Obras Obrigatórias da UNAERP Prof.ª Sônia PROGRAMA DAS PROVAS

Tamanho: px
Começar a partir da página:

Download "Obras Obrigatórias da UNAERP- 2013- Prof.ª Sônia PROGRAMA DAS PROVAS"

Transcrição

1 Obras Obrigatórias da UNAERP Prof.ª Sônia PROGRAMA DAS PROVAS Português O candidato será avaliado pela competência em entender textos de naturezas diversas- inclusive o literário e em produzi-los de forma que demonstre sua capacidade de pensar e expressar-se por escrito sobre determinado tema. No que se refere aos conhecimentos linguísticos, espera-se que reconheça as múltiplas manifestações da linguagem e a diversidade da língua e que demonstre competência e habilidade nos conteúdos a seguir: Parte I - Língua Portuguesa 1- Distinção entre as modalidades e as variedades da língua 2- Sistema ortográfico vigente: 2.1- Ortografia; 2.2- Pontuação. 3- Morfossintaxe 3.1- Flexão nominal; 3.2- Flexão verbal; 3.3- Estrutura e formação de palavras; 3.4- Concordância nominal e verbal; 3.5- Regência nominal e verbal; 3.6- Colocação das palavras na frase; 3.7- Pronomes: emprego e funções; 4- Semântica e estilística: 4.1- Denotação e conotação; 4.2- Figuras de Linguagem. 5- Processos de Organização do texto; 5.1- Estratégia de articulação do texto; 5.2- Coordenação e Subordinação; 5.3- Coesão e coerência; 5.4- Intertextualidade; 5.5- Funções da Linguagem. Parte II Literaturas de Língua Portuguesa Espera-se que o candidato identifique e reconheça as principais características das obras literárias a seguir, bem como seja capaz de relacioná-las ao contexto de sua produção e à estética literária (realismo, modernismo, etc.) à qual cada uma se refere. 1- Til - José de Alencar; 2- Memórias de um sargento de milícias - Manuel Antônio de Almeida; 3- Memórias póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis; 4- O cortiço - Aluísio Azevedo; 5- Vidas secas - Graciliano Ramos; 6- Capitães de areia - Jorge Amado; 7- Sentimento do mundo - Carlos Drummond de Andrade; 8- Matéria de poesia - Manoel de Barros Parte III - Redação O candidato deverá demonstrar domínio dos recursos morfossintáticos e semânticos da língua. As produções textuais deverão estar adequadas ao tema proposto, ao gênero textual e ao uso da norma padrão. Serão considerados também os fatores de coesão (articulação dos elementos textuais) e de coerência (organização lógica e não contradição das ideias). 1- Matéria de poesia - Manoel de Barros "Na Natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma."

2 Antoine-Laurent de Lavoisier "Sabemos nós que poesia mexe com palavras e não com paisagens. Por isso não sou poeta pantaneiro, nem ecológico. Meu trabalho é verbal. Eu tenho o desejo, portanto, de mudar a feição da natureza, pelo encantamento verbal." Manoel de Barros Manoel Wenceslau Leite de Barros (Cuiabá, Brasil, 19 de Dezembro de 1916) é o que se poderia chamar de alma humana inevitável, clarividente no corpo fisicamente espiritual como se tudo tivesse visto antes de vir ao mundo. E que visão feliz é esta? O poeta do Pantanal escuda-se na simples dicotomia entre coisificação do homem e humanização da coisa, fixando no seu solo tais premissas, permitindo-se alterar a substância natural e a partir daí reconstruir, dar vida (no caso das coisas, muitas delas objectos próximos da inutilidade, ou desutilidade como ele próprio diria), retirar vida ou colocá-la lado a lado com as restantes coisas (no caso do homem). Por isso, está claro que é uma poesia directamente literal (do ponto de vista linguístico), sendo que porém a literalidade é uma literalidade diferida, resolvidos os pressupostos iniciais. Nos poemas há como que um reequilíbrio do mundo, do peso das coisas, da importância das pessoas umas face às outras; há uma comunicabilidade entre todos os elementos do mundo, a que não é alheio, talvez, o facto de Manoel de Barros ter nascido à beira do Rio Cuiabá, ter vivido em Campo Grande, onde foi fazendeiro e criador de gado. Esse contacto com a natureza fê-lo buscar incessantemente a génese, os pontos mínimos, os inícios de sociedade, os primeiros olhares em direcção à realidade, passando a ter, na sua poesia, o Pantanal como pano de fundo. Em Poemas Concebidos sem Pecado (livro ilustrado por Jorapimo) há uma busca pela essencialidade ( sob o canto do bate-num-quara nasceu Cebeludinho / bem diferente de Iracema / desandando pouquíssima poesia / e que desculpa a insuficiência do canto / mas explica a sua vida / que juro ser o essencial ), pela inocência de uma infância de traquinice, alegria e êxtase (são usuais as exclamações), e um certo deambulismo, contemplação e qualificação ( pela rua deserta atravessa um bêbado comprido / e oscilante / como bambu / assobiando ). Em Compêndio para Uso dos Pássaros (também o nome da Poesia Reunida do autor, em Portugal, editado pelas extintas Edições Quasi) há um aprimoramento da metáfora, que é aberta e narrativa, um esforço maior de retirar as coisas do contexto natural e introduzi-las num outro, bem mais visceral (ex: Jacaré comeu minha boca do lado de fora ; ainda estavam verdes as estrelas / quando eles vinham / com seus cantos rorejados de lábios. / Os passarinhos se molhavam de / vermelho na manhã / e subiam por detrás de casa para me / espiarem no vidro ). Na obra Gramática Expositiva do Chão, o autor adopta uma discursividade quase política tal a importância e o tratamento que dá às situações que retrata e poetifica. De modo a aumentar a intensidade do discurso, faz enumerações de objectos, alguns deles de uso pessoal, fazendo paralelismos entre realidades díspares, num discurso em que a harmonia final é eivada de compaixão, de esquecimentos parciais e de janelas abertas para um mundo retido no seu tempo e espaço. Manoel de Barros acredita na superfície das coisas simples, na sua razão autónoma, aprofundando-lhes a estética, desdobrando-lhes a alma. Uma das características da sua obra é precisamente, e quanto a mim, este jogar com o superficial, sendo profundo; este jogar com os desnivelamentos dos elementos, mantendo-se verdadeiro e natural. O autor enquadra-se naquilo que ele chama de «vanguarda primitiva», virtude e dom pela fascinação e obsessão pelo primitivo,

3 pelo elementar e selvagem. Mas há ainda um recriar deste natural. É um natural, eu diria, «infranatural», pois apropria-se dos elementos naturais e quase que lhes subverte a sua ordem mais irrepreensível. Por outro lado, esta busca pelo primitivo não quer dizer que ele sempre busque o puro, a purificação, o ausentar-se dos problemas mundanos. É sim, como se tem vindo a dizer, a criação de um novo mundo moldado por uma certa reprodução de um passado, uma busca por um certo alheamento, um olhar diferente, muitas vezes remetido para a infância, vislumbrando-se nas entrelinhas o enorme contraste com o mundo dos nossos dias, de que Manoel de Barros também faz parte. Assim, num dos poemas do livro Matéria de Poesia, ele faz o elogio à poesia, mas não, a meu ver, enquanto género literário. É mais do que isso. É a poesia enquanto vida, enquanto modo de vida ( todas as coisas cujos valores podem ser / disputados no cuspe à distância / servem para poesia ),enquanto (des)importância das coisas e busca pelo seu peso certo ( tudo aquilo que a nossa / civilização rejeita, pisa e mija em cima, serve para poesia ). Na obra vê-se um discurso dialogante. Os diálogos, principalmente na segunda parte do livro, dão-lhe vivacidade e dinamismo, a par com a pontuação expressiva (pontos de interrogação, exclamação e reticências). Dá-se no poeta como que uma reciclagem dos materiais poéticos. E isto também se explica com o facto de ele tudo tratar como Coisa, até aquilo que de mais humano há. Tudo é aproveitável, porque transformável, fundível (quase que a máxima de Lavoisier se aqui aplica). Há linguagens que se atravessam e deixam o seu uso normal em ordem a experimentarem um outro. Ainda no mesmo livro, ilustrando isso, diz o poeta: a cidade mancava de uma rua até certo ponto; depois os cupins a comiam. Este entrecruzar de linguagens, normalmente dentro do contraste interno da mesma dicotomia homem/coisa, sendo dinâmico, ora com imagens, ora com metáforas (por vezes próximas da alegoria), serve para encurtar as distâncias entre tudo, apresentando, em minha opinião, uma consciência de vida em sociedade, na coesão de um grupo. E que sentido tudo isto faz vivendo o autor num país que tem atravessado toda espécie de problemas, a que ninguém é (ou pode ser) alheio. Escrever é perpetuar um momento, verdadeiro ou não. Não escrever e sentir é respeitar a natureza (de passagem) do seu exército de músculos e civilizações de saudade. Diferente de gostar de escrever é apreciar sentir a língua invisível nas palavras quando surgem e se alojam num texto. Tudo isto se representaria num círculo que começaria em branco, apenas com o contorno a negro. O ponto central também estaria a negro e seria a fortaleza a que damos o nome de «sentir». Quando o acto começa, e as palavras surgem, o círculo começaria a colorir-se, de fora para dentro, com uma cor forte (podia ser vermelho). Com essa cor galopante dar-se-ia, ou não, a erosão da areia branca desse branco por colorir. A partir daí veríamos de que modo a fortaleza, o nosso ponto que indica o sentir, reagiria. Se se manteria inalterado esperando que o mar vermelho lhe tocasse, se sofreria com o efeito de arrastamento que o branco restante arrastado pela

4 cor sofreria, se procuraria um outro círculo. Se o objectivo do acto fosse verdadeiro, a naturalidade do vermelho chegaria ao ponto negro, cobrindo todo o branco, o branco que representa o vazio. O ponto negro manter-se-ia inalterado naquele momento, deixando-se banhar a penumbra do bem-estar. Dentro desta minha imagem teórica, a poesia de Manoel de Barros surge como esta penumbra do bem-estar: o ponto negro no meio do círculo, com vermelho à volta. Há no autor, em função desta naturalidade, um escrever não escrevendo. Barros não faz da realidade e da escrita (com ficção ou sem ficção) realidades estanques. Ambas fazem parte do viver. Poemas seleccionados de Manoel de Barros:.. INFANTIL. O menino ia no mato E a onça comeu ele. Depois o caminhão passou por dentro do corpo do menino E ele foi contar para a mãe. A mãe disse: Mas se a onça comeu você, como é que o caminhão passou por dentro do seu corpo? É que o caminhão só passou renteando meu corpo E eu desviei depressa. Olha, mãe, eu só queria inventar uma poesia. Eu não preciso de fazer razão. Manoel de Barros em Tratado geral das grandezas do ínfimo.. UM SONGO. Aquele homem falava com as árvores e com as águas ao jeito que namorasse. Todos os dias ele arrumava as tardes para os lírios dormirem. Usava um velho regador para molhar todas as manhãs os rios e as árvores da beira.

5 Dizia que era abençoado pelas rãs e pelos pássaros. A gente acreditava por alto. Assistira certa vez um caracol vegetar-se na pedra mas não levou susto. Porque estudara antes sobre os fósseis linguísticos e nesses estudos encontrou muitas vezes caracóis vegetados em pedras. Era muito encontrável isso naquele tempo. Até pedra criava rabo! A natureza era inocente. P.S: Escrever em Absurdez faz causa para poesia Eu falo e escrevo Absurdez. Me sinto emancipado. Manoel de Barros Inédito PARREEDE! Quando eu estudava no colégio, interno, Eu fazia pecado solitário. Um padre me pegou fazendo. - Corrumbá, no parrrede! Meu castigo era ficar em pé defronte a uma parede e decorar 50 linhas de um livro. O padre me deu pra decorar o Sermão da Sexagésima de Vieira. - Decorrrar 50 linhas, o padre repetiu. O que eu lera por antes naquele colégio eram romances de aventura, mal traduzidos e que me davam tédio. Ao ler e decorar 50 linhas da Sexagésima fiquei embevecido. E li o Sermão inteiro. Meu Deus, agora eu precisava fazer mais pecado solitário! E fiz de montão. - Corumbá, no parrrede! Era a glória. Eu ia fascinado pra parede. Desta vez o padre me deu o Sermão do Mandato. Decorei e li o livro alcandorado. Aprendi a gostar do equilíbrio sonoro das frases. Gostar quase até do cheiro das letras. Fiquei fraco de tanto cometer pecado solitário. Ficar no parrrede era uma glória. Tomei um vidro de fortificante e fiquei bom. A esse tempo também eu aprendi a escutar o silêncio das paredes. Manoel de Barros

6 em Memórias Inventadas, As infâncias de Manoel de Barros.. APRENDIMENTOS O filósofo Kierkegaard me ensinou que cultura é o caminho que o homem percorre para se conhecer. Sócrates fez o seu caminho de cultura e ao fim falou que só sabia que não sabia de nada. Não tinha as certezas científicas. Mas que aprendera coisas di-menor com a natureza. Aprendeu que as folhas das árvores servem para nos ensinar a cair sem alardes. Disse que fosse ele caracol vegetado sobre pedras, ele iria gostar. Iria certamente aprender o idioma que as rãs falam com as águas e ia conversar com as rãs. E gostasse mais de ensinar que a exuberância maior está nos insetos do que nas paisagens. Seu rosto tinha um lado de ave. Por isso ele podia conhecer todos os pássaros do mundo pelo coração de seus cantos. Estudara nos livros demais. Porém aprendia melhor no ver, no ouvir, no pegar, no provar e no cheirar. Chegou por vezes de alcançar o sotaque das origens. Se admirava de como um grilo sozinho, um só pequeno grilo, podia desmontar os silêncios de uma noite! Eu vivi antigamente com Sócrates, Platão, Aristóteles esse pessoal. Eles falavam nas aulas: Quem se aproxima das origens se renova. Píndaro falava pra mim que usava todos os fósseis linguísticos que achava para renovar sua poesia. Os mestres pregavam que o fascínio poético vem das raízes da fala. Sócrates falava que as expressões mais eróticas são donzelas. E que a Beleza se explica melhor por não haver razão nenhuma nela. O que mais eu sei sobre Sócrates é que ele viveu uma ascese de mosca. Manoel de Barros em Memórias Inventadas, As infâncias de Manoel de Barros.. ÁRVORE Um passarinho pediu a meu irmão para ser a sua árvore. Meu irmão aceitou de ser a árvore daquele passarinho. No estágio de ser essa árvore, meu irmão aprendeu de sol, de céu, e de lua mais do que na escola. No estágio de ser árvore meu irmão aprendeu para santo mais do que os padres lhes ensinavam no internato.

7 Aprendeu com a natureza o perfume de Deus. Seu olho no estágio de ser árvore aprendeu melhor o azul. E descobriu que uma casca vazia de cigarra esquecida no tronco das árvores só presta para poesia. No estágio de ser árvore meu irmão descobriu que as árvores são vaidosas. Que justamente aquela árvore na qual meu irmão se transformara, envaidecia-se quando era nomeada para o entardecer dos pássaros. E tinha ciúmes da brancura que os lírios deixavam nos brejos. Meu irmão agradeceu a Deus aquela permanência em árvore porque fez amizade com muitas borboletas. Manoel de Barros em Ensaios Fotográficos RETRATO QUASE APAGADO EM QUE SE PODE VER PERFEITAMENTE NADA 1. Gravata de urubu não tem cor. Fincando na sombra um prego ermo, ele nasce. Luar em cima de casa exorta cachorro. Em perna de mosca salobra as águas se cristalizam. Besouros não ocupam asas para andar sobre fezes. Poeta é um ente que lambe as palavras e depois se alucina. No osso da fala dos loucos têm lírios. 3. Tem 4 teorias de árvore que eu conheço. Primeira: que arbusto de monturo agüenta mais formiga. Segunda: que uma planta de borra produz frutos ardentes. Terceira: nas plantas que vingam por rachaduras lavra um poder mais lúbrico de antros. Quarta: que há nas árvores avulsas uma assimilação maior de horizontes. 7. Uma chuva é íntima Se o homem a vê de uma parede umedecida de moscas; Se aparecem besouros nas folhagens; Se as lagartixas se fixam nos espelhos; Se as cigarras se perdem de amor pelas árvores; E o escuro se umedeça em nosso corpo. 9.

8 Em passar sua vagínula sobre as pobres coisas do chão, a lesma deixa risquinhos líquidos... A lesma influi muito em meu desejo de gosmar sobre as palavras Neste coito com letras! Na áspera secura de uma pedra a lesma esfrega-se Na avidez de deserto que é a vida de uma pedra a lesma escorre... Ela fode a pedra. Ela precisa desse deserto para viver. 11. Que a palavra parede não seja símbolo de obstáculos à liberdade nem de desejos reprimidos nem de proibições na infância, etc. (essas coisas que acham os reveladores de arcanos mentais) Não. Parede que me seduz é de tijolo, adobe preposto ao abdomen de uma casa. Eu tenho um gosto rasteiro de ir por reentrâncias baixar em rachaduras de paredes por frinchas, por gretas - com lascívia de hera. Sobre o tijolo ser um lábio cego. Tal um verme que iluminasse. 12. Seu França não presta pra nada - Só pra tocar violão. De beber água no chapéu as formigas já sabem quem ele é. Não presta pra nada. Mesmo que dizer: - Povo que gosta de resto de sopa é mosca. Disse que precisa de não ser ninguém toda vida. De ser o nada desenvolvido. E disse que o artista tem origem nesse ato suicida. 13. Lugar em que há decadência. Em que as casas começam a morrer e são habitadas por morcegos. Em que os capins lhes entram, aos homens, casas portas

9 a dentro. Em que os capins lhes subam pernas acima, seres a dentro. Luares encontrarão só pedras mendigos cachorros. Terrenos sitiados pelo abandono, apropriados à indigência. Onde os homens terão a força da indigência. E as ruínas darão frutos Manoel de Barros em O Guardador de Águas.. Obra inclui: 1937 Poemas concebidos sem pecado 1942 Face imóvel 1956 Poesias 1960 Compêndio para uso dos pássaros 1966 Gramática expositiva do chão 1974 Matéria de poesia 1980 Arranjos para assobio 1985 Livro de pré-coisas 1989 O guardador das águas 1990 Gramática expositiva do chão: Poesia quase toda 1993 Concerto a céu aberto para solos de aves 1993 O livro das ignorãças 1996 Livro sobre nada 1996 Das Buch der Unwissenheiten - Edição da revista alemã Akzente 1998 Retrato do artista quando coisa 2000 Ensaios fotográficos 2000 Exercícios de ser criança 2000 Encantador de palavras - Edição portuguesa 2001 O fazedor de amanhecer 2001 Tratado geral das grandezas do ínfimo 2001 Águas 2003 Para encontrar o azul eu uso pássaros 2003 Cantigas para um passarinho à toa 2003 Les paroles sans limite - Edição francesa 2003 Todo lo que no invento es falso - Antologia na Espanha 2004 Poemas Rupestres 2005 Riba del dessemblat. Antologia poètica Edição catalã (2005, Lleonard Muntaner, Editor) 2005 Memórias inventadas I 2006 Memórias inventadas II 2007 Memórias inventadas III

10 2010 Menino do Mato 2010 Poesias Completas 2-Til de José de Alencar. Quem foi Alencar? José de Alencar foi antes de tudo um inovador, o primeiro que, destemidamente, mostrou-se rebelde à tradição portuguesa. Sem dúvida um precursor da revolução modernista de Uma das marcas registradas de sua obra é o sentimento brasileiro. O índio que ele tanto cantou e exaltou, é a personificação de seu entranhado nacionalismo. Tanto que Machado de Assis declara que "nenhum escritor teve em mais alto grau a alma brasileira". O seu estilo revela-se retórico, sonoro e brilhante, o que nada mais é do que o espírito de sua escola - o Romantismo. As suas paisagens, além do sentimento brasileiro, têm cores maravilhosas da nossa exuberante vegetação tropicas. Ele não descreve cenas, quadros: pinta-os molhando o pincel nas mais vivas e variadas tintas. Conhecia o Português e conhecia a Gramática, mas sua preocupação estava acima disto: quis criar um estilo brasileiro, independente, pessoal, reflexo dos nossos modismos sintáticos e vocabulares, um linguajar brasileiro. Isso ele conseguiu; se não para os seus contemporâneos, mas para os pósteros que cada vez mais reconhecem sua originalidade e modernidade. A obra romanesca de Alencar costuma ser dividida pela crítica em quatro áreas: a indianista, a histórica, a urbana e regionalista. a) os romances indianistas apresentam três fases do índio: civilizado e dominado pelos portugueses na luta pela conquista da terra - O Guarani; os primeiros contatos dos brancos com os nativos na civilização do Ceará - Iracema; e o índio em seu estado natural, sem interferência do branco, longe da civilização, em época indeterminada - Ubirajara. b) Os romances históricos evocam nosso passado com As minas de prata, o primeiro romance histórico de nossa literatura; A guerra dos mascates, narrativa da famosa revolução de 1710, em Pernambuco, e, ainda através das crônicas dos tempos coloniais e das novelas O garatuja e Alfarrábios. c) Os romances regionalistas focalizam as paisagens e tipos humanos do norte e do sul do país, através de O sertanejo e O gaúcho, reproduzindo costumes típicos e folclóricos dessas regiões. O tronco do ipê e Til, considerados romances sociais, patenteiam também a corrente regionalista de Alencar. Com Til, retrata os costumes dos ambientes paulistas nas grandes épocas do café. Com O tronco do ipê, apresenta o panorama das fazendas do Rio de Janeiro. d) Os romances urbanos caracterizam a corte e o meio social carioca do Segundo Reinado. São romances de amor, que espelham a mentalidade romântica da época, capaz dos maiores sacrifícios para solidificar esse sentimento. Neles, o autor cria diversos perfis de mulheres, vivendo no trato íntimo da sociedade, mas sem grande penetração psicológica. Exemplificam esse gênero: Cinco minutos, A viuvinha, A pata da gazela, Sonhos d'ouro, Lucíola, Diva, Senhora e Encarnação. Além de romancista, Alencar foi teatrólogo, merecendo destaque as comédias: Verso e Reverso, O demônio familiar, As asas de um anjo, Noite de João além dos dramas Mãe e O jesuíta. Como poeta, deixa-nos o poema indianista Os filhos de Tupã. TIL - José de Alencar Retrata os costumes, a linguagem e a vida rural da época, e segue os moldes românticos, abordando a inocência, o amor, a fragilidade, a idealização da natureza e a subjetividade. Escrita em 1872 por José de Alencar, Til pertence à fase regionalista do autor. Na obra, são retratados os costumes, a linguagem e a vida rural da época abordando a inocência, o amor, a fragilidade, a idealização da natureza e a subjetividade. O enredo de Til Em um passeio pela fazenda, Berta - jovem pequena, esbelta - e Miguel - alto, ágil e robusto - encontram Jão Fera, com fama de bandido. Após um desentendimento entre eles, Jão vai embora a pedido da menina. Os dois amigos vão ao encontro de Linda e Afonso, irmãos gêmeos e filhos de Luís Galvão, homem inteligente, e de Ermelinda. Linda ama Miguel, mas Berta e Miguel já se amam. Contudo, para não ver o sofrimento da amiga, Berta faz de tudo para que Miguel fique com Linda. Todos gostavam muito de Berta - apelidada de Til -, pois era alegre e de bom coração. Num outro trecho da obra, ela visita constantemente Zana, uma mulher com problemas mentais. Brás, menino de 15 anos, também com problemas mentais tentar matar Zana por sentir ciúme de Berta, mas não consegue.

