DIREITO FISCAL 4.º ANO EXAME DE 17 DE JANEIRO DE Regente: Prof. Doutora Ana Paula Dourado
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1 DIREITO FISCAL 4.º ANO EXAME DE 17 DE JANEIRO DE 2012 Regente: Prof. Doutora Ana Paula Dourado Colaboradores: Prof.ª Doutora Paula Rosado Pereira, Mestres Gustavo Courinha e João Pateira Ferreira I. Considere os seguintes factos: António é advogado e auferiu em 2011 rendimentos de euros a título de honorários. Recebeu ainda euros de dividendos pagos pela DW, uma empresa tecnológica sedeada em Berlim e vendeu um lote de ações do banco português Poupanças&Depósitos, por euros, bem acima do valor de aquisição. Este ano aproveitou ainda para se desfazer de alguns quadros herdados de uma tia, por euros. A mulher de António, Berta, está desempregada, tendo recebido da sua anterior entidade empregadora uma compensação no valor de euros. Perante a situação descrita na hipótese, responda às seguintes questões: a) Identifique as categorias dos rendimentos auferidos pelo casal e pronuncie-se sobre o respetivo regime de tributação. b) António, depois de conversar com um amigo contabilista, chegou à conclusão que não podia deduzir aos seus impostos (IRS + IVA) um computador portátil adquirido em Outubro, que lhe custou euros (IVA incluído). Terá razão? c) O maior cliente de António, a sociedade Manfredo, S.A., tem dúvidas quanto à necessidade de proceder a retenção na fonte relativamente aos honorários pagos a António. Qual seria a sua recomendação? d) A Manfredo, S.A. pretende reduzir a sua carga tributária através da celebração de um conjunto de contratos de prestação de serviços de consultoria com diversas empresas portuguesas, suas participadas, e ainda com
2 a World Consulting, uma empresa com domicílio fiscal em Hong Kong. Haveria vantagens nesta decisão? II. Imagine que o Governo decide aprovar, durante o mês de Janeiro de 2012, uma Contribuição Extraordinária para a Salvação Pública, a incidir sobre pessoas singulares ou coletivas titulares de contas-poupança ou quaisquer outros instrumentos de aplicação de poupanças, no valor de 0,1% sobre o saldo dessas poupanças. Pronuncie-se quanto à natureza deste tributo. III. Pronuncie-se quanto à possibilidade de o Código do IRC permitir à Administração Fiscal recusar a dedução das despesas com a aquisição de automóveis a sujeitos passivos que tenham lucros tributáveis inferiores a euros, sempre que tais despesas sejam consideradas excessivas. Duração: 2.00h + 30m de tolerância. Cotação: Questão I: 9 valores ( ). Questão II: 5 valores Questão III: 5 valores Ponderação global: 1 valor
3 CRITÉRIOS DE CORRECÇÃO I a) Incidência subjectiva. Incidência objectiva: 1. Rendimentos de António: - Honorários Rendimentos da Categoria B (prestação de serviços, atividade prevista na tabela a que se refere o Art.º 151 CIRS): Art.º 1/1 CIRS, Art.º 3/1 b) CIRS, determinação pelo Art.º 28 e ss. CIRS. Rendimento sujeito a englobamento (22.º CIRS) e à aplicação das taxas gerais do Art.º 68 CIRS; - Dividendos pagos por empresa alemã Rendimentos da Categoria E (rendimentos de capitais): Art.º 1/1 CIRS, Art.º 5/1 e 5/2 h) CIRS. Rendimento sujeito às taxas especiais do Art.º 72/5 CIRS, possibilidade de englobamento (72/7 CIRS). Possibilidade de aplicação do Art.º 81 CIRS; - Venda de acções (acima do valor de aquisição) Rendimentos da Categoria G (Incrementos patrimoniais/mais-valias): Art.º 1/1 CIRS, Art.º 9/1 a) e 10/1 b) CIRS. Rendimento sujeito às taxas especiais do Art.º 72/4 CIRS, determinação pelo art.º 43 CIRS. Possibilidade de englobamento (72/7 CIRS). Benefício fiscal aos pequenos investidores previsto no Art.º 72 EBF; - Venda de quadros sem norma de incidência. 2. Rendimentos de Berta: - Compensação pela cessação da relação laboral Rendimentos da Categoria A (rendimentos do trabalho dependente); Art.º 1/1 CIRS, 2/3 e) e 2/4 b) CIRS, sujeito a tributação nos termos aí previstos. Deduções específicas nos termos do Art.º 25.º CIRS. Rendimento sujeito a englobamento (22.º CIRS) e à aplicação das taxas gerais do Art.º 68 CIRS.
