TÍTULO: Bioética aplicada aos artigos científicos na área de linguagem

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1 TÍTULO: Bioética aplicada aos artigos científicos na área de linguagem Autores: Carleto NG, Pereira TC, Grivol MA, Gonçalves TF, Ferreira AT, Pulga MJ, Prado LM, Garcia PF, Bretanha AC, Sales-Peres SHC, Sales-Peres A. INTRODUÇÃO A realização de pesquisas Fonoaudiológicas devem sempre apoiar-se nos princípios bioéticos para resguardar os direitos do participante e os deveres do pesquisador quanto à proteção a riscos, desconfortos, privacidade e abusos de qualquer espécie 1. A prática de pesquisa que apresenta riscos para a vida ou saúde deve ser evitada, pois os profissionais da área da saúde são os responsáveis pelo avanço tecnológico que proporciona benefício à saúde das pessoas 2. O termo Bioética surgiu nas últimas décadas, como consequência dos avanços tecnológicos e dos problemas éticos advindos das descobertas e aplicações das ciências biológicas, que trazem em si enorme poder de intervenção sobre a vida e a natureza 3. É uma parte da ética que enfoca as questões referentes à vida humana e, portanto, à saúde 4. A Bioética nas pesquisas científicas é um tema abordado e discutido nos dias atuais. A Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde apresentou-se como instrumento de controle e regramento dos procedimentos de pesquisa da área médica e promoveu um conjunto interessante de questões, na medida em que pretendeu dar conta da vasta área de investigações em saúde 3. Para a abordagem de conflitos morais e dilemas éticos e para nortear discussões, decisões, procedimentos e ações na esfera dos cuidados da saúde, a Bioética se sustenta em quatro princípios 5 : Autonomia: poder de decidir sobre si mesmo. Garante respeito à liberdade. Desrespeitar a autonomia só é eticamente aceitável quando o bem coletivo se sobrepõe ao bem individual. Cabe aos profissionais da saúde então oferecer as informações necessárias para esclarecer e orientar as decisões do participante da pesquisa, sem influenciar ou manipular sua decisão, respeitando sua privacidade e liberdade de escolha. Beneficência: dever de ajudar aos outros, de fazer ou promover o bem a favor de seus interesses. Não-maleficência: dever de não cometer qualquer mal para os participantes. O profissional se compromete a avaliar e evitar os danos previsíveis e qualquer situação que signifique riscos.

2 Justiça: relaciona-se à distribuição coerente e adequada de deveres e benefícios sociais. Distintos critérios morais e éticos guiam a atuação de todos envolvidos nas pesquisas. Os profissionais de saúde orientam-se pelo critério da beneficência, os participantes pelo da autonomia e a sociedade pelo de justiça 6. As pesquisas na área da fonoaudiologia têm gerado conhecimentos que beneficiam a profissão por meio da implementação de políticas públicas, formas eficazes de tratamento, etc. O debate sobre a temática da Bioética nas pesquisas em fonoaudiologia possui relevante importância, pois leva à reflexão sobre o pensamento e atuação desses profissionais frente aos participantes da pesquisa. Os objetivos foram analisar os aspectos bioéticos desrespeitados em artigos relacionados à área de linguagem e refletir sobre a importância dos profissionais e pesquisadores em conhecê-los e utilizá-los. METODOLOGIA Este estudo foi realizado por mestrandas em Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo como parte da Disciplina de Bioética. Foram analisados 50 artigos científicos nacionais, publicados no período de 1997 à 2009, na área da linguagem. A seleção destes foi feita utilizando-se a ferramenta de busca de literatura acadêmica Google Acadêmico, digitando-se as palavras artigos, fonoaudiologia e linguagem em sequência. Analisou-se os 50 primeiros artigos que enquadravam-se nos critérios descritos. A escolha dos artigos limitou-se apenas ao assunto e à data de publicação. Foram analisados apenas artigos científicos nacionais, uma vez que os aspectos bioéticos exigidos nas publicações internacionais podem ser diferentes dos exigidos no Brasil. Em relação à data de publicação dos artigos, foram selecionados a partir de 1997 em virtude da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Tomou-se por base que após esta Resolução, os aspectos bioéticos deveriam ser respeitados em todos os artigos científicos publicados. Os aspectos bioéticos analisados nos artigos científicos foram autonomia, beneficência e não-maleficência. A justiça não foi analisada uma vez que não é possível inferir sobre este aspecto apenas com a leitura dos artigos científicos.

3 Em relação à autonomia, ela foi considerada desrespeitada quando não relatou-se no artigo científico, a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos próprios participantes ou pelos responsáveis legais dos mesmos. A beneficência foi considerada desrespeitada quando não relatou-se no artigo científico aspectos relacionados aos benefícios dos participantes dos estudos, como por exemplo, encaminhamentos necessários para profissionais da área da saúde e orientações relacionadas às alterações encontradas nas avaliações realizadas. Quanto à não-maleficência, esta foi considerada desrespeitada quando algum participante ou grupo de participantes não receberam o melhor tratamento conhecido para tal alteração, o que prejudica a reabilitação. Foi realizada análise descritiva dos resultados, utilizando-se o cálculo de frequência relativa (porcentagem). RESULTADOS Dos 50 artigos científicos analisados, apenas três (6%) respeitaram os três aspectos bioéticos analisados. Os 47 artigos restantes não respeitaram ao menos um aspecto bioético. Destes, 22 desrespeitaram autonomia (46.81%), 41 beneficência (87,23%) e um não-maleficência (2,13%), representados no Gráfico 1. Aspectos bioéticos desrespeitados Quantidade de artigos Aspectos bioéticos Autonomia Beneficência Não-maleficência Total Gráfico 1: Aspectos bioéticos desrespeitados. DISCUSSÃO Os 22 artigos científicos que desrespeitaram a autonomia, frente à análise realizada neste estudo, demonstram a necessidade das revistas científicas exigirem nas normas de publicação de seus artigos, a assinatura do Termo de Consentimento

