Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário Federal do Estado de Mato Grosso. Lutando é que se consegue: Cuiabá está pegando fogo até na chuva

Transcrição

1 Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário Federal do Estado de Mato Grosso BOLETIM SEMANAL De 21 a 28 de junho de 2013 Lutando é que se consegue: Cuiabá está pegando fogo até na chuva

2 Saiba como foram as últimas manifestações em Cuiabá, que levaram à aprovação de melhorias no transporte público

3 De MANIFESTAÇÃO do passe livre_2013_06_26_cbá Cuiabá, que no último dia 20 de junho foi palco da maior manifestação pública de sua história, com cerca de 50 mil pessoas, teve suas ruas centrais novamente tomadas por manifestantes na noite de 26/6. Desta vez o movimento foi para defender o passe livre integral e a redução da tarifa dos ônibus, além de melhorias da qualidade do transporte coletivo, e apesar da pauta específica, mais de mil pessoas fizeram parte do ato, num protesto completamente pacífico, porém com enorme poder de alcance. A prova disso foi o resultado já alcançado pelos manifestantes que, mesmo tendo sido atrapalhados pela chuva que impossibilitou o acampamento em frente à Câmara Municipal, após a passeata, os vereadores

4 aprovaram cinco projetos de lei relacionados ao transporte público na Capital, na sessão do legislativo, do dia 27. Seria difícil que agissem diferentemente, pois eles foram pressionados o tempo todo do começo ao fim da sessão, e já estavam literalmente acuados desde a forte manifestação de ontem, que não teve apenas estudantes entre os participantes, mas cidadãos em geral. Clique aqui para saber o resultado da sessão de hoje na Câmara de Cuiabá.

5 O povo brasileiro, e o cuiabano, sobretudo, pegou gosto por este novo jeito de viver, em que as insatisfações com a classe política e os administradores públicos são a munição para ondas de protestos. Se na manifestação do dia 20 os estudantes reforçaram as mobilizações que nasceram nas redes sociais, dia 26 foi a vez de a população em geral apoiar a causa dos estudantes, mesmo porque a melhoria dos transportes públicos não interessa apenas a eles, mas a toda a população. Com sucatas transportando passageiros, quem tem carro próprio acaba deixando de lado os ônibus, e à medida que o transporte público melhorar certamente um maior número de pessoas voltará a usar esses meios de locomoção, deixando o trânsito fluir melhor. Trabalhadores públicos e privados e movimentos sindicais e sociais participaram ativamente dos protestos de ontem. Entre eles estavam Pedro Aparecido de Souza e Marcelo

6 Lincoln Evangelista, diretores do SINDIJUFE-MT que representaram também, na ocasião, a Central Sindical Popular à qual o Sindicato é filiado - a CSP Conlutas. A manifestação em defesa de melhorias dos transportes públicos teve entre seus protagonistas os membros da Intersindical, dentre eles Eduardo Matos, que, juntamente com a classe estudantil, vem lutando desde o início deste ano contra o reajuste da tarifa de ônibus. "Os dez centavos que conseguimos até agora não bastam", avalia ele, salientando que o último reajuste foi de vinte centavos, e que os manifestantes, portanto, não irão desistir dos outros dez centavos. "Queremos a revogação do aumento, não só pelo fato de Cuiabá ter uma das tarifas mais caras do país, mas principalmente porque os ônibus da nossa capital são verdadeiras sucatas e precisam de modernização da frota, para dar maior conforto aos passageiros", explica.

7 Pedro Aparecido de Souza e Marcelo Evangelista também saíram da manifestação de ontem cheios de coisas boas para contar em seus próximos informes à Categoria dos servidores públicos do judiciário federal de Mato Grosso. Há muito tempo o SINDIJUFE-MT e a CSP-Conlutas trabalha para mobilizar os trabalhadores, e eles finalmente

8 acordaram. Acordaram e parecem não querer mais abandonar as ruas. O povo ficou exigente, e povo esclarecido que vai à luta por seus direitos é a realização de todo sindicalista. "O que nos impressiona nesta onda de protestos que tomou conta do Brasil é a espontaneidade dos participantes", diz Pedro Aparecido de Souza. Ele foi o primeiro a montar acampamento, ontem na frente da Câmara Municipal, onde os manifestantes passariam a noite e aguardariam o clarear do dia, para pressionar os vereadores durante as votações desta quinta-feira. Pedro Aparecido deu várias entrevistas a jornalistas, e as fotos das barracas do SINDIJUFE-MT foram divulgadas na maioria dos sites de notícia e nos jornais da cidade.

