SISTEMA DE MEMÓRIA TRANSACIONAL E DESEMPENHO: UM ESTUDO DA RELAÇÃO PARA MELHORAR A GESTÃO ESTRATÉGICA
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- Elza Galvão Neves
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1 ISSN SISTEMA DE MEMÓRIA TRANSACIONAL E DESEMPENHO: UM ESTUDO DA RELAÇÃO PARA MELHORAR A GESTÃO ESTRATÉGICA Área temática: Gestão Estratégica e Organizacional Suzete Lizote lizote@univali.br Miguel Verdineli nupad@univali.br Francine Neves fneves@univali.br Resumo: A globalização dos mercados tem induzido deslocar o eixo do valor das empresas dos ativos tangíveis para os intangíveis e nesta nova situação a geração e aquisição de conhecimento são fundamentais para ter vantagens competitivas e crescimento permanente. Contudo há um aspecto tão importante quanto esse, é o referido a como as firmas estocam e recuperam o conhecimento, chamado sistema de memória transacional (TMS). Neste contexto a presente pesquisa objetiva analisar se o sistema que as empresas prestadoras de serviços contábeis têm se relaciona positivamente com seu desempenho organizacional (DO). O estudo distingue-se como quantitativo e de natureza aplicada, tendo sido os dados levantados numa survey com questionário. O tratamento estatístico incluiu comparações de médias pelo teste t e análise de variância, o uso da análise fatorial exploratória e confirmatória e a modelagem em equações estruturais. Os resultados obtidos mostraram que os respondentes têm percepções estatisticamente iguais para ambos os constructos ao considerar seu gênero. Do mesmo modo as organizações não se diferenciam ao levar em conta o tipo de administração, mas sim há diferenças para a percepção do desempenho segundo seu tamanho. Empresas maiores declaram ter maior desempenho. A modelagem em equações estruturais permitiu verificar que a relação conjecturada confirmou-se. Para a amostra processada o sistema de memória transacional associa-se positiva e significativamente com o desempenho organizacional nos escritórios de contabilidade. Palavras-chaves:
2 1. INTRODUÇÃO Nas pesquisas sobre administração estratégica das organizações um dos temas mais recorrente é o estudo do desempenho, seja ele medido de maneira objetiva, com dados reais, ou de modo subjetivo, a partir da percepção dos gestores. Vários têm sido os determinantes abordados e na atualidade, como consequência do crescente valor que possui o conhecimento, vêm ganhando importância os ativos intangíveis. Dentre eles, um aspecto que tem sido considerado com bastante atenção é a aprendizagem organizacional, mas pouco se tem pesquisado acerca de como esse conhecimento se armazena e se recupera dentro das organizações. A globalização dos mercados tem induzido deslocar o eixo do valor das empresas dos ativos tangíveis para os intangíveis. Em particular para a valorização do ser humano, enquanto detentor do conhecimento, um recurso fundamental desta era econômica, como fora colocado por Stewart (1998, p. 14) Nesta nova era, a riqueza resulta do conhecimento. Toda organização possui seu capital humano, mas o êxito empresarial passa também por outros condicionantes, entre os quais se destacam suas capacidades dinâmicas. Sem dúvidas a capacidade de absorção de conhecimento, ou seja, a capacidade de uma empresa em reconhecer o valor da informação nova, externa, assimilá-la e aplicá-la para fins comerciais é fundamental para suas capacidades inovadoras (COHEN; LEVINTHAL, 1990, p. 128) constitui um dos pilares do sucesso. No entanto, esse conhecimento precisa ser estocado num sistema eficiente e eficaz que possibilite sua recuperação e uso pelos membros das equipes de trabalho. Isto implica em um mecanismo básico ou um microprocesso das capacidades dinâmicas que se conhece como sistema de memória transacional (ARGOTE; REN, 2012). No caso das empresas prestadoras de serviços contábeis um fato comum é a alta taxa de turnover que nelas se verifica. A rotatividade dos colaboradores que constituíram os sujeitos desta pesquisa se reflete