FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE ENSINO DE PIRACICABA ESCOLA DE ENGENHARIA DE PIRACICABA CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL
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- David Álvares Ximenes
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1 FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE ENSINO DE PIRACICABA ESCOLA DE ENGENHARIA DE PIRACICABA CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL SISTEMA DE TRATAMENTO DE ESGOTO DOMICILIAR ADAPTADO ÀS COMUNIDADES GEOGRAFICAMENTE ISOLADAS. SELEÇÃO DE ALTERNATIVA ADEQUADA ÀS COMUNIDADES RIBEIRINHAS DO BAIXO RIO MADEIRA, ESTADO DE RONDÔNIA AMAZÔNIA AYRI SARAIVA RANDO PIRACICABA DEZEMBRO/2007
2 FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE ENSINO DE PIRACICABA ESCOLA DE ENGENHARIA DE PIRACICABA CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL SISTEMA DE TRATAMENTO DE ESGOTO DOMICILIAR ADAPTADO ÀS COMUNIDADES GEOGRAFICAMENTE ISOLADAS. SELEÇÃO DE ALTERNATIVA ADEQUADA ÀS COMUNIDADES RIBEIRINHAS DO BAIXO RIO MADEIRA, ESTADO DE RONDÔNIA AMAZÔNIA AYRI SARAIVA RANDO Monografia elaborada por exigência da disciplina de Estágio Supervisionado, sob supervisão do Prof. Dr. Sérgio Arnosti Júnior, orientação do Hamilton Modesto Rigato e co-orientação do Sérgio Hornink. PIRACICABA DEZEMBRO/2007
3 AYRI SARAIVA RANDO Curso de Engenharia Ambiental Escola de Engenharia de Piracicaba SISTEMA DE TRATAMENTO DE ESGOTO DOMICILIAR ADAPTADO ÀS COMUNIDADES GEOGRAFICAMENTE ISOLADAS. SELEÇÃO DE ALTERNATIVA ADEQUADA ÀS COMUNIDADES RIBEIRINHAS DO BAIXO RIO MADEIRA, ESTADO DE RONDÔNIA AMAZÔNIA Aprovado em: Comissão Julgadora: MSc. Hamilton Modesto Rigato ONG NAPRA Sr. Sérgio Hornink CETESB Prof. Dr. Sérgio Arnosti Júnior EEP/FUMEP Msc. Hamilton Modesto Rigato Orientador
4 Dedico este trabalho aos meus pais, Pedro Rando Neto e Valdelice Sousa Saraiva Rando, velhos guerreiros e meus ídolos. Tal resultado é todo nosso.
5 AGRADECIMENTOS Agradeço intensamente à força suprema que rege o Universo. Aos meus pais, Pedro e Nice pela paciência, carinho, amizade e convivência durante toda a minha vida. Ao meu irmão Aury por todos os acontecimentos vivenciados juntos. Ao meu orientador Sérgio Hornink pelo aprendizado que me propicia cotidianamente, tanto no aspecto profissional quanto no aspecto humano. Ao meu orientador Hamilton M. Rigato e demais amigos do Projeto NAPRA pela oportunidade de crescimento e de evolução interior. Às comunidades ribeirinhas do Baixo Rio Madeira, Estado de Rondônia, pela simpatia, receptividade, atenção e pelo fantástico conhecimento que possuem. Aos técnicos da EMATER RO, Clébio e Glaucilene, pelo apoio, parceria e pela amizade construída. Aos amigos da minha sala de aula, com os quais compartilhei diversas experiências durante os últimos cinco anos Lucas, David, Paulo, Érico, Bruno, Elizabethe. À Dona Maria de Bauru, grande exemplo de como viver com alegria e simplicidade. À Thatiana, também de Bauru, pela compreensão e companheirismo demonstrados. À equipe do programa Pira 21 da rádio Educativa FM, Luiz Xavier, Álvaro França, Paulo Arruda, Luiz Ângelo Castilho, Fábio e Sérgio Hornink novamente (este último merece agradecimento em dose dupla). Enfim, agradeço todas as pessoas que não foram citadas, mas que de alguma maneira contribuíram comigo em determinados momentos da minha existência.