4 I b) IRS: Regime de determinação dos rendimentos profissionais de António (Art.º 28/1 CIRS): regime simplificado (não pode deduzir regras de determinação do rendimento tributável nos termos do Art.º 31/2 CIRS) ou contabilidade organizada (pode deduzir remissão para as regras do CIRC (Art.º 32 CIRS), nomeadamente o 23.º IRC). Não existem benefícios fiscais ou deduções à colecta que prevejam esta aquisição. IVA: António é sujeito passivo (Art.º 2/1 a) CIVA), não está isento nos termos do Art.º 9 CIVA, o bem em causa será utilizável por António na sua actividade (20/1 a) CIVA), não estando excluído o direito à dedução nos termos do Art.º 21.º CIVA. António pode deduzir o imposto suportado na aquisição do computador de acordo com o Art.º 19/1 a) CIVA. I c) Tratando-se de uma actividade profissional prevista na tabela referida no Art.º 151.º CIRS (cód Advogados), e estando o devedor do rendimento sujeito a contabilidade organizada, haverá lugar a retenção na fonte, à taxa de 21,5%, por parte da Manfredo, S.A., nos termos do Art.º 101/1 b) CIRS. Não havendo retenção, e tendo esta natureza de pagamento por conta do imposto devido a final, haverá lugar à responsabilidade originária do substituído (António) pelo imposto não retido, e responsabilidade subsidiária do substituto (Manfredo, S.A.), nos termos do Art.º 103/2 CIRS. I d) Em princípio, tais contratos implicariam gastos para a Manfredo, S.A., nos termos do Art.º 23.º CIRC, o que teria consequências no seu lucro tributável. A primeira situação (prestação de serviços por empresas participadas), configura a existência de relações comerciais entre entidades com relações especiais, sujeita ao
5 regime do Art.º 63 CIRC (regime dos preços de transferência), podendo ser tais gastos corrigidos se não obedecerem a critérios de comparabilidade. A segunda situação configura a existência de pagamentos a uma entidade domiciliada num território com regime de tributação privilegiado (nos termos da Portaria n.º 150/2004, de 13 de Fevereiro), pelo que se encontra sujeito ao regime do Art.º 65 CIRC, não sendo tais gastos dedutíveis, excepto se a Manfredo, S.A. provar que as operações em causa foram efetivamente realizadas, não têm caráter anormal ou que os encargos não representam um montante exagerado. Esta opção seria ainda sujeita a tributação autónoma, nos termos do Art.º 88/8 CIRC. II. Natureza do tributo: tipos de tributos, distinção entre taxa, contribuição especial e imposto; critério de determinação do tributo criado pelo Governo tendo em conta um elemento patrimonial, a poupança (indicador de capacidade contributiva), sem qualquer tipo de relação de equivalência ou correspondência com um serviço, ou prestação pública. Princípio da legalidade, na sua vertente formal e material. III. Princípio da tributação das empresas pelo rendimento real e seus limites. Possibilidade de imposição de limites e condições à dedução de custos para efeitos de determinação do rendimento tributável das empresas (exemplos do CIRC); princípio da legalidade fiscal, utilização de conceitos vagos e indeterminados e atribuição de poderes discricionários à Administração Fiscal.
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