11 A história é marcada por tentativas de assassinatos. Pelo assassinato de Aguiar, seu filho oferecera uma recompensa a quem matar o assassino Jão Fera. Já o personagem Barroso e seu bando planejam provocar um incêndio na casa de Luis Galvão para matá-lo e, depois, apagando o incêndio Barroso pretende oferecer seus serviços à viúva e conquistá-la, vingando assim a traição do passado, pois ficaria com a esposa daquele que manchara a honra de sua esposa Besita. Ribeiro que trocara seu nome para Barroso tinha agora uma irrupção no rosto, Jão e Ribeiro tinham-se visto poucas vezes na época de Besita, por isso não se reconheceram quando se encontraram. À noite João, Gonçalo, o pajem Faustino e Monjolo, trancam a senzala e ateiam fogo no canavial, Luis tenta apagar o fogo e é agredido pelas costas por Gonçalo, mas Jão o salva, e mata os três bandidos. Barroso foge e, conforme o combinado, Jão se entrega ao filho de Aguiar, diz que irá pra onde ele quiser desde que ninguém toque nele, pois se isso acontecer este desfeito o acordo e ele estará livre novamente. Os capangas tentam amarrá-lo, ele espanca todos e vai embora. Barroso que ficara sabendo dessa prisão volta para tentar matar Berta, Jão que estava solto novamente consegue pegá-lo e o mata de forma violenta. Brás que presenciara tudo leva Berta pra ver a cena, mas ela foge horrorizada, enquanto Jão se entrega a policia. Luís resolve contar tudo a esposa, ela chora e decide que ele deve reconhecer Berta como filha. Eles contam tudo a Berta, omitindo, porém as circunstâncias desagradáveis, Berta sente que estão escondendo algo. Jão foge da prisão e procura Berta, ela o faz prometer que nunca mais matará ninguém. Ele fala de Besita sua mãe e ela lhe implora que conte tudo. Ele assim o faz, revelando que Besita casou-se com Ribeiro que desapareceu logo depois do casamento. Alguns meses depois, Besita é avisada por Zana que seu marido chegara. Como era noite, no escuro ela se entrega às caricias do marido, e depois descobre que não era ele e, sim, Luís Galvão. Jão pensa em matá-lo por isso, mas ela o impede. Meses depois Luís casa-se com D. Ermelinda e nasce Berta, filha de Besita. Um dia Besita pede a Jão que vá comprar coisas para o bebê. Durante sua ausência, aparece Ribeiro, que a acusa de traição e a estrangula. Neste momento, Jão chega e consegue salvar Berta, mas Ribeiro foge. Luís quer que Berta vá morar com ele e sua família em São Paulo, mas ela se nega e pede que leve Miguel que ama Linda. Miguel tenta convencê-la a ir junto, mas ela recusa, ficando no interior. Os personagens de Til A principal personagem da obra é Berta, que recebeu o apelido de Til, pois quando aprendeu a ler achava o acento til gracioso. Miguel é um rapaz robusto e apaixonado por Berta. Jão Fera tem fama de bandido, mas é o personagem que salva Berta e Luis Galvão, dono da fazenda em que a história é ambientada. Síntese de Viagens Til Til é uma narrativa que envolve os personagens Berta, Miguel, Linda e Afonso. Eles são adolescentes despreocupados. Regionalista, a obra supervaloriza o interior do Brasil e da vida bucólica. Til é o apelido de Berta, a heroína capaz de imensos sacrifícios por um ideal. Desenvolvimento da obra Til A história se desenvolve na fazenda no interior de São Paulo em meio a uma história de amor e descobertas sobre o passado de Berta. Problemática da obra Til- A filha de Besita é fruto de uma noite de amor com Luís Galvão, imaginando que ele é seu marido que voltara de viagem. Clímax da obra Til- Quando Jão Fera revela o segredo sobre a mãe de Berta. Desfecho da obra Til- Luís e a família se mudam para São Paulo, enquanto Berta fica no interior do estado. A linguagem de Til- Regionalista. O espaço/tempo em Til- A história se passa no interior paulista, em uma fazenda do século XIX. Narrador e foco narrativo de Til- Obra narrada em terceira pessoa. Narrador Onisciente. Contexto histórico de Til- No ano de publicação da obra, o Brasil estava às voltas com a aprovação da Lei do Ventre Livre, que garantia a liberdade a filhos de escravos nascidos no Brasil. Sobre o autor de Til- José de Alencar nasceu em 1 de maio de 1829, em Mecejana, no Ceará, e faleceu dia 12 de dezembro de 1877, no Rio de Janeiro. Formou-se advogado escreveu para jornais da época. Foi eleito deputado federal pelo Ceará e Ministro da Justiça. Alencar escreveu romances indianistas, urbanos, regionais, históricos, obras teatrais, poesias, crônicas, romances-poemas de natureza lendária e escritos políticos. Sua principal obra é Iracema. 1) -Ação- Til, de José de Alencar, é uma obra caracterizada como romance- novela; possui uma dramaticidade dinâmica. Sua temática é baseada na época do Brasil Colonial. Embora não tendo, uma sequência cronológica dos fatos, o romance possui coerência e coesão que torna o drama compreensível, porém exigindo do leitor muita atenção para não se perder no decorrer da narração que torna o romance muito movimentado e em um pequeno espaço de tempo cria inúmeros acontecimentos envolvendo muitos personagens. Há uma pequena intertextualidade com as tragédias gregas ao narrar a Ave-Maria,muitas mortes e muitos órfãos interligando assim vários núcleos existentes no enredo: A família de Guedes, a família de D.Tudinha, Luiz Galvão, o Tinguá e ainda os capangas : Jão Fera e Gonçalo Pinta.

12 2) Espaço- Tudo acontece em um lugar chamado Santa Bárbara, próximo a Campinas no estado de São Paulo, mas o romance faz referência também à cidade de Itu; à Vila de Piracicaba e à fazenda do Limoeiro. A floresta, assim como o bar à beira da estrada, o Bacorinho e o lugar chamado Ave-Maria são recursos particulares dentro do romance. Os sentimentos que o romance causa no leitor são: Piedade, indignação e choro e algumas vezes satisfação quando há uma vingança. O autor se mostra um artista da palavra quando através dela utiliza de vários adjetivos para reforçar característica das personagens e lugares fazendo o leitor viajar em imaginação na história, e também quando toca o emocional do leitor. 3)-Tempo- O narrador utiliza disfarces físicos e mudança de nomes em seus personagens. De acordo com a chegada de cada personagem na trama, o tempo é manejado pelo narrador que torna o tempo passado sempre presente. Portanto o tempo predominante é o psicológico. 4) -Personagens- Personagens planas- Não tem iniciativa, não tem ação significativa no romance. (Linda, Miguel, D. Ermelinda, Besita e D. Tudinha). Personagens redondas- Tudo gira em torno da personagem principal (Berta). Jão Fera- Ação de heroísmo. 5) Trama- O romance é a história de Berta, uma menina que fica órfã ainda bebê; sua mãe é assassinada pelo próprio marido, por ciúme ao saber que não era pai da criança. A menina cresceu inocente de sua própria história e era uma pessoa muito amável, justa e bondosa. Vivia com D.Tudinha, uma senhora que a adotou e a amamentou junto com seu filho Miguel. Berta era muito amiga de Afonso e Linda, ambos, filhos de Luiz Galvão: grande fazendeiro, e D. Ermelinda. Jão Fera é um personagem muito importante na trama, pois ele no início é um bandido, assassino e cruel. No decorrer da novela, ele vai se revelando como um herói. Ele é um guardião para Berta, pois desde quando ficou órfã, ele a defendera e continuava sempre por perto. Berta era muito amada por Miguel e Afonso; mas não se decidia por nenhum, pois Linda era apaixonada por Miguel e sua grande amiga. Berta chega a convencer Miguel a namorar Linda, embora sinta ciúme. Til, é um apelido que a própria Berta se dá para facilitar o aprendizado de Brás, pois era o símbolo que ele mais gostava no alfabeto. Por ser deficiente, Brás não conseguia aprender com clareza e por isso apanhava de palmatória nas aulas, e só Berta conseguiu ensiná-lo. Portanto eis o nome da obra. O romance não se enquadra na característica linear ou progressivo e sim como vertical ou analítico, pois dá maior ênfase aos personagens e no drama que eles vivem. Exemplo: Berta é tão marcada por sua história quando a descobre, que decide não aceitar a paternidade de Luiz Galvão e sua riqueza e fica com D.Tudinha, cuidando dos excluídos a sua volta. 6) -Verossimilhança- A ação dos personagens tem grande importância dentro do romance, pois são eles e principalmente Jão Fera, que faz a novela acontecer, ele possui um heroísmo fantástico, exemplo: Consegue vencer uma manada de Caitetus com Berta sobre os ombros e ainda salva o Pai-Quicé; se entrega à prisão e consegue sair livre. Por se tratar de fazendeiros, capangas, escravos, lavouras de cana e café, a trama tem uma semelhança com a verdade, pois isso faz parte da história do Brasil. 7) -Ponto de Vista- A narração do romance é feita em terceira pessoa. O narrador é onisciente; ele conhece, sabe todos os pensamentos e planos dos personagens e os revela ao leitor. Não é um personagem e nem um simples espectador. 8) Tipo de romance- Romance aberto- A trama apresenta características de um romance aberto, Pois o narrador traz ao longo da história, personagens próximos da realidade, por exemplo: Pessoas bondosas como Berta, D.Tudinha, e maldosas como Ribeiro e Gonçalo Pinta, que retratam sentimentos e ações comuns de pessoas reais. O narrador faz com que o leitor tenha profundas reflexões sobre o preconceito, a exclusão, a injustiça, e permite ao leitor participar da trama, pois faz o leitor pensar, refletir pressupor o que irá acontecer em alguns capítulos, ao mesmo tempo cria armadilhas durante seu percurso que pode confundir o leitor se não estiver atento. O leitor pode ainda continuar imaginando uma sequência mesmo após o final do romance. O Romance não é monofônico e também não é polifônico, pois não apresenta características. Essa oposição, a monofonia e a polifonia são observadas por M. Bakhtin como aquelas que se diferenciam no discurso como verdades fechadas e abertas. O discurso monofônico é próprio do discurso autoritário, que não permite o diálogo ou a relação entre o eu e o outro. Em contrapartida, na polifonia, própria da linguagem poética, a verdade surge como possibilidade discursiva em diálogo com a multiplicidade de vozes textuais. 9-)Resumo de Til- José de Alencar

13 Em um passeio pela fazenda, Berta, jovem pequena, esbelta, ligeira, buliçosa, grandes olhos, negros, boca mimosa. E Miguel que era, alto, ágil, de talhe robusto e bem conformado, encontram Jão Fera, homem de grande estatura e vigorosa compleição, que tinha fama de bandido. Após um desentendimento entre Jão Fera e Miguel ele vai embora a pedido de Berta. Os dois amigos vão ao encontro de Linda e Afonso, irmãos gêmeos de cabelos castanhos e olhos pardos, filhos de Luís Galvão que era um bonito homem, de fisionomia inteligente e regular estatura, e de D. Ermelinda de 38 anos. Linda ama Miguel. Berta e Miguel se amam. Mas pra não fazer sofrer a amiga Linda, Berta faz de tudo para que Miguel ame Linda. E consegue. Ficam sabendo que Luís Galvão vai fazer uma viagem para Campinas e que a mãe deles estava com mau pressentimento. Berta fica assustada, pois acha que Jão Fera está por trás disso, e parte pela floresta para evitar a emboscada. Chegando lá discute com ele que lhe tem muito amor, e consegue evitar o assassinato. Havia sido contratado por Barroso homem de cinquenta anos, uma barba ruiva e áspera, de mediana estatura e excessivamente magro. Este fica furioso ao saber que ele não cumprira o acordo. Jão fica em débito com Barroso e precisa de cinquenta mil réis para saldar a divida. Todos gostavam muito de Berta, pois era alegre e de bom coração. Visitava constantemente Zana, uma mulher com problemas mentais. Brás de 15 anos era feio, e descomposto em seus gestos. Tinha um ar pasmo, um olhar morno, com expressão indiferente e parva, ele também tem problemas mentais, ao sentir ciúme de Berta ele tenta matar Zana, é repreendido por Berta e se arrepende. Brás era filho de uma irmã de Luís Galvão, que morrera viúva, e por isso ele vivia na casa de seu tio. Ele dera a Berta o apelido de Til, pois quando ela lhe ensinava o abc ele achava o til do alfabeto gracioso, então o associou a Berta a quem queria muito bem. Pelo assassinato de Aguiar, do Limoeiro, seu filho oferecera uma recompensa a quem matar o assassino Jão Fera. Avisado do acontecido por Chico, Jão pede que este vá ate o filho de Aguiar do limoeiro e peça cinquenta mil reis em troca Jão Fera ira a seu encontro. Barroso e seu bando planejam provocar um incêndio na casa de Luís Galvão para matá-lo e depois apagando o incêndio Barroso pretende oferecer seus serviços à viúva e conquistá-la. Vingando assim a traição do passado, pois ficaria com a esposa daquele que manchara a honra de sua esposa Besita. Ribeiro trocara seu nome para Barroso, tinha agora uma irrupção no rosto, Jão e Ribeiro tinham-se visto poucas vezes na época de Besita, por isso não se reconheceram quando se encontraram. Na noite são João, Gonçalo, o pajem Faustino e Monjolo trancam a senzala e ateiam fogo no canavial, Luís tenta apagar o fogo e é agredido pelas costas por Gonçalo, Jão o salva, e mata os três bandidos. Barroso foge. Conforme o combinado, Jão se entrega ao filho de Aguiar, diz que ira pra onde ele quiser desde que ninguém toque nele, pois se isso acontecer está desfeito o acordo e ele estará livre novamente. Os capangas tentam amarrá-lo, ele espanca todos e vai embora. Barroso que ficara sabendo dessa prisão, volta para tentar matar Berta, Jão que estava solto novamente consegue pegá-lo e o mata de forma violenta. Quem o visse dilacerando a vítima com as mãos transformadas em garras pensaria que a fera de vulto humano ia devorar a presa e já palpitava com o prazer de trincar as carnes vivas do inimigo. Brás que presenciara tudo e como não gosta dele, leva Berta pra ver a cena. Ela foge horrorizada. Ele tenta explicar o ocorrido, ela bate-lhe no rosto. Percebendo que ela agora lhe tem asco, Jão se entrega a policia. Luís resolve contar tudo a esposa, ela chora e decide que ele deve reconhecer Berta como filha. Contam tudo a Berta, omitindo porem as circunstancia desagradáveis, Berta sente que estão escondendo algo. Jão foge da prisão e procura Berta, ela o faz prometer que nunca mais matara ninguém. Ele fala de Besita sua mãe e ela lhe implora que conte tudo. Ele conta. Besita era a moça mais bonita da cidade, vivia com seu pai Guedes, Luís Galvão e Jão Fera, que eram amigos, apaixonam-se por ela, Jão achando que ela nunca o amaria abre mão desse amor para Luís, este só quer divertir-se não pretende casar-se, ela conhece Ribeiro e aceita casar-se com ele, Jão fica Furioso e se afasta de Luís. Besita casa-se com Ribeiro que desaparece logo depois do casamento, após receber um bilhete chamando-o com urgência a Itu. Alguns meses depois Besita e avisada por Zana que seu marido chegara, era noite, e no escuro ela se entrega as caricias do marido, depois descobre que não era ele e sim Luís Galvão. Jão pensa em matá-lo por isso, mas ela o impede. Meses depois Luís casa-se com D. Ermelinda e nasce Berta filha de Besita. Elas vivem isoladas, moram com ela Zana que amamenta o bebe e Jão Fera, que cuida delas como um cão fiel. Um dia Besita pede a Jão que vá a Itu comprar algumas coisas para o bebe. Durante sua ausência, aparece Ribeiro, que a acusa de traição e a estrangula, Jão chega e consegue salvar Berta, Ribeiro foge. Nhá Tudinha, mãe de Miguel, ouve choro vindo da casa de Besita e vai ate lá, Jão conta o acontecido e ela adota Berta como sua filha. Zana enlouquece e continua morando na casa de Besita e tendo alucinações com a morte dela. Jão torna-se capanga e matador, tentando aplacar a furiosa sede de vingança que tem. Ela o abraça e diz que ele cuidou dela e que e seu pai. Jão passa a trabalhar na terra. Luís quer que Berta vá morar com ele e sua família, ela se nega e pede que leve Miguel que ama Linda. Miguel tenta convencê-la a ir junto, mas ela recusa. Não, Miguel. Lá todos são felizes! Meu lugar é aqui, onde todos sofrem. Eles