na relação que há entre o tempo na profissão comparado com o tempo na empresa em que atualmente trabalha. Portanto, a gestão estratégica de pessoas é importante para ter vantagens competitivas sustentáveis nessas organizações. No contexto descrito surge a seguinte pergunta de pesquisa: Que relações se verificam entre o sistema de memória transacional que dispõem os escritórios de contabilidade e o desempenho organizacional que relatam ter? No intuito de dar resposta a tal questionamento estabeleceram-se os seguintes objetivos específicos: 1) mensurar o sistema de memoria transacional; 2) aferir o desempenho organizacional das empresas por meio de uma medida subjetiva; e, 3) Avaliar se o sistema de memoria transacional mostra relação com o desempenho organizacional. 2
3 Com o presente estudo buscou-se obter evidências empíricas respeito das relações entre os construtos analisados. Sua consecução, além de original para as organizações foco da pesquisa, possui relevância prática para a melhoria do funcionamento dos escritórios. Por outro lado, as proposições de articulações teóricas, ainda pouco trabalhadas em estudos empíricos da realidade brasileira, justificam o interesse acadêmico. A seguir desta introdução, é apresentado o marco teórico definido. Na seção seguinte se detalha o material e métodos utilizados, seguidos da descrição e análise dos dados. Por último, são feitas as considerações finais e disponibilizado o referencial bibliográfico citado no texto. 2 MARCO TEÓRICO Nesta seção apresenta-se o marco teórico definido como necessário à compreensão da abordagem adotada. Após o tratamento do constructo sistema de memória transacional formula-se a hipótese da relação conjeturada para a amostra obtida nos escritórios de contabilidade. Por fim, se discorre sobre o tema desempenho organizacional. 2.1 SISTEMA DE MEMÓRIA TRANSACIONAL As empresas prestadoras de serviços contábeis, pelas atividades que desenvolvem, têm no seu capital humano o diferencial competitivo que pode determinar seu sucesso no mercado. No entanto, existem outros ativos intangíveis que podem influenciar o desempenho, por exemplo, a orientação empreendedora que as empresas manifestem e as capaciadades dinâmicas que possuam. Apesar de existir diversos argumentos a favor de que as capaciades dinâmicas são importantes na consecução de melhores desempenhos, por exemplo, ao construir e reconfigurar o posicionamento dos recursos (EISENHARDT; MARTIN, 2000), as rotinas operacionais (ZOLLO; WINTER, 2002) ou a capacidade operacional (HELFAT; PETERAF, 2003), os mecanismos pelos quais eles ocorrem não são bem compreendidos (ZOTT, 2003). Adicionalmente, também não está claro o que significa precisamente o constructo capacidades dinâmicas (CINICI et al., 2011). Teece, Pisano e Shuen (1997, p. 516) o definiram como a capacidade das empresas integrar, construir e reconfigurar competências internas e externas para enfrentar condições ambientais que mudam rapidamente. Já na obra de Helfat et al. (2007, p. 1) se define como a capacidade de uma organização para criar propositadamente, estender ou modificar sua base de recursos. Essas conceituações se referem a capacidade que possuem as organizações para realocar ou reconfigurar seus recursos, adaptando-se às mudanças que acontecem no ambiente. Nesta perspectiva diversos autores tem sugerido pesquisar quais são os microprocessos ou mecanismos básicos que atuam no desenvolvimento das capacidades dinâmicas (SPENDER; GRANT, 3
