ESTADO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE CONTAS MINISTÉRIO PÚBLICO

Transcrição

1 ESTADO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE CONTAS MINISTÉRIO PÚBLICO Parecer Nº /11 Processo TC Nº /06 Origem: Fundo Municipal de Assistência Social de Campina Grande Natureza: Prestação de Contas Anual (exercício 2005) FUNDO MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL DE CAMPINA GRANDE PRESTAÇÃO DE CONTAS ANUAIS EXERCÍCIO DE NÃO REPASSE DE CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. AUSÊNCIA DE REPASSE DE TAXAS AO FMAS PELA SECRETARIA DE FINANÇAS DO MUNICÍPIO. DESPESA ORÇAMENTÁRIA RESGISTRADA NO BALNAÇO FINANCEIRO NÃO COMPROVADA. IRREGULARIDADE DAS CONTAS. IMPUTAÇÃO DE DÉBITO. RECOMENDAÇÕES. COMUNICAÇÃO À RECEITA FEDERAL DO BRASIL. Versam os presentes autos acerca da prestação de contas anual do gestor do Fundo Municipal de Assistência Social de Campina Grande, Sr. José Vanildo Medeiros, relativa ao exercício de Após a análise dos documentos pertinentes, a Auditoria emitiu relatório às fls. 418/429, apontando algumas irregularidades. 435/451. Procedida a notificação de praxe, o interessado aviou defesa às fls. Relatório de análise de defesa foi confeccionado e encartado às fls. 454/459. Nesse pronunciamento técnico restaram como subsistentes as seguintes irregularidades:

2 2 1. De responsabilidade do Sr. José Vanildo Medeiros: 1.1 Recomendação ao gestor do FMAS para que mantenha um controle administrativo dos bens patrimoniais postos à disposição do Fundo ; 1.2 Contratação de pessoal sem formalização de instrumento legal de contrato e sem a realização de concurso público; 1.3 Não repasse de consignações retidas, sendo R$ ,11 de contribuição previdenciária ao INSS retido e não recolhido, R$ 8.879,45 de ISS retido e não repassado à Prefeitura Municipal e R$ ,76de IRRF retido e também não recolhido à Prefeitura Municipal; 1.4 Despesa extra-orçamentária registrada no Balanço Financeiro, na conta Diversos Responsáveis, no valor de R$ 3.225,60, sem comprovação; 1.5 Omissão do ex-gestor do Fundo Municipal de Assistência Social quanto ao não requerimento formal do repasse da receita da taxa de 1,5% do FMAS retida em outros órgãos municipais 2. De responsabilidade do Sr. Vanderlei Medeiros de Oliveira, Secretário das Finanças, e do Sr. Metuselá Lameque Jafé da Costa Agra de Melo: 1.2 Não Repasse da taxa sobre serviços e/ou obras realizados no Fundo Municipal de Saúde e na Secretaria de Finanças da Prefeitura Municipal de Campina Grande ao FMAS Cota Ministerial, às fls. 461, pugnando pela notificação pessoal dos Srs. Vanderlei Medeiros de Oliveira e Metuselá Lameque Lafé Agra de Mello, para fins de lhe facultar oportunidade para se pronunciar acerca das irregularidades de suas responsabilidades apontadas nos relatórios da Auditoria. Em análise de defesa apresentada pelos sobreditos gestores (fls. 503/505), o Órgão Técnico considerou mantidas todas as irregularidades apontadas. parecer. A seguir, os autos vieram ao Ministério Público para exame e oferta de É o relatório. Passo a opinar. A obrigação de prestar contas decorre de expressa determinação constitucional, tendo como destinatário qualquer pessoa que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre recursos públicos. O Tribunal de Contas, ao exercer sua função no controle externo das contas públicas, verifica, sob os aspectos contábil, financeiro, orçamentário, operacional e patrimonial, o cumprimento da

