Medicamentos versus Amamentação Drugs versus Breastfeeding

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1 Medicamentos versus Amamentação Drugs versus Breastfeeding Débora de Almeida Pereira 1 Fernanda Crossi Pereira Toledo 2 1 Graduanda em Nutrição da Universidade São Francisco de Assis Bragança Paulista - SP 2 Profª. Drª. Docente da Universidade São Francisco de Assis Bragança Paulista - SP Av. São Francisco de Assis, 218 Jd. São José Bragança Paulista SP CEP: Universidade São Francisco de Assis Endereço para correspondência: Rua Engenheiro Mendonça, 94 Botujuru Campo Limpo Paulista SP Cep:

2 Resumo Objetivos: Mostrar possíveis conseqüências que o uso de medicamentos pode causar durante o período de amamentação. Métodos: Foi realizada uma revisão bibliográfica nas bases de dados Scielo, de 1997 a 2007 e PubMed, em 2008, utilizando os termos: amamentação, aleitamento materno, medicamentos, automedicação e lactação, já a palavra-chave drugs foi combinada na busca com lactation e breastfeeding. Resultados: Os medicamentos estão classificados conforme seu grau de segurança, tendo os que podem ser usados sem preocupação e os que são contra-indicados. Mas outros fatores também podem interferir levando ao uso de fármacos na fase de amamentação. Conclusão: O aleitamento materno é a forma mais saudável e segura de alimentar um bebê. Mas fatores como o uso de medicamentos durante a amamentação, podem causar reações indesejáveis. Devido esta prática estar aumentando, aumenta também a preocupação com a escassez de informações de seus efeitos, interferindo na alimentação do bebê, causando desmame precoce, tendo também o perigo da automedicação. Portanto torna-se necessário maior conhecimento sobre a segurança no uso de muitos fármacos durante esta fase. Abstract Objectives: Show the possible consequences that the use of drugs can cause during breast-feeding. Methods: We performed a literature review on databases Scielo, from 1997 to 2007 and PubMed in 2008, using the words "breast feeding", "breast feeding", "drugs", "self" and "milk", because the keyword "drugs" in the search was combined with "lactation" and "breastfeeding". Results: The drugs are classified as their degree of security, and that can be used without worry and those who are contraindicated. But other factors also can interfere leading to the use of drugs in phase-feeding. Conclusion: Breastfeeding is the most healthy and safe food for a baby. But factors such as the use of medications during breast-feeding may cause undesirable reactions. Because this practice is growing, increasing concern over the lack of information from its effects, interfering with the feeding the baby, causing early weaning, and also the danger of self. Therefore it is necessary to increase knowledge on safety in the use of many drugs.

3 Introdução O leite materno é o alimento mais completo e seguro para o bebê, trazendo benefícios nutricionais, fisiológicos, sociais e emocionais 1. Porém apesar de todas suas vantagens, sua prática ainda não é comumente adotada por todas as mulheres 2. A Organização Mundial de Saúde (OMS) aconselha o aleitamento materno até os 02 anos de idade, devendo ser praticado até o sexto mês de forma exclusiva. Depois deste período os bebês necessitam de uma alimentação complementar para atingir suas necessidades nutricionais. Atualmente o Banco de Dados da OMS cobre 94 países e abrange 65% da população mundial com menos de 12 meses. Dados apontam que somente 35% dos bebês são amamentados exclusivamente entre zero e quatro meses, e mesmo havendo o reconhecimento das vantagens do aleitamento materno, as taxas continuam muito baixas 3. Dentre os fatores de risco para amamentação, como a interferência na alimentação do bebê, redução na produção de leite e desmame precoce, está o uso de medicamentos 4. Por motivo de segurança é imprescindível o conhecimento sobre medicamentos quando estes forem necessariamente introduzidos nesta fase 5. Na literatura são descritos outros fatores que justificam a prática do desmame quanto ao uso de medicamentos pela nutriz, dentre eles está o desconhecimento da grande maioria de profissionais da saúde sobre o tema; a falta de clareza de medicamentos; a escassez de informações sobre a segurança dos fármacos durante a lactação, e enfim, a insegurança das mães em utilizar medicamentos nesse período 5. Existe ainda o perigo da automedicação, que quando inadequada com finalidade de tratar alguma doença ou amenizar algum sintoma, pode ter como conseqüência efeitos indesejáveis. Nos últimos anos, o número e a disponibilidade dos medicamentos em venda livre tem aumentado favorecendo a automedicação, portanto a não obrigatoriedade de apresentação de receita médica, falta de informação e desconhecimento da população aumenta a preocupação com a qualidade desta prática que vem crescendo 6. Muitos fármacos também são utilizados para estimular a produção de leite, como outros podem inibir, dentre tipos diversos podemos citar 7 : 1. Estimulantes: Galactogogos, metoclopromida, domperidona, etc; 2. Inibidores: Estrogênios, álcool, nicotina, alcaloídes do ergot, pseudo-efedrina, etc. Investimentos em pesquisas devem ser feitos para aumentar o conhecimento dos efeitos maléficos que os medicamentos podem trazer para nutriz e lactente 1.