14 partem para São Paulo. Berta fica. Como as flores que nascem nos despenhadeiros e algares, onde não penetram os esplendores da natureza, a alma de Berta fora criada para perfumar os abismos da miséria, que se cavam nas almas, subvertidas pela desgraça. 3- Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis -INTRODUÇÃO Maior escritor brasileiro de todos os tempos, Joaquim Maria Machado de Assis ( ) era um mestiço de origem humílima, filho de um mulato e de uma lavadeira portuguesa dos Açores. Moleque de morro, magro, franzino e doentio, o maior escritor brasileiro se fez sozinho, adquirindo a sua vasta e espantosa cultura de forma inteiramente autodidata. Ao estudar a obra de Machado de Assis, a crítica divide-a em duas fases bem distintas cujo marco deliminatório é o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas publicado em Até essa data, a obra machadiana é marcante romântica, e nela sobressai poesia, conto e romances como Ressurreição (1872), A mão e a luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878). Tais obras pertencem, pois, à chamada primeira fase. A partir de 1881, com a publicação das Memórias, Machado de Assis muda de tal forma que Lúcia Miguel Pereira, biógrafa e estudiosa do escritor, chega a afirmar que "tal obra não poderia ter saído de tal homem", pois, "Machado de Assis liberou o demônio interior e começa uma nova aventura": a análise de caracteres, numa verdadeira dissecação da alma humana. É a Segunda fase, fase perpassada dos ingredientes do estilo realista. Além de contos, poesia, teatro e crítica, integram essa fase os romances seguintes, entre os quais está o nosso Dom Casmurro (1900): Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891), Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908), seu último livro, pois morre nesse mesmo ano. Toda essa obra está ligada ao estilo realista, embora seja correto reconhecer que um escritor da categoria ao estilo realista, embora seja correto reconhecer que um escritor da categoria de Machado de Assis não pode ficar preso às delimitações de um estilo de época. Memórias Póstumas de Brás Cubas O autor Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em junho de 1839, no Morro do Livramento, Rio de Janeiro, filho de Francisco de Assis, pintor de paredes que descendia de mulatos libertos, e de uma lavadeira açoriana. Perdeu a mãe muito cedo, mas a madrasta, Maria Inês, preta extremamente carinhosa, amparou o menino, auxiliando-o inclusive no processo de alfabetização. Com a morte do pai, e as consequentes dificuldades financeiras, Machado, aos doze anos, vendia na rua os doces que Maria Inês fazia; para aumentar a pequena renda, fazia também serviços de coroinha, e ainda, nos poucos intervalos de tempo, buscava assistir a algumas aulas, lia muitos livros emprestados, e procurava aprender francês com os padeiros franceses do bairro imperial. Quando "descobriu" a livraria Paula Brito, passou a frequentá-la, e foi na revista A Marmota Fluminense, editada pela livraria, que Machado fez sua estreia literária, publicando, em 1855, um poema exageradamente romântico. No ano seguinte é admitido como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Oficial, onde ganha um salário de fome. Dormia e comia mal, e vivia lendo nas horas de trabalho, o que motivou as queixas de seu chefe ao diretor. Esse diretor era Manuel Antônio de Almeida; em vez de puni-lo, tratou de melhorar-lhe a vida. Assim, Machado pode tentar completar sua educação e frequenta as reuniões "lítero-humorísticas" da sociedade Petalógica, que se faziam na Paula Brito. Aí, esse jovem franzino, tímido e gago, mulato de origem obscura e humilde, trava relações com literatos prestigiados: Gonçalves Dias, Joaquim Manuel de Macedo, Casimiro de Abreu e José de Alencar. Em 1860, Machado, que já vinha colaborando com jornais, alcança o alto jornalismo no Diário do Rio de Janeiro, em que se revela um jornalista de formação liberal, afinado com as causas populares, engajado, inclusive, na campanha abolicionista. Ao mesmo tempo, produz contos, comédias, críticos literários. Aos vinte e oito anos, muda-se para o centro da cidade, deixando para trás as lembranças da origem humilde. Nomeado funcionário do Diário Oficial, experimenta, pela primeira vez, a segurança econômica. Já reconhecido por seus méritos, é condecorado com a Ordem da Rosa. Aos trinta anos, encontra a mulher que seria sua grande companheira e colaboradora: Carolina Xavier de Novais, mulher culta e sensível, que o orientava em suas leituras e apresentou-lhe o clássico inglês. Em 1873, a publicação de Ressurreição consagra Machado como romancista. Nesse mesmo ano, é nomeado oficial da Secretaria da Agricultura, iniciando uma carreira burocrática exemplar: ao longo de trinta e cinco anos, foi alcançando todos os níveis de promoção. Com quase quarenta anos, Machado, que desde a infância sofria de crises epilépticas, é obrigado a internar-se em Friburgo para tratamento. Quando superou a crise, Machado reapareceu no vigor de sua capacidade criadora, e produziu as obras-primas da maturidade: os contos e romances da dita fase realista, inaugurada em 1881, com Memórias Póstumas de Brás Cubas. Envelhecendo com serenidade, procura patrocinar jovens talentos literários, cultiva os amigos, aprende alemão, joga gamão e xadrez e frequenta, agora como a figura mais ilustre, as rodas intelectuais. Quando o grupo da Revista Brasileira decide fundar a Academia Brasileira de Letras, Machado é o nome imediatamente lembrado para presidi-la. "Com as barbas brancas disfarçando os lábios grossos e o penteado sonegando os

15 cabelos crespos, o antigo 'Machadinho' tinha então uma aparência olímpica, encarnação simultânea da respeitabilidade vitoriana e da suprema excelência das letras brasileiras.(...) A ascensão social fora completa. (...) A curva da velhice foi para Machado o desdobramento de uma apoteose, onde a única nota dissonante foi uma nota íntima: as saudades invencíveis com que o deixou a morte de Carolina, quatro anos antes da arteriosclerose que o levou, em meio à tristeza profunda do país e da cidade (1), em "Mulato? - dirá seu querido Joaquim Nabuco - só vi nele o grego!" Obra: Machado de Assis cultivou quase todos os gêneros literários Poesia Crítica Literária Narrativas Crisálidas, Falenas, Americanas e Ocidentais Teatro Não Consultes Médico O Protocolo Os Deuses de Casaca O Caminho da Porta Quase Ministro Queda que as Mulheres têm pelos Tolos Crítica Crônica A Semana Fase romântica: Ressurreição, A Mão e a Luva, Helena, laia Garcia (romances), Contos Fluminenses, Histórias da Meia-Noite (contos). Fase realista: Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó, Memorial de Aires (romances), Papéis Avulsos, Várias Histórias, Páginas Recolhidas, Relíquias de Casa Velha (contos). frias carnes do meu cadáver dedico com saudosa lembrança estas MEMÓRIAS PÓSTUMAS" edo Enr An tes de iniciar a narração de sua autobiogr afia, o narrador, Brás Cubas, dedica-a: "A o verme que primeiro roeu as Consciente de que sua narrativa haveria de provocar um estranhamento no leitor, habituado às narrativas lineares e verossímeis do século XIX, adverte-o: "Ao leitor Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, coisa é que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará é se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinquenta, nem vinte e, quando muito, dez. Dez? Talvez cinco. Trata-se, na verdade uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Sterne ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de finado. Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio. Acresce que a gente grave achará no livro umas aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola não achará nele o seu romance usual; ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião. Mas eu ainda espero angariar as simpatias da opinião, e o primeiro remédio é fugir a um prólogo explícito e longo. O melhor prólogo é o que contém menos coisas, ou o que as diz de um jeito obscuro e trancado. Conseguintemente, evito contar o processo extraordinário que empreguei na composição destas Memórias, trabalhadas cá no outro mundo. Seria curioso, mas nimiamente extenso, e aliás desnecessário ao entendimento da obra. A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus.

16 Brás Cubas. Capítulo I Óbito do autor Brás Cubas declara que, por ser um defunto autor e não um autor defunto, resolveu começar sua narração pela própria morte, que se dera às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, em sua bela chácara de Catumbi. Tinha 64 anos "rijos e prósperos" e fora acompanhado ao cemitério por 11 amigos. A sua morte haviam assistido poucas pessoas: a irmã Sabina, o cunhado Cotrim, a sobrinha e uma senhora, cuja identidade recusa-se a revelar, informando, apenas, que sofreu mais que os outros presentes. O leitor a conheceria quando o narrador evocasse os tempos moços. Informa, ainda, que morrera tranquila e metodicamente: "A vida estrebuchava-me no peito, com uns ímpetos de vaga marinha, esvaía-se-me a consciência, eu descia à imobilidade física e moral, e o corpo fazia-se-me planta e pedra, e lodo, e coisa nenhuma. A causa da morte fora uma pneumonia, mas Brás Cubas diz dever-se mais a uma grandiosa ideia que tivera e que vai apresentar em seguida. Capítulo II - O emplasto Brás Cubas revela, que, um dia, uma idéia pendurou-se no trapézio que ele tinha no cérebro e provocou-o: "Deciframe ou devoro-te". Essa ideia era a criação de um emplasto anti-hipocondríaco, "destinado a aliviar nossa melancólica humanidade". Para o governo, afirmara que esse resultado era verdadeiramente cristão; aos amigos, falara das vantagens pecuniárias que o emplasto traria, mas, já que havia morrido, podia confessar a verdade: o que o movera fora a vaidade, queria alcançar fama e glória. "Assim, a minha ideia trazia duas faces, como as medalhas, uma virada para o público, outra para mim. De um lado, filantropia e lucro; de outro lado, sede de nomeada. Digamos: amor da Glória." Aspectos Modernos Enredo rarefeito; Quebra da linearidade; Narrativa Fantástica; Metalinguagem; Leitor incluso; (é personagem na obra Machadiana) Estrutura de obra aberta; (várias leituras e interpretações) Valorização do espaço branco do papel. Capítulo III Genealogia Evocando seu passado remoto, Brás Cubas fala das origens de sua família. O fundador havia sido um certo Damião Cubas, nascido no Rio de Janeiro na primeira metade do século XVIII, tanoeiro de profissão, que, ao tornar-se lavrador, enriquecera; ao morrer, deixara grande herança ao filho, Luís Cubas. A família só se referia aos antepassados até esse avô, que estudara em Coimbra e tivera prestígio social, omitindo Damião que, afinal, havia sido simples tanoeiro. O pai de Brás Cubas, de início, para esconder sua origem, inventara que a família provinha da mesma de que nascera o capitão-mor fundador da Vila de São Vicente, e para reforçar a falsificação dera ao filho o nome de Brás. A família do capitão-mor Brás Cubas se opusera a essa inverdade, por isso o pai do narrador forjou outra mentira: a família descendia de um cavaleiro premiado com o sobrenome Cubas por ter, heroicamente, subtraído trezentas cubas aos mouros, durante as batalhas da África. Observa Brás Cubas que seu pai, homem digno e de bom caráter, tinha esses fumos de vaidade. Capítulo IV - A ideia fixa

17 Brás Cubas confessa que a ideia do emplasto tornara-se uma obsessão. Não lhe ocorre nada que seja tão fixo; talvez a lua ou as pirâmides. Sugere, então, ao leitor que escolha a comparação que mais o agrade e não torça o nariz, embora reconheça que o leitor deve estar impaciente porque a narrativa propriamente dita ainda não teve início, mas afirma que chegará a ela, justificando: "Creio que prefere a anedota à reflexão, como os outros leitores, seus confrades, e acho que faz muito bem. Pois lá iremos. Todavia, importa dizer que este livro é escrito com pachorra, com a pachorra de um homem já desafrontado da brevidade do século, obra supinamente filosófica, de uma filosofia desigual, agora austera, logo brincalhona, coisa que não edifica nem destrói, não inflama nem regela, e é todavia mais do que passatempo e menos do que apostolado. Capítulo V - Em que aparece a orelha de uma senhora Durante os preparativos para a criação do emplasto, Brás Cubas recebeu um golpe de ar; adoeceu e não se tratou, pois só pensava na glória que o emplasto lhe traria. Como piorasse, resolveu tratar-se, mas sem cuidado nem persistência, sobrevindo a pneumonia que o matou. Diz-nos que, no leito de morte, enquanto refletia sobre o fato de uma simples corrente de ar pôr a perder qualquer projeto humano, despediu-se da mulher a quem se referira no primeiro capítulo, a qual, embora entrada em anos, havia sido a mais bela entre suas contemporâneas; faz, então, uma surpreendente revelação: "Tinha então 54 anos, era uma ruína, uma imponente ruína. Imagine o leitor que nos amamos, ela e eu, muitos anos antes, e que um dia, já enfermo, vejo-a assomar à porta da alcova..." Capítulo VI - Chimène, qui l'eüt dit? Rodrigue, qui 1'eút cru? À porta da alcova, a mulher hesitou, pois havia um homem no quarto; Brás Cubas não a via há dois anos, e contemplava-a mudo, olhando-a não como era, mas como ela (e ele) haviam sido. A mulher entrou e ficou em pé, ao lado do leito. O homem retirou-se. Brás Cubas e Virgília chamava-se Virgília continuavam a olhar-se calados: "Quem diria? De dois grandes namorados, de duas paixões sem freios, nada mais havia ali, vinte anos depois; havia apenas dois corações murchos, devastados pela vida e saciados dela, não sei se em igual dose, mas enfim saciados. Quebrando o silêncio, Brás Cubas perguntou-lhe se andava a visitar defuntos. Virgília, com um muxoxo, respondeu "Ora, defuntos!" Sentou-se; com voz amiga e doce, comentou com Brás Cubas alguns acontecimentos, com graça e um pouco de maldade, o que deu prazer ao enfermo: "(...) eu, prestes a deixar o mundo, sentia um prazer satânico em mofar dele, em persuadir-me que não deixava nada." Às três horas, retirou-se, dizendo que voltaria no dia seguinte ou no outro. Diante da observação de Brás Cubas de que talvez não conviesse ele era solteirão e na casa não havia senhoras - Virgília disse não se importar estava velha! mas voltaria com o filho. Quando voltou com Nhonhô, o filho bacharel, Brás Cubas ficou constrangido: o menino, aos cinco anos, havia sido cúmplice inconsciente do amor clandestino de Brás e Virgília. Virgília adivinhou a causa do constrangimento que mantinha Brás Cubas calado, e dissimulou, dizendo ao filho que Brás Cubas não falava para fazer crer que estava à morte. Todos sorriram. Virgília tinha o aspecto "das vidas imaculadas": "(...) nenhum gesto que pudesse denunciar nada; uma igualdade de palavra e de espírito, uma dominação sobre si mesma, que pareciam e talvez fossem raras." Casualmente falaram de amores ilegítimos e Virgília referiu-se à mulher de que se tratava aliás, sua amiga com desdém e indignação. Capítulo VII - O delírio Brás Cubas conta que, antes de morrer, delirou por vinte ou trinta minutos. Em seu delírio, viu-se transformado em um barbeiro chinês; escanhoava um mandarim que lhe pagava com beliscões e confeitos. Depois se viu transformado na Summa Theológica de S. Tomás de Aquino. De volta à forma humana, viu-se arrebatado por um hipopótamo que informou irem à origem dos séculos. Brás Cubas ia de olhos fechados e sentia aumentar a sensação de frio. Ao abrir os olhos viu que galopavam numa planície de neve, onde vegetação e animais também eram de neve. De repente, apareceu uma figura imensa de mulher, cujos contornos perdiam-se no ambiente, e que se apresentou: Chama-me Natureza ou Pandora; sou tua mãe e tua inimiga. (...)

18 Não te assustes, disse ela, minha inimizade não mata; é sobretudo pela vida que se afirma. Vives: não quero outro flagelo." A figura estendeu o braço, segurou Brás Cubas pelos cabelos e levantou-o ao ar. Só então pude ver-lhe de perto o rosto, que era enorme. Nada mais quieto; nenhuma contorção violenta, nenhuma expressão de ódio ou ferocidade; afeição única, geral, completa, era a da impassibilidade egoísta, a da eterna surdez, a da vontade imóvel. Raivas, se as tinha, ficavam encerradas no coração. Ao mesmo tempo, nesse rosto de expressão glacial, havia um ar de juventude, mescla de força e viço, diante do qual me sentia eu o mais débil e decrépito dos seres. Entendeste-me? disse ela, no fim de algum tempo de mútua contemplação. Não, respondi; nem quero entender-te; tu és absurda, tu és uma fábula. Estou sonhando, decerto, ou, se é verdade que enlouqueci, tu não passas de uma concepção de alienado, isto é, uma coisa vã, que a razão ausente não pode reger nem palpar. Natureza, tu? a Natureza que eu conheço é só mãe e não inimiga; não faz da vida um flagelo, nem, como tu, traz esse rosto indiferente, como o sepulcro. E por que Pandora? Porque levo na minha bolsa os bens e os males, e o maior de todos, a esperança, consolação dos homens. Tremes? Sim; o teu olhar fascina-me. Creio; eu não sou somente a vida; sou também a morte, e tu estás prestes a devolver-me o que te emprestei. Grande lascivo, espera-te a voluptuosidade do nada." Incrédulo, Brás Cubas pondera que ela lhe havia incutido o amor à vida; como poderia golpear a si própria, matandoo? Natureza ou Pandora respondeu que já não precisava dele, o egoísmo era sua única lei. Levando-o ao alto de uma montanha, obrigou-o a acompanhar o desfile dos séculos: "Imagina tu, leitor, uma redução dos séculos, e um desfilar de todos eles, as raças todas, todas as paixões, o tumulto dos impérios, a guerra dos apetites e dos ódios, a destruição recíproca dos seres e das coisas. Tal era o espetáculo, acerbo e curioso espetáculo. A história do homem e da terra tinha assim uma intensidade que lhe não podiam dar nem a imaginação nem a ciência, porque a ciência é mais lenta e a imaginação mais vaga, enquanto que o que eu ali via era a condensação viva de todos os tempos. Para descrevê-la seria preciso fixar o relâmpago. Os séculos desfilavam num turbilhão, e, não obstante, porque os olhos do delírio são outros, eu via tudo o que passava diante de mim, flagelos e delícias, desde essa coisa que se chama glória até essa outra que se chama miséria, e via o amor multiplicando a miséria, e via a miséria agravando a debilidade. Aí vinham a cobiça que devora, a cólera que inflama, a inveja que baba, e a enxada e a pena, úmidas de suor, e a ambição, a fome, a vaidade, a melancolia, a riqueza, o amor, e todos agitavam o homem, como um chocalho, até destruí-lo, como um farrapo. Eram as formas várias de um mal, que ora mordia a víscera, ora mordia o pensamento, e passeava eternamente as suas vestes de arlequim, em derredor da espécie humana. A dor cedia alguma vez, mas cedia à indiferença, que era um sono sem sonhos, ou ao prazer, que era uma dor bastarda. Então o homem, flagelado e rebelde, corria diante da fatalidade das coisas, atrás de uma figura nebulosa e esquiva, feita de retalhos, um retalho de impalpável, outro de improvável, outro de invisível, cosidos todos a ponto precário, com a agulha da imaginação; e essa figura, nada menos que a quimera da felicidade, ou lhe fugia perpetuamente, ou deixava-se apanhar pela fralda, e o homem a cingia ao peito, e então ela ria, como um escárnio, e sumia-se, como uma ilusão. " Os séculos passavam cada vez mais aceleradamente. Brás Cubas fixou o olhar porque veria passar o último século, mas a rapidez era tal que ele viu os objetos mudarem: uns cresciam, outros diminuíam e um nevoeiro cobriu tudo; o próprio hipopótamo também começou a diminuir, ficando do tamanho de um gato. Brás Cubas saía do delírio, pois era mesmo seu gato Sultão que brincava à porta do quarto. Capítulo VIII - Razão contra Sandice A Razão voltava e insistia que a Sandice saísse: "La maison est à moi, c 'est à vous d'en sortir. Brás Cubas, porém, pondera que a Sandice toma amor às casas alheias e é difícil ser despejada. Queria ficar, pois tentava descobrir o mistério da vida e o da morte... Capítulo IX Transição

19 Brás Cubas informa que fará, com destreza e arte, a maior transição do livro: como seu delírio ocorrera na presença de Virgília; como Virgília havia sido seu pecado da juventude; como não há juventude sem meninice; como não há meninice sem nascimento, assim ele chega ao dia do seu nascimento: 20 de outubro de "De modo que o livro fica assim com todas as vantagens do método, sem a rigidez do método." Capítulo X - Naquele dia "Naquele dia, a árvore dos Cubas brotou uma graciosa flor. " O nascimento de Brás Cubas havia sido intensamente festejado; o tio João, oficial de infantaria, via nele um olhar de Bonaparte, o tio Ildefonso, simples padre, já o via cônego. O pai, orgulhoso, perguntava a todos se Brás não era inteligente e bonito. Capítulo XI - O menino é pai do homem Acatando a afirmação de um poeta, segundo a qual o menino é o pai do homem, Brás Cubas confessa ter sido "dos mais malignos do meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e voluntarioso", e, desde os cinco anos, era chamado "menino diabo". Maltratava os escravos, fazia de Prudêncio seu cavalo de todos os dias, fustigando-o com uma varinha, indiferente a seus gemidos. O pai tinha por Brás Cubas grande admiração; repreendia-o por mera formalidade diante dos outros mas, em particular, beijava-o. A mãe, piedosa, fazia decorar orações, mas "era uma senhora fraca, de pouco cérebro e muito coração (...) temente às trovoadas e ao marido". O tio cônego fazia, em vão, reparos à educação que Brás Cubas recebia; tinha muita austeridade e pureza, que apenas compensavam um espírito medíocre. O outro tio, João, era um homem de vida libertina, que importunava as escravas com ditos e gestos maliciosos. Era dele que Brás Cubas, desde os onze anos, ouvia anedotas obscenas. A tia Emerenciana era bem diferente desses tios e tinha grande autoridade sobre Brás, mas com ela o convívio fora breve, apenas dois anos. "o que importa é a expressão geral do meio doméstico, e essa aí fica indicada, vulgaridade de caracteres, amor das aparências rutilantes, do arruído, frouxidão da vontade, domínio do capricho, e o mais. Dessa terra e desse estrume é que nasceu esta flor. Capítulo XII - Um episódio de 1814 Em 1814, quando Brás Cubas tinha nove anos, ocorreu a queda de Napoleão. Seu pai, que odiava o corso, ofereceu grande jantar em comemoração. Um dos presentes, o letrado Doutor Vilaça, pouco antes da sobremesa começou a declamar, colhendo a admiração da plateia. Assim estimulado, não interrompia a recitação. Brás Cubas, que ansiava por comer uma compota, pediu ao pai, em voz baixa, que lhe desse o doce. Não atendido, começou a berrar, a bater os pés; tia Emerenciana pediu que uma escrava o tirasse da sala. Brás Cubas, culpando Vilaça por sua expulsão e privação da sobremesa, resolveu vingar-se: faria algo que o expusesse ao ridículo. Ficou seguindo-o durante o resto da tarde; viu-o conversar com D. Eusébia. O Vilaça tinha quarenta e sete anos, era casado e pai, mas, tendo penetrado numa moita com D. Eusébia, trocava com ela confidencias amorosas; num dado momento, deu-lhe um beijo, "o mais medroso dos beijos". " O Doutor Vilaça deu um beijo em Dona Eusébia! bradei eu correndo pela chácara. Foi um estouro esta minha palavra; a estupefação imobilizou a todos; os olhos espraiavam-se a uma e outra banda; trocavam-se sorrisos, segredos, à socapa, as mães arrastavam as filhas pretextando o sereno. Meu pai puxou-me as orelhas, disfarçadamente, irritado deveras com a indiscrição; mas, no dia seguinte, ao almoço, lembrando o caso, sacudiu-me o nariz, a rir: Ah! brejeiro! ah! brejeiro!" Capítulo XIII - Um salto Brás Cubas diz preferir não se deter nos tempos de escola, "a enfadonha escola", mas recorda-se do mestre, Ludgero Barata.

