DECLARAÇÃO CONJUNTA. na companhia do Presidente Eduardo Frei, o Distrito Municipal de La Florida.

Transcrição

1 DECLARAÇÃO CONJUNTA Atendendo a convite de Sua Excelência o Presidente da República do Chile, Senhor Eduardo Frei Ruiz-Tagle, o Excelentíssimo Senhor Presidente da República Federativa do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, realizou visita oficial ao Chile entre os dias 1 e 4 de março de O Presidente da República Federativa do Brasil se fez acompanhar de comitiva de alto nível. Essa foi a primeira visita oficial realizada ao exterior pelo Chefe de Estado brasileiro desde que assumiu a Presidência da República, constituindo demonstração do excelente nível das relações entre ambos os países. Durante sua visita oficial, o Presidente da República Federativa do Brasil manteve conversações com o Presidente Eduardo Frei em clima de cordialidade e de entendimento mútuo. O Presidente Fernando Henrique Cardoso foi recebido em Sessão Conjunta especial do Congresso em Valparaiso, onde foi saudado pelos Presidentes do Senado, Senador Gabriel Valdés Subercaseaux, e da Câmara dos Deputados, Deputado Vicente Sota Barros. O Presidente Fernando Henrique Cardoso realizou, ainda, visita de cortesia ao Presidente da Corte Suprema de Justiça, Senhor Marcos Aburto Ochoa. O Presidente Fernando Henrique Cardoso proferiu conferência na sede da Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e Caribe. Foi homenageado por lideres empresariais chilenos com um almoço na Sociedade de Fomento Fabril e inaugurou monumento ao Maestro Antônio Carlos Jobim, na Praça Brasil, em Santiago. Em cerimônia presidida pelo Prefeito Jaime Javinet de la Fuente, recebeu o título de Hóspede Ilustre da cidade de Santiago. O Presidente Fernando Henrique Cardoso visitou, a convite e na companhia do Presidente Eduardo Frei, o Distrito Municipal de La Florida. O Presidente Fernando Henrique Cardoso foi condecorado com o Grande Colar da Ordem do Mérito do Chile, havendo, por sua vez, agraciado o Presidente Eduardo Frei com o Grão-Colar da Ordem do Cruzeiro do Sul, da República Federativa do Brasil.

2 Os dois Presidentes trocaram informações sobre a conjuntura interna de seus países, passaram em revista o estado das relações bilaterais, em seus diversos aspectos e examinaram temas de interesse comum nos âmbitos regional e internacional. A luz dessa ampla avaliação concluíram que se abrem perspectivas inéditas e altamente promissoras para o fortalecimento das relações bilaterais, o que concorrera significativamente para acelerar o processo de integração no sul do Continente. Em conseqüência, inspirados na tradição de amizade entre os dois países e na excelência de suas relações, convieram na presente Declaração Conjunta: Constataram, com otimismo, que a Democracia como forma de Governo se consolida na região e que uma sucessão normal de regimes emanados da vontade popular prevalece hoje no Continente. Concordaram que essa consolidação da Democracia e do Estado de Direito e seu permanente fortalecimento devam continuar a constituir o objetivo primordial da ação política dos países da região. Recordaram, nesse sentido, a importância do Grupo do Rio, expressão de princípios e valores fundamentais compartilhados, como o foro regional mais adequado para o tratamento desse tema. Reiteraram o compromisso assumido na Cúpula das Américas, realizada em Miami, em dezembro de 1994, de prosseguir os esforços visando à preservação e ao fortalecimento da comunidade democrática no continente americano, no espírito da Declaração de Princípios e do Plano de Ação aprovados naquela Reunião. Salientaram a importância dos esforços de estabilização econômica e de abertura de seus mercados, empreendidos pelos países da região, medidas que têm contribuído para a retomada do crescimento econômico dos mesmos, com reais benefícios para suas populações. Nesse contexto, manifestaram interesse em promover reuniões de Ministros da área econômica para o exame conjunto da evolução da conjuntura econômica interna e internacional. Consideraram conveniente a continuidade da cooperação e da integração regionais para que essas tendências positivas se acentuem e que venham a permitir a eliminação de barreiras comerciais e o fortalecimento do sistema multilateral em torno da Organização Mundial do Comércio. Nesse sentido, concordaram que o comércio livre de barreiras artificiais e o livre fluxo de investimentos produtivos são essenciais para alcançar um nível de desenvolvimento que permita maior dinamismo econômico que incremente a criação de novos empregos, gerando maior bem estar e prosperidade.

