CARIDADE. A Caridade Segundo o Apóstolo Paulo:

Transcrição

1 CARIDADE A Caridade Segundo o Apóstolo Paulo: "Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine". "E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse caridade, nada seria." "E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse caridade, nada disso me aproveitaria". "A caridade é sofredora, é benigna; a caridade não é invejosa; não trata com leviandade; não se ensoberbece". "Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal. Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade". "Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta". "Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade. Mas a maior destas é a caridade" (Paulo, I Coríntios, cap. XIII, vers. 1 ao 13). Vemos frequentemente que em algumas traduções deste capítulo da epístola de Paulo, o vocábulo caridade foi substituído por amor (do grego ágape). Como é sabido, os textos originais do novo testamento foram escritos por seus respectivos autores a partir do ano 42 dc, em grego koiné, a língua franca da parte oriental do Império Romano. A palavra grega Ágape, no Novo Testamento, denota especificamente o amor Cristão ou a caridade. Outras definições podem ser extraídas como o amor entre irmãos, o amor de um esposo com as crianças, e o amor de Deus para todos os povos. Portanto, os escritores Cristãos descreveram geralmente o Ágape, como exposto por Jesus, como uma expressão do amor que é incondicional e voluntário, isto é, não discrimina, não tem nenhuma pré-condição, e é algo que se decide fazer voluntariamente. Em uma primeira análise, poderíamos atribuir a um erro de tradução, ou ainda a uma limitação do idioma Grego Koiné, o fato dos textos bíblicos misturarem as palavras amor e caridade. Contudo, se nos detivermos na análise do espírito da

2 letra, chegamos a uma simples e brilhante conclusão: Amor e Caridade são sinônimos absolutos. A caridade quando praticada em sua maior expressão é um genuíno ato de amor. E o amor, também em seu máximo expoente, não pode nunca faltar com a caridade. O amor, em seu ponto mais alto, consiste em doar-se, em entregar-se a si mesmo, não só em dar algo, mas dar-se a si mesmo. Neste sentido, disse-nos São Tomás de Aquino que a caridade é um amor de amizade entre o homem e Deus, que constitui a fonte e o motor de toda a vida cristã. A caridade é uma das sete virtudes derivadas do poema épico Psychomachia, escrito por Prudêncio, intitulando a batalha das boas virtudes e vícios malignos. É alegado que a prática dessas virtudes protege a pessoa contra tentações dos sete pecados capitais, com cada um tendo sua respectiva contra-parte. Ordenadas em ordem crescente de santicidade, as sete virtudes sagradas são: Castidade (latim: castitas) opõe luxúria. Generosidade (latim: liberalitas) opõe avareza. Temperança (latim: temperantia) opõe gula. Diligência (latim: diligentia) opõe preguiça. Paciência (latim: patientia) opõe ira. Caridade (latim: humanitas) opõe inveja. Humildade (latim: humilitas) opõe soberba. Conforme nos explica os irmãos Oneas D Assumpção Correa e Arnaldo Pertence em seu livro Orientação Maçônica, caridade é também uma das três bases ou colunas da Maçonaria Hermética, devendo resultar do êxito de todo trabalho empreendido com Fé e prosseguido com Esperança. Ainda segundo os irmãos Oneas e Arnaldo Pertence, todos os rituais encarecem o valor da prática da caridade, pois como dizia São Paulo, das três virtudes teologais é ela a Virtude Superior. Gostaríamos de ilustrar este trabalho com uma história contado pelo valoroso Irmão Fausto Morais Diniz no dia 09/06/2003 em um trabalho sobre o tronco de solidariedade sobre uma passagem acontecida numa aldeia de produtores de vinho: Esta aldeia reunia mais ou menos 500 produtores e era muito conhecida pela qualidade de seu vinho produzido. Um belo dia o vigário da aldeia teve a idéia de promover ma grande festa de confraternização, na qual cada produtor levaria um litro do seu melhor vinho. O vigário colocou no salão paroquial um tonel com

