Supremo Tribunal Federal

Transcrição

1 HABEAS CORPUS SANTA CATARINA RELATOR PACTE.(S) IMPTE.(S) COATOR(A/S)(ES) : MIN. LUIZ FUX :PAULO ROBERTO ANDREIS :SAMUEL SILVA :RELATOR DA MC N.º SC DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. RECEPTAÇÃO ART. 180 DO CP. RECURSO ESPECIAL. PRETENSÃO DE COMPENSAÇÃO DA AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA COM A ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA, A FIM DE ALCANÇAR A REDUÇÃO DA PENA E A PRESCRIÇÃO. INADMISSÃO DO RESP NA ORIGEM. BAIXA DOS AUTOS. MEDIDA CAUTELAR NO STJ OBJETIVANDO EFEITO SUSPENSIVO A RECURSO INADMITIDO. INDEFERIMENTO. AUSÊNCIA DO FUMUS BONI IURIS E DO PERICULUM IN MORA. DECISÃO EXAUSTIVAMENTE FUNDAMENTADA. INCONSTITUCIONALIDADE DA EXECUÇÃO ANTECIPADA DA PENA: TEMA INAUGURADO NESTE WRIT. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. - Habeas corpus ao qual se nega seguimento, com fundamento no art. 38 da Lei n /90. DECISÃO: O paciente foi condenado, em 27 de novembro de 2007, à pena de 2 (dois) anos e 1 (um) mês de reclusão, em regime semiaberto, pela prática do crime tipificado no art. 180 do Código Penal (receptação), sendo-lhe negado o direito de apelar em liberdade. O Tribunal de Justiça de Santa Catarina deferiu, em 7 de dezembro de 2007, habeas corpus para garantir-lhe o apelo em liberdade. Posteriormente, em 29/06/2009, desproveu o apelo defensivo e, em

2 1º/10/2009, rejeitou os embargos de declaração. O paciente interpôs, em 23/11/2009, recurso especial o qual restou inadmitido em razão de: (i) não ter indicado o dispositivo da lei federal violado, limitando-se a alegar genericamente violação à lei federal e contrariedade à jurisprudência dominante, a consubstanciar fundamentação deficiente e, por isso, a atrair o óbice da Súmula 284/STF, e (iii) por não realizar adequadamente o cotejo analítico, a fim de demonstrar a similitude fático-jurídica entre os julgados conflitantes. Opostos embargos de declaração, restaram rejeitados. Ato contínuo, o Presidente da Corte local determinou a remessa dos autos à Comarca de origem, sob o fundamento da ausência de efeito suspensivo no recurso especial. O impetrante ajuizou medida cautelar no STJ para obter efeito suspensivo no agravo que visa à subida do recurso especial. Alega que o indeferimento do pleito consubstancia flagrante constrangimento ilegal, porquanto o Supremo Tribunal Federal declarou, no HC , a inconstitucionalidade da execução provisória da pena. Afirma que o tema de fundo do recurso especial é a compensação da agravante da reincidência com a atenuante da confissão espontânea, que, se acolhida, reduziria a pena em 3 (três) meses e o paciente seria beneficiado com a prescrição. Requer seja cassada a decisão impugnada,... mantendo o direito do paciente de aguardar em liberdade o trânsito em julgado do seu Agravo de instrumento. Afirmando tratar-se de matéria de ordem, cognoscível de ofício, pleiteia, alternativamente, a compensação da atenuante com a confissão espontânea e, consectariamente, o reconhecimento da prescrição da pena. É o relatório. DECIDO. A decisão ora impugnada ostenta o seguinte teor (transcrição extraída da inicial, eis que o paciente não juntou a respectiva peça): Trata-se de Medida Cautelar Inominada ajuizada por PAULO ROBERTO ANDREIS, visando dar efeito suspensivo ao 2

