Ministério Público do Estado de Mato Grosso 15ª Promotoria Cível de Defesa do Meio Ambiente Natural NOTIFICAÇÃO RECOMENDATÓRIA Nº 01/2016

Transcrição

1 Procedimento Preparatório nº /2015 NOTIFICAÇÃO RECOMENDATÓRIA Nº 01/2016 O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL através de seu representante legal que esta subscreve, no uso de suas atribuições legais e institucionais que lhe foram conferidas pela Lei Orgânica Nacional do Ministério Público Lei nº 8.625, de 12/02/93, com aplicação subsidiária da Lei Orgânica do Ministério Público da União Lei Complementar nº 75, de 20/05/1993, em especial seu art. 6º, XX, e com fulcro no art. 129, III da Constituição Federal; CONSIDERANDO ser função institucional do Ministério Público o zelo pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos aos princípios da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade e da eficiência, bem como aos princípios, garantias, condições, direitos, deveres e vedações previstos na Constituição Federal e na lei (art. 5º, incs. IV e V, alínea b, da Lei Complementar nº 75, de 20/05/93 e art. 27, incs. I e II da Lei nº 8.625/93); CONSIDERANDO, especificamente, o dever do Poder Público de defender e preservar o meio ambiente, para as presentes e futuras gerações, devendo todos os seus agentes contribuírem para o bom cumprimento desse dever; Centro Político Administrativo, CEP: , Cuiabá/MT Fone: difusos@mp.mt.gov.br IB. 1

2 CONSIDERANDO que o art. 6º, inc. XX da Lei Complementar nº 75/93 autoriza o Ministério Público a expedir recomendações, visando a melhoria dos serviços públicos e de relevância pública, bem como o respeito aos interesses, direitos e bens cuja defesa lhe cabe promover, fixando prazo para adoção das providências cabíveis, vem expedir a presente NOTIFICAÇÃO RECOMENDATÓRIA à SECRETARIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE, na pessoa da SECRETÁRIA ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE, em razão dos seguintes fatos: Registrou-se, nesta Promotoria de Justiça, o Procedimento Preparatório nº /2015, por meio da Portaria nº 09/2015 (cópia anexa), a fim de acompanhar as políticas públicas ambientais voltadas à proteção da ictiofauna no Estado de Mato Grosso, especialmente no tocante a regulamentação da pesca e dos petrechos considerados proibidos nas bacias hidrográficas matogrossenses. Notadamente, considerando que o território Mato Grossense abrange bacias de rios federais (Bacia Amazônica, Bacia do Araguai-Tocantins e Bacia do Alto Paraguai), averiguou-se a necessidade de que a legislação estadual seja alterada, visto que atualmente se apresenta menos restritiva que as normativas federais, fato que implica diretamente na complementação de norma penal em branco (art. 34, inc. II da Lei nº 9.605/98 1 ). 1Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente: Pena - detenção de um ano a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem: I - pesca espécies que devam ser preservadas ou espécimes com tamanhos inferiores aos permitidos; II - pesca quantidades superiores às permitidas, ou mediante a utilização de aparelhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos; III - transporta, comercializa, beneficia ou industrializa espécimes provenientes da coleta, apanha e pesca proibidas. Centro Político Administrativo, CEP: , Cuiabá/MT Fone: difusos@mp.mt.gov.br IB. 2

3 Nesse contexto, havendo uma norma federal mais restritiva e uma norma estadual mais branda, torna-se inevitável que haja fiscalização conflitante entre os órgãos federais e estaduais, ou seja, num determinado rio (ou trecho desse rio), os agentes fiscais do IBAMA, por exemplo, autuarão um infrator pelo uso de petrecho denominado estaca, enquanto os agentes fiscais da SEMA, deixarão de autuá-lo pelo mesmo fato em razão da normativa estadual considerar como exceção à proibição a utilização desse petrecho, gerando-se, assim, insegurança jurídica. A regulamentação dos petrechos considerados proibidos pressupõe a própria definição de pesca predatória e, assim, a caracterização de ilícitos ambientais contra a fauna, o que, consequentemente, determina a ação do Poder de Polícia institucionalmente exercido tanto pelos agentes fiscais do Estado quanto da União. Logo, considerando a vasta extensão hídrica do Estado Mato-grossense, impende-se que haja coerência tanto nas normativas, política pública como nas ações de fiscalização desempenhadas pelo Estado e pela União nas bacias hidrográficas de Mato Grosso. Pois bem. A primeira legislação estadual que tratou especificamente da política e controle de pesca no Estado de Mato Grosso, a Lei estadual nº 7.881, de 30/12/2002 (atualmente revogada pela Lei nº 9.096/2009), assim determinava: Centro Político Administrativo, CEP: , Cuiabá/MT Fone: difusos@mp.mt.gov.br IB. 3