4 1996; ARGOTE; INGRAM, 2000; TEECE, 2007). E ao considerar a importância que o conheciento tem para o trabalho que realizam os escritórios de contabilidade, o sistema de memoria transacional (Transactional memory system, TMS na sua sigla em inglês) pode ser considerado, como sugerido por Argote e Ren (2012), um desses microprocessos. O TMS se descreve como a divisão cooperativa do trabalho para aprender, lembrar e comunicar conhecimento de uma equipe (LEWIS, 2003, p. 587), conformando um sistema. Ou seja, a memória transacional deriva de indivíduos para formar um sistema de processamento de informações do grupo que, eventualmente, pode voltar a ter uma profunda influência sobre os participantes individuais da equipe (WEGNER, 1986, p. 191). As estruturas do TMS têm sido relacionadas com a gestão do conhecimento do grupo. Assim, quando nele se estabelece um TMS insuficiente surgem dificuldades em distribuir o conhecimento compartilhado de forma eficaz (HUANG; HUANG, 2007). Compartir o conhecimento individual permite dispor de um entendimento comum sobre a tarefa a desenvolver e, desse modo, torna-se mais fácil coordenar as atividades ao criar um relacionamento sinergético entre os colaboradores. Segundo Moreland et al. (1996) a especialização, credibilidade e a coordenação são dimensões ou componentes do TMS e, desde essa compreensão foi desenvolvido por Lewis (2003) uma escala para sua mensuração. A especialização faz referência à tendência dos membros da equipe de adquirir, armazenar e poder recuperar aspectos específicos do conhecimento, especializados e complementares a outros que possuem o demais integrantes. A especialização constitui a parte central do sistema, melhorando a exatidão dele ao facilitar a identificação dos membros que detem essa parcela do conhecimento (AUSTIN, 2003). A credibilidade se corresponde à confiança em que os membros do grupo dispensam nos conhecimentos que lhes são disponibilizados por outros integrantes, tornando-se fundamental para a complentariedade dos conhecimentos. Por fim, a coordenação faz referência ao trabalho harmonioso e eficiente que se desenvolve na execução de uma tarefa. Como fora demonstrado por Ren et al. (2006) o TMS é beneficioso em ambientes estáveis, mas possui maior importância nos dinâmicos, quando os problemas mudam com frequência. Equipes com TMS bem desenvolvido, conforme os achados de Gino et al. (2010), têm demostrado maior criatividade na resolução de problemas e na execução de projetos. As equipes dos escritórios terão um desempenho melhor na medida em que seu capital humano tenha melhores atributos educacionais e conhecimentos, bem como muita experiência e competência. Porém, é preciso que entre seus membros se estabeleça um sistema de memória transacional bem 4
5 desenvolvido. Em vista disto, pode-se conjecturar que existe uma relação positiva entre o TMS e o desempenho, contituíndo a hipótese desta pesquisa: H1: O sistema de memória transacional relaciona-se positivamente com o desempenho. 2.2 DESEMPENHO ORGANIZACIONAL A avaliação de desempenho é um instrumento fundamental na gestão empresarial considerando o dinamismo do ambiente competitivo no qual as empresas estão inseridas. Para Olson, Slater e Hult (2005) o desempenho das entidades é determinado pela forma eficaz e eficiente de implementar suas estratégias de negócios, sobretudo como adotam comportamentos de orientação ao cliente, analisam seus concorrentes, percebem e adotam as inovações pertinentes, e como lidam com os custos de gestão. Machado, Machado e Holanda (2007), por sua vez, afirmam que sua mensuração é um instrumento capaz de permitir um gerenciamento eficaz da empresa, e este é dependente de uma série de variáveis, como bases informativas, critérios, conceitos e princípios adotados. As empresas, segundo Nascimento et al. (2011) precisam desenvolver processos gerenciais que as auxiliem na avaliação do seu desempenho. Nesta linha de pensamento Petri (2005, p. 39) destaca que os gestores devem buscar formas de medir e de avaliar a eficiência, a eficácia, a efetividade, a qualidade, a produtividade, a inovação, a lucratividade a, entre outras características.. Dutra (2003) salienta que, os gestores de uma organização, sem as medidas de desempenho não possuem fundamentos sólidos para: a) comunicar a seus colaboradores as expectativas de desempenho esperada pela organização; b) saber o que está acontecendo em cada área de atuação da empresa; c) identificar os aspectos deficientes e/ou ineficazes no desempenho da