6 LISTA DE TABELAS TABELA 1. Inconvenientes do lançamento in natura de esgoto nos corpos d água TABELA 2 Comparação dos dados levantados entre os anos de atuação TABELA 3. Composição do esgoto doméstico TABELA 4. Elementos químicos que compõem o esgoto doméstico TABELA 5. Características químicas dos esgotos domésticos brutos TABELA 6. Estimativa de eficiência esperada nos diversos níveis de tratamento incorporados numa estação de tratamento de esgoto TABELA 7. Estimativa da eficiência de uma fossa séptica TABELA 8. Dimensões de fossas sépticas TABELA 9. Materiais para montagem da fossa séptica biodigestora da EMBRAPA TABELA 10. Ferramentas para montagem da fossa séptica biodigestora da EMBRAPA... 59
7 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1. Localização do Estado de Rondônia e das três unidades de conservação presentes na área de atuação do projeto NAPRA... 6 FIGURA 2. Localização destacada das três unidades de conservação presentes na área de atuação do projeto NAPRA... 7 FIGURA 3. Foto de satélite situando algumas das comunidades ribeirinhas do Baixo Rio Madeira... 7 FIGURA 4. Disposição do esgoto sanitário ao ar livre ou a céu aberto, em São Carlos do Jamari FIGURA 5. Lançamento de água servida proveniente das pias da cozinha do alojamento, em São Carlos do Jamari FIGURA 6. Vista aproximada do lançamento de água servida proveniente das pias da cozinha do alojamento, em São Carlos do Jamari FIGURA 7. Destinação dos resíduos sólidos em São Carlos do Jamari, antes dos mesmos serem queimados FIGURA 8. Local de bombeamento de água de poço artesiano e, ao fundo, a fossa da escola FIGURA 9. Visualização geral da fossa da escola FIGURA 10. Vista, em planta, da saída dos efluentes oriundos do vaso sanitário, da água da pia e da água do chuveiro do banheiro da escola FIGURA 11. Representação gráfica sobre a ocorrência de parasitoses FIGURA 12. Fluxograma típico do tratamento preliminar FIGURA 13. Esquema de fossa séptica de câmara única FIGURA 14. Esquema de fossa séptica FIGURA 15. Esquema de localização adequada de uma fossa séptica FIGURA 16. Esquema de visualização de um sistema de fossa e sumidouro FIGURA 17. Representação de sumidouro sem inclinação FIGURA 18. Corte referente ao filtro anaeróbio FIGURA 19. Fluxograma típico de um sistema de fossa séptica seguida por filtro anaeróbio FIGURA 20. Fluxograma típico de um sistema de infiltração lenta (por aspersão) FIGURA 21. Fluxograma típico de um sistema de infiltração rápida com percolação para a água subterrânea FIGURA 22. Fluxograma típico de um sistema de infiltração subsuperficial convencional FIGURA 23. Fluxograma característico de um sistema de escoamento superficial FIGURA 24. Sistema de reciclagem composto por filtros mistos e plantas aquáticas FIGURA 25. Filtro para reciclagem de águas cinzas e negras FIGURA 26. Pedra sanitária implantada em mutirão na região de atuação do projeto Saúde e Alegria FIGURA 27. Modelo indiano de biodigestor... 54
8 LISTA DE FIGURAS FIGURA 28. Construção de biodigestor na ABRA FIGURA 29. Composição de fossa séptica biodigestora FIGURA 30. Vista lateral do círculo sem plantas FIGURA 31. Vista lateral do círculo com plantas FIGURA 32. Vista, em planta, do círculo de bananeiras FIGURA 33. Colóquio realizado na Associação dos Moradores, Produtores e Amigos do distrito de Nazaré FIGURA 34. Perfuração do solo para passagem do encanamento FIGURA 35. Perfuração do solo para colocação dos pilares FIGURA 36. Fixação dos pilares e das plataformas pronta FIGURA 37. Senhor Francisco e Ayri nos ajustes finais fazendo ajustes na drenagem interna do filtro lento FIGURA 38. Filtro lento praticamente pronto FIGURA 39. Ajustes finais nos encanamentos do sistema FIGURA 40. Bebedouro comunitário pronto FIGURA 41. Visualização da composteira construída no fundo das dependências da EMATER FIGURA 42. Visualização, por