estética Interações intelectuais e representacionais Ocorre Diversidade cultural Inspiração para a cultura, arte e design Interações intelectuais e representacionais Ocorre Espiritual ou emblemático Ocorre Interações físicas e experimentais Ocorre Interações intelectuais e representacionais Ocorre Outros bens culturais (existencial e legados) Ocorre Recreacional e ecoturismo Recreação e turismo Sistemas do conhecimento e valores educativos Informação e desenvolvimento cognitivo SERVIÇOS CULTURAIS Manutenção das condições da água Os beneficiários destes serviços do ecossistema são as comunidades locais, a comunidade científica, os visitantes e os utilizadores dos produtos gerados nesta Reserva da Biosfera (consumidores de minério, pão, mel, queijo, carne de ovinos e bovinos, cogumelos, ervas aromáticas, artesanato), bem como, a sociedade em geral pelos benefícios globais nos ciclos do ar, água e solo. A classificação como Reserva da Biosfera poderá ser um elemento potenciador da visitação deste território, dado funcionar como uma mais-valia no reconhecimento dos valores aqui existentes, contribuindo assim para valorizar este serviço do ecossistema. Página 68

72 Em termos de potenciais promotores de alterações identifica-se as alterações do uso do solo e das políticas, nomeadamente a Política Agrícola Comum (PAC) que pode induzir mudanças nos sistemas culturais agrícolas Indicadores de serviços dos ecossistemas utilizados para avaliar as três funções (conservação, desenvolvimento e apoio logístico) da reserva da biosfera Specify whether indicators of ecosystem services are used to evaluate the three functions (conservation, development and logistic) of biosphere reserves. If yes, which ones and give details. Iván Vr Não existem indicadores específicos dos serviços dos ecossistemas que possam avaliar as três funções da Reserva da Biosfera. Contudo acreditamos que esta proposta a Reserva da Biosfera as consegue cumprir, pela colaboração com os agentes locais e acompanhamento de um conjunto de indicadores de progresso, a definir no quadro da gestão da Reserva da Biosfera, de âmbito ambiental, económico e social. Como ferramentas de avaliação contínua do êxito e apoio à gestão da Reserva da Biosfera na realização de suas funções, estes indicadores de progresso devem ser simples e de fácil interpretação. Página 69

73 12.3. Biodiversidade envolvida na prestação de serviços dos ecossistemas na reserva da biosfera Describe biodiversity involved in the provision of ecosystems services in the biosphere reserve (e.g. species or groups of species involved). Tabela 3 - Espécies de aves envolvidas na prestação dos serviços do ecossistema da Reserva da Biosfera de Castro Verde Espécie Anexo I Diretiva Aves Serviço do Ecossistema Aquila adalberti Falco naumanni Otis tarda Tetrax tetrax Aquila chrysaetos Burhinus oedicnemus Circus cyaneus Sim Regulação/Suporte e Cultural Coracias garrulus Glareola pratincola Grus grus Hieraaetus fasciatus Milvus milvus Pterocles orientalis Outras Aves do Anexo I da Diretiva 79/409/CEE e Migradoras não incluídas Ciconia nigra Sim Ciconia ciconia Sim Netta rufina Milvus migrans Sim Gyps fulvus Sim Regulação/Suporte e Cultural Aegypius monachus Sim Circaetus gallicus Sim Falco columbarius Sim Falco peregrines Sim Coturnix coturnix Himantopus himantopus Sim Tabela 4 - Espécies de plantas das culturas agrícolas que prestam serviços do ecossistema culturas agrícolas. Espécie Serviço do ecossistema Phaseolus vulgaris Cicer aeritinum Lupinus alvus Pisum sativum Vicia sativa Lathyrus sativus Phaseolus lunatus Medicago sativa Lathyrus cicera Lathyrus angulatus Produção e Regulação/Suporte Avaliação dos serviços dos ecossistemas feita para a reserva da biosfera Página 70

74 Specify whether any ecosystem services assessment has been done for the proposed biosphere reserve. If yes, is this assessment used to develop the management plan? Não existe nenhuma avaliação dos serviços do ecossistema da Reserva da Biosfera proposta, prevendo-se que este trabalho seja efetuado futuramente no âmbito da execução do Plano de Ação da Reserva. Página 71

75 13. PRINCIPAIS OBJETIVOS DA RESERVA DA BIOSFERA MAIN OBJECTIVES FOR THE BIOSPHERE RESERVE S DESIGNATION Principais objetivos da reserva da biosfera, integrando as três funções (conservação, desenvolvimento e apoio logístico) Describe the main objectives of the proposed biosphere reserve, integrating the three functions (conservation, development and logistic), presented below (sections 14 to 16), including components of biological and cultural diversity. Please specify the indirect pressures and/or organizational issues. Os objetivos principais da futura Reserva da Biosfera de Castro Verde são: Conservar o ecossistema estepário, os habitats que o suportam e a sua biodiversidade, em especial a avifauna, tendo sempre presente o entendimento comum dos diversos atores do território; Manter a qualidade ambiental da paisagem e dos recursos naturais, em particular da água e do solo, através do fomento e da adoção de boas práticas com vista à sustentabilidade das atividades económicas, em particular da atividade agrícola; Aprofundar o consenso entre os objetivos de preservação ambiental e cultural com os de desenvolvimento económico e social do território, como forma de criar oportunidades ao nível das atividades económicas e aumentar a qualidade de vida das populações; Afirmar a identidade, valores, tradições e cultura local, de cariz rural, conferindo-lhes um papel catalisador no modelo de desenvolvimento do território a longo prazo; Fomentar a produção e intercâmbio de conhecimento, envolvendo a comunidade científica e outros atores institucionais Promover a formação e a sensibilização da população, e de toda a sociedade civil, para consciencializar dos benefícios e apoiar as ações, e responder a desafios, reais ou potenciais, referentes ao território. Objetivos de desenvolvimento sustentável da reserva da biosfera Describe the sustainable development objectives of the biosphere reserve. (If appropriate, please refer to Agenda 21, Rio+20 and SDG post 2015). A Reserva da Biosfera de Castro Verde proposta tem como princípio orientador a compatibilização da preservação dos valores naturais e do património histórico-cultural com as atividades económicas locais, potenciando a gestão sustentável do território e a valorização dos recursos existentes. Em termos de objetivos de desenvolvimento sustentável esta Reserva da Biosfera pretende contribuir para alguns dos objetivos previstos na Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável que se enquadram nas realidades deste território, nomeadamente: Garantir a proteção dos ecossistemas dulçaquícolas, nomeadamente as ribeiras e charcos temporários, bem como, a gestão integrada dos recursos hídricos, nomeadamente para melhorar a gestão da água (Objetivo 6: Água potável e saneamento garantir a disponibilidade e a gestão sustentável da água potável e do saneamento para todos); Promover uma agricultura sustentável, nomeadamente através da valorização das atividades agrícolas que contribuem para manter o ecossistema estepário e que são desenvolvidas nesta Reserva da Biosfera (Objetivo 15: Proteger a vida terrestre Proteger, restaurar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, travar e reverter a degradação dos solos e travar a perda da biodiversidade) Incentivar o conhecimento nas mais diversas áreas e garantir sistemas agrícolas sustentáveis com práticas resilientes, que ajudem a manter os ecossistemas e fortaleçam a capacidade de adaptação às alterações climáticas, às condições meteorológicas extremas, como as secas, e que melhorem progressivamente a qualidade da terra e do solo (Objetivo 2: Erradicar a fome Página 72

76 erradicar a fome, alcançar a segurança alimentar, melhorar a nutrição e promover a agricultura sustentável); Manter e assegurar a diversidade genética de sementes, plantas cultivadas e raças domésticas autóctones, bem como, das espécies de flora e fauna selvagens, e a sua salvaguarda de longo prazo através nomeadamente de Bancos de Germoplasma (Objetivo 2: Erradicar a fome); Promover o investimento nas infraestruturas rurais, investigação, extensão de serviços agrícolas e desenvolvimento de tecnologia para alcançar uma agricultura sustentável (Objetivo 2: Erradicar a fome); Promover a educação ambiental e para o desenvolvimento sustentável junto de toda a comunidade local mas sobretudo no público jovem, de forma a incentivar estilos de vida sustentáveis e em harmonia com a natureza (Objetivo 4: Educação de qualidade Garantir o acesso à educação inclusiva, de qualidade e equitativa, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos); Incentivar o empreendedorismo, criatividade e inovação, dissociando o crescimento económico da degradação ambiental (Objetivo 8: Trabalho digno e crescimento económico Promover o crescimento económico inclusivo e sustentável, o emprego pleno e produtivo e o trabalho digno para todos); Incentivar o turismo sustentável, que crie emprego e promova os valores naturais e culturais locais (Objetivo 8: Trabalho digno e crescimento económico); Incentivar o uso eficiente de recursos, com a adoção de tecnologias ambientalmente corretos, e fortalecer a investigação científica e a inovação (Objetivo 9: Indústria, inovação e infraestruturas Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação); Reforçar a resiliência e a capacidade de adaptação a riscos relacionados com o clima e as catástrofes naturais (Objetivo 13: Ação climática Adotar medidas urgentes para combater as alterações climáticas e os seus impactos); Melhorar a educação, aumentar a consciencialização e a capacidade humana e institucional sobre medidas de mitigação, adaptação, redução de impacto e alerta precoce no que respeita às alterações climáticas (Objetivo 13: Ação climática); Contribuir para a proteção e uso sustentável dos recursos naturais através de uma gestão sustentável e uso eficiente dos recursos naturais (Objetivo 12: Garantir padrões de consumo e de produção sustentáveis); Combater a desertificação, a degradação e erosão dos solos e promover a neutralidade em termos de degradação dos solos (Objetivo 15: Proteger a vida terrestre); Contribuir para travar a perda da biodiversidade, evitando a extinção de espécies ameaçadas, e fomentar a aplicação de mecanismos legais de proteção da natureza e da biodiversidade, nomeadamente no abate ilegal de espécies protegidas (Objetivo 15: Proteger a vida terrestre); Incentivar e promover parcerias com os atores locais para apoiar a realização dos objetivos de desenvolvimento sustentável desta Reserva da Biosfera (Objetivo 17: Parcerias para a implementação dos objetivos Reforçar os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável). É também de salientar a contínua aposta na formação, educação e sensibilização ambiental, quer da população local, quer dos decisores políticos e económicos, que constituem o universo de interlocutores das entidades com responsabilidade no domínio da conservação da natureza e da gestão das áreas classificadas. Este envolvimento permitirá uma maior participação pró-ativa nos processos de tomada de decisão relativos à gestão e conservação da natureza e promoção do desenvolvimento sustentável deste território. A Reserva da Biosfera proposta pretende funcionar como um exemplo de desenvolvimento sustentável, numa lógica de laboratório vivo da sustentabilidade. Página 73

77 13.3. Principais partes interessadas envolvidas na gestão da reserva da biosfera Indicate the main stakeholders involved in the management of the biosphere reserves. As principais entidades envolvidas na gestão da futura Reserva da Biosfera são, sobretudo, as responsáveis pela dinamização da presente candidatura (ou seja, a Câmara Municipal de Castro Verde, a Associação de Agricultores do Campo Branco e a Liga para a Protecção da Natureza) que disponibilizarão parte dos seus recursos para desempenho de funções no âmbito do Plano de Ação desta Reserva, conforme Acordo assinado. No entanto, a gestão envolverá entidades que, pela sua expressão territorial estão mais próximas das populações como as Juntas de Freguesia, ou porque têm tutela sobre o território como a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo ou o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, ou outras entidades, públicas ou privadas de atuação sectorial Processo de consulta usado para projetar a reserva da biosfera What consultation procedure was used for designing the biosphere reserve? No início do processo de elaboração da candidatura de Castro Verde a Reserva da Biosfera da UNESCO, foi constituída uma equipa de trabalho, que integra elementos da Câmara Municipal de Castro Verde, da Liga para a Protecção da Natureza e da Associação de Agricultores do Campo Branco, com a responsabilidade de executar todas as diligências e tarefas necessárias. O desenvolvimento da candidatura teve por base um princípio de envolvimento e participação alargados da comunidade e das partes interessadas, com a realização de sessões de informação para esclarecimentos e sessões participativas para auscultação de contributos. Neste sentido, realizaram-se três Sessões de Informação. A primeira destinou-se a instituições concelhias e supraconcelhias (públicas e privadas), a segunda aos agricultores residentes na área de Castro Verde e a terceira aos representantes das autarquias locais do concelho de Castro Verde. Com estas sessões pretendeu-se apresentar o Programa MaB e avaliar o interesse de candidatura deste concelho a Reserva da Biosfera. Salienta-se ainda a apresentação de intervenções no Conselho Cinegético Municipal de Castro Verde e Conselho Geral do Agrupamento de Escolas de Castro Verde. No seguimento das sessões anteriores, tendo por objetivo auscultar diferentes interlocutores, foram concretizadas cinco sessões participativas: três setoriais (agricultura, turismo e ensino) e duas de âmbito territorial (entidades concelhias e supraconcelhias). Estas sessões colocaram em prática metodologias participativas que permitiram recolher propostas e contributos para o Plano de Ação. O dossier de candidatura foi submetido a um processo de participação pública tendo estado disponível para consulta e contributos no sítio da internet da Câmara Municipal de Castro Verde bem como, em suporte papel, em diversos locais. No decorrer deste processo participativo foi realizada uma sessão pública de apresentação e esclarecimento com vista a clarificar e reforçar a participação da população local. O dossier de candidatura foi ainda apresentado e submetido à apreciação e aprovação da Assembleia Municipal de Castro Verde. No seu conjunto, todas estas ações permitiram informar e mobilizar a comunidade num processo mais proactivo e participativo, para a construção e bom funcionamento da futura Reserva da Biosfera. Importa ainda realçar a realização de visitas/reuniões a algumas Reservas da Biosfera (duas nacionais: Reserva da Biosfera da Graciosa, Reserva da Biosfera do Paul do Boquilobo; e uma espanhola: Reserva da Biosfera das Dehesas de Sierra Morena), que foram cruciais para a perceção das estratégias metodológicas e de comunicação adotadas em cada um dos respetivos processos de candidatura. Página 74

78 13.5. Participação das partes interessadas na implementação e gestão da reserva da biosfera How will stakeholder involvement in implementing and managing the biosphere reserve be fostered? Este processo de candidatura foi dinamizado por três entidades (Câmara Municipal de Castro Verde, Liga para a Protecção da Natureza e Associação de Agricultores do Campo Branco) que juntaram esforços para dar mais este passo no trabalho de conservação deste ecossistema e de desenvolvimento sustentável. No processo de construção e dinamização desta candidatura, muitas outras entidades, públicas e privadas, foram envolvidas e chamadas a participar. Pelo seu âmbito territorial ou setorial. Na implementação e gestão da Reserva da Biosfera de Castro Verde, as entidades já envolvidas bem como outras que possam ser consideradas nesse sentido, continuarão a participar ativamente a vários níveis: as entidades dinamizadoras desta candidatura integrarão o Conselho de Gestão e estarão, por isso, mais ativamente envolvidas. As restantes entidades constituirão o Conselho Consultivo, para além de serem naturalmente envolvidas no processo pelo seu âmbito quer territorial quer setorial Principais fontes previstas de recursos (financeiros, materiais e humanos) destinados a implementar os objetivos e projetos da reserva da biosfera What are the expected main sources of resources (financial, material and human) to implement the objectives of the biosphere reserve and projects within it? (Please provide formal commitments and engagements.) O financiamento será assegurado através de fontes diversas, nomeadamente: Iván Vr Pelo orçamento próprio da entidade promotora da ação ou iniciativa de entre as três entidades promotoras desta candidatura e que integram o Conselho de Gestão; Pelo orçamento próprio no caso de outras entidades, nomeadamente o Agrupamento de Escolas de Castro Verde ou a Universidade Sénior da Associação Sénior Castrense; Por fundos nacionais e comunitários, públicos ou privados que se revelem apropriados à implementação do Plano de Ação. Página 75

79 14. FUNÇÃO CONSERVAÇÃO CONSERVATION FUNCTION Ao nível das paisagens e dos ecossistemas (incluindo solos, água e clima) At the level of landscapes and ecosystems (including soils, water and climate): Castro Verde apresenta uma paisagem pouco acidentada, dominada por vegetação herbácea, e de baixo-relevo, com uma altitude média a rondar os 200 metros. Esta homogeneidade apenas é interrompida, aqui e ali, por vales pouco encaixados, alguns afloramentos rochosos e pequenas manchas de vegetação arbóreo-arbustiva. Derivados de xisto, os solos são delgados e pouco férteis, apresentando significativas limitações de utilização e elevados riscos de erosão. As limitações quanto ao uso do solo, a disponibilidade de água e a adversidade do clima, condicionaram, ao longo dos tempos, a sucessiva intervenção do Homem no território. Outrora esta zona seria constituída por verdadeiros bosques mediterrânicos. Hoje, Castro Verde tem uma peculiar paisagem humanizada que se caracteriza pela existência de cinco unidades ecológicas diferenciadas. De perfil maioritariamente xérico, a estepe cerealífera domina em extensão o território com culturas de plantas herbáceas (como os cereais e leguminosas), com um sistema radicular bem desenvolvido e/ou com órgãos de reserva subterrâneos. Sendo os solos pobres e esqueléticos, esta prática agrícola inclui fases de pousio, nas quais os campos são deixados sem qualquer cultura e são maioritariamente usados como pastagem para o gado. Esta gestão promove a existência de uma cobertura vegetal do solo, praticamente durante todo o ano, que o protege da erosão pela água da chuva e o vento e do excesso de insolação, além do aporte de nutrientes e matéria orgânica, por meio de resíduos vegetais e presença de gado. As formações arbustivas e arbóreas são dominadas por espécies xerófilas e esclerofilas típicas do mediterrâneo. Raras e pouco densas, estas correspondem a pequenas manchas de montado (sobretudo de azinho), olival tradicional, mato e matagal. A vegetação presente nestes distintos sistemas ecológicos encontra-se bem adaptada à escassez de água e ao calor, tendo raízes profundas que lhes permite captar água em profundidade e folhas revestidas de uma cutícula que as protege do excesso de transpiração. Os sobreiros que marcam presença pontual, nos montados de azinho e áreas de mato, têm ainda um revestimento esponjoso adicional a cortiça que os protege dos incêndios. Apesar de ocuparem uma pequena parte do território de Castro Verde, as zonas húmidas, sejam naturais (linhas de água e charcos temporários) ou artificiais (charcas, açudes e barragens), a comunidade vegetal que albergam, formada por espécies com elevada tolerância ecológica, é essencial à regulação de caudais, controlo da erosão do solo e efeitos derivados das alterações climáticas. Este mosaico de ecossistemas, que confere identidade à região, além de albergar uma vegetação riquíssima de relevante expressão ambiental, desempenha funções importantes na conservação do solo, na regularização do ciclo hidrológico e na qualidade da água, na produção de oxigénio e consequente sequestro do carbono da atmosfera, e ainda à mitigação das alterações climáticas. Página 76

80 Descrever e localizar os ecossistemas e dos tipos de coberto vegetal da reserva da biosfera Describe and give the location of ecosystems and/or land cover types of the biosphere reserve. Cerca de 82% da área candidata é ocupada por vastas planícies onde a vegetação herbácea, anual ou perene, e a escassez de árvores predominam. Designado por estepe cerealífera, este ecossistema agrícola corresponde a um mosaico espacial e sazonal de habitats que incluem searas, restolhos, campos de leguminosas, campos lavrados, pousios de diferentes idades e pastagens. As searas comportam monoculturas de cereais, como o Trigo (Triticum spp.) e a Aveia (Avena spp.), podendo existir consociações constituídas por um cereal e uma leguminosa. Os pousios e pastagens (naturais ou melhoradas) apresentam uma grande diversidade florística, formada por ervas rasteiras que servem muitas vezes de pasto, tais como: Echium plantagineum, Nonea vesicaria, Anacyclus clavatus, Chysanthemum segetum, Rumex bucephalophorus e muitas outras. Representado em pequenas manchas, dispersas no território, o montado compreende cerca de 13% da área. Este ecossistema semi-natural tipicamente mediterrânico é constituído, maioritariamente, por azinheiras (Quercus rotundifolia) e alguns sobreiros (Quercus suber), podendo o sub-coberto ser aproveitado para o cultivo de cereais de sequeiro em rotação com pousios-pastagem, ou apenas como pastagem (a ovinos e/ou bovinos). Nestas situações, a estrutura da vegetação herbácea é semelhante à das zonas de estepe cerealífera. Resultante do abandono das terras ou não aproveitamento do subcoberto, podemos ainda encontrar vegetação semi-arbustiva e arbustiva espontânea, mais ou menos densa, onde a Esteva (Cistus ladanifer) é a espécie dominante. Testemunho da vegetação original da região, as manchas de matos e matagal perfazem 4% da área da reserva e são constituídas por formações sub-xerofítica. Os matos compostos por estevas (Cistus spp.) são as formações arbustivas mais frequentes e estão associados à presença de incultos, abandono agrícola e pecuário de terras, ou aos últimos anos de pousios. No estrato subarbustivo, de porte mais reduzido, aparecem frequentemente plantas aromáticas originárias da região do Mediterrâneo. O matagal ocorre sobretudo em áreas declivosas como as das encostas dos vales encaixados de alguns cursos de água como a Ribeira de Cobres e a Ribeira Maria Delgada, onde a intervenção humana pouco se faz sentir. Habitualmente dominado por pequenas árvores como o Lentisco (Pistacia lentiscusa), o Zambujeiro (Olea europaea) ou a Murta (Myrtus communis), têm ainda uma grande diversidade de plantas rasteiras, em especial de aromáticas. Os olivais são escassos e de reduzida dimensão, estando confinados a menos de 1% da área. Mantidos em regime de sequeiro, o sub-coberto é geralmente ocupado por vegetação herbácea espontânea que, não sendo pastoreada, pode atingir um porte elevado na primavera, secando totalmente no verão. O estrato arbóreo também pode ter algumas árvores de fruto como figueiras e amendoeiras. Associada às margens de algumas zonas húmidas, em especial aos de água, onde subsiste ainda equilíbrio biológico, as galerias ripícolas podem apresentar uma estrutura e composição diversificada, composta por espécies espontâneas como o Loendro (Nerium oleander), a Tamargueira (Tamarix gallica), o Tamujo (Myrsine africana), freixos, choupos ou salgueiros. Bem localizadas no território estas áreas ocupam menos de 1% da superfície Descrever o estado e as tendências dos ecossistemas e dos tipos de coberto vegetal descritos, bem como os controladores, naturais e humanos, das tendências Describe the state and trends of the ecosystems and/or land cover types described above and the natural and human drivers of the trends. Apesar do bom estado de conservação do ecossistema estepário de Castro Verde, existe um risco real (acentuado por previsíveis efeitos da Política Agrícola Comum de abandono agrícola em Página 77

81 terrenos menos produtivos, com progressão de matos e com efeitos negativos para a avifauna estepária. Já os terrenos mais produtivos estão sujeitos a uma agricultura mais intensiva (com desaparecimento da rotação tradicional e sobrepastoreio) e à instalação culturas permanentes (como a vinha, olival). A florestação de terrenos agrícolas, em virtude de apoios comunitários bastante aliciantes, apesar de estar fortemente condicionada, também é uma realidade. Uma grande parte dos montados do Baixo Alentejo está atualmente em perigo, devido a más práticas de gestão. A região do Campo Branco e Castro Verde não é exceção. O abandono do pastoreio nas áreas mais pobres, com o consequente aparecimento de espécies arbustivas pioneiras, como é o o caso da Esteva (Cistus ladanifer), a intensificação desse mesmo pastoreio e a mobilização extrema dos solos, podem condicionar a conservação das manchas naturais de azinhal presentes em Castro Verde. As manchas de matos, mais baixos e abertos, são geralmente aproveitadas para pastoreio extensivo de gado. Este uso evita o aumento do grau de cobertura de espécies arbustivas-arbóreas, ou seja, a progressão destas áreas para matos altos, bosques ou estádios mais evoluídos do que o habitat existente. Contudo, e à semelhança do que tem acontecido um pouco por todo o país, nas últimas décadas, podemos vir a assistir ao aumento quer das áreas de matos quer da sua evolução para formações mais complexas, pela deserção física das terras de menor relevância económica e produtiva. Ambas as situações afetam diretamente a variedade de nichos ecológicos, com eventual perda de biodiversidade. Algumas práticas como o uso excessivo de herbicidas, que poluem as águas, o acesso desordenado de gado bovino, que leva à deposição de excretos e compactação do solo, assim como ações profundas de mobilização do solo, nas margens e leito, levam à degradação ou destruição irreversível das condições naturais de muitas zonas húmidas. Por sua vez, as mobilizações do solo para nivelamento dos terrenos (terraplanagem) para fins agrícolas, estão na origem do desaparecimento de pequenos corpos de água, em especial de charcos temporários típicos mediterrânicos com interesse prioritário para a conservação. Página 78