firma, gerando oportunidade de eliminação ou revisão dos mesmos; d) fornecer feedback aos colaboradores que demonstrarem um desempenho aquém do planejado; e) identificar os aspectos que apresentam melhor desempenho; e, f) tomar decisões baseadas em informações sólidas, transparentes que possam ser justificadas. O desempenho pode ser mensurado através de duas perspectivas: primeiramente como conceito subjetivo, o qual está relacionado ao desempenho das organizações segundo a sua própria expectativa (PELHAM; WILSON, 1996) ou relativamente à competição. A segunda perspectiva é analisá-lo pelo método objetivo, baseado em medidas absolutas de desempenho (CHAKRAVARTHY, 1996). No presente estudo, por trabalhar com a percepção dos gerentes, trata-se de uma análise subjetiva. Corroborando com a opção de análise subjetiva, Perin e Sampaio (1999), apresentaram um 5
6 artigo onde se demonstra a validade do uso de indicadores subjetivos (de percepção) e objetivos do tipo self-report, como alternativa viável para o caso de inexistência de dados secundários confiáveis. Segundo Wang e Ang (2004), na maioria dos estudos desta natureza, as medidas subjetivas de desempenho são escolhidas porque as pequenas empresas dispõem de poucas informações objetivas e os dados contábeis ou inexistem ou são de difícil interpretação. Para Coelho et al. (2008) os indicadores de desempenho, além de serem uma ferramenta gerencial, tornaram-se uma medida estratégica de sobrevivência das organizações. Entretanto, melhorias de desempenho exigem mudanças também nos sistemas de mediação e gestão utilizados pelas empresas, pois é impossível atingir a excelência empresarial controlando apenas as medidas financeiras do passado, visto que os gestores necessitam de indicadores sobre vários aspectos do ambiente e do desempenho organizacional. 3 MATERIAL E MÉTODOS O material para o estudo foi obtido em uma amostra não aleatória, através de um questionário de autopreenchimento aplicado aos gerentes, coordenadores e assistentes de empresas prestadoras de serviços contábeis do Estado de Santa Catarina. O instrumento de coleta de dados esteve composto por 22 asseverações, a serem respondidas através de uma escala Likert de concordância de 7 pontos, indo desde discordo totalmente (1) até concordo plenamente (7), e 6 questões para obter dados dos respondentes e dos escritórios. Os dois blocos principais do questionário compreendiam os constructos: sistema de memória transacional (TMS) e desempenho organizacional (DO). O primeiro bloco destinava-se a registrar os componentes especialização, credibilidade e coordenação do TMS, por meio de 5 itens para cada um deles. Já com o segundo bloco se mensurava a percepção sobre o DO utilizando 7 indicadores. Todos os dados obtidos foram digitados numa planilha eletrônica Excel, onde inicialmente se fez o pré-processamento deles segundo as indicações de Hair Jr. et al. (2009). Observou-se que existiam 12 dados faltantes nos 202 questionários recebidos, mas como não foi reconhecida a ocorrência de nenhum padrão foram preenchidos com o valor da mediana do item considerado. A seguir, avaliaram-se os outliers usando a função gráfica Box-Plot do software Statistica, com a que foram reconhecidos 26. Ao igual que com os dados faltantes se verificou que não seguiam algum padrão e optou-se por mantê-los. Não se registraram erros de digitação. Como resultado dos procedimentos descritos a base de dados inicial ficou composta por 202 respondentes e 28 variáveis. Os métodos estatísticos usados para comparar médias foram o teste t e análise de variância. A Anova realizada foi univariada e, portanto muito robusta frente às violação de normalidade e 6
