Serviço Público Federal CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA DO ESTADO DE GOIÁS

Transcrição

1 PROCESSO: 6711/2016 IMPUGNANTE: UNIMED GOIÂNIA COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO IMPUGNADO: EDITAL DE PREGÃO ELETRÔNICO Nº 12/2016 I. ADMISSIBILIDADE Trata-se de pedido de esclarecimentos apresentado pela empresa UNIMED GOIÂNIA COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO aos termos do Edital do Pregão nº 12/2016, apresentado através de protocolo na sede da autarquia, no dia 05 de dezembro de O Decreto nº 5450/2005, que regulamenta o Pregão Eletrônico, dispõe em seu art. 18, caput, que as Impugnações ao ato convocatório deverão ser apresentadas em até dois dias úteis antes da data fixada para a abertura da sessão pública, neste mesmo sentido prevê o edital em seu item Deste modo, apresentada a Impugnação no último dia do prazo, verifico a presença do requisito de admissibilidade, qual seja a tempestividade, passando a sua análise. II. MÉRITO a) Da informação preço per capita, com preço por faixa etária constante no Termo de Referência A informação ora questionada refere-se à discriminação dos valores da presente licitação. Assim, a terminologia per capita corresponde ao valor individual por beneficiário de acordo com sua faixa etária (referente ao valor unitário do modelo de proposta), e o preço por faixa etária é o subtotal resultante da multiplicação daquele valor pelo número de integrantes da faixa (equivalente ao valor mensal da proposta). Destaque-se, por oportuno, que o critério de julgamento da proposta será o de menor preço, apurado do somatório dos valores de todas as faixas conforme o parágrafo anterior.

2 b) Da divergência do período de carência de partos a termo O art. 12, inciso V, alínea a, da Lei nº 9.656/1998, fixa que o prazo máximo para partos a termo é de trezentos dias. Verifica-se que a norma estabeleceu um teto limite para as carências para este procedimento especificamente. Embora seja possível a redução deste período, o Termo de Referência, que detalha o objeto da contratação, traz o prazo máximo previsto na lei, muito embora o contrato, que dispõe sobre as obrigações das partes, dispor de maneira diversa. Vislumbro apenas erro material na elaboração do edital, devendo prevalecer o prazo de 300 (trezentos) dias, previsto no Termo de Referência. c) Do oferecimento de Seguro Garantia Funeral como requisito de qualificação técnica O item do edital ao impôs a apresentação de Seguro Garantia Funeral como requisito para qualificação técnica da licitante vencedora, sendo este o objeto da impugnação apresentado pela empresa. Razão assiste à Impugnante. Nos termos da Lei nº 8.666/93, em seu art. 30, inciso II, verifica-se que a comprovação da qualificação técnica deve manter relação pertinente e compatível com as características do objeto da licitação, sendo assim defeso a este órgão exigir documentação diversa daquele ora licitado. Nesta seara, percebe-se que a assistência funerária é matéria disciplinada pela Lei nº /2016, submetidas à jurisdição da Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) e não à Agência Nacional de Saúde e da Lei nº 9.656/98, razão pela qual não se pode exigir comprovantes de qualificação técnica desta modalidade, devendo tal item ser retirado do edital. d) Da cobertura de acordo com o Rol de Procedimentos da ANS A Lei nº 9.656/98, em seu art. 10, 4º, dispõe que compete à ANS editar normas referentes à amplitude das coberturas, inclusive de transplantes e de procedimentos de alta complexidade. Por sua vez, a Agência Nacional de Saúde Suplementar, no uso dessa atribuição legal, emitiu a Resolução Normativa nº 387/2015, que em seu art. 2º prevê:

3 Art. 2º As operadoras de planos privados de assistência à saúde poderão oferecer cobertura maior do que a mínima obrigatória prevista nesta Resolução Normativa e nos seus Anexos, por sua iniciativa ou mediante expressa previsão no instrumento contratual referente ao plano privado de assistência à saúde. Deste modo, a previsão contratual dos parágrafos SÉTIMO e DÉCIMO da minuta do contrato visa resguardar a manutenção de eventuais procedimentos que estejam em uso pelos beneficiários e possam ser excluídos da lista de procedimentos obrigatórios da agência reguladora, para que este figure como cobertura durante o prazo contratual. Portanto, tal previsão não se contrapõe ao regime legal aplicado aos planos de saúde suplementar ao permitir que estes ofereçam, mediante prévio acordo, a manutenção de procedimentos ainda que não cobertos pelo rol de procedimentos e eventos de cobertura mínima obrigatória. e) Da cobertura a procedimentos e eventos relacionados à obesidade mórbida O Impugnante aponta que a permanência de tratamentos clínicos, cirúrgicos e em Spa s relativos à obesidade mórbida devem ser excluídos do rol de coberturas, sem contudo especificar a justificativa para tanto. Todavia, em consulta ao site da ANS é importante destacar o Parecer Técnico nº 13/GEAS/GGRAS/DIPRO/2016, no qual determina a cobertura mínima ao GASTROPLASTIA (CIRURGIA BARIÁTRICA) POR VIDEOLAPAROSCOPIA OU VIA LAPAROTÔMICA que está listado no Anexo I da RN nº 387, de 2015, Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde. Portanto, não há razões para manutenção da ressalva a exclusão de cobertura relacionadas à obesidade mórbida constantes do parágrafo sétimo do edital, já que isso poderia limitar indevidamente a competitividade do certame ao estabelecer procedimentos e eventos que não constam na RN Nº 387/2015, sem prejuízo da manutenção do procedimento listado acima.

4 f) Dos beneficiários menores de 24 (vinte e quatro) anos Embora haja divergência no Termo de Referência e na Minuta do Contato a respeito da referência ao estudante de escola técnica de nível médio, este dispositivo deve ser lido em conformidade ao art. 77, 2º, do Decreto nº 3.000/99, in verbis: Art [...] 2º Os dependentes a que referem os incisos III e V do parágrafo anterior poderão ser assim considerados quando maiores até vinte e quatro anos de idade, se ainda estiverem cursando estabelecimento de ensino superior ou escola técnica de segundo grau (Lei nº 9.250, de 1995, art. 35, 1º). Portanto, o correto é constar tanto no Termo de Referência, quanto na Minuta do Contrato a informação estudante de escola técnica de nível médio. g) Da acomodação dos beneficiários vinculados ao FAMÍLIA PROTEGIDA O item , do Termo de Referência, dispõe sobre o benefício Família Protegida, também conhecida como cláusula de remissão, verbis: Caso o beneficiário titular venha falecer, os beneficiários dependentes devidamente cadastrados no contrato e especificados neste benefício deverão ter direito aos serviços previstos no plano de saúde em que estiverem inscritos observando as respectivas condições, pelo prazo de até 2 (dois) anos, contados da data do óbito, sem o pagamento das mensalidades em acomodação enfermaria, observadas as condições estabelecidas no contrato. Em que pese tal verbete não constar no Parágrafo Décimo Quarto, da Minuta do Contrato, deve ser mantida aquela previsão constante no Termo de Referência, vez que mais adequada ao objeto ora contratado, enquadrando-se ainda nos termos do art. 30, 3º da Lei nº 9.656/98, e da Sumula Normativa nº 13, da ANS

5 h) Do reajuste técnico Serviço Público Federal Conforme decisão da Agência Nacional de Saúde Suplementar, o reajuste técnico encontra-se suspenso nos planos de saúde coletivos, de modo que é vedada a aplicação de tal critério quando da repactuação do eventual contrato, conforme se percebe da consulta ao site da agência: Este tipo de reajuste está suspenso. É uma exceção destinada a um determinado plano de saúde que esteja em desequilíbrio econômico. Esse desequilíbrio ameaçaria a continuidade dos serviços de saúde aos consumidores desse plano. A operadora que vende o plano é autorizada pela ANS a aumentar o preço, mas fica obrigada a seguir regras definidas pela Agência. Assim, as alterações dos valores do contrato só podem ocorrer por variação de custos anual, apurados pelo IGBE através do índica IPCA/Saúde, ou mudança de faixa etária dos usuários, observando sempre o disposto na RN ANS N 63/2003. i) Das implicações em caso de inadimplência A Impugnante aponta que o Código Civil deve ser utilizado supletivamente à norma editada pela Lei nº 9.656/98, tendo em vista a possibilidade de causar desequilíbrio econômico financeiro do contrato caso se permita a inadimplência da administração por prazo superior a 60 dias. Em que pese a complementariedade trazida por aquele Código, a hipótese em cotejo trata da contratação por parte da Administração Pública, submetendo-se aos ditames da Lei de Licitações, que em seu art. 54, permite a aplicação daquela norma aos contratos administrativos, pois prevê que a essa categoria contratual, serão aplicados, supletivamente, os princípios da teoria geral dos contratos e as disposições de direito privado. Todavia, aquela lei já disciplinou os meios que o contratado possui para que a administração cumpra com as obrigações que lhe cabe. Art. 78. Constituem motivo para rescisão do contrato: ( ) XV o atraso superior a 90 (noventa) dias dos pagamentos devidos pela Administração decorrentes de obras, serviços ou fornecimento, ou parcelas destes, já recebidos ou executados, salvo em caso de calamidade pública, grave perturbação da ordem interna ou guerra, assegurado

6 ao contratado o direito de optar pela suspensão do cumprimento de suas obrigações até que seja normalizada a situação; Percebe-se deste modo que a Administração Pública possui prazo maior que os particulares para que seja caracterizada a inadimplência, qual seja noventa dias. O referido dispositivo ainda traz duas opções ao contratado: a) rescindir o contrato após o prazo legal; ou b) suspender o cumprimento das obrigações até o adimplemento. Neste sentido, Marcelo Alexandrino traz, em sua obra Direito Administrativo Descomplicado (2015), o seguinte esclarecimento que convém parafrasear: Se o contrato for rescindido por esse motivo, o particular contratado terá direito a ser ressarcido dos prejuízos comprovados que houver sofrido, tendo ainda direito à devolução da garantia, aos pagamentos devidos pela execução do contrato até a data da rescisão e ao pagamento do custo da desmobilização (art. 79, 2.0). A lei, portanto, assegura o direito à indenização dos denominados danos emergentes, mas, frise-se, não há nela nenhuma disposição prevendo indenização a título de lucros cessantes (indenização baseada no valor estimado do lucro que o contratado teria com a execução do contrato, e deixará de obter em decorrência da rescisão). Portanto, apesar de haver disposição da Lei nº 9.656/98 sobre a rescisão do contrato, complementada subsidiariamente pelo Código Civil, a Administração Pública possui regime especial de contratação, usufruindo as chamadas cláusulas exorbitantes, dentre elas o prazo dilatado para configuração da inadimplência, que a diferencia de uma contratação entre particulares. III. DISPOSITIVO parcialmente procedente para: Pelo exposto, conheço da Impugnação apresentada pela empresa e no mérito a julgo 1. Esclarecer que a informação per capta refere-se ao valor unitário de cada faixa;

7 2. Alterar o Parágrafo Segundo da Cláusula Sétima da Minuta do Contrato para constar o período de carência de partos a termo no total de 300 dias, tal qual no Termo De Referência; 3. Remover o item do Edital; 4. Esclarecer que eventual retirada de procedimentos do Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde pela ANS, tal cobertura deverá permanecer durante a vigência do contrato; 5. Excluir as ressalvas aos procedimentos de obesidade mórbida do item 2.8, c, do Termo de Referência e do Parágrafo Sétimo, c, da Cláusula Quinta da Minuta do Contrato; 6. Inserir o verbete estudante em estabelecimento de nível superior ou escola técnica de nível médio, no item , b, do Termo de Referência; 7. Inserir o verbete em acomodação enfermaria, no parágrafo décimo quarto, da Cláusula Quinta da Minuta do Contrato; 8. Esclarecer a impossibilidade de aplicação de reajuste técnico, tendo em vista sua suspensão, conforme decisão da ANS; 9. Esclarecer que a Administração Pública, nos termos do art. 78, inciso XV, da Lei nº 8.666/93, dispõe de prazo de 90 (noventa) dias para que se caracterize inadimplência, não se aplicando, em regra, normas de direito privado a suas contratações; 10. Alterar a data do pregão para 21 de dezembro de 2016, às 10:00 (Horário de Brasília). Goiânia GO, 06 de dezembro de 2016 Alessandro Miranda de Siqueira Pregoeiro Mat. 122/2013