20 "Vejo-te ainda agora entrar na sala, com as tuas chinelas de couro branco, capote, lenço na mão, calva à mostra, barba rapada; vejo-te sentar, bufar, grunhir, absorver uma pitada inicial, e chamar-nos depois à lição. E fizeste isto durante vinte e três anos, calado, obscuro, pontual, metido numa casinha da rua do Piolho, sem enfadar o mundo com a tua mediocridade, até que um dia deste o grande mergulho nas trevas, e ninguém te chorou, salvo um preto velho, ninguém, nem eu, que te devo os rudimentos da escrita." Recorda-se, ainda, do colega Quincas Borba, um menino gracioso, inventivo e travesso, que nas brincadeiras queria sempre o papel de rei, ministro, general; era garboso e dava gosto vê-lo de imperador nas festas do Espírito Santo. Capítulo XIV - O primeiro beijo Em 1822, com dezessete anos, Brás Cubas conheceu sua primeira paixão, uma moça espanhola chamada Marcela, "luxuosa, impaciente, amiga de dinheiro e de rapazes. Naquele ano, morria de amores por um certo Xavier, sujeito abastado e tísico uma pérola!". Viu-a pela primeira vez no Rocio Grande; viu-a três dias depois, em sua própria casa, nos Cajueiros, levado por tio João, que o convidara a ir "a uma ceia de moças". A saída, pediu ao tio que o aguardasse e voltou sozinho, com o pretexto de haver esquecido o lenço. A sós com Marcela, deu-lhe um beijo. Capítulo XV Marcela A conquista de Marcela durou trinta dias, em duas fases: a consular e a imperial. "Na primeira, que foi curta, regemos o Xavier e eu, sem que ele jamais acreditasse dividir comigo o governo de Roma; mas, quando a credulidade não pôde resistir à evidência, o Xavier depôs as insígnias, e eu concentrei todos os poderes na minha mão; foi a fase cesariana. " Marcela era uma paixão cara; a princípio, o pai cedia qualquer quantia que Brás Cubas lhe pedisse, mas, ao considerar o abuso, passou a limitar cada vez mais os valores; Brás Cubas, então, recorreu à mãe, que, todavia, não podia dar-lhe muito, e às escondidas. Brás Cubas, então, contando com a herança que receberia do pai, passou a fazer empréstimos, que, depois, pagaria com juros. Marcela amava os dobrões de ouro e as joias com que Brás a presenteava. Um dia, porém, como o moço não lhe pudesse dar um valioso colar, disse-lhe que o amor deles não precisava de tais estímulos, acrescentando que, de um antigo amante, que não era rico, só aceitara, sem relutância, presentes de pouco valor, como a pequena cruz de ouro que trazia ao seio. Brás Cubas, surpreso, lembrou que ela lhe afirmara ser presente do pai. " Não percebeste que era mentira, que eu dizia isso para te não molestar? Vem cá, chiquito, não sejas assim desconfiado comigo... Amei a outro; que importa, se acabou? Um dia, quando nos separarmos... Não digas isso! bradei eu. Tudo cessa! Um dia... Não pôde acabar; um soluço estrangulou lhe a voz; estendeu as mãos, tomou das minhas, conchegou-me ao seio, e sussurrou-me baixo ao ouvido: Nunca, nunca, meu amor! Eu agradeci-lhe com os olhos úmidos. No dia seguinte levei-lhe o colar que havia recusado. Capítulo XVI - Uma reflexão imoral Visto que, nesse momento, ocorre-lhe uma reflexão imoral, Brás Cubas diz querer corrigir o que dissera no capítulo XIV, que Marcela morria de amores pelo Xavier; na verdade, vivia. E se pergunta o que seria do amor se não fossem os joalheiros. Capítulo XVII - Do trapézio e outras coisas "Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. " Ao saber dos onze contos, o pai de Brás Cubas, furioso, exigiu o rompimento: o moço iria para a Europa, faria universidade em Coimbra.

21 Brás Cubas não se opôs à ideia da viagem porque tinha a intenção de levar Marcela consigo; a moça, porém, recusou. Brás Cubas implorou, mostrou-se desesperado, mas Marcela ouvia impassível, "fria como um pedaço de mármore". Brás teve uma ideia que lhe pareceu salvadora: convencê-la-ia com algo mais concreto: recorrendo a mais um empréstimo, comprou um pente de marfim adornado com três grandes brilhantes. Marcela prometeu que o acompanharia. Capítulo XVIII - Visão do corredor Três dias depois, Brás Cubas partiu sozinho, com uma ideia fixa: lançar-se ao mar, repetindo o nome de Marcela. Capítulo XIX- A bordo No navio havia onze passageiros e o pai de Brás recomendou-o a todos. O capitão não tirava os olhos de cima dele; quando não podia ficar a observá-lo, levava-o à mulher, tuberculosa em fase terminal. Uma noite, Brás resolveu suicidar-se, mas encontrou o capitão junto à amurada, olhando embevecido o esplendor da noite; apontando a lua, perguntou-lhe por que não fazia uma ode à noite. Brás respondeu que não era poeta. O capitão, então, tirou do bolso alguns sonetos de sua autoria e recitou-os com amor. A musa do capitão afastou de Brás o desejo de matar-se. No dia seguinte, uma tempestade. O passageiro louco pulava, outros rezavam, cheios de medo. Brás experimentou o horror da morte. Agora o capitão sempre lia seus versos para que Brás os apreciasse e a vida de sua mulher se esvaía; contou a Brás como se apaixonara, como ela lhe fora sempre fiel e dedicada e mostrou os poemas que fizera para ela. No dia em que a mulher morreu e foi lançada ao mar, Brás procurou consolar o capitão elogiando lhe os versos e oferecendo-se para publicá-los. No dia seguinte, levou a Brás Cubas um poema recém-composto em que rememorava as circunstâncias da morte da mulher e da singular sepultura que tivera. Leu-o com voz comovida e mãos trêmulas. Brás Cubas elogiou a composição. O capitão ponderou que talvez não tivesse talento, mas tinha sentimento, "se não é que o próprio sentimento prejudicou a perfeição". Brás respondeu que era perfeita; o capitão leu-a novamente, mas sem tremores, enfatizando a melodia dos versos e dando relevo às imagens. Depois, apertou a mão do moço e predisse-lhe um grande futuro. Capítulo XX - Bacharelo-me Grande futuro? Brás imaginou-se preeminente, talvez um naturalista, um literato, um banqueiro, um político ou um bispo, mas confessa ter-se aplicado pouco para isso; embora tivesse alcançado o grau de bacharel, havia sido um aluno medíocre: "um acadêmico estroina, superficial, tumultuado e petulante, dado às aventuras, fazendo romantismo prático e liberalismo teórico, vivendo na pura fé dos olhos pretos e das constituições escritas". Mas o diploma dava-lhe a liberdade, e Brás começou a sentir "uns ímpetos, uma curiosidade, um desejo de acotovelar os outros, de influir, de gozar, de viver..." Capítulo XXI - O almocreve Um dia em que Brás montava um jumento, o animal empacou. Brás fustigou o jumento, que corcoveou e jogou-o fora da sela, mas o pé do moço ficou preso no estribo; o animal deu dois saltos e ameaçava disparar, quando um almocreve, que lá estava, com grande esforço segurou-o pelas rédeas apesar do perigo e Brás pôde desvencilhar-se. Convencido de que o almocreve provavelmente lhe salvara a vida, Brás decidiu dar-lhe três das cinco moedas de ouro que trazia consigo. Enquanto pegava as moedas, Brás pensou que a recompensa talvez fosse excessiva, bastavam duas. Uma. Examinou as roupas do almocreve: era um pobre-diabo, que jamais vira uma moeda de ouro. Ouviu-o conversar com o jumento e depois dar-lhe um beijo na testa. O almocreve explicou: " Queira vosmecê perdoar, mas o diabo do bicho está a olhar para a gente com tanta graça... Ri-me, hesitei, meti-lhe na mão um cruzado em prata, cavalguei o jumento, e segui a trote largo, um pouco vexado, melhor direi um pouco incerto do efeito da pratinha. Mas a algumas braças de distância, olhei para trás, o almocreve faziame grandes cortesias, com evidentes mostras de contentamento. Adverti que devia ser assim mesmo; eu pagara-lhe bem, pagara-lhe talvez demais. Meti os dedos no bolso do colete que trazia no corpo e senti umas moedas de cobre; eram os vinténs que eu devera ter dado ao almocreve, em lugar do cruzado em prata. Porque, enfim, ele não levou em mira nenhuma recompensa ou virtude, cedeu a um impulso natural, ao temperamento, aos hábitos do oficio; acresce que a

22 circunstância de estar, não mais adiante nem mais atrás, mas justamente no ponto do desastre, parecia constituí-lo simples instrumento da Providência; e de um ou de outro modo, o mérito do ato era positivamente nenhum. Fiquei desconsolado com esta reflexão, chamei-me pródigo, lancei o cruzado à conta das minhas dissipações antigas; tive (por que não direi tudo?) tive remorsos. " Capítulo XXII - Volta ao Rio Brás Cubas já havia anos perambulava pela Europa e achava-se em Veneza quando recebeu uma carta do pai, em que pedia que voltasse depressa, pois a mãe estava à morte. Brás amava a mãe e disparou para o Rio de Janeiro. "Vim... Mas não; não alonguemos este capítulo. Às vezes, esqueço-me a escrever, e a pena vai comendo papel, com grave prejuízo meu, que sou autor. Capítulos compridos quadram melhor a leitores pesadões; e nós não somos um público in-folio, mas in-12, pouco texto, larga margem, tipo elegante, corte dourado e vinhetas... principalmente vinhetas... Não, não alonguemos o capítulo." Capítulo XXIII - Triste, mas curto Ao voltar à cidade natal, Brás Cubas experimentou viva emoção; confessa que tal não se devia ao reconhecimento da pátria política, mas à lembrança de sua meninice. A mãe agonizava, roída por um câncer, mas seu rosto iluminou-se ao ver o filho. A agonia foi longa e cruel; ao morrer só lhe restavam os ossos. Brás não se conformava; como uma criatura tão dócil, tão meiga e tão santa podia morrer em meio a tanto sofrimento, devastada por uma doença sem misericórdia? "Confesso que tudo aquilo me pareceu obscuro, incongruente, insano... Capítulo XXIV- Curto, mas alegre Nesse tempo, Brás Cubas já era um "fiel compêndio de trivialidade e presunção". Jamais se preocupara com o problema da vida e da morte. Reconhece que a Universidade lhe havia ensinado algumas coisas, mas delas só conservara "a fraseologia, a casca, a ornamentação..." "Talvez espante ao leitor a franqueza com que lhe exponho e realço a minha mediocridade; advirta que a franqueza é a primeira virtude de um defunto. Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz à consciência; e o melhor da obrigação é quando, à força de embaçar os outros, embaça-se um homem a si mesmo, porque em tal caso poupa-se o vexame, que é uma sensação penosa, e a hipocrisia, que é um vício hediondo. Mas, na morte, que diferença! que desabafo! que liberdade! Como a gente pode sacudir fora a capa, deitar ao fosso as lentejoulas, despregar-se, despintar-se, desafeitar-se, confessar lisamente o que foi e o que deixou de ser! Porque, em suma, já não há vizinhos, nem amigos, nem inimigos, nem conhecidos, nem estranhos; não há plateia. O olhar da opinião, esse olhar agudo e judicial, perde a virtude, logo que pisamos o território da morte; não digo que ele se não estenda para cá, e nos não examine e julgue; mas a nós é que não se nos dá do exame nem do julgamento. Senhores vivos, não há nada tão incomensurável como o desdém dos finados. " Capítulo XXV -Na Tijuca Depois da missa de 7º dia em memória da mãe, Brás, acompanhado de Prudêncio, isolou-se numa velha propriedade da família, na Tijuca; recusara o convite da irmã Sabina e do cunhado Cotrim para morar uns tempos com eles. Na solidão, começou a sentir certa hipocondria, "essa flor amarela, solitária e mórbida, de um cheiro inebriante e sutil". Passou, então, a sentir uma estranha sensação: a volúpia do aborrecimento. "Volúpia do aborrecimento: decora esta expressão, leitor; guarda-a, examina-a, e se não chegares a entendê-la, podes concluir que ignoras uma das sensações mais sutis desse mundo e daquele tempo. Uma semana depois estava farto da solidão, e se preparava para deixar a Tijuca, quando Prudêncio informou que Dona Eusébia e a filha haviam-se mudado, na véspera, para uma casa muito próxima dali. Brás Cubas lembrou-se do episódio de 1814 e sentiu certa vergonha, mas reconfortou-se, pois os fatos posteriores haviam-lhe dado razão: Dona Eusébia tivera uma filha e Vilaça, ao morrer, deixara-lhe um bom legado.

23 Informado por Prudêncio que Dona Eusébia vestira o corpo de sua mãe, Brás Cubas achou que lhe devia uma visita. Capítulo XXVI - O autor hesita Brás queria desvencilhar-se logo do compromisso da visita, mas, inesperadamente, apareceu seu pai, que lhe trazia dois projetos: um lugar de deputado e um casamento. Brás Cubas ponderou que não entendia de política e não pensava em casar-se, queria viver como urso. O pai insistiu, fê-lo ver as vantagens de uma posição política e de uma mulher formosa; não sairia de lá sem resposta. Brás Cubas não respondia; a um canto da mesa, escrevia aleatoriamente uma palavra, um verso, sem ordem, assim: arma virumque cano A Arma virumque cano arma virumque cano arma virumque arma virumque cano virumque Maquinalmente tudo isto; e, não obstante, havia certa lógica, certa dedução; por exemplo, foi o virumque que me fez chegar ao nome do próprio poeta, por causa da primeira sílaba; ia a escrever virumque, e sai-me Virgílio, então continuei: Vir Virgílio Virgílio Virgílio Virgílio Virgílio Meu pai, um pouco despeitado com aquela indiferença, ergueu-se, veio a mim, lançou os olhos ao papel... Virgílio! exclamou. És tu, meu rapaz; a tua noiva chama-se justamente Virgília." Capítulo XXVII- Virgília? Tratava-se da mesma Virgília que, em 1869, estava com Brás Cubas moribundo. Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação. Era isto Virgília, e era clara, muito clara, faceira, ignorante, pueril, cheia de uns ímpetos misteriosos; muita preguiça e alguma devoção, devoção, ou talvez medo; creio que medo." Capítulo XXVIII - Contanto que... Diante da insistência do pai, Brás Cubas admitiu considerar tanto a candidatura quanto o casamento, contanto que não fosse obrigado a aceitar a ambos. O pai observou que todo homem público deve ser casado. E acrescentou que não tivera tantos cuidados, que não gastara tanto dinheiro para não vê-lo brilhar. E aconselha: Teme a obscuridade, Brás; foge do que é ínfimo. Olha que os homens valem por diferentes modos, e o mais seguro de todos é valer pela opinião dos outros homens. Não estragues as vantagens da tua posição, os teus meios..." Nesse momento, Brás Cubas viu que murchava a "flor da hipocondria" e brotava outra: o amor da fama, que o levará a conceber o emplasto Brás Cubas. Capítulo XXIX- A visita O pai vencera: Brás acabou aceitando a candidatura e o casamento.

24 Nesse mesmo dia, à tarde, foi visitar Dona Eusébia, que o recebeu com alegria; pediu que Brás falasse de sua viagem, dos estudos, dos namoros... Brás, neste instante, recordou-se do acontecido em 1814, da moita, do beijo... Suas lembranças foram interrompidas por um ruído de saias e alguém chamando: " Mamãe... mamãe... " Capítulo XXX - A flor da moita Uma mocinha morena parou à porta. Era Eugênia, filha de Dona Eusébia, que a fez entrar para que cumprimentasse o Doutor Brás Cubas, que voltara da Europa. Brás reconhece a moça como "a flor da moita", pois nascera da relação adúltera do Vilaça com Dona Eusébia. Eugênia tinha, então, dezesseis anos, era quieta e serena; a mãe a elogiava e ela apenas sorria, com os olhos brilhantes, "como se lá dentro do cérebro lhe estivesse a voar uma borboletinha de ouro e olhos de diamante"... Mas foi uma borboleta preta que entrou na varanda, assustando Dona Eusébia. Brás expulsou a borboleta; depois se despediu e saiu rindo da superstição das duas mulheres. Capítulo XXXI - A borboleta preta No dia seguinte, uma borboleta, maior e mais negra que a que assustara Dona Eusébia e Eugênia, entrou no quarto de Brás Cubas, que a matou. Brás ficou aborrecido e incomodado, mas consolou-se dizendo consigo: " Também por que diabo não era ela azul? " Ponderou, depois, que, se fosse azul ou cor de laranja, não teria tido mais sorte, mas acabou voltando à primeira ideia, que para ela teria sido melhor nascer azul. Capítulo XXXII- Coxa de nascença Nesse dia Brás tinha a intenção de deixar a Tijuca, mas Dona Eusébia apareceu e convidou Brás Cubas a jantar em sua casa. Como insistisse muito, Brás cedeu. Eugênia apresentou-se muito simples, num vestido branco sem enfeites, e não trazia nenhuma joia; apesar da singeleza, Brás notou-lhe a graça natural e admirou seu espírito, suas ideias claras e maneiras diretas. Após o jantar, Dona Eusébia quis mostrar-lhe a chácara. Brás notou que Eugênia coxeava um pouco e perguntou se havia machucado o pé. A moça respondeu sem titubear que era coxa de nascença. Brás achou-se desastrado e grosseirão; durante o passeio, olhava a moça de soslaio, mas pode reconhecer que o olhar de Eugênia "não era coxo, mas direto, perfeitamente são"; seus olhos pretos e tranquilos fitavam-no com franqueza e sem temeridade. Capítulo XXXIII - Bem-aventurados os que não descem Brás Cubas não se conformava com o defeito de Eugênia: tão bela e coxa! Esse contraste o fazia pensar que a natureza às vezes é um "imenso escárnio: Por que bonita, se coxa? Por que coxa, se bonita?". Fazia-se sempre essa mesma pergunta sem conseguir respondê-la; resolveu enxotar "essa outra borboleta preta", que esvoaçava em seu cérebro. Reconheceu-se envolvido com Eugênia, adiava a partida, porque não queria afastar-se de sua "Vênus Manca". "Queria-lhe, é verdade; ao pé dessa criatura tão singela, filha espúria e coxa, feita de amor e desprezo, ao pé dela sentia-me bem, e ela creio que ainda se sentia melhor, ao pé de mim," Ao saber que Brás pretendia ir-se no domingo, Eugênia pediu-lhe que não descesse. Brás pensou: " Bem-aventurados os que não descem, porque deles é o primeiro beijo das moças". Com efeito, naquele domingo, beijaram-se pela primeira vez. Eugênia entregara-se candidamente, comovida, com os braços nos ombros de Brás, vendo nele seu futuro marido, enquanto Brás... "(...) e eu com os olhos em 1814, na moita, no Vilaça, e a suspeitar que não podias mentir ao teu sangue, à tua origem (...)

