ESTUDO PRÉVIO DAS RESTRIÇÕES AMBIENTAIS ANGRA DOS REIS / RJ
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- Luiz Guilherme Monsanto Amorim
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1 ESTUDO PRÉVIO DAS RESTRIÇÕES AMBIENTAIS ANGRA DOS REIS / RJ Introdução O presente estudo prévio foi elaborado por ITAITI - Consultoria Ambiental, por solicitação da Sra. Vanessa Crespi, com o intuito de identificar as áreas passíveis de ocupação em um terreno de aproximadamente m², localizado na Estrada do Contorno, município de Angra dos Reis, Estado do Rio de Janeiro. Este estudo prévio foi realizado com o uso de croqui de localização fornecido pela proprietária, imagem de satélite 1 e vistorias em campo 2 com apoio de GPS 3. A vegetação nativa que recobre o terreno foi classificada com base no trabalho de Veloso et al. (1991) e os estágios de sucessão ecológica da Mata Atlântica foram identificados levando em conta os parâmetros estabelecidos na Resolução CONAMA nº 06, de 04 de maio de Como será mostrado neste estudo, no terreno há áreas aptas à ocupação, sendo necessário, delimitar as áreas de preservação permanente existentes formadas a partir de uma nascente e um pequeno córrego que deságua diretamente no oceano, a Faixa de Marinha formada por uma linha costeira e as áreas com cota superior a 60 metros, restritivas também à ocupação. Cabe lembrar que a supressão da vegetação nativa é regulada pela Lei da Mata Atlântica, a qual estabelece os parâmetros para intervenção na vegetação, como se verá no corpo deste relatório. 1 - imagem obtida no Google Earth Pro 2 - a vistoria de campo foi realizada nos dias 27 e 28 de março de GPSMAP Garmin 60 CSx 1/20
2 Localização A propriedade situa-se no município de Angra dos Reis, Estrada do Contorno, altura do nº 5.000, região da Praia do Tanguá, com vista privilegiada para a Ilha da Gipóia, conforme é ilustrado na Figura 01 e na Foto 01 a seguir. Figura 01: Mapa com localização da propriedade 2/20
3 Foto 01: Vista da Ilha da Gipóia, a partir da propriedade Características do Terreno O terreno situa-se em uma encosta da Serra do Mar, limítrofe ao oceano, sendo cortado pela Estrada do Contorno, um pouco abaixo da cota 60 metros. De acordo com o Plano Diretor do Município de Angra dos Reis, a propriedade encontra-se em Zona Urbana de Proteção Ambiental (ZUPA). A parte do terreno situada entre a Estrada do Contorno e o oceano apresenta áreas aproveitáveis e áreas de preservação permanente. A área acima da estrada, é coberta por floresta ombrófila em estágio avançado de sucessão, com exceção de uma pequena faixa estreita ao longo da estrada, que apresenta vegetação nativa pioneira (área antropizada). A descrição mais completa da vegetação existente na propriedade é apresentada a seguir. 3/20
4 Cobertura Vegetal Nativa Local e Regional Na região onde se situa a propriedade a vegetação nativa predominante é a floresta ombrófila densa (Veloso et al., 1991). Oliveira (2002), ao analisar a estrutura e composição da Mata Atlântica na Ilha Grande, município de Angra dos Reis, encontrou um mosaico de florestas secundárias em diferentes idades, desde capoeiras resultantes de roças caiçaras abandonadas há aproximadamente 5 anos, passando por formações florestais com idade aproximada de 25 anos e 50 anos, além de formações com características climácicas (segundo o autor, florestas sem qualquer vestígio de utilização anterior). Esta informação se relaciona com o presente estudo devido ao fato de que o histórico de ocupação da área, onde se situa a propriedade, também inclui a derrubada de matas nativas originais. Devido a proximidade com a Ilha Grande é possível que a composição florística seja similar. De fato, algumas espécies encontradas com freqüência na propriedade como Aegiphila sellowiana e Anadenanthera colubrina são listadas como comuns no estudo botânico da Ilha Grande. Vegetação da Propriedade Na propriedade foi realizado um levantamento preliminar da vegetação nativa e seus estágios sucessionais, os quais foram classificados de acordo com a Resolução Conama nº 06, de 04 de maio de Foram identificadas áreas com vegetação nativa nos estágios inicial, médio e avançado de sucessão, bem como áreas cobertas com vegetação pioneira, conforme pode ser observado na Figura 02 a seguir. 4/20