9 A polícia esteve presente durante toda a manifestação, e mesmo no final da passeata havia cerca de um policial para cada 10 manifestantes, que no entanto armaram suas barracas e tomaram conta da rua, indo embora somente devido ao mau tempo. Pedro Aparecido e todos os demais manifestantes que iam acampar voltaram para casa molhados pela chuva, mas demonstravam satisfação pelo dever cumprido. Quem não participou da manifestação assistiu a passeata das janelas das casas e dos prédios por onde ela passou, saindo da Praça Alencastro, subindo a Getúlio Vargas e descendo a Isaac Povoas, finalizando o movimento diante da Câmara Municipal. A opinião pública, neste momento, apoia totalmente as manifestações, e cada nova manifestação ganha adesões. E os protestos estão se multiplicando na capital de Mato Grosso. Nesta sexta-feira (28) haverá outra manifestação, e na semana que vem também.

10 Um dia que entrou para a história de Cuiabá

11 Os movimentos de protesto que estão acontecendo em todo o país - e em particular a grande manifestação popular que aconteceu em Cuiabá, no dia 20/6, avaliada como a maior da história de Mato Grosso, - estão repercutindo positivamente entre os servidores do judiciário federal de Mato Grosso, que também apoiam e participam deste histórico momento das lutas populares. A manifestação do dia 20 teve a participação de vários servidores da categoria,inclusive diretores - dentre eles Rodrigo de Freitas, Marcelo Evangelista, Ivan Louredo, Walderson Oliveira e Pedro Aparecido de Souza. Através das manifestações recentes, a população já conseguiu reduzir as tarifas de ônibus em 10 centavos, que - diga-se de passagem - sempre foi uma das bandeiras de luta do SINDIJUFE-MT e da CSP-Conlutas - Central Popular e Sindical à qual o Sindicato é filiado. A tônica foi a manifestação individual, e cada um foi à rua para protestar enquanto cidadão, e não como representante de entidades. Apesar disso, a participação dos movimentos estudantis foi fundamental, inclusive para controlar e impedir atos de vandalismos. A tônica foi fora Dilma, fora Riva, fora Silval, fora Mauro Mendes, fora políticos, fora empresários corruptos. "Esse pessoal todo não nos representa, nem os políticos atuais, nem os partidos que estão no poder, e queremos algo novo", dizem os manifestantes em geral, em Cuiabá.

12 Origens do movimento No caso da CSP-Conlutas e do SINDIJUFE-MT, eles querem não apenas reformas, mas um mundo novo, sem exploração, um mundo de solidariedade, e não de exploração do ser humano pelo ser humano. Antes de tudo isso acontecer, desde 1997, o Sindicato e a CSP-Conlutas já estavam promovendo passeatas nas ruas e manifestações pela qualidade do serviço público - educação e saúde, entre outras coisas. "Lembro que fizemos passeatas contra privatizações, e agora todo mundo veio às ruas reivindicando as mesmas coisas, como a qualidade dos serviços públicos. Então, na verdade, essas bandeiras contra a corrupção, etc, não são novas para o nosso sindicato e nem para a nossa Categoria e para a nossa Central Sindical Popular", diz o presidente do SINDIJUFE- MT. O que é novo para a categoria, segundo Pedro, é o jeito espontâneo de se fazer essas manifestações e o número de participantes. "A maior passeata que fizemos teve pessoas, e costumávamos fazer passeatas com 50, 100 ou mil pessoas, no máximo. Mas agora a participação foi ampliada, e de um modo totalmente natural, levando cidadãos comuns para a rua, com