outro ângulo, da mesma composteira construída no fundo das dependências da EMATER FIGURA 43. Construção do círculo de bananeiras para destinação da água servida proveniente do tanque de lavar roupas da Igreja FIGURA 44. Conclusão do círculo de bananeiras para destinação da água servida proveniente do tanque de lavar roupas da Igreja FIGURA 45. Construção do círculo de bananeira para disposição da água servida oriunda das pias da cozinha do alojamento FIGURA 46. Outra etapa da construção do círculo de bananeira para disposição da água servida oriunda das pias da cozinha do alojamento FIGURA 47. Composteira para o tratamento dos resíduos sólidos orgânicos gerados pela equipe do projeto NAPRA FIGURA 48. Composteira para o tratamento dos resíduos sólidos orgânicos gerados pela equipe do projeto NAPRA, vista por outro ângulo FIGURA 49. Ilustração referente à planta do sistema proposto, sem escala FIGURA 50. Ilustração pertinente ao corte AA do sistema proposto, sem escala... 85
9 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO REVISÃO DE LITERATURA Breve Histórico do Saneamento no Mundo Contextualização da Região do Baixo Rio Madeira Local de atuação Justificativa do projeto engenharia e saúde Educação Popular O Esgoto Sanitário Origem e destino Características físicas do esgoto Composição química e biológica do esgoto sanitário Sistemas para Tratamento de Esgoto Domiciliar Tratamento de esgoto domiciliar unifamiliar Fossa séptica com sumidouro Fossa séptica biodigestora Tratamento de esgoto domiciliar para pequenas comunidades Fossa séptica, seguida de filtro anaeróbia e com posterior lançamento do efluente em corpos hídricos superficiais Fossa séptica com posterior disposição do efluente no solo Permacultura Filtros biológicos Círculo de bananeiras Experiências de tratamento de esgoto domiciliar na Amazônia Pedra sanitária do projeto saúde e alegria Tratamento de esgoto existente em ecovila situada na Amazônia MATERIAL E MÉTODOS Etapa Anterior à Expedição à Amazônia Expedição à Amazônia Etapa Posterior à Expedição à Amazônia RESULTADOS E DISCUSSÕES Atendimento ao Projeto Engenharia e Saúde Distrito de Nazaré Distrito de São Carlos do Jamari Seleção de Sistema de Tratamento de Esgoto Domiciliar CONCLUSÕES REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 87
10 RESUMO Nos meses de julho de 2006 e julho de 2007 o autor deste projeto esteve trabalhando nas comunidades ribeirinhas da região do Baixo Rio Madeira, situadas no Estado de Rondônia e localizadas dentro do território da Amazônia. Tal trabalho foi feito juntamente com a Organização Não Governamental NAPRA (Núcleo de Apoio às Populações Ribeirinhas da Amazônia). Durante este período de permanência foram notados alguns pontos fundamentais que se relacionam com a saúde da população local e, conseqüentemente, com a qualidade de vida desta mesma. Os pontos citados são os seguintes: disposição inadequada do esgoto domiciliar e dos resíduos sólidos, além da indisponibilidade de distribuição de água tratada. Assim sendo, o tema desta proposta justifica-se no sentido de desenvolver um estudo para seleção de um sistema ou de uma forma de disposição do esgoto domiciliar, que leve em conta as condições da região e que seja viável para comunidades geograficamente isoladas. Tal projeto visa mostrar algumas possibilidades para a implementação de sistema de tratamento de esgoto unifamiliar e para pequenas comunidades isoladas, ou seja, em áreas sem facilidades de obtenção de materiais e tecnologias, tipo: fossa séptica com sumidouro, filtro anaeróbio, tratamento em solo, biodigestores, filtros biológicos, lagoas e outros. Foram analisadas suas vantagens e desvantagens, obtendo argumentos para seleção de sistema conveniente para a área em foco, além de atender as ações propostas pelo Projeto Engenharia e Saúde da instituição mencionada.