25 Capítulo XXXIV - A uma alma sensível Brás supõe que entre seus cinco ou dez leitores possa haver uma alma sensível que se tenha chocado com o capítulo anterior e comece a temer pelo destino de Eugênia, considerando-o um cínico. "Eu cínico, alma sensível? Pela coxa de Diana! esta injúria merecia ser lavada com sangue, se o sangue lavasse alguma coisa nesse mundo. Não, alma sensível, eu não sou cínico, eu fui homem; meu cérebro foi um tablado em que se deram peças de todo gênero, o drama sacro, o austero, o piegas, a comédia louça, a desgrenhada farsa, os autos, as bufonerias, um pandemônio, alma sensível, uma barafunda de coisas e pessoas em que podias ver tudo, desde a rosa de Esmirna até a arruda do teu quintal, desde o magnífico leito de Cleópatra até o recanto da praia em que o mendigo tirita o seu sono. Cruzavam-se nele pensamentos de vária casta e feição. Não havia ali a atmosfera somente da água e do beija-flor; havia também a da lesma e do sapo. Retira, pois, a expressão, alma sensível, castiga os nervos, limpa os óculos, que isso às vezes é dos óculos, e acabemos de uma vez com esta flor da moita." Capítulo XXXV - O caminho de Damasco Brás resolveu deixar a Tijuca, imediatamente, por dois motivos: a piedade, pois Eugênia o desarmava com sua candura, e o medo de vir a amá-la e desposá-la. "Uma mulher coxa!" Eugênia descobriu logo a razão da partida. Ao despedir-se, apertou a mão de Brás com simplicidade e disse: " Faz bem em fugir ao ridículo de casar comigo. " Retirou-se, engolindo as lágrimas. Brás alcançou-a e jurou que tinha obrigações, por isso partia; afirmou querer-lhe muito e perguntou se ela acreditava. Serena, Eugênia respondeu: " Não, e digo-lhe que faz bem." Capítulo XXXVI - A propósito de botas De volta à casa paterna, Brás foi recebido com alegria pelo pai, que não o esperava; não respondeu, porém, às perguntas que o pai lhe fazia: correu a tirar as botas, que estavam apertadas. Já aliviado, refletiu que botas apertadas são uma das maiores felicidades da terra, porque, ao provocarem dor, provocam o imenso prazer de as descalçar. "Enquanto essa ideia me trabalhava no famoso trapézio, lançava eu os olhos para a Tijuca, e via a aleijadinha perderse no horizonte do pretérito, e sentia que o meu coração não tardaria também a descalçar as suas botas. " Daí a poucos dias livrou-se do incômodo que lhe despertava a lembrança de Eugênia; concluiu, então, que a vida é um fenômeno engenhoso; inventou os calos porque eles aperfeiçoam a felicidade terrestre; toda a sabedoria humana não vale um par de botas curtas. "Tu, minha Eugênia, é que não as descalçaste nunca; foste aí pela estrada da vida, manquejando da perna e do amor, triste como os enterros pobres, solitária, calada, laboriosa, até que vieste também para esta outra margem... O que eu não sei è se a tua existência era muito necessária ao século. Quem sabe? Talvez um comparsa de menos fizesse patear a tragédia humana. " Capítulo XXXVII - Enfim! Brás Cubas vai conhecer a noiva, Virgília, filha do Conselheiro Dutra; antes de saírem Brás perguntara ao pai se havia algum arranjo prévio de casamento. O pai negou, dizendo que acreditava que o filho, uma vez casado, mais depressa seria deputado, e passou a elogiar a moça, uma jóia, uma flor, uma estrela, uma coisa rara. Ao ser apresentado a Virgília, Brás pôde constatar que os elogios do pai não eram exagerados; no fim de um mês estavam íntimos. Capítulo XXXVIII - A quarta edição

26 Brás Cubas jantaria na casa da noiva, mas antes queria dar umas voltas, enquanto a sege o esperava. Na rua do Ouvidor, ao consultar o relógio, caiu-lhe o vidro. Entrou na primeira loja, pequena, escura e empoeirada. Atrás do balcão, estava uma mulher; via-se que fora bonita, mas achava-se precocemente envelhecida, trazia o rosto devastado pela varíola e o cabelo estava ruço e cheio de poeira; no dedo, brilhava um diamante. Era Marcela que, ao reconhecer Brás, ensaiou esconder-se ou fugir, mas permaneceu e sorriu. Depois, falou de sua vida, das lágrimas que chorara com a partida de Brás, da doença. Vendera quase todos os bens, tinha agora aquela loja de ourivesaria, que lhe havia deixado um dos amantes. Quis que Brás lhe falasse também de sua vida, e perguntou se já havia casado. Brás alegou ter que ir à outra loja comprar o vidro do relógio. Marcela, porém, chamou um moleque e o incumbiu da compra. Nesse tempo, comentou que gostaria de ter de novo a proteção dos conhecidos do passado; prometeu a Brás que, quando ele casasse, vender-lhe-ia jóias a bons preços. Brás suspeitou que Marcela não tivera nenhum problema financeiro, ainda dispunha de bom dinheiro, e mantinha a loja pela paixão do lucro, "que era o verme roedor daquela existência". Foi, aliás, o que depois confirmaram a Brás. Capítulo XXXIX - O vizinho Enquanto aguardavam o retorno do moleque, entrou na loja um vizinho que trazia uma menina de quatro anos pela mão. Ergueu-a nos braços, dizendo que pedisse a benção à Dona Marcela. Contou, em seguida, que a filha tinha paixão por Marcela: na véspera quisera oferecer as orações não a Nossa Senhora, mas a Santa Marcela. Quando pai e filha saíram, Marcela disse a Brás que era um relojoeiro da vizinhança, gente boa. Brás pode perceber nesse momento um tom de alegria na voz de Marcela e uma onda de felicidade em seu rosto. Capítulo XL - Na sege O moleque voltou com o vidro do relógio. Brás prometeu a Marcela que voltaria e partiu, com o coração batendo, mas era "uma espécie de dobre de finados". O dia amanhecera bom, mas aquela volta do passado o aborrecera. Meteu-se na sege e ordenou ao boleeiro que corresse. Remoía consternado aquele encontro; parecia-lhe que a sege não andava e repreendeu o boleeiro, que, espantado, informou já estarem parados à porta do Conselheiro Dutra. Capítulo XLI - A alucinação Brás encontrou Virgília ansiosa e de mau humor; reclamou que o esperava mais cedo. Brás desculpou-se, alegando que um amigo o retivera. De repente, calou-se: via o belo rosto de Virgília desfigurado pela varíola e fez um gesto de repulsa, Virgília afastou-se. Brás viu-lhe o rosto de novo fresco e belo, a pele fina e branca. Brás continuou a falar, mas Virgília, amuada, ouvia-o calada e não o olhava. Tinha as sobrancelhas contraídas e Brás pode notar que ela sofria. Capítulo XLII - Que escapou a Aristóteles Os dois encontros levaram Brás a uma reflexão, segundo ele, metafísica: dá-se movimento a uma bola que, rolando, encontra outra bola, fazendo-a também rolar. A primeira bola seria Marcela, a segunda Brás Cubas e a terceira Virgília, que não tinha nada com Marcela; os extremos sociais se tocam e se estabelece a "solidariedade do aborrecimento humano. Capítulo XLIII - Marquesa, porque eu serei marquês Frustram-se os projetos de Brás Cubas com o aparecimento de Lobo Neves, que lhe tomou Virgília e a candidatura, embora não tivesse nenhuma qualidade superior; mas o Conselheiro Dutra explicou a Brás que a candidatura de Lobo Neves era apoiada por pessoas muito influentes. Um dia, Virgília perguntou a Lobo Neves quando ele seria ministro. Lobo Neves disse-lhe que, por sua vontade, seria imediatamente, mas demoraria um ano. Perguntou-lhe, então, se a faria baronesa. Lobo Neves prometeu fazê-la marquesa, pois seria marquês. Comparando a águia (Lobo Neves) com o pavão (Brás Cubas), Virgília escolheu a águia, restando ao pavão o espanto, o despeito e, talvez, cinco beijos. Capítulo XLIV- Um Cubas!

27 O pai de Brás não pôde conformar-se com o desabar de seus sonhos. Não admitia um Cubas preterido e morreu quatro meses depois amargurado, triste, abatido pelo desencanto. Capítulo XLV Notas Apesar de ter tomado muitas notas sobre os procedimentos do velório e do enterro para redigir um capítulo, Brás Cubas informa que não vai escrevê-lo, pois seria vulgar e triste. Capítulo XLVI - A herança Oito dias após a morte do pai, Brás Cubas discute com a irmã Sabina e o cunhado Cotrim o espólio do pai. Além da disputa pela posse das casas, disputaram os escravos, a sege, o boleeiro... Cotrim, que havia reclamado a posse de Prudêncio, indignou-se ao saber que o sogro o libertara havia dois anos. Chegou-se à prataria, que era valiosa e antiga, do tempo de D. José I, presenteada ao bisavô Luís Cubas pelo Conde da Cunha. Cotrim dela fazia questão por ser desejo de Sabina, mas Brás resolveu não ceder. Sabina acusou-o de querer-lhe a roupa do corpo. Agastado, Brás propôs dividirem a prataria; Sabina recusou e ofereceu de volta Paulo e um outro escravo para ter toda a prataria para si. Cotrim opôs-se, afirmando que não fazia esmolas. Durante o jantar estavam todos tristes. A sobremesa apareceu o tio cônego que, ouvindo a discussão, observou que o irmão deixara um pão bem grande para ser repartido. Cotrim atalhou: " Creio, creio. A questão, porém, não é de pão, é de manteiga. Pão seco é que eu não engulo. Conseguiram fazer a partilha, mas estavam brigados. " Capítulo XLVII - O recluso Brás Cubas foi-se deixando viver, meio recluso, entre a ambição e o desânimo. Escrevia sobre política e fazia literatura, alcançando certa reputação como polemista e poeta. Às vezes, lembrava-se de Lobo Neves, já deputado, e de Virgília, futura marquesa; perguntava-se, então, se não seria melhor deputado e melhor marquês. Afinal dizia-se olhando para o próprio nariz valia muito mais, era muito mais que ele... Capítulo XLVIII - Um primo de Virgília Luís Dutra, primo de Virgília, estava no Rio de Janeiro, vindo de São Paulo. Era poeta, suas composições agradavam, mas tinha necessidade de que as pessoas confirmassem a aprovação. Acanhado, não perguntava sobre seus versos a ninguém, aguardava e ouvia com alegria palavras de apreço, que o estimulavam. Brás Cubas sabia que as composições de Luís Dutra valiam mais que as suas e, quando o moço o procurava com alguma produção nova, esperando de Brás um comentário, desviava o assunto, falando de tudo, menos de literatura. Brás confessa que sua intenção era fazer Luís Dutra duvidar de si mesmo, desanimá-lo, eliminá-lo, sempre olhando a ponta de seu próprio nariz. Capítulo XLIX- A ponta do nariz A essa altura de suas memórias, Brás dirige-se ao leitor, perguntando-lhe se alguma vez meditou no destino do nariz e declara, em seguida, ter encontrado "a única, verdadeira e definitiva explicação" ao olhar o costume do faquir. O faquir, segundo Cubas, fica longas horas olhando a ponta do nariz; perde, então, o sentimento das coisas eternas, e vê a luz celeste. Brás declara que "essa sublimação do ser pela ponta do nariz é o fenômeno mais excelso do espírito". Acrescenta que tal contemplação tem, como efeito, a subordinação do universo a um nariz somente e constitui o equilíbrio das sociedades. "A conclusão, portanto, é que há duas forças capitais: o amor, que multiplica a espécie, e o nariz, que a subordina ao indivíduo. Procriação, equilíbrio." Capítulo L- Virgília casada Foi Luís Dutra quem deu a Brás a informação de que Virgília casara-se com Lobo Neves. No dia seguinte ao da notícia, Brás a viu: estava magnífica, uma mulher esplêndida; apenas cumprimentaram-se.

28 Viu-a oito dias depois, num baile, e trocaram algumas palavras. Noutro baile, um mês depois, dançou uma valsa com ela; ao ter junto ao seu aquele corpo, Brás teve a sensação de que fora roubado. Três semanas depois Lobo Neves o convidava para uma reunião íntima. Ao recebê-lo, Virgília intimou-o a valsar com ela. Dançou não uma, mas duas vezes. Brás afirma ter certeza de que a valsa foi a perdição deles. Capítulo LI - É minha! Ao chegar a casa, Brás exultava: "É minha!" De repente, viu no chão uma moeda de ouro e recolheu-a; "É minha!" No dia seguinte teve escrúpulos; reconheceu que não podia ficar com a moeda e decidiu devolvê-la ao dono. Escreveu, então, ao chefe de polícia pedindo-lhe que recorresse a todos os meios para que a moeda, que enviava junto com a carta, chegasse ao verdadeiro dono. Desde a véspera Brás trazia a consciência pesada por causa da valsa e esse ato devolveu-lhe uma certa paz de espírito. "Assim eu, Brás Cubas, descobri uma lei sublime, a lei da equivalência das janelas, e estabeleci que o modo de compensar uma janela fechada é abrir outra, afim de que a moral possa arejar continuamente a consciência. " Capítulo Lll - O embrulho misterioso Uns dias depois, na praia, Brás achou um embrulho muito bem feito e, curioso, deu-lhe um pontapé, mas o embrulho não se desfez. Salvo algumas crianças, a praia estava deserta; Brás resolveu apanhar o embrulho e levá-lo. Em casa, enquanto o abria, imaginou que o embrulho pudesse conter lenços velhos ou goiabas podres, mas lá estavam, arrumadinhos, cinco contos de réis. Tornou a fazer o embrulho perguntando-se se alguém poderia tê-lo visto na praia. À noite, na casa de Lobo Neves, encontrou o chefe de polícia, que contou aos presentes o episódio da devolução da moeda de ouro, e Brás percebeu que Virgília aprovava feliz seu procedimento. Durante a semana, Brás procurou não pensar nos cinco contos, mantidos quietinhos na gaveta. Depois, começou a achar que o achado fora um "lance da Providência", pois ninguém perdia cinco mil réis tão tolamente, numa praia. Três semanas depois, já se tendo convencido de que não praticara nenhum crime ou desonra, disse consigo que, mais tarde, empregaria o dinheiro numa boa ação; foi, no mesmo dia, depositá-lo no Banco do Brasil. No banco, foi muito cumprimentado por pessoas às quais chegara a notícia da devolução da solitária moeda de ouro; Brás observou que não era caso de tanta celebração e as pessoas admiraram sua grande modéstia. Capítulo LIII -... O amor entre Brás Cubas e Virgília brotara impetuosamente e crescia vigorosamente. Certa noite, beijaram-se; beijo breve e ardente, "prólogo de uma vida de delícias, de terrores, de remorsos, de prazeres..." Capítulo LIV - A pêndula À noite, depois do beijo, Brás não conseguiu dormir. Ficou a contar as horas, acompanhando o bater da pêndula. Tecia deliciosas fantasias; seu pensamento voou em direção à casa de Virgília, onde encontrou o pensamento dela no peitoril de uma janela. "Nós a rolarmos na cama, talvez com frio, necessitados de repouso, e os dois vadios ali postos, a repetirem o velho diálogo de Adão e Eva. " Capítulo LV O velho diálogo Adão e Eva... "Brás Cubas...? Virgília... Brás Cubas... Virgília...! Brás Cubas...

29 Virgília......? Brás Cubas... Virgília... Brás Cubas !......!......! Virgília...? Brás Cubas...! Virgília...! Capítulo LVI - O momento oportuno Brás Cubas perguntava-se a razão daquela mudança. No passado haviam-se prometido casamento e, em seguida, haviam se separado sem dor nem mágoa, porque não havia paixão a uni-los; como agora amavam-se com delírio? Dois anos depois do primeiro beijo, Brás achou uma explicação: o passado não fora o momento oportuno para o amor deles. Brás, então, ponderou que passara por grandiosa evolução de importuno a oportuno. Capítulo LVII Destino Virgília confessou a Brás Cubas que às vezes sentia alguns remorsos, mas amá-lo era vontade do céu. Brás tinha certeza, então, de que Virgília falava a verdade, pois era um pouco religiosa, embora recriminasse a beatice. Durante algum tempo Brás achou que Virgília tinha certa vergonha de sua fé e a mantinha por ser confortável. Capítulo LVIII Confidência Brás frequentava a casa de Lobo Neves e Virgília e, a princípio, sobressaltava-se, pois sabia o quanto Lobo Neves adorava a mulher. Um dia Lobo Neves abriu-se em confidencias e confessou a Brás Cubas sua decepção com a vida pública. Buscara-a por gosto, ambição e vaidade, mas não alcançara a glória e a fama. Brás Cubas tentou confortá-lo, inutilmente. Lobo Neves calara-se, em profundo abatimento; nisso chegaram dois deputados e um chefe político da paróquia. Lobo Neves recebeu-os com uma alegria que parecia falsa, mas depois de meia hora ninguém duvidaria de que não fosse o mais feliz dos homens. Capítulo LIX - Um encontro Ao sair da casa de Lobo Neves, ocorreu a Brás que poderia ser ministro e gostou tanto da ideia que se sentou num banco do Passeio Público, a remoê-la com deliciosa sensação. Alguns minutos depois, viu que se encaminhava em sua direção uma pessoa que lhe pareceu conhecida. ''Imaginem um homem de trinta e oito a quarenta anos, alto, magro e pálido. As roupas, salvo o feitio, pareciam ter escapado ao cativeiro de Babilônia; o chapéu era contemporâneo do de Gessler. Imaginem agora uma sobrecasaca, mais larga do que pediam as carnes, ou, literalmente, os ossos da pessoa; a cor preta ia cedendo o passo a um amarelo sem brilho; o pelo desaparecia aos poucos; dos oito primitivos botões restavam três. As calças, de brim pardo, tinham duas fortes joelheiras, enquanto as bainhas eram roídas pelo tacão de um botim sem misericórdia nem graxa. Ao pescoço flutuavam as pontas de uma gravata de duas cores, ambas desmaiadas, apertando um colarinho de oito dias. Creio que trazia também colete, um colete de seda escura, roto a espaços, e desabotoado. Aposto que me não conhece, Senhor Doutor Cubas? disse ele. Não me lembra... Sou o Borba, o Quincas Borba. Recuei espantado... Quem me dera agora o verbo solene de um Bossuet ou de Vieira, para contar tamanha desolação! Era o Quincas Borba, o gracioso menino de outro tempo, o meu companheiro de colégio, tão inteligente e abastado. Quincas Borba! Não; impossível; não pode ser. Não podia acabar de crer que essa figura esquálida, essa barba pintada de branco, esse maltrapilho avelhentado, que toda essa ruína fosse o Quincas Borba. Mas era. Os olhos tinham um resto da expressão de outro tempo, e o sorriso não perdera certo ar escarninho, que lhe era peculiar. Entretanto, ele su-

30 portava com firmeza o meu espanto. No fim de algum tempo arredei os olhos; afigura-se repelia, a comparação acabrunhava. Não é preciso contar-lhe nada, disse ele enfim; o senhor adivinha tudo. Uma vida de misérias, de atribulações e de lutas. Lembra-se das nossas festas, em que eu figurava de rei? Que trambolhão! Acabo mendigo... E alçando a mão direita e os ombros, com um ar de indiferença, parecia resignado aos golpes da fortuna, e não sei até se contente. Talvez contente. Com certeza, impassível. Não havia nele a resignação cristã, nem a conformidade filosófica. Parece que a miséria lhe calejara a alma, a ponto de lhe tirar a sensação de lama. Arrastava os andrajos, como outrora a púrpura: com certa graça indolente. Procure-me, disse eu, poderei arranjar-lhe alguma coisa. Um sorriso magnífico lhe abriu os lábios. Não é o primeiro que me promete alguma coisa, replicou, e não sei se será o último que não me fará nada. E para quê? Eu nada peço, a não ser dinheiro; dinheiro sim, porque é necessário comer, e as casas de pasto não fiam. Nem as quitandeiras. Uma coisa de nada, uns dois vinténs de angu, nem isso fiam as malditas quitandeiras... Um inferno, meu... ia dizer meu amigo... Um inferno! o diabo! todos os diabos! Olhe, ainda hoje não almocei. Não? Não; saí muito cedo de casa. Sabe onde moro? No terceiro degrau das escadas de São Francisco, à esquerda de quem sobe; não precisa bater na porta. Casa fresca, extremamente fresca. Pois saí cedo, e ainda não comi... Tirei a carteira, escolhi uma nota de cinco mil-réis, a menos limpa, e dei-lha. Ele recebeu-ma com os olhos cintilantes de cobiça. Levantou a nota ao ar, e agitou-a entusiasmado. In hoc signo vinces! bradou. E depois a beijou, com muitos ademanes de ternura, e tão ruidosa expansão, que me produziu um sentimento misto de nojo e lástima. Ele, que era arguto, entendeu-me; ficou sério, grotescamente sério, e pediu-me desculpa da alegria, dizendo que era alegria de pobre que não via, desde muitos anos, uma nota de cinco mil-réis. Pois está em suas mãos ver outras muitas, disse eu. Sim? acudiu ele, dando um bote para mim. Trabalhando, concluí eu. Fez um gesto de desdém; calou-se alguns instantes; depois me disse positivamente que não queria trabalhar. Eu estava enjoado dessa abjeção tão cômica e tão triste, e preparei-me para sair. Não vá sem eu lhe ensinar a minha filosofia da miséria, disse ele, escarranchando-se diante de mim." Capítulo IX - O abraço Brás Cubas queria afastar-se mas Quincas Borba pegou-lhe o pulso e admirou-lhe o brilhante que trazia no dedo. Em seguida, examinou as elegantes roupas, os sapatos e quis saber se Brás havia casado. Brás tentou dar seu endereço, mas Quincas Borba interrompeu-o; se se vissem novamente, aceitaria outra nota de cinco mil réis, mas, por orgulho, não a buscaria na casa do amigo. Quando Brás se despediu, Quincas quis agradecê-lo com um abraço. Brás afastou-se, triste: "queria ver-lhe a miséria digna"; ia consultar as horas, mas não achou o relógio: Quincas Borba o furtara no abraço. Capítulo LXI - Um projeto Brás jantou, ainda triste; resolveu ir à casa de Virgília; antes, teve a idéia de passar pelo Passeio Público para ver se achava Quincas Borba, pois considerara a necessidade de regenerá-lo. Não o achou e foi ter com Virgília. Capítulo LXII - O travesseiro Foi ter com Virgília, na certeza de que cinco minutos em sua companhia o fariam esquecer Quincas Borba, pois a amante "era o travesseiro do meu espírito, um travesseiro mole, tépido, aromático, enfronhado em cambraia e bruxelas", onde Brás descansava das sensações más, aborrecidas ou dolorosas... não era outra a razão da existência de Virgília. Capítulo LXIII - Fujamos! Três semanas depois, achou Virgília abatida: ela achava que o marido desconfiava de alguma coisa; o medo a fazia dormir mal, naquela noite sonhara que Damião ia matá-la. Enquanto tentava tranquilizá-la, Brás pôs-se a imaginar estar longe com Virgília, onde não houvesse marido, nem casamento, nem moral; uma casa só deles. Animado com essa idéia, Brás propôs que fugissem, pois Lobo Neves poderia vir a descobrir o adultério e, de qualquer forma, Virgília estaria perdida, pois ele o mataria. Virgília empalideceu, depois disse que talvez não adiantasse: o marido a procuraria e, encontrando-a, matava-a.