7 homocedasticidade (HARRIS, 1975). Já os métodos multivariados empregados para avaliar as relações entre os constructos foram análise fatorial exploratória (AFE), análise fatorial confirmatória (AFC) e modelagem de equações estruturais (MEE). Os softwares usados foram o Statistica, SPSS e AMOS. Antes de realizar as análises fatoriais foi calculado o coeficiente alfa de Cronbach para cada constructo considerado e a correlação do item com o total, conforme o procedimento sugerido por Churchill Jr. (1979). Observou-se também a correlação média inter itens e, usaram-se o teste de Kaiser, Olkin e Meyer (KMO) e o de Bartlett para confirmar com outras técnicas a factibilidade de empregar a análise fatorial. Na AFE fez-se a extração por componentes principais, que não requer multinormalidade, sendo os fatores extraídos segundo o critério de Kaiser para matrizes de correlação, que implica em considerar somente os autovalores maiores do que 1. Outras restrições empregadas foram que as cargas fatoriais fossem maiores ou iguais do que 0,70 em módulo e a comunalidade maior ou igual que 0,5. A variância extraída pelo fator no caso de unidimensionalidade devia ser maior ou igual que 50%. Depois desses procedimentos a base ficou com 21 variáveis. Incluem-se nela as 6 variáveis referidas às informações individuais e empresariais junto com as 9 o sistema de memória transacional e 6 o desempenho. Com a finalidade de avaliar a normalidade da distribuição dessas variáveis selecionadas e ao levar em conta que os dados provinham de escalas Likert, efetuaram-se os cálculos da assimetria e curtose (HAIR Jr. et al., 2009). Finney e DiStefano (2006) afirmam que dados com coeficientes de até 2 de assimetria e até 7 de curtose, em módulo, podem ser considerados quase normais. Confirmado que cada fator extraído representava uma dimensão do constructo ou a ele próprio, com três ou mais itens, foi desenvolvida a análise fatorial confirmatória (AFC) empregando-se o programa AMOS. Colocou-se como restrição que os indicadores deviam ter um coeficiente padronizado entre o indicador e o constructo avaliado de, no mínimo, 0,50. A AFC corrige possíveis deficiências do modelo exploratório e conduz a uma maior certeza das hipóteses que devem ser contrastadas através de modelos que expliquem os inter-relacionamentos existentes na estrutura de um questionário. Neste estudo utilizou-se a AFC para validar o modelo de mensuração de modo individual para cada dimensão do constructo e, a seguir, para o constructo considerando todas suas dimensões. Finalmente se validou o modelo geral de mensuração entre os constructos TMS e DO, cuja associação se pretendia examinar. A análise da relação conjecturada foi realizada através da modelagem de equações estruturais, também com o software AMOS. A função principal da MEE e a especificação e estimação de 7
8 modelos de relações lineares entre variáveis. Esta técnica oferece a possibilidade de investigar quão bem as variáveis preditoras explicam a variável dependente e também é possível identificar qual das variáveis preditoras é a mais importante (KLINE, 2011). 4 RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS Com os dados da amostra obtida, que compreendeu 202 questionários válidos e 28 variáveis, previamente a efetuar as análises fatoriais se realizaram os procedimentos descritos na seção anterior. Assim, seguindo o sugerido por Churchill Jr. (1979) se avaliou a confiabilidade através do alfa de Cronbach e as correlações do item com o total. Computou-se também o valor médio da correlação inter itens para confirmar a adequação dos dados. Os resultados obtidos se apresentam na Tabela 1, onde consta ainda o valor do teste de Kaiser, Olkin e Meyer (KMO) que serve para certificar a factibilidade de efetuar uma análise fatorial. Tabela 1 - Indicadores de factibilidade de efetuar uma análise fatorial com os constructos considerados. * significa que para o número de itens foi ajustado para obter valores satisfatórios. Constructo Dimensão Número Correlação α de Cronbach de itens Item-total Inter-itens K-M-O Especialização 3 * 0,7949 > 0,4 0,506 0,706 TMS Credibilidade 3 * 0,7818 > 0,5 0,557 0,617 Coordenação 3 * 0,8523 > 0,65 0,669 0,644 DO Desempenho 6 * 0,9420 > 0,55 0,729 0,876 Fonte: Dados da pesquisa. Espera-se para o KMO valores acima de 0,7, mas podem-se