3 Examinaram os problemas que, no quadro da globalização dos mercados financeiros, têm afetado com intensidade variável alguns países. Decidiram manter essa questão sob exame e estudar medidas para evitar que essas graves perturbações comprometam a retomada do crescimento e os esforços para a estabilização das economias da região. Nesse sentido, analisaram detidamente a conjuntura decorrente da situação econômica mexicana e reiteiraram o seu interesse de colaborar, no âmbito da cooperação regional existente, para sua pronta solução. Reconheceram o progresso econômico alcançado pelos países da região ao longo dos últimos anos e expressaram apoio aos diversos mecanismos de integração regional, em particular o MERCOSUL. Assinalaram que, por meio desses mecanismos, a região tem conseguido aumentar sua produtividade, eficiência e competitividade, melhorando, dessa forma, sua posição na economia internacional. Manifestaram a mais firme vontade de alcançar prontamente um entendimento nas negociações ora em curso para lograr a associação do Chile ao MERCOSUL, mediante um acordo destinado a esse fim. Expressaram sua decisão de continuar incentivando o livre comércio e de eliminar as barreiras que possam dificultar o intercâmbio entre ambos os países. Concordaram em prosseguir com os esforços destinados à formação progressiva de um espaço econômico ampliado que permita a obtenção, no mais breve prazo, do livre comércio de bens. Concordaram, igualmente, em estabelecer uma moldura normativa em cujo âmbito se concretizem acordos que possibilitem a gradual liberalização do comércio de serviços, a promoção e o incentivo de investimentos recíprocos, o melhoramento das condições dos meios de transporte e o desenvolvimento e a melhor utilização da infra-estrutura física daquele novo espaço econômico ampliado, com ênfase no estabelecimento de corredores terrestres bioceânicos. Consideraram com interesse especial o tema da integração física regional, em cujo âmbito adquire relevância o estabelecimento de corredores terrestres bioceânicos, ressaltando os avanços alcançados na infra-estrutura atualmente em execução para a conseqüente utilização recíproca de facilidades portuárias em ambos os países. Essas vias de

4 comunicação internas serão elementos de articulação do Cone Sul, que interligarão os países participantes entre si e estes com as bacias do Pacífico e do Atlântico. Assinalaram que esse projeto permitirá um incremento substancial dos fluxos de comércio de bens e de serviços em toda a região e facilitará o acesso dos países vizinhos a terceiros mercados. Nesse sentido, consideraram positivas as iniciativas que vêm sendo empreendidas pelo Estado de Mato Grosso e Arica para assegurar uma eficiente interconexão entre si e outras destinações. Concordaram que os mecanismos regionais de integração permitem que seja contemplada com realismo a implantação da "Área de Livre Comércio das Américas", até o ano 2005, tal como acordado na Cúpula de Miami. Para esses efeitos, coincidiram, igualmente, na importância de promover e assegurar o processo de convergência entre as diferentes iniciativas de integração e liberalização na região. Naquela Reunião de Cúpula, os Chefes de Estado e de Governo conferiram à Organização dos Estados Americanos e ao Banco Interamericano de Desenvolvimento, entre outros organismos, a responsabilidade de dar seguimento ao Plano de Ação, em uma demonstração do renovado apoio da comunidade hemisférica a essas instituições. Examinaram, com atenção, os problemas sociais existentes nos dois países e na região, especialmente a persistência disseminada dos níveis de pobreza. Concordaram que a distribuição eqüitativa dos benefícios da prosperidade constitui fator de grande influência para a estabilidade da Democracia. Enfatizaram o papel que desempenham na superação da pobreza tanto a estabilidade econômica quanto o crescimento sustentado das economias. Reiteraram a importância que seus países atribuem à Cúpula Mundial do Desenvolvimento Social, cuja convocação foi uma oportuna iniciativa do Governo chileno e que se reunirá em Copenhague, de 6 a 12 de março corrente, para aperfeiçoar os compromissos e os objetivos que deverão inspirar a ação da comunidade internacional na luta contra a pobreza e a desigualdade. Reafirmaram o empenho do Brasil e do Chile, como países garantes do Protocolo do Rio de Janeiro, em contribuir para lograr uma solução duradoura para o conflito fronteiriço entre o Equador e o Peru. Nesse sentido, consideram essencial o pleno cumprimento da Declaração de Paz do Itamaraty, de 17 de fevereiro último, reiterada na Declaração de Montevidéu, de 28 do mesmo mês.