31 Brás procurava convencê-la, dizendo que o mundo era muito vasto, quando Lobo Neves chegou. Depois de brincar com o filho, Lobo Neves informou ter reservado um camarote para ouvir a Candiani, cantora lírica italiana, Virgília alvoroçou-se: bateu palmas e mostrou-se preocupada com a toalete que vestiria. Durante o jantar, Brás nem olhou para Virgília, tão encolerizado estava. Capítulo LXIV - A transação A atitude de Virgília fez Brás Cubas suspeitar que ela não o amasse mais. No dia seguinte, não pôde conter-se: foi à casa de Virgília, que o recebeu com olhos vermelhos de choro e acusou-o de não mais amá-la, de tratá-la mal. Brás Cubas tranquilizou-a, jurou-lhe afeição e, confessando ciúmes de Lobo Neves, voltou a propor a necessidade de uma casinha só deles. Virgília concordou, observando que, para isso, nem precisariam fugir. Capítulo LXV - Olheiros e escutas Foram interrompidos por um escravo que anunciava a visita da baronesa X. Brás Cubas despediu-se mas, logo depois, arrependeu-se de ter saído, pois a baronesa era uma das pessoas que mais desconfiavam deles. Ocorreu-lhe que outras pessoas também desconfiavam: o Viegas, parente de Virgília, velho, doente e avaro; e, ainda, o primo Luís Dutra, mas esse Cubas controlava elogiando-lhe os versos... Capítulo LXVI -As pernas Enquanto Brás refletia, suas pernas o levaram a jantar no hotel Pharoux, e agradece-lhes: "E cumpristes à risca vosso propósito, amáveis pernas, o que me obriga a imortalizar-vos nesta página." Capítulo LXVII - A casinha Ao voltar do jantar, encontrou uma caixa de charutos que lhe mandara Lobo Neves; dentro, havia um bilhete de Virgília, em que lhe dizia que tudo estava perdido, não se veriam mais. Apesar do golpe, Brás foi à casa da amante; a baronesa a advertira que já se falava muito sobre os dois. Brás insistiu em que fugissem; Virgília não concordava: "Vi que era impossível separar duas coisas que no espírito dela estavam inteiramente ligadas: o nosso amor e a consideração pública. Virgília era capaz de iguais e grandes sacrifícios para conservar ambas as vantagens, e a fuga só lhe deixava uma." Optaram pela casinha. Brás achou-a alguns dias depois, na Gamboa; nela moraria uma senhora, que fora costureira e agregada na casa de Virgília. Brás estava contente; cansado de conviver com as coisas do "outro", a casinha lhe dava a aparência de posse exclusiva, o que lhe permitia "adormecer a consciência e resguardar o decoro. Capítulo LXVIII- O vergalho Brás caminhava pelo Valongo quando viu um ajuntamento; era um preto que chicoteava outro, que gemia e implorava perdão. Indiferente às súplicas, o preto continuava a surra. Brás reconheceu-o: era Prudêncio. Brás pediu-lhe que parasse com a surra e Prudêncio obedeceu-lhe. "Nhonhô manda, não pede". "Era um modo que o Prudêncio tinha de se desfazer das pancadas recebidas, transmitindo-as a outro. Eu, em criança, montava-o, punha-lhe um freio na boca, e desancava-o sem compaixão; ele gemia e sofria. Agora, porém, que era livre, dispunha de si mesmo, dos braços, das pernas, podia trabalhar, folgar, dormir, desaguilhoado da antiga condição, agora é que ele se desbancava: comprou um escravo, e ia-lhe pagando, com alto juro, as quantias que de mim recebera. Vejam as sutilezas do maroto!"

32 Capítulo LXIX - Um grão de sandice O episódio de Prudêncio fez Brás Cubas lembrar-se de um louco que conhecera, que se dizia Tamerlão. " Eu sou o ilustre Tamerlão, dizia ele. Outrora fui Romualdo, mas adoeci, e tomei tanto tártaro, tanto tártaro, tanto tártaro, que fiquei Tártaro, e até rei dos Tártaros. O tártaro tem a virtude de fazer Tártaros. " Capítulo LXX - Dona Plácida Virgília decorara a casinha com muito gosto. Custou muito à sua antiga agregada, Dona Plácida, aceitar a casa, pois suspeitava a que serviria. O oficio de alcoviteira doía-lhe, chegara a chorar, mas cedeu, apesar do nojo de si mesma. Mal olhava para Brás, embora a tratasse com carinho. Quando Brás fez-lhe um pecúlio de cinco contos de réis os que achara na praia Dona Plácida agradeceu com lágrimas nos olhos. Assim se acabou o nojo de Dona Plácida, que agora rezava por Brás todas as noites. Capítulo LXXI - O senão do livro Brás confessa começar a arrepender-se de escrever suas memórias, ao reconhecer que o maior defeito do livro... "(...) és tu leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direita e nutrida, o estilo regular efluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem..." Capítulo LXXII - O bibliômano Brás divaga sobre a possibilidade de o seu livro cair, setenta anos depois, nas mãos de um bibliômano, que o teria achado num alfarrábio. Apesar do valor ínfimo que teria pago por ele, ao sabê-lo único, sentir-se-ia um bem-aventurado, e rejeitaria quaisquer outros louvores. Capítulo LXXIII - O luncheon Brás Cubas, que já comparara seu estilo ao andar dos ébrios, agora o compara ao lanche que, às vezes, fazia com Virgília. Entre vinhos, frutas e compotas, trocavam palavrinhas ternas, criancices... Às vezes convidavam Dona Plácida, que sempre recusava, o que levou Virgília a dizer-lhe, um dia, que Dona Plácida não gostava mais dela. Dona Plácida reagiu, afirmando, entre lágrimas, que Virgília era a pessoa de quem mais gostava no mundo. Virgília acariciou-a e Brás deu-lhe uma pratinha. Capítulo LXXIV - A história de Dona Plácida Alguns dias depois, Dona Plácida contou sua história a Brás Cubas. Era filha natural de um sacristão e de uma doceira. Quando tinha dez anos, morreu-lhe o pai; nessa época já ajudava a mãe a fazer doces. Casara-se com um alfaiate e tivera uma filha, mas enviuvara cedo. Fazendo doces e alguma costura, sustentara a mãe, a filha e a si. Desejara casar-se de novo, mas não tivera pretendentes; apesar dos conselhos da mãe, não aceitara amantes de ocasião. A mãe morrera e a filha fugira com um sujeito; já quase velha e doente, ficara como agregada na casa de Virgília até o casamento dela. Depois, vivera ao deus-dará, temendo acabar na rua, pedindo esmola... Capítulo LXXV Comigo Quando Dona Plácida se retirou, Brás Cubas ponderou que o nascimento dela devera-se à "conjunção de luxúrias vadias" e que, se ela pudesse falar ao nascer, teria perguntado aos pais por que a haviam chamado; eles, então, responderiam naturalmente: " Chamamos-te para queimar os dedos nos tachos, os olhos na costura, comer mal, ou não comer, andar de um lado para outro, na faina, adoecendo e sarando com o fim de tornar a adoecer e sarar outra vez, triste agora, logo desesperada, amanhã resignada, mas sempre com as mãos no tacho e os olhos na costura, até acabar um dia na lama ou no hospital; foi para isso que te chamamos, num momento de simpatia."

33 Capítulo LXXVI - O estrume Brás Cubas experimentou uma crise de consciência: ofendera a dignidade de Dona Plácida, obrigando-a ao torpe papel de alcoviteira. Consolou-se, pensando que havia uma compensação: Dona Plácida não precisaria recorrer à mendicância e deduziu que "o vício é muitas vezes o estrume da virtude". Capítulo LXXVII Entrevista As reflexões de Brás Cubas foram interrompidas pela chegada de Virgília. Embora ainda se amassem, arrefecera a paixão tresloucada dos primeiros tempos e os encontros "entravam no período cronométrico". Virgília disse estar aborrecida, pois Brás não havia ido à sua casa, na véspera, como prometera. Brás acabou confessando que não fora à sua casa por culpa dela: na antevéspera, na casa da baronesa, Virgília valsara duas vezes com o mesmo cavalheiro e aceitara, alegre, sem galanteios, o que despertara o ciúme do amante. Virgília ouviu pasmada, como se não acreditasse; depois riu jovialmente e Brás não teve outro remédio se não rir também. Capítulo LXXVIII - A presidência Certo dia, Lobo Neves anunciou que ocuparia uma presidência de província. Ao ver que Virgília empalidecera, e confessar que não a agradava, o marido afirmou que era necessidade política; lembrou-lhe que, se queria ser marquesa, não devia tolher sua ambição. No dia seguinte, ao encontrar-se com Brás, Virgília estava triste e insistiu em que o amante devia acompanhar a ela e ao marido. Brás Cubas reagiu, afirmando que seria uma insensatez. Achou que devia fazê-la reconhecer a importância da relação deles e resolveu deixá-la só. Ao retirar-se, tomou-lhe as mãos e disse: " Repito, a minha felicidade está nas tuas mãos." Capítulo LXXIX Compromisso Brás Cubas padeceu nas primeiras horas. Vacilava entre a piedade e o egoísmo: desejava vê-la e, ao mesmo tempo, queria forçá-la a decidir-se por ele. Às vezes sentia certo remorso, quando reconhecia que abusava da fraqueza de Virgília, Decidiu que a veria em sua própria casa, pois na presença do marido não poderia falar-lhe nada e então saberia se sua intimidação surtira algum efeito. Agora, que isto escrevo, quer-me parecer que o compromisso era uma burla, que essa piedade era ainda uma forma de egoísmo, e que a resolução de ir consolar Virgilia não passava de uma sugestão de meu próprio padecimento." Capítulo LXXX - De secretário Na noite seguinte foi à casa de Virgilia. Encontrou-a triste, mas Lobo Neves estava alegre, fazendo planos para o exercício da presidência. De repente, convidou Brás para acompanhá-lo como secretário. Brás sobressaltou-se, acreditando que Lobo Neves descobrira o adultério, mas Brás Cubas viu-lhe o olhar direto, o rosto sereno e sentiu alívio. Sentia que Virgilia lhe pedia que aceitasse, e disse que iria. "Na verdade, um presidente, uma presidenta, um secretário, era resolver as coisas de um modo administrativo." Capítulo LXXXI -A reconciliação No dia seguinte Brás recebeu a visita de sua irmã Sabina, que propunha a reconciliação. Viera com o marido, Cotrim, e queria apresentar-lhe a filha, Sara, então com cinco anos. Brás ficou sinceramente emocionado. Quando Brás falou da viagem ao norte, a irmã e o cunhado ponderaram que nem a política a justificava, pois era na corte que Brás devia continuar brilhando. Ao sair, Sabina disse a Brás que ele precisava casar-se. Capítulo LXXXII - Questão de botânica

34 Despediram-se com palavras afetuosas; Brás estava feliz: era amado, tinha a confiança do marido da amante e reconciliara-se com a irmã. Comentando com conhecidos que iria ao norte como secretário de província, Brás teve a revelação de que seus amores com Virgilia eram já de domínio público, pois muitos sorriam maliciosamente. Brás sentia, nessas ocasiões, uma sensação suave e lisonjeira. A princípio, ficava carrancudo; agora sorria também. Não sei se há aí alguém que explique o fenômeno. Eu explico-o assim: a princípio, o contentamento, sendo interior, era por assim dizer o mesmo sorriso, mas abotoado; andando o tempo, desabotoou-se em flor, e apareceu aos olhos do próximo. Simples questão de botânica." Capítulo LXXXIII- 13 Cotrim tentou fazer com que Brás desistisse da viagem; julgava-a insensata e perigosa. Observou que, na corte, seu caso com Virgilia podia perder-se na multidão, mas na província seria escândalo maior. Os conselhos de Cotrim deixaram Brás aflito. Quando encontrou Virgilia, disse-lhe que não sabia se devia acompanhá-los. Virgilia riu e informou que o marido não aceitara a nomeação, pois o decreto saíra no dia 13 e Lobo Neves, supersticioso, achava-o um número fatídico. Capítulo LXXXIV - O conflito Brás reconheceu que o "número fatídico" foi sua salvação. Ao encontrar-se com Lobo Neves, notou-lhe o abatimento: sufocara a ambição pela superstição e ainda temia expor-se ao ridículo. Além disso, Lobo Neves teve outro dissabor: o ministro não acreditou tratar-se de motivos pessoais para a recusa e tratou-o mal, acusando-o de envolver-se em outros arranjos políticos; com o tempo, Lobo Neves foi para a oposição. Capítulo LXXXV - O cimo da montanha "Quem escapa a um perigo ama a vida com outra intensidade ". Brás e Virgília passaram a amar-se mais ardorosamente, pois imaginavam o que teriam sofrido, caso se tivessem separado. "Esse foi, cuido eu, o ponto máximo do nosso amor, o cimo da montanha, donde por algum tempo divisamos os vales de leste e de oeste, e por cima de nós o céu tranqüilo e azul Repousado esse tempo, começamos a descer a encosta, com as mãos presas ou soltas, mas a descer, a descer... " Capítulo LXXXVI - O mistério Um dia Brás Cubas viu Virgília diferente e perguntou-lhe o que tinha. A mulher calou-se e fez um gesto de enfado. Como Brás insistisse, Virgília contou-lhe. Nesse momento, Brás sentiu uma sensação forte, singular e beijou-a na testa com delicadeza. Virgília fitou-lhe os olhos e afagou-o com um gesto maternal. "Eis aí um mistério, deixemos ao leitor o tempo de decifrar este mistério." Capítulo LXXXVII Geologia Viegas, o tio avarento de Virgília, morrera. Virgília sempre tivera esperanças que deixasse algum pecúlio para seu filho. Lobo Neves nunca confessara ter as mesmas expectativas. Brás Cubas reconhecia que havia nele uma dignidade fundamental, "uma camada de rocha, que resistia ao comércio dos homens ". "As outras, as camadas de cima, terra solta e areia, levou-lhas a vida, que é um enxurro perpétuo. Se o leitor ainda se lembra do capítulo XXIII, observará que é agora a segunda vez que eu comparo a vida a um enxurro; mas também há de reparar que desta vez acrescento-lhe um adjetivo perpétuo. E Deus sabe a força de um adjetivo, principalmente em países novos e cálidos. O que é novo neste livro é a geologia moral do Lobo Neves, e provavelmente a do cavalheiro, que me está lendo. Sim, essas camadas de caráter, que a vida altera, conserva ou dissolve, conforme a resistência delas, essas camadas mereceriam um capítulo, que eu não escrevo, por não alongar a narração."

35 Brás lembra, apenas, que o homem mais probo que conhecera, numa ocasião mentira quatro vezes em apenas duas horas. Quando Brás lhe observou esse fato, o homem, que se chamava Jacó, desculpara-se dizendo: "A veracidade absoluta era incompatível com um estado social adiantado e que a paz das cidades só se podia obter à custa de embaçadelas recíprocas... " Capítulo LXXXVIII - O enfermo Como Virgília não ocultava as esperanças no pecúlio, sempre cumulara o tio de afeições; cobria-o de mimos, adulava-o. Havia em sua casa uma "cadeira do Viegas", diante da qual, numa banqueta, Virgília sentava-se e, com as mãos nos joelhos do velho, ouvia-o entre acessos de tosse, falar da casa que haveria de construir. Quando nhonhô vinha à sala, discreto e sério, Viegas, que gostava do menino, dava-lhe pastilhas antiasmáticas. O pequeno dizia que eram boas. Capítulo LXXXIX - In extremis Quando Viegas caiu de cama, Virgília ia vê-lo constantemente. Um dia Brás foi fazer-lhe companhia. Ao chegar, encontrou Viegas a discutir com um homem o preço de uma casa. O homem oferecia trinta contos e Viegas exigia quarenta. Durante a discussão Viegas tinha acessos de tosse que lhe tiravam o fôlego, mas não cedia. Exibiu um maço de papéis: eram as contas das despesas com a construção da casa e as explicava com mãos trêmulas; insistia nos quarenta contos, lembrava os juros. "Vinham tossidas essas palavras, às golfadas, às sílabas, como se fossem migalhas de um pulmão desfeito. Nas órbitas fundas rolavam os olhos lampejantes, que me faziam lembrar a lamparina da madrugada. " O homem concordou em trinta e oito contos. Mas o doente, arfando muito: " Não... não... quar... quaren... quar... quar... Teve um forte acesso de tosse e expirou." Capítulo XC - O velho colóquio de Adão e Caim Viegas não deixara nada ao filho de Virgília, nem uma pastilha. Virgília aceitou com raiva essa derrota, Brás sugeriu que esquecesse e pensasse em coisas alegres, no filho deles, por exemplo. Esse era o mistério a que Brás aludira no capítulo LXXXVI. Virgília esperava um filho de Brás Cubas e ele estava radiante. "O melhor é que conversávamos os dois, o embrião e eu, falávamos de coisas presentes e futuras. O maroto amavame, era um pelintra gracioso, dava-me pancadinhas na cara com as mãozinhas gordas, ou então traçava a beca de bacharel, porque ele havia de ser bacharel e fazia um discurso na câmara dos deputados. E o pai a ouvi-lo de uma tribuna, com os olhos rasos de lágrimas. De bacharel passava outra vez, à escola, pequenino, lousa e livros debaixo do braço, ou então caía no berço para tornar a erguer-se homem. Em vão buscava fixar no espírito uma idade, uma atitude: esse embrião tinha a meus olhos todos os tamanhos e gestos: ele mamava, ele escrevia, ele valsava, ele era o interminável nos limites de um quarto de hora, baby e deputado, colegial e pintalegrete. As vezes, ao pé de Virgília, esquecia-me dela e de tudo; Virgília sacudia-me, reprochava-me o silêncio; dizia que eu já lhe não queria nada. A verdade é que estava em diálogo com o embrião; era o velho colóquio de Adão e Caim, uma conversa sem palavras entre a vida e a vida, o mistério e o mistério." Capítulo XCI -Uma carta extraordinária Por esse tempo, Brás recebera uma carta de Quincas Borba, na qual dizia que estava então em boa situação e pedia licença para expor-lhe um novo sistema de filosofia: "É singularmente espantoso este meu sistema; retifica o espírito humano, suprime a dor, assegura a felicidade, e enche de imensa glória o nosso país. Chamo-lhe Humanitismo, de Humanitas, princípio das coisas." Junto com a carta, vinha um relógio. Capítulo XCII - Um homem extraordinário

