(O senhor Simplício Mário PT/PI pronuncia o seguinte discurso) Senhor presidente, senhoras e senhores deputados: O resultado deste ano no desfile das

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1 (O senhor Simplício Mário PT/PI pronuncia o seguinte discurso) Senhor presidente, senhoras e senhores deputados: O resultado deste ano no desfile das escolas de samba do Carnaval Carioca tem um significado muito especial. O primeiro lugar da Vila Isabel, tendo o enredo sintonizado com a conjuntura histórica atual, falando da integração da América do Sul, é um recado direto ao governo norte-americano. Vivemos o momento da afirmação política e da autodeterminação da América do Sul, em oposição à cultura de submissão vigente durante a maior parte do século passado. Uma tendência emblemática ratificada recentemente com as eleições do índio Evo Morales, na Bolívia, e da socialista Michelle Bachelet, no Chile. No entanto, passado o carnaval, é preciso fortalecer a vigilância. O governo Bush não abrirá mão da sua política agressiva de dominação e conta para isso com o apoio servil de boa parte da mídia sul-americana. A estratégia não é só desqualificar governos independentes, imprimindo-lhes a marca de corruptos e incompetentes, mas também demonizar líderes políticos que reagem à ação imperialista norte-americana. É a velha e mentirosa guerra do bem contra o mal, onde eles se apresentam como líderes do mundo livre e da democracia, dedicados à luta homérica contra os demônios do mundo árabe, do fundamentalismo islâmico ou do comunismo. **

2 Os violentos ataques de alguns jornais venezuelanos a Chaves em abril de 2002, conclamando abertamente pela sua deposição são um exemplo clássico. Criou-se o ambiente de desordem interna para preparar a atmosfera do golpe, com arruaças e quebra-quebras puxados por baderneiros remunerados e o colapso total nos transportes do país, quando os postos de gasolina ficaram sem uma gota de combustível em função do blecaute promovido pela companhia de petróleo da Venezuela, na época ainda sob a direção de políticos ligados ao antigo governo. Generais do exército venezuelano chegaram a invadir o palácio para prender Chaves, mas o cérebro da conspiração obviamente estava na América do Norte. O golpe não se consumou porque o povo da Venezuela foi às ruas disposto a defender o presidente com a própria vida. Foi a vitória da soberania de um povo irmão, portanto uma vitória nossa também, mas a campanha interna e externa para a desqualificação do processo democrático de emancipação política e econômica que os próprios venezuelanos chamam de revolução bolivariana continua na mesma medida. As informações que recebemos por meio do noticiário precisam ser traduzidas. Não se falam nos enormes avanços obtidos especialmente nas áreas da educação e saúde públicas ou no vertiginoso crescimento econômico da **

3 Venezuela. Ora Chaves aparece como um caudilho populista dado ao ridículo, ora é um tirano perigoso e sanguinário. Por outro lado, quando o adido militar norte-americano foi expulso ao ser flagrado em espionagem, coletando informações secretas sobre as estratégias de defesa da Venezuela para o caso de um eventual desembarque de tropas estrangeiras, a imprensa brasileira se apressou em repercutir a indignada reação norte-americana, expulsando a embaixadora venezuelana. Sobre o ato de agressão e violação à soberania do país vizinho, nada foi dito. Agora, parece que a bola da vez é o novo presidente da Bolívia, Evo Morales. Quem assiste televisão ou lê jornal pode imaginar que se trata de mais um caudilho populista com tendências totalitárias, ameaçando as leis de mercado e as liberdades democráticas. No entanto, esquecem de informar que há bem pouco tempo até a água da chuva estava privatizada na Bolívia. Agricultores de Cochabamba sequer podiam recolher água após uma chuva porque as concessionárias estrangeiras tinham o monopólio do armazenamento, distribuição e abastecimento. A independência, senhoras e senhores deputados, tem um preço que muitas vezes é a própria vida. Lembremos da Nicarágua, que não conseguiu resistir e teve o seu governo sandinista derrubado pelos Estados Unidos. **

4 Anos de embargo econômico e mais de 30 mil mortos na guerra movida por mercenários treinados e financiados pelo Pentágono minaram o moral do povo nicaragüense, exausto e condenado à pobreza mais uma vez. A saúde e a educação gratuita acabaram; os cassinos voltaram; os serviços essenciais foram entregues às multinacionais encarregadas da reconstrução e os preços das tarifas públicas, claro, se multiplicaram. Enfim, prevaleceu a democracia norte-americana. Senhor presidente, não há outro caminho. A América do Sul precisa acelerar sua integração. Somos mais de 400 milhões de habitantes, possuímos o maior potencial hídrico do planeta e podemos nos tornar, em breve, no maior produtor de alimentos do mundo. Sem falar da abundância em gás natural, petróleo e minérios. Por isso, nobres colegas, quando o presidente Lula leva apoio político ao presidente da Venezuela ou ao presidente da Bolívia, quando investe na cooperação econômica, tecnológica e energética com países irmãos da América do Sul, ele não está fazendo mau negócio, como sugerem alguns jornalistas e colunistas. Muito mais do que apenas bom negociante, o presidente Lula está agindo como estadista na verdadeira acepção da palavra, ao preparar o Brasil para exercer um papel protagonista e solidário na nova ordem mundial, que **

5 ** necessariamente passa por uma América do Sul integrada e coesa. Como disse o slogam da delegação argentina no Fórun Social Mundial, relizado na Venezuela em janeiro deste ano: Uma outra América está em marcha. Era o que tinha a dizer, sala das sessões, em 09 de março de SIMPLÍCIO MÁRIO Deputado Federal