5 Figura 02 formato A3 5/20
6 Como se vê, a maior parte da propriedade é recoberta por vegetação no estágio avançado de sucessão, totalizando 10,10 ha. A área coberta com vegetação em estágio médio de sucessão é de 1,53 ha, praticamente sobre a faixa próxima ao oceano considerada terreno de marinha. O estágio inicial corresponde a 0,9 ha da propriedade, com presenças de árvores típicas desse estágio de sucessão como embaúbas (Cecropia ssp.) e tamanqueiros (Aegiphila ssp.). A área recoberta com vegetação nativa em estágio pioneiro, com predominância de gramíneas e asteráceas, tem 2.66 ha. O Quadro 01 apresentado a seguir mostra um resumo das áreas de vegetação nativa e os respectivos estágios de sucessão, além de outras compartimentações do terreno como praia e estrada. Quadro 01: cobertura do terreno Tipo de área Área em ha Praia 0,13 Estrada 0,27 Vegetação em estágio avançado de regeneração 10,10 Vegetação em estágio médio de regeneração 1,53 Vegetação em estágio inicial de regeneração 0,90 Vegetação pioneira 2,66 Área total 15,59 6/20
7 Áreas com Restrição de Uso Na propriedade em estudo foram identificadas áreas de preservação permanente, terreno de marinha e área acima da cota 60m, estas em função de restrição municipal. Áreas de Preservação Permanente Foram identificadas uma nascente e um córrego na área em estudo. A nascente e o córrego encontram-se dentro do maciço florestal de estágio avançado e suas respectivas APPs somam 1,88 ha. A Resolução CONAMA Nº 303, de 20/03/02, que dispõe sobre parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente, definiu os seguintes parâmetros para as APPs:... Art. 3º Constitui Área de Preservação Permanente a área situada: I - em faixa marginal, medida a partir do nível mais alto, em projeção horizontal, com largura mínima, de: a) trinta metros, para o curso d'água com menos de dez metros de largura;... II - ao redor de nascente ou olho d'água, ainda que intermitente, com raio mínimo de cinqüenta metros de tal forma que proteja, em cada caso, a bacia hidrográfica contribuinte;... Conforme determina a Resolução, para o córrego a APP corresponde a uma faixa de 30 metros em cada margem e a APP da nascente é a área circunscrita por um raio de 50 metros ao redor do olho d'água. 7/20
8 Terreno de Marinha O terreno apresenta 1,59 ha de área reconhecida como Faixa de Marinha, delimitada por uma linha costeira de 33 metros. Trata-se de bem da União, conforme estabelece o Decreto-Lei nº de 05 de maio de Nesta faixa de 33 metros incide a Área de Proteção Ambiental APA de Tamoios. Segundo a FEEMA (Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente), a região de orla marítima de Angra dos Reis situada entre o Tanguazinho e a Praia da Figueira, faixa litorânea onde se encontra a propriedade, é considerada ZVS (Zona de Vida Silvestre) da APA Tamoios, não sendo permitido parcelamento de solo e edificações de acordo com Decreto nº , de 01 de julho de 1994, que institui o Plano Diretor da APA TAMOIOS. Logo, a intervenção nesta área determinada pela linha costeira de 33 metros dependerá de autorização da Marinha, bem como do órgão gestor da APA, que é o Instituto Estadual de Florestas (IEF-RJ). Contudo, sendo Zona de Vida Silvestre, é pouco provável que seja autorizado o corte da vegetação nativa em estágio médio de sucessão. Áreas Acima da Cota 60m Em Angra dos Reis, a Lei Municipal nº 162/L.O., de 12 de Dezembro de 1991, estabelece no Capítulo I, Artigo 65, que não serão permitidas na Zona de Desenvolvimento Urbano e na Zona Urbana de Proteção Ambiental quaisquer edificações acima da cota altimétrica de 60 (sessenta) metros. Portanto, a municipalidade não permite o uso da área acima da cota 60m, independente do tipo de cobertura vegetal. Na propriedade, a área correspondente acima da cota 60m é de 5,18 ha. 8/20