36 Brás Cubas acabava de guardar a carta e o relógio, quando o procurou um homem que trazia um bilhete do Cotrim, convidando Brás a jantar. Esse homem era Damasceno, cunhado do Cotrim, e viera havia pouco do norte. Em cinco minutos, revelou que fizera a revolução de 1831, saíra do Rio de Janeiro por desacordo com o Regente, expôs sua preferência por um governo moderadamente despótico, opinou sobre o tráfico de escravos, falou de seu gosto pelo teatro e pela ópera, afirmou-se patriota e despediu-se alegando ter de levar a resposta do convite ao Cotrim. Capítulo XCIII- O jantar Brás achou o jantar um suplício, Sabina fizera-o sentar ao lado de Eulália, filha do Damasceno, de apelido Nhã-Loló. Não era elegante, mas tinha belos olhos. Apesar de acanhada, não tirara os olhos de Brás durante o jantar. Depois, cantou, com voz "muito mimosa", como dissera o pai. Quando Brás se retirava, Sabina quis saber o que Brás achara da moça. Brás respondeu: " Assim, assim." Sabina, afirmando que Nhã-Loló era uma pérola, disse que, querendo ou não, Brás haveria de casar-se com ela. Capítulo XCIV - A causa secreta Brás foi ter com Virgília. Cumprimentou-a perguntando como estava "minha querida mamãe". Virgília aborreceu-se. Sempre se aborrecia quando Brás aludia ao filho que esperavam. Brás chegou a supor que o filho trazia à Virgília a consciência do pecado ou que Virgília concebera para prender Brás a ela e agora se arrependia, o que não seria absurdo, pois "a minha doce Virgília mentia às vezes, com tanta graça!" Brás descobriu depois que o aborrecimento devia-se ao medo do parto, pois sofrerá ao ter o primeiro filho, e à privação da vida elegante. Capítulo XCV - Flores de antanho "Onde estão elas, as flores de antanho? Uma tarde, após algumas semanas de gestação, esboroou-se todo o edifício das minhas quimeras paternais. Foi-se o embrião, naquele ponto em que se não distingue Laplace de uma tartaruga. Tive a notícia por boca do Lobo Neves, que me deixou na sala, e acompanhou o médico à alcova da frustrada mãe. Eu encostei-me à janela, a olhar para a chácara, onde verdejavam as laranjeiras sem flores. Onde iam elas, as flores de antanho? " Capítulo XCVI - A carta anônima Um dia, estando Brás a consolar Lobo Neves, chegou uma carta. Depois de lê-la, Lobo Neves empalideceu e dobrou-a com mãos trêmulas. Nos dias seguintes passou a receber Brás Cubas de modo frio e taciturno. Dias depois Virgília contou a Brás que a carta, anônima, denunciava-os. O marido quisera saber a verdade e Virgília jurara ser uma infâmia. Lobo Neves se fragilizara. "Talvez a imaginação lhe mostrou, ao longe, o famoso olho da opinião, a fitá-lo sarcasticamente, com um ar de pulha; talvez uma boca invisível lhe repetiu ao ouvido as chufas que ele escutara ou dissera outrora". Brás Cubas ouviu Virgília perturbado, não tanto por reconhecer que era necessário maior dissimulação, mas pela tranquilidade de Virgília, que não revelava nenhuma emoção, nenhum susto, nenhum remorso. Notando-o preocupado, a amante disse: " Você não merece os sacrifícios que lhe faço." Brás aproximou-se e beijou-a na testa. "Virgília recuou, como se fosse o beijo de um defunto." Capítulo XCVII - Entre a boca e a testa "Sinto que o leitor estremeceu, ou devia estremecer. Naturalmente a última palavra sugeriu-lhe três ou quatro reflexões. Veja bem o quadro; numa casinha da Gamboa, duas pessoas que se amam há muito tempo, uma inclinada para a outra, a dar-lhe um beijo na testa, e a outra recuar, como se sentisse o contato de uma boca de cadáver. Há aí, no breve intervalo, entre a boca e a testa, antes do beijo e depois do beijo, há aí largo espaço para muita coisa, a contração de um ressentimento, a ruga da desconfiança, enfim o nariz pálido e sonolento da saciedade... " Capítulo XCVIII Suprimido Brás e Virgília acabaram despedindo-se alegremente. À noite, Brás foi ao teatro; num dos camarotes estava Damasceno com a família. Durante o intervalo, Brás foi visitá-los. Nhá-Loló estava vestida com elegância e o moço suspeitou

37 que o pai contraíra dívidas para trajá-la com aquele apuro. A moça não tirava os olhos dele e Brás sentiu-se bem; observando que o fino tecido cobria-lhe castamente os joelhos, Brás deu-se conta que "a natureza previu a vestidura humana, condição necessária ao desenvolvimento da nossa espécie". "A nudez habitual, dada a multiplicação das obras e dos cuidados do indivíduo, tenderia a embotar os sentidos e a retardar os sexos, ao passo que o vestuário, negaceando a natureza, aguça e atrai as vontades, ativa-as, reprodu-las, e conseguintemente faz andar a civilização. Abençoado uso que nos deu Otelo e os paquetes transatlânticos." Capítulo XCIX - Na plateia Na plateia, Brás encontrou-se com Lobo Neves; falaram-se fria e constrangidamente. No intervalo seguinte, porém, Lobo Neves, tranquilo, tratou-o com afabilidade e riso. Brás ousou perguntar-lhe pela mulher. Durante o ato seguinte, Brás ficou distraído, lembrando a conversa com Lobo Neves. Convenceu-se que só encontraria Virgília na casinha da Gamboa, não iria mais à casa dela. Além disso, já estava com quarenta anos e devia dedicar-se a alguma coisa, para alcançar brilho e projeção, de que Virgília se orgulharia. Capítulo C - O caso provável "Segundo parece, e não é improvável, existe entre os fatos da vida pública e os da vida particular uma certa ação recíproca, regular, e talvez periódica, ou, para usar de uma imagem, há alguma coisa semelhante às marés da praia do Flamengo e de outras igualmente marulhosas. Com efeito, quando a onda investe a praia, alaga-a muitos palmos adentro; mas esta mesma água torna ao mar, com variável força, e vai engrossar a onda que há de vir, e que terá de tornar como a primeira. Esta é a imagem; vejamos a aplicação." De fato, Lobo Neves recusara a nomeação para presidente de província porque o decreto fora assinado num dia 13, o que o levara à oposição; alguns meses depois, um ato político permitiu-lhe reconciliar-se com o ministério. Capítulo Cl - A revolução dálmata Brás soube da nova oportunidade de Lobo Neves por Virgília. Ao fim do relato, Brás observou que ela, então, seria baronesa. Virgília fez um gesto de indiferença, mas Brás sabia que ela "amava cordialmente a nobreza. Certa vez o conde B.V., da legação..." da legação da Dalmácia, suponhamos, namorara Virgília durante três meses. Fidalgo verdadeiro, transtornara a cabeça de Virgília, mas uma revolução na Dalmácia o havia feito perder a embaixada. Apesar de saber que tal revolução fora sangrenta, dolorosa, Brás a abençoara, pois lhe havia tirado "uma pedrinha do sapato". Capítulo ClI - De repouso Simultaneamente à lembrança do episódio do conde, vem à lembrança de Brás outro episódio, do qual confessa ter vergonha, que prefere contar depois. Capítulo CIII - A distração Um dia Brás, por distração, chegou uma hora mais tarde ao encontro que deveria ter com Virgília. Ao chegar, a amante já havia ido embora. Dona Plácida repreendeu-o, afirmando que Virgília chorara muito. Três dias depois, no encontro seguinte, Virgília admirou-se quando Brás desculpou-se pelas lágrimas que ela teria derramado. Apesar das desculpas, Virgília não perdoou ao amante; ameaçou com a separação e começou a elogiar o marido. Brás, enquanto isso, olhava para o chão, onde uma mosca arrastava uma formiga que lhe mordia o pé. Virgília enfureceu-se porque Brás permanecia calado; ameaçou retirar-se, mas Brás a reteve e passou a dizer-lhe palavras carinhosas. Nisso, caiu um brinco de Virgília; quando Brás foi apanhá-lo, viu que a mosca trepara nele, levando ainda a formiga ao pé. Brás pôs na palma da mão "aquele casal de mortificados", e pediu a Virgília um grampo para separar os dois insetos, mas a mosca voou antes. "Pobre mosca! pobre formiga! E Deus viu que isto era bom como se diz na Escritura. " Capítulo CIV- Era ele! Às três horas, Virgília dispunha-se a ir embora quando Dona Plácida informou que chegava Lobo Neves. Virgília fez-se pálida e Brás dispôs-se a esperar o marido dela. Virgília, porém, empurrou-o para o quarto.

38 Olhando pelo buraco da fechadura, Brás viu que Virgília atirou-se ao marido. Lobo Neves estava "pálido, frio, quieto, sem explosão, sem arrebatamento" e olhava atentamente em volta da sala. Virgília explicou que lá estava pois vira Dona Plácida à janela e resolvera visitar a velha senhora. Dona Plácida confirmou, dizendo que aquele "anjinho" nunca se esquecera dela. O casal despediu-se, Virgília convidando Dona Plácida a aparecer. Capítulo CV - Equivalência das janelas Dona Plácida desabou sobre uma cadeira. Saindo do quarto, Brás Cubas quis sair para "arrancar Virgília ao marido". A velha senhora o deteve. "Tempo houve em que cheguei a supor que não dissera aquilo senão para que ela me detivesse; mas a simples reflexão basta para mostrar que, depois dos dez minutos da alcova, o gesto mais genuíno e cordial não podia ser senão esse. E isto por aquela famosa lei da equivalência das janelas, que eu tive a satisfação de descobrir e formular, no capitulo LI. Era preciso arejar a consciência. A alcova foi uma janela fechada; eu abri outra com o gesto de sair, e respirei." Capítulo CVI - Jogo perigoso Sentado, Brás refletia se não teria sido melhor Virgília permanecer no quarto e ele na sala, mas concluiu que teria sido pior. Imaginou o que poderia estar acontecendo na casa da amante. Dona Plácida ofereceu-se para ir à casa de Lobo Neves. Brás deixou-se ficar; reconheceu que participava de um jogo perigoso; começou a pensar em casamento: um amor casto, pois estava cansado de aventuras. Viu-se casado com uma mulher adorável, junto a um bebê, todos vivendo numa chácara sombria e verde, contemplando uma nesga do céu extremamente azul. Capítulo CVII- Bilhete Brás recebeu um bilhete em que Virgília informava que o marido nada fizera, mas suspeitava de algo; não a tratara mal nem bem. Recomendava cautela, muita cautela. Capítulo CVIII - Que não se entende Brás afirma que deveria analisar o bilhete, mas não o fará. Confessa que o leu várias vezes, mas não experimentou comoção. "Nem então, nem ainda agora cheguei à discernir o que experimentei. Era medo, e não era medo; era dó e não era dó; era vaidade e não era vaidade; enfim, era amor sem amor, isto é, sem delírio; e tudo isso dava uma combinação assaz complexa e vaga, uma coisa que não podereis entender, como eu não entendi Suponhamos que não disse nada." Capítulo CIX - O filósofo Nesse dia, Brás Cubas recebeu a visita de Quincas Borba. Ao saber que Brás almoçara frugalmente, convidou-o a praticar o Humanitismo, sua filosofia, que "acomodava-se facilmente com os prazeres da vida", pois o ascetismo "era a expressão acabada da tolice humana". Quincas Borba estava todo mudado; recebera uma herança de um tio de Barbacena, e agora vestia-se com esmero, calçava botas de verniz e trazia ao peito um botão de ouro. Quincas Borba queria expor a Brás a sua filosofia do Humanitismo, mas Brás pediu-lhe que o fizesse noutra ocasião, pois seu espírito era "uma espécie de peteca", pelos acontecimentos que recentemente vivera. "Cuido que não nasci para situações complexas. Esse puxar e empuxar as coisas opostas, desequilibrava-me; tinha vontade de embrulhar o Quincas Borba, o Lobo Neves e o bilhete de Virgília na mesma filosofia, e mandá-los de presente a Aristóteles." Capítulo CX 31 Uma semana depois, Lobo Neves foi nomeado presidente de província. Brás tinha esperanças de que o decreto viesse de novo com data de 13, mas a data fora 31, "e esta simples transposição de algarismos eliminou deles a substância diabólica. Que profundas que são as molas da vida!"

39 Capítulo CXI - O muro Poucos dias antes da partida do casal, Brás achou, na casa de Dona Plácida, um bilhete de Virgília, em que ela dizia esperá-lo à noite, na chácara, e terminava informando que "o muro é baixo do lado do beco". Brás achou o bilhete audacioso e ridículo, ao imaginar-se pulando o muro. Ao pedir a Dona Plácida que fosse dar a Virgília o recado de que iria, a mulher observou que aquele bilhete era antigo, encontrara-o numa gaveta. Brás lembrou-se de que realmente tratava-se de um velho bilhete, do começo dos amores deles, quando, chamado por Virgília, saltara, sim, o muro. "Guardei o papel e... Tive uma sensação esquisita." Capítulo CXII - A opinião Horas depois, Brás encontrou Lobo Neves na rua do Ouvidor; falaram da presidência e da política. Brás notou que Lobo Neves tentava dissimular certo retraimento e pareceu-lhe que tinha medo da opinião. Pensou que Lobo Neves talvez nem mais amasse a mulher e tivesse pensado já em separação, mas o medo da opinião o teria impedido, pois estaria divulgando o adultério; assim, tinha de simular a mesma ignorância de outrora e os mesmos sentimentos. Capítulo CXIII- A solda "A conclusão, se há alguma no capítulo anterior, é que a opinião é uma boa solda das instituições domésticas. " Capítulo CXIV - Fim de um diálogo Virgília partiria com o marido, e perguntou a Brás se iria a bordo despedir-se. Brás perguntou-lhe se estava louca, e disse ser impossível. Capítulo CXV - O almoço Brás não viu Virgília partir. Experimentou alguma coisa que "não era dor nem prazer, uma coisa mista, alívio e saudade, tudo misturado, em doses iguais". Brás afirma saber que o leitor esperaria que confessasse um grande sofrimento, deixasse até de comer; prefere, porém, a verdade: foi almoçar regiamente, deliciando-se com os acepipes de M. Proudhon, cozinheiro do hotel Pharoux. "Ai dor! era-me preciso enterrar magnificamente os meus amores. Eles lá iam, mar em fora, no espaço e no tempo, e eu ficava-me ali numa ponta de mesa, com os meus quarenta e tantos anos, tão vadios e tão vazios; ficava-me para os não ver nunca mais, porque ela poderia tornar e tornou, mas o eflúvio da manhã quem é que o pediu ao crepúsculo da tarde?" Capítulo CXV! - Filosofia das folhas velhas Com a partida de Virgília, Brás Cubas sentiu-se viúvo; meteu-se em casa, "a fisgar moscas". Sentia saudades, ambições, um pouco de tédio. Nesse tempo, morreu-lhe o tio cônego e dois primos; "levei-os ao cemitério como quem leva dinheiro a um banco. Que digo? como quem leva cartas ao correio: selei as cartas, meti-as na caixinha, e deixei ao carteiro o cuidado de as entregar em mão própria". Nasceu-lhe a sobrinha, Venância. Brás continuava às moscas. Às vezes, agitado, dedicava-se à leitura de cartas antigas, de parentes, amigos, namoradas, buscando, assim, recompor o passado. Capítulo CXVII - O Humanitismo Duas forças, além de uma terceira, impeliram Brás Cubas a voltar à vida agitada: a irmã Sabina insistia no casamento com Nhã-Loló e Quincas Borba expôs-lhe, enfim, o Humanitismo: Humanitas, dizia ele, o princípio das coisas, não é outro senão o mesmo homem repartido por todos os homens. Conta três fases Humanitas: a estática, anterior a toda a criação; a expansiva, começo das coisas; a dispersiva, aparecimento do homem; e contará mais uma, a contrativa, absorção do homem e das coisas. A expansão, iniciando o universo, sugeriu a Humanitas o desejo de o gozar, e daí a dispersão, que não é mais do que a multiplicação personificada da substância original. Como me não aparecesse assaz clara esta exposição, Quincas Borba desenvolveu-a de um modo profundo, fazendo notar as grandes linhas do sistema. Explicou-me que, por um lado, o Humanitismo ligava-se ao Bramanismo, a saber, na

40 distribuição dos homens pelas diferentes partes do corpo de Humanitas; mas aquilo que na religião indiana tinha apenas uma estreita significação teológica e política, era no Humanitismo a grande lei do valor pessoal. Assim, descender do peito ou dos rins de Humanitas, isto é, ser um forte, não era o mesmo que descender dos cabelos ou da ponta do nariz. Daí a necessidade de cultivar e temperar o músculo." Acrescentou Quincas Borba que a vida era o maior benefício do universo, e a única desgraça era não nascer: " Imagina, por exemplo, que eu não tinha nascido, continuou o Quincas Borba; é positivo que não teria agora o prazer de conversar contigo, comer esta batata, ir ao teatro, e para tudo dizer numa só palavra: viver. Nota que eu não faço do homem um simples veículo de Humanitas; não, ele é ao mesmo tempo veículo, cocheiro e passageiro; ele é o próprio Humanitas reduzido; daí a necessidade de adorar-se a si próprio. Queres uma prova da superioridade do meu sistema? Contempla a inveja. Não há moralista grego ou turco, cristão ou muçulmano, que não troveje contra o sentimento da inveja. O acordo é universal, desde os campos da Iduméia até o alto da Tijuca. Ora bem; abre mão dos velhos preconceitos, esquece as retóricas rafadas, e estuda a inveja, esse sentimento tão sutil e tão nobre. Sendo cada homem uma redução de Humanitas, é claro que nenhum homem é fundamentalmente oposto a outro homem, quaisquer que sejam as aparências contrárias. Assim, por exemplo, o algoz que executa o condenado pode excitar o vão clamor dos poetas; mas substancialmente é Humanitas que corrige em Humanitas uma infração da lei de Humanitas. O mesmo direi do indivíduo que estripa a outro; é uma manifestação da força de Humanitas. Nada obsta (e há exemplos) que ele seja igualmente estripado. Se entendeste bem, facilmente compreenderás que a inveja não é senão uma admiração que luta, e sendo a luta a grande função do gênero humano, todos os sentimentos belicosos são os mais adequados à sua felicidade. Daí vem que a inveja é uma virtude. " Diante da estupefação de Brás Cubas, Quincas Borba, trincando uma asa de frango, continuou: " Para entender bem o meu sistema, concluiu ele, importa não esquecer nunca o princípio universal, repartido e resumido em cada homem. Olha: a guerra, que parece uma calamidade, é uma operação conveniente, como se disséssemos o estalar dos dedos de Humanitas; a fome (e ele chupava filosoficamente a asa do frango), a fome é uma prova a que Humanitas submete apropria víscera. Mas eu não quero outro documento da sublimidade do meu sistema, senão este mesmo frango. Nutriu-se de milho, que foi plantado por um africano, suponhamos, importado de Angola. Nasceu esse africano, cresceu, foi vendido; um navio o trouxe, um navio construído de madeira cortada no mato por dez ou doze homens, levado por velas, que oito ou dez homens teceram, sem contar a cordoalha e outras partes do aparelho náutico. Assim, este frango, que eu almocei agora mesmo, é o resultado de uma multidão de esforços e lutas, executados com o único fim de dar mate ao meu apetite." Quincas Borba, pouco antes do café, observou que seu sistema era a supressão da dor, desde que o homem se compenetrasse de que era o próprio Humanitas. Alguns dias depois, Quincas leu para Brás sua grande obra: quatro volumes manuscritos, de cem páginas cada um. O último era um tratado político fundamentado no Humanitismo: "Reorganizada a sociedade pelo método dele, nem por isso ficavam eliminadas a guerra, a insurreição, o simples murro, a facada anônima, a miséria, a fome, as doenças; mas sendo esses supostos flagelos verdadeiros equívocos do entendimento, porque não passariam de movimentos externos da substância interior, destinados a não influir sobre o homem, senão como simples quebra da monotonia universal, claro estava que a sua existência não impediria a felicidade humana. Mas ainda quando tais flagelos (o que era radicalmente falso) correspondessem no futuro à concepção acanhada de antigos tempos, nem por isso ficava destruído o sistema, e por dois motivos: 1 o porque sendo Humanitas a substância criadora e absoluta, cada indivíduo deveria achar a maior delícia do mundo em sacrificar-se ao princípio de que descende; 2 o porque, ainda assim, não diminuiria o poder espiritual do homem sobre a Terra, inventada unicamente para ser recreio dele, como as estrelas, as brisas, as tâmaras e o ruibarbo. Pangloss, dizia-me ele ao fechar o livro, não era tão tolo como o pintou Voltaire." Capítulo CXVIII - A terceira força A terceira força a tirar Brás Cubas da apatia foi o desejo de brilhar, de fazer qualquer coisa para atrair o aplauso da multidão. e Capítulo CXIX Parênteses