3 capacidade para mais de 500 litros, porém o acesso a ele era através de um corredor que passava por trás do salão de destas, e havia em cima do tonel um funil, no qual cada produtor despejaria um litro sem que ninguém o visse. E assim foi falado para todos e o grande dia chegou. Conforme orientação do vigário os produtores passaram pelo corredor e sem que ninguém os visse, cada um despejou no tonel um litro do seu melhor vinho. Quando tudo já havia sido feito, o vigário fez um preâmbulo e falou sobre a solidariedade e confraternização e ao término de suas palavras pediu para que todos se servissem do melhor dos vinhos. Tendo ele aberto a torneira de forma solene na frente de todos, surpresa! Na primeira taça, só saiu água. Cada um dos produtores, em seu egoísmo, imaginou que um litro de água no meio de 499 litros de vinho não faria diferença! Esta pequena história nos leva a algumas reflexões importantes: Quando levamos a nossa mão esquerda à bolsa do tronco de solidariedade, estaríamos depositando nela uma parte do nosso melhor vinho? Quando somos chamados a servir longe dos olhos atentos da sociedade, somos capazes de ofertar o nosso melhor óbolo? Enquanto Instituição Maçônica estamos fazendo o nosso melhor em matéria de caridade? Muitos somos os que, de público, dão grandes somas e que, entretanto, às ocultas, não daríamos uma só moeda! Ou ainda, estaríamos dispostos a doar apenas a centésima parte do nosso supérfluo! Conforme nos lembrar os irmãos Oneas D Assumpção Correa e Arnaldo Pertence, é um princípio maçônico na prática da caridade que a mão esquerda não saiba o que fez a direita, ou seja, que a caridade seja praticada sem alarde e até mesmo esquecida por quem a praticou. A beneficência praticada sem ostentação tem duplo mérito: Além da caridade material, torna-se também uma caridade moral, pois não fere o amor próprio o beneficiado. Ainda segundo os irmãos Oneas D Assumpção Correa e Arnaldo Pertence: Ajudar a um irmão a caminhar com os próprios pés é muito melhor do que provê-lo de muletas. Sempre que possível, devemos converter a esmola em serviço. Se nos falta tempo ou iniciativa para tal trabalho, devemos por obrigação apoiar instituições que o façam. Não estamos, contudo, dizendo que devemos abandonar a beneficência material, mas é preciso usar de sobriedade para não escravizar o beneficiado.

4 Há que se destacar também que nas grandes calamidades, observam-se impulsos generosos no sentido de se repara os desastres. Mas, a par dessas calamidades, existem milhares de suplícios que passam despercebidos. A verdadeira caridade também consiste em descobrir esses desastres particulares, sem esperar que peçam assistência. Além da caridade material, existem várias maneiras de fazer-se a caridade. Pode-se ser caridoso, mesmo com os parentes e com os amigos, sendo uns indulgentes para com os outros, perdoando-se mutuamente as fraquezas, cuidando para não ferir o amor-próprio de ninguém, sustentando o irmão que cai, sabendo silenciar quando as palavras não mais podem ajudar e encorajando o irmão que precisa de animo. Vale ressaltar ainda, que se a caridade nos exige o comprometimento, também nos premiar. Existe uma expressão que diz: Fica sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas. Ao praticarmos a caridade sem ostentação ou sem buscar recompensas, somos envolvidos por energias celestiais que nos garantem o equilíbrio espiritual, além acumularmos créditos na contabilidade divina. Terminamos o presente trabalho, pedindo licença aos irmãos, para a leitura de um texto do Livro Estude e Viva, de Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, intitulado NAS SENDAS DO MUNDO. NAS SENDAS DO MUNDO (Emmanuel) Deus que nos auxilia sempre nos permite possuir, para que aprendamos também a auxiliar. Habitualmente, atraímos a riqueza e supomos detê-la para sempre, adornados com as facilidades que o ouro proporciona... Um dia, porém, nas fronteiras da morte, somos despojados de todas as posses exteriores e se algo nos fica será simplesmente a plantação das migalhas de amor que houvermos distribuído, creditadas em nosso nome pela alegria, ainda mesmo precária e momentânea, daqueles que nos fizeram a bondade de recebê-las. Via de regra, amontoamos títulos de poder e admitimo-nos donos deles, enfeitando- nos com as vantagens que a influência prodigaliza...um dia, porém, nas fronteiras da morte, somos despojados de todas as primazias de convenção e se algo fica será simplesmente o saldo dos pequenos favores que houvermos articulado, mantidos em nosso nome pelo alívio, ainda mesmo insignificante e

5 despercebido, daqueles que nos fizeram a gentileza de aceitar-nos os impulsos fraternos. Geralmente repetimos frases santificantes, crendo-as definitivamente incorporadas ao nosso patrimônio espiritual, ornando-nos com o prestigio que a frase brilhante atribui... Um dia, porém, nas fronteiras da morte, somos despojados de todas as ilusões e se algo nos fica será simplesmente a estreita coleção dos benefícios que houvermos feito, assinalados em nosso nome pelo conforto, ainda mesmo ligeiro e desconhecido, daqueles que nos deram oportunidade a singelos ensaios de elevação. Serve onde estiveres e como puderes, nos moldes da consciência tranqüila. Caridade não é tão-somente a divina virtude, é também o sistema contábil do Universo, que nos permite a felicidade de auxiliar para sermos auxiliados. Um dia, nas alfândegas da morte, toda a bagagem daquilo de que não necessites ser-te-á confiscada, entretanto, as Leis Divinas determinarão recolhas, com avultados juros de alegria, tudo o que destes do que és, do que fazes, do que sabes e do que tens, em socorro dos outros, transfigurando-te as concessões em valores eternos da alma, que te assegurarão amplos recursos aquisitivos no Plano Espiritual. Não digas, assim, que a propriedade não existe ou que não vale dispor disso ou daquilo. Em verdade, devemos a Deus tudo o que temos, mas possuímos o que damos. Irmão Thiago Vitor de Faria Silva Aprendiz Maçom - 10/08/10 Loja Maçônica Obreiros da Verdade nº 052