3 Agravo em Recurso Especial AREsp /SC). O Requerente alegar ter manejado o Agravo em desfavor da decisão do 2º Vice-Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina que negou seguimento a seu Recurso Especial interposto contra acórdão daquele Tribunal estadual, nos autos da Apelação Criminal apresentada pela defesa, após sua condenação pela prática de receptação (art. 180 do CP) à pena de 2 anos e 1 mês em regime inicial semiaberto. Requer a concessão da liminar, inaudita altera pars, para manutenção do direito de recorrer em liberdade, com expedição de salvo conduto, se por al não estiver preso (e-stj fl. 12). É o breve relatório. Decido. De início, importante gizar que esta Medida Cautelar foi a mim distribuído por prevenção de órgão julgador, uma vez que a ação principal (AREsp /SC) encontra-se sem relator após a transferência do Ministro Gilson Dipp para a Vice- Presidência deste Superior Tribunal de Justiça. Assim, tratando-se, como se trata, de pleito em caráter emergencial, passo a examiná-lo. Colhe-se dos autos que o Recurso Especial do requerente, interposto exclusivamente apontando divergência jurisprudencial (art. 105, III, c, da CF), foi inadmitido por decisão fundamentada do Tribunal Catarinense, tendo por fundamentos a deficiência na argumentação recursal que não permitiria sua exata compreensão, nos termos da Súmula 284/STF e a não realização adequada do necessário cotejo analítico a fim de demonstrar a similitude fático-jurídica entre os julgados supostamente conflitantes (4-STJ fls. 87/89). De seu turno, nos autos do AREsp /SC, o então agravante limitou-se a afirmar a possibilidade de compensação da reincidência com a confissão espontânea, possibilitando a redução de sua pena em 3 meses. Pois bem, sem embargos ao futuro exame da ação principal, este Tribunal Superior, perfilhando entendimento do STF, admite a concessão de efeito suspensivo a Recurso Especial 3

4 através de Medida Cautelar (art. 34, V c/c 288, do RI), desde que aquele recurso já tenha sido admitido perante o Tribunal de origem. Esta é a regra, que encontra suporte nas Súmulas 634 e 635 do Pretório Excelso. Excepcionalmente, quando ainda não exercido o juízo de admissibilidade mas já interposto o REsp, em hipóteses restritas, nas quais se revelam nítidos os requisitos próprios de toda cautelar fumus boni iuris e periculum in mora -, esta Corte tem flexibilizado tal orientação. Por outro vértice, não se ignora o também entendimento deste Superior Tribunal no sentido de que não cabe, em regra, atribuir efeito suspensivo ao Agravo contra inadmissão de Recurso Especial, por se tratar de conteúdo negativo, implicando antecipação do julgamento do próprio agravo. A propósito: MEDIDA CAUTELAR INOMINADA. PRETENDIDA OUTORGA DE EFEITO SUSPENSIVO A RECURSO EXTRAORDINÁRIO AINDA NÃO ADMITIDO. INVIABILIDADE. AGRAVO IMPROVIDO. - Não se revela processualmente viável a medida cautelar, que, ajuizada originariamente perante o Supremo Tribunal Federal, busca conferir efeito suspensivo a recurso extraordinário ainda não admitido pela Presidência do Tribunal de origem ou que visa a outorgar eficácia suspensiva a agravo de instrumento interposto contra decisão que não admitiu o apelo extremo. Precedentes. - A instauração da jurisdição cautelar do Supremo Tribunal Federal, nas causas que objetivem a concessão de efeito suspensivo a recurso extraordinário, supõe a existência de juízo positivo de admissibilidade do apelo extremo, proferido pela Presidência do Tribunal de jurisdição inferior ou resultante do provimento do recurso de agravo, além da necessária satisfação dos requisitos concernentes à plausibilidade jurídica da pretensão recursal e ao periculum in mora. Precedentes. (AgRg/Pet /PR, Rel. Min. CELSO DE MELLO, DJ de 4/2/10). 4