82 Mecanismos de proteção existentes (incluindo costumes e tradições) para as zonas núcleo e tampão What kind of protection regimes (including customary and traditional) exist for the core area(s) and the buffer zone(s)? A Zona Tampão está classificada como Zona de Proteção Especial (ZPE) para as aves de Castro Verde, ao abrigo da Diretiva Aves, fazendo parte da Rede Europeia de Espaços Naturais (Rede Natura 2000). Inseridas em plena Zona Tampão as Zonas Núcleo partilham dos mesmos instrumentos de gestão das Zonas Tampão. Ao nível de instrumentos de gestão do território todas estas zonas estão sujeitas ao Plano Diretor Municipal (PDM) de Castro Verde e ao Plano Sectorial da Rede Natura 2000 (PSRN2000). Anterior à implementação da Rede Natura 2000, o PDM do concelho de Castro Verde, publicado em 1993, consagra legalmente a interdição na área do Biótopo Corine 36 de Castro Verde (atual área geográfica da ZPE de Castro Verde), mais de 2/3 da superfície do concelho, à instalação de florestas de crescimento rápido, apontando-se para a recuperação da agricultura tradicional. Esta medida permite assim compatibilizar o uso da terra com a preservação da natureza, muito particularmente, da sua avifauna. O PSRN2000 é um instrumento de gestão territorial, que define as orientações estratégicas para a gestão do território abrangido pelas áreas Rede Natura em território nacional, considerando os valores naturais que nelas ocorrem. Na sua essência, é um instrumento para a gestão da biodiversidade. Neste contexto, as principais orientações de gestão, no que respeita à conservação da fauna, da flora e dos habitats, tendo em conta o desenvolvimento económico e social das Zonas Núcleo e Zona Tampão encontram-se definidas nas respetivas fichas das duas ZPEs que integram. No âmbito da Política Agrícola Comum (PAC) e desenhadas ao abrigo do Regulamento (CEE) n.º 2078/92, do Conselho, de 30 de Junho, as Zonas Núcleo e Zona Tampão dispõem ainda de medidas de apoio a métodos de produção agrícola compatíveis com a proteção do ambiente e a manutenção das características específicas e diversificadas da paisagem rural. Conhecidas por Medidas Agroambientais (MAAs), estas instituem um regime de ajudas aos agricultores que, numa lógica de gestão ativa, assumam compromissos que visam a conservação e o fomento da biodiversidade. No atual Programa de Desenvolvimento Rural (PDR2020), as medidas de carater agroambiental tidas para as áreas Rede Natura 2000 inseridas na área de Castro Verde são: - para a área geográfica da ZPE de Castro Verde: o «Apoio Zonal de Castro Verde», que compreende o compromisso «Manutenção de rotação de sequeiro cereal-pousio»; - para a área geográfica da ZPE de Piçarras: o «Apoio Zonal Outras Áreas Estepárias», que compreende o compromisso «Manutenção de rotação de sequeiro cereal-pousio». A acrescer Castro Verde foi a primeira região do pais a ter um Programa Agroambiental específico. Em vigor desde 1995 e localmente ainda conhecido por Plano Zonal de Castro Verde, esta medida tem sido a principal responsável pela manutenção do sistema agrícola tradicional, com resultados evidentes na conservação das aves estepárias. Mesmo não sendo um instrumento regulador, pois são de adesão voluntária e só interferem nas decisões do agricultor quanto à gestão das explorações agrícolas, as MAAs são um motor para o desenvolvimento de uma nova perspetiva na gestão do espaço rural. Potenciadas, estas são um instrumento que garante a gestão integrada de áreas com elevado valor ambiental. Dos 2.538,22ha que compreendem as Zonas Núcleo 1.314ha estão classificadas como Zonas de Interdição à Caça (ZIC). Distribuindo-se por cinco explorações agrícolas, estas áreas pretendem proporcionar, em especial, às aves estepárias, como a Abetarda, Sisão e Peneireiro-das-torres, as Os biótopos Corine são áreas de elevadíssimo interesse faunístico inventariados como «sítios de interesse para a conservação da Natureza» Projeto Corine. 36 Página 79

83 condições necessárias para o completo desenrolar dos ciclos biológicos. Não sendo permitida a atividade cinegética, estas funcionam também como zonas de refúgio às espécies cinegéticas (de caça menor). Por sua vez, 6 dos 11 prédios rústicos inseridos nas diferentes Zonas Núcleo dispõem de um plano de gestão que considera diversos tipos de ações de gestão agrícola, de gestão do património construído e de gestão das linhas de água, com vista à salvaguarda dos valores naturais que encerram. Adquiridas pela LPN, no âmbito do Programa LIFE da União Europeia, com o propósito da salvaguarda das aves e ecossistema estepário, a gestão agrícola é assim assegurada por acordos anuais com agricultores da região. Neste ato é assumido um compromisso de seguir um conjunto de boas práticas que visam respeitar o ciclo biológico e a ecologia das aves e incorporar as preocupações com a conservação do solo e da água. Por fim, as manchas de montado (sobretudo de azinho) que ocorrem na Zona Tampão constituem um habitat protegido pela Diretiva Habitats e pela Lei de Proteção do Montado (Decreto-Lei n.º 169/2001, de 23 de outubro, na redação dada pelo Decreto-Lei n.º 155/2004, de 30 de junho) Indicadores ou dados utilizados para avaliar a eficiência das ações ou da estratégia usada Which indicators or data are used to assess the efficiency of the actions/strategy used? Como ferramentas de avaliação das ações preconizadas no domínio da conservação da natureza e da biodiversidade, prevê-se adotar indicadores de monitorização, práticos e de fácil execução. São exemplos de indicadores: número de projetos realizados, em domínios como a conservação da natureza e biodiversidade, agricultura sustentável, alterações climáticas e combate à desertificação; número de hectares em regime de rotação de sequeiro cereal-pousio; número de cabeças de gado e respetiva espécie pecuária; número de agricultores aderentes a medidas agroambientais, área envolvida e montantes recebidos; número de indivíduos de populações de espécies indicadoras do estado de conservação do ecossistema estepário; número locais de nidificação e sua qualidade; número ações de minimização de ameaças diretas à sobrevivência das aves estepárias (sinalização de linhas elétricas, colocação de passagens inferiores para a fauna, etc.); elaboração de listas de espécies e habitats com os respetivos estatutos de conservação. Acresce a análise de resultados relativos ao Programa de Desenvolvimento Rural do Continente Português, bem como programas específicos de conservação de espécies. Resta realçar que os indicadores propostos não esgotam as possibilidades neste domínio, podendo existir outros indicadores igualmente válidos por ora não contemplados. Página 80

84 14.2. Ao nível da diversidade das espécies e dos ecossistemas At the level of species and ecosystem diversity: Em resultado da ocupação milenar da terra, intrinsecamente associada a práticas agrícolas e pecuárias extensivas, Castro Verde apresenta uma grande diversidade e abundância de espécies selvagens, de fauna e flora, com reconhecido estatuto de conservação, e habitats seminaturais com elevado valor de conservação, como é o caso dos sistemas de agricultura cerealífera extensiva e montados. O grupo mais bem representado é o da avifauna. De acordo com o estatuto fenológico constante de ICNB (2011), o elenco avifaunístico desta região é dominado por espécies residentes, seguindo-se as nidificantes estivais e as invernantes. Muitas destas são protegidas pelo Anexo I da Diretiva Aves, que inclui as aves de interesse comunitário cuja conservação requer a designação de zonas de proteção especial. Entre as aves residentes destaca-se o conjunto de espécies conhecidas por estepárias, onde evidencia-se a Abetarda (Otis tarda), espécie em perigo de extinção no nosso país e considerada como vulnerável na lista vermelha da IUCN. Destaca-se ainda o Sisão (Tetrax tetrax), que apesar de não estar ameaçado a nível mundial, têm o estatuto de vulnerável em Portugal. Igualmente relevantes, temos o Cortiçol-de-barriga-preta (Pterocles orientalis), o Alcaravão (Burhinus oedicnemus), a Calhandra-real (Melanocorypha calandra), o Trigueirão (Emberiza calandar) e a Cotovia-de-poupa (Galerida theklae), que encontram aqui todas as condições necessárias à sua sobrevivência. À exceção do Cortiçol-de-barriganegra, que apenas se encontra incluído no Anexo II da convenção de Berna e no Anexo I da Diretiva Aves, todas as outras espécies encontram-se adicionalmente referidas no Anexo II da Convenção de Bona. No grupo de aves migradoras estivais destaca-se o Rolieiro (Coracias garrulus). Raro em Portugal e incluído na Diretiva Aves (Anexo I) e Convenções de Berna e de Bona, o Rolieiro nidifica em Castro Verde em cavidades de árvores ou montes abandonados, ocupando também caixas-ninho e cavidades de torres e paredes de nidificação (construídas para o efeito). Destacam-se ainda duas rapinas que vêm nidificar à estepe cerealífera. O Peneireiro-das-torres (Falco naumanni), com o estatuto de vulnerável no país, encontra-se no Anexo I da Diretiva Aves, como prioritária, e nos Anexos II das Convenções de Berna e de Bona. Este pequeno falcão nidifica em Castro Verde em edificações construídas pelo Homem (montes abandonados, torres e paredes de nidificação e até caixas-ninho). O Tartaranhão-caçador (Circus pygargus), também classificado como vulnerável depende dos habitats de agricultura cerealífera de sequeiro tradicional nidificando no chão das searas, estando protegido pela Diretiva Aves (Anexo I) e pelas Convenções de Berna (Anexo II) e de Bona (Anexo II). Entre as aves invernantes destaca-se a ocorrência em números elevados de Tarambola-dourada (Pluvialis apricaria), de Abibe (Vanellus vanellus), de Petinha-dos-prados (Anthus pratensise) e de Laverca (Alauda arvenses). Em Portugal, Castro Verde é ainda uma das zonas mais importantes de invernada do Grou (Grus grus), que se encontra incluido no Anexo II da Convenção de Berna e de Bona e no Anexo I da Diretiva Aves. Por sua vez esta é uma das espécies consideradas pela BirdLife International 2004 com estatuto de conservação desfavorável, na Europa. A estepe cerealífera de Castro Verde é também utilizada como área de assentamento para juvenis de grandes águias, como a Águia de Bonelli (Hieraaetus fasciatus) e a Águia-real (Aquila chrysaetos), ambas raras e prioritárias, mencionadas no Anexo I da Diretiva Aves e nos Anexos II das Convenções de Berna e de Bona. Acresce a presença de Águia-imperial-ibérica (Aquila adalberti) um endemismo ibérico e a ave de rapina mais ameaçada da Europa e uma das mais ameaçadas entre todas as espécies mundiais, estando classificada como em perigo de extinção pelo IUCN. Em relação às aves necrófagas, destaca-se o Abutre-preto (Aegypius monachus), uma espécie em perigo e classificada no Anexo I da Diretiva Aves como prioritária e nos Anexos II das Convenções de Berna e de Bona. Também o Grifo (Gyps fulvus), espécie vulnerável é mencionado nos mesmos anexos da Directiva Aves e das Convenções anteriores, sendo possível ser avistado muitas vezes com Abutrespretos em áreas de pousio onde se alimentam de carcaças de gado. Página 81

85 No grupo das aves com interesse cinegético encontramos a Piadeira (Anas penelope), a Frisada (Anas strepera) e a Marrequinha (Anas crecca), que frequentam zonas húmidas com acumulação de água (como açudes e barragens). O Pato-real (Anas platyrhynchos), apesar de residente, vê as suas populações serem substancialmente reforçadas no inverno com a chegada de migradores. A Codorniz (Coturnix coturnix) tem também esta região como ponto de partida, de chegada e local de passagem. A Perdiz-vermelha (Alectoris rufa), muito abundante nos terrenos agrícolas alternados com pousios e manchas de matos, é das aves sedentárias aquela que apresenta com maior interesse cinegético Por fim, destacam-se ainda a presença de espécies, sem estatuto de ameaça em Portugal mas que se encontram mencionadas no Anexo I da Diretiva Aves, como é o caso do Guarda-rios (Alcedo athis), da Cotovia-pequena (Lullula arborea) e da Felosa-do-mato (Sylvia undata). Contando com a presença de cerca de duas centenas de espécies de aves, entre residentes, invernantes e estivais, este território é um dos hot spots de observação de aves, no nosso País, e um dos mais importantes ao nível na Europa, para a observação de aves sendo que a variabilidade de espécies se conjuga com a diversidade da morfologia do terreno, a manutenção da agricultura cerealífera tradicional, o montado, os matos, as massas hídricas presentes e da maior ou menor intervenção humana. Entre a mamofauna ocorrem alguns Quirópteros muitos deles no mesmo tipo de habitat, estando na sua maioria considerados "Em Perigo" no nosso país e classificados nos Anexos II e IV da Diretiva Habitat. O Morcego-rabudo (Tadarida teniotis) é raro e o Morcego-de-peluche (Miniopterus schreibersi), vulnerável. As albufeiras, o meio rural e urbano, apresentam uma elevada frequência de morcegos, apesar de haver maior diversidade nos biótipos florestais. Entre os mamíferos terrestres, destaca-se a Lontra (Lutra lutra) uma espécie Insuficientemente Conhecida e está mencionada nos Anexos II da Diretiva Habitat e da Convenção de Berna. Ocorre em ribeiras com galeria ripícola, aberta e fechada, e em albufeiras. Apesar de raro e distribuição limitada, o Rato de Cabrera (Microtus cabrerae) é o único roedor endémico da Península Ibérica estando em perigo e mencionado nos Anexos II da Diretiva Habitat e da Convenção de Berna. Existem outros mamíferos menos ameaçados mas que apresentam distribuição restrita ou interesse conservacionista a nível nacional ou europeu. É o caso do Sacarrabos (Herpestes ichneumon) uma espécie mais comum e que ocupa uma grande diversidade de locais. Apesar disso, é apenas detectada no centro e sul do país. A Geneta (Genetta genetta) tem uma distribuição restrita na Europa mas, no entanto, é uma espécie comum em Portugal e ocorre em diversos habitats. Um dos mamíferos com interesse cinegético existentes é o Coelho-bravo (Oryctolagus cuniculos). Frequenta terrenos cobertos de urze, matos prados e cultivos, abundando em zonas de orla em montados. Parece beneficiar de uma exploração silvopastoril moderada que proporcione a existência de pastos abundantes. A Lebre (Lepus granatensis) prefere as planícies agrícolas embora também apresente boas densidades em montados de sobro e azinho. O Javali (Sus scrofa) comporta-se como um omnívoro oportunista e frequenta vários habitats, desde que disponha de vegetação de refúgio em abundância. A Raposa (Vulpes vulpes) é uma espécie que inclui na sua dieta uma grande variedade de alimentos e frequenta habitats também diversos. Na herpetofauna destacam-se entre os répteis a Cobra-de-pernas-pentadáctila e o Cágado-dacarapaça-estriada, e entre os anfíbios o Sapo-parteiro-ibérico e a Osga-turca. Presente em matagais onde se refugia entre as raízes dos arbustos, a Cobra-de-pernaspentadáctila (Chalcides bedriagai) é um endemismo ibérico e está mencionada no Anexo IV da Diretiva Habitat e no Anexo III da Convenção de Berna. Já o Cágado-de-carapaça-estriada (Emys orbicularis) possui o estatuto de Insuficientemente Conhecido em Portugal estando mencionado no Anexo IV da Diretiva Habitats e no Anexo II da Convenção de Berna. O Sapo-parteiro-ibérico (Alytes cisternasii) também é um endemismo da Península Ibérica bem adaptado ao clima mediterrânico e que se encontra a baixas altitudes, onde as temperaturas são mais elevadas, e está referido no Anexo IV da Diretiva Habitats e no Anexo II da Convenção de Berna. Também com o estatuto de Insuficientemente Conhecida no país a Página 82

86 Osga-turca (Hemidactylus turcicus) é bastante rara em Portugal e vive em zonas pedregosas, muros velhos, ruínas de habitações, sob cascas de árvores ou troncos apodrecidos, estando incluída no Anexo III da Convenção de Berna. No grupo dos anfíbios, mesmo não estando ameaçadas em Portugal, destacam-se ainda espécies como a Salamandra-de-costas-salientes ou Salamandra-dos-poços (Pleurodeles walt), que consta do Anexo III da Convenção de Berna. O Tritão-marmoreado ou Tritão-verde (Triturus marmoratus) e a Rã-defocinho-pontiagudo (Discoglossus galganoi), endémica do Oeste da Península Ibérica, também estão referidos no Anexo III da Convenção de Berna e no Anexo IV da Diretiva Habitats. Relativamente frequente, o Sapo-de-unha-negra (Pelobates cultripes) consta do Anexo IV da Diretiva Habitats e no Anexo II da Convenção de Berna. Mesmo sendo pouco frequente, o Sapinho-de-verrugas-verdes (Pelodytes punctatus) também não é uma espécie ameaçada em Portugal estando mencionado no Anexo III da Convenção de Berna. O Sapo-comum (Bufo bufo) também consta do Anexo III da Convenção de Berna mas, ao contrário da espécie anterior, ocorre com frequência em todo o Baixo Alentejo. O Sapocorredor (Bufo calamita) está referido no Anexo IV da Diretiva habitats e no Anexo II da Convenção de Berna. A Rela-meridional (Hyla meridionalis) que vive em zonas húmidas, albufeiras e cursos de água, consta do Anexo IV da Diretiva habitats e do Anexo III da Convenção de Berna. Presente em praticamente todos os habitats aquáticos a Rã-verde (Rana perezi) está classificada no Anexo V da Diretiva Habitats e no Anexo III da Convenção de Berna. Mesmo sem estatuto de ameaçada em Portugal, nos répteis destaca-se ainda a Cobra-deferradura (Coluber hippocrepis) que ocupa uma grande variedade de ambientes, sendo frequente nas zonas urbanas, e consta do Anexo IV da Diretiva Habitats e do Anexo II da Convenção de Berna. Ocupando uma grande variedade de habitats, desde charcos até ribeiros temporários com fundo lodoso ou arenoso, tanques, e, em alguns casos, águas represadas, temos o Cágado mediterrânico (Mauremys leprosa) referido nos Anexos II e IV da Diretiva habitats e no Anexo II da Convenção de Berna. Na ictiofauna, são de realçar três endemismos ibéricos: o Barbo de Steindachner (Barbus steindachneri), espécie quase ameaçada, a Boga-de-boca-arqueada (Chondrostoma lemmingii), espécie em perigo e a Boga-do-Guadiana (Chondrostoma willkommii) que, tal como o nome sugere, distribui-se apenas pela Bacia do Guadiana e tem o estatuto de vulnerável. Ao nível da comunidade florística, contam-se algumas espécies raras ou de distribuição localizada de especial interesse conservacionista. Nos extratos herbáceos, destaca-se o Coutinho (Linaria ricardoi) uma espécie prioritária para a conservação, listada no Anexo II da Diretiva Habitats. Esta constitui um endemismo do Sudeste do nosso país cuja sua distribuição geográfica é restrita em particular, à região do Alentejo interior, habitando searas. Nas formações sub-xerofilas, como os matos, surge o Rosmaninho (Lavandula luisieri), um endemismo da Península Ibérica e o Caméfito (Armeria neglecta), uma espécie endémica lusitana restrita à região de Beja que se encontra em perigo de extinção e que consta do Anexo II da Diretiva Habitats. Ao nível do estrato herbáceo subarbustivo destacam-se ainda gramíneas como a Braquipódio-de-duas-espigas (Brachypodium distachyon), uma espécie observada somente na região Mediterrânica, Este da Europa, e Oeste da Ásia e Macaronésia. Nas formações que se aproximam do matagal mediterrânico encontram-se plantas endémicas, características do mediterrânio, como o Zambujeiro (Olea europaea sylvestris), a Aroeira (Pistacia lentiscus) e o Lentisco-bastardo (Phyllirea angustifolia). No estrato herbáceo, evidencia-se o Trevo-dequatro-folhas-peludo (Marsilea batardae), espécie endémica da Península Ibérica, que em Portugal ocorre apenas no Alentejo, estando inserida no Anexo II e IV da Diretiva Habitats e Anexo I da Convenção de Berna. Associada a terrenos incultos, montados e matagal degradados temos a Rabaça-fedorenta (Elaeoselinum foetidum), de distribuição geográfica confinada ao Sul de Portugal e SW de Espanha. Em azinhais, matagais, estevais e pousios, em locais secos, pedregosos ou algo degradados, é possível ter a Página 83

87 presença da Nêveda-ramosa (Nepeta multibracteata var. lusitânica), restrita ao SW da Península Ibérica e Norte de África. No global, pode-se dizer que na área de Castro Verde encontram-se 2 endemismos lusitânicos e vários endemismos ibéricos, e várias espécies com distribuição restrita à Bacia do Mediterrâneo. Esta concentração de espécies endémicas, a par de espécies com elevado estatuto de ameaça, nomeadamente de aves estepárias e aves de rapina, faz deste território um dos Hotspots de biodiversidade existentes no mundo, de acordo com a Conservation International. Dada a riqueza e singularidade da fauna e flora, a Reserva da Biosfera proposta tem um papel importante a desempenhar na conservação deste valioso património natural (Figura 7). Figura 7 Mapa mundial com hotspots (com destaque área mediterrâneo) Página 84

88 Identificar os principais grupos de espécies ou espécies de especial interesse para os objetivos de conservação, especialmente aquelas que são endémicas para a reserva da biosfera proposta, e fornecer uma breve descrição das comunidades em que elas ocorrem Identify main groups of species or species of particular interest for the conservation objectives, especially those that are endemic to this biosphere reserve, and provide a brief description of the communities in which they occur. As aves estepárias e as rapinas diurnas correspondem aos principais valores, correspondendo às espécies-alvo que justificaram a inclusão da quase totalidade do território da Reserva da Biosfera de Castro Verde na Rede Natura Em relação às estepárias, para além da Abetarda e do Sisão, existem outras aves espécies-alvo de conservação com estatuto populacional desfavorável, como o Grou, o Alcaravão, o Cortiçol-de-barrigapreto e a Calhandra-real. Quanto às aves de rapina, este território é importante pela existência de efetivos de aves de rapina não reprodutoras, sendo uma área de assentamento para a Águia-real, Águia-imperial-ibérica e Águia de Bonelli. Para além destas rapinas, há ainda a registar como espécies-alvo o Milhafre-preto, o Milhafre-real, o Tartaranhão-caçador, o Tartaranhão-azulado, o Peneireiro-das-torres e o Peneireirocinzento Pressões sobre as espécies-alvo What are the pressures on key species? In other words: what are the threats (example unsustainable management of forest), their immediate causes (drivers of change like forest change or habitat change), their underlying causes (example overgrazing, fire, pollution), and the main driving forces (example: economic, political, social, external, etc.) and the area(s) concerned? Ao dependem do mosaico criado pela rotação das culturas arvenses de sequeiro (searas de trigo, aveia e cevada) com a existência de pousios (que servem de pastagens), a perda de habitat favorável nas áreas de ocorrência das aves estepárias têm levado a declínios acentuados de várias espécies, em especial na Europa, encontrando-se algumas ameaçadas de extinção à escala global. Uma das principais ameaças às aves estepárias é o desaparecimento de áreas de nidificação e de alimentação, através da conversão de usos agrícolas. Como o cultivo tradicional de cereais de sequeiro é pouco rentável, as áreas estepárias têm vindo a diminuir um pouco por toda a Europa. Entre as principais causas desta perda, está a substituição do cultivo tradicional de cereais, por culturas de regadio (como o milho e o girassol) ou permanentes (como a vinha e o olival) e a florestação de terras agrícolas. O abandono das terras, com o aparecimento de matos, e a intensificação da rotação cereal-pousio, com a diminuição da área em pousio e o aumento do número de cabeças de gado, são igualmente duas realidades que ao provocarem alterações na estrutura da vegetação potenciam o declínio das populações de aves. A construção de grandes-infraestruturas (como estradas e barragens) e a instalação de vedações, nos campos agrícolas, leva à fragmentação e até mesmo ao desaparecimento de habitat favorável às aves estepárias. As vedações funcionam ainda como barreira à circulação das aves, sobretudo às crias não voadoras, pois impede a sua livre circulação e acesso a áreas de alimentação e de abeberamento. Outros fatores, como realização de trabalhos com máquinas agrícolas, em especial na altura das ceifas, a colisão com as fiadas de arame fardado das vedações e a colisão e eletrocussão com linhas elétricas, têm sido as principais causas de morte não natural em espécies como a Abetarda e o Sisão, entre muitas outras. O uso de pesticidas, além de provocarem a diminuição da quantidade de alimento (sobretudo insetos), é também uma causa de morte de aves adultas, crias e juvenis, ao ingerirem alimentos contaminados. Página 85

89 Para aves que nidificam em cavidades existentes em construções humanas, como o Peneireirodas-torres e o Rolieiro, a recuperação ou derrocada daquelas estruturas tem levado à perda de locais de nidificação. As alterações climáticas representam uma nova ameaça. O aumento da frequência de fenómenos climáticos extremos e fora de época (como secas e vagas de calor) provoca uma maior degradação da qualidade do habitat (por exemplo ao nível da estrutura e coberto da vegetação), maior mortalidade de crias e até á alteração de padrões de migração (com a chegada ou partida prematura de aves migradoras) Medidas e indicadores atualmente utilizados ou previstos serem usados para avaliar as espécies e as pressões sobre elas What kind of measures and indicators are currently used, or planned to be used to assess both species groups and the pressures on them? Who undertakes this work, or will do so in the future? No quadro de aplicação das medidas agroambientais em vigor e futuras, os Programas de Desenvolvimento Rural (PDR) para o continente dispõem de um conjunto de indicadores agroambientais (IAA) 37 que permitem identificar, qualificar, quantificar e avaliar tendências das interações mais significativas entre a agricultura e o ambiente. Esta monitorização tem fornecido informações sobre o sucesso da aplicação de práticas agrícolas concretas, adesão dos agricultores, assim como ameaças e pressões sentidas ao nível do sector agrário. Ao nível da comunidade avifaunistica, a monitorização de espécies alvo, mediante a realização de amostragens sistemáticas ou censos, tem permitido obter dados quanto à distribuição espacial e áreas de ocorrência, estimativa dos efetivos populacionais e sua tendência, utilização dos biótopos existentes e impacto de medidas agroambientais nos habitats e espécies. Já o Protocolo AVIFAUNA, celebrado entre a EDP Distribuição-Energia SA, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), a Quercus Associação Nacional para a Conservação da Natureza e a LPN, tem permitido avaliar os impactes das linhas elétricas de alta a e média tensão sobre a Abetarda e o Sisão (espécies protegidas particularmente suscetíveis à mortalidade induzida por estas infraestruturas). Tem também permitido aprofundar o conhecimento sobre a dispersão de aves prioritárias, como a Águia-imperial-ibérica e a Águia-de-bonelli, bem como a problemática da electrocução em apoios elétricos de média tensão. A utilização turística e de recreio do território de Castro Verde é por sua vez atestada pelo número crescente de visitantes que se dirigem ao posto de turismo da região, assim como ao Centro de Educação Ambiental do vale Gonçalinho. O Plano de Acão da Reserva da Biosfera contemplará a continuidade de algumas acções de monitorização regularmente em curso bem como a produção de indicadores específicos de acompanhamento Ações empreendidas atualmente para reduzir as pressões What actions are currently undertaken to reduce these pressures? A proteção estabelecida no PDM do concelho de Castro Verde às áreas agrícolas, a classificação de parte do território de Castro Verde como ZPE, a implementação e a adesão dos agricultores às medidas agroambientais, bem como o desenvolvimento de ações de conservação da natureza e 37 Exemplos de indicadores de realização e resultados: N.º total de beneficiários; N.º de hectares abrangidos; Nível médio das ajudas, por hectare; Nível médio das ajudas, por exploração; Aumento do número de agricultores aderentes (%); Cobertura da superfície agrícola útil (SAL) (%); Alargar o âmbito das medidas agroambientais a um maior n.º de espaços e paisagens tradicionais. Página 86