4 Este estudo teve como objetivo realizar uma revisão bibliográfica sobre o uso de medicamentos durante a amamentação. Metodologia Realizou-se uma revisão bibliográfica entre fevereiro e outubro de 2008, onde os artigos foram selecionados na base de dados SciELO em português e PubMed em inglês. Os termos pesquisados foram: amamentação, aleitamento materno, medicamentos, automedicação e lactação, já a palavra-chave drugs foi combinada na busca com lactation e breastfeeding. Segundo Chaves a última revisão da American Academy of Pediatrics (APP) referente o uso de medicamentos durante a amamentação incluiu somente 233 fármacos. A revisão mais recente e ampla realizada sobre o tema foi feita por Hale em 2004, incluindo 744 fármacos. Considerando-se que, cerca de 1500 fármacos são comercializados aproximadamente no Brasil, faltariam informações sobre 686, correspondente a 45,7% do total 1. Classificação dos medicamentos para uso durante a amamentação Conforme Chaves, os medicamentos segundo Hale são classificados em categorias de risco, sendo os de nível 1 (L1) os mais seguros, nível 2 (L2) seguros, nível 3 (L3) moderadamente seguros, nível 4 (L4) possivelmente perigosos e o de nível 5 (L5) contraindicados. Na tabela 1A e 1B são apresentados os de nível 1 e 2 e os outros nas tabelas 2, 3 e 4 5. Comumente drogas são utilizadas com o objetivo de induzir ou aumentar a produção de leite (tabela 5). Galactogogos Galactogogos são fármacos que induzem e mantêm a adequada produção de leite. Essas drogas atuam bloqueando os receptores de dopamina, aumentando os níveis de prolactina, consequentemente aumentando a produção de leite. A metoclopramida e a domperidona são drogas mais utilizadas como galactogogos na prática clínica, sendo mais eficientes em mães de crianças pré-termo. Clorpromazina e Sulpirides também são galactogogos, porém com uso muito limitado devido um alto risco de efeitos colaterais.

5 Já os estrogênios, álcool, nicotina, alcalóides do ergot, pseudo-efedrina e outros, são drogas utilizadas com intuito de diminuir ou interromper a produção de leite (tabela 6) 7.