11 ABSTRACT Within months of July of 2006 and July of 2007 the author of this project has been working with riverside communities of low Madeira River, sited in the State of Rondonia and situated within the Amazon State. Such work was done together with the Non Governmental Organization named as NAPRA (Organization for the Support and Development of the Riverside Communities in the Amazon Rainforest). During that period of permanence, some fundamental points were noticed, which are related to the health conditions of the local population and, as a result, to its life quality. The cited points are as follows: inadequate discard of domiciliary sewer and solid waste, as well as the lack of treated water distribution. In this way, the object of this proposal justifies itself in order to develop a study to select a system or a mean of domiciliar sewer disposition, which would take in account local conditions, and which would be practicable for geographically isolated communities. Such project aims to show some possibilities of unifamiliar sewer treatment system implementation, as well as for small communities, that is, regions where there are no obtention facilities for materials and technologies, such as septical cesspools with catchment basin, anaerobial filters, soil treatments, biodigestors, biological filters, lakes and others. Its advantages and disavantages have been analysed, arguments for the selection of the most convenient system for each region have been obtained, as well as actions proposed by the Project of Engineering and Health have been attended.
12 3 1. INTRODUÇÃO O Projeto NAPRA (Núcleo de Apoio à População Ribeirinha da Amazônia) é uma entidade privada sem fins lucrativos, constituída com a finalidade de apoiar o desenvolvimento de populações ribeirinhas residentes na Bacia Hidrográfica do Baixo Rio Madeira, Estado de Rondônia e de propiciar uma formação diferenciada aos estudantes e profissionais voluntários, no sentido de promover a responsabilidade social e ambiental. Esta complementação da formação ocorre durante todo o ano no processo de elaboração do projeto e a prática, para os selecionados, acontece na atuação junto às comunidades ribeirinhas durante os meses de julho de cada ano. Algumas das comunidades atendidas são: São Carlos do Jamari, Nazaré, Itacoã, Curicacas, Papagaios, Cuniã e comunidades do Rio Preto, Rio Machado e Rio Jamari. A ONG (Organização Não Governamental) NAPRA é formatada para atuar em três áreas: Saúde, Educação/Cultura, e Produção/Desenvolvimento. Atualmente, a equipe é composta de profissionais e alunos dos cursos de: Odontologia, Medicina, Fisioterapia, Enfermagem, Psicologia, Biologia, Direito, Engenharia de Produção, Engenharia Ambiental, Educação Física, Ciências Sociais, etc provenientes de diversas Universidades, tais como: UFSCar, USP, EEP, UNICAMP, UNICASTELO, PUCCAMP, FAMECA-FPA, UNICID, UNIMEP, dentre outras. Dentre os principais problemas destas comunidades, pode-se citar a dificuldade de acesso à saúde básica e à educação, as condições precárias de infra-estrutura, a dificuldade de acesso à informação e de geração de renda. Um dos projetos atuais da área de Saúde é o projeto denominado Engenharia e