3 3 legislação pertinente, a fim de que os recursos colocados à disposição do administrador sejam utilizados com a máxima eficiência. É preciso registrar ainda que imperativa é não só a prestação de contas, mas também a sua prestação completa e regular, pois a ausência ou a imprecisão de documentos que torne dificultoso o seu exame é quase tão grave quanto a omissão do próprio dever de prestá-las. A Unidade Técnica constatou a inexistência de controle patrimonial. Todavia, considerando a composição da Lei Complementar Municipal nº 15/2002, que trata da estrutura administrativa do Poder Executivo do Município de Campina Grande, o controle patrimonial é atribuição do Secretário da Administração, não sobejando, portanto, no tocante a esse aspecto responsabilidade ao gestor em epígrafe. Igualmente, a eiva anotada pela auditoria de que houve contratação de pessoal sem formalização de instrumento legal de contrato e sem a realização de concurso público não deve ser imputada ao interessado, haja vista que a mesma LC 15/2002 reza que a realização de concurso público é atribuição e prerrogativa do Secretário Municipal da Administração e a nomeação feita por parte do Chefe do Executivo. Ademais, no caso em epígrafe está-se a tratar de Fundo, que por sua própria natureza não tem competência para proceder a tais espécies de contratação. No tocante à omissão do ex-gestor do Fundo Municipal de Assistência Social, Sr. José Vanildo Medeiros, relativa ao não requerimento formal do repasse da receita da taxa de 1,5% do FMAS retida em outros órgãos municipais, o interessado alegou que Quase que diariamente, despachava com o Secretário de Finanças e cobrava do mesmo os repasses devidos e de direito do FMAS. Sobre este ponto, não é caso de se atribuir a responsabilidade ao gestor do FMAS, e sim aos demais órgãos que deixaram de repassar a respectiva receita. Outrossim, verificou-se o não repasse de consignações retidas, sendo R$ ,11 de contribuição previdenciária ao INSS retido e não recolhido, R$ 8.879,45 a título de ISS retido e não repassado à Prefeitura Municipal e R$ ,76 a título de IRRF retido e também não recolhido à Prefeitura Municipal. Em relação à eiva acima mencionada o interessado afirmou que O não repasse das consignações retidas decorreu da falta de repasse de recursos do Poder Executivo para a manutenção das atividades diárias do Fundo Municipal de Assistência Social. Asseverou, ainda, que durante todo o exercício, os repasses dos recursos eram feitos, no caso das folhas de pessoal, pelo valor líquido, o que inviabilizava o repasse das consignações. O defendente anexou documentação de fls. 445/451 acerca dos repasses de Imposto de Renda Retido na Fonte IRRF e de Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza ISS do FMAS para a Prefeitura Municipal de Campina Grande. Contudo não há nos documentos apresentados comprovação de que as despesas realizadas em 23/04/10 competem ao exercício de 2005.

4 4 Registre-se que o não repasse ao INSS das contribuições previdenciárias dos empregados, já devidamente retidas, constitui infração grave, que requer intervenção da Receita Federal do Brasil para cobrar do ente o montante retido. Em relação à despesa extra-orçamentária registrada no Balanço Financeiro, na conta Diversos Responsáveis, no valor de R$ 3.225,60, sem comprovação, o interessado alegou ter anexado aos autos documentos que comprovam a despesa efetuada. A respeito, a ilustre Auditoria asseverou, em seu Relatório concernente à análise da defesa, não ter encontrado qualquer documentação comprobatória da despesa mencionada, não se tendo, pois, diante de tal afirmação da Auditoria, como afastar a irregularidade em apreço, a qual inclusive se lança como principal móvel para a irregularidade das contas, já que, nesse contexto, a imputação respectiva do débito se impõe. Finalmente, passa-se à análise das irregularidades de responsabilidade do Sr. Vanderlei Medeiros de Oliveira, Secretário de Finanças do Município de Campina Grande, e do Sr. Metuselá Lameque Jafé da Costa Agra de Mello, gestor do Fundo Municipal de Saúde. Em relação ao repasse da taxa sobre serviços e/ou obras ao FMAS (1,5%) inferior às retenções, é dever legal dos entes o repasse da taxa em questão para o Fundo Municipal de Assistência Social. As falhas acima mencionadas ensejam recomendação à atual gestão da Secretaria de Finanças e do FMS de Campina Grande no sentido de cumprir as determinações legais, repassando os valores das taxas ao FMAS, possibilitando o pleno funcionamento do referido Fundo. Ex Positis, opina o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas pela: 1. Irregularidade da vertente prestação de contas; 2. Imputação de débito ao Sr. José Vanildo Medeiros, no valor de R$ 3.225,60 relativos à despesa extra-orçamentária registrada no Balanço Financeiro sem comprovação; 3. Comunicação à Receita Federal do Brasil acerca da falha referente à ausência de recolhimento dos recursos tributários, inclusive de cunho previdenciário;

5 5 4. Recomendação à atual gestão da Secretaria de Finanças e do Fundo Municipal de Saúde do Município de Campina Grande no sentido de cumprir as determinações legais relacionadas aos repasses de valores das taxas ao Fundo Municipal de Assistência Social do referido Município; 5. Recomendação à atual gestão do Fundo Municipal de Assistência Social do Município de Campina Grande no sentido de guardar estrita observância aos termos da Constituição Federal, das normas infraconstitucionais e ao que determina esta Egrégia Corte de Contas em suas decisões, evitando a reincidências das falhas constatadas no exercício em análise. É o Parecer, salvo melhor juízo. João Pessoa, 08 de abril de ELVIRA SAMARA PEREIRA DE OLIVEIRA Procuradora do Ministério Público junto ao TCE/PB esra-aj