6 Tabela 1A Fármacos seguros para uso durante a lactação Classes Farmacológicas Analgésicos e antiinflamatórios não esteróides Analgésicos opióides e antagonistas Anestésicos e indutores anestésicos Corticosteróides Fármacos Acetominofen, azaprazone, celecoxib, cetorolaco, diclofenaco, fenoprofeno, flurbiprofeno, ibuprofeno, piroxicam, refecoxib Alfentanil, buprenorfina, butorfanol, fentanil, meperidina*, nalbufina, naltrexona, propoxifeno Bupivacaína, halotano, lidocaína, propofol, ropivacaína Baclometazona, budesonida, hidrocortisona, prednisolona, prednisona, metilprednisolona Anti-histamínicos Cetinizina, desloratadina, difenidramina, dimenidrinato, loratadina, fexofenadina, hidroxizine, levocabastina, olopatadina, prometazina, triprolidina Antitussíngenos e mucolíticos Dextrometorfano, guaifenesina Descongestionantes nasais Fenilpropanolamina Broncodilatadores Albuterol, brometo de ipratrópio, isoetarina, isoproterenol, levalbuterol, pirbuterol, salmeterol, terbutalina Antiasmáticos Cromoglicato sódico, nedocromil Anti-hipertensivos Benazepril, captopril, enalapril, hidralazina, labetaol, metildopa, mepindolol, minoxidil, nicardipina, nifedipina, nimodipina, nitrendipina, propranolol, quinapril, timolol, verapamil Diuréticos Acetazolamida, espironolactona, hidroclorotiazida Hipolipemiantes Colesevelan, colestiramina Antiarrítmicos Digoxina, disopiramida, mexiletine, quinidina, propafenona Aminas vasoativas Adrenalina, dipivefrin, dobutamina, dopamina Antiácidos Cimetidina, esomeprazol, famotidina, hidróxido de magnésio, nizatidina, omeprazol, pantoprazol, ranitidina, sucralfato Antieméticos e gastrocinéticos Cisaprida, dimenidrinato, domperidona, metoclopramida, ondansetron Antidiarréicos Laxante * uso no pós-parto imediato Kaolim, loperamida, pectina Bisacodil, docusato, laxantes salinos e osmóticos

7 Tabela 1B - Fármacos seguros para uso durante a lactação Classes Farmacológicas Fármacos Antiparasitários Permetrina, praziquantel Antiobióticos Amicacina, amoxicilina, ampicilina, clavulanato de potássio, azitromicina, aztreonam, carbenicilina, cefalosporinas*, claritromicina, clindamicina, clotrimazol, cloxacilina, dicloxacilina, eritromicina, ertapenem, etambutol, floxacilina, furazolidona, gentamicina, imipenem, kanamicina, lincomicina, loracarbef, metronidazol, minociclina, moxifloxacin, mupirocina, nafcilin, nitrofurantoína, ofloxacin, penicilina G, piperacilina, polimixina B, rifampicina, sulfisoxazol, ticarcilina, tetraciclina, trimetoprim, vancomicina Antivirais Aciclovir, fanciclovir, lamivudina, valaciclovir Antifúngicos Cetoconazol, clotrimazol, fluconazol, griseofulvina, itraconazol, miconazol, nistatina, terbinafina, tinidazol Antimaláricos Hidroxicloroquina, mefloquine, quinina Antidiabéticos Insulina, gliburida, metformin, miglitol Antitireoideanos Propitiouracil Anovulatórios Etonogestrel, levonorgestrel, medroxiprogesterona, noretinodrel, noretindrona Hormônios Levotiroxina, liotironina, desmopressina, tirotropina Anticoagulantes Daltepanina, heparina, warfarin Hipnóticos e ansiolíticos Nitrazepam**, zalepton, zopiclone Neurolépticos Haloperidol, quetiapina, sulpiride Antidepressivos Amitriptilina, amoxapine, citalopram, clomipramina, desipramina, dotiepin, fluoxetina***, fluvoxamina, imipramina, mirtazapina, paroxetina, nortriptilina, sertralina, trazodone Anticonvulsivantes Ácido valpróico, carbamazepina, fenitoína, fosfenitoína, sulfato de magnésio Antienxaqueca Eletriptan Relaxantes musculares Baclofeno, mivacúrio Uterotônicos Metilergonovina**, oxitocina Adoçantes Aspartame Contraste e radioisótopos Bário, C-racloripentato, inoxenol, metrizamida, metrizoato Antineoplásicos Hidroxiuréia Vitaminas Vitaminas C, D, E, K, piridoxina Sais Minerais Sais ferrosos, sais de zinco, flúor Ervas Erva de São João (Hypercurium perforatum) Vacinas Doença de Lyme, DPT, febre tifóide, hepatite A, hepatite B, influenza, meningocócica C conjugada, MMR, pólio oral, rubéola, varicela Imunoglobulinas Hepatite B, RHO Outros Alopurinol, cafeína, carbamida, clorexedine, dornase, fator de coagulação VIIa, flagastrin, hilan G-F 20, infliximab, interferon alfa N3, injeções para alergia, lisina, nicotina adesivo/goma/spray, pamidronato, pentosan, pentoxifilina, pimecrolimus, piridostigmina, teste tuberculínico (PPD) *exceto cefditoren, **períodos curtos, ***após um mês de vida

8 Tabela 2A Fármacos moderadamente seguros para uso durante a lactação Classes Farmacológicas Fármacos Analgésicos e AAS, diflunisa, etodolaco, indometacina, meloxican, antiinflamatórios não mesalamina, nabumetona, naproxeno*, olsalazina, oxaprozin, esteróides tolmetin Analgésicos opióides e Codeína, hidromorfone, hidrocodone, meperidina**, antagonistas metadona, morfina, naloxona, oxicodone, pentazocina, tramadol Anestésicos e indutores Articaína, dibucaína, mepivacaína, metohexital, óxido nitroso, anestésicos procaína, remifentanil, sevoflurano, tipental Antiespasmóticos Escopolamina, flavoxate, hiosciamina, metescolpolamina, oxibutinina Corticosteróides Betametasona, dexametasona, fludocortisona, flunisolida, fluticasona, mometasona, prednicarbato, triancinolona Anti-histamínicos Azelastina, trimeprazine Antitussíngenos Benzonato Descongestionantes nasais Fenilefrina, pseudoefedrina* Broncodilatadores Difilina, formoterol, teofilina Anti-hipertensivos Acebutolol, amlodipina, antenolol, betaxolol, bisoprolol, candesartan, carteolol, carvedilol, esmolol, fosinopril, guanfacine, isradipina, levobunolol, lisinopril, matoprolol, nisoldipima, olmesartam, ramipril, sotalol, telmisartan Diuréticos Ácido etacrínico, furosemida, indapamida, manitol, torsemide, triantereno Vasodilatadores Isossorbida Antilipêmico Ezetimibe, fluvastina, pravastatina Antiarrítmicos Digitoxina, diltiazem, encainide, flecainide, procaínamida Laxantes Senna, cáscara sagrada, óleo de castor, polietilenoglicol Antidiarréicos Difenoxilato, paregórico Antiácidos Lansoprazol, rabeprazol Antieméticos Dolasetron, granisetron, meclizine, proclorperazina, tropisetron Hipolipemiantes Atorvastatina, fenofibrato, genifibrosil, sinvastatina Trombolíticos Alteplase Anticoagulantes e Dipiridamol, enoxaparin, epoprostenol, lepirudin, tinzaparina antiagregantes plaquetários Antiparasitários Albendazol, ivermectina, mebendazol, pamoato de pirantel, tiabendazol Antibióticos Cefditoren, dalfopristina, daptomicina, diritromicina, doxiciclina, enoxacin, fosfomicina, gatifloxacin, isoniazida, levofloxacin, linezolida, lomefloxacin, meropenem, oxacilina, netilmicina, norfloxacin, pirazinamida, podofilox, quinupristina, riflaximin, streptomicina, sulfadizina de prata, sulfametoxazol+trimetropim, sulfassalazina, telitromicina, tobramicina Antivirais Interferon beta 1A e 1B, nevirapina, oseltamivir, peniclovir, valganciclovir, zanamivir, zidovudina Antifúngicos Anfotericona B, caspofungin, sulconazol, terconazol *uso por períodos curtos, ** uso no pós-parto imediato

9 Tabela 2B Fármacos moderadamente seguros para uso durante a lactação Classes Farmacológicas Fármacos Antimaláricos Atovaquone, proguanil, primaquina Antidiabéticos Acarbose, acetohexamida, exenatide, pioglitazona, pramlintide, rosiglitazona, glipizida Anovulatórios Etinillestradiol, etonogestrel, drosperinona, levonorgestrel**** Antitireoideano Carbimazol, metimazol Hormônios e inibidores hormonais Corticotropina, estrogênio, estradiol, gonadorelin, gonadotrofina coriônica, ganirelix, goserelin implante, FSH, melatonina, menotropina, mifepristona, octreotide, progesterona, somatropina, triptolerin, vasopressina Hipnóticos e ansiolíticos Alprazolam, buspirona, butabarbital, butalbital, diazepam, droperidol, estazolam, eszopiclone, flunitrazepam, flurazepam, halazepam, hidrato de cloral, lorazepam, meprobamato, midazolam, oxazepam, pentobarbital, prazepam, secobarbital, temazepam, triazolam, zolpidem Neurolépticos Aripiprazol, flufenazina, perfenazina, risperidona Antidepressivos Amitriptilina, bupropiona, duloxetina, fluoxetina***, maprotilina, mirtazapina, moclobenida, venlafaxina Antiepiléticos Fenobarbital, gabapentina, lamotrigina, levetiracetam, oxcarbazepina, primidona, tiagabina, topiramato, vigabatrina, zolmitriptam Antienxaquecosos Almotriptam, frovatriptam, isometepteno, naratriptam, rizatriptam, sumatriptam Relaxantes musculares Carisoprodol, metaxalona, metocarbamol, orfenadina, toxina botulínica Uterotônicos Carboprost trometamina, ergonovina Imunoglobulinas Adalimumab, alemtuzumab Antipsoriático Antralina, tazaroteno Imunossupressores Azatioprina, mercaptopurina, metotrexate* Contrastes e radioisótopos Gadodiamina, gadoteridol, gadoversetamina, índio 111, iopamidol, ioversol , mangafodipir Vitaminas e análogos Vitamina A, ácido nicotínico (B3), cacipotriene, calcitriol, doxercalciferol, tretinoína Minerais Cromo, selênio Ervas e fitoterápicos Alho, calêndula, camomila germânica, equinácea, fenogreco, ginko biloba, ginseng, milk thistle (silybum marianum), óleo de mameluca, óleo de prímula da noite, valeriane officinalis Vacinas Antrax, cólera, febre amarela, hemófilus influenza B, raiva, toxóide diftérico, toxóide tetânico Outros Ácido azelaico, adapalene, alendronato, alosetron, amantadina, anakinra, arginina, atropina, balsalazide, benzotropina, bismuto, brimonidina, calcitonina, capsaicin, carbidopa, condroitina, darifenacin, deferoxamina, dimetilsulfoxide, dinoprostone,

10 donepezil, epoetin alfa, etanercept, etanol, etidronato, fenazopiridina, fludeoxiglicose, fluocinolona+hidroquinona+tretinoína, fluoresceína, glatiramer, glicopirrolato, glucosamina, hidroquinona, histamina, latanoprost, metalcolina, metilbenzamida****, metilfenidato, midodrine, misoprostol, montelukast, natalizumab, pilocarpina, risedronato, ritodrina, sacarina, sildenafil, sincalide, succimer, tacrolimus, tálio-201, tegaserod, tolteronid, ursodiol, violeta genciana, xenon-133, zafirlukast *uso por períodos curtos, **uso durante período neonatal, ***uso regular ou contracepção de emergência, ****uso como repelente

11 Tabela 3 Fármacos potencialmente perigosos durante a lactação Classes Farmacológicas Fármacos Analgésicos e antiinflamatórios Colchicina, naproxeno* não esteróides Anti-histamínicos Clemastina, doxilamina, tripelenamina Mucolíticos Iodeto de potássio Descongestionantes nasais Efedrina, pseudoefedrina** Anti-hipertensivos Bepridil, doxazosin, flunarizina, fosinopril*, nadolol, prazosin, quinapril*, reserpina, telmisartan*, terazosin, valsartan Vasodilatadores Nitroglicerina, nitroprussiato, nitritos e nitratos Diuréticos Bendroflumetiazida Antianginosos Nitratos, nitritos e nitroglicerina Antiarrítmicos Tocainide Anticoagulantes e Argatroban, ticlopidina antiagregantes plaquetários Antieméticos e antivertiginosos Trimetobenzamida Escabicida e pediculicida Lindano Antimaláricos Pirimetamina, quinacrina Antibióticos Ácido nalidíxico, cloranfenicol, dapsona, grepafloxacin, trovafloxacin Antivirais Foscamet, ribavirina Imunossupressores Cisplatina, leflunomide, micofenolato, sirulimus Antidiabéticos Glimepirida, repaglinida Antiprolactinogênicos Cabergoline Anorexígenos Dexfenfluramina, dextroanfetamina, fentermina, sibutramina Uterotônicos Metilergonovina** Relaxantes musculares Dantrolene, tizanidina Compostos radioativos Cobre 64, gálio 67, índio 111, iodo 123, iodo 131, tecnécio 99 Neurolépticos Loxapine, mesoridazina, pimozide, ziprasidona Antidepressivos Lítio, nefazodone, tioridazida, tiotixeno Antiparkinsonianos Levodopa, pramipexazol, ropirinol Antiepeléticos Etossuximida, felbamato Antimigrânea Ergotamina Antivertiginosos Flunarizina Vitaminas Piridoxina*** Ervas Cohosh preto, funcho (Foeniculum vulgare), sálvia, (salvia officinalis) Vacina Varicela Outros Atomoxetine, betanecol, diclomida, dorzolamida, doxepin creme, éter, formaldeído, hexaclorofeno, iodo-povidine, leflunomide, letrozol, modafinil, penicilamina, solifenacin, pimecrolinus***, metilergonovina**, trastrumuzab *uso no período neonatal, **uso crônico, ***uso em altas doses, ****uso no mamilo

12 Tabela 4 Fármacos contra-indicados para uso durante a lactação Classes Farmacológicas Analgésicos e antiinflamatórios Antiarrítmico Anorexígenos Hormônios e antagonistas hormonais Metais pesados Compostos radioativos Hipnóticos Antiparkinsonianos Antidepressivos Antiepilético Antineoplásicos Antipsoriático Antiartrítico Drogas de abuso Ervas Outros *uso crônico Fármacos Antipirina Amiodarona Dietilpropiona Danazol, dietilestilbestrol, leuprolide, tamoxifeno Chumbo, mercúrio Estrôncio-89 Brometos Bromocriptina Doxepin Zonisamida Busulva, ciclofosfamida, citarabina, clorambucil, doxorubicina, fluoruracil, metotrexate*, mitoxantrone, paclitaxel Etretinato Sais de ouro Ácido gama hidroxibutírico, maconha, cocaína, fenciclidina, heroína, LSD Borage, chá de kombucha, cohos azul, confrei, kavakava Dissulfiram, isotretinoína

13 TABELA 5 Drogas usadas clinicamente para induzir a lactação ou aumentar o volume de leite. Droga Dose Efeitos colaterais Domperidona 10 mg, três vezes ao dia Bem tolerado Metoclopramida 10 mg, três vezes ao dia Bem tolerado Sulpiride 50 mg, três vezes ao dia Sintomas extrapiramidais, sonolência Clorpromazina mg, três vezes ao dia Sintomas extrapiramidais, sonolência Adaptado de Biervliet et al.

14 TABELA 6 Drogas que podem suprimir a lactação. Fármacos Estrógenos Ergometrin Bromocriptina Levodopa Cabergolide Lisurida Ergotamina Bupropiona Pseudo-efedrina Diuréticos Álcool Testosterona Nicotina

15 Discussão Quando fármacos são utilizados pela nutriz, as mamadas podem ser comprometidas devido à reduzida capacidade de excreção hepática e renal do recém-nascido 8. Fatores relacionados com a droga, a nutriz e o lactente devem ser considerados para se entender melhor os efeitos que os fármacos transferidos para o bebê podem ocasionar através do leite materno 8. Fatores relacionados com a droga As drogas podem ser influenciadas por algumas características que irão interferir na passagem para o leite materno, como: lipossolubilidade, reduzida ligação com proteínas plasmáticas, compostos não ionizados e baixo peso molecular (inferior a 100 mol). Outro ponto onde se deve tomar muito cuidado é o pico sérico da droga. Normalmente este pico ocorre na corrente sangüínea da mãe, no mesmo pico do leite, fazendo-se necessário o conhecimento destes horários para que os mesmos não coincidam com os horários de utilização do fármaco e da amamentação 8. Fatores relacionados com a nutriz É a relação do fluxo sangüíneo para a mama com a quantidade de droga utilizada. O modo como a droga é utilizada, por exemplo, se injetável, ela irá alcançar níveis mais altos no sangue em menor tempo, favorecendo sua passagem para o leite materno 8. Efeitos da droga no lactente Irá depender da taxa de absorção desses fármacos no trato gastrointestinal do lactente e da capacidade de eliminação e metabolização. Quanto mais imaturo for o lactente, menor será a aceitação do medicamento pelo organismo 8. Através desta revisão foram encontrados outros fatores que podem influenciar no uso de medicamentos durante a amamentação, como: Bulas Uma revisão feita por Chaves (2006), mostra uma contradição entre as bulas dos medicamentos e a indústria farmacêutica. Pela indústria farmacêutica, 90% dos antiinflamatórios não esteróides (AINES), são considerados como contra indicados durante o

16 período da amamentação. Já na bula do ácido acetilsalicílico, o mesmo é considerado como seguro, propiciando uma grande confusão para os profissionais da saúde 1. Outro ponto a destacar-se sobre as bulas é o grande déficit de informações. A indústria farmacêutica baseiase em razões legais e não clínicas, gerando informações equivocadas ou ausência de informações corretas podendo ocasionar o desmame precoce. Torna-se então necessário que as bulas sejam melhores elaboradas, sendo um instrumento correto e seguro não somente para profissionais da saúde como para a população em geral. O órgão responsável pela regulamentação de informações em bulas de medicamentos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), não inseriu na Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) n 140, de 29 de maio de 2003 a obrigatoriedade da inclusão de informações científicas sobre o uso de medicamentos durante a lactação. Sendo assim, há uma deficiência de informações nas bases científicas, desestimulando a prática do aleitamento materno 1. Por ser um documento sanitário legal, a bula é um meio que o profissional da saúde tem para sua orientação. Já para a população, a bula deve ser em linguagem de fácil compreensão, contendo todas as informações necessárias sobre o medicamento 1. Depressão pós-parto Infelizmente a depressão pós-parto (DPP) é comum em nosso meio, acometendo cerca de 20% das mulheres em todo mundo 9. Magalhães (2006) relata em artigo de revisão que existe maior prioridade em tratar as mulheres com DPP, pois o impacto exercido sobre o desenvolvimento da criança é maior do que a exposição que esses fármacos podem trazer através do leite materno 9. Felizmente o desejo em amamentar é maior do que a preferência ao uso da farmacoterapia, pois metade das mulheres convidadas a participar de um ensaio clínico e de um estudo transcultural, recusaram-se a fazer uso de fármacos, devido estarem amamentando 9. Automedicação No Brasil, aproximadamente 80 milhões de pessoas praticam a automedicação segundo a Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas (ABIFARMA) 6. Um estudo realizado através de um questionário fechado sobre a automedicação no Brasil indica uma preocupação muito grande com o uso de fármacos de forma descontrolada, pois a maior parte desta prática é feita por mulheres entre 16 e 45 anos 6.

17 A má qualidade da oferta de medicamentos, a não obrigatoriedade da apresentação de receita médica e o déficit de informação e instrução na população em geral justificam a preocupação com a qualidade da automedicação praticada no país 6. Mídia Com base nos critérios básicos propostos pela OMS como obrigatórios em todo matéria distribuído a profissionais da saúde, temos: nome genérico, mecanismo de ação, efeito farmacológico, indicação terapêutica, contra-indicações, posologia, reações adversas, interação medicamentosa, superdosagem, apresentação farmacêutica e fabricante/importador 10. Um estudo realizado por Barros J.A.C. e Joany S., apresentou que nenhum dos critérios propostos pela OMS foi encontrado em anúncios de medicamentos em revistas médicas, e em apenas 20% foram citadas reações adversas, conta-indicação e interações 10. Outros meio de comunicação como a televisão, tem grande influência sobre a iniciativa ao uso de medicamentos sem prescrição médica. Mastite É um processo infeccioso agudo das glândulas mamárias de mulheres em fase de lactação causada por microorganismos. Segundo estudo sobre os fatores que predispõe a mastite, o principal deles é a falta de orientação a mães que não sabem como proceder diante desses sintomas 11. Um estudo realizado com 502 mães na cidade de Ribeirão Preto, São Paulo, mostrou que 41% das mulheres entrevistadas fizeram uso de algum tipo de medicamento durante o período de amamentação 4. Outro estudo feito entre julho/1998 a julho/1999 em quatro maternidades de Belo Horizonte, foi verificado o uso de medicamentos em 96,2% no pósparto imediato 2. Influência de doenças Em um artigo publicado em 15 de setembro de 2008 por Weber e Kuhnert, foi analisado o uso de drogas anti-reumáticas por mães em fase de lactação. Concluiu-se que esses medicamentos podem ser utilizados sem preocupação, mas enfatiza que os dados fornecidos pela indústria farmacêutica não deve ser a única fonte de informação para o médico ou qualquer profissional da saúde, havendo necessidade de uma revisão mais profunda e atualizada 12.

18 Em outro estudo realizado por Stowe em 30 mulheres obteve-se 210 amostras de leite materno. Essas mães faziam uso de Lamotrigina, um antiepiléptico, onde a proporção transferida para o leite foi considerada variável, não acusando malefícios ou benefícios consideráveis para este medicamento ser caracterizado como seguro ou não 13. O aleitamento materno é uma fase de extrema importância, principalmente nos seis primeiros meses de vida, onde a mãe oferece através do leite um alimento completo. Devido o assunto ser delicado e ainda não muito explorado, faz-se necessário um maior número de atualizações e revisões, para que quando o uso de medicamentos tenha realmente que ser feito, não interfira na lactação.

19 Referências Bibliográficas 1. Chaves RG, Lamounier JA, César CC, Corradi MAL, Mello RP e, Gontijo CM et al. Amamentação e uso de antiinflamatórios não esteróides pela nutriz: informações científicas versus conteúdo em bulas de medicamentos comercializados no Brasil. Rev. Bras. Saude Mater. Infant. 2006; 6(3): Lamounier JA, Cabral CM, Oliveira BC, Oliveira AB, Oliveira JM, Silva APA. O uso de medicamentos em puérpuras interfere nas recomendações quanto ao aleitamento materno?. J. Pediatr. (Rio J.) 2002; 78(1): Organização Mundial de Saúde. Aleitamento Materno. Disponível em: Acesso em 26 out Del Ciampo LA, Ferraz IS, Daneluzzi JC, Ricco RG, Martinelli JCE. Aleitamento materno e uso de medicamentos durante a lactação. Rev. paul. pediatr. 2007; 25(4): Chaves RG, Lamounier JA, César CC. Medicamentos e amamentação: atualização e revisão aplicadas à clínica materno-infantil. Rev. paul. pediatr. 2007; 25(3): Arrais PSD, Coelho HLL, Batista MCDS, Carvalho ML, Righi RE, Arnau JM. Perfil da automedicação no Brasil. Rev. Saúde Pública 1997; 31(1): Chaves RG, Lamounier JA. Uso de medicamentos durante a lactação. J. Pediatr. (Rio J.) 2004; 80(5). 8. Ministério da Saúde. Amamentação e uso de drogas. Secretaria de Políticas de Saúde. Distrito Federal, 2000, 72p. 9. Magalhães PVS, Pinheiro RT, Faria AD, Osório CM, Silva RA. Questões críticas para o tratamento farmacológico da depressão pós-parto. Rev. psiquiatr. clín. 2006; 33(5):

20 10. BARROS, José Augusto Cabral de; JOANY, Sabrina. Anúncios de medicamentos em revistas médicas: ajudando a promover a boa prescrição? Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 7, n. 4, p. 11. Sales Acilegna do Nascimento, Vieira Graciete Oliveira, Moura Maria do Socorro de Queiroz, Almeida Suelly Pinto Teixeira de Morais Araújo, Vieira Tatiana de Oliveira. Mastite Puerperal: Estudo de Fatores Predisponentes. Rev. Bras. Ginecol. Obstet. 2000; 22(10): Weber JC; Kuhnert C. Breastfeeding and drug management in connective tissue and rheumatic diseases. Revista: Rev Med Interne (La Revue de medecine interne / fondee... par la Societe nationale francaise de medecine interne). Disponível em: +drugs&ids= Acesso em 21 out Stowe ZN. Lamotrigine in breast milk and nursing infants: determination of exposure. Revista: Pediatrics. Disponível em: eeding&ids= Acesso em 21 out