5 [ ] Por certo, tem-se admitido, em situações excepcionalíssimas, a concessão de liminar em Medida Cautelar em face de decisões teratológicas ou manifestamente ilegais, desde que presentes seus requisitos autorizadores. A hipótese dos autos, no entanto, não se adequa à excepcionalidade, mormente pela total ausência de documentos que demonstrem a necessidade de sua concessão, uma vez que há apenas a indicação genérica de cumprimento antecipado da pena, não havendo qualquer comprovação concreta de tal fato, afastando-se, assim, a possibilidade de se aferir o grau de lesividade ou não ao patrimônio (liberdade) da parte autora, capaz de justificar o periculum in mora por ela descrito. De mais a mais, é orientação pacífica deste STJ, que a Medica Cautelar, objetivando atribuir efeito suspensivo a Recurso Especial ou a Agravo em Recurso Especial, exige para a sua concessão, necessariamente, a presença cumulativa dos requisitos de plausibilidade do direito invocado e do risco de dano irreparável, sendo que a ausência de quaisquer dos requisitos referidos, obsta a pretensão de se conferir o efeito suspensivo pretendido. Daí, a concessão de provimento de natureza cautelar de competência dos Tribunais Superiores demanda que a parte requerente faça prova conjunta dos mencionados requisitos e, no caso concreto, da teratologia da decisão recorrida. Nesse contexto, inexistindo os requisitos legais necessários à concessão da pretensão cautelar, sobretudo para dar efeito suspensivo ao Agravo em Recurso Especial (que sequer se encontra sob esta Relatoria), o indeferimento da medida cautelar é medida que se impõe. Ante o exposto, indefiro liminarmente a Medida Cautelar, com fundamento nos arts. 34, XVIII, e 288 do RISTJ. Depreende-se, portanto, que o tema aventado nas razões do recurso especial cujo exame se pretende é o reconhecimento da compensação da agravante da reincidência com a atenuante da confissão espontânea, com 5

6 vista à redução da pena e consequente prescrição, e não a tese da inconstitucionalidade da execução antecipada da pena, somente agora inaugurada, a consubstanciar supressão de instância o conhecimento do tema. Como bem demonstrado pelo Tribunal local e o STJ, o recurso especial restou inadmitido em decisões exaustivamente fundamentadas, assim como a medida cautelar inominada, não havendo qualquer reparo a ser feito por meio do presente writ. De resto, a jurisprudência Corte é pacífica no sentido da impossibilidade da compensação da reincidência com a confissão espontânea, inviabilizando a possibilidade de concessão, ex officio, da ordem. Cito, por todos, o seguinte precedente: EMENTA: PENAL. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO TRIPLAMENTE QUALIFICADO (CP, ART. 121, 2º, II, III E IV). DOSIMETRIA DA PENA. PREPONDERÂNCIA DA AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA SOBRE A ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA. ARTIGO 67 DO CÓDIGO PENAL. PRECEDENTES. 1. O artigo 67 do Código de Processo Penal dispõe que No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais, as que resultam dos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência. 2. Deveras, a reincidência revela que a condenação transitada em julgado restou ineficaz como efeito preventivo no agente, por isso merece maior carga de reprovação e, por conseguinte, deve preponderar sobre a circunstância atenuante da confissão espontânea. 3. In casu, o Juiz ao afirmar que A circunstância de ser o réu reincidente, já tendo sido condenado várias vezes, prepondera sobre a confissão espontânea, nada mais fez do que aplicar o citado artigo 67 do Código Penal, que trata especificamente do concurso entre circunstâncias agravantes e atenuantes; aliás, na linha da jurisprudência desta Corte: HC /MS, 1ª Turma, 6

7 Rel. Min. DIAS TÓFFOLI, DJe de 08/09/2011; RHC /MS, 1ª Turma, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, DJe de 17/02/2011; e HC /MS, 2ª Turma, Rel. Min. GILMAR MENDES, DJe de 11/03/ Recurso ordinário em habeas corpus ao qual se nega provimento. (RHC , Rel. Min. LUIZ FUX, 1ª Turma, DJe de 23/04/2012) Ex positis, nego seguimento ao writ, com fundamento no art. 38 da Lei n /90. Publique-se. Int.. Brasília, 9 de outubro de Ministro LUIZ FUX Relator Documento assinado digitalmente 7