aceitar valores maiores do que 0,6. Os resultados do teste de Bartlett não se apresentam na Tabela uma vez que todos eles foram significativos (p<0,001). Dando sequência se efetuaram as análises fatoriais exploratórias através das quais se fizeram outros ajustamentos na base de dados resultando no numero final de itens por dimensão de cada constructo considerado. Calculada a assimetria e a curtose verificou-se que nenhum dos valores ultrapassa os limites que foram sugeridos por Finney e DiStefano (2006), conforme se apresenta na Tabela 2. Portanto, pode-se aceitar que a distribuição pode ser considerada quase normal. 8
9 Tabela 2 Cálculo das medidas descritivas dos itens selecionados nas análises fatoriais exploratórias. Constructo Variável Média Desv.Pad. Assimetria Curtose ES1 5,296 1,436-0,547-0,824 ES3 5,370 1,580-0,677-0,486 ES5 5,346 1,450-0,486-0,511 CR1 6,123 0,890-0,727-0,071 TMS CR2 5,840 1,114-0,851 0,329 CR3 6,043 1,042-1,957 5,977 CO1 6,148 0,879-1,016 1,051 CO2 5,840 1,125-1,109 0,576 CO4 6,191 1,084-1,338 0,872 DO1 5,383 1,201-0,079-1,317 DO2 5,574 1,085-0,060-1,279 DO DO4 5,728 1,131-0,308-1,305 DO5 5,802 1,157-0,458-1,253 DO6 5,802 1,215-0,455-1,384 Fonte: dados da pesquisa. Definidas a variáveis que foram utilizadas na análise de dados fez-se uma comparação de médias para cada constructo. Para tanto, a variáveis dependentes foram as somatórias das pontuações atribuídas aos indicadores selecionados de cada constructo. Na comparação entre respondentes se usou como variável categórica o gênero e para contrastar as empresas empregou-se o tipo de administração que elas têm: familiar ou profissional. Em nenhum dos testes t se verificaram diferenças ligadas ao gênero do sujeito da pesquisa ou ao tipo de gestão empresarial para nenhum dos constructos. Ao considerar o tamanho do escritório, que se categorizou em pequeno (até 49), médio (de 50 a 99) e grande (com 100 ou mais funcionários), o contraste das médias fez-se empregando a análise de variância. Nas comparações simultâneas, conforme se apresenta na Figura 1, houve diferenças para o desempenho [F (2, 199) = 4,6322; p = 0,01081]. Os contrastes das comparações pareadas foram efetuadas com o teste de Tukey para número desigual de observações. O resultado obtido mostrou que as empresas grandes têm pontuações médias maiores do que as pequenas. Por sua vez as empresas médias não se diferenciam nem das grandes nem das pequenas (Tabela 3). 9
10 Figura 1 Anova do desempenho considerando o tamanho das firmas como preditores. 38 Soma pontuações do Desempenho Fonte: dados da pesquisa. Grandes Pequenas Médias A seguir foram feitas as análises fatoriais confirmatórias para validar os modelos de mensuração, tanto individualmente para cada dimensão do TMS quanto para esse constructo e para o desempenho. Todos os itens selecionados na fase exploratória foram mantidos para os procedimentos ulteriores. Tabela 3 Valores das médias e de significância nas comparações pareadas pelo teste de Tukey para número desigual de elementos. Média 29,981 27,581 27,513 Tamanho Grande Média Pequena Grande 0, , Média 0, , Pequena 0, , Fonte: dados da pesquisa. Na Figura 2 se exibe o modelo estrutural e se mostram os valores padronizados das relações mensuradas. Figura 2 Modelo estrutural das relações entre o sistema de memória transacional, com suas dimensões de especialização, credibilidade e coordenação e o desempenho organizacional. Fonte: dados da pesquisa. Ao analisar a relação entre o sistema de memória transacional e o desempenho confirma-se que 10