90 biodiversidade, têm sido os instrumentos chave para a manutenção e melhoramento do estado de conservação favorável do ecossistema estepário, desde Ao consagrar legalmente a interdição de mais de 2/3 do concelho de Castro Verde à instalação de florestas de crescimento rápido, o PDM de Castro Verde tem sido um veículo para compatibilizar o uso da terra com a preservação da natureza, muito particularmente, da sua avifauna, na área candidata a Reserva da Biosfera. O território classificado como ZPE encontra-se, por sua vez, vinculado ao Plano Sectorial da Rede Natura Como instrumento de gestão, este define orientações estratégicas que visam a manutenção das espécies e habitats num estado de conservação favorável, bem como medidas de redução de outras pressões antropogénicas cujas entidades públicas deverão adotar. Por sua vez, ao consagrarem apoios importantes aos agricultores para a manutenção da agricultura tradicional, as medidas agroambientais viabilizam em grande parte a estratégia preconizada no PDM e PSRN2000. Em vigor desde 1995, ao incentivar a adoção de técnicas agrícolas e pecuárias favoráveis à conservação do solo, água e biodiversidade, os resultados são hoje particularmente visíveis, não apenas na proteção das espécies, mas igualmente na salvaguarda dos terrenos delgados da região. Nesta temática, a sensibilização dos agricultores para a adesão às medidas agroambientais e dos decisores políticos para a importância da sua manutenção continua a ser uma importante linha de trabalho para a salvaguarda dos valores culturais e naturais existentes na reserva de Castro Verde. A contínua realização de estudos e projetos de pesquisa, contribuirá para identificar necessidades e perspetivas de conservação futuras, bem como testar e monitorizar medidas para minimizar os impactos negativos sobre os recursos naturais. As ações de demonstração, esclarecimento e disseminação de informação, em particular junto de agricultores, proprietários e caçadores, asseguram a adoção a longo prazo de medidas concretas para a gestão do habitat e conservação das aves estepárias. Não obstante, e para além da comunidade escolar, o trabalho em conjunto com entidades locais, regionais e até nacionais, públicas e privadas, será sempre catalisador de colaborações que visam a sustentabilidade do território Ações destinadas a reduzir essas pressões What actions do you intend to take to reduce these pressures? Para além das ações descritas no ponto anterior, existem medidas concretas que reduzem, em especial, a vulnerabilidade das aves estepárias. Através de acordos com agricultores e proprietários, tem sido possível retirar vedações em áreas de parada nupcial de Abetarda, sinalizar as fiadas de arame farpado em vedações permanentes, e instalar passagens para a fauna. Estas medidas permitem reduzir os impactes da elevada densidade de vedações nos campos, que tem como consequência a colisão de aves com o arame farpado e o efeito barreira. Como medidas de adaptação às alterações climáticas a instalação de bebedouros, pontos de alimentação e locais de abrigo (marouços), são ações que os gestores agrícolas e cinegéticos têm preconizado para maximizar a sobrevivência das aves estepárias, das aves cinegéticas e do gado. O envolvimento de entidades de distribuição de energia tem permitido a correção de linhas elétricas identificadas como perigosas para as aves, mediante a colocação de dispositivos anticolisão nos fios aéreos e isolamento dos apoios de postes de média e alta tensão. A consolidação de edifícios onde nidificam Peneireiros-das-torres, a construção de estruturas de nidificação (torres ou paredes) e a colocação de caixas-ninho, em muitas das explorações onde existem colónias desta espécie, tem levado à melhoria das condições de nidificação deste falcão assim como de outras aves como o Rolieiro. Página 87

91 14.3. Ao nível da diversidade genética At the level of genetic diversity: Mesmo considerando as limitações dos solos e as ações antrópicas centenárias de favorecimento do cultivo de cereais de sequeiro, Castro Verde possui uma elevada riqueza de recursos biológicos e genéticos, sobretudo, importantes para a agricultura, a pecuária, a floresta e a conservação da natureza. A nomeação do território de Castro Verde como Reserva da Biosfera vai ao encontro da salvaguarda deste importante património, que pelas suas características intrínsecas de variabilidade e coevolução permitirá fazer face a eventuais alterações ambientais que possam surgir no futuro nos ecossistemas caraterísticos Espécies ou variedades com importância, designadamente para a conservação, medicina, produção de alimentos, agrobiodiversidade, práticas culturais, etc. Indicate species or varieties that are of importance (e.g. for conservation, medicine, food production, agrobiodiversity, cultural practices etc). No caso da agricultura existe um elevado número de variedades vegetais tradicionais englobadas em diferentes grupos: cereais, leguminosas, espécies forrageiras e hortícolas. Apesar de não haver informação suficiente, o uso de sementes oriundas de processos artesanais de reprodução sequencial terá levado à existência de algumas variedades que reúnem um conjunto de características que lhes proporcionam grande rusticidade e capacidade de adaptação às difíceis condições edafoclimáticas de Castro Verde. Nos cereais, temos o exemplo do trigo barbelo, ainda usado nas áreas mais áridas. Entre as hortícolas destaca-se o pau-roxo, uma cenoura roxa tradicional cultivada nas hortas locais e vendida na Feira de S. Sebastião, ou do Pau-Roxo, que ocorre anualmente na vila de Castro Verde no dia 20 de janeiro. Destaca-se ainda o Grão-de-bico-preto (Cicer arietinum), uma leguminosa muitas vezes usada para alimentação do gado, e até mesmo da fauna selvagem. Na pecuária verifica-se a existência de um número significativo de efetivos de bovinos e ovinos, maioritariamente de raças autóctones em risco. Nos bovinos destaca-se a raça Mertolenga, uma das raças portuguesas cuja carne tem denominação de origem, e a Garvonesa (ou Chamusca). Com muito poucos exemplares adultos a Garvonesa é considerada particularmente ameaçada, sendo a AACB a entidade responsável a nível nacional pelo Registo Zootécnico da Raça. Originária de França, a raça Limousine é que conta com mais efetivos na região. Presente em Portugal desde os meados do século XX e com elevada rusticidade, é atualmente a raça com melhores resultados, em linha pura e no cruzamento com algumas raças autóctones nacionais, oferecendo uma larga gama de produtos finais, desde excecionais bezerros ao desmame até resultados em engorda únicos. Entre as raças autóctones de ovinos, a raça Merina é a que conta com mais efetivos na região. Considerada em vias de extinção na década de 90 do século XX a atribuição de ajudas mediante as Medidas Agroambientais permitiu o seu crescimento até à atualidade. Originária do Campo Branco, a ovelha Campaniça tem em Castro Verde pouca expressão. De entre as características morfológicas mais marcantes desta raça, destaca-se a lã de alta qualidade. A sua rusticidade e extraordinária resistência destes animais às condições agrestes do meio, permite que seja considerada como uma raça resultante duma seleção quase natural. Ao nível de espécies florestais e arbóreas, destaca-se a azinheira, o sobreiro, a oliveira e a figueira. Ocorrendo de forma isolada ou em manchas pouco densas, estas espécies tipicamente mediterrânicas estão bem adaptadas ao território, sendo mais resistentes a pragas, doenças e a períodos longos de estio e chuvas intensas. A acrescer representam uma fonte de produção e suporte de alimento à fauna selvagem, como as aves estepárias. Página 88

92 Ao nível da flora natural, destaca-se várias espécies ribeirinhas autóctones, como o Loendro (Nerium oleander), o Freixo (Fraxinus angustifolia) e a Murta (Myrtus communis), de extrema importância na preservação e melhoria das galerias ripícolas. A presença de espécies bravias e tipicamente mediterrânicas de plantas aromáticas, medicinais e condimentares, como o Poejo (Mentha pulegium) e a Acelga-brava (Beta vulgaris), ainda usadas na tradição popular, incrementa biodiversidade à paisagem vegetal constituindo um valioso recurso para o futuro. Acresce a Trufa branca, ou simplesmente, a Túbera (Choiromyces gangliformis), um macrofungo subterrâneo presente nos matos de estevas e que ocorre sobretudo na primavera no sudoeste da Península Ibérica e Marrocos. O segredo da sua apanha é passado de pais a filhos, e raramente partilhado fora do círculo familiar. De sabor suave e delicado, vendem-se principalmente em fresco no mercado local para a confeção de diversas preparações, sendo muito popular na gastronomia regional e nalgumas províncias do Sul da Espanha. Por vezes são congeladas para se comerem mais tarde, já fora da época. Os espargos selvagens (Asparagus officinalis) são igualmente bastantes usados na gastronomia local, nas tão apreciadas migas de espargos. Popularmente usado para obter coalho (a partir da flor) no processo de produção de queijo, o Cardo leiteiro (Cynara cardunculus) tem igualmente grande potencial ornamental, medicinal e gastronómico, sendo hoje alvo de uma crescente atenção e valorização. Em rigor o interesse do Homem por esta planta silvestre, que cresce espontaneamente nas áreas em pousio ou incultas, é muito anterior remontando, pelo menos, ao período romano. A ocorrência de mais de duas centenas de espécies de aves, na sua maioria com elevado estatuto de conservação nacional e internacional, cria particulares responsabilidades na implementação de programas de conservação e utilização sustentável visando a sua salvaguarda Pressões ou mudanças ambientais, económicas ou sociais que ameaçam espécies ou variedades What ecological, economic or social pressures or changes may threaten these species or varieties? Os recursos biológicos e genéticos presentes na área de Castro Verde estão intimamente associados ao cultivo de cereais e à pecuária extensiva, ou seja à manutenção da estepe cerealífera. Nesse sentido, todas as ações tendentes à ocupação destes terrenos agrícolas com atividades de maior impacte (culturas de regadio ou permanentes), o abandono das terras, a florestação e até mesmo a intensificação do esquema de rotação cereal-pousio podem ser consideradas nocivas para a diversidade biológica que suporta este ecossistema. Pese embora o papel que o sistema tradicional de produção desempenha quer como gerador de um património natural único, de produtos de qualidade (carne, leite e lã), quer como âncora de fixação das populações, de combate à desertificação, entre outros, há muita incerteza em relação ao seu futuro. A sua continuidade só será possível (e rentável) se o papel agroambiental que desempenham for devidamente reconhecido e remunerado. A apanha e exploração desadequada de cogumelos, plantas alimentares, aromáticas e medicinais, vistos como uma fonte de rendimento suplementar para as populações locais, pode ameaçar a sobrevivência destes recursos silvestres e o equilíbrio ecológico dos habitats assim como comprometer a segurança alimentar dos consumidores. As novas oportunidades ligadas ao turismo de natureza, com incremento da presença humana e circulação de veículos motorizados, podem causar impactos negativos que superam os impactos positivos desta atividade. Uma excessiva pressão sobre as espécies e ecossistemas, pode acarretar a degradação de áreas mais frágeis, compactação dos solos resultante do pisoteamento, perda da cobertura vegetal e do solo, aceleramento de processos erosivos, fuga da fauna nativa, entre outros. Página 89

93 Indicadores, ao nível da espécie, usados ou previstos para avaliar a evolução do estado da população e do respetivo uso What indicators, at the level of the species, are used, or will be used, to assess the evolution of population status and associated use? Através dos pagamentos diretos aos agricultores no âmbito da Política Agrícola Comum, e por via do preenchimento dos respetivos formulários, permitem acompanhar a tendência da atividade agrícola e pecuária na região (pela verificação de quais são as principais culturas, qual o efetivo pecuário, quais as raças, entre outros parâmetros). A institucionalização do Registo Zootécnico, pela Direção Geral dos Serviços Pecuários, para as diferentes raças de bovinos e ovinos, permite verificar a evolução do efetivo pecuário, explorado em linha pura, constituído por fêmeas reprodutoras e/ou por machos reprodutores. Esta informação é particularmente importante para aferir o estado das raças autóctones classificadas como em risco, e com isso assegurar uma adequada gestão. Ao nível da fauna, em especial das aves estepárias, são promovidos censos para algumas das espécies mais emblemáticas da região. Para além disso existe um claro delineamento das áreas de maior ocorrência daquelas aves, bem como das mais sensíveis, permitindo implementar medidas de gestão consentâneas com os ciclos de vida das populações que ali ocorrem. Em complemento, as listas de controlo de fauna e flora endémicas e indígenas (i.e., listas vermelhas) e de monitorização de espécies exóticas e invasoras, regularmente atualizadas pela autoridade nacional para a conservação da natureza (o CNF), permitem verificar qual a evolução e tendências do estado de conservação das diferentes espécies, em particular ao nível nacional. A classificação como Reserva da Biosfera vem reforçar e incentivar a necessidade de ampliar e diversificar os processos de monitorização, em especial quanto às espécies endémicas e caraterísticas do ecossistema estepário. Página 90

94 Medidas que serão usadas para preservar a diversidade genética e práticas associadas a essa preservação What measures will be used to conserve genetic diversity and practices associated with their conservation? A nível nacional, a utilização dos recursos biológicos e dos recursos genéticos rege-se pelos princípios estabelecidos pela Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CDB) 38, do Protocolo de Nagoya39 e do Regulamento ABS (Access and Benefit-Sharing)40. Estes instrumentos visam a utilização sustentável dos componentes da diversidade biológica, a partilha justa e equitativa dos benefícios daí provenientes e a minimização dos impactes adversos da atividade económica sobre a biodiversidade. Em Castro Verde, a capacitação e formação de diferentes atores (como agricultores e caçadores), para o uso sustentável dos recursos naturais, assim como a sensibilização e mobilização do público em geral para a conservação ativa da biodiversidade local, continuarão a ser peças fundamentais para o bom uso e gestão de habitats e espécies com elevado estatuto de conservação. Para disseminar e consolidar de informação sobre a gestão do acesso e uso do património natural, em especial, pelos principais setores de atividade que interagem com o património natural, a elaboração de diferentes materiais de comunicação, como manuais de boas práticas (agrícola, cinegética e visitação) tem ajudado a preservar, manter e até aumentar a qualidade ambiental e a diversidade biológica. A CDB é o instrumento legal internacional para a conservação e utilização sustentável da diversidade biológica, e Portugal aprovou-a para ratificação através do Decreto-Lei nº21/93 de 29 de Junho, tendo entrado em vigor no nosso País a 21 de março de O Protocolo de Nagoia é um tratado internacional, com efeitos juridicamente vinculativos, que alarga o quadro geral da CDB, tendo entrado em vigor em outubro de O Regulamento ABS (Regulamento (UE) N.º 511/2014 sobre acesso aos recursos genéticos e partilha justa e equitativa dos benefícios decorrentes da sua utilização na União Europeia) tem em vista a aplicação dos elementos obrigatórios do Protocolo de Nagoia na União Europeia. 38 Página 91

95 15. FUNÇÃO DESENVOLVIMENTO DEVELOPMENT FUNCTION Potencial para promover o desenvolvimento económico e humano de forma sócio-cultural e ambientalmente sustentável Potential for fostering economic and human development which is socio-culturally and ecologically sustainable: Demostrar o potencial da reserva da biosfera proposta como local de excelência e modelo, à escala regional, para a promoção do desenvolvimento sustentável Describe how and why the area has potential to serve as a site of excellence/model region for promoting sustainable development. Castro Verde caracteriza-se do ponto de vista paisagístico como uma planície ligeiramente ondulada e com poucas árvores. Mas nem sempre foi assim: até há pouco mais d e um século atrás, esta era uma zona com uma paisagem monótona de matagais. Foi no final do século XIX que o incremento agrícola levou ao desbravamento desses matos e ao desenvolvimento nesta zona de uma economia rural assente numa agricultura extensiva e numa pecuária sobretudo de ovinos. A paisagem assim construída configura-se como um ecossistema de estepe cerealífera, onde se pratica uma agricultura ambientalmente equilibrada e que, por essa razão, é o habitat de eleição para uma importante população de aves estepárias que aqui vivem ou nidificam como a abetarda, o sisão, o peneireiro, o rolieiro entre outras. Conscientes da importância deste ecossistema, classificado como Biótopo Corine, IBA (Important Bird Area) e Zona de Proteção Especial, no início dos anos 90 do século XX, o Município de Castro Verde, a Liga para a Protecção da Natureza e a Associação de Agricultores do Campo Branco uniram esforços com o objetivo de aprofundar esta relação entre a agricultura e este ecossistema estepário, desenvolvendo e aperfeiçoando as técnicas e práticas culturais tradicionais com vista à manutenção e ao desenvolvimento da sustentabilidade agrícola e ambiental. Este contexto ambiental tem vindo a tornar Castro Verde um importante destino nacional e internacional de turismo cultural e de natureza e, em particular, de observação de aves (birdwatching). Turismo de natureza porque a fruição deste ecossistema e desta paisagem são apelativos para um público cada vez mais vasto: pelas características cénicas desta zona, pela sua qualidade ambiental, mas também pelos elementos florísticos que a compõem, nomeadamente alguma flora espontânea com utilização tradicional. Mas também as aves estepárias, algumas delas despertando grande interesse sendo, por isso, esta zona procurada pelos birdwatchers, sobretudo oriundos do Norte da Europa que há muito conhecem este território. É frequente, quando percorremos as estradas e caminhos rurais de Castro Verde, encontrarmos visitantes com o seu equipamento praticando birdwatching. Desta conciliação dos valores ambientais com a atividade agrícola e pecuária resultam produtos de grande qualidade de que se destacam os cereais, as leguminosas e os animais para carne, sobretudo ovinos de raças autóctones (sobretudo o merino), mas também outros produtos como o vinho regional alentejano, as plantas aromáticas e medicinais, o queijo de ovelha feito com coalho vegetal (D.O.P.), os enchidos tradicionais de porco ibérico, o mel puro de abelha, o pão ou a doçaria tradicionais. É com muitos destes produtos que se confeciona a conhecida e reconhecida gastronomia regional alentejana, integrante da Dieta Mediterrânica que foi classificada pela UNESCO como Património Imaterial da Humanidade. Para além da agricultura, a atividade económica de Castro Verde assenta no comércio e nos serviços e também na indústria mineira que assegura um alto nível de empregabilidade local e que demonstra uma grande preocupação com os impactes da sua atividade. A demonstrar essa preocupação estão, para além da atividade constante e eficaz do seu Departamento de Ambiente a edição recente, pela empresa mineira, de um guia da biodiversidade da região (Figura 8) e do documentário de Daniel Pinheiro Página 92

96 O Cante da Terra sobre a mesma ) temática (disponível em: Figura 8 - Capa e contracapa do livro Uma Mina de Biodiversidade editado em 2013 pela empresa mineira Somincor. A empresa mineira tem ainda toda a informação sobre biodiversidade da zona onde se localiza e decorre a atividade extrativa numa página web disponível em A comunidade de Castro Verde tem uma forte identidade que se manifesta através da preservação da sua cultura popular presente em tradições como a da viola campaniça, o canto de despique e baldão ou o cante alentejano a vozes classificado, este último, pela UNESCO como Património Imaterial da Humanidade, existindo dez grupos de cante em Castro Verde. Mas também noutros acontecimentos como, por exemplo, a última grande feira tradicional do sul de Portugal, a conhecida Feira de Castro, ou festas de tradição religiosa popular como a romaria do S. Miguel no segundo fim-de-semana de Maio, a Aleluia em S. Marcos da Atabueira pela Páscoa, em que um grupo de homens percorre a aldeia com chocalhos, ou a romaria de Nossa Sra. de Aracelis no último fim-de-semana de Agosto. Mas Castro Verde é também uma terra com uma forte dinâmica cultural aberta às correntes artísticas contemporâneas e eruditas, de que destacamos eventos culturais como o Entrudanças que se realiza no Entrudo na vila de Entradas que concilia as danças do mundo com a convivialidade popular tradicional, o Programa Cultural Primavera no Campo Branco que se estende ao longo de um mês entre meados de Abril e meados de Maio e que inclui muitos e variados espetáculos de dança, teatro, diferentes géneros musicais (tradicional, erudita, jazz, popular, etc.) e que conta com um forte envolvimento de Associações e projetos locais. Ou outros eventos como, por exemplo, as Festas da Vila e Comemoração do Feriado Municipal que se realiza no final de Junho e a Planície Mediterrânica que, como o nome indica, celebra a cultura do contexto mediterrânico, que se realiza no segundo fim-de-semana de Setembro e que conta com um leque variado de iniciativas desde música, teatro, gastronomia, exposições de artes plásticas, oficinas de dança e bailes de tradição, animação de rua, percurso pelas tabernas, um mercado de produtos da terra, um espaço de mostra e venda de artesanato, etc. Mas, para além destes eventos, decorrem outros ao longo de todo o ano, de iniciativa do Município ou de entidades locais, mas também resultantes de colaborações com entidades externas de que se destacam o Festival Terras Sem Sombra Página 93

97 (Figura 9), que decorre em várias localidades do distrito de Beja incluindo Castro Verde, e que tem como objetivo dinamizar os edifícios religiosos organizando nesses espaços espetáculos de música erudita de excecional qualidade. Este Festival tem associado a cada espetáculo uma atividade relacionada com a biodiversidade. Figura 9 Programa do Festival Terras Sem Sombra Toda esta dinâmica social e cultural concorre para a dinamização do espaço público, interior e exterior e, naturalmente, potencia a participação cívica e o exercício da cidadania Avaliação das alterações e progressos How do you assess changes and successes (which objectives and by which indicator)? A avaliação das alterações e dos progressos será feita através do acompanhamento da implementação do Plano de Acão e do impacte das ações aí previstas. Para além disto serão ainda acompanhados um conjunto de indicadores, a definir no quadro da gestão da Reserva da Biosfera, de âmbito económico e turístico, demográfico e ambiental. Página 94

98 15.2. A importância do turismo If tourism is a major activity: Tipos de turismo e equipamentos turísticos disponíveis Describe the type(s) of tourism and the touristic facilities available. Summarize the main touristic attractions in the proposed biosphere reserve and their location(s). O Plano Regional de Ordenamento do Território do Alentejo (Resolução do Conselho de Ministros publicada em Diário da República em 2 de agosto de 2010), região onde se situa Castro Verde, refere que o turismo tem registado uma crescente importância como atividade económica regional e A qualidade e a diversidade dos atrativos patrimoniais permitem que no Alentejo se possa desenvolver um turismo orientado para as mais variadas vertentes, com especial vocação para as formas menos convencionais e massificadas, nomeadamente, turismo de natureza ( ). Mais adiante, mais refere Castro Verde (único Plano Zonal do país onde as aves estepárias marcam presença) ( ). Este conjunto de valores patrimoniais potencia a realização de atividades turísticas diretamente relacionadas com a natureza e o ambiente ( ). Este é o potencial de turismo de natureza deste território, que tarda em se desenvolver, e que ganhará projeção e visibilidade com a classificação da Reserva da Biosfera de Castro Verde. A atividade turística em Castro Verde encontra-se ainda numa fase inicial de desenvolvimento. No entanto o número de visitantes registados no Centro de Promoção do Turismo e do Património - Posto de Turismo tem vindo paulatinamente a aumentar, quer no que se refere aos visitantes nacionais quer aos estrangeiros, como se poderá ver adiante. São três os principais tipos de procura turística em Castro Verde: O touring cultural e paisagístico, que congrega um turismo misto de interesse paisagísticonatural associado à cultura e à gastronomia. É um tipo de visitação de descoberta do território nos seus mais variados aspetos e que tem um peso significativo no turismo local; O turismo cultural, centrado nos recursos património e cultura tradicional, mas também na forte dinâmica cultural de Castro Verde; o turismo de natureza centrado na fruição do património natural, nos percursos de natureza e na observação de aves (birdwatching) e que se constitui como o maior recurso turístico de Castro Verde. Existem duas estruturas de acolhimento e encaminhamento de visitantes em Castro Verde: o Centro de Promoção do Turismo e do Património - Posto de Turismo (C.P.P.T.-P.T.) direcionado para o turista mais comum e de interesses mais generalistas, que se situa no centro da vila de Castro Verde, e o Centro de Educação Ambiental do Vale Gonçalinho (C.E.A.V.G.), propriedade da associação ambientalista Liga para a Protecção da Natureza, e direcionado para o turista de natureza e, em particular, o observador de aves. No âmbito do turismo cultural, as principais atracões são os monumentos de que destacamos a Basílica Real de Castro Verde, os museus como o Museu da Lucerna com a sua coleção única de lucernas do período romano, o Tesouro da Basílica Real com a sua preciosa coleção de alfaias e estatuária religiosa e o Museu da Ruralidade, com sede na vila de Entradas e com vários núcleos distribuídos pela Reserva da Biosfera e de que destacamos o espaço-sede dedicado ao mundo rural e ao património imaterial, como o Cante Alentejano, elemento fulcral da cultura popular tradicional regional. Outro grupo de turistas culturais são os que aqui se deslocam atraídos por alguns dos eventos culturais e que, por esses eventos se prolongarem por vários dias, aqui ficam alojados durante os dias em que decorrem. Página 95

