Crónica do dia 28 de Maio de 2016: Vila Velha de Ródão Ortiga 1ª ETAPA

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1 Crónica do dia 28 de Maio de 2016: Vila Velha de Ródão Ortiga 1ª ETAPA Em Vila Velha de Ródão, iniciou-se em 28 de Maio de 2016 o IV Cruzeiro Religioso e Cultural do Tejo. Percorrerá o Tejo até Oeiras, onde chegará no dia 18 de Junho de Na manhã de 28 de Maio, no cais de Vila Velha de Ródão concluíram-se os preparativos para o início do Cruzeiro, na presença de cerca de 80 pessoas. Presentes estiveram também o Presidente e Vice-Presidente da Câmara de Vila Velha de Ródão, o Sr. pároco António Escarameia, o Prof. Carvalho Rodrigues - representante da Marinha do Tejo -,elementos dos Fuzileiros da Armada Portuguesa, o 2º Comandante do Comando Territorial da GNR, vários elementos da GNR com uma embarcação e o Prof. Carmona Rodrigues, como peregrino e em missão de estudo e reconhecimento do Tejo. Palavras sentidas dirigidas aos peregrinos e participantes no IV Cruzeiro, por parte do Sr. presidente da Câmara de Vila Velha de Ródão, Dr. Luís Miguel Pereira Ali foi dito, em jeito de saudação: - Mais uma vez, Vila Velha de Ródão tem o prazer de receber a 1ª etapa do IV Cruzeiro Religioso e Cultural do Tejo. Trata-se de um acontecimento importante, a nível religioso e a nível cultural. A nível religioso, porque se trata de uma peregrinação fluvial que mexe com a fé de muitos milhares de pessoas que durante 12 etapas,

2 distribuídas até 18 de Junho, acorrem a prestar a sua homenagem à Mãe de Jesus que aqui chamamos de Nª Sª dos Avieiros e do Tejo. Também a nível cultural, tem uma importância capital: Este cruzeiro reforça a identidade das comunidades ribeirinhas, aproximando-as do seu rio Tejo que faz parte das suas vidas e onde tantas pessoas procuram o sustento para si e para os seus. ( ) Vós partis, Tejo abaixo, até Oeiras e nós ficamos, mas o nosso coração vai convosco. E já agora, Senhora, um pedido, o pedido de um grande milagre: o milagre da ressurreição para este Tejo de Ródão. Tal como o Teu Filho Jesus, ressuscitou da morte para a vida, assim este Tejo ressuscite também, para a vida que já não tem. Adeus, Senhora (palavras do Sr. pároco Escarameia). Mais se registou, num dos momentos de saudação: - A Marinha do Tejo, que tem por finalidade constituir-se como um polo vivo da soberania dos saberes e das tradições náuticas e marinheiras dos mareantes do Rio Tejo, sente-se particularmente honrada por poder participar neste IV Cruzeiro Religioso e Cultural, perante o contributo inestimável da partilha cultural e religiosa, que ele significa, para a coesão das comunidades taganas (palavras do Sr. Contraalmirante José Bastos Saldanha, presidente da Marinha do Tejo, lidas por um membro da organização). Aos momentos de saudação seguiram-se os de preparação da partida, e os da despedida, para uma primeira etapa que se iniciava em Vila Velha de Ródão e que iria passar sucessivamente por Santana, Fratel, Barragem do Fratel, (com passagem de barcos na barragem do Fratel), Barca, Amieira do Tejo (Nisa), Belver (Gavião), Praia do Alamal e Ortiga (com passagem de barcos na Barragem de Belver). A preparação das embarcações para a partida

3 Atendendo ao facto de a partida ter sido na manhã de um dia de semana, o número de pessoas presentes e a forma como se despediram do Cruzeiro representaram para todos nós momentos bastante significativos e inesquecíveis. Momento da partida, com aproximação às Portas de Ródão Após a largada de Vila Velha de Ródão, debaixo de chuva, foi com grande satisfação que vimos mais uma vez os abutres e os grifos que habitam nas escarpas do Tejo Internacional, protegidos por programas bem conseguidos de protecção ambiental. Eles sobrevoaram bem alto as embarcações durante largos minutos, como se fizessem uma saudação aos peregrinos que navegavam em 9 embarcações, nos quais se incluía o Segundo-Comandante territorial de Castelo Branco, acompanhado da sua esposa. Estes foram participantes especiais, não tanto pelo protocolo dos cargos, mas por ser a primeira vez que participavam numa viagem pelo Tejo, com estas características. Ficaram cativados pelo que viram e viveram, sentindo que as pessoas que os abordaram demonstraram carinho pela corporação. Chegados ao Arneiro, na freguesia de Santana, mais uma vez fomos recebidos calorosamente pelas pessoas do local e pela presidente da Junta de Freguesia, entusiastas desta manifestação cultural e religiosa. Consideram o Cruzeiro como sendo igualmente seu e, na altura da despedida, fazem questão de sublinhar a saudação até para o ano, vocês fazem-nos falta. Verificamos que o que dizem e fazem é genuíno e espontâneo, convivem, rezam, choram, acenam com lenços à partida, jogam pétalas de flores para a imagem de Nossa Senhora Chegámos depois ao Fratel, o nosso grande obstáculo e problema por causa da dimensão da barragem. Lá fomos recebidos pela população, pelo Sr. padre Escarameia e pelo Sr. presidente da Junta de Freguesia de Fratel, onde nos foi oferecido o almoço. Ali tivemos a colaboração do Regimento de Engenharia de Tancos, que disponibilizou uma enorme grua do Exército, para possibilitar a passagem das nossas embarcações de um para outro lado da barrarem.

4 Barragem de Fratel Passagem das bateiras com a grua do Exército Português Este ano optámos por dar continuidade ao Cruzeiro com a barragem completamente parada, sem debitar água. Mesmo assim tivemos alguns percalços por causa das pedras ali existentes e que dificultam a navegação. Felizmente que tudo se resolveu sem problemas de maior. Saímos do Fratel e seguimos para a Barca da Amieira, quando nos deparámos com uma anormal agitação na margem do Tejo, com Bombeiros a acenarem-nos para que os Fuzileiros que integravam o Cruzeiro pudessem socorrer um caminhante que tinha caído naquele local por uma ravina muito alta. Dera-se um acidente com um cidadão espanhol, que caminhava pelas veredas do Tejo e caíra pela ribanceira, tendo ficado bastante ferido e sem hipótese de evacuação a não ser pelo rio. O Cruzeiro foi imediatamente interrompido e os Fuzileiros, tal como os Bombeiros ali presentes, arriscaram a sua integridade física para socorrer o a pessoa. Os Fuzileiros

5 aproximaram-se do sinistrado e tiveram acesso à maca que os Bombeiros, da parte de cima, lhes fizeram chegar. Acederam ao local aproximando os botes de borracha e fizeram depois um tipo de escada humana para chegar junto do ferido. Conseguiram e, aos poucos, foram vencendo os obstáculos das rochas transportando a maca com a pessoa sinistrada, até que se aproximaram da margem e o levaram para junto da ambulância onde lhe foram prestados os primeiros socorros. Pormenor do transporte do sinistrado para a ambulância [Foto: Rui Lebre] Depois de colocado na ambulância, foi transportado para o hospital de Portalegre. Toda a operação demorou cerca de duas horas e meia, tendo somente o Cruzeiro retomado o seu rumo depois de se ter a certeza que tudo estava concluído e que a pessoa sinistrada tinha sido correctamente encaminhada e socorrida. Soubemos posteriormente que fora bem tratada e que recuperara no dia seguinte. Retomámos de novo o Cruzeiro a partir do troço da Barca da Amieira. O Cruzeiro no troço da Barca da Amieira

6 Chegámos à Praia do Alamal e fomos de novo recebidos calorosamente pelos populares que ali se encontravam, com o concessionário turístico da Praia a dar-nos as boas vindas e a fazer as honras da casa. Esta Praia fluvial é um sítio excelente para desfrutar da natureza e das belezas naturais que o Tejo proporciona. Mesmo integrados num Cruzeiro desta natureza, não deixámos de reparar na grandiosidade do local, localizado mesmo em frente a Belver. Aí estivemos muito menos tempo do que tínhamos previsto por causa do acidente a que tínhamos assistido anteriormente, e dirigimo-nos para Ortiga, onde chegámos com duas horas de atraso em relação ao previsto. A população que estava à chegada compreendeu e aceitou o que se tinha passado. Já era de noite quando se começou a fazer a transferência das embarcações para o outro lado desta segunda barragem. Assim foi feito com o apoio do pessoal e dos meios da Câmara de Mação, que foram inexcedíveis. Foi-nos oferecido um jantar volante com peixe frito do Tejo, que bastante apreciámos. Os Fuzileiros foram então montar as suas tendas junto dos seus botes, para poderem passar a noite, no Bairro dos Pescadores. Choveu sempre e todos ficaram encharcados. Os elementos da organização também ali dormiram, dentro de uma carrinha de apoio, e a chuva nunca parou de desabar. Como se não bastasse, o acampamento ficou junto de um galinheiro de um dos pescadores do Bairro. Como consequência, o galo cantou toda a noite, certamente para alertar as galinhas para o perigo que representava a presença de intrusos que naquela noite resolveram ficar onde não deviam. Como se não bastasse a chuva copiosa, o cantar alvoroçado e continuado do galo proporcionou uma noite muito pouco sossegada. Apesar disso, na manhã seguinte todos estavam a postos às 8 da manhã para partirem para a segunda etapa do Cruzeiro.

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