5 Havendo constatado a excelência das relações políticas e econômicas entre ambos os países, comprometeram-se a promover uma vinculação bilateral no mais alto nível. Acordaram, nesse sentido, em agilizar os mecanismos de consulta e de diálogo entre as respectivas Chancelarias com o objetivo de coordenar políticas e encaminhar questões que possam surgir dessa relação dinâmica e crescentemente diversificada. Recordaram a importância da próxima reunião do Mecanismo Permanente de Consultas Políticas Brasil-Chile que se realizará em Santiago, nos dias 27 e 28 de março, no nível de Vice-Chanceleres. Manifestaram a determinação de aprofundar a concertação e a cooperação entre Brasil e Chile no âmbito dos foros e dos organismos internacionais. Reafirmaram a convicção de que a recente adesão plena de seus países ao Tratado de Tlatelolco contribuirá para a consolidação da região da América Latina e do Caribe como uma Zona Livre de Armas Nucleares e constitui uma demonstração do compromisso dos dois países com a não-proliferação e com o desarmamento. Nesse contexto, conferem especial importância à XIV Conferência Geral do Organismo para a Proscrição de Armas Nucleares na América Latina e no Caribe (OPANAL), que se celebrará em Viña del Mar entre os dias 28 e 30 de março. Verificaram, com satisfação, que o intercâmbio comercial bilateral alcançou, em 1994, o nível sem precedentes de milhões de doláres norte americanos. A fim de incrementá-lo, se comprometeram a realizar esforços comuns para promover e incentivar um fluído intercâmbio de informações e de oportunidades de investimentos entre os agentes econômicos, para conseguir uma integração efetiva entre ambas as economias, em especial entre os respectivos setores empresariais, com o objetivo de estabelecer empresas conjuntas e joint ventares. Nesse sentido, acordaram convocar, com a brevidade possível, encontro com representantes de Governo e do setor privado para avaliar ações específicas nesses campos. Constataram, com satisfação, o bom estado do relacionamento entre universidades brasileiras e chilenas, marcado por uma crescente e diversificada cooperação, por um significativo intercâmbio acadêmico e pela implementação de número apreciável de projetos conjuntos na área educacional. Concordaram que o processo crescente de integração regional e de aproximação entre os dois países recomenda que se incentive a disseminação do ensino do idioma português em instituições escolares no Chile, e do idioma espanhol em instituções escolares no Brasil.

6 Ao reconhecerem a importância da Cultura como fator de aproximação e entendimento entre os povos e como instrumento indispensável para o melhor conhecimento de suas respectivas realidades nacionais, comprometeram-se a trabalhar pela intensificação do intercâmbio bilateral nessa área. Convieram, igualmente, na realização, ainda no corrente ano, de reunião da Comissão Mista Cultural Brasil- Chile, foro adequado para a avaliação da cooperação nesse setor, e que deverá elaborar o programa de trabalho a ser implementado pelos dois países. O Presidente Fernando Henrique Cardoso agradeceu ao Presidente Eduardo Frei Ruiz-Tagle as gentilezas e as manifestações de amizade e apreço que recebeu do Governo e do povo chilenos durante sua estada no Chile, havendo-lhe estendido convite para visitar o Brasil em caráter oficial em data a ser oportunamente acordada pela via diplomática. O Presidente Eduardo Frei Ruiz-Tagle agradeceu e aceitou o convite formulado pelo Presidente da República Federativa do Brasil. Santiago 03 de março de 1995.