99 No que respeita ao turismo de natureza, este refere-se ao interesse pelos elementos naturais da região, concretamente os seus aspetos morfológicos e geológicos bem como o coberto vegetal. Castro Verde dispõe de vários percursos pedestres para a fruição da natureza e de um conjunto de caminhos rurais que permitem a descoberta do mundo rural. De entre os interessados no património natural, alguns visitantes procuram aspetos mais específicos, desde as plantas com utilização tradicional (aromáticas, condimentares, medicinais e alimentares, etc. etnobotânica) até aos interessados nas várias espécies de outras plantas, nomeadamente de flores, como algumas espécies de orquídeas e lírios espontâneos nesta região. Mas, o elemento natural com mais procura é a fauna nomeadamente, neste contexto, a avifauna estepária como, por exemplo, a abetarda, o sisão, o cortiçol-de-barriga-preta, o rolieiro, a popa, a pega azul ou a cegonha e também aves de presa como o peneireiro-das-torres, a águia imperial, a águia caçadeira ou o milhafre. Castro Verde dispõe ainda de dez unidades de alojamento: dois hotéis e um Parque de Campismo na vila sede de concelho, e sete unidades de Turismo em Espaço Rural dispersas no território da Reserva da Biosfera num total de 190 camas. O Parque de Campismo e Caravanismo de Castro Verde, dispõe de alvéolos para tendas, caravanas e autocaravanas e 10 bungalows-apartamentos com um total de 24 camas. Grande parte dos clientes dos alvéolos do Parque de Campismo são caravanistas e autocaravanistas do Norte da Europa que aqui ficam alojados durante o Inverno por períodos muito longos (por vezes durante dois ou três meses) devido à amenidade do clima e ao baixo custo de vida e, durante esse período, vão visitando a região atraídos também pela sua riqueza paisagística e natural. Castro Verde dispõe ainda de 22 estabelecimentos de restauração, dos quais 17 na vila sede de concelho (Tabela 5). Tabela 5 - Alojamentos existentes na área da Reserva da Biosfera. (Fontes: sites do Município de Castro Verde e dos alojamentos respetivos) Unidade de Alojamento Tipo N.º de Quartos N.º de camas Hotel A Esteva Hotel 3* Hotel Vila Verde Hotel 3* Casa dos Castelejos Turismo Rural 8 19 Casa da Fonte da Perdiz Turismo Rural 8 14 Monte da Apariça Turismo Rural 2 4 Monte da Quinta Turismo Rural 5 10 Monte da Ameixa Turismo Rural 5 10 Fontes Bárbaras Turismo Rural e Enoturismo Turismo Rural 8 18 Abetarda Turismo Rural Parque de Campismo de Castro Verde TOTAL Página 96

100 Número anual de visitantes na reserva da biosfera proposta How many visitors come to the proposed biosphere reserve each year? (Distinguish between single-day visitors and overnight guests, visitors only visiting the proposed biosphere reserve or only passing on the way to another place). Is there an upward or downward trend, or a particular target? Com se disse acima, Castro Verde é um destino turístico ainda numa fase inicial do seu desenvolvimento, tendo vindo a registar um número crescente de visitantes. O registo de visitantes no Centro de Promoção do Património e do Turismo - Posto de Turismo nos últimos três anos reflete isso mesmo. No entanto devemos ter presente que, dos visitantes de Castro Verde, nem todos vão ao Posto de Turismo não sendo, por isso, feito o seu registo. Porque, em muitos casos, trazem já consigo a informação daquilo que pretende visitar ou fruir, ou acedem a essa informação via internet. Assim, o número real de visitantes será substancial superior ao registados no Posto de Turismo de Castro Verde: Ano N.º de Visitantes Deste total de visitantes e nos três últimos anos, cerca de dois terços são visitantes nacionais e um terço estrangeiros de que se destacam, pelo seu número, os cidadãos do Reino Unido, França, Espanha e Alemanha. Um dos picos de visitantes estrangeiros verifica-se no período de final do Inverno e início da Primavera o que indicia uma procura relacionada com a observação de aves, uma vez que é essa a altura do ano mais interessante para esta atividade pois decorre no período em que as aves invernantes ainda estão presentes e as nidificantes estão a chegar ao território. Os visitantes registados no Centro de Educação Ambiental do Vale Gonçalinho que procuram o recurso natureza nomeadamente o birdwatching foram, nos últimos anos, os seguintes: Ano N.º de Visitantes Mais uma vez se chama a atenção para o fato de que há muitos birdwatchers que visitam Castro Verde, que fazem as suas observações pelo campo, mas que não vão nem ao Posto de Turismo nem ao Centro de Educação Ambiental porque já trazem consigo informação sobre os melhores locais para observação das aves disponível, quer em guias editados no Reino Unido como os que a imagem abaixo mostra, quer em sítios da internet ou blogs sobre birdwatching, como o conhecido FatBirder, acessível em Os observadores de aves, que são sobretudo cidadãos estrangeiros estão, na sua maioria, alojados em unidades situadas na região vizinha do Algarve, fazendo deslocações diárias ao território e regressando ao seu alojamento ao final do dia. Para concretizar os dados relativamente ao alojamento e tomando como exemplo os dados relativos à ocupação dos bungalows/apartamentos do Parque de Campismo, a evolução recente dessa ocupação foi a seguinte: Ano Ocupação Página 97

101 Ou seja, para uma capacidade de alojamento nos bungalows - apartamentos de apenas, como vimos acima, 24 camas, temos um total em 2015 de dormidas o que corresponde a uma taxa de ocupação de 42,4%. Os restantes alojamentos terão uma taxa de ocupação ligeiramente mais baixa. Castro Verde, ecossistema estepário, vai sendo conhecido internacionalmente no meio birdwatcher como um dos locais do mundo onde observar estas aves com facilidade. Situado na Europa e, por isso, próximo dos grandes mercados emissores, região amigável, com bons preços, boa gastronomia e bons vinhos que são um bom complemento de um dia no campo. E, por isso, Castro Verde é uma zona que vai sendo procurada cada vez mais por este produto, sendo considerada no meio do birdwatching internacional um sítio a descobrir, ainda desconhecido, um best kept secret. O desafio é fazer de Castro Verde um destino com projeção internacional, criteriosamente gerido, de grande qualidade e fazer desta atividade uma atividade económica que gere mais-valias para o território Gestão das atividades turísticas How are tourism activities currently managed? O Plano Estratégico Nacional do Turismo (PENT) considera o turismo de natureza como um produto estratégico que, no caso do Alentejo, está em desenvolvimento. Também, o documento Estratégia Turismo 2027, atualmente em discussão pública, refere no capítulo 10 ativos para uma estratégia a 10 anos, a Natureza e Biodiversidade como um ativo diferenciador. Neste sentido, e no que se refere especificamente ao produto observação de aves, Castro Verde integra uma parceria, que inclui entidades públicas e empresariais da área do turismo, que tem como objetivo estruturar o produto birdwatching. Os visitantes que chegam a Castro Verde podem dirigir-se aos pontos de receção e acolhimento existentes: o CPPT - Posto de Turismo na vila de Castro Verde e o Centro de Educação Ambiental do Vale Gonçalinho, noutra zona da Reserva da Biosfera e mais direcionado para o turista de natureza, onde é fornecida informação e os visitantes são encaminhados para os locais a visitar ou para as atividades e iniciativas que possam acontecer ou que queiram realizar. Os monumentos visitáveis e os museus têm todos eles pontos de receção e dispõem de técnicos habilitados a prestar informação e a fazer visitas acompanhadas, se o visitante assim o desejar. Para além disto e no que se refere aos espaços públicos e às zonas rurais, a visita é livre e sem enquadramento, exceto nos grupos enquadrados pelo CPPT - Posto de Turismo ou por empresa de animação turística. Figura 10 Mapas de ambos os guias ingleses. Página 98

102 Impactes positivos e negativos do turismo, atuais e previsíveis, e como serão avaliados Indicate possible positive and/or negative impacts of tourism at present or foreseen and how they will be assessed (linked to section 14)? Os impactes positivos esperados da atividade turística e do seu desenvolvimento serão diretos no que se refere aos serviços do próprio sector, como os serviços de alojamento, de restauração e de animação, mas também em todo o sector dos serviços e do comércio. Por outro lado, os artesãos e produtores locais beneficiarão também do desenvolvimento da atividade turística, fazendo os turistas as suas compras localmente. Os impactes negativos poderão ser a sobrecarga do destino, sobretudo no que diz respeito aos ecossistemas O acompanhamento do desenvolvimento da atividade turística e dos seus impactes será feito pelo acompanhamento do número de visitantes e da sua distribuição, mas também pelos censos de aves que já se fazem (abetardas e sisões) e por outros que serão definidos Gestão dos impactes do turismo How will these impacts be managed, and by whom? A minimização dos impactes da atividade turística poderá conseguir-se pelo incremento das visitas acompanhadas ou enquadradas por técnicos locais e pela definição de percursos de natureza e de observação de aves que encaminhem os visitantes para zonas que reduzam a perturbação provocada pela presença de visitantes. A observação de aves, se bem que praticada por pessoas geralmente mais respeitadoras das boas práticas do turismo de natureza, é também um tipo de turismo mais sensível e que facilmente tem impactes mais gravosos devido ao comportamento ou à frequência da presença de visitantes. Daí que haja restrições à visitação nalgumas zonas, propriedade da associação Liga para a Protecção da Natureza, que se assumem como uma espécie de santuários e que, por outro lado, se indique aos birdwatchers que façam as suas observações sem sair dos caminhos públicos rurais. Por outro lado ainda a LPN tem, na sua propriedade do Vale Gonçalinho, um conjunto de abrigos sobretudo direcionados para a fotografia de aves, mas também para a observação. Por outro lado ainda, será dada formação sobre turismo responsável e boas práticas no turismo de natureza aos profissionais que fazem atendimento ao público mas, sobretudo, aos guias e outros técnicos que façam o acompanhamento de visitantes. Esta gestão da visitação turística e dos seus impactes resulta da articulação entre as autoridades locais e a Liga para a Protecção da Natureza que assume aqui um papel fundamental pelo conhecimento que tem do ecossistema e do território. Página 99

103 15.3. A agricultura (incluindo a pecuária) e outras atividades (incluindo tradições e costumes) Agricultural (including grazing) and other activities (including traditional and customary): Descreva o tipo de agricultura (incluindo a pecuária) e as outras atividades, com referência à área em questão e pessoas envolvidas Describe the type of agricultural (including grazing) and other activities, area concerned and people involved (including men and women). O Plano Regional de Ordenamento do Território do Alentejo de 2010 refere A agricultura desempenha um papel importante na conservação dos solos e da biodiversidade. Muitos dos valores naturais mais característicos dos ecossistemas mediterrânicos mantiveram-se num estado de conservação favorável, beneficiando das práticas culturais associadas ao tradicional uso agro-silvo-pastoril. Do ponto de vista da constituição de Castro Verde como Reserva da Biosfera, a atividade agrícola tem uma importância capital sendo o sustentáculo dos habitats e da biodiversidade que se pretende preservar, razão pela qual a criação de planos de proteção e apoio aos sistemas de produção extensiva existentes no território têm sido uma das preocupações das diversas entidades presentes no território, como a Câmara Municipal de Castro Verde, a LPN através do Centro de Educação Ambiental de Vale Gonçalinho e Associação de Agricultores do Campo Branco, que ao longo dos anos pugnaram pela aplicação de medidas de compensação que permitam aos agricultores manter as suas explorações mantendo em simultâneo sistemas de produção compatíveis com a conservação da avifauna estepária. As práticas tradicionais de agricultura de sequeiro, com incidência na cerealicultura extensiva praticada em sistema de rotações com pousios de maior ou menor duração, utilizados maioritariamente pelo gado ovino como pastagens naturais, continuam a marcar a paisagem do território e a ser o ex-libris de uma paisagem de elevado valor biológico. A baixa rentabilidade destes sistemas agrícolas tem sido remunerada pela atribuição de apoios à perda de rendimento que compensam o agricultor como zelador de ecossistemas de elevado valor natural, que aqui estão consagrados nas áreas de estepe cerealífera e que detêm um papel decisivo na conservação de algumas espécies particularmente vulneráveis de avifauna. Nesse sentido a classificação da área de Castro Verde como Reserva da Biosfera virá reforçar a importância da preservação dos ecossistemas traduzida num conjunto de medidas de gestão que têm vindo a ser implementadas através do Apoio Zonal41. De acordo com os dados do inquérito realizado pela Associação de Agricultores do Campo Branco em e incluídos no relatório A Agricultura no Campo Branco: Passado, Presente e Futuro as culturas temporárias mais semeadas (em percentagem de área utilizada) em Castro Verde foram a aveia (41%), seguida do trigo (34%), do triticale (12%) e da cevada branca (12%). A cevada dística representa apenas 1%. O olival é uma cultura com pouca expressão em Castro Verde, predominando os olivais tradicionais de sequeiro predominantemente usados para autoconsumo e pastoreio. A cultura da vinha é pouco significativa, verificando-se apenas uma vinha com cerca de dez hectares. No que respeita à caracterização dos efetivos pecuários em Castro Verde verifica-se que a maioria dos produtores possui efetivos mistos principalmente de bovinos e ovinos. Desta produção animal resultam produtos cárnicos de grande qualidade como, por exemplo, a carne de borrego, e que importa valorizar. Mas também queijo de ovelha DOP, classificados dentro da região demarcada do queijo Serpa, e outros queijos de ovelha e de cabra, obtidos com coalho vegetal, para além de produtos como requeijão e manteiga de ovelha. Também de origem animal e característicos desta região são os enchidos de porco ibérico. Outro produto alimentar de grande qualidade e valor é o mel puro de abelha e um produto complementar, a água-mel que vai sendo cada vez mais utilizado pelos grandes chefes internacionais. O Apoio Zonal que, que se iniciou em 1995 com a denominação de Plano Zonal, é uma Medida Agro-Ambiental da União Europeia que visa apoiar a conciliação da agricultura com o meio ambiente. 41 Página 100

104 Importa referir que os objetivos de conservação das aves da região dependem das decisões individuais de várias centenas de agricultores e proprietários agrícolas, uma vez que alterações aos sistemas de produção, ou o abandono das atividades agrícolas preconizadas comprometem definitivamente a sobrevivência da avifauna característica do ecossistema estepário. Cientes da sua importância, a LPN colaborando com a Associação de Agricultores do Campo Branco, tem promovido ações de conservação global em toda a região do Campo Branco, procurando compreender as principais dificuldades encontradas pelos agricultores na implementação do Apoio Zonal de Castro Verde. Desta procura de soluções para as dificuldades encontradas pelos agricultores destaquem-se os vários projetos de investigação aplicada desenvolvidos pela LPN de melhoria das técnicas e práticas agrícolas com vista à conservação do solo, bem como o desenvolvimento pela AACB com o apoio técnico da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Beja e a colaboração de empresas do sector (sobretudo de sementes e de agroquímicos) de um conjunto de talhões agrícolas experimentais onde são testadas as sementes, as práticas e os tratamentos mais adequados, aos tipos de solo e clima locais, em condições reais. O Apoio Zonal de Castro Verde é uma Medida Agroambiental que abrange cerca de hectares na região do Campo Branco. A sua filosofia assenta no pagamento de um serviço de conservação da paisagem e da avifauna ameaçada aos agricultores que pratiquem uma agricultura compatível com a conservação do património natural. O Apoio Zonal é de adesão voluntária dos agricultores contratualizada com o Estado português. Os compromissos assumidos pelos agricultores, ao aderirem a esta medida visando a conservação da avifauna, implica custos adicionais associados a perda de rendimento que a medida visa compensar. Entre os compromissos destaca-se a interdição de trabalhos agrícolas (lavouras e ceifas) durante a época de reprodução de aves e a sementeira de culturas de leguminosas para as aves. A prossecução destes objetivos, a conservação das espécies e ecossistemas, o desenvolvimento de Castro Verde no sentido da preservação do seu património ecológico e valores culturais implica o trabalho conjunto de diversas entidades de âmbito local, regional e nacional articulado com o dos produtores agrícolas do território no desenho de soluções economicamente e ecologicamente sustentáveis Possíveis impactes, positivos e negativos, dessas atividades nos objetivos da reserva da biosfera Indicate the possible positive and/or negative impacts of these activities on biosphere reserve objectives (section 14). Tal como relatado no Plano de Conservação Pós-LIFE_Projeto LIFE ESTEPÁRIAS (Projeto LIFE07/NAT/P/000654) de dezembro de 2012 as aves estepárias estão fortemente dependentes da gestão agrícola que é efetuada nas suas áreas de ocorrência. O estudo científico dos efeitos das alterações climáticas (Moreira et. al., 2012), refere precisamente que mais prementes que as alterações climáticas serão os efeitos a curto prazo das políticas agrícolas e de ordenamento do território que podem afetar estas espécies. No Programa de Desenvolvimento Rural Português, no âmbito da Política Agrícola Comum, estão disponíveis Medidas Agroambientais para a manutenção da rotação cereal-pousio, às quais os agricultores podem aderir. A adesão dos agricultores às Medidas Agroambientais, em Castro Verde, foi positiva desde 2007, existindo cerca de 140 explorações e hectares aderentes em A taxa de produtores aderentes é uma das mais elevadas da Europa para medidas desta natureza o que demonstra a adequabilidade dos montantes dos apoios atribuídos em comparação com a opção por outras alternativas de uso e gestão do solo. No sentido de aferir a aplicação das medidas promovidas pelo Plano Zonal42 de Castro Verde na diversidade e abundância de aves presentes na região uma equipa do Departamento de Investigação 42 Denominação inicial do Apoio Zonal. Página 101

105 Aplicada da ERENA, Ordenamento e Gestão de Recursos Naturais, financiada pelo Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e das Pescas, procedeu à Avaliação Intermédia do Impacte do Plano Zonal na Avifauna recorrendo a contagens efetuadas em setenta e um transeptos de 250 metros de extensão em abril de 1995, imediatamente antes da implementação do Plano Zonal, e em Abril de 1997, dois anos após o início da sua aplicação e em Abril de As contagens foram efetuadas em a) explorações agrícolas que aplicaram os compromissos do Plano Zonal, b) explorações situadas na área de intervenção do plano mas em locais onde os compromissos não foram implementados e c) explorações localizadas fora da abrangência do Plano Zonal. Os resultados obtidos permitiram verificar que a diversidade e o número total de espécies de aves recenseadas nos pontos situados no interior da área de intervenção do Plano Zonal onde os compromissos agroambientais foram aplicados, foram significativamente superiores aos registados nas restantes duas classes de pontos onde essas medidas não foram implementadas. Para além disso, verificou-se que diversas espécies ameaçadas a nível nacional e europeu, características das chamadas pseudo-estepes cerealíferas foram particularmente beneficiadas indicando que os objetivos de conservação do Plano Zonal foram corretamente delineados e que as medidas aplicadas tiveram um efeito positivo na diversidade de aves ( Os resultados obtidos parecem indicar que a aplicação de medidas agroambientais nestas áreas agrícolas tem permitido obter resultados positivos em termos de conservação da biodiversidade bem como de sustentabilidade económica das explorações. O processo de intervenção nas áreas agrícolas de Castro Verde tem vindo ao longo dos anos a ser coordenado entre várias entidades, como a Associação de Agricultores do Campo Branco, a Câmara Municipal de Castro Verde e a LPN, entre outros promovendo a construção de consensos e a sustentabilidade das medidas definidas Indicadores utilizados ou a utilizar na avaliação da situação e suas tendências Which indicators are, or will be used to assess the state and its trends? Indicadores importantes são, para além dos indicadores económicos que permitam acompanhar o desenvolvimento da atividade agrícola, alguns indicadores que nos permitam aferir da utilização de boas práticas agrícolas, e que serão definidos no quadro do Plano de Ação Ações em curso e medidas a aplicar para reforço dos impactes positivos e redução dos impactes negativos nos objetivos da reserva da biosfera What actions are currently undertaken, and which measures will be applied to strengthen positive impacts or reduce negative impacts on the biosphere reserve objectives? O Apoio Zonal consiste essencialmente na instituição de um conjunto de medidas agroambientais que os agricultores aderentes se comprometem a seguir. Essas medidas são financiadas e destinam-se a promover a conservação da natureza através da manutenção e melhoria qualitativa dos habitats da fauna dos campos cerealíferos e a minimizar as perdas de rendimento agrícola resultantes da adoção pelos agricultores de técnicas culturais compatíveis com a conservação da natureza. A adoção de medidas de gestão deste cariz fundamenta-se no entendimento do agricultor como criador e zelador da paisagem e responsável pela conservação da diversidade biológica das áreas agrícolas que trabalha, atividade essa com um custo associado que a sociedade tem vindo a entender como benéfico e essencial para acautelar o abandono de vastas áreas agrícolas de baixo rendimento ou a intensificação agrícola e consequente perda de biodiversidade. No entanto é essencial reforçar o trabalho constante com a comunidade no reconhecimento destas mais-valias e desenvolver processos mais Página 102

106 abrangentes de conceção destes territórios que garantam a sua sustentabilidade no longo prazo, processos para os quais a classificação de Castro Verde como Reserva da Biosfera facultará importantes contributos Outros tipos de atividades que contribuam, positiva ou negativamente, contribuindo para o desenvolvimento sustentável local, incluindo o impacto / influência da reserva da biosfera proposta fora de seus limites Other types of activities positively or negatively contributing to local sustainable development, including impact/influence of the biosphere reserve outside its boundaries Tipos de atividades Describe the type of activities, area concerned and people involved (including men and women). Castro Verde situa-se em plena Faixa Piritosa Ibérica que é, do ponto de vista geológico, um maciço de sulfuretos polimetálicos, com um comprimento de cerca de 250 Km e uma largura aproximada de 30 a 50 Km, que se prolonga desde cerca de 100Km a Sudeste de Lisboa até perto de Sevilha (Espanha). Na Faixa Piritosa Ibérica situam-se várias minas, algumas delas já desativadas e outras em plena laboração como é o caso da Mina de Neves-Corvo, propriedade da empresa mineira Somincor (Grupo Lundin Mining) sendo a maior mina de cobre e zinco da União Europeia. Neves-Corvo situa-se no território de Castro Verde, muito perto do seu limite Sudeste, tendo entrado em atividade em O tecido económico de Castro Verde sofreu, em particular nas últimas três décadas, uma profunda alteração, devido fundamentalmente à abertura da Mina de Neves-Corvo. Essas alterações trazem uma mudança profunda ao tecido empresarial da região de Castro Verde que, da quase monopolização assumida pelas atividades ligadas ao sector primário, se torna variado e extenso apresentando um potencial de crescimento assente na diversidade da atividade económica. A abertura da mina, pela atividade económica que induziu, veio provocar uma profunda mudança económica e empresarial e o surgimento de novas profissões e a alteração de conteúdos de outras. Refira-se ainda que a atividade mineira representa 98% do volume de negócios do sector secundário. Mas o impacte social é também muito grande pelo volume de emprego, sobretudo especializado, que criou uma vez que a atividade mineira representa cerca de 26% do emprego de Castro Verde e que teve como consequências o número significativo de pessoas que vieram trabalhar e residir para Castro Verde e o quase estancar da perda de população. A maior parte do tecido empresarial está claramente assente numa estrutura de micro e pequenas empresas do ramo dos serviços e da microindústria, do comércio e do retalho. Composto por cerca de 650 empresas, 30% delas inserem-se no sector do comércio por grosso e a retalho. 25% das empresas existentes encontram-se ligadas à agricultura, produção animal, caça e silvicultura. Segundo o INE, Castro Verde alberga 124 sociedades, 46 das quais ligadas ao comércio e 13 sociedades de indústria transformadora. O sector do comércio e serviços, em 2001, apresentava o maior volume de emprego, cerca de 56,2% do total da população empregada, sendo o sector onde se registou o maior crescimento nas últimas décadas, tanto ao nível do número de empregos como do volume de negócios. O emprego no Sector Terciário Social representava no Censos efetuado em 2001, cerca de 30,2% da população empregada. Se excetuarmos a exploração mineira, a atividade comercial é a predominante na região e aquela que emprega o maior número de pessoas ao serviço das sociedades. O crescimento geral do consumo, em termos absolutos, e a modernização do mesmo, definem em larga medida a resposta dos empresários, que optam, na grande maioria, pelos serviços de proximidade Página 103

107 o pequeno comércio de uma forma geral, muito pautado pela não especialização da venda e pela pequena indústria, de apoio a outras atividades, nomeadamente, da construção civil. As carpintarias e serralharias funcionam na maioria dos casos, particularmente as últimas, em clara dependência das empresas de construção. O importante contributo do sector da Construção Civil e Obras Públicas, que durante a década de oitenta e noventa, constituiu umas das atividades económicas que mais contribui para regular o mercado de trabalho, em função de investimentos da iniciativa pública e cooperativa, mas também pela adjudicação de empreitadas relativas ao arranque do empreendimento mineiro de Neves-Corvo. De entre as microempresas transformadoras merecem destaque as agroindústrias, nomeadamente as da área da panificação, da salsicharia e da queijaria Possíveis impactes, positivos e negativos, dessas atividades nos objetivos da reserva da biosfera Indicate the possible positive and/or negative impacts of these activities on biosphere reserve objectives (section 14). Have some results already been achieved? O impacte da atividade mineira, tendo em conta que se trata de uma atividade extrativa, pode ter consequências negativas no meio ambiente envolvente. Neste sentido a empresa definiu, na sua organização e no plano de trabalhos, a gestão ambiental como uma das suas prioridades com o objetivo de promover a melhoria contínua do seu desempenho ambiental segundo o princípio da minimização da emissão de poluentes na origem. A empresa tomou medidas de minimização do impacte na qualidade do ar (redução da emissão de poeiras e outras partículas), na qualidade da água (encaminhando as escorrências e eventuais derrames ou overflows para uma barragem impermeabilizada e depositando os rejeitados em ambiente aquático numa barragem construída para o efeito). A água da barragem de rejeitados é também reutilizada diminuindo assim a utilização de água nova. A atividade mineira tem um impacte social e económico muito positivo na região pelo emprego criado, mas também pelo desenvolvimento induzido que levou ao surgimento de um conjunto de empresas e ao desenvolvimento de outras Indicadores utilizados ou a utilizar na avaliação da situação e suas tendências What indicators are, or will be used to assess the state and its trends? A própria empresa mineira, através do seu Departamento de Ambiente, faz a monitorização dos impactes ambientais incidindo sobre a qualidade do ar (partículas em suspensão e óxidos de azoto), do solo (teores de metais nos solos) e da água (parâmetros físico-químicos de uma ribeira, controlo de infiltrações na barragem de rejeitados), para além dos parâmetros físico-químicos dos efluentes. É ainda feita a monitorização por métodos biológicos em líquenes, animais e plantas. O impacte ambiental da atividade mineira é ainda acompanhado pelo Estado português Ações em curso e medidas a aplicar para reforço dos impactes positivos e redução dos impactes negativos nos objetivos da reserva da biosfera What actions are currently undertaken, and which measures will be applied to strengthen positive impacts or reducing negative ones on the biosphere reserve objectives? As medidas de minimização do impacte ambiental da atividade mineira são tomadas pela minimização da emissão de poluentes na origem. De qualquer modo foram tomadas medidas de minimização dos impactes negativos em caso de acidente como medidores de caudal nas condutas que Página 104

