Termos para indexação: Rio Araguaia, sistemas lacustres, geoprocessamento, classificação genética e morfológica, estatística descritiva.

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1 GÊNESE E MORFOLOGIA DOS SISTEMAS LACUSTRES DA PLANÍCIE ALUVIAL DO RIO ARAGUAIA Andreia Maria da Silva França 1,2, Galgane Patrícia 2, Edson Eyji Sano 2 ( 1 UnB Universidade de Brasília, Instituto de Geociências, Campus Universitário Darcy Ribeiro, Brasília, DF. andreia.franca@cpac.embrapa.br 2 Embrapa Cerrados, BR 020, Km 18, Caixa Postal 08223, Planaltina, DF) Termos para indexação: Rio Araguaia, sistemas lacustres, geoprocessamento, classificação genética e morfológica, estatística descritiva. Introdução O rio Araguaia faz parte da bacia hidrográfica do Araguaia-Tocantins sendo considerado um sistema fluvial de grande importância da América do Sul e uma das áreas prioritárias para conservação da biodiversidade aquática do Bioma Cerrado (Latrubesse e Stevaux, 2006). A planície aluvial do Rio Araguaia é formada por um complexo sistema de lagos de distintos tipos, os quais formam um intrincado mosaico que sustenta uma grande diversidade faunística e florística (Cantarelli e Alves, 1999) assim como possuem um papel fundamental no comportamento morfo/hidráulico do sistema principal. As diferentes morfologias e as gêneses dos lagos, presentes na planície aluvial do Rio Araguaia, estão associadas aos processos sedimentares e aos aportes recebidos do canal principal. É nesse sentido que se insere esse trabalho de pesquisa que tem como objetivos: (1) atribuir às classes genéticas dos sistemas lacustres, já determinadas, valores morfométricos gerados a partir de um índice Índice F e classificá-los segundo suas morfologias e (2) avaliar a relação entre as gêneses e formas dos sistemas lacustres da planície aluvial do Rio Araguaia. Material e Métodos Utilizou-se o software SPRING na construção do banco de dados geográfico e classificação dos sistemas lacustres segundo sua gênese. Após a edição vetorial dos polígonos, a partir de imagens LANDSAT TM 5, foi realizada a classificação dos lagos segundo sua gênese. As classes temáticas estabelecidas no banco de dados foram: (1) Lagos em acreção lateral; (2) Lagos de canal abandonado; (3) Lagos em espiras de meandro; (4)

2 Lagos em diques marginais; (5) Lagos de vale bloqueado e (6) Lagos oxbows. Essas classes foram definidas seguindo a classificação geomorfológica proposta por Drago (1976). A classificação morfológica visou identificar os lagos segundo as morfologias lacustres definidas por Melack, (1984) que seguiu a classificação morfológica proposta por Hutchinson, (1957). O parâmetro aplicado para indicar o grau de irregularidade do corpo d água foi o índice F, proposto por Lübbe, 1977 (in: Straskraba e Gnauck, 1982). Tal que: F = forma; l = perímetro dado em metros (m), e A = área dada em metros quadrados (m 2 ). De acordo com o valor de F obtido para a área de estudo desta pesquisa foi definida a classificação apresentada na Tabela 1 a seguir: Tabela 1: Valores de F atribuídos a forma. FORMA LIMIAR Circular/Oval 1,27 < F < 2,9 Alongada 2,9 < F < 3,5 Composto 3,5 < F < 5,0 Dendrítico F > 5,0 O mapa dos sistemas lacustres e a caracterização geomorfológica foram importados para o software ArcGis 9.2 que permitiu através da ferramenta Calculate Values aplicar o índice F nos polígonos referentes aos sistemas lacustres. Após o processamento dos dados e classificação dos lagos segundo a morfologia, foi gerado, no software SPSS 15.0, a estatística descritiva dos valores encontrados de Índice F - mínimos e máximos, média e desvio padrão - e o histograma de frequência das classes morfológicas. Estas análises possibilitaram indicar se existem possíveis padrões de forma para diferentes genêses fluviais de lagos. Resultados e Discussão

3 As classes com maiores intervalos entre os valores de Índice F máximo e mínimo - foram os lagos de Espiras de Meandro, Canal Abandonado e Oxbows, influenciando na média e consequentemente no desvio padrão. Para essas classes, os valores de desvios-padrões são grandes, indicando um maior espalhamento dos dados, ou seja, grande parte dos valores se distanciam em torno da média. Já as classes Acreção Lateral e Diques Marginais apresentaram desvios-padrões pequenos, os valores de índice F encontram-se concentrados próximos a média e seguem o padrão do conjunto de dados. A estatística descritiva é apresentada na Tabela 2. Tabela 2: Estatística descritiva dos valores de Índice F. Classes Genéticas N Mínimo Máximo Média Desvio-Padrão Acreção Lateral 109 2,2 5,6 3,21 0,75 Canal Abandonado 57 2,4 12,3 4,24 1,82 Espiras Meandro 16 2,5 10,5 4,46 2,38 Diques Marginais 46 2,2 5,5 3,07 0,79 Vale Bloqueado 29 2,3 7,9 3,78 1,17 Oxbows 21 2,8 10,8 5,06 2,12 Os histogramas dos dados morfológicos (Figura 1) indicaram a forma de maior frequência entre as diferentes classes de gênese. Este tipo de análise pôde indicar se a forma do lago é influenciada por sua gênese.