13 seus erros e acertos, com as experiências acumuladas e a falta delas. Portanto, na nossa avaliação isso é fantástico. Nós entendemos que temos que ocupar esses espaços, e a nossa Categoria mais uma vez reagiu, indo para as ruas em um grande número. Mais de 200 servidores dos 3 órgãos estiveram presentes de forma atuante". Representantes do Sindicato e a CSP-Conlutas estiveram à frente na coordenação desses movimentos, não nas redes sociais, mas junto aos movimentos sociais, e estiveram presentes nas reuniões na UFMT. "O nosso papel na manifestação de quinta-feira, em termos de organização do movimento, foi no sentido de impedir o vandalismo, e praticamente não teve incidentes no meio de 50 mil pessoas e intervir no processo na medida do possível", disse Pedro Aparecido, complementando que "para nós que sempre militamos é muito gratificante saber que a população acordou, e o fundamental foi que conseguimos baixar a tarifa do ônibus em R$ 0,10. Não foi o prefeito que baixou. Ele foi obrigado a baixar, e terá que baixar mais. Temos que chegar num serviço público estatal, e não mais explorado por empresários que só querem saber de lucros a qualquer custo". Na manifestação em Cuiabá teve protesto contra os ônibus, e os ônibus foram retirados. Quem não estava de carro precisou pegar táxi após a manifestação com 50 mil pessoas. Os empresários ficaram com medo de depredações, que praticamente não ocorreram.

14 Apesar de ter sido espontânea, a manifestação foi muito bem organizada, e uma coisa que deixou muita gente arrepiada foi que - por onde os manifestantes iam passando - a adesão era total. Todo mundo descendo dos prédios e incorporando o movimento. Vários sindicatos, Centrais Sindicais e Movimentos Sociais e Estudantis também participaram da Manifestação, junto com os manifestantes em Cuiabá. Usuários de ônibus Muitos servidores do judiciário federal utilizam ônibus para irem ao local de trabalho, e entre os usuários do transporte público também há diretores do Sindicato, a começar pelo presidente, Pedro Aparecido, conforme ele mesmo revela, dizendo que muita gente não sabe disso e às vezes se surpreende ao encontrá-lo num desses coletivos que circulam lotados, sem ar-condicionado e nenhum outro conforto para os passageiros. "Eu sei que é preciso melhorar as condições do transporte coletivo porque ando de ônibus e conheço a realidade. Muitos desses veículos são velhos e frequentemente quebram, deixando as pessoas no meio do caminho, e aí vem outro nas mesmas condições, sem cobrador e quase sempre lotados", afirma Pedro Aparecido. Fator que impressiona Julia Viñe, que também é diretora do SINDIJUFE-MT, afirma que o que mais a impressiona é o fato dessas manifestações estarem acontecendo em várias cidades, ao mesmo tempo. "Eu não fui à manifestação em Cuiabá. Preferi ficar em casa, acompanhando tudo pela TV e pela Internet. As imagens na TV eram espetaculares, mesmo aquelas com cenas de violência de ambas as partes, policiais e manifestantes", diz ela. A diretora faz uma análise sobre o motivo maior da manifestação. "Além das várias insatisfações da população brasileira, como o preço do transporte, má qualidade dos serviços públicos de educação, saúde, segurança, inflação entre outros, na minha opinião, a maior insatisfação foi com a classe política e o que a política representa para nós todos. O maior problema do brasileiro é que não temos representantes eleitos que tenham compromisso com os ideais da população brasileira. Nós brasileiros, não temos nossos anseios representados por esses políticos que se tornaram gestores públicos. Não confiamos neles, e a população os veem como inimigos. Essa é a situação mais grave, pois nos fazemos a seguinte

15 pergunta, mas qual é a solução? Somente pelo voto? Parece que essa situação passa pelo voto, mas transcende e chega no cerne da democracia. E ainda nos perguntamos como eles podem ser o inimigo do povo, se nós os elegemos para nos representar. Essa, na minha opinião, é a pergunta mais complexa e sem perspectiva de resposta para nós brasileiros", considera Julia. Objetivos das manifestações Para Rodrigo Carvalho, que também participou da manifestação de quintafeira, em Cuiabá, o dia 20 de junho de último dia do outono - será lembrado para sempre por todos. "Vimos aquela que provavelmente foi a maior manifestação popular de protesto da história de Cuiabá (que se repetiu ainda em maior intensidade em várias capitais do Brasil). Cerca de 50 mil pessoas, de todas as idades e classes sociais, com as mais distintas identificações ideológicas, saíram da frente da Prefeitura Municipal, na Praça Alencastro, tomaram a Avenida Historiador Rubens de Mendonça e somente pararam na Assembleia Legislativa. Milhares de pessoas unidas, caminhando e cantando, emocionando outras milhares de testemunhas pelo caminho. O que queriam? Queriam ser ouvidas como há anos não eram devidamente ouvidas", observa ele. Ouvidas para quê? O que queriam dizer? "Queriam dizer muitas coisas. Cada cartolina, cada cartaz, cada faixa, cada camiseta, trazia um pedido. De forma resumida, podemos dizer que queriam que as principais promessas