108 permitem detetar qualquer fuga ou rotura e sistemas redundantes e reduzam os efeitos de eventuais acidentes. A empresa garante a inda a reposição das condições prévias em caso de acidente Benefícios das atividades económicas para a população local Benefits of economic activities to local people: rendimentos ou benefícios que as comunidades locais retiram diretamente da reserva da biosfera proposta For the activities described above, what income or benefits do local communities (including men and women) derive directly from the site proposed as a biosphere reserve and how? Uma vez que a Reserva da Biosfera proposta coincide com o concelho de Castro Verde, todas as atividades referidas acima são rendimentos da comunidade local, quer através da criação de emprego quer da implementação de pequenos e médios negócios Indicadores utilizados para medir os rendimentos e outros benefícios What indicators are used to measure such income or other benefits? Os indicadores económicos e sociais são definidos e a informação recolhida pelos serviços oficiais do Estado Português e estão disponíveis pelos respetivos serviços ou pelo Instituto Nacional de Estatística onde podem ser consultados Valores espirituais e culturais e costume Spiritual and cultural values and customary practices: (Provide an overview of values and practices, including cultural diversity) Valores culturais e espirituais e costumes, incluindo línguas, rituais e modos de vida tradicionais Describe any cultural and spiritual values and customary practices including languages, rituals, and traditional livelihoods. Are any of these endangered or declining? A cultura tradicional de Castro Verde assenta num conjunto de características relacionadas com o campo e a atividade rural e que são, por exemplo, as festividades de carácter religioso da Páscoa (a Aleluia em S. Marcos da Atabueira com os seus chocalhos) ou as romarias como a de S. Miguel no segundo fim-de-semana de Maio ou a de Nossa Sra. de Aracelis no último fim-de-semana de Agosto, mas também os mastros, que decorrem durante os Santos Populares na segunda quinzena de Junho e que culminam nas Festas da Vila de Castro Verde pelo S. Pedro em 29 de Junho. Mas também as feiras tradicionais como a Feira de Maio que ocorre na Primavera (5 de Maio) e a célebre e muito antiga Feira de Castro que decorre no terceiro fim-de-semana de Outubro. Também conhecida como a última grande feira do Sul, foi criada por D. Filipe II no início do século XVII. É uma Feira de Outono, que decorre após as colheitas, e em que os da planície e os da Serra Algarvia se encontrava para vender os seus excedentes e também para se abastecerem para o Inverno que se aproximava. Mas é também o grande ponto de encontro desta grande comunidade rural do Sul, onde se refaziam amizades e se tomava conhecimento dos grandes acontecimentos sociais do ano. Página 105

109 Há ainda uma feira de Inverno: a Feira de S. Sebastião ou do Pau Roxo que ocorre no dia 20 de Janeiro e onde, para além do mais, se comprava o tradicional pau roxo, uma cenoura roxa tradicional cultivada nas hortas locais. Para além destas, na tradição oral têm ainda uma grande importância o cante alentejano, canto a vozes e à capela, entoado em grupo e que ocorre sempre que se juntam alguns alentejanos: nos eventos sociais, durante os trabalhos agrícolas quando feitos em rancho, ou simplesmente nos convívios informais. A forma mais conhecida atualmente desta tradição são os grupos corais organizados. O Cante Alentejano está classificado pela UNESCO como Património Imaterial da Humanidade. Outra manifestação da cultura imaterial é a gastronomia regional alentejana, integrante da Dieta Mediterrânica, também ela classificada como Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO. Esta foi, historicamente, uma zona onde foi muito importante a criação de ovinos e a pastorícia, nomeadamente uma importante forma desta atividade ibérica, que foi a transumância. Esta atividade perdeu muita da sua importância sobretudo no século XIX, tendo originado uma pastorícia itinerante mais regional em que os rebanhos se deslocavam entre as diferentes propriedades onde tinham pastos disponíveis. Esta atividade está hoje praticamente desaparecida Atividades destinadas a identificar, proteger, promover ou revitalizar tais valores e práticas Indicate activities aimed at identifying, safeguarding, promoting and/or revitalising such values and practices. Das tradições acima referidas, nenhuma está em perigo, à exceção da pastorícia itinerante regional, em parte devido às mudanças das práticas agrícolas, mas sobretudo por causa das fortes restrições postas à circulação de gados devido às medidas de sanidade animal. Muitas das atividades tradicionais acima referidas têm sido promovidas como eventos tradicionais com conteúdos sociais e culturais, por forma a valorizá-los e dar-lhes continuidade e dinâmica. São exemplos disso, para além dos classificados como Património Imaterial da UNESCO por razões óbvias, a Feira de S. Sebastião ou do Pau Roxo onde se tem apostado na revitalização daquele legume tradicional, a Feira de Castro onde se tem dinamizado a sua vertente económica mas também reforçado a sua componente cultural que já tinha tradicionalmente Integração dos valores culturais no processo de desenvolvimento: elementos de identidade, conhecimentos tradicionais, organizações sociais How should cultural values be integrated in the development process: elements of identity, traditional knowledge, social organizations, etc.? Todos os valores culturais locais fazem parte do processo de desenvolvimento. Porque são elementos integrantes da sociedade e da identidade locais e, por isso, são inseparáveis da essência da comunidade integrando a sua ação. Mas sobretudo porque esses valores culturais têm vindo a mudar, como toda a sociedade, e a afirmar-se, nalguns casos, como eventos que, sendo sociais, são também fator de atração de visitantes Indicadores utilizados para avaliar essas atividades Specify whether any indicators are used to evaluate these activities. If yes, which ones and give details. (Examples of indicators: presence and number of formal and non-formal education programmes that transmit these values and practices, number of revitalisation programmes in place, number of speakers of an endangered or minority language). Página 106

110 A avaliação das atividades de âmbito cultural e espiritual será feita pelo número de iniciativas e de participantes em cada atividade, bem como de elementos organizativos como a entidade organizadora, envolvimento da população ou de algum setor dela na organização, opinião dos participantes. Página 107

111 16. FUNÇÃO APOIO LOGÍSTICO LOGISTIC SUPPORT FUNCTION: Investigação e monitorização Research and monitoring: Programas e projetos de investigação, em curso ou previstos, bem como atividades de monitorização das áreas onde serão implementados, relacionados com a gestão da reserva da biosfera e com a implementação do plano de gestão (com referência às variáveis do anexo I) Describe existing and planned research programmes and projects as well as monitoring activities and the area(s) in which they are (will be) undertaken in order to address specific questions related to biosphere reserve management and for the implementation of the management plan (please refer to variables in Annex I). Castro Verde suscita há muito o interesse da comunidade científica nacional e internacional para realização de trabalhos de índole científica diversa motivados não só pelas características particulares dos habitats estepários da região, como pelo modelo agrícola preconizado ou a gestão territorial sustentável que devolve resultados mensuráveis à comunidade e constitui uma referência e um exemplo para outros projetos de gestão integrada. Estas características, associadas ao capital de saber existente no território e às infraestruturas de apoio presentes, traduzem a relevância deste território para a realização de projetos de investigação, educação ambiental e gestão de recursos naturais, bem como para a formação de técnicos especializados e investigadores destas áreas. A Liga para a Protecção da Natureza, presente em Castro Verde há mais de 20 anos e com um trabalho consistente nas mais variadas áreas da conservação da natureza, é um polo de dinamização fundamental na região, promovendo um variado leque de projetos e atividades no âmbito da conservação e gestão de recursos naturais geradores de impactes locais, nacionais e internacionais, que têm colocado Castro Verde na rota de um público especialmente atento para estas questões. O Centro de Educação Ambiental do Vale Gonçalinho (CEAVG), inaugurado em 2000, é o rosto da LPN nesta região, encontrando-se a cerca de 7km da Vila de Castro Verde na Herdade do Vale Gonçalinho. O CEAVG é um edifício autossustentável, funcionando essencialmente com recurso à microprodução de energias renováveis (solar e eólica) e ainda com tratamento de efluentes através de uma Estação de Tratamento de Águas Residuais por Plantas e compostagem de resíduos. O CEAVG para além de oferecer apoio logístico aos vários projetos da Liga para a Protecção da Natureza no Baixo Alentejo, apoia diversos outros projetos, em particular os promovidos pelas instituições de ensino superior da região Instituto Politécnico de Beja e Universidade de Évora, recebendo estagiários e investigadores que utilizam o Centro e os seus recursos para desenvolvimento dos seus trabalhos científicos. Para além do apoio acima enunciado o CEAVG dinamiza atividades de sensibilização e educação ambiental, desenvolvidas quer recorrendo ao apoio logístico do centro, aos percursos pedestres que se encontram nas suas imediações e à capacidade técnica instalada, mas também mobilizando recursos para o desenvolvimento de ações com a comunidade, com as escolas, com grupos de turistas ou em colaboração com as mais diversas entidades regionais, estendendo a todo o território os recursos técnicocientíficos de que dispõe. Entre as atividades desenvolvidas pelo CEAVG destacam-se as visitas temáticas, desenvolvidas para todos os graus de ensino do pré-escolar ao Ensino Superior e que abordam as problemáticas chave da conservação, como a conservação das aves estepárias ameaçadas, a sustentabilidade do uso da água e a desertificação na região do Campo Branco. A estas associam-se algumas ações de longa duração, nomeadamente com estabelecimentos de ensino do, que se desenvolvem com continuidade ao longo do ano letivo e alimentam um elo de ligação permanente entre a comunidade e a gestão do meio ambiente. As ações de voluntariado visando a conservação da natureza, como caminhadas e contagens de aves ameaçadas têm também grande relevância na sensibilização de públicos para a fragilidade destes Página 108

112 ecossistemas. Para além disso recebe ainda anualmente centenas de visitantes, interessados essencialmente na avifauna estepária de Castro Verde, bem como grupos e entidades interessados na colaboração do centro. Para além da propriedade de Vale Gonçalinho a Liga para a Protecção da Natureza tem em Castro Verde mais cinco propriedades localizadas em áreas de grande relevância para as espécies de aves ameaçadas. Estas propriedades funcionam como Reservas da Biodiversidade. Para cada uma delas foi efetuado um plano de gestão que considera diversos tipos de ações de gestão agrícola, de gestão do património construído e de gestão das linhas de água para a totalidade da área com o objetivo último da gestão integrada de cada uma das propriedades. A presença do Centro de Educação Ambiental de Vale Gonçalinho no território, as instalações que disponibiliza e as mais-valias de vinte anos de trabalho científico no terreno, têm sido ao longo dos anos impulsionadoras de numerosos projetos de investigação científica, conservação da natureza, monitorização de ecossistemas e de educação ambiental, consignados em intervenções específicas no terreno. Como entidade formadora certificada nas áreas de silvicultura e caça, ambientes naturais e vida selvagem e proteção do ambiente, a LPN também disponibiliza ações de formação técnica orientadas para as temáticas em causa, em resposta a públicos das mais diversas áreas de conhecimento. A ESDIME, Agência para o Desenvolvimento Local no Alentejo Sudoeste, é também uma entidade formadora certificada e encontra-se representada em Castro Verde através do Centro de Apoio ao Desenvolvimento. A ESDIME promove aqui ações de formação de perfil diverso abrangendo diferentes tipologias de público-alvo, centradas na formação pessoal e iniciativas empresariais e sociais. A Câmara de Castro Verde e a Associação de Agricultores do Campo Branco aderiram ao Centro de Competências da Lã, visando um conjunto de ações, nomeadamente a promoção da melhoria genética da raça merina, em parceria com a Universidade de Évora que detém os meios técnicos que permitem proceder à rastreabilidade da raça. Em última análise pretende-se tornar sustentável a produção de ovinos, valorizando uma raça regional cuja lã, pela sua qualidade e particularidade, é mais valorizada no mercado internacional e que se encontra bem adaptada aos sistemas agrícolas conservacionistas de Castro Verde. Esta parceria poderá culminar, também ela, no reforço da imagem local como centro de inovação na área das práticas agro-silvo-pastoris coordenadas com objetivos de conservação da natureza e da biodiversidade. Decorre ainda uma ação de aplicação e demonstração na área agrícola. Dinamizada por um grupo de agricultores locais e por sua iniciativa, enquadrados pela Associação de Agricultores do Campo Branco e com o apoio técnico da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Beja (E.S.A.-I.P.B.), esta é uma ação que decorre há quatro anos. Consiste num conjunto de talhões agrícolas onde, com a colaboração de empresas de sementes e de agroquímicos, são utilizadas vários tipos de sementes e ensaiadas um conjunto de práticas e técnicas agrícolas com o objetivo de, em condições reais e testando processos diferentes, testar a forma de obter os melhores resultados. Durante cada campanha são feitas várias visitas de campo que permitem ver a evolução e, na visita final, o resultado de cada um dos talhõesteste. Estas visitas são dinamizadas pelos técnicos da E.S.A.-I.P.B. e por representantes das empresas parceiras e participam agricultores de Castro Verde e dos concelhos vizinhos que assim podem verificar os resultados, esclarecer dúvidas e fazer contactos comerciais. Estas experiências incidem sobre a produção de cereais, de forragens e de pastos, sobre técnicas de aplicação de fertilizantes e de técnicas agrícolas produtivas e mais adequadas ambientalmente, nomeadamente a sementeira direta. Existe também uma Unidade Municipal de Compostagem, criada e gerida pela Câmara Municipal de Castro Verde onde são recolhidos os resíduos orgânicos (verdes e secos), resultantes dos jardins públicos e/ou privados do Município de Castro Verde, que são posteriormente transformados em composto orgânico que pode ser utilizado em hortas e jardins públicos e/ou privados. Esta opção ecológica é visitada com frequência sendo já uma referência na região para processos de compostagem sustentáveis, promovidos para a comunidade e economicamente viáveis. Página 109

113 Atividades de investigação e de monitorização anteriores relacionadas com a gestão da reservas da biosfera proposta (com referência às variáveis do anexo i) Summarize past research and monitoring activities related to biosphere reserve management (please refer to variables in Annex I). Castro Verde tem sido um eixo fundamental no desenvolvimento de numerosos projetos de investigação desenvolvidos não só pela Liga para a Protecção da Natureza, como por alunos do Instituto Politécnico de Beja, Universidade de Évora e outras entidades que beneficiam da proximidade de Castro Verde e das competências instaladas para realização de estágios e teses de âmbito diverso de que se destacam os seguintes: - Aquisição e gestão de propriedades, iniciado com um projeto Life-Natureza ( ) para a salvaguarda do Biota estepário cerealífero, focado especialmente na Abetarda, e promovendo a gestão extensiva - recebeu o prémio Europeu Ford de Conservação 1994/1995; - LIFE Peneireiro-das-torres - Em Outubro de 2002, a LPN iniciou o projeto Recuperação do Peneireiro-das-torres (Falco naumanni) em Portugal, cofinanciado a 75% pelo Programa LIFE Natureza, com duração de 4 anos. Considerado como uma das espécies mais ameaçadas em termos globais, o Peneireiro-das-torres sofreu um acentuado declínio em Portugal desde meados do Séc. XX, restringindo-se hoje essencialmente ao Alentejo. Este projeto recebeu já dois prémios Ford para a conservação do ambiente; - Centro de Educação Ambiental do Vale Gonçalinho, inaugurado em 2000, e financiado pelo prémio Millenium do jornal Expresso e da marca Sagres, e com apoio da Câmara Municipal de Castro Verde; - Ecoturismo, apoiado pelos programas Leader e Leader +, com a criação de percursos na natureza, guias turísticos, turismo fotográfico, destinado ao desenvolvimento local; - Promoção ambiental, também financiado pelos programas Leader e Leader +, com a realização de jornadas ambientais e valorização pedagógica; - Projeto Piloto de Combate à Desertificação: este Projeto integrado no "Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação" interveio numa zona muito degradada, mas num biótopo de grande interesse do ponto de vista da conservação: o Biótopo Estepário Cerealífero do Campo Branco. Visou desenvolver ensaios e campos de demonstração de medidas concretas de proteção da "terra" (solo, vegetação, água e biota) adaptáveis às condições bio-edafoclimáticas do Campo Branco. O projeto foi iniciado e terminado em 2000, com suporte do Programa Operacional do Ambiente para o Alentejo, em parceria com a Direção Regional do Ambiente e Ordenamento do Território, e o apoio da Associação de Agricultores de Campo Branco. Recebeu o Prémio Ford para a Conservação e Ambiente em O Projeto Agro Avaliação da sustentabilidade de alguns sistemas de culturas do Baixo Alentejo, projeto em parceria com a Estação Agronómica Nacional (INIAP) que, em complemento dos anteriores, visa encontrar rotações e técnicas culturais que melhorem a produtividade e salvaguardem os recursos; - O projeto Orgânica Verde, objetivo sensibilizar a população de Castro Verde para a redução dos resíduos orgânicos a depositar em aterro sanitário, fomentando a compostagem e a agricultura urbana; - O Rural Value foi um projeto ambicioso e abrangente que estabeleceu a promoção do desenvolvimento sustentável de sistemas agrícolas extensivos ameaçados no Baixo Alentejo, nomeadamente sobre as culturas cerealíferas de sequeiro nas planícies de Castro Verde; - O PRACTICE é uma iniciativa global que junta cientistas e atores-chave de algumas das regiões mais afetadas do mundo, de modo a reunir conhecimento científico e local, que permita chamar a atenção para o desafio da desertificação; Página 110

114 - LIFE + Estepárias - Conservação da Abetarda, Sisão e Peneireiro-das-torres nas estepes cerealíferas do Baixo Alentejo: começou em 2009 inserido no Programa Castro Verde Sustentável, e teve como principal objetivo garantir a conservação a longo prazo destas espécies da avifauna nas estepes cerealíferas do Baixo Alentejo; - Turismo Sustentável no Espaço Rural - Este projeto entende a atividade turística como um dos vetores da estratégia de desenvolvimento das áreas rurais, intervindo para garantir a sua sustentabilidade. O papel fundamental do turismo na criação de emprego, de riqueza e de desenvolvimento sustentável, foi reconhecido na Declaração de Madrid, aprovada pelos representantes e ministros de Turismo da União Europeia. Todos estes projetos contribuíram e continuam a contribuir para o melhor conhecimento da Reserva da Biosfera de Castro Verde, para estreitarem laços de colaboração e partilha de informação com os estabelecimentos de ensino superior e, mais importante, permitem fazer perguntas, ou seja criar canais de comunicação entre as entidades para procura de respostas a questões concretas. Para além dos projetos acima enunciados o CEAVG dinamizou e continua a dinamizar atividades de sensibilização e educação ambiental, desenvolvidas quer recorrendo ao apoio logístico do centro, aos percursos pedestres que se encontram nas suas imediações e à capacidade técnica instalada, mas também mobilizando recursos para o desenvolvimento de ações com a comunidade, com as escolas, com grupos de turistas ou em colaboração com as mais diversas entidades regionais, estendendo a todo o território os recursos técnico-científicos de que dispõe Infraestruturas de investigação disponíveis na reserva da biosfera e o papel que esta irá desempenhar no apoio a essas infraestruturas Indicate what research infrastructure is available in the proposed biosphere reserve, and what role the biosphere reserve will play in supporting such infrastructure. O Centro de Educação Ambiental do Vale Gonçalinho, encontra-se a cerca de 7km da Vila de Castro Verde. A herdade (propriedade rural) do Vale Gonçalinho, onde se situa o C.E.A.V.G. foi adquirida em 1995, tendo-se iniciado as obras de recuperação do edifício em O CEAVG é um edifício autossustentável, funcionando essencialmente com recurso à microprodução de energias renováveis (solar e eólica) e ainda com tratamento de efluentes através de uma Estação de Tratamento de Águas Residuais por Plantas e compostagem de resíduos. O Centro dispõe de um auditório, duas salas de trabalho ocupadas pelo corpo técnico, uma biblioteca e sala de atividades de educação ambiental, uma cozinha, instalações sanitárias e de dois quartos e uma camarata. Para além da herdade de Vale Gonçalinho a Liga para a Protecção da Natureza tem em Castro Verde mais cinco herdades localizadas em áreas de grande relevância para as espécies de aves ameaçadas. Estas herdades funcionam como Reservas da Biodiversidade. A maioria da atividade de investigação na área de Castro Verde é feita em campo, com o apoio da LPN, Câmara Municipal e demais entidades concelhias, bem como com a colaboração de numerosos proprietários agrícolas. A proximidade do Instituto Politécnico de Beja e Universidade de Évora permite dispor na região de centros ativos de investigação nas mais variadas áreas e que têm uma tradição longa de colaboração com o município de Castro Verde. Página 111

115 16.2. Educação e sensibilização para o desenvolvimento sustentável Education for sustainable development and public awareness: Atividades em curso ou previstas Describe existing and planned activities, indicating the target group(s) and numbers of people involved (as teachers and students ) and the area concerned. O trabalho de preservação no terreno, de educação e formação para a conservação é desenvolvido há vários anos. As Jornadas Ambientais promovidas pela Câmara Municipal de Castro Verde, a Liga para a Protecção da Natureza e a Associação de Agricultores do Campo Branco são disso exemplo a que acrescem atividades diversas para diferentes públicos realizadas por entidades existentes em Castro Verde. Entre as atividades desenvolvidas pelo Centro de Educação Ambiental do Vale Gonçalinho destacam-se as visitas temáticas, desenvolvidas para todos os graus de ensino do pré-escolar ao Ensino Superior e que abordam as problemáticas chave da conservação no território no que se refere às aves estepárias ameaçadas, a sustentabilidade do uso da água e a desertificação na região do Campo Branco. A estas associam-se algumas ações de longa duração, nomeadamente com estabelecimentos de ensino locais, que se desenvolvem com continuidade ao longo do ano letivo e alimentam um elo de ligação permanente entre a comunidade e a gestão do meio ambiente. As ações de organizadas visando a conservação da natureza, como caminhadas e contagens de aves ameaçadas têm também grande relevância na sensibilização de públicos para a fragilidade destes ecossistemas. Em Castro Verde existe também uma Unidade Municipal de Compostagem, criada e gerida pela Câmara Municipal de Castro Verde onde são recolhidos os resíduos orgânicos (verdes e secos), resultantes dos jardins públicos e/ou privados do Município de Castro Verde, que são posteriormente transformados em composto orgânico. Esta opção ecológica permite reaproveitar e transformar resíduos, produzindo cerca de 120 toneladas/ano de composto. A classificação como Reserva da Biosfera reforça este trabalho e permite alargar o seu âmbito. O envolvimento do Agrupamento de Escolas de Castro Verde no processo de construção do plano de ação que acompanha a candidatura permitiu ainda definir um programa de trabalho com as escolas que visa fortalecer um conjunto de atividades de raiz identitária junto dos mais jovens Instalações e meios financeiros disponíveis ou a disponibilizar para estas atividades What facilities and financial resources are (or will be) available for these activities? Centros científicos, de educação ambiental e centros tecnológicos existentes: O Centro de Educação Ambiental do Vale Gonçalinho (C.E.A.V.G.), encontra-se a cerca de 7km da Vila de Castro Verde, tendo-se iniciado as obras de recuperação do edifício em O C.E.A.V.G. é um edifício autossustentável, funcionando essencialmente com recurso à microprodução de energias renováveis (solar e eólica) e ainda com tratamento de efluentes através de uma Estação de Tratamento de Águas Residuais por Plantas e compostagem de resíduos. O Centro dispõe de um auditório, duas salas de trabalho ocupadas pelo corpo técnico, uma biblioteca e sala de atividades de educação ambiental no sótão, uma cozinha, instalações sanitárias, dois quartos e uma camarata. Para além da herdade de Vale Gonçalinho a Liga para a Protecção da Natureza tem em Castro Verde mais cinco herdades localizadas em áreas de grande relevância para as espécies de aves ameaçadas. Estas herdades funcionam como Reservas da Biodiversidade. Para cada uma das áreas foi efetuado um plano de gestão que considera diversos tipos de ações de gestão agrícola, de gestão do património construído e de gestão das linhas de água. Página 112

116 A Câmara de Castro Verde e a Associação de Agricultores do Campo Branco aderiram ao Centro de Competências da Lã, visando a promoção da melhoria genética da raça merina, em parceria com um vasto conjunto de entidades que detêm os meios técnicos que permitem proceder à rastreabilidade da raça. Em última análise pretende-se tornar sustentável a produção de ovinos, valorizando uma raça regional cuja lã, pela sua qualidade e particularidade, é mais valorizada no mercado internacional. Instituto Politécnico de Beja (IPBeja) encontra-se a 45 Km de Castro Verde, na cidade de Beja, e dispõe de uma oferta diversificada de infraestruturas de apoio ao desenvolvimento de projetos de I&DT e prestação de serviços, nomeadamente um conjunto de instalações laboratoriais, que servem a região, com uma vertente de colaboração com as entidades e população da região. Existe também uma Unidade Municipal de Compostagem, criada e gerida pela Câmara Municipal de Castro Verde onde são recolhidos os resíduos orgânicos (verdes e secos), resultantes dos jardins públicos e/ou privados do Município de Castro Verde, que são posteriormente transformados em composto orgânico que pode ser utilizado em hortas comunitárias ou hortas e jardins próprios e/ou privados. Esta opção ecológica permite reaproveitar e transformar resíduos produzindo cerca de 120 ton/ano de composto. A ESDIME, Agência para o Desenvolvimento Local no Alentejo Sudoeste, é também entidade formadora certificada representada em Castro Verde através do Centro de Apoio ao Desenvolvimento, promovendo ações de formação em várias áreas de atividade. As atividades desenvolvidas são realizadas suportadas por meios próprios dos organizadores ou pelo orçamento de projetos financiados de educação e sensibilização ambiental Contribuição para a Rede Mundial de Reservas da Biosfera Contribution to the World Network of Biosphere Reserves: Contributo para a rede mundial de reservas da biosfera, bem como para as respetivas redes regionais e temáticas How will the proposed biosphere reserve contribute to the World Network of Biosphere Reserves, its Regional and Thematic Networks? A proposta de candidatura de Castro Verde a Reserva da Biosfera assenta num trabalho desenvolvido de forma integrada e participada em Castro Verde há mais de 20 anos. É um trabalho que, desde o início, se tem caracterizado pelo diálogo e pelo esforço que cada parte (sobretudo ambientalistas, agricultores e município) tem feito para procurar pontos de encontro entre os interesses próprios e o bem comum e que tem conseguido manter uma atividade diária que tem dado frutos e que, alargando a base de incidência a toda a população, possa ser um caso a acompanhar e uma fonte de aprendizagem para os diretamente envolvidos mas também que seja partilhado com a Rede de Reservas da Biosfera. Assumimos, por isso, como prioridade o diálogo facilitador como metodologia que permite encontrar soluções partilhadas no sentido de um futuro construído por todos. A Reserva da Biosfera de Castro Verde assume a importância do trabalho e da partilha de experiências e resultados em rede. Nesse sentido teve já encontros e reuniões de trabalho com a Reserva da Biosfera da Graciosa, das Dehesas de Sierra Morena (Espanha) e do Paul de Boquilobo. Participou também na primeira reunião da Rede de Reservas da Biosfera Portuguesas em Coimbra. Participou também, através dos alunos do Agrupamento de Escolas de Castro Verde no Projeto Educativo GEA Terra Mãe A Água que nos Une, dinamizado pela Comissão Nacional da UNESCO e pelo Comité Português para o Programa Internacional de Geociências da UNESCO. Os promotores da candidatura da Reserva da Biosfera de Castro Verde lançaram ainda o desafio ao Agrupamento de Escolas de Castro Verde para iniciarem o processo de adesão à Rede Mundial de Escolas Associadas da UNESCO. Página 113