Saúde, o qual é concebido para uma atuação conjunta entre as áreas de saúde, produção, e educação. Visa ainda, criar soluções simplificadas de engenharia que colaborem para a melhoria das condições de infra-estrutura e saneamento local e, conseqüentemente, para a prevenção de doenças freqüentes nas comunidades. Tais condições influenciam tanto na promoção de saúde como na melhoria da perspectiva de vida dos ribeirinhos, que é essencial para a conservação ambiental. Pretende-se criar uma ampla diversidade de aplicações, que desafiarão os estudantes da área de Engenharia do NAPRA a propor soluções eficientes e sustentáveis com o intuito de proporcionar melhoria na qualidade de vida da população. Para tanto é necessário conhecer o contexto local, propondo soluções simples e de fácil operacionalização e manutenção. Em
13 4 longo prazo, será possível avaliar os benefícios proporcionados na prevenção de doenças e na re-aplicabilidade do projeto em outras regiões. Os aspectos multidisciplinares do projeto tendem a proporcionar intervenções adequadas às populações locais, sendo que para o ano de 2007, devem ser propostas soluções para o tratamento comunitário da água e do esgoto gerado e a disposição dos resíduos sólidos (lixo). O projeto Engenharia e Saúde justifica-se pelo fato da Saúde ser um dos principais problemas encontrados nas comunidades ribeirinhas do Baixo Rio Madeira, onde tais comunidades não possuem infra-estrutura referente ao saneamento básico. A partir de 1996, levantamentos médicos de equipes do Projeto NAPRA constataram que as doenças mais freqüentes enfrentadas pela comunidade são: hanseníase, malária, infecções do trato respiratório (pneumonias e tuberculose) e urinário, anemias, leishimaniose, parasitoses (em alto índice), doenças ginecológicas e de pele. As doenças parasitárias foram encontradas de maneira acentuada: parasitoses intestinais e ectoparasitas. Percebe-se que muitas das doenças mencionadas acima são pertinentes à falta de saneamento. O objetivo deste trabalho é selecionar um sistema de tratamrento de esgoto doméstico para comunidades ribeirinhas da localidade já mencionada. Tal seleção deve abordar aspectos técnicos, financeiros, ambientais, sociais, culturais, culminando com a aceitação da comunidade e a integração ao conjunto de atividades propostas pelo Projeto Engenharia e Saúde da entidade em questão. Existem algumas alternativas para o tratamento dos esgotos, tais como: disposições de esgotos no solo; lagoa facultativa; lagoa anaeróbia + lagoa facultativa; lagoas de maturação; lagoa aerada + lagoa de sedimentação de lodo; sistema de lodos ativados convencional; tanque séptico; tanque séptico + filtro anaeróbio; fossa séptica com sumidouro; fossa séptica biodigestora; sistema de fossas; fossa-filtro com lançamento em corpos hídricos ou com disposição no solo; soluções biológicas abordadas pela Permacultura; e outras. A hipótese é que o sistema mais adequado para as comunidades ribeirinhas seria um destes últimos, ou fossa séptica com sumidouro; ou fossa séptica biodigestora; ou sistema de fossas; ou fossa-filtro com lançamento em corpos hídricos ou com disposição no solo; ou soluções biológicas abordadas pela Permacultura.