41 "Quero deixar aqui, entre parênteses, meia dúzia de máximas das muitas que escrevi por esse tempo. São bocejos de enfado; podem servir de epígrafe a discursos sem assunto: Suporta-se com paciência a eólica do próximo. Matamos o tempo; o tempo nos enterra. Um cocheiro filósofo costumava dizer que o gosto da carruagem seria diminuto, se todos andassem de carruagem. Crê em ti; mas nem sempre duvides dos outros. Não se compreende que um botocudo fure o beiço para enfeitá-lo com um pedaço de pau. Esta reflexão é de um joalheiro. Não te irrites se te pagarem mal um benefício: antes cair das nuvens, que de um terceiro andar. " Capítulo CXX - Compelle intrare Sabina insiste com Brás na necessidade de casar-se e ter filhos. Brás sobressaltou-se com a ideia de não ter filhos. Resolveu casar-se, ainda que isso significasse relacionar-se com Damasceno. Quincas Borba animou-o, afirmando que Humanitas se agitava no seio do amigo. Capítulo CXXI - Morro abaixo Depois de três meses, tudo ia bem com Nhã-Loló. Às vezes Brás lembrava-se de Virgília, mas logo a substituía pela lembrança da figura da noiva, "terna, luminosa, angélica". Num domingo, foi com Nhã-Loló e Damasceno à missa na capela do Livramento. Quando voltavam, no meio do morro um grupo de homens acompanhava uma briga de gaios. Damasceno deteve-se, fascinado; a briga de gaios era uma de suas paixões. Nhã-Loló, constrangida, sugeriu a Brás que fossem embora. Ao pé do morro, beijaram-se: "Humanitas osculou Humanitas". Nesse momento, Brás sentiu que desapareciam os anos que o separavam da moça. Ficaram à espera de Damasceno, que chegou no meio dos apostadores. Os gaios vinham feridos, ensangüentados, respirando a custo, mas os apostadores comentavam alegremente as façanhas dos combatentes. Brás afastou-se envergonhado; Nhã-Loló envergonhadíssima. Capítulo CXXII - Uma intenção mui fina Nhã-Loló tinha vergonha do pai, achando mesmo que Brás o consideraria um sogro indigno e esforçava-se para encobrir a inferioridade de sua família. Um dia, porém, os maus modos do pai entristeceram-na muito. Brás tentou divertila, mas em vão. Ela buscava aprimorar-se para alcançar a estatura social de Brás Cubas, daí seu profundo abatimento. " Não há remédio, disse eu comigo, vou arrancar esta flor a este pântano." Capítulo CXXIII - O derradeiro Cotrim Brás achou que seria de bom tom falar ao Cotrim sobre seu desejo de casar-se com Nhã-Loló; o tio da moça, porém, afirmou que não aconselhava o casamento, embora se recusasse a expor as razões. "Talvez pareça excessivo o escrúpulo do Cotrim, a quem não souber que ele possuía um caráter ferozmente honrado. Eu mesmo fui injusto com ele durante os anos que se seguiram ao inventário de meu pai. Reconheço que era um modelo. Arguiam-no de avareza, e cuido que tinham razão; mas a avareza ê apenas a exageração de uma virtude, e as virtudes devem ser como os orçamentos: melhor é o saldo que o déficit. Como era muito seco de maneiras tinha inimigos, que chegavam a acusá-lo de bárbaro. O único fato alegado neste particular era o de mandar com frequência escravos ao

42 calabouço, donde eles desciam a escorrer sangue; mas, além de que ele só mandava os perversos e os fujões, ocorre que, tendo longamente contrabandeado em escravos, habituara-se de certo modo ao trato um pouco mais duro que esse gênero de negócio requeria, e não se pode honestamente atribuir à índole original de um homem o que é puro efeito de relações sociais. Aprova de que o Cotrim tinha sentimentos pios encontrava-se no seu amor aos filhos, e na dor que padeceu quando lhe morreu Sara, dali a alguns meses; prova irrefutável, acho eu, e não única. Era tesoureiro de uma confraria, e irmão de várias irmandades, e até irmão remido de uma destas, o que não se coaduna muito com a reputação da avareza; verdade é que o beneficio não caíra no chão: a irmandade (de que ele fora juiz) mandara-lhe tirar o retrato a óleo. Não era perfeito, decerto; tinha, por exemplo, o sestro de mandar para os jornais a notícia de um ou outro benefício que praticava, sestro repreensível ou não louvável, concordo; mas ele desculpava-se dizendo que as boas ações eram contagiosas, quando públicas; razão a que se não pode negar algum peso. Creio mesmo (e nisto faço seu maior elogio) que ele não praticava, de quando em quando, esses benefícios senão com o fim de espertar a filantropia dos outros; e se tal era o intuito, força é confessar que a publicidade tornava-se uma condição sine qua non. Em suma, poderia dever algumas atenções, mas não devia um real a ninguém. " Capítulo CXXIV - Vá de intermédio "Que há entre a vida e a morte? Uma curta ponte. " Brás diz que escreve este capítulo porque o leitor ficaria abalado se, imediatamente após um retrato, apresentasse um epitáfio, pois sabe que o leitor "não se refugia no livro, senão para escapar à vida". Capítulo CXXV- Epitáfio "AQUI JAZ DONA EULÁLIA DAMASCENO DE BRITO MORTA AOS DEZENOVE ANOS DE IDADE ORAI POR ELA!" Capítulo CXXVI Desconsolação Nhã-Loló morrera de febre amarela. Brás acompanhou o enterro triste, mas sem lágrimas e concluiu que talvez não a amasse de verdade. Não entendia, porém, a necessidade da epidemia, menos ainda a morte da moça. Quincas Borba, porém, explicou-me que epidemias eram úteis à espécie, embora desastrosas para uma certa porção de indivíduos; fez-me notar que, por mais horrendo que fosse o espetáculo, havia uma vantagem de muito peso: a sobrevivência do maior número. Chegou a perguntar-me se, no meio do luto geral, não sentia eu algum secreto encanto em ter escapado às garras da peste; mas esta pergunta era tão insensata, que ficou sem resposta." Damasceno ficara inconsolável com a morte da filha. Confessou que sua dor fora aumentada com a que os homens lhe haviam imposto: enviara oitenta convites para o enterro e somente apareceram doze pessoas. Cotrim tentou consolá-lo, dizendo que os que faltaram viriam por mera formalidade. Damasceno, porém, abanando a cabeça, suspirou: " Mas viessem!" Capítulo CXXVII Formalidade Dois anos depois, Brás lembrou-se das palavras de Damasceno quando olhou uma gravura que representava seis damas turcas, que traziam o rosto tapado por um véu finíssimo, que simulava descobrir somente os olhos, mas revelavam a cara inteira. Reconheceu, então, que o homem social tem uma "rígida e meiga companheira". "Amável Formalidade, tu és, sim, o bordão da vida, o bálsamo dos corações, a medianeira entre os homens, o vínculo da terra e do céu; tu enxugas as lágrimas de um pai, tu captas a indulgência de um Profeta. Se a dor adormece, e a consciência se acomoda, a quem, senão a ti, devem esse imenso benefício? A estima que passa de chapéu na cabeça não diz nada à alma; mas a indiferença que corteja deixa- lhe uma deleitosa impressão. A razão é que, ao contrário de uma velha

43 fórmula absurda, não é a letra que mata; a letra dá vida; o espírito é que é objeto de controvérsia, de dúvida, de interpretação, e conseguintemente de luta e de morte. Vive tu, amável Formalidade, para sossego do Damasceno e glória de Muhammed." Capítulo CXXVIII - Na câmara Brás vira a gravura na câmara dos deputados, enquanto ouvia o discurso de um deputado, seu colega: Lobo Neves. "A onda da vida trouxe-nos à mesma praia, como duas botelhas de náufrago, ele contendo o seu ressentimento, eu devendo conter o meu remorso." Brás confessa que, todavia, não continha nada: só a ambição de ser ministro. Capítulo CXXIX - Sem remorsos Brás reafirma que não tinha remorsos, só a grande vontade de ser ministro de Estado. Capítulo CXXX - Para intercalar no Capítulo CXXIX Brás Cubas tornara a ver Virgília num baile, em Não tinha ela o frescor da mocidade, mas uma beleza "outoniça", realçada por belo vestido azul. Haviam-se falado, mas sem aludir ao passado. Quando ela se retirou, Brás foi vêla descer as escadas e murmurou: " Magnífica! Convém intercalar este capítulo entre a primeira oração e a segunda do capítulo CXXIX. " Capítulo CXXXI - De uma calúnia Nesse momento, um conhecido pôs a mão no ombro de Brás Cubas e perguntou-lhe se tinha recordações do passado. Brás desvencilhou-se; refletiu, em seguida, que, em relação à aventura amorosa, as mulheres têm fama de indiscretas, mas os homens são mais, porque ao sentimento amoroso somam a vaidade, sentem-se "legitimamente" orgulhosos de vencer outro homem. Reconheceu que algumas mulheres cometiam indiscrição por ser desastradas, o que teria levado a rainha de Navarra a afirmar, metaforicamente: "Não há cachorrinho tão adestrado, que afim lhe não ouçamos o latir". Capítulo CXXXII - Que não é sério A Brás ocorreu que, quando uma pessoa vê outra irritada, costuma perguntar: "Gentes, quem matou seus cachorrinhos?", como se dissesse: "quem lhe levou os amores, as aventuras secretas?". "Mas este capítulo não é sério". Capítulo CXXXIII - O princípio de Helvetius Brás reconheceu que acabara revelando ao conhecido seus amores com Virgília. Entendendo-se superficialmente o princípio de Helvetius, deveria ter-se calado, mas reafirma o motivo da indiscrição masculina: antes do interesse de segurança, havia o interesse do desvanecimento. Conclui que o princípio de Helvetius era verdadeiro no seu caso; " a diferença é que não era o interesse aparente, mas o recôndito". Capítulo CXXXIV - Cinquenta anos Nessa ocasião, Brás já tinha cinquenta anos. Vendo Virgília descer as escadas, deu-se conta que a melhor parte de sua vida descia pela escada abaixo. Voltou à sala, dançou e sentiu-se remoçar. "Mas, meia hora depois, quando me retirei do baile, às quatro da manhã, o que é que fui achar no fundo do carro? Os meus cinquenta anos. Lá estavam eles, os teimosos, não tolhidos de frio, nem reumáticos, mas cochilando a sua fadiga, um pouco cobiçosos de cama e de repouso. Então, e vejam até que ponto pode ir a imaginação de um homem, com sono, então pareceu-me ouvir de um morcego encarapitado no tejadilho: Senhor Brás Cubas, a rejuvenescência estava na sala, nos cristais, nas luzes, nas sedas, enfim, nos outros." Capítulo CXXXV Oblivion

44 A idade fez com que Brás reconhecesse que os tempos mudam; é um turbilhão que leva tudo, sem exceção nem piedade. OBLIVION o esquecimento alcança a todos. "Espetáculo, cujo fim é divertir o planeta Saturno, que anda muito aborrecido". Capítulo CXXXVI Inutilidade "Mas, ou muito me engano, ou acabo de escrever um capítulo inútil." Capítulo CXXXVII - A barretina Brás, no dia seguinte, confessou seu acabrunhamento a Quincas Borba. O filósofo animou-o, afirmando que cinquenta anos era a idade da ciência e do governo. Brás voltou estimulado ao projeto do ministério; até então, não interviera nos debates, "cortejava a pasta por meio de rapapés, chás, comissões e votos". Três dias depois, discursou sobre a necessidade de diminuir o tamanho da barretina da guarda nacional. Todos elogiaram o discurso quanto à forma, mas muitos o consideraram politicamente deplorável. Capítulo CXXXVIII - A um crítico Dirigindo-se a um eventual crítico, Brás explica a frase: "Já se vai sentindo que o meu estilo não é tão lesto como nos primeiros dias", que redigira em capítulo anterior. Observa que não está mais velho do que quando começara o livro, pois a morte não envelhece. "Quero dizer, sim, que em cada fase da narração da minha vida experimento a sensação correspondente." CXXXIX - De como não fui ministro d estado Capítulo CXL - Que explica o anterior Além de não alcançar o ministério, Brás Cubas perde a cadeira da câmara dos deputados. Quincas Borba tentou tirálo do abatimento, afirmando que a ambição de Brás não era a verdadeira paixão pelo poder, mas um capricho. Quando quis explicar à luz do Humanitismo, Brás mandou-o ao diabo com sua filosofia. Era uma bela tarde de sol e céu azul. "De cada janela, eram três pendia uma gaiola com pássaros, que chilreavam as suas óperas rústicas. Tudo tinha a aparência de uma conspiração das coisas contra o homem: e, conquanto eu estivesse na minha sala, olhando para a minha chácara, sentado na minha cadeira, ouvindo os meus pássaros, ao pé dos meus livros, alumiado pelo meu sol, não chegava a curar-me das saudades daquela outra cadeira, que não era minha." Capítulo CXLI - Os cães Para distrair Brás Cubas, Quincas convidou-o a sair. Foram para os lados do Engenho Velho. Durante o passeio, o filósofo insistiu que era preciso lutar e sugeriu a Brás que criasse um jornal. "Vida sem luta é um mar morto no centro do organismo universal". Daí a pouco, viram dois cães que lutavam furiosamente por um osso que nem tinha carne. Quincas deteve-se, olhando-os fascinado; queria que Brás contemplasse a beleza do espetáculo. "nem deixou de recordar que em algumas partes do globo o espetáculo é mais grandioso: as criaturas humanas é que disputam aos cães os ossos e outros manjares menos apetecíveis; luta que se complica muito, porque entra em ação a inteligência do homem, com todo o acúmulo de sagacidade que lhe deram os séculos, etc. "

45 Capítulo CXLII - O pedido secreto Ao voltarem a casa, Brás recebeu uma carta. Era de Virgília, que lhe pedia conseguir internar, na Misericórdia, Dona Plácida, que estava muito mal. Brás não entendia, pois deixara para a velha os cinco contos encontrados na praia. Nesse momento, Quincas Borba observou que o filósofo Pascal fizera uma grande reflexão: o homem leva grande vantagem sobre o resto do universo porque sabe que morre. Acrescentou, em seguida, que sua reflexão era mais profunda: o homem sabe que tem fome; a morte limita o entendimento e a fome tem a vantagem de voltar, de prolongar o estado consciente. Capítulo CXLIII - Não vou Durante o jantar, Brás sentia-se incomodado e aborrecido com o pedido de Virgília. Já dera os cinco contos a Dona Plácida e ela com certeza os havia dissipado em grandes festas. Imaginou que o Beco das Escadinhas, onde Virgília dissera que Dona Plácida podia ser encontrada, era algum recanto estreito e escuro da cidade. Resolveu não ir. Capítulo CXLIV- Utilidade relativa Mas a noite, que é boa conselheira, ponderou que a cortesia mandava obedecer aos desejos da minha antiga dama. - Letras vencidas, urge pagá-las, disse eu ao levantar-me. Depois do almoço fui à casa de Dona Plácida; achei um molho de ossos, envolto em molambos, estendido sobre um catre velho e nauseabundo; dei-lhe algum dinheiro. No dia seguinte fi-la transportar para a Misericórdia, onde ela morreu uma semana depois. Minto: amanheceu morta; saiu da vida às escondidas, tal qual entrara. Outra vez perguntei, a mim mesmo, como no capítulo LXXV, se era para isto que o sacristão da Sé e a doceira trouxeram Dona Plácida à luz, num momento de simpatia específica. Mas adverti logo que, se não fosse Dona Plácida, talvez os meus amores com Virgília tivessem sido interrompidos, ou imediatamente quebrados, em plena efervescência; tal foi, portanto, a utilidade da vida de Dona Plácida. Utilidade relativa, convenho; mas que diacho há absoluto nesse mundo? " Capítulo CXLV - Simples repetição Quanto aos cinco contos, um mau-caráter fingira-se apaixonado por Dona Plácida e casara-se com ela; poucos meses depois, inventara um negócio e fugira com o dinheiro. "É o caso dos cães do Quincas Borba. Simples repetição de um capítulo". Capítulo CXLVI - O programa Brás Cubas decidiu fundar o jornal rapidamente. Redigiu um programa, que era uma aplicação política do Humanitismo; concluía afirmando que a nova doutrina derrubaria o ministério de então. Quincas Borba achou a conclusão mesquinha, mas Brás ponderou que "Humanitas queria substituir Humanitas para consolação de Humanitas". Capítulo CXLVI I - O desatino Brás Cubas divulgou, pela imprensa, a notícia de que publicaria um jornal oposicionista. No dia seguinte, o cunhado Cotrim foi procurá-lo para dissuadi-lo de fundar o jornal, alegando que seria um desatino indispor-se contra o ministério. À noite, no teatro, Sabina repetiu ao irmão os conselhos do marido. Como Brás não cedesse, deu-lhe as costas: " Pois siga o que lhe parecer, concluiu; nós cumprimos a nossa obrigação." Capítulo CXLVIII - O problema insolúvel Vinte e quatro horas depois da publicação do primeiro número do jornal, Cotrim publicou em outros uma declaração, na qual, dizia que, apesar de não militar em nenhum partido político, queria deixar bem claro que não tinha nenhuma influência sobre o jornal do cunhado, cujas idéias reprovava. Ainda acrescentava que o ministério "parecia-lhe destinado a promover a felicidade pública".

46 Brás não conseguiu compreender a atitude de Cotrim; considerou-o, inclusive, um ingrato, pois, quando deputado, Brás intercedera para que Cotrim fizesse fornecimentos ao arsenal da marinha que lhe renderiam uns duzentos contos. Capítulo CXLIX - Teoria do benefício Quincas Borba censurou o amigo, quando Brás Cubas comentou a ingratidão do Cotrim, afirmando que o prazer do beneficiador é sempre maior que o do beneficiado; explicou que o beneficiado, ao ter satisfeita a sua privação, esquece o beneficio, mas o beneficiador retém na memória o benefício praticado, pois, além do sentimento da boa ação, fica com a convicção de sua superioridade sobre outra criatura. Capítulo CL- Rotação e translação Durou pouco o jornal de Brás Cubas; seis meses após a primeira publicação, "amanheceu morto". Quase ao mesmo tempo, Lobo Neves veio a falecer, "com o pé na escada ministerial". Quando soubera que Lobo Neves ia ser ministro, Brás Cubas sentira irritação e inveja; a notícia da morte, confessa, deu-lhe tranqüilidade, alívio, "e um ou dois minutos de prazer". Brás foi ao enterro e viu que Virgília chorava comovida e sinceramente a morte do marido. Capítulo CLI - Filosofia dos epitáfios Após o enterro, Brás retirou-se fingindo ler os epitáfios; gostava deles; "eles são, entre a gente civilizada, uma expressão daquele pio e secreto egoísmo que induz o homem a arrancar à morte um farrapo ao menos da sombra que passou. Daí vem, talvez, a tristeza inconsolável dos que sabem os seus mortos na vala comum; parece-lhes que a podridão anônima os alcança a eles mesmos". Capítulo CLII - A moeda de Vespasiano Ao sair do cemitério, Brás ainda se lembrava das lágrimas de Virgília, e isso lhe parecia um problema. "Virgília traíra o marido, com sinceridade, e agora chorava-o com sinceridade." Brás achava difícil essa combinação. Em casa, porém, reconheceu que era possível: "Meiga Natural! A taxa da dor é como a moeda de Vespasiano; não cheira à origem, e tanto se colhe do mal como do bem. A moral repreenderá, porventura, a minha cúmplice; é o que te não importa, implacável amiga, uma vez que lhe recebeste pontualmente as lágrimas. Meiga, três vezes meiga Natural" Capítulo CLIII - O alienista Uma noite, durante o sono, Brás Cubas sonhou que era nababo. Acordou com a idéia de ser nababo e confessou-a a Quincas Borba. Era brincadeira, mas o filósofo preocupou-se e, olhando-o com pena, disse a Brás Cubas que ele estava ficando louco. No dia seguinte, Quincas Borba mandou um alienista para examinar Brás Cubas; depois de confirmar-lhe a sanidade, segredou a Brás que, na verdade, quem enlouquecia era o filósofo. Diante do espanto de Brás Cubas, o alienista procurou suavizar a notícia: afirmou que "um grão de sandice, longe de fazer mal, dava certo pico à vida". Capítulo CLIV - Os navios do Pireu Como Brás Cubas reagisse com horror a essa afirmação, o alienista lembrou-lhe o caso do maníaco de Atenas, um pobretão que acreditava que eram seus todos os navios que entravam no porto de Pireu, e acrescentou que há, em todos os homens, um maníaco de Atenas. Brás Cubas continuava espantado; o alienista pediu a Brás que observasse seu criado, que batia os tapetes, mantendo as janelas escancaradas e as cortinas afastadas, para que todos pudessem ver de fora a sala ricamente decorada, e observou: "Este seu criado tem a mania do ateniense: crê que os navios são dele; uma hora de ilusão que lhe dá a maior felicidade da Terra". Capítulo CLV - Reflexão cordial Brás refletiu que, estando certo o alienista, não devia lastimar Quincas Borba, devia cuidar dele. Capítulo CLVI - Orgulho da servilidade

47 CLVII - Fase brilhante Quando Brás relatou a Quincas a observação do alienista em relação ao criado, o filósofo não concordou, afirmando que o sentimento do criado era um sentimento regido pelas leis do Humanitismo: o orgulho da servilidade; queria mostrar que não era criado de um "qualquer", e concluiu que "muitas vezes o homem, ainda a engraxar botas, é sublime". Por esse tempo, Brás reconciliou-se com o Cotrim. Ficou contente, pois a solidão lhe pesava, e a vida era para ele a pior das fadigas, "que é a fadiga sem trabalho". Convidado a filiar-se a uma Ordem Terceira, Brás foi aconselhado por Quincas Borba a aceitar. Confessa que essa fase de caridade foi a melhor de sua vida: "Os quadros eram tristes; tinham a monotonia da desgraça, que é tão aborrecida como a do gozo, e talvez pior. Mas a alegria que se dá à alma dos doentes e dos pobres é recompensa de algum valor; e não me digam que é negativa, por só recebê-la o obsequiado. Não; eu a recebia de um modo reflexo, e ainda assim grande, tão grande que me dava excelente ideia de mim mesmo. " Capítulo CLVIII - Dois encontros Depois de três ou quatro anos, Brