O PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO DENTRO DO PROCESSO CONSTITUCIONAL. Palavras-Chave: Estado Democrático de Direito, contraditório, processo constitucional.

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1 O PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO DENTRO DO PROCESSO CONSTITUCIONAL. Sabrina Gomes Martins 1 Resumo: O presente artigo defende uma posição democrática do princípio do contraditório sob a ótica do Estado Democrático de Direito. Definiu-se o contraditório em bases democráticas, verificou-se a necessidade de redefinir o papel dos sujeitos processuais, destacando-se atividade do juiz, em seu papel jurisdicional, rompendo as barreiras do protagonismo judicial que prega um enfraquecimento das partes. A partir desta perspectiva, adotou-se o modelo constitucional de processo, em que o contraditório é compreendido como princípio constitucional, constatando que o juiz tem o papel de garantir que todas as questões suscitadas no processo, inclusive as decisões de ofício, sejam oportunizadas o contraditório, pois no processo não podem constar questões das quais as partes desconhecem e não tiveram oportunidade de se manifestar. Palavras-Chave: Estado Democrático de Direito, contraditório, processo constitucional. 1. Introdução A Constituição Federal de 1988 trouxe consigo vários princípios que garantem o pleno acesso do cidadão ao poder judiciário, que visam melhorar a efetivação do 1 Acadêmica de Direito do 10 período do curso de direito do Centro Universitário Newton Paiva. 1

2 exercício da cidadania no Estado democrático de Direito. O art. 5º no inciso XXXV da Constituição, o devido processo legal, e no inciso LIV, a ampla defesa. Ainda pelo inciso LVXXVIII, "a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação", diminuindo a morosidade processual. 2. O Processo Constitucional A Constitucionalização em vários ramos do direito tem efetivado garantias constitucionais sejam aplicadas em cada âmbito do direito, cada qual cumprindo com a sua função social. Surgindo o processo constitucional, posto que observados tais garantais e princípios o processo se torna mais célere, observando o contraditório e a ampla argumentação, garantindo a parte uma defesa técnica e uma decisão mais justa que não dará margem a recurso. É inevitável que o processo sempre tenha ligação com os preceitos constitucionais. As garantias constitucionais que transformam o processo em um instrumento de justiça, garantindo a acesso a mesma e a liberdade. Todo direito objetivo estabelece princípios processuais que por sua vez, estabelecem preceitos constitucionais, o direito processual penal, chega a ser apontado como um direito constitucional por alguns doutrinadores, pois é aplicado entre a autoridade e a liberdade. São os princípios e as normas em geral constitucionais que orientam todo ordenamento jurídico, dentre estas as normas instrumentais ou processuais da organização do Poder Judiciário, o que configura o modelo constitucional de processo. 2

3 A sistemática de princípios constitucionais do processo dá-se o nome de direito processual constitucional. Desta forma poderá se examinar o processo em duas relações com a Constituição. O direito processual Constitucional destaca-se em dois preceitos, a tutela constitucional dos princípios fundamentais da organização judiciária e do processo e a jurisdição constitucional. A tutela constitucional corresponde respectivamente sobre os órgãos de jurisdição, competência e as garantias oferecidas. Entretanto, tais princípios tem se limitado; por um absolutismo que muitas vezes tem se visto em fóruns e tribunais. Este absolutismo envolve a ineficiência que se vê diariamente no poder judiciário, como funcionários incapazes para funções que exercem juízes autocratas e que detém uma visão muitas vezes dogmática o que prejudica profundamente a aplicação do contraditório dentro do devido processo legal. Vê-se no modelo constitucional do processo dinâmico deve-se constituir um espaço discursivo de modo a oferecer às partes a formação de decisões judiciais em que se deve assegurar a participação efetiva das partes, mas com um controle pela técnica da fundamentação que será praticada pelos procuradores adequados nas decisões judiciais. Para o Professor José Alfredo de Oliveira Baracho criador da Teoria Constitucionalista do Processo, entende por processo constitucional; O processo constitucional deve ser instrumento eficaz para fazer consagrar, respeitar, manter ou restaurar os direitos individuais e coletivos, quando lesados, através de qualquer fonte, seja ela do próprio poder, dos indivíduos, grupos ou mesmo de ordem econômica e social inadequada à realização da dignidade humana (BARACHO, 1984, p.364). 3

4 A unidade da Constituição juntamente com suas normas e princípios, sejam as normas instrumentais ou materiais, e sua incidência clara e incontestável na legislação infraconstitucional, e nas práticas jurídicas, legislativas e administrativas, reforçam a idéia integradora de processo e constituição. O sistema processual democrático deve garantir uma estrutura discursiva a fim de formar os provimentos, posto que o magistrado não possa funcionar como um semideus e sim somente como um juiz humano e falível. 3. Alterações no Código de Processo Civil que se tornam inconstitucional por violarem o princípio do contraditório. Algumas alterações feitas no Código de Processo Civil cabalmente não observaram os princípios constitucionais da ampla argumentação ou do contraditório tornando os dispositivos legais inconstitucionais. A lei 8.950/1994 acresceu ao Código de Processo Civil o art. 518 e seus parágrafos 1 e 2, porém seu parágrafo 1 é um exemplo claro de como o contraditório é mitigado dentro da própria legislação, se a lei maior diz o contrário, in verbis: "Art Interposta a apelação, o juiz, declarando os efeitos em que a recebe, mandará dar vista ao apelado para responder 1º. O juiz não receberá o recurso de apelação quando a sentença estiver em conformidade com súmula do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo Tribunal Federal. 4