11 ela é significativamente positiva, como se exibe na Tabela 5. Estes primeiros resultados para realidade dos escritórios de contabilidade além da importância acadêmica tem valor prático, pois ratifica a necessidade de manter as equipes de trabalho e evitar a rotatividade. Tabela 5 Coeficientes calculados na modelagem de equações estruturais e sua significância. ***: p < Relação Coeficiente Significância Especialização TMS 0,60593 *** Credibilidade TMS 0,95271 *** Coordenação TMS 0,75481 *** DESEMPENHO TMS 0,50911 *** Fonte: Dados da pesquisa. Para que os dados encontrados pela MEE sejam considerados relevantes, o modelo deve encontrar sustentabilidade com relação aos índices de ajustamento. Dentre os indicadores mais utilizados podem-se citar: 1) Qui-quadrado (χ²): medida de diferença que serve para comparar matrizes de covariância observada e estimada. Sendo o Qui-quadrado, portanto uma medida de erro espera-se que se encontrem valores não significativos (p > 0,05). Tal significância determinaria o ajuste correto do modelo. 2) Qui quadrado dividido pelos graus de liberdade (χ² / g.l.): Em algumas amostras, com um número elevado de casos Hair et al. (2009) comenta que a significância não deve ser levada em conta, mas sim o valor do próprio Qui-quadrado dividido pelo número de graus de liberdade, devendo este ser menor do que 5. 3) Root Mean Square Error of Aproximation (RMSEA): semelhante ao RMR, mas leva em consideração ainda os Graus de Liberdade. Valores abaixo de 0,08 são desejáveis. 4) Non-Normed Fit Index (NNFI): idêntico ao NFI, embora leve em consideração um ajuste para a complexidade. Também se esperam valores acima de 0,90. 5) Comparative Fit Index (CFI): é um índice que compara o modelo estimado e o modelo nulo. Variação entre 0 e 1, com valores acima de 0,90 desejáveis. 6) Root Mean Squares Residual (RMR): mede as discrepâncias entre as covariâncias encontradas e observadas. Valores próximos a 0 indicam ajuste perfeito, mas valores abaixo de 0,10 são bem aceitos. Os dados analisados do modelo estrutural exibido na Figura 2 chegaram à solução depois de 10 iterações e os índices que mensuram o ajuste do modelo foram razoáveis, com alguns valores adequados e outros sem alcançar os valores recomendados. Eles foram: χ² = 570,403; χ²/g.l. = 5,023; RMSEA = 0,081; NNFI = 0,874; CFI = 0,916; e, RMR = 0,
12 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Em correspondência com o objetivo geral da pesquisa a investigação centrou-se na análise das associações entre o sistema de memória transacional (TMS) e o desempenho organizacional (DO) dos escritórios de contabilidade. Com base no referencial teórico foi proposta uma hipótese que postulava uma relação positiva. Inicialmente fizeram-se algumas análises para saber se o gênero ou o tipo de gestão que essas organizações têm influenciava na percepção dos respondentes sobre os constructos. Os testes de comparações de médias efetuados não mostraram diferenças significativas nem para o TMS nem para o DO. Contudo, pelo tamanho da organização foram comprovadas diferenças na comparação simultânea da medida de desempenho. Verificou-se que as firmas maiores foram as que declaram ter melhor desempenho se contrastadas com as empresas pequenas. Em relação à hipótese conjecturada, que o TMS tem relação positiva com o desempenho, foi desenvolvida a modelagem em equações estruturais para avaliar os coeficientes de covariância gerados. Como exibido nos resultados todos os coeficientes de covariação foram estatisticamente significativos, tanto os que relacionam o TMS com suas dimensões quanto o que associa o sistema de memória transacional com o desempenho organizacional. Os índices de ajustamento, que se empregam como uma medida de avaliação da validez da modelagem, permitiram aceitar o resultado. Embora todos os índices não tenham alcançado os valores recomendados alguns deles sim o fizeram e os outros estiveram bastante próximos e se tomaram como satisfatórios. Portanto, a hipótese postulada considerou-se confirmada. Sugere-se que novas pesquisas ampliem a base de dados incluindo mais escritórios de contabilidade e que a amostragem seja probabilística. Desse modo será possível generalizar os resultados obtidos. Também cabe sugerir a inclusão de outros constructos importantes para a gestão estratégica das entidades, como a orientação empreendedora ou a capacidade absortiva de conhecimentos. 12
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