117 Benefícios da cooperação internacional esperados para a reserva da biosfera proposta What are the expected benefits of international cooperation for the biosphere reserve? O intercâmbio de experiências com outras Reservas da Biosfera resultará numa aprendizagem que será útil para Castro Verde, na medida em que facilitará o encontrar de soluções para os problemas concretos sedimentando assim a implantação da Reserva da Biosfera de Castro Verde. A cooperação internacional dará ainda certamente um contributo importante na promoção dos produtos e serviços de Castro Verde Canais de comunicação, internos e externos, e suportes usados pela Reserva da Biosfera Internal and external communication channels and media used by the biosphere reserve: Sítio na internet da reserva da biosfera Is (will) there (be) a biosphere reserve website? If yes, what is its URL? O Plano de Ação da Reserva da Biosfera de Castro Verde contempla o desenvolvimento de um Plano de Comunicação que agregará todos os aspetos relativos à imagem, comunicação e promoção da futura Reserva da Biosfera e que contemplará a conceção de uma página internet ainda não disponível Folha informativa eletrónica Is (will) there (be) an electronic newsletter? If yes, how often will it be published? O Plano de Ação da Reserva da Biosfera contempla o Desenvolvimento de um Plano de Comunicação que agregará todos os aspetos relativos à imagem, comunicação e promoção da futura Reserva da Biosfera ainda não disponível Redes sociais Does (will) the biosphere reserve belong to a social network (Facebook, Twitter, etc.)? O Plano de Ação da Reserva da Biosfera contempla o Desenvolvimento de um Plano de Comunicação que agregará todos os aspetos relativos à imagem, comunicação e promoção da futura Reserva da Biosfera. Este deverá ser delineado aquando a classificação da área. 17. GOVERNANÇA, GESTÃO E COORDENAÇÃO DA RESERVA DA BIOSFERA GOVERNANCE, BIOSPHERE RESERVE MANAGEMENT AND COORDINATION [Describe the following characteristics in the prospective that the site is being designated.] Estrutura de gestão e coordenação Management and coordination structure Será um criado um Conselho de Gestão integrando representantes das três entidades responsáveis pela dinamização desta Candidatura a Reserva da Biosfera (Câmara Municipal de Castro Verde, Associação de Agricultores do Campo Branco e Liga para a Protecção da Natureza), que afetarão Página 114

118 recursos nos termos do Acordo celebrado para a execução do Plano de Ação e a quem compete a implementação e a gestão da Reserva da Biosfera, executando o Plano de Ação e promovendo o uso da marca e dos logotipos associados em produtos e serviços. Estas entidades fornecerão o apoio logístico e administrativo necessário ao funcionamento da Reserva da Biosfera. O Conselho de Gestão será constituído por seis elementos em representação das três entidades referidas anteriormente (dois de cada entidade, sendo um elemento técnico e outro um decisor) e reúne mensalmente. Desta forma, asseguramse as tomadas de decisão necessárias ao desenvolvimento das atividades e ações enquadradas no Plano de Ação para além da estratégia global. O elemento técnico estará responsável pelo desenvolvimento técnico para a implementação das atividades e ações. A Presidência do Conselho de Gestão, que terá apenas a função de representação externa, terá uma rotatividade anual. Com a presença das três entidades neste Conselho pretende-se ainda aprofundar a colaboração e a interligação de atividades próprias de cada uma, potenciando assim o trabalho desenvolvido e os seus resultados. O Conselho de Gestão, de acordo com o modelo de governança definido dinamizará a sua ação de acordo com as orientações emanadas dos seguintes Conselhos: Conselho Consultivo, constituído por representantes de entidades da comunidade local, supraconcelhias e setoriais relacionadas com a gestão do território (cerca de 50 entidades), compete acompanhar a execução do Plano de Ação e sugerir ações e projetos de dinamização e promoção dos objetivos da Reserva da Biosfera. Reúne, em plenário, pelo menos uma vez por ano, podendo reunir as vezes necessárias ao longo do ano para tratar de assuntos específicos ou setoriais. Conselho Científico, constituído por investigadores e cientistas das várias áreas do conhecimento conhecedores da realidade de Castro Verde, nomeadamente na área da conservação da natureza e biodiversidade, agronomia, economia agrícola e desenvolvimento rural, antropologia e sociologia rural, entre outras. Tem por objetivo dar um contributo técnico e/ou científico aprofundado sobre temas relevantes à Reserva da Biosfera. Deve reunir pelo menos uma vez por ano e pode reunir sectorialmente. No âmbito do Plano de Ação prevê-se a elaboração do Regimentos de Funcionamento que regula a atividade de cada um destes Conselhos Estatuto jurídico da reserva da biosfera What is the legal status of the biosphere reserve? A Reserva da Biosfera proposta coincide com a área geográfica e administrativa do concelho de Castro Verde, em Portugal. Parte desta Reserva está inserida na Rede Natura 2000 sob a forma de inserção parcial em duas Zonas de Proteção Especial: a de Castro Verde (criada pelo Decreto-Lei n.º 384B/99 de 23 de setembro, alterado pelo Decreto-Lei n.º 59/2008 de 27 de março) e a de Piçarras (criada pelo Decreto Regulamentar n.º 6/2008 de 26 de fevereiro). O território de Castro Verde está ainda parcialmente integrado na Reserva Ecológica Nacional (Resolução do Conselho de Ministros n.º 146/95 de 22 de novembro) e tem Plano Diretor Municipal em vigor (Resolução do Conselho de Ministros n.º 59/93 de 13 de outubro). A Reserva da Biosfera de Castro Verde integra-se ainda no Regime Jurídico da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (Decreto-Lei n.º 142/2008 de 24 de julho alterado pelo Decreto-Lei n.º 242/2015 de 15 de outubro) Estatuto jurídico das zonas núcleo e da zona tampão What is the legal status of the core area(s) and the buffer zone(s)? A Reserva da Biosfera proposta coincide com a área geográfica e administrativa do concelho de Castro Verde, em Portugal. Parte desta Reserva está inserida na Rede Natura 2000 sob a forma de inserção parcial na Zona de Proteção Especial de Castro Verde (criada pelo Decreto-Lei n.º 384-B/99 de Página 115

119 23 de setembro, alterado pelo Decreto-Lei n.º 59/2008 de 27 de março). O território de Castro Verde está ainda parcialmente integrado na Reserva Ecológica Nacional (Resolução do Conselho de Ministros n.º 146/95 de 22 de novembro) e tem Plano Diretor Municipal em vigor (Resolução do Conselho de Ministros n.º 59/93 de 13 de outubro). A Reserva da Biosfera de Castro Verde integra-se ainda no Regime Jurídico da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (Decreto-Lei n.º 142/2008 de 24 de julho alterado pelo Decreto-Lei n.º 242/2015 de 15 de outubro) Autoridades administrativas por cada zona da reserva da biosfera (zona núcleo, zona tampão e zona de transição) Which administrative authorities have competence for each zone of the biosphere reserve (core area(s), buffer zone(s), transition area(s))? A autoridade administrativa independentemente da zona da Reserva da Biosfera é a Câmara Municipal de Castro Verde, com recurso em determinadas áreas a pareceres vinculativos de diversas instituições conforme previsto na lei, nomeadamente o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas, Agência Portuguesa do Ambiente, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo, entre outras Competências de cada uma destas autoridades Clarify the respective competence of each of these authorities. Make a distinction between each zone if necessary and mention any decentralized authority. A Câmara Municipal de Castro Verde assume responsabilidades administrativas e de licenciamento conforme referido no ponto Na área abrangida pela Reserva da Biosfera, correspondente às Zonas Núcleo e Zonas Tampão desta Reserva, o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas tem responsabilidades como Autoridade Nacional da Conservação da Natureza Propriedade da terra em cada uma das zonas Indicate the main land tenure (ownership) for each zone. Zonas Núcleo a totalidade das áreas integradas nestas Zonas são de domínio privado, incluindo os terrenos de Reservas de Biodiversidade da Liga para a Proteção da Natureza e zonas agrícolas importantes para a biodiversidade cujos proprietários aderiram voluntariamente a esta integração; Zonas Tampão as áreas integradas nesta zona são terrenos privados, utilizados principalmente para a produção agrícola e pastorícia, incluindo pequenos agregados populacionais; Zona de Transição composta por terrenos privados, nos quais se incluem os agregados populacionais, áreas agroflorestais e zonas industriais e de infraestruturas Gestor/ coordenador da reserva da biosfera proposta Is there a single manager/coordinator of the biosphere reserve or are several people in charge of managing it? If one manager/coordinator, who designates and employs him/her (national authorities, environmental administrative agency, local authorities)? Será um criado um Conselho de Gestão integrando representantes das três entidades responsáveis pela dinamização desta Candidatura a Reserva da Biosfera (Câmara Municipal de Castro Verde, Associação de Agricultores do Campo Branco e Liga para a Protecção da Natureza), que afetarão recursos nos termos do Protocolo celebrado para a execução do Plano de Ação e a quem compete a Página 116

120 implementação e a gestão da Reserva da Biosfera, executando o Plano de Ação e promovendo o uso da marca e dos logotipos associados em produtos e serviços Conselho consultivo e órgãos de decisão Are there consultative advisory or decision-making bodies (e.g., scientific council, general assembly of inhabitants of the reserve) for each zone or for the whole biosphere reserve? If yes, describe their composition, role and competence, and the frequency of their meetings. No âmbito do Modelo de Governança desta Reserva estão previstos os Conselhos para a totalidade da Reserva: Conselho Consultivo, constituído por representas de entidades comunidade local, supraconcelhias e setoriais relacionadas com a gestão do território, compete acompanhar a execução do Plano de Ação e sugerir ações e projetos de dinamização e promoção dos objetivos da Reserva da Biosfera. Conselho Científico, constituído por investigadores e cientistas das várias áreas do conhecimento conhecedores da realidade de Castro Verde, nomeadamente na área da conservação da natureza e biodiversidade, agronomia, economia agrícola e desenvolvimento rural, antropologia e sociologia rural, entre outras. Estes Conselhos reúnem, em plenário, pelo menos uma vez por ano, podendo reunir as vezes necessárias ao longo do ano para tratar de assuntos específicos ou setoriais Estrutura de coordenação Has a coordination structure been established specifically for the biosphere reserve? o If yes, describe in detail its functioning, composition and the relative proportion of each group in this structure, its role and competence. A estrutura de coordenação coincide com o Conselho de Gestão que integra representantes das três entidades responsáveis pela dinamização desta Candidatura a Reserva da Biosfera (Câmara Municipal de Castro Verde, Associação de Agricultores do Campo Branco e Liga para a Protecção da Natureza. Estas entidades fornecerão o apoio logístico e administrativo necessário ao funcionamento da Reserva da Biosfera. O Conselho de Gestão será constituído por seis elementos em representação das três entidades referidas anteriormente (dois de cada entidade, sendo um elemento técnico e outro um decisor) e reúne mensalmente. Desta forma, asseguram-se as tomadas de decisão necessárias ao desenvolvimento das atividades e ações enquadradas no Plano de Ação para além da estratégia global. O elemento técnico será responsável pelo desenvolvimento técnico para a implementação das atividades e ações. A Presidência do Conselho de Gestão, que terá apenas a função de representação externa, terá uma rotatividade anual. Com a presença das três entidades neste Conselho pretende-se ainda aprofundar a colaboração e a interligação de atividades próprias de cada uma, potenciando assim o trabalho desenvolvido e os seus resultados. o Is this coordination structure autonomous or is it under the authority of local or central government, or of the manager/coordinator of the biosphere reserve? O Conselho de Gestão da Reserva da Biosfera terá autonomia, sem prejuízo das competências decorrentes da soberania dos respetivos órgãos de cada entidade. Página 117

121 Adaptação da gestão/ coordenação às condições locais How is the management/coordination adapted to the local situation? A gestão e coordenação prevista através do Conselho de Gestão, decorre da experiência local que, ao longo de mais de duas décadas, tem efetuado um trabalho conjunto para a preservação do património natural, cultural e social Procedimento para avaliação e acompanhamento da eficácia da gestão Is there a procedure for evaluating and monitoring the effectiveness of the management? A avaliação e monitorização da eficácia de gestão da Reserva da Biosfera serão efetuadas através do cumprimento do Plano de Ação. Anualmente será apresentado ao Conselho Consultivo um Plano de Atividades, de acordo com o Plano de Ação e decorrente da avaliação do Plano de Atividades anterior, sobre o qual aquele órgão se pronunciará. O Plano de Ação é acompanhado pelo Conselho Científico Conflitos dentro da Reserva da Biosfera Conflicts within the biosphere reserve: Conflitos relevantes sobre o acesso ou uso de recursos naturais na área considerada Describe any important conflicts regarding the access or the use of natural resources in the area considered (and precise period if accurate). If the biosphere reserve has contributed to preventing or resolving some of these conflicts, explain what has been resolved or prevented, and how this was achieved for each zone. Na atualidade não se identificam conflitos na área da Reserva da Biosfera. No entanto, caso se verifique uma alteração nas políticas de financiamento das medidas agroambientais e estas sejam suspensas, poderá diminuir a participação voluntária dos agricultores aderentes a estas medidas de compatibilização da agricultura com a preservação da biodiversidade e contribuir para o abandono do mundo rural. Caso se verifique o encerramento da indústria de extração mineira poderão verificar-se situações de dificuldade sócio-económica, uma vez que esta atividade sustenta uma parte significativa da atividade económica de Castro Verde. O excesso de presença de visitantes ou o seu comportamento desadequado poderão ter um impacte negativo no ecossistema, podendo ser mais acentuado no caso das aves. Ao nível das alterações climáticas, nomeadamente a maior frequência de períodos de seca, poderão também representar uma situação de fragilidade para a conservação dos ecossistemas, incluindo aqui também a componente humana Conflitos de competências entre as diferentes autoridades administrativas que intervém na gestão da reserva da biosfera If there are any conflicts in competence among the different administrative authorities in the management of the biosphere reserve, describe these. Não existe nem se prevê que possam existir conflitos a este nível. Página 118

122 17.3. Representação, participação e consulta das comunidades locais Representation, participation and consultation of local communities: Etapas da preparação da candidatura da reserva da biosfera em que foram envolvidos as comunidades locais At what stages in the existence of a biosphere reserve have local people been involved: design of the biosphere reserve, drawing up of the management/cooperation plan, implementation of the plan, day to day management of the biosphere reserve? Give some specific examples. A intenção de valorizar os recursos naturais e a atividade humana em Castro Verde foi claramente manifestada nas conclusões das Jornadas Ambientais de Castro Verde de 2001, onde se promoveu uma reflexão e partilha de experiências que envolveu um conjunto alargado de agentes locais e exteriores. Como resposta a este desafio os promotores desta candidatura apresentaram à comunidade a proposta de candidatura ao Programa MaB da UNESCO, por considerarem que a classificação como Reserva da Biosfera enquadra o trabalho desenvolvido e potencia novos desafios de valorização de um ecossistema humanizado de alto valor natural. O processo de candidatura iniciou-se desde logo com momentos de apresentação do projeto e auscultação de reações junto de diversas pessoas/entidades, no sentido de definir o interesse e motivação da comunidade pela candidatura. Ao longo do processo de recolha de informação e preparação da candidatura e do Plano de Ação foram realizadas diversas sessões informativas e participativas, dirigidas às entidades concelhias e supraconcelhias, representantes dos sectores da educação, do turismo e da caça, bem como, aos agricultores, como referido no ponto Por fim, e para além de todo este processo de decisão de elaborar a candidatura ter sido aprovado previamente pela Câmara Municipal de Castro Verde e pelas Direções da Liga para a Proteção da Natureza e da Associação de Agricultores do Campo Branco, a presente candidatura foi ainda aprovada pela Câmara Municipal e pela Assembleia Municipal de Castro Verde e esteve disponível para participação pública durante dez dias durante os quais houve ainda uma sessão, também ela pública, que teve o objetivo de apresentar e esclarecer dúvidas, para além de motivar a própria participação Representação da população local no planeamento e na gestão da reserva da biosfera Describe how the local people (including women and indigenous communities) have been, and/or are represented in the planning and management of the biosphere reserve (e.g., assembly of representatives, consultative groups). Esta intenção de candidatura a Reserva da Biosfera assenta na proposta de entidades locais, sendo desta forma inclusiva em termos da representatividade das comunidades locais no planeamento e gestão previstos, contemplando as especificidades dos diversos elementos que a compõem. Por isso, a génese desta candidatura é de cariz essencialmente local. Por outro lado estão previstas um conjunto de ações de informação e atividades que permitem envolver, partilhar informação e criar condições para uma participação ativa e interativa, conforme consta no Plano de Ação (Eixo 4, Objetivo 2). Para além disto Página 119

123 Situação específica dos jovens na reserva da biosfera Describe the specific situation of young people in the proposed biosphere reserve (e.g., potential impacts of the biosphere reserve on youth, consideration of their interests and needs, incentives to encourage them to participate actively in the governance system of the biosphere reserve). As escolas e demais entidades formadoras foram desde o início convidadas a envolver-se no processo de candidatura, contribuindo ativamente para o Plano de Ação. A definição de programas de ensino/aprendizagem formal e não formal, assentes nas características singulares de Castro Verde é encarada como uma mais-valia no reforço do sentimento de identidade e pertença. Atualmente decorrem já um conjunto de projetos, nomeadamente nos estabelecimentos de ensino, que envolvem jovens na dinamização de atividades relacionadas com a preservação dos valores naturais e culturais, respeitando princípios de sustentabilidade. Prevê-se que a própria Reserva se afirme como um espaço de envolvimento dos jovens em atividades de formação e capacitação, onde importa destacar o lançamento de estímulos de empreendedorismo jovem associados aos recursos naturais e culturais. Os promotores da candidatura lançaram o desafio ao Agrupamento de Escolas de Castro Verde para iniciarem o processo de adesão à Rede Mundial de Escolas da UNESCO Formas de representação What form does this representation take (e.g., companies, associations, environmental associations, trade unions)? As comunidades locais estão representadas através das organizações comunitárias conforme modelo de governança, podendo participar individualmente nas sessões de discussão e atividades previstos no Plano de Ação Procedimentos de integração dos órgãos representativos das comunidades locais Are there procedures for integrating the representative body of local communities (e.g., financial, election of representatives, traditional authorities)? Conforme modelo de governança da Reserva da Biosfera referido no ponto 17.1., os Conselhos de Gestão e Consultivo são constituídos por entidades locais Mecanismos de consulta How long-lived are consultation mechanisms (permanent assembly, consultation on specific projects)? Make a complete description of this consultation. What are the roles of involved stakeholders compared to the role of the biosphere reserve? Conforme o modelo de governança a Reserva da Biosfera prevê-se um acompanhamento da gestão e implementação do Plano de Ação da Reserva da Biosfera pelos Conselhos Consultivo e Científico, sendo que sempre necessário serão efetuadas consultas para ações específicas Mecanismos de consulta utilizados e partes envolvidas What consultation mechanisms have been used, and who has been involved? Are they for specific purposes or long-term? What impacts have they had on decision-making processes (decisional, consultative or merely to inform the population)? A metodologia de elaboração da candidatura de Castro Verde a Reserva da Biosfera assentou na realização de um conjunto de sessões de informação e participação, envolvendo um conjunto de atores no Página 120

124 sentido de aferir do interesse e motivação da comunidade pela candidatura, bem como, de recolher contributos para a candidatura e Plano de Ação da Reserva da Biosfera. Importa referir que estas sessões representaram um forte contributo para a afirmação da candidatura a Reserva da Biosfera e para a elaboração do seu Plano de Ação, uma vez que estes documentos assimilaram as propostas dos participantes, de que é exemplo a adesão voluntária de alguns dos proprietários para integrar as Zonas Núcleo da Reserva da Biosfera. O formulário foi submetido a um período de participação pública anterior à sua aprovação na Assembleia Municipal de Castro Verde Participação das mulheres em organizações comunitárias e nos processos de tomada de decisão Do women participate in community organizations and decision-making processes? Are their interests and needs given equal consideration? What incentives or programmes are in place to encourage their representation and participation (e.g.: was(were) a gender impact assessment(s) carried out)? Esta Reserva da Biosfera está em conformidade com os direitos e deveres previstos na Constituição da República Portuguesa, onde se contempla o respeito pelos plenos direitos e igualdade entre os géneros, que se procurará não só assegurar como melhorar caso se verifique necessário Plano de gestão / cooperação e Políticas The management/cooperation plan/policy: Plano de gestão / cooperação e políticas para o conjunto da reserva da biosfera Is there a management/cooperation plan/policy for the biosphere reserve as a whole? A Reserva da Biosfera de Castro Verde será dotada de um Plano de Ação, do qual constam as ações a desenvolver nesse período, onde se destaca um programa de educação ambiental específico direcionado para a população residente e as ações de promoção interna e externa da Reserva da Biosfera, bem como ações de conservação e recuperação ambiental com o objetivo de atingir os objetivos do Programa MaB. O Plano de Ação tem como objeto favorecer as condições sociais, económicas e culturais essenciais à viabilidade do desenvolvimento sustentável, podendo servir também como locais pedagógicos e de experimentação Partes envolvidas na elaboração do plano de gestão / cooperação Which actors are involved in preparing the management/cooperation plan? How are they involved? O envolvimento dos diversos atores no Plano de Ação está referido no ponto Aprovação formal do plano de gestão / cooperação Do local authorities formally adopt the management/cooperation plan? Are local authorities making reference to it in other policies and/or plans? If so, please provide details. Após parecer do Conselho Consultivo, o Plano de Ação será aprovado pelos órgãos dirigentes das entidades que compõem o Conselho de Gestão, inscrevendo as respetivas ações nos seus documentos previsionais (Plano de Atividade e Orçamento). O Plano de Ação é ainda apreciado pelo Conselho Consultivo. Página 121

125 O Plano de Ação poderá ainda ser enquadrado em documentos previsionais de outras partes interessadas, nomeadamente no que concerne a projetos em parceria no âmbito da atividade desta Reserva. O Plano de Ação será divulgado no website da Reserva da Biosfera e nos websites das entidades do Conselho de Gestão Duração do plano de gestão / cooperação What is the duration of the management/cooperation plan? How often is it revised or renegotiated? O Plano de Ação da Reserva da Biosfera de Castro Verde estrutura-se em três níveis: cinco Eixos Estratégicos que definem a estratégia a longo prazo; cada Eixo subdivide-se em Objetivos considerados a médio prazo; cada Objetivo é composto por Ações que, no presente Plano de Ação, estão definidas para o horizonte Conteúdo do plano de gestão / cooperação Describe the contents of the management/cooperation plan. Does it consist of detailed measures or detailed guidelines? Give some examples of measures or guidelines advocated by the plan? (Enclose a copy). O Plano de Ação foi desenvolvido em conformidade com as estratégias locais de desenvolvimento sustentável, conservação da natureza e defesa e promoção do património cultural, considerando ainda a Estratégia e o Plano de Ação do Programa MaB da UNESCO. O Plano de Ação assenta em cinco Eixos que se constituem como a base da estratégia da Reserva da Biosfera de Castro Verde e que são: - CONSERVAÇÃO DA NATUREZA E AGRICULTURA: a associação entre estas duas temáticas resulta da realidade local que é caracterizada por uma forte interdependência entre estes dois aspetos. Subdivide-se nos Objetivos: Agricultura mais Economicamente Sustentável Agricultura mais Ambientalmente Sustentável Monitorização de Espécies Melhoria dos Habitats Conservação dos Recursos Água e Solo - DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO E SÓCIO-CULTURAL: concebe-se o desenvolvimento local como um todo harmonioso e interdependente. Subdivide-se nos Objetivos: Diversificação da Economia Local, Valorização de produtos e Inovação Serviços Turísticos Desenvolvimento de produtos Turísticos Valorização do património Dinâmica Cultural Valorização Social - INVESTIGAÇÃO E EDUCAÇÃO: considera-se a importância da investigação e do conhecimento, mas considera-se também que a importância deste para a comunidade se refere à sua transmissão e partilha. Subdivide-se nos Objetivos: Educação Ambiental Pesquisa e Investigação Científica Colóquios, Encontros e Edições Pesquisa Aplicada e Experimentação Formação, Educação e Ensino Página 122

126 - COOPERAÇÃO, PARCERIAS E PARTICPAÇÃO: a partilha de conhecimentos e experiências e o trabalho conjunto potenciando recursos e objetivos, quer para a envolvência quer para a comunidade, é o conteúdo deste Eixo que se divide nos Objetivos: Participação em redes Informação, Sensibilização e Convite à Participação Parcerias e Colaborações - COMUNICAÇÃO: a comunicação, a divulgação e a promoção são os conteúdos centrais deste Eixo que se divide nos seguintes Objetivos: Comunicação Marca Ações e Iniciativas promocionais O Plano de Ação da Reserva da Biosfera de Castro Verde acompanha o presente formulário de candidatura Como é que o plano de gestão / cooperação contemplará os objetivos da reserva da biosfera Indicate how this management/cooperation addresses the objectives of the proposed biosphere reserve (as described in section 13.1). O Plano de Ação da Reserva da Biosfera de Castro Verde orienta-se para os objetivos essenciais de conservação da biodiversidade do ecossistema estepário, recursos naturais e paisagem, de desenvolvimento local, com base na promoção da economia e da afirmação da identidade, valores, tradições e cultura, garantindo a formação e educação ambiental, a investigação e transferência de conhecimento entre os vários atores e a participação da população e dos agentes locais Natureza do plano (ligação / consensos) Is the plan binding? Is it based on a consensus? Sim, será vinculativo pois estará refletido nas Opções do Plano Municipal e Planos de Atividades das entidades que constituem o Conselho de Gestão, que correspondem aos fóruns próprios de cada uma destas entidades para aprovação anual de atividades e orçamentos O Plano de Ação inclui contributos dos diversos atores locais após participação ativa das partes interessadas, embora não exista nenhum instrumento legal em vigor para a sua aplicação, além dos mencionados anteriormente Autoridades responsáveis pela aplicação do plano Which authorities are in charge of the implementation of the plan, especially in the buffer zone(s) and the transition area(s)? Please provide evidence of the role of these authorities. Cabe às entidades que integram o Conselho de Gestão a aplicação do Plano de Ação, sendo possível que determinadas ações sejam desenvolvidas por outros parceiros. Página 123

127 Fatores que podem impedir ou ajudar à sua implementação Which factors impede or help its implementation (e.g.: reluctance of local people, conflicts between different levels of decision-making). Cabe ao Conselho de Gestão a implementação do Plano de Ação em parceria com as demais entidades públicas e privadas envolvidas Integração da reserva da biosfera em estratégias regionais / nacionais Is the biosphere reserve integrated in regional/national strategies? Vice versa, how are the local/municipal plans integrated in the planning of the biosphere reserve? A Reserva da Biosfera de Castro Verde integra-se estratégia nacional, nomeadamente no regime jurídico da conservação da natureza e da biodiversidade (Decreto-Lei n.º 242/2015 de 15 de outubro), no regime de proteção das Zonas de Proteção Especial (Decreto-Lei n.º 384-B/99 de 23 de setembro que cria a ZPE de Castro Verde, alterado pelo Decreto-Lei n.º 59/2008 de 27 de março), no Plano de Desenvolvimento Rural do Continente PDR 2020 que estabelece o Apoio Zonal em vigor (Portaria n.º 56/2015 de 27 de fevereiro), nas estratégias regionais nomeadamente no Plano Regional de Ordenamento do Território do Alentejo (Resolução do Conselho de Ministros n.º 53/2010 de 2 de agosto) e no Plano Diretor Municipal de Castro Verde (Resolução do Conselho de Ministros n.º 59/93 de 13 de outubro) Principais fontes de financiamento e orçamento anual estimado Indicate the main source of the funding and the estimated yearly budget. As entidades que integram o Conselho de Gestão irão fornecer o apoio logístico, administrativo e financeiro necessário ao funcionamento da Reserva da Biosfera. Em função das atividades a desenvolver ponderar-se-á a elaboração de candidaturas a financiamentos nacionais e comunitários, tais como o Programa LIFE, o Alentejo 2020, entre outros Conclusões Conclusions Demonstrar como será garantido o funcionamento satisfatório da reserva da biosfera e das respetivas estruturas, considerando o cumprimento das três funções das reservas da biosfera (conservação, desenvolvimento e apoio logístico) e a participação da comunidade local In your opinion, what will ensure that both the functioning of the biosphere reserve and the structures in place will be satisfactory? Explain why and how, especially regarding the fulfillment of the three functions of biosphere reserves (conservation, development, logistic) and the participation of local communities. As entidades que integram o Conselho de Gestão têm já um longo historial de cooperação e articulação, que serão a peça fundamental para assegurar o bom funcionamento da Reserva da Biosfera de Castro Verde. Estas três entidades em conjunto têm uma vasta experiência e conhecimento em áreas essenciais para assegurar as três funções das Reservas da Biosfera, nomeadamente em conservação da natureza e preservação da biodiversidade, em particular do ecossistema estepário, no desenvolvimento de atividades agrícolas compatíveis com a biodiversidade, na salvaguarda dos valores, tradições e cultural local, em educação ambiental e para a sustentabilidade, bem como, na gestão do território. Acresce a constante proximidade às comunidades locais destas três entidades, o que incentiva e promove um envolvimento e participação que serão também essenciais para a boa prossecução dos objetivos propostos. Página 124

128 A Reserva da Biosfera proposta constitui-se, portanto, como uma plataforma de consolidação para o desenvolvimento local sustentável, promovendo a formação e informação ambiental dos agentes económicos e da comunidade em geral, alicerçado no conhecimento gerado nas atividades de investigação e apoiado também na cooperação nacional e internacional com outras Reservas da Biosfera. Página 125

Monitorização da Comunidade de Aves Estepárias na ITI de Castro Verde

Monitorização da Comunidade de Aves Estepárias na ITI de Castro Verde Monitorização da Comunidade de Aves Estepárias na ITI de Castro Verde Rita Ferreira, Ana Teresa Marques, Hugo Zina, Joana Santos, Maria João Silva, Miguel Mascarenhas & Hugo Costa 2009 2010 2011 Objectivo

Leia mais

Plano de Actividades da Estrutura Local de Apoio Alto Alentejo 2015/2017

Plano de Actividades da Estrutura Local de Apoio Alto Alentejo 2015/2017 Plano de Actividades da Estrutura Local de Apoio Alto Alentejo 2015/2017 ELA_AA 1// Introdução De acordo com a Portaria n.º 56/2015 de 27 de Fevereiro, na arquitetura do PDR 2020, à área relativa ao «Ambiente,

Leia mais

PARTIDO COMUNISTA PORTUGUÊS. Grupo Parlamentar. Projeto de Resolução n.º 552/XIII-2ª

PARTIDO COMUNISTA PORTUGUÊS. Grupo Parlamentar. Projeto de Resolução n.º 552/XIII-2ª Projeto de Resolução n.º 552/XIII-2ª Recomenda ao Governo que se criem as condições para garantir a coexistência entre a salvaguarda dos valores naturais na ZPE Mourão/Moura/Barrancos e Sítio Moura/Barrancos,

Leia mais

Plano de Actividades da Estrutura Local de Apoio Alentejo Central 2015/2017

Plano de Actividades da Estrutura Local de Apoio Alentejo Central 2015/2017 Plano de Actividades da Estrutura Local de Apoio Alentejo Central 2015/2017 ELA_AC 1// Introdução De acordo com a Portaria n.º 56/2015 de 27 de Fevereiro, na arquitetura do PDR 2020, à área relativa ao

Leia mais

Faia Brava área protegida privada. A importância do olival biológico. 3. Caracterização de valores Unidades de paisagem

Faia Brava área protegida privada. A importância do olival biológico. 3. Caracterização de valores Unidades de paisagem Unidades de paisagem Sobreirais abertos Construções tradicionais com utilização rural Culturas arbóreas ordenadas Corredores ribeirinhos de regime torrencial Vale escarpado do rio Côa Unidades de paisagem

Leia mais

23 Abril 2013 Fórum Municipal de Castro Verde Organização Financiamento Apoio

23 Abril 2013 Fórum Municipal de Castro Verde Organização Financiamento Apoio Iván Vazqez 23 Abril 2013 Fórum Municipal de Castro Verde Organização Financiamento Apoio Faça clique para editar o estilo Promotor Financiamento REGIÃO DO BAIXO ALENTEJO ESTEPE CEREALÍFERA OU PSEUDO-ESTEPE

Leia mais

Ex.mo Sr. Presidente da Agência Portuguesa do Ambiente Rua de O Século n.º Lisboa. Lisboa, 26 de Fevereiro de 2008

Ex.mo Sr. Presidente da Agência Portuguesa do Ambiente Rua de O Século n.º Lisboa. Lisboa, 26 de Fevereiro de 2008 Ex.mo Sr. Presidente da Agência Portuguesa do Ambiente Rua de O Século n.º 63 1200-433 Lisboa Lisboa, 26 de Fevereiro de 2008 Assunto: Consulta Publica do Processo de Avaliação de Impacte Ambiental Ligação

Leia mais

Escola Secundária na Maia. Curso Profissional Técnico de Electrotecnia

Escola Secundária na Maia. Curso Profissional Técnico de Electrotecnia Escola Secundária na Maia Curso Profissional Técnico de Electrotecnia Introdução Biodiversidade Biodiversidade da Maia A vegetação natural primitiva da Maia Parque de Avioso Conclusão Este trabalho irá

Leia mais

Manutenção da Actividade Agrícola em Zonas Desfavorecidas. Agro-Ambientais e Silvo-Ambientais

Manutenção da Actividade Agrícola em Zonas Desfavorecidas. Agro-Ambientais e Silvo-Ambientais Manutenção da Actividade Agrícola em Zonas Desfavorecidas Agro-Ambientais e Silvo-Ambientais Manutenção da Actividade Agrícola em Zonas Desfavorecidas Manutenção da Actividade Agrícola fora da Rede Natura

Leia mais

PROJETO LIFE ESTEPÁRIAS

PROJETO LIFE ESTEPÁRIAS PROJETO LIFE ESTEPÁRIAS CONSERVAÇÃO DA ABETARDA, SISÃO E PENEIREIRO-DAS- TORRES NAS ESTEPES CEREALÍFERAS DO BAIXO ALENTEJO (LIFE07/NAT/P/654) PARCERIA Beneficiário Coordenador Beneficiários Associados

Leia mais

NOTAS EXPLICATIVAS das shapes associadas ao Manual das Linhas Eléctricas

NOTAS EXPLICATIVAS das shapes associadas ao Manual das Linhas Eléctricas NOTAS EXPLICATIVAS das shapes associadas ao Manual das Linhas Eléctricas Shape rapinas_ mto_crit_2009 : exaustiva, as áreas consideradas como Muito Críticas, para efeitos de instalação de linhas de transporte

Leia mais

CENTRO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DO VALE GONÇALINHO PROGRAMA EDUCATIVO /18

CENTRO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DO VALE GONÇALINHO PROGRAMA EDUCATIVO /18 CENTRO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DO VALE GONÇALINHO PROGRAMA EDUCATIVO - 2017/18 Centro de Educação Ambiental do Vale Gonçalinho (CEAVG) LPN Liga para a Protecção da Natureza Horário: Terça a Sábado das 9h

Leia mais

DATA E DIPLOMA DE CLASSIFICAÇÃO Decreto de Lei n.º 384-B/99 de 23 de Setembro de Aljustrel 9219, % 12 % Almodôvar 2840,484 4 % 4 %

DATA E DIPLOMA DE CLASSIFICAÇÃO Decreto de Lei n.º 384-B/99 de 23 de Setembro de Aljustrel 9219, % 12 % Almodôvar 2840,484 4 % 4 % ZPE CASTRO VERDE CÓDIGO PTZPE0046 DATA E DIPLOMA DE CLASSIFICAÇÃO Decreto de Lei n.º 384-B/99 de 23 de Setembro de 1999 ÁREA 79 007,17 ha CÓDIGOS NUT PT144 - Baixo Alentejo - 100 % CONCELHOS ENVOLVIDOS

Leia mais

SERVIÇO DOS ECOSSISTEMAS NAS CIDADES. biodiversidade e adaptação climática o serviço da qualidade de vida. Gestão da Estrutura Ecológica do Barreiro

SERVIÇO DOS ECOSSISTEMAS NAS CIDADES. biodiversidade e adaptação climática o serviço da qualidade de vida. Gestão da Estrutura Ecológica do Barreiro SERVIÇO DOS ECOSSISTEMAS NAS CIDADES biodiversidade e adaptação climática o serviço da qualidade de vida Gestão da Estrutura Ecológica do Barreiro CONTEXTO HISTÓRICO No final do século XIX a localização

Leia mais

VOLUME II Introdução e enquadramento

VOLUME II Introdução e enquadramento #$ VOLUME I RELATÓRIO SÍNTESE VOLUME II Introdução e enquadramento Capítulo 1 Introdução Capítulo 2 - Enquadramento das Políticas e Instrumentos de Ordenamento Territorial VOLUME III PATRIMÓNIO NATURAL

Leia mais

PROJETO LIFE ESTEPÁRIAS

PROJETO LIFE ESTEPÁRIAS PROJETO LIFE ESTEPÁRIAS CONSERVAÇÃO DA ABETARDA, SISÃO E PENEIREIRO-DAS- TORRES NAS ESTEPES CEREALÍFERAS DO BAIXO ALENTEJO (LIFE07/NAT/P/654) SEMINÁRIO CONSERVAÇÃO DAS ESTEPES CEREALÍFERAS CASTRO VERDE,

Leia mais

PROJETOS LIFE PARA A CONSERVAÇÃO DAS AVES ESTEPÁRIAS NO ALENTEJO

PROJETOS LIFE PARA A CONSERVAÇÃO DAS AVES ESTEPÁRIAS NO ALENTEJO PROJETOS LIFE PARA A CONSERVAÇÃO DAS AVES ESTEPÁRIAS NO ALENTEJO ESTEPE CEREALÍFERA OU PSEUDO-ESTEPE Habitat moldado pelo homem onde se pratica uma agricultura extensiva de culturas cerealíferas de sequeiro

Leia mais

projecto LIFE Lince Press-Kit Moura/Barrancos Contactos Coordenação e Equipa técnica

projecto LIFE Lince Press-Kit Moura/Barrancos Contactos  Coordenação e Equipa técnica projecto LIFE Lince Moura/Barrancos http://projectos.lpn.pt/lifelince Contactos Coordenação e Equipa técnica E mail programa.lince@lpn.pt Website projectos.lpn.pt/lifelince Press-Kit Liga para a Protecção

Leia mais

ZPE de Castro Verde A PROMOÇÃO DO ECOTURISMO EM CASTRO VERDE. Localização. Esmeralda Luís Liga para a Proteção da Natureza

ZPE de Castro Verde A PROMOÇÃO DO ECOTURISMO EM CASTRO VERDE. Localização. Esmeralda Luís Liga para a Proteção da Natureza A PROMOÇÃO DO ECOTURISMO EM CASTRO VERDE Esmeralda Luís Liga para a Proteção da Natureza SEMINÁRIO (Castro Verde, 11 de Abril de 2013): POTENCIALIDADES DO TURISMO ORNITOLÓGICO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Leia mais

Uma agricultura convencional com mais biodiversidade é possível!

Uma agricultura convencional com mais biodiversidade é possível! Autor da foto Uma agricultura convencional com mais biodiversidade é possível! Domingos Leitão, Artur Lagartinho, Hugo Sampaio, Edgar Gomes, Cláudia Gonçalves & Sandra Candeias Sociedade Portuguesa para

Leia mais

I - O que é uma Reserva da Biosfera?

I - O que é uma Reserva da Biosfera? I - O que é uma Reserva da Biosfera? UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) Programa MAB, Man and Biosphere Objetivo principal: - Utilização sustentada dos recursos;

Leia mais

POSEUR CONSERVAÇÃO DA NATUREZA

POSEUR CONSERVAÇÃO DA NATUREZA SESSÃO DE ESCLARECIMENTO NO ÂMBITO DOS AVISOS DE AGOSTO DE 2015 Autoridade de Gestão do PO SEUR ICNF, I.P. 27 AGOSTO 2015 CALENDÁRIO DOS AVISOS 1º Aviso (encerrado em Junho 2015) Convite exclusivo ao ICNF

Leia mais

BOLETIM MENSAL Nº 45 ABRIL DE VALONGO Parque das Serras do Porto

BOLETIM MENSAL Nº 45 ABRIL DE VALONGO Parque das Serras do Porto BOLETIM MENSAL Nº 45 ABRIL DE 2017 VALONGO Parque das Serras do Porto BOAS PRÁTICAS EM MUNICÍPIOS ECOXXI Um município ECOXXI evidencia um conjunto de políticas, práticas e ações conducentes ao desenvolvimento

Leia mais

Seminário Nacional. Iniciativas para limitar a Degradação das Terras nas áreas Susceptíveis à Desertificação em Portugal

Seminário Nacional. Iniciativas para limitar a Degradação das Terras nas áreas Susceptíveis à Desertificação em Portugal Seminário Nacional Iniciativas para limitar a Degradação das Terras nas áreas Susceptíveis à Desertificação em Portugal Lisboa, 15 de Junho de 2012 ADPM Associação de Defesa do Património de Mértola índice

Leia mais

Relatório Breve do Workshop de 15 Fevereiro 2016

Relatório Breve do Workshop de 15 Fevereiro 2016 Relatório Breve do Workshop de 15 Fevereiro 2016 Participantes / Parceiros: Investigação e Organização: Financiadores: 9:00 9:30 Café Boas Vindas e Acolhimento 9:30 10:00 Apresentação do programa do dia

Leia mais

Case study. Integrar a Conservação da Biodiversidade no Modelo de Gestão Florestal BIODIVERSIDADE E CERTIFICAÇÃO FLORESTAL EMPRESA ENVOLVIMENTO

Case study. Integrar a Conservação da Biodiversidade no Modelo de Gestão Florestal BIODIVERSIDADE E CERTIFICAÇÃO FLORESTAL EMPRESA ENVOLVIMENTO Case study 2010 Integrar a Conservação da Biodiversidade no Modelo de Gestão Florestal BIODIVERSIDADE E CERTIFICAÇÃO FLORESTAL EMPRESA O grupo Portucel Soporcel é uma das mais fortes presenças de Portugal

Leia mais

Factores de perda de biodiversidade

Factores de perda de biodiversidade Factores de perda de biodiversidade Seca e Desertificação Biodiversidade e desertificação Seminário Desafios para a sustentabilidade do meio rural, Mértola 18 de Novembro de 2010 Pedro Azenha Rocha DEPART

Leia mais

1. DEFINIÇÕES DAS CATEGORIAS DE AMEAÇA CONSTANTES NA NOVA REVISÃO DO LIVRO VERMELHO DOS VERTEBRADOS DE PORTUGAL (CABRAL et al.

1. DEFINIÇÕES DAS CATEGORIAS DE AMEAÇA CONSTANTES NA NOVA REVISÃO DO LIVRO VERMELHO DOS VERTEBRADOS DE PORTUGAL (CABRAL et al. 1. DEFINIÇÕES DAS CATEGORIAS DE AMEAÇA CONSTANTES NA NOVA REVISÃO DO LIVRO VERMELHO DOS VERTEBRADOS DE PORTUGAL (CABRAL et al. 2005): CRITICAMENTE EM PERIGO (CR) Um taxon considera-se Criticamente em Perigo

Leia mais

candidatura CASTRO VERDE RESERVA DA BIOSFERA DA UNESCO Castro Verde, setembro 2016

candidatura CASTRO VERDE RESERVA DA BIOSFERA DA UNESCO Castro Verde, setembro 2016 candidatura CASTRO VERDE RESERVA DA BIOSFERA DA UNESCO Castro Verde, setembro 2016 1 CANDIDATURA DE CASTRO VERDE - RESERVA DA BIOSFERA DA UNESCO FICHA TÉCNICA COORDENAÇÃO GERAL Munícipio de Castro Verde

Leia mais

BIODIVERSIDADE EM EXPLORAÇÕES AGRÍCOLAS

BIODIVERSIDADE EM EXPLORAÇÕES AGRÍCOLAS Seminário: BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS PARA A BIODIVERSIDADE Feira Nacional de Agricultura 14 junho SANTAREM BIODIVERSIDADE EM EXPLORAÇÕES AGRÍCOLAS PROJETO-PILOTO PARA AVALIAÇÃO DA ADEQUABILIDADE E IMPACTO

Leia mais

ESPÉCIES ALVO DE ORIENTAÇÕES DE GESTÃO - Aves do Anexo I da Directiva 79/409/CEE e Migradoras não incluídas no Anexo I ESPÉCIE ALVO / CÓDIGO ESPÉCIE C

ESPÉCIES ALVO DE ORIENTAÇÕES DE GESTÃO - Aves do Anexo I da Directiva 79/409/CEE e Migradoras não incluídas no Anexo I ESPÉCIE ALVO / CÓDIGO ESPÉCIE C ZPE MOURÃO/MOURA/BARRANCOS CÓDIGO PTZPE0045 DATA E DIPLOMA DE CLASSIFICAÇÃO Decreto de Lei n.º 384-B/99 de 23 de Setembro de 1999 ÁREA 80 608 ha CÓDIGOS NUT PT143 Alentejo Central - 26 % PT144 - Baixo

Leia mais

Sistema Nacional de Unidade de Conservação

Sistema Nacional de Unidade de Conservação Gestão Ambiental Sistema Nacional de Unidade de Conservação Curso Técnico em Agropecuária integrado ao ensino médio Profa: Joana Paixão Unidade de conservação Espaço territorial e seus recursos ambientais

Leia mais

PLANO DE PROMOÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL. Rede Eléctrica Nacional Seminário ERSE - 14 de Julho de Lisboa

PLANO DE PROMOÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL. Rede Eléctrica Nacional Seminário ERSE - 14 de Julho de Lisboa PLANO DE PROMOÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL Rede Eléctrica Nacional 2009-2011 Seminário ERSE - 14 de Julho de 2009 - Lisboa Índice Medidas em desenvolvimento em 2009 Compromisso com a biodiversidade Conclusões

Leia mais

PROJETO DE RESOLUÇÃO N.º 2135/XIII/4.ª

PROJETO DE RESOLUÇÃO N.º 2135/XIII/4.ª PROJETO DE RESOLUÇÃO N.º 2135/XIII/4.ª Recomenda ao Governo que elabore o plano de gestão do sítio e ZPE que abrangem os territórios dos concelhos de Moura, Mourão, Barrancos e Serpa, na estratégia do

Leia mais

BOLETIM MENSAL Nº 48 JULHO DE ÁGUEDA Pateira de Fermentelos

BOLETIM MENSAL Nº 48 JULHO DE ÁGUEDA Pateira de Fermentelos BOLETIM MENSAL Nº 48 JULHO DE 2017 ÁGUEDA Pateira de Fermentelos BOAS PRÁTICAS EM MUNICÍPIOS ECOXXI Um município ECOXXI evidencia um conjunto de políticas, práticas e ações conducentes ao desenvolvimento

Leia mais

Impactes sectoriais. Sistemas ecológicos e biodiversidade. Impactes Ambientais 6 ª aula Prof. Doutora Maria do Rosário Partidário

Impactes sectoriais. Sistemas ecológicos e biodiversidade. Impactes Ambientais 6 ª aula Prof. Doutora Maria do Rosário Partidário Engenharia Civil, 5º ano / 10º semestre Engenharia Territorio, 4º ano/ 8º semestre Impactes sectoriais Sistemas ecológicos e biodiversidade Impactes Ambientais 6 ª aula Prof. Doutora Maria do Rosário Partidário

Leia mais

Análise Sociológica Tema 2 Impactes das actividades económicas no ambiente Aulas Práticas

Análise Sociológica Tema 2 Impactes das actividades económicas no ambiente Aulas Práticas Análise Sociológica Tema 2 Impactes das actividades económicas no ambiente Aulas Práticas 2.3. Trabalho prático: Agricultura e biodiversidade na montanha minhota Objectivo do trabalho prático: analisar

Leia mais

Senhor Presidente Senhoras e Senhores Deputados Senhora e Senhores Membros do Governo

Senhor Presidente Senhoras e Senhores Deputados Senhora e Senhores Membros do Governo Silvicultura é a ciência que se ocupa do cuidado, aproveitamento e manutenção racional das florestas, em função do interesse ecológico, científico, económico e social de que elas são objecto. O objectivo

Leia mais

XII Encontro Internacional da REDBIOS

XII Encontro Internacional da REDBIOS XII Encontro Internacional da REDBIOS Açores, 22 a 26 de setembro de 2014 Anabela Trindade Interlocutora para o Programa MaB XII Encontro Internacional da REDBIOS Açores, 22 a 26 de setembro de 2014 1.

