QUINTA CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA APELAÇÃO CIVEL Nº ª VARA CÍVEL REGIONAL DE MADUREIRA
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1 QUINTA CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA APELAÇÃO CIVEL Nº ª VARA CÍVEL REGIONAL DE MADUREIRA APELANTE: MARIA LUCIA RANGEL PEREIRA APELADO: VIDA SEGUROS S/A RELATOR: DES. ANTÔNIO SALDANHA PALHEIRO RELATÓRIO Trata-se de ação de cobrança c/c indenização por danos morais proposta por Maria Lucia Rangel Pereira contra Vida Seguros S/A, na qual, em decorrência do falecimento de seu filho, em 20/02/2009, por ferimentos penetrantes e transfixantes de tórax e abdômen, requereu administrativamente o pagamento da indenização securitária, sendo este negado em 12/08/2009, em decorrência da constatação de prática de ato ilícito. Assevera que o Laudo de Exame de Material ICCE-RJ-SPQ /2009 não constatou a presença de chumbo e bário, não se podendo concluir que o segurado efetuou disparos com arma de fogo, ou que estava cometendo qualquer ato ilícito. Salienta desconhecer qualquer pratica criminosa por parte de seu filho, descrevendo-o como bom amigo, bom filho e trabalhador. Requer a condenação da seguradora ré ao pagamento do prêmio no valor de R$ ,40, cesta básica de R$ 1.200,00, despesas funerárias na quantia de R$ 1.500,00, bem como em pagamento de indenização à título de danos morais com parâmetro do valor do prêmio do seguro de vida. Contestação (indexador 49), na qual sustenta ter celebrado contrato de seguro de vida com a empresa Delta Construções S.A, da qual o segurado era funcionário, através da apólice nº / Aduz ao Registro de Ocorrência nº /002709, no qual apresenta a dinâmica de fatos que precederam a morte do autor, segundo a qual após notificação aos policiais militares de que duas pessoas, em um veículo, estavam tentando efetuar roubo aos transeuntes na descida do morro do Juramento, e, após serem atingidos por disparos de arma de fogo, revidaram o ataque, atingindo o segurado. Salienta que o segurado era o carona do veículo, tendo o motorista fugido do local. Assevera que, por mais que o laudo de exame de material coletado do de cujus não tenha apontado a presença de bário e chumbo, é claro ao afirmar que o resultado negativo não importa em ausência de disparo pelo examinado. Afirma que em decorrência do falecimento na prática de ato ilícito, configura-se risco excluído ou não previsto pelo contrato. Salienta que a dinâmica na qual se envolveu o segurado incide nas hipóteses de agravamento do risco, na forma do art. 768 do Código Civil. Rechaça o pleito autoral de indenização á título de danos morais, mormente a negativa administrativa de pagamento do prêmio não caracterizas constrangimento ou humilhação passível de indenização pelo dano extrapatrimonial, de acordo com o verbete de súmula nº 75 deste Tribunal de Justiça. Por fim, salienta que no certificado Individual não há indicação de beneficiário, e por o segurado ser solteiro e não possuir filhos, seus pais são os únicos herdeiros. Assim, somente deverá ser paga metade da indenização securitária à autora.
2 Renúncia aos direitos hereditários, exarada pelo pai do segurado, Sr. Clesio Pereira, à fl. 172 (indexador 110). Sentença prolatada (indexador 218), para julgar improcedentes os pedidos autorais, diante da incontroversa participação do segurado na dinâmica relatada no Inquérito Policial, efetuando disparos contra os Policias militares na tentativa de fuga na carona de carro roubado, na descida do morro do juramento, decorrendo o sinistro, portando, de ato ilícito. Por fim, condenou a autora no pagamento das custas processuais, e honorários advocatícios, estes fixados em 10% sobre o valor da causa. Da decisão proferida, insurge-se a autora (indexadores 223 e 227), sustentando que as únicas testemunhas dos fatos foram dois policiais militarem que, ao prestar depoimento em sede policial, o fizeram em única versão do fato, sem alterar qualquer informação. Assevera que seu filho foi baleado pelas costas, bem como o exame de material residuográfico de disparo de arma de fogo apresentou resultado negativo. (indexador 234). Ausência de contrarrazões, consoante certidão cartorária É o relatório. Rio de Janeiro, de de Des. ANTONIO SALDANHA PALHEIRO RELATOR
3 QUINTA CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA APELAÇÃO CIVEL Nº ª VARA CÍVEL REGIONAL DE MADUREIRA APELANTE: MARIA LUCIA RANGEL PEREIRA APELADO: VIDA SEGUROS S/A RELATOR: DES. ANTÔNIO SALDANHA PALHEIRO APELAÇÃO. SEGURO DE VIDA. PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA À MÃE DO SEGURADO EM VIRTUDE DE SEU FALECIMENTO. RECUSA ADMINISTRATIVA DA SEGURADORA, SOB A ALEGAÇÃO DE QUE O SEGURADO AGRAVOU O RISCO, PORQUANTO ENVOLVIDO EM ATO ILÍCITO QUANDO DE SEU FALECIMENTO. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. INQUÉRITO POLICIAL QUE DENOTA INDÍCIOS SUFICIENTES DA PARTICIPAÇÃO DO SEGURADO EM DELITO CRIMINOSO, VINDO A FALECER EM DECORRÊNCIA DE FERIMENTOS SOFRIDOS NO CONFRONTO COM A POLÍCIA MILITAR. AGRAVAMENTO DA CONSUMAÇÃO DO SINISTRO COM PARTICIPAÇÃO EM CRIME, IMPORTANDO NA PERDA DO DIREITO DA INDENIZAÇÃO DO SEGURO. INTELIGÊNCIA DO ART. 768 DO CÓDIGO CIVIL DE DESPROVIMENTO DO RECURSO. VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº , na qual é apelante MARIA LUCIA RANGEL PEREIRA e é apelado VIDA SEGUROS S/A. ACORDAM os Desembargadores que compõem a Quinta Câmara Cível do Tribunal de Justiça, por unanimidade de votos, em NEGAR PROVIMENTO ao recurso, nos termos do voto do Relator.
4 VOTO Trata-se de ação de cobrança c/c indenização por danos morais proposta por Maria Lucia Rangel Pereira contra Vida Seguros S/A, na qual, em decorrência do falecimento de seu filho, em 20/02/2009, por ferimentos penetrantes e transfixantes de tórax e abdômen, requereu administrativamente o pagamento da indenização securitária, sendo este negado em 12/08/2009, em decorrência da constatação de prática de ato ilícito. Assevera que o Laudo de Exame de Material ICCE-RJ-SPQ /2009 não constatou a presença de chumbo e bário, não se podendo concluir que o segurado efetuou disparos com arma de fogo, ou que estava cometendo qualquer ato ilícito. Salienta desconhecer qualquer pratica criminosa por parte de seu filho, descrevendo-o como bom amigo, bom filho e trabalhador. Requer a condenação da seguradora ré ao pagamento do prêmio no valor de R$ ,40, cesta básica de R$ 1.200,00, despesas funerárias na quantia de R$ 1.500,00, bem como em pagamento de indenização à título de danos morais com parâmetro do valor do prêmio do seguro de vida. A sentença julgou improcedentes os pedidos autorais, diante da incontroversa participação do segurado na dinâmica relatada no Inquérito Policial, efetuando disparos contra os Policias militares na tentativa de fuga na carona de carro roubado, na descida do morro do juramento, decorrendo o sinistro, portando, de ato ilícito. Por fim, condenou a autora no pagamento das custas processuais, e honorários advocatícios, estes fixados em 10% sobre o valor da causa. Inconformada, apela a autora (indexadores 223 e 227), pretendendo a reforma da sentença, sustentando que as únicas testemunhas dos fatos foram dois policiais militares que, ao prestar depoimento em sede policial, o fizeram em única versão do fato, sem alterar qualquer informação. Assevera que seu filho foi baleado pelas costas, bem como o exame de material residuográfico de disparo de arma de fogo apresentou resultado negativo. Sem razão a apelante. Cinge-se à controvérsia em verificar se restou demonstrada a prática de ato ilícito por parte do segurado, importando no agravamento do risco hábil a afastar o pagamento do prêmio do seguro de vida. O objeto do contrato de seguro é o risco, como tal entendido o acontecimento possível, futuro e incerto que não depende da vontade das partes. Nesse tipo de contrato, por decorrência lógica do princípio da boa fé objetiva, o segurado assume a obrigação de se abster quanto à prática de qualquer comportamento capaz de ensejar um aumento no risco. Destarte, se o próprio segurado agrava intencionalmente a possibilidade de consumação do sinistro, haverá perda do direito ao seguro, na forma do artigo 768 do Código Civil, que assim dispõe, ex vi:
5 O segurado perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente o risco objeto do contrato. Diniz 1, in textus: Em comentários ao dispositivo citado, leciona Maria Helena O segurado deverá agir sempre com cautela e terá o dever de abster-se de tudo que possa aumentar o risco, objeto do contrato, sob pena de perder o direito à garantia securitária. Por exemplo, haverá exclusão da cobertura securitária se o segurado, após segurar sua casa, nela instala depósito de inflamáveis, ou se, após o contrato, remove mercadorias seguradas para local perigoso (RF, 133:505; RT, 647:119, 691:91, 681:90, 471:189, 769:188, 780:189 e 287; JSJT, 2:327; EJSTJ, 4:72, 23:160); se, tendo feito seguro de vida, vier a participar de assalto à mão armada, perdendo a vida (RT, 647:119), ou a ingerir grande quantidade de álcool, vindo a falecer (RT, 805:306). Nestas hipóteses, haverá perda do direito ao seguro, pois o segurado contribuiu, intencional e diretamente, para o agravamento do risco. (grifei) Tal agravamento, no entanto, precisa ser efetivamente demonstrado, porquanto representa fato impeditivo ao direito da parte autora, cabendo à parte ré comprovar a sua ocorrência, na forma do artigo 333, inciso II do CPC. No caso sub judice, a apelante é mãe e única herdeira do segurado, o qual, por força de seu empregador Delta Construções S.A que celebrou contratado de seguro de vida em grupo junto à apelada, tornou-se beneficiária com o falecimento de seu filho. O exame dos autos, em especial o Inquérito Policial (indexador 110), revela que, após notificação à Polícia Militar de que veículo que descia da comunidade do Juramente tentava efetuar roubos aos pedestres, estes procederam a verificação da informação, sendo surpreendidos por disparados do referido veículo, revidando a agressão, e vindo o veículo ocupado pelo segurado, no banco do carona, e pelo motorista, a colidir com árvore, consoante Laudo de Exame em Veículo (fl. 143). Constata-se, ainda, que o motorista evadiu-se do local foragido, enquanto o segurado faleceu em decorrência dos ferimentos dos disparos, sendo posteriormente levado ao HCC. No local, foi encontrado revólver calibre 38, além de quatro estojos de munição que, segundo Laudo de Exame do Serviço de Perícia em Arma de Fogo (fls. 146/148), foram deflagrados pela arma de fogo, resultando positivo o exame de confronto balístico. 1 In Código Civil Anotado Editora Saraiva - 13ª edição p. 528.
6 Foi realizado, ainda, Laudo de Exame de Material, (fl. 137), este colhido de ambas as mãos do segurado, restando negativos os testes químicos para a pesquisa de presença de chumbo e bário. Todavia, mister ressaltar que o próprio perito esclareceu que o resultado negativo não significa que o examinado não tenha efetuado disparo de arma de fogo com produção de tiro. A não detecção de partículas de chumbo, pode ser decorrente da efetiva inexistência das mesmas na amostra analisada ou imposta pelo limite de sensibilidade do método analítico disponível.. O expert aponta, ainda, como fatores hábeis a resultar negativamente como o contato das mãos com outras superfícies, sendo retiradas as pequenas quantidades de resíduo, ou mesmo o tipo de arma utilizado. Em continuidade, assevera o perito que o resultado do exame não possui valor isolado, devendo ser sopesado com os demais elementos para conclusão segura. O Laudo do Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto (fls. 133/134) relata lesões ocasionadas por disparos nas faces anterior e posterior do segurado, esvaziando, assim, a tese da apelante em suas razões recursais de que as perfurações teriam se dado somente na face posterior do corpo de seu filho. Assim, em que pese os argumentos da apelante, forçoso reconhecer que o segurado, deliberadamente, aumentou o risco do sinistro, ao praticar ato ilícito, sobretudo porque, segundo consta, ele teria disparado arma de fogo contra a guarnição da Polícia Militar que o flagrou, sendo por estes, baleado. Nessa linha, cumpre trazer à baila jurisprudência deste Egrégio Tribunal de Justiça, ex vi: Processual Civil. Ação de cobrança de seguro de vida. Segurado que aumenta os riscos do seguro ao ser morto quando acabava de assaltar um coletivo. Inteligência do art , do Código Civil de 1916, vigente à época dos fatos e artigo 768 do Código Civil de Improvimento do recurso. (...) II- Não haveria forma mais eficaz de agravar os riscos do contrato de seguro do que o ato praticado pelo segurado que, portando uma pistola, assalta um coletivo onde as regras comuns de experiência demonstram serem comuns as reações, a despeito de imprudentes; III- Segundo dispunha o art , do Código Civil de 1916, vigente à época dos fatos, "enquanto vigorar o contrato, o segurado abster-se-á de tudo quanto possa aumentar os riscos, ou seja contrário aos termos do estipulado, sob pena de perder o direito ao seguro", disposição essa inserta no artigo 768 do Código vigente - "o segurado perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente o risco objeto do contrato"; IV- Recurso ao qual se nega provimento. ( APELACAO - DES. ADEMIR PIMENTEL - Julgamento: 22/02/ DECIMA TERCEIRA CAMARA CIVEL) (grifei)
7 APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO DE VIDA. RECUSA DE PAGAMENTO DE APÓLICE PELA SEGURADORA. PRÁTICA DE ATO ILÍCITO DOLOSO PELO SEGURADO DEVIDAMENTE COMPROVADA. AGRAVAMENTO DO RISCO. PERDA DO SEGURO. MANUTENÇÃO IN TOTUM DA SENTENÇA DE 1º. GRAU. RECURSO DE APELAÇÃO CONHECIDO, PORÉM DESPROVIDO. ( APELACAO - DES. TERESA CASTRO NEVES - Julgamento: 30/06/ VIGESIMA CAMARA CIVEL) (grifei) EMBARGOS DE DEVEDOR EXECUÇÃO - TÍTULO EXTRAJUDICIAL - APÓLICE DE SEGURO DE VIDA INDIVIDUAL - ATO ILÍCITO DOLOSO POR PARTE DO SEGURADO - AGRAVAMENTO DO RISCO. Embargos opostos pela Seguradora à execução que lhe movem os beneficiários de seguro de vida individual, com fundamento em ato ilícito e agravamento do risco, posto que o segurado faleceu durante troca de tiros com policiais, quando resistiu à prisão. (...) A conduta do segurado, consistente em sua participação em atividade criminosa, tanto assim que faleceu quando da prisão em flagrante por crime de extorsão mediante seqüestro, (sic) configura agravamento do risco, que implica na perda do direito ao seguro. (...) ( APELACAO - DES. CASSIA MEDEIROS - Julgamento: 21/06/ DECIMA OITAVA CAMARA CIVEL) (grifei) Assim, à vista das expressas advertências contidas no art. 768 do Código Civil e, também, na cláusula de exclusão de risco, é indevida a indenização securitária, uma vez que houve o agravamento intencional do risco por parte do segurado. Nesse diapasão, diante da ausência de qualquer ilicitude no ato da seguradora, igualmente sem cabimento a indenização por danos morais. Ante o exposto, voto no sentido de negar provimento ao recurso, mantendo-se a íntegra da sentença vergastada. Rio de Janeiro, de de Des. ANTONIO SALDANHA PALHEIRO RELATOR
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