5 O legislador conferiu poderes demais ao juiz ou aos entendimentos sumulados pelo Supremo Tribunal Federal. Não possibilitando a parte o direito de defesa, pois nenhum caso é idêntico. O juiz poderá sim negar o recebimento de um recurso se este não preencher os pressupostos de admissibilidade, mas conferir a ele a decisão sobre o cabimento de um recurso ou não. Onde esta norma a concordância com o diz a Constituição sobre o acesso a justiça, o contraditório a ampla defesa, não garantindo o exercício de contraditório bem como o devido processo legal. Alteração recente feita ao Código de Processo Civil Lei Federal n de 7 de fevereiro de 2006 revela-se inconstitucional, merecendo ser retirada do ordenamento jurídico brasileiro. Esta lei acrescentou o artigo 285 A ao CPC, se tornando uma das maiores aberrações jurídicas em termos de violação do contraditório e da ampla argumentação, in verbis: Art. 285-A. Quando a matéria controvertida for unicamente de direito e no juízo já houver sido proferida sentença de total improcedência em outros casos idênticos, poderá ser dispensada a citação e proferida sentença, reproduzindo-se o teor da anteriormente prolatada. A Constituição é clara quando no art. 5º, "XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. Em razão de acréscimo do artigo 285 A ao Código de Processo Civil Brasileiro, possibilitou-se que sentenças já exaradas possam ser utilizadas como fundamento para novas demandas que, eventualmente, sejam introduzidas no mesmo juízo. Deduz-se, que o intuito deste diploma legal seria otimizar e racionalizar a atividade jurisdicional, de modo a garantir uma rápida solução para o caso de ações idênticas. Porém, com a aplicação deste artigo, ocorre afronta a princípios 5

6 processuais constitucionais que se impõe sejam respeitados, quais sejam, o da igualdade, à segurança jurídica, ao direito de ação, ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla defesa. 4. Conclusão Conclui-se que a Constituição consubstancia o processo constitucional através de vários princípios, como o do contraditório, diga-se, portanto o mais importante, ampla defesa, direito a prova, da isonomia, devido processo legal, da fundamentação racional das decisões, do juízo natural, da inafastabilidade da tutela jurisdicional, da celeridade e do direito a um advogado. Tais princípios permitem a construção de um processo legítimo, que possibilita uma discussão igualitária e correta que além de tudo construirá uma decisão mais justa assegurando maior possibilidade de correção da mesma, caso necessário o duplo grau de apreciação. O contraditório trata-se da bilateralidade em audiência com a finalidade de possibilitar a devida informação e reação. Esta bilateralidade possibilita a construção de um novo modelo constitucional possibilitando maior interação entre as partes e o magistrado, o que é essencial. É dever do magistrado provocar uma debate preventivo com as partes sobre todas as questões importantes ao provimento. É o exercício do contraditório que garantirá o desenvolvimento do processo e um resultado justo. Objetivo mais importante do contraditório é garantir aplicação dos direitos fundamentais, reduzindo o desequilíbrio original da demanda. Hoje, o processo é uma instituição constitucionalizada que traz consigo através da ampla defesa, da isonomia e contraditórios que são tratados como preceitos 6

7 fundamentais constitucionais a garantir o direito da parte através da construção dos provimentos e da jurisprudência tornaram-se um instrumento da ordem constitucional, trazendo consigo uma garantia de participação simétrica e bilateral durante todo o procedimento na formação do ato até o fim do provimento. Desta forma o contraditório oportuniza igualdade de participação das partes litigantes na construção do provimento, porém este vem sendo mitigado em detrimento da celeridade e economia processual, ou nos dizeres de Nelson Nery Júnior (1999, p.141) no interesse superior da justiça. 7

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARACHO, José Alfredo de oliveira. Processo Constitucional. São Paulo. Ed. Forense, BRASIL, Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, BRASIL, Congresso Nacional. Senado. Lei nº Institui o Código de Processo Civil. Diário Oficial da União, 11 de janeiro de 1973 BRASIL, Congresso Nacional. Senado. Lei nº Acresce o art. 285-A a Lei 5.869, de 11 de janeiro de 1973, que institui o Código de Processo Civil. Diário Oficial da União, 7 de fevereiro de BRASIL, Congresso Nacional. Senado. Lei nº Altera dispositivos do Código de Processo Civil, relativos aos recursos. Diário Oficial da União, 11 de janeiro de NERY JÚNIOR, Nelson, Princípios do Processo Civil na Constituição Federal. 5 ed. SP: ED Revista dos Tribunais,