Leia mais

nome do indicador ÁREA AGRÍCOLA E FLORESTAL COM ELEVADO VALOR NATURAL

nome do indicador ÁREA AGRÍCOLA E FLORESTAL COM ELEVADO VALOR NATURAL nome do indicador ÁREA AGRÍCOLA E FLORESTAL COM ELEVADO VALOR NATURAL unidades de medida - Área em ha - Peso das áreas agrícolas de elevado valor natural na SAU (%) - Peso da área florestal de elevado

Leia mais

SINERGIAS COM GESTORES CINEGÉTICOS PARA

SINERGIAS COM GESTORES CINEGÉTICOS PARA SINERGIAS COM GESTORES CINEGÉTICOS PARA A CONSERVAÇÃO DA ABETARDA E DO SISÃO PROJECTO LIFE ESTEPÁRIAS (LIFE07/NAT/P/654) SEMINÁRIO CONSERVAÇÃO DAS ESTEPES CEREALÍFERAS CASTRO VERDE, 7 E 8 DE NOVEMBRO DE

Leia mais

1. Definições das categorias de ameaça constantes na nova revisão do Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (ICN in press):

1. Definições das categorias de ameaça constantes na nova revisão do Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (ICN in press): 1. Definições das categorias de ameaça constantes na nova revisão do Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (ICN in press): CRITICAMENTE EM PERIGO (CR) Um taxon considera-se Criticamente em Perigo

Leia mais

Estratégia regional para as florestas Região Autónoma da Madeira

Estratégia regional para as florestas Região Autónoma da Madeira Capítulo 12 Estratégia regional para as florestas Região Autónoma da Madeira M. FILIPE a* a Engenheiro Florestal, Direção Regional de Florestas e Conservação da Natureza, Direção de Serviços de Florestação

Leia mais

Turismo Sustentável. Intervenção da HEP na BTL

Turismo Sustentável. Intervenção da HEP na BTL Turismo Sustentável Intervenção da HEP na BTL Índice Retrato da HEP Parcerias O projecto de recuperação da Ilha do Cavalo A caça na HEP Construção Sustentável Retrato As primeiras menções à Herdade datam

Leia mais

FarmPath Transições na Agricultura: Trajectórias para a Sustentabilidade Regional da Agricultura na Europa

FarmPath Transições na Agricultura: Trajectórias para a Sustentabilidade Regional da Agricultura na Europa FarmPath Transições na Agricultura: Trajectórias para a Sustentabilidade Regional da Agricultura na Europa DRAPAL, 8 Abril 2014 Teresa Pinto Correia (mtpc@uevora.pt) Cecília Fonseca (ceciliaf@uevora.pt)

Leia mais

Enquadramento. Multifuncionalidade - Integração de várias funções no mesmo espaço e tempo, numa determinada escala >>> conceito analítico

Enquadramento. Multifuncionalidade - Integração de várias funções no mesmo espaço e tempo, numa determinada escala >>> conceito analítico Projecto Mural Enquadramento Função - Capacidade da paisagem de fornecer bens e serviços que correspondem a necessidades, procura e objectivos da sociedade, directa ou indirectamente. Comodidades: produção

Leia mais

PARECER. Apreciação geral ESTUDO DE IMPACTE AMBIENTAL DOS BLOCOS DE REGA ALVITO-PISÃO

PARECER. Apreciação geral ESTUDO DE IMPACTE AMBIENTAL DOS BLOCOS DE REGA ALVITO-PISÃO PARECER ESTUDO DE IMPACTE AMBIENTAL DOS BLOCOS DE REGA ALVITO-PISÃO Apreciação geral Após a análise detalhada do Estudo de Impacte Ambiental (EIA) dos Blocos de Rega do Perímetro Alvito-Pisão, a Liga para

Leia mais

ESPÉCIES ALVO DE ORIENTAÇÕES DE GESTÃO - Aves do Anexo I da Directiva 79/409/CEE e Migradoras não incluídas no Anexo I CÓDIGO ESPÉCIE ESPÉCIE ALVO / C

ESPÉCIES ALVO DE ORIENTAÇÕES DE GESTÃO - Aves do Anexo I da Directiva 79/409/CEE e Migradoras não incluídas no Anexo I CÓDIGO ESPÉCIE ESPÉCIE ALVO / C ZPE TEJO INTERNACIONAL, ERGES E PÔNSUL CÓDIGO PTZPE0042 DATA E DIPLOMA DE CLASSIFICAÇÃO Decreto de Lei n.º 384-B/99 de 23 de Setembro de 1999 ÁREA 25 775 ha CÓDIGOS NUT PT129 - Beira Interior Sul - 100

Leia mais

Seminário "Proteção do Solo e Combate à Desertificação: oportunidade para as regiões transfronteiriças"

Seminário Proteção do Solo e Combate à Desertificação: oportunidade para as regiões transfronteiriças Seminário "Proteção do Solo e Combate à Desertificação: oportunidade para as regiões transfronteiriças" Bragança, 29 de Outubro de 2012 ADPM Associação de Defesa do Património de Mértola índice 1. A missão

Leia mais

Diversidade biológica e diversidade de paisagens em montados

Diversidade biológica e diversidade de paisagens em montados Diversidade biológica e diversidade de paisagens em montados F. Rego, S. Dias, & S. Mesquita F. Fernandez-Gonzalez Departamento de Ciencias Ambientales. Facultad de Ciencias del Medio Ambiente. Universidade

Leia mais

Intervenção Territorial Integrada de Castro Verde

Intervenção Territorial Integrada de Castro Verde Intervenção Territorial Integrada de Castro Verde Monitorização da Comunidade de Aves Estepárias Relatório Final Relatório executado no âmbito de contrato de aquisição de serviços para a DRAPAlentejo 2009

Leia mais

(HC) (ADITAMENTO) DOCUMENTO INTERNO ADITAMENTO. Código : DOC17 Edição : 2 Data : 09/02/2015 Pag : 1/5 ESTRATÉGIA DE GESTÃO DA FLORESTA DE ALTO VALOR

(HC) (ADITAMENTO) DOCUMENTO INTERNO ADITAMENTO. Código : DOC17 Edição : 2 Data : 09/02/2015 Pag : 1/5 ESTRATÉGIA DE GESTÃO DA FLORESTA DE ALTO VALOR Código : Pag : 1/5 DE ALTO VALOR DE CONSERVAÇÃO (HC) () FEVEREIRO DE 2015 2015 Código : Pag : 2/5 1. Enquadramento Todas as florestas comportam valores e realizam funções ambientais e sociais tais como

Leia mais

A Agricultura e o Desenvolvimento Territorial Integrado Sistemas de Agricultura e Atractividade dos Territórios Rurais

A Agricultura e o Desenvolvimento Territorial Integrado Sistemas de Agricultura e Atractividade dos Territórios Rurais 11 Maio 2016, 1º Roteiro Visão 2020 Agricultura Portuguesa A Agricultura e o Desenvolvimento Territorial Integrado Sistemas de Agricultura e Atractividade dos Territórios Rurais Teresa Pinto Correia ICAAM,

Leia mais

RESUMO NÃO TÉCNICO OUTUBRO 2008

RESUMO NÃO TÉCNICO OUTUBRO 2008 RESUMO NÃO TÉCNICO OUTUBRO 2008 GOVERNO REGIONAL DA MADEIRA RESUMO NÃO TÉCNICO 1. ENQUADRAMENTO A Directiva Habitats (92/43/CEE) prevê no seu artigo 17º que todos os Estados-membros da União Europeia

Leia mais

Visita de Estudo às Portas de Ródão

Visita de Estudo às Portas de Ródão Visita de Estudo às Portas de Ródão Acompanhamento da turma do curso Técnico de Turismo Ambiental e Rural - Centro de Educação e Formação de Adultos, ADN. Documento de apoio Compilado por: Suzete Cabaceira,

Leia mais

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA DE CONSERVAÇÃO DE NATUREZA O EXEMPLO DO LIFE RUPIS NO TERRITÓRIO DAS ARRIBAS DO DOURO

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA DE CONSERVAÇÃO DE NATUREZA O EXEMPLO DO LIFE RUPIS NO TERRITÓRIO DAS ARRIBAS DO DOURO Sessões Paralelas dos Eixos Temáticos Eixo 1 Educação Ambiental em equipamentos e espaços naturais 20 Abril 2018 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA DE CONSERVAÇÃO DE NATUREZA O EXEMPLO DO LIFE RUPIS

Leia mais

Apresentação pública dos resultados do projecto MURAL*

Apresentação pública dos resultados do projecto MURAL* Apresentação pública dos resultados do projecto MURAL* *Preferência dos vários utilizadores sobre a paisagem rural. Teresa Pinto-Correia Filipe Barroso Helena Menezes Castelo de Vide, 4 de Fevereiro Projecto

Leia mais

TEMA I. A POPULAÇÃO, UTILIZADORA DE RECURSOS E ORGANIZADORA DE ESPAÇOS

TEMA I. A POPULAÇÃO, UTILIZADORA DE RECURSOS E ORGANIZADORA DE ESPAÇOS 1.1. A população: evolução e diferenças regionais 1.1.1. A evolução da população na 2ª metade do século XX Preparação para exame nacional Geografia A 1/8 Síntese: Evolução demográfica da população portuguesa

Leia mais

CONSULTA PÚBLICA às Partes Interessadas Florestas de alto valor de conservação da unidade de gestão florestal do grupo Unifloresta Unimadeiras, S.A.

CONSULTA PÚBLICA às Partes Interessadas Florestas de alto valor de conservação da unidade de gestão florestal do grupo Unifloresta Unimadeiras, S.A. CONSULTA PÚBLICA às Partes Interessadas Florestas de alto valor de conservação da unidade de gestão florestal do grupo Unifloresta Unimadeiras, S.A. O grupo Unifloresta foi formalmente constituído em 2007

Leia mais

CONSULTA PÚBLICA. às Partes Interessadas FLORESTAS DE ALTO VALOR DE CONSERVAÇÃO DA UNIDADE DE GESTÃO FLORESTAL DO GRUPO UNIFLORESTA

CONSULTA PÚBLICA. às Partes Interessadas FLORESTAS DE ALTO VALOR DE CONSERVAÇÃO DA UNIDADE DE GESTÃO FLORESTAL DO GRUPO UNIFLORESTA CONSULTA PÚBLICA às Partes Interessadas FLORESTAS DE ALTO VALOR DE CONSERVAÇÃO DA UNIDADE DE GESTÃO FLORESTAL DO GRUPO UNIFLORESTA Unimadeiras, S.A. Arruamento Q Zona Industrial Albergaria-a-Velha www.unimadeiras.pt

Leia mais

A Estratégia Regional para a Paisagem do Alto Minho no contexto da conservação e valorização do património natural

A Estratégia Regional para a Paisagem do Alto Minho no contexto da conservação e valorização do património natural A Estratégia Regional para a Paisagem do Alto Minho no contexto da conservação e valorização do património natural Bruno Caldas, CIM Alto Minho Viana do Castelo, 26 de novembro 2018 1. Enquadramento Prévio

Leia mais

DATA E DIPLOMA DE CLASSIFICAÇÃO Decreto de Lei n.º 384-B/99 de 23 de Setembro de Alcoutim 442,621 1 % 1 % Beja 3932,461 3 % 5 %

DATA E DIPLOMA DE CLASSIFICAÇÃO Decreto de Lei n.º 384-B/99 de 23 de Setembro de Alcoutim 442,621 1 % 1 % Beja 3932,461 3 % 5 % ZPE VALE DO GUADIANA CÓDIGO PTZPE0047 DATA E DIPLOMA DE CLASSIFICAÇÃO Decreto de Lei n.º 384-B/99 de 23 de Setembro de 1999 ÁREA 76 546,58 ha CÓDIGOS NUT PT144 - Baixo Alentejo - 99 % PT15 - Algarve -

Leia mais

É uma floresta de árvores originárias do próprio território. Neste caso, a floresta autóctone portuguesa é toda a floresta formada por árvores

É uma floresta de árvores originárias do próprio território. Neste caso, a floresta autóctone portuguesa é toda a floresta formada por árvores É uma floresta de árvores originárias do próprio território. Neste caso, a floresta autóctone portuguesa é toda a floresta formada por árvores originárias do nosso país, como é o caso do carvalho, do medronheiro,

Leia mais

A Fundação la Caixa e o BPI, em colaboração com a Câmara Municipal de Portimão, apresentam a exposição A Floresta

A Fundação la Caixa e o BPI, em colaboração com a Câmara Municipal de Portimão, apresentam a exposição A Floresta Comunicado de Imprensa Trata-se da primeira exposição itinerante da Fundação la Caixa em Portugal e é um marco da atividade da Fundação em Portugal A Fundação la Caixa e o BPI, em colaboração com a Câmara

Leia mais

A Bolsa Nacional de terras Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Serpa - 30 de maio de 2017

A Bolsa Nacional de terras Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Serpa - 30 de maio de 2017 Bolsa Nacional de terras Um Projeto Inovador para o Mundo Rural Articulação com Medidas de Política Diagnóstico a agricultura e floresta ocupam uma importante área do território (70%); a agricultura e

Leia mais

VOLUME II Introdução e enquadramento

VOLUME II Introdução e enquadramento #$ VOLUME I RELATÓRIO SÍNTESE VOLUME II Introdução e enquadramento Capítulo 1 Introdução Capítulo 2 - Enquadramento das Políticas e Instrumentos de Ordenamento Territorial VOLUME III PATRIMÓNIO NATURAL

Leia mais

Alterações Climáticas, Florestas e Biodiversidade

Alterações Climáticas, Florestas e Biodiversidade Alterações Climáticas, Florestas e Biodiversidade A nossa pegada regista-se Susana Brígido Seia, 16 de Janeiro de 2009 Índice 1. A importância dos ecossistemas florestais, nas alterações climáticas e biodiversidade

Leia mais

LISTA DE EXERCÍCIOS 2º ANO

LISTA DE EXERCÍCIOS 2º ANO 1. A perda de biodiversidade na região indicada no mapa (arco de desmatamento que se localiza entre o Maranhão e Rondônia) ocorrerá devido à expansão da ocupação humana. O desmatamento e a poluição ambiental

Leia mais

Nuno de Santos Loureiro Universidade do Algarve. Combate à Desertificação e Desenvolvimento Sustentável

Nuno de Santos Loureiro Universidade do Algarve. Combate à Desertificação e Desenvolvimento Sustentável Nuno de Santos Loureiro Universidade do Algarve Combate à Desertificação e Desenvolvimento Sustentável 1992, Junho Na Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de

Leia mais

Biomas / Ecossistemas brasileiros

Biomas / Ecossistemas brasileiros GEOGRAFIA Biomas / Ecossistemas brasileiros PROF. ROGÉRIO LUIZ 3ºEM O que são biomas? Um bioma é um conjunto de tipos de vegetação que abrange grandes áreas contínuas, em escala regional, com flora e fauna

Leia mais

AVALIAÇÃO DE ÁREAS DE ALTO VALOR DE CONSERVAÇÃO NAS FAZENDAS BARRA LONGA E CANHAMBOLA

AVALIAÇÃO DE ÁREAS DE ALTO VALOR DE CONSERVAÇÃO NAS FAZENDAS BARRA LONGA E CANHAMBOLA CEDOC 47.412 CONSULTA PÚBLICA AVALIAÇÃO DE ÁREAS DE ALTO VALOR DE CONSERVAÇÃO NAS FAZENDAS BARRA LONGA E CANHAMBOLA RESUMO EXECUTIVO 2018 ÍNDICE 1. APRESENTAÇÃO... 2 2. DURATEX FLORESTAL LTDA... 2 3. CERTIFICAÇÃO

Leia mais

VALE DOTUA MICRO-RESERVAS

VALE DOTUA MICRO-RESERVAS VALE DOTUA MICRO-RESERVAS Micro-reservas No contexto do PNRVT, emergem locais de excecional valia ambiental e natural, distribuídas por sete Micro-reservas e que materializam extraordinários espaços de

Leia mais

Impacto das alterações climáticas na distribuição e ecologia das aves estepárias

Impacto das alterações climáticas na distribuição e ecologia das aves estepárias Impacto das alterações climáticas na distribuição e ecologia das aves estepárias Castro Verde, Maio 2005 Castro Verde, Abril 2006 Francisco Moreira Centro de Ecologia Aplicada Prof. Baeta Neves Instituto

Leia mais

Áreas de Alto Valor de Conservação

Áreas de Alto Valor de Conservação Mil Madeiras Preciosas ltda. Áreas de Alto Valor de Conservação Resumo para Consulta Pública Acervo Área de Manejo PWA Setor de Sustentabilidade Itacoatiara/AM- Brasil. Agosto de 2017. SOBRE ESTE RESUMO

Leia mais

Alcochete 2030: Visão e Estratégia. Construindo o Futuro: Agenda Estratégica para o Desenvolvimento Sustentável

Alcochete 2030: Visão e Estratégia. Construindo o Futuro: Agenda Estratégica para o Desenvolvimento Sustentável Alcochete 2030: Visão e Estratégia Construindo o Futuro: Agenda Estratégica para o Desenvolvimento Sustentável Alcochete 2030: Visão e estratégia A. O processo B. A síntese do diagnóstico C. A visão e

Leia mais

DIREÇÃO REGIONAL DE AGRICULTURA E PESCAS DO NORTE Direção de Serviços de Controlo e Estatística 2013

DIREÇÃO REGIONAL DE AGRICULTURA E PESCAS DO NORTE Direção de Serviços de Controlo e Estatística 2013 DIREÇÃO REGIONAL DE AGRICULTURA E PESCAS DO NORTE Direção de Serviços de Controlo e Estatística 2013 02-01-2013 AGENDA Apresentação da DRAP-Norte Missão, Visão e Valores Análise SWOT Vetores estratégicos

Leia mais

GESTÃO CINEGÉTICA. A minha experiencia pessoal. Francisco de Almeida Garrett

GESTÃO CINEGÉTICA. A minha experiencia pessoal. Francisco de Almeida Garrett GESTÃO CINEGÉTICA A minha experiencia pessoal Francisco de Almeida Garrett Badajoz, 23 de Abril de 2015 Pertenço a uma família de caçadores e desde pequeno que aprecio a vida selvagem. Lembro-me de nos

Leia mais

Boas Práticas de Gestão Sustentável da Terra (GST) na Província do Huambo, Extensívo a Outros Locais do País Projecto ELISA

Boas Práticas de Gestão Sustentável da Terra (GST) na Província do Huambo, Extensívo a Outros Locais do País Projecto ELISA Boas Práticas de Gestão Sustentável da Terra (GST) na Província do Huambo, Extensívo a Outros Locais do País Projecto ELISA Huambo, Julho 2011 Objectivo & conteúdo da apresentação Esta apresentação é resultado

Leia mais

Um olhar prospectivo nas redes de desenvolvimento das comunidades locais e regionais no contexto do território do EuroACE

Um olhar prospectivo nas redes de desenvolvimento das comunidades locais e regionais no contexto do território do EuroACE Responsabilidade Social no Desenvolvimento das ComunidadesLocais e Regionais Conferência Auditório do Jornal Diário do Sul Évora Um olhar prospectivo nas redes de desenvolvimento das comunidades locais

Leia mais

Património UNESCO e a Grande Rota do Montado. UNESCO Sites And Greenways, A Common Destination 29 novembro Sociedade Martins Sarmento Guimarães

Património UNESCO e a Grande Rota do Montado. UNESCO Sites And Greenways, A Common Destination 29 novembro Sociedade Martins Sarmento Guimarães Património UNESCO e a Grande Rota do Montado UNESCO Sites And Greenways, A Common Destination 29 novembro Sociedade Martins Sarmento Guimarães Área constituída por 14 municípios: Alandroal, Arraiolos,

Leia mais

ENAAC - Grupo Sectorial Agricultura, Floresta e Pescas. Estratégia de Adaptação da Agricultura e das Florestas às Alterações Climáticas

ENAAC - Grupo Sectorial Agricultura, Floresta e Pescas. Estratégia de Adaptação da Agricultura e das Florestas às Alterações Climáticas ENAAC - Grupo Sectorial Agricultura, Floresta e Pescas Estratégia de Adaptação da Agricultura e das Florestas às Alterações Climáticas 1 Estratégia de Adaptação da Agricultura e das Florestas às Alterações

Leia mais

Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 4/2015, de 7 de janeiro (CPA)

Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 4/2015, de 7 de janeiro (CPA) 1. OBJECTO A presente norma tem por objeto a definição dos procedimentos a adotar para a atribuição das prioridades de acordo com as regras da União Europeia no desenvolvimento rural e respetivos códigos

Leia mais

Conservação da Natureza: Balanço, Perspetivas & Propostas de Ação Alto Minho 2030

Conservação da Natureza: Balanço, Perspetivas & Propostas de Ação Alto Minho 2030 Conservação da Natureza: Balanço, Perspetivas & Propostas de Ação Alto Minho 2030 PAF / PA ENCNB 12 de fevereiro de 2019 Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade 2030 ENCNB 2030

Leia mais

AVALIAÇÃO AMBIENTAL ESTRATÉGICA. RELATÓRIO DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO. Formulário Consulta ERAE

AVALIAÇÃO AMBIENTAL ESTRATÉGICA. RELATÓRIO DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO. Formulário Consulta ERAE Secretaria Regional da Energia, Ambiente e Turismo Direção Regional do Turismo AVALIAÇÃO AMBIENTAL ESTRATÉGICA RELATÓRIO DE DEFINIÇÃO DE ÂMBITO. Formulário Consulta ERAE Outubro 2017 Avaliação Ambiental

Leia mais

PLANO DE INTERVENÇÃO NO ESPAÇO RÚSTICO DA HERDADE DO TELHEIRO TERMOS DE REFERÊNCIA

PLANO DE INTERVENÇÃO NO ESPAÇO RÚSTICO DA HERDADE DO TELHEIRO TERMOS DE REFERÊNCIA PLANO DE INTERVENÇÃO NO ESPAÇO RÚSTICO DA HERDADE DO TELHEIRO TERMOS DE REFERÊNCIA Introdução O presente documento constitui os Termos de Referência para enquadramento da elaboração do Plano de Intervenção

Leia mais

Localiza-se na margem Norte do Estuário do Tejo, constituindo o único refúgio para a avifauna em toda esta margem do rio.

Localiza-se na margem Norte do Estuário do Tejo, constituindo o único refúgio para a avifauna em toda esta margem do rio. Localiza-se na margem Norte do Estuário do Tejo, constituindo o único refúgio para a avifauna em toda esta margem do rio. Localização Descrição do Sitio O sitio corresponde a: As Salinas de Alverca As

Leia mais

Segundo Encontro Temático FIL Auditório 2 22 Janeiro 2009

Segundo Encontro Temático FIL Auditório 2 22 Janeiro 2009 Segundo Encontro Temático FIL Auditório 2 22 Janeiro 2009 história Propriedades transmitidas por herança familiar 2000, Maria do Resgate Almadanim Bernardo de Sousa Coutinho 2004, adesão a medidas agro

Leia mais

Quadro Comum de Acompanhamento e Avaliação - questões comuns de avaliação relação com os domínios Folha 5

Quadro Comum de Acompanhamento e Avaliação - questões comuns de avaliação relação com os domínios Folha 5 Quadro Comum de Acompanhamento e Avaliação - questões comuns de avaliação relação com os domínios Folha 5 P1 Fomentar a transferência de conhecimentos e a inovação nos setores agrícola e florestal e nas

Leia mais

ESPÉCIES ALVO DE ORIENTAÇÕES DE GESTÃO - Aves do Anexo I da Directiva 79/409/CEE e Migradoras não incluídas no Anexo I CÓDIGO ESPÉCIE ESPÉCIE ALVO / C

ESPÉCIES ALVO DE ORIENTAÇÕES DE GESTÃO - Aves do Anexo I da Directiva 79/409/CEE e Migradoras não incluídas no Anexo I CÓDIGO ESPÉCIE ESPÉCIE ALVO / C ZPE VALE DO CÔA CÓDIGO PTZPE0039 DATA E DIPLOMA DE CLASSIFICAÇÃO Decreto de Lei n.º 384-B/99 de 23 de Setembro de 1999 ÁREA 20 607 ha CÓDIGOS NUT PT117 Douro - 15 % PT128 - Beira Interior Norte - 85 %

Leia mais

Jornadas Locais sobre Sustentabilidade. A Atividade Produtiva como Suporte de Biodiversidade nos Montado de Sobro. Pinhal Novo

Jornadas Locais sobre Sustentabilidade. A Atividade Produtiva como Suporte de Biodiversidade nos Montado de Sobro. Pinhal Novo Jornadas Locais sobre Sustentabilidade A Atividade Produtiva como Suporte de Biodiversidade nos Montado de Sobro Pinhal Novo Abril de 2017 Floresta Portuguesa 1. Composição da floresta portuguesa (IFN

Leia mais

UG Medidas de Gestão Fonte Orientações Técnicas Objetivos e Rastreamento

UG Medidas de Gestão Fonte Orientações Técnicas Objetivos e Rastreamento Quadro 11 - Medidas de Gestão por Unidade de Gestão e respetivas metas/objetivos na Herdade da Gâmbia. UG Medidas de Gestão Fonte Orientações Técnicas Objetivos e Rastreamento Objetivo: > 95% de Conformidade

Leia mais

PROJECTO DE LEI N.º 16/X CRIAÇÃO DA ÁREA PROTEGIDA DA RESERVA ORNITOLÓGICA DO MINDELO. Exposição de motivos

PROJECTO DE LEI N.º 16/X CRIAÇÃO DA ÁREA PROTEGIDA DA RESERVA ORNITOLÓGICA DO MINDELO. Exposição de motivos Grupo Parlamentar PROJECTO DE LEI N.º 16/X CRIAÇÃO DA ÁREA PROTEGIDA DA RESERVA ORNITOLÓGICA DO MINDELO Exposição de motivos A reserva ornitológica do Mindelo tem antecedentes históricos únicos no quadro

Leia mais

MEGADIVERSIDADE. # Termo utilizado para designar os países mais ricos em biodiversidade do mundo. 1. Número de plantas endêmicas

MEGADIVERSIDADE. # Termo utilizado para designar os países mais ricos em biodiversidade do mundo. 1. Número de plantas endêmicas MEGADIVERSIDADE MEGADIVERSIDADE # Termo utilizado para designar os países mais ricos em biodiversidade do mundo. 1. Número de plantas endêmicas 2. Número de espécies endêmicas em geral 3. Número total

Leia mais

Consulta pública. Florestas de alto valor de conservação da unidade de gestão florestal do grupo. Unifloresta. às Partes Interessadas do grupo

Consulta pública. Florestas de alto valor de conservação da unidade de gestão florestal do grupo. Unifloresta. às Partes Interessadas do grupo Consulta pública às Partes Interessadas do grupo Unifloresta Florestas de alto valor de conservação da unidade de gestão florestal do grupo Unifloresta Unimadeiras, S.A. O grupo Unifloresta foi formalmente

Leia mais

PROJETO MOSAICOS DO CORREDOR DA SERRA DO MAR (IA-RBMA / CEPF ) JUSTIFICATIVA Elaborado por Paulo Pêgas

PROJETO MOSAICOS DO CORREDOR DA SERRA DO MAR (IA-RBMA / CEPF ) JUSTIFICATIVA Elaborado por Paulo Pêgas PROJETO MOSAICOS DO CORREDOR DA SERRA DO MAR (IA-RBMA / CEPF ) JUSTIFICATIVA Elaborado por Paulo Pêgas A Serra da Mantiqueira constitui um dos mais significativos conjuntos orográficos brasileiros. Localizada

Leia mais

PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS. Resolução do Conselho de Ministros

PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS. Resolução do Conselho de Ministros R /2018 2018.07.14 Resolução do Conselho de Ministros A evolução ocorrida na economia e na sociedade portuguesa nos últimos 50 anos, sendo inegavelmente positiva para a qualidade de vida e desenvolvimento

Leia mais

PROTEÇÃO DO ESPAÇO NATURAL

PROTEÇÃO DO ESPAÇO NATURAL P L A N O D I R E T O R M U N I C I P A L DO S E I X A L R E V I S Ã O PROTEÇÃO DO ESPAÇO NATURAL E VALORIZAÇÃO AMBIENTAL 27 DE FEVEREIRO DE 2014 VISÃO ESTRATÉGICA PARA O MUNICÍPIO EIXOS ESTRUTURANTES

Leia mais

Geografia. Aspectos Físicos e Geográficos - CE. Professor Luciano Teixeira.

Geografia. Aspectos Físicos e Geográficos - CE. Professor Luciano Teixeira. Geografia Aspectos Físicos e Geográficos - CE Professor Luciano Teixeira www.acasadoconcurseiro.com.br Geografia ASPECTOS FÍSICOS E GEOGRÁFICOS - CE Clima: O clima do Ceará é predominantemente semiárido,

Leia mais