4 Livre e Esclarecido, eliminando a dúvida referente ao real cumprimento da autonomia nas pesquisas científicas. Outra consideração é a utilização de editais para constituir a amostra de maneira ideal nas pesquisas científicas. Assim a autonomia seria respeitada, uma vez que o próprio participante, ao ler o edital, se interessaria em procurar o centro de pesquisa de livre e espontânea vontade. A beneficência foi o aspecto mais desrespeitado nos resultados deste estudo (41 artigos). Isso pode ser em decorrência do não relato de encaminhamentos posteriores ao estudo ou realmente em decorrência do objetivo inadequado do estudo em apenas produzir conhecimento científico, sem preocupar-se com o benefício e aplicação do mesmo nos participantes e na população, pois observação da relevância social é necessária em toda pesquisa envolvendo seres humanos 7. Quanto à não-maleficência (1 artigo), houve explícita preocupação dos autores em comprovar que determinada terapia era mais eficiente que outra, provocando prejuízos nos participantes que foram expostos à estimulação inadequada por longo prazo, pois já era conhecido que esta terapia não era a melhor para o caso. Este aspecto ressalta que sempre o tratamento mais eficaz deve ser atribuído a todos os participantes de qualquer estudo, independente dos objetivos particulares dos pesquisadores, já que sendo constatada a superioridade de um método sobre outro, o melhor destes deverá ser oferecido a todos os sujeitos 8. A integridade do sistema científico de investigação depende da seriedade dos pesquisadores 9. Independente da área da Fonoaudiologia a ser estudada, os aspectos bioéticos devem ser respeitados, principalmente após a Resolução 196/96. Essa Resolução incorpora, sob a ótica do indivíduo e das coletividades, os quatro referenciais descritos e visa assegurar os direitos e deveres que dizem respeito à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado (Resolução 196/96). CONCLUSÃO Com a realização deste estudo pode-se concluir que mesmo após a Resolução 196/96, a maioria dos artigos científicos publicados na área de linguagem desrespeita ao menos um dos aspectos bioéticos. Percebe-se a importância de se preocupar com os aspectos bioéticos aplicados nas pesquisas científicas na Fonoaudiologia, uma vez que estes não se restringem à simples normatização contida na legislação vigente, mas estende-se ao respeito à pessoa como cidadã e como ser social, enfatizando que a essência da bioética é a liberdade, porém com compromisso e responsabilidade.

5 Os profissionais e pesquisadores da área da saúde devem buscar conhecimento e assim aplicar, os aspectos bioéticos em suas pesquisas científicas e também em seus atendimentos, pois estes aspectos serão exigidos de maneira crescente pela classe médica e também pelos editores de revistas científicas. É necessária a conscientização destes profissionais quanto à existência de um longo caminho a ser trilhado na aquisição e utilização destes conhecimentos, proporcionando à Fonoaudiologia fortalecimento e concretização da real importância e valor de seu trabalho, respaldado nos princípios científicos, éticos, morais e bioéticos. REFERÊNCIAS 1. Nicolielo AP, Monteiro CZ, Asumpção MT, Lopes-Junior C, Silva RHA, Sales-Peres A. A importância da bioética nas pesquisas em fonoaudiologia. Arq Ciênc Saúde 2005 Out/Dez; 4(12): Uldesman A. Bioética aspectos de interesse do anestesiologista. Rev. Bras. Anestesiol. 2006;56(3). 3. Schmidt MLS. Pesquisa participante e formação ética do pesquisador na área da saúde. Ciência & Saúde Coletiva 2008;13(2): Segre M. Definição de Bioética e sua relação com a Ética, Deontologia e Diceologia. Bioética. In: Segre M, Cohen C. 3a. edição. São Paulo: Edusp; Disponível em &ei=wywksverh4piyathjdtfdg#ppa15,m1 [13/05/2009]. 5. Koeric MS, Machad RR, Costa E. Ética e Bioética: para dar início a uma reflexão. Texto Contexto Enferm, Jan/Mar 2005;14(1): Caponi GA, Leopardi MT, Caponi SNC. A saúde como desafio ético. Florianópolis: Sociedade de Estudos em Filosofia e Saúde; Andrade VV. Hipertensão arterial e aspectos éticos em pesquisa envolvendo seres humanos: implicações para a área da saúde. Rev. Bras. Saúde Mater. Infant Dec; 3(4): Amdur RJ, Biddle C. Institutional review board approval and publication of human research results. JAMA 1997; 277:

6 9. Melo, ACR, Lima VM. Bioética: pesquisa em seres humanos e comitês de ética em pesquisa. Breves esclarecimentos. Ef y Deportes - Revista Digital. Buenos Aires 2004 Nov; 10(78).