9 O quadro a seguir resume as áreas com restrições de uso. Quadro 02: áreas com restrições de uso Tipo de área com restrição para ocupação/edificação Área em ha Acima da cota 60 5,18 APP Nascentes 0,78 APP Córregos 1,10 Faixa de marinha 1,59 Área total 8,65 As áreas de preservação permanente (APPs), a faixa de marinha e a área acima da cota 60m são mostradas na Figura 03 a seguir. 9/20
10 Figura 03 formato A3 10/20
11 Potencial de Aproveitamento do Terreno O restante do terreno, excluídas as áreas restritivas ao uso (APPs, Faixa de Marinha e acima da cota 60m) são passíveis de ocupação. Estas áreas estão cobertas com vegetação nativa em diferentes estágios de sucessão, contudo, lembramos que qualquer supressão de vegetação nativa deve ser precedida por autorização dos órgãos ambientais competentes. A Lei da Mata Atlântica (Lei nº de 22 de dezembro de 2006) estabelece que mesmo para vegetação em estágio inicial é necessária autorização do órgão competente, neste caso, o Instituto Estadual de Florestas (IEF-RJ). As áreas cobertas por vegetação em estágio inicial e pioneiro correspondem a um total de 3,56 ha ou m². Essas manchas de vegetação concentram-se na parte do terreno situada entre a Estrada do Contorno e o oceano, mas há também uma faixa de vegetação pioneira passível de ocupação ao longo da Estrada do Contorno, na margem da estrada voltada para o oceano. As áreas com vegetação nativa nos estágios médio e avançado de sucessão, fora das áreas de restrições (APPs, Faixa de Marinha e acima da cota 60m), são passíveis de supressão, regulada pelos artigos 30 e 31 da Lei da Mata Atlântica Lei /06, transcritos a seguir:... Art. 30. É vedada a supressão de vegetação primária do Bioma Mata Atlântica, para fins de loteamento ou edificação, nas regiões metropolitanas e áreas urbanas consideradas como tal em lei específica, aplicando-se à supressão da vegetação secundária em estágio avançado de regeneração as seguintes restrições: I - nos perímetros urbanos aprovados até a data de início de vigência desta Lei, a supressão de vegetação secundária em estágio avançado de regeneração dependerá de prévia autorização do órgão estadual competente e somente será admitida, para fins de loteamento ou edificação, no caso de empreendimentos que garantam a preservação de vegetação nativa em estágio avançado de regeneração em no mínimo 50% (cinqüenta por cento) da área total coberta por esta vegetação, ressalvado o disposto nos arts. 11, 12 e 17 desta Lei e atendido o disposto no Plano Diretor do Município e demais normas urbanísticas e ambientais aplicáveis; II - nos perímetros urbanos aprovados após a data de início de vigência desta Lei, é vedada a supressão de vegetação secundária em estágio avançado 11/20
12 de regeneração do Bioma Mata Atlântica para fins de loteamento ou edificação. Art. 31. Nas regiões metropolitanas e áreas urbanas, assim consideradas em lei, o parcelamento do solo para fins de loteamento ou qualquer edificação em área de vegetação secundária, em estágio médio de regeneração, do Bioma Mata Atlântica, devem obedecer ao disposto no Plano Diretor do Município e demais normas aplicáveis, e dependerão de prévia autorização do órgão estadual competente, ressalvado o disposto nos arts. 11, 12 e 17 desta Lei. 1o Nos perímetros urbanos aprovados até a data de início de vigência desta Lei, a supressão de vegetação secundária em estágio médio de regeneração somente será admitida, para fins de loteamento ou edificação, no caso de empreendimentos que garantam a preservação de vegetação nativa em estágio médio de regeneração em no mínimo 30% (trinta por cento) da área total coberta por esta vegetação. 