14 5 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. Breve Histórico do Saneamento no Mundo Nos tempos mais remotos, desde que os homens começaram a se assentar em cidades, a coleta das águas servidas, que hoje, chama-se de esgoto sanitário, passava a ser uma preocupação daquelas civilizações. Em 3750 a.c., eram construídas galerias de esgotos em Nipur (Índia) e na Babilônia. Em 3100 a.c. já se tem notícia do emprego de manilhas cerâmicas para esta finalidade (AZEVEDO NETTO, 1984). Na Roma Imperial, eram feitas ligações diretas das casas até os canais, porém, por se tratar de uma iniciativa individual de cada morador, nem todas as casas apresentavam estas benfeitorias (METCALF E EDDY, 1977). A história registra, entre os anos de 1345 e 1349, uma terrível pandemia de peste bubônica na Europa, com 43 milhões de vítimas fatais, numa época em que a população mundial não chegava aos 400 milhões. Sabe-se hoje que a peste bubônica é transmitida por pulgas infectadas por ratos, o que demonstra que a limpeza não era exatamente um atributo daquelas populações. Um outro exemplo é o crescimento populacional em algumas cidades inglesas no século XIX e as ocorrências trágicas de epidemias neste período (NUVOLARI et al, 2003). Em Londres (Inglaterra), somente a partir de 1815 os esgotos começaram a ser lançados em galerias de águas pluviais; em Hamburgo (Alemanha), a partir de 1842, e em Paris (França), a partir de 1880, originando o chamado sistema unitário (METCALF E EDDY, 1977). Concomitantemente, em 1872 na França, Jean Louis Mouras descobre as vantagens de se acumular o lodo dos esgotos em um tanque, antes de lançá-lo numa fossa absorvente; surge o tanque séptico ( ANDRADE NETO, 1997). O sistema separador absoluto, caracterizado pela construção de canalizações exclusivas para os esgotos, foi concebido em 1879 e implantado pela primeira vez na cidade de Memphis no Tenessee, EUA (AZEVEDO NETTO et al, 1973). Nas cidades brasileiras, salvo alguns casos isolados, somente a partir da década de 1970 começou a ocorrer um maior avanço na área do saneamento. No entanto, em 1933, o engenheiro J. P. de Jesus Netto, funcionário da Repartição de Águas e Esgotos de São Paulo, apresentou um estudo no qual demonstrava a intensa degradação das águas do Rio Tietê,
15 6 tendo utilizado a estiagem ocorrida naquele ano para fazer tal alerta (NUVOLARI et al, 2003). Hoje, apesar de várias cidades brasileiras já contarem com Estações de Tratamento de Esgoto, a grande maioria nem coleta e nem trata seus esgotos. Fatalmente terão que fazê-lo, sob pena de ficarem sem mananciais de água apropriada para abastecimento público e amargarem sérios problemas de saúde pública (NUVOLARI et al, 2003) Contextualização da Região do Baixo Rio Madeira Local de atuação O local selecionado para a aplicação do Projeto Engenharia e Saúde foram as comunidades de Nazaré e de São Carlos do Jamari, ambas consideradas distritos do município de Porto Velho e distantes aproximadamente 130 Km e 100 Km deste mesmo município, respectivamente. As Figuras 1, 2 e 3 ilustram a localização destas duas comunidades. Figura 1 Localização do Estado de Rondônia e das 3 Unidades de Conservação presentes na área de atuação do projeto NAPRA. Fonte: Carta Patrocínio 2007 do Projeto NAPRA.
16 7 Figura 2 - Localização destacada das 3 Unidades de Conservação presentes na área de atuação do projeto NAPRA. Fonte: Carta Patrocínio 2007 do Projeto NAPRA. Figura 3 Foto de satélite situando algumas das comunidades ribeirinhas do Baixo Rio Madeira. Fonte: Carta Patrocínio 2007 do Projeto NAPRA.