4 Canal Abandonado Espiras Meandro Diques Marginais Acresção Lateral

5 Oxbows Vale Bloqueado *Forma: 1,00=Circular/Oval; 2,00=Alongado; 3,00=Composto e 4,00=Dendrítico Figura 1: Histogramas de frequência das classes morfológicas. As atividades de erosão e sedimentação dos rios, assim como o relevo da bacia de drenagem, condicionam a formação do sistema lacustre, de maneira a influenciar na gênese e morfologia dos lagos a serem formados. A classe circular/oval refere-se a lagos de formas circulares, subcirculares e elípticas e obteve maior frequência para as classes de gênese de lagos Acreção Lateral e Diques Marginais. Essas classes genéticas são desenvolvidas próximo aos leitos principais dos rios, se comportam como bacias de inundação constituindo depressões na planície de inundação e tendem possuir formas circulares. Os lagos de Acreção Lateral são formados pelas águas de inundação limitadas por acumulação de sedimentos ocorridas em zonas baixas da planície aluvial. Os Lagos em Diques marginais são também gerados devido a processos de deposição de sedimentos. Os diques marginais em um rio se desenvolvem longitudinalmente, ficando entre os mesmos uma superfície mais ou menos côncava, onde se estabelece este tipo de lago. As espiras de meandro originam-se pela migração lateral do canal acima da margem côncava. As elevações constituem antigas margens do rio, e as depressões parte de seu canal.

6 Nestas depressões se estabelecem os sistemas lacustres que possuem caracteristicamente uma forma alongada evidenciado pelo histograma de freqüência referente a essa classe. A morfologia dominante para as classes de gênese Vale Bloqueado e Canal Abandonado foi a do tipo composto que são lagos sem uma forma definida devido a sedimentação do sistema fluvial. Os lagos originados por um canal abandonado de rio são formados quando um canal se divide pela presença de uma ilha. Durante este processo um dos canais recebe menor vazão, começando então a colmatar-se de sedimentos, em sua desembocadura. Já os lagos formados por um vale bloqueado são formados devido à sedimentação na desembocadura em um vale aluvial. Se o processo de sedimentação continua, o vale é totalmente bloqueado, deixando um espelho d água destinado a transformar em um ambiente lacustre. Os lagos Oxbows tiveram maior freqüência para as formas composta e dendrítica. Em rios meândricos é possível que a conjunção de processos de deposição (margem interna) e erosão (margem externa) provoquem o fechamento destes meandros, acarretando assim a formação de lagos. Na área de estudo deste trabalho os processos de colmatação são intensos, portanto estes tipos de lagos são mais rasos e apresentam-se deformados por possuírem algum grau de assoreamento. Conclusões A utilização da ferramenta Calculate Value do software ArcGis permitiu gerar com grande facilidade os valores de índice F para os sistemas lacustres e posteriormente classificálos segundo sua morfologia. A análise da estatística descritiva possibilitou identificar que os valores do índice F obtidos para os Lagos de Acreção Lateral e Lagos de Diques Marginais seguiram o padrão médio da amostragem ao contrário dos valores associados as classes de Lagos em Espiras de Meandro e Oxbows que apresentaram um desvio-padrão grande. A partir dos histogramas de frequência foi possível responder a questão inicial. O tipo de gênese fluvial de sistemas lacustres influencia no tipo morfológico deste, entretanto devese levar em consideração a dinâmica climática e fluvial do sistema principal, para que esses

7 dados possam contribuir para sistemas de classificação e mapeamento geomorfológico de sistemas lacustres. Além disso, neste trabalho a classificação dos sistemas lacustres segundo sua gênese foi subjetiva portanto, sugere-se gerar um índice para este tipo de classificação, o que tornaria a amostragem totalmente objetiva gerando dados estatisticamente mais confiantes. Referências bibliográficas CANTARELLI, V. H. e ALVES, W. R. The Meanders of the Araguaia River Environmental Protection Area. B. Goiano de Geografia. v.19 (1): DRAGO, E. C. Origen y classificacion de ambientes leníticos en llanuras aluviales. Revi. Assoc. Cienc. Nat. Lit. nº 7., p HUTCHINSON, G. E Concluding remarks. In: Population Studies: Animal Ecology and Demography. Cold Spring Harbor Symposia on Quantitative Biology, Vol. XXII, pp The Biological Laboratory, Cold Spring Harbor, L.I., New York. LATRUBESSE, E. M; STEVAUX, J. C. Características Físico-Bióticas e problemas ambientais associados a planície do Rio Araguaia, Brasil Central. Revista UnG Geociências, V.5, N.1, 2006, MELACK, J. M. Amazon floodplain lakes: Shape, fetch, and stratification. Verth. Internat. Verein. Limnol. v. 22, p , Oct SPERLING, E. V. Morfologia de lagos e represas. Desa/UFMG, p. STRASKRABA, M., GNAUCK, A. Aquatische Okosysteme: Modellierung und Simulation. Gustav Fischer Verlag, Stuttgart, 1982.