16 vendidas por nossos representantes democraticamente eleitos fossem efetivamente cumpridas. Via-se ali o povo querendo algo simples. Queriam apenas que o Brasil para todos saísse do papel e virasse pauta prioritária de todos os agentes políticos do Estado brasileiro. Não se trata de cobrar apenas o partido A ou B. Trata-se de cobrar essa conta de todos eles. Justiça célere e igual para todos, serviços públicos de qualidade (saúde, educação, segurança, emprego e moradia), além do combate efetivo a corrupção. Parece que queremos muito? Não, apenas queremos o que é justo", considera Rodrigo. Fora de Mato Grosso, os protestos também levou multidões às ruas, como mostra esta foto. "Esse justo não é desejo de todos? Então para quê sair às ruas para pedir o óbvio? Justamente por que o óbvio não está acontecendo e os principais beneficiários (população) se transformaram nas principais vítimas do não cumprimento deste óbvio. Alguns manifestantes querem a anarquia pura e simples. Outros querem a dissolução da democracia representativa em prol de uma ditadura (de esquerda ou de direita). Mas a imensa maioria ainda acredita na democracia, apenas não acreditam na capacidade dos atuais partidos conseguirem levar adiante um projeto de nação, e por isso decidiram demonstrar isso da maneira mais enfática possível, protestando nas ruas".

17 Futuro em perspectiva De acordo com Rodrigo, da euforia e alívio de ter colocado para fora todas as suas insatisfações e frustrações com a condução do país por seus representantes, agora esses milhares de cidadãos entram na ansiedade e na dúvida do e agora, o que fazer?. Os atos públicos, segundo ele, demonstram que existe uma energia nova brotando no meio de uma geração muito criticada por sua suposta alienação política. Essa geração não pode ver essa energia se esvair no vácuo provocado pela ausência de ideias práticas para dar prosseguimento a esse processo de mudança tão desejado por todos. "Agora é a hora de mostrarmos maturidade e inteligência. Temos que tirar dos cartazes as demandas, e levarmos elas para o centro da mesa política, seja por meio de novas lideranças políticas, seja por meio de novos partidos ou por meio de associações ou entidades de classe. Abdicar da democracia representativa é uma aposta perigosa. Precisamos radicalizar a nossa democracia, não abrir mão dela. Reformá-la profundamente, nem que seja necessária uma nova Assembleia Nacional Constituinte para isso". "Quer dizer que o trabalho nas ruas já terminou? Certamente não", prossegue Rodrigo, complementando que agora já sabemos como nos organizar para pedir em alto e bom som que nossos representantes nos ouçam. "Erros foram cometidos (em especial, o vandalismo) nas manifestações, mas não podem de forma alguma desabonar ou desacreditar o bom trabalho feito pela maioria até agora nos protestos. Estamos reaprendendo a lutar por nossos direitos. Muitos dos que participaram dos atos nos últimos dias jamais haviam participado de algo semelhante ou tão grande. E espero que participem dos próximos e tragam mais pessoas. Essa pressão será fundamental para que os projetos de lei parados (ou ainda inexistentes) no Congresso, que versem sobre as reformas necessárias ao Estado brasileiro, ganhem visibilidade e prioridade até serem aprovados e sancionados, e não acabem no fundo de alguma gaveta de umas das inúmeras comissões na Câmara e/ou Senado".

18 Na opinião de Rodrigo, muito ainda precisa ser feito. "Contudo, somente a pressão permanente, crescente e organizada da população poderá fazer com que as reformas aconteçam, e aconteçam depressa", finaliza. Até os alunos do Liceu Cuiabano cruzaram os braços, por melhores condições de estudos A onda de protestos, em todo o país, por melhorias gerais, está mobilizando até mesmo os jovens estudantes do Ensino Secundário. Entre os protagonistas do movimento estão os alunos do Liceu Cuiabano, em Cuiabá. As aulas foram suspensas na parte da manhã do dia 27/6 devido ao protesto dos alunos, que simplesmente cruzaram os braços e se recusaram a voltar para as salas de aula depois do intervalo do lanche.

19 Os alunos protestaram por melhores condições de "estudo" e exigiam em seus cartazes ar condicionado padrão Fifa.