17 8 É importante ressaltar que as comunidades onde o NAPRA atua localizam-se no entorno ou dentro das áreas da Reserva Extrativista do Cuniã (RESEX Cuniã), da Estação Ecológica do Cuniã (ESEC Cuniã) e da Floresta Nacional Jacundá (FLONA Jacundá), todas, Unidades de Conservação (UCs) Justificativa do projeto Engenharia e Saúde A História tem demonstrado que a permanência do ser humano, em determinada região, tem sido relacionada com as disponibilidades das fontes de energia necessárias à sua subsistência. Estas fontes de energia existem sob diversas formas, como a luz solar, o ar, a água e o alimento. A água assume importância primordial, já que é responsável pela existência de comunidades próximas às suas fontes e, devido à eficiência no seu consumo não ser total, como conseqüência, resulta desta utilização vários tipos de resíduos, por exemplo, o esgoto e o lixo. Ressalte-se que, igualmente relevante, é a necessidade de afastar ou condicionar os resíduos gerados pelo organismo e pela própria comunidade no uso dos recursos hídricos. Segundo JORDÃO E PESSOA (1975), a poluição inclui qualquer alteração das propriedades físicas, químicas ou biológicas, da água, do ar, e do solo, causada por substâncias que: criem condições nocivas à saúde, à segurança, e ao bem-estar individual e coletivo; prejudiquem a fauna e a flora; contenham resíduos de presença desagradável quanto ao aspecto estético; e prejudiquem a água, o solo e o ar em sua utilização domiciliar, industrial, recreativa, navegação, etc. Uma comunidade reduz a sua qualidade de vida quando o agravamento das condições de poluição leva aquelas fontes de energia a estados impuros, quase irreversíveis, ou economicamente inviáveis. Com o intuito de conservação, as comunidades passaram a estabelecer procedimentos de defesa denominados sistemas de controle de poluição, sistemas de aproveitamento de energia, e os sistemas de saneamento, tais como: sistemas de abastecimento de água, sistemas de esgotos sanitários, sistemas de limpeza urbana, sistemas de processamento de alimento, e sistemas de controles de emissão atmosférica (JORDÃO E PESSOA, 1975). Abaixo, é oportuno destacar duas definições da Organização Mundial de Saúde (OMS):
18 9 Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e, não apenas a ausência de doença ou enfermidade (DACACH, 1990). Saneamento é o controle de todos os fatores do meio físico do Homem que exercem ou podem exercer efeito deletério sobre seu bem-estar físico, mental, ou social (JORDÃO E PESSOA, 1975). A falta de condições adequadas de saneamento pode contribuir para a proliferação de inúmeras doenças parasitárias e infecciosas, além da degradação do corpo da água. A disposição adequada dos esgotos é essencial para a proteção da saúde pública (DEDINI, 2003). Epidemias de febre tifóide, cólera, disenterias, hepatite infecciosa e inúmeros casos de verminoses algumas das doenças que podem ser transmitidas pela disposição inadequada dos esgotos são responsáveis por elevados índices de mortalidade em países do terceiro mundo ou em desenvolvimento. As crianças são suas vítimas mais freqüentes, uma vez que a associação destas doenças à subnutrição é, geralmente, fatal. A elevação da expectativa de vida e a redução da prevalência das verminoses que, via de regra, não são letais, mas desgastam o ser humano, somente podem ser pretendidas através da correta destinação dos esgotos (DEDINI, 2003). Dados do Ministério da Saúde revelam que a falta de água tratada e de esgoto sanitário comprometem fortemente a saúde da população e cerca de 75% das internações hospitalares estão relacionadas à falta de saneamento básico e, consequentemente, com doenças transmitidas pela água como diarréia, hepatite, salmonelose e cólera (Cartilha Fossa Séptica Biodigestora da EMBRAPA). Outra importante razão para tratar os esgotos é a preservação do meio ambiente. As substâncias presentes nos esgotos exercem ação deletéria nos corpos de água: a matéria orgânica pode causar a diminuição da concentração de oxigênio dissolvido provocando a morte de peixes e outros organismos aquáticos, escurecimento da água e exalação de odores desagradáveis; é possível que os detergentes presentes nos esgotos provoquem a formação de espumas em locais de maior turbulência da massa líquida; defensivos agrícolas determinam a morte de peixes e outros animais. Há ainda, a possibilidade de eutrofização pela presença de nutrientes, provocando o crescimento acelerado de algas que conferem odor, gosto e biotoxinas à água (CETESB, 1988). Quando o esgoto sanitário é lançado in natura nos corpos hídricos, ou seja, sem o devido tratamento prévio, se não houver um equilíbrio entre as vazões do esgoto lançado e do corpo receptor, pode-se ocasionar em sérios prejuízos à qualidade desta água, afetando assim,