2o Nos perímetros urbanos delimitados após a data de início de vigência desta Lei, a supressão de vegetação secundária em estágio médio de regeneração fica condicionada à manutenção de vegetação em estágio médio de regeneração em no mínimo 50% (cinqüenta por cento) da área total coberta por esta vegetação. Ressaltamos que a supressão desse tipo de vegetação depende de negociação com os órgãos governamentais os quais costumam permitir apenas para intervenções de baixo impacto e mediante compensação ambiental. No caso específico das áreas da propriedade com vegetação em estágio médio e avançado, a autorização para supressão é de responsabilidade do órgão estadual (IEF), com a ressalva de que também será necessário consultar o órgão municipal competente, no caso a Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente de Angra dos Reis. Em contato recente com esse órgão, fomos informados de que, em breve, haverá uma Resolução municipal que regulamentará a supressão de vegetação nos diferentes estágios de sucessão ecológica da mata atlântica. A Figura 04, a seguir indica as áreas com restrições à ocupação (APPs, Faixa de Marinha e área acima da cota 60m) e as áreas passíveis de ocupação com os diferentes estágios de sucessão da vegetação. 12/20
13 Figura 04 formato A3 13/20
14 As fotos a seguir foram obtidas na área na data da vistoria. Foto 02: Angico, Anadenanthera colubrina, em estágio inicial de sucessão Foto 03: Embaúba, Cecropia sp., em estágio inicial de sucessão ecológica 14/20
15 Foto 04: Cipó-caboclo, Davilla rugosa, em estágio inicial de sucessão Foto 05: Em primeiro plano, estágio pioneiro de sucessão ecológica 15/20
16 Foto 06: A seta vermelha indica estágio inicial de sucessão Foto 07: Vista do interior de área em estágio médio de sucessão 16/20
17 Foto 08: Vegetação em estágio avançado de sucessão Foto 09: Local da nascente existente na propriedade 17/20
18 Considerações Finais Toda intervenção em áreas de vegetação nativa dependerá de prévia autorização das autoridades ambientais competentes, no caso o IEF-RJ e a Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente de Angra dos Reis. As solicitações deverão ser instruídas através de plantas com curvas de nível e documentação de domínio do imóvel. É desaconselhável qualquer intervenção sem a prévia autorização, pois este ato poderá ser enquadrado na Lei de Crimes Ambientais. A solicitação de autorização para supressão de áreas com vegetação nativa nos estágios médios e avançados deverão ser tecnicamente justificadas aos órgãos ambientais, indicando a falta de alternativas locacionais, além de estarem restritos aos parâmetros determinados na Lei da Mata Atlântica. São Paulo, 05 maio de 2008 Antonio Cabral Analista Ambiental Renato Miazaki de Toledo Ecólogo Especialista em Geoprocessamento Paulo de Mello Schwenck Jr. Engenheiro Agrônomo CREA/SP /20
19 Bibliografia Decreto-Lei nº de 05 de maio de Dos Imóveis da União, Da Declaração dos Bens e Da Enunciação. Presidência da República Decreto Estadual nº de 05 de dezembro de 1982, dispõe sobre a criação da Área de Proteção Ambiental APA de Tamoios. Governo do Estado do Rio de Janeiro TAMOIOS. Decreto nº , de 01 de julho de 1994, institui o Plano Diretor da APA Lei Federal nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, institui o Código Florestal. Presidência da República, Brasil Lei Federal nº de 15 de agosto de 1989, altera a Lei Federal nº 4.771, de 15 de setembro de Presidência da República, Brasil Lei Municipal nº 162/L.O., de 12 de Dezembro de 1991, institui o Plano Diretor do Município de Angra dos Reis, disponível no endereço: Lei Nº , de 22 de Dezembro de Regime Jurídico do Bioma Mata Atlântica. Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos, Brasil OLIVEIRA, R. R. Ação antrópica e resultantes sobre a estrutura e composição da Mata Atlântica na Ilha Grande, RJ. Rodriguésia 53 (82): Resolução Conjunta IBAMA/SP Nº 1, de 17 de Fevereiro de CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) VELOSO, H. P.; RANGEL FILHO, A L. R.; J. C.A. Classificação da Vegetação Brasileira Adaptada a Um Sistema Universal. Rio de Janeiro: IBGE, Departamento de Recursos Naturais e Estudos Ambientais, p. 19/20
20 ANEXO Plano Diretor da APA de Tamoios 20/20
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