4 Art. 21 É proibido extrair recursos pesqueiros do Estado de Mato Grosso: I - nos lugares e épocas interditadas pelos órgãos competentes; II - a jusante e a montante nas proximidades de barragens, cachoeiras e corredeiras, escadas de peixes e desembocaduras de baías; III - de espécies e tamanhos proibidos pela legislação; IV - com qualquer aparelho, método ou técnica e apetrechos proibidos pela legislação pesqueira, tais como, armadilha tipo tapagem, pari, cercado, anzol de galho, e qualquer outro aparelho fixo, aparelho tipo elétrico, sonoro ou luminoso, fisga gancho e garatéia de lambada, arpão, covo, espinhel e tarrafão; rede de arrasto de qualquer natureza, colher ou garatéia quando utilizadas com embarcações motorizadas em movimento (corrico); V - nos locais onde o exercício de pesca cause embaraço à navegação; VI - com substâncias tóxicas; VII - com explosivos; VIII - através de derivação de cursos d'água ou esgotamento de lagos de domínio público. Parágrafo único. Considera-se predatória a pesca realizada em desacordo com este artigo, excetuando-se das proibições nele previstas a extração dos recursos pesqueiros para fins científicos. Por sua vez, a Lei estadual nº 9.096, de 16/01/2009, que, como sobredito, revogou inteiramente a Lei nº 7.881/2002, regulamentou a pesca predatória em seu art. 25, excetuando-se da proibição os aparelhos fixos do tipo anzol de galho e estaca da proibição, mediante regulamentação do CEPESCA, dentre outras alterações, conforme segue: Art. 25 É proibido extrair recursos pesqueiros do Estado de Mato Grosso: I - nos lugares e épocas interditadas pelos órgãos competentes; II - a 200m (duzentos metros) a jusante e a montante de barragens, cachoeiras e corredeiras, escadas de peixes e desembocaduras de baías de acordo com a legislação vigente; III - a captura de iscas vivas e de peixes nativos para fins ornamentais e de aquariofilia, a m (mil metros) de ninhais; Centro Político Administrativo, CEP: , Cuiabá/MT Fone: difusos@mp.mt.gov.br IB. 4

5 IV - de espécies e tamanhos proibidos pela legislação; V - com qualquer aparelho, método ou técnica e petrechos proibidos pela legislação pesqueira, tais como: a) armadilha tipo tapagem; b) covo, pari e jiqui, exceto para captura de iscas vivas; c) cercado e qualquer outro aparelho fixo, exceto anzol de galho e estaca que serão regulamentados pelo CEPESCA; d) aparelho tipo elétrico, sonoro (sonar) ou luminoso; e) fisga, gancho (exceto garatéia quando fizer parte do corpo da isca artificial), arpão e espinhel; f) tarrafão, rede de qualquer natureza (exceto rede de arrasto para captura de peixes ornamentais); g) colher ou isca artificial quando utilizadas com embarcações motorizadas em movimento (corrico); VI - com substâncias tóxicas; VII - com explosivos; VIII - por meio de derivação de cursos d'água ou esgotamento de lagos de domínio público. IX - plataformas e tablados e ceveiros fixos para pescaria colocados no leito do rio. Parágrafo único. Considera-se predatória a pesca realizada em desacordo com este artigo, excetuando-se das proibições nele previstas a extração dos recursos pesqueiros para fins científicos. Desde então, houve duas novas alterações na legislação estadual, de modo que a Lei nº 9.794, de 30/07/2012 e a Lei nº 9.895, de 07/03/2013, incluíram como proibitivo o uso de anzol de galho e de estada e, após, autorizaram, novamente, a depender de regulamentação do CEPESCA, veja-se, respectivamente: Art. 7º Altera a alínea "c" e acrescenta a alínea h, ao inciso V, do Art. 25, da Lei nº 9.096/2009, que passa a vigorar com a seguinte redação: Art. 25 (...) c) cercado e qualquer outro aparelho fixo, inclusive, o anzol de galho e estaca; (...) h) amoladinha. Centro Político Administrativo, CEP: , Cuiabá/MT Fone: difusos@mp.mt.gov.br IB. 5

6 E; Art. 1º. O Art. 25, inciso V, alínea c, da Lei nº 9.096, de 16 de janeiro de 2009, modificado pela Lei nº 9.794, de 30 de julho de 2012, e pela Lei nº 9.893, de 1º de março de 2013, passa a vigorar com a seguinte redação: Art. 25 (...) V - (...) c) cercado e qualquer outro aparelho fixo, exceto anzol de galho e estaca, que serão regulamentados pelo CEPESCA, no prazo de 60 (sessenta) dias, após a publicação desta lei; Não bastasse a inconstância legislativa estadual em relação a esses petrechos, a exceção ainda não foi regulamentada pelo CEPESCA. Com efeito, a Normativa Federal determina, em regra, a proibição da utilização dos petrechos como anzol de galho e estaca para a pesca, que apresentam-se como exceção apenas para a pesca artesanal, conforme consta na Instrução Normativa Ibama nº 43, de 26/07/2004 e, mais recentemente, nas Instruções Normativas Interministeriais nº 12 e 13 de , ambas expedidas conjuntamente pelo Ministério da Pesca e Aquicultura e o Ministério de Meio Ambiente. Por outro lado, não apenas esses petrechos (anzol e estaca) merecem regulamentação e adequação em relação as proibições e eventuais exceções, como toda a normativa em si considerada, haja vista a implicação direta na configuração do crime ambiental de pesca predatória e no direcionamento da fiscalização, razão pela qual RECOMENDA-SE à SECRETÁRIA ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE que adote as seguintes providências: 2 Centro Político Administrativo, CEP: , Cuiabá/MT Fone: difusos@mp.mt.gov.br IB. 6

7 Que promova a alteração da norma estadual em relação aos petrechos e meios de pesca definidos como proibidos, bem como que sejam revistas as exceções nela dispostas, para que a norma Estadual seja, ao menos, tão restritiva quanto são as normativas federais, a fim de que haja unicidade na complementação da norma penal em branco (art. 34 da Lei nº 9.605/98) e coerência nas ações de fiscalização realizadas tanto pelos agentes estaduais quanto pelos agentes federais nas Bacias Hidrográficas de Mato Grosso, seja em rios federais ou estaduais. Concedo-lhe o prazo de 30 (trinta) dias, após o recebimento da presente notificação, para que comunique a esta Promotoria de Justiça acerca do acatamento desta recomendação. Cuiabá, 21 de janeiro de Wesley Sanchez Lacerda Promotor de Justiça Centro Político Administrativo, CEP: , Cuiabá/MT Fone: difusos@mp.mt.gov.br IB. 7