19 10 a sobrevivência dos seres de vida aquática, emissão de gases, possibilidade de contaminação dos seres humanos e demais seres vivos pelo consumo ou contato com tal água. A tabela 1 demonstra as conseqüências deste tipo de lançamento. Tabela 1 - Inconvenientes do lançamento in natura de esgoto nos corpos d água. Matéria orgânica solúvel Elementos potencialmente tóxicos Cor e turbidez Nutrientes Materiais refratários Óleos e graxas Ácidos e Álcalis Materiais em suspensão Provoca a depleção (diminuição ou mesmo a extinção) do oxigênio dissolvido, contido na água dos rios e estuários. Mesmo tratado, o despejo deve estar na proporção da capacidade de assimilação do curso d água. Algumas dessas substâncias podem ainda causar gosto e odor às fontes de abastecimento de água. Ex. Fenóis Ex.: cianetos, arsênio, cádmio, chumbo, cobre, cromo, mercúrio, molibdênio, níquel, selênio, zinco, etc. Apresentam problemas de toxidade (a partir de determinadas concentrações), tanto às plantas quanto aos animais e ao homem, podendo ser transferidos através da cadeia alimentar. Indesejáveis do ponto de vista estético. Exigem maiores quantidades de produtos químicos para o tratamento desta água. Interferem na fotossíntese das algas nos lagos (impedindo a entrada de luz em profundidade). Principalmente nitrogênio e fósforo, aumentam a eutrofização dos lagos e dos pântanos. Inaceitáveis nas áreas de lazer e recreação. Aos tratamentos; ex: ABS (alquil-benzeno-sulfurado). Formam espumas nos rios; não são removidos nos tratamentos convencionais. Os regulamentos existentes exigem, geralmente, sua completa eliminação. São indesejáveis esteticamente e interferem com a decomposição biológica (os microorganismos, responsáveis pelo tratamento, geralmente morrem se a concentração de óleos e graxas for superior a 20 mg/l). A neutralização é exigida pela maioria dos regulamentos; dependendo dos valores de ph do líquido há interferência com a decomposição biológica e com a vida aquática. Formam bancos de lama nos rios e nas canalizações de esgoto. Normalmente provocam decomposição anaeróbica da matéria orgânica, com liberação de gás sulfídrico (cheiro de ovo podre) e outros gases malcheirosos. Temperatura elevada Poluição térmica que conduz ao esgotamento do oxigênio dissolvido no corpo d água (por abaixamento do valor de saturação) Fonte: JORDÃO E PESSOA (1995) A saúde pública é um dos grandes problemas enfrentados pelas comunidades ribeirinhas situadas na região do Baixo Rio Madeira. Um dos agravantes é a falta de saneamento básico nas mesmas e, consequentemente, a ocorrência de inúmeras parasitoses.
20 11 A destinação do esgoto domiciliar é, na maioria dos casos, feita ao ar livre (ou a céu aberto ) ou em fossas negras. Outro fator primordial a ser observado é a distância mínima que deve existir entre as fossas e os poços artesianos, a qual é recomendada 20 metros. Além disso, os resíduos sólidos gerados pela população são lançados em valas abertas e, posteriormente, são queimados. Nas Figuras 4, 5 e 6 encontram-se as disposições do esgoto sanitário e, na Figura 7, exemplifica a destinação dos resíduos sólidos na comunidade de São Carlos do Jamari. Figura 4 Disposição do esgoto sanitário ao ar livre ou a céu aberto, em São Carlos do Jamari.
21 12 Figura 5 Lançamento de água servida proveniente das pias da cozinha do alojamento, em São Carlos do Jamari.
22 13 Figura 6 Vista aproximada do lançamento de água servida proveniente das pias da cozinha do alojamento, em São Carlos do Jamari.
23 14 Figura 7 Destinação dos resíduos sólidos em São Carlos do Jamari, antes dos mesmos serem queimados. Já, na comunidade de Nazaré, ressalta-se a existência de um poço artesiano à aproximadamente 10 metros da fossa da escola. Na seqüência, a Figura 8 destaca o local do bombeamento de água retirada deste poço artesiano e, nas Figuras 9 e 10, respectivamente, situam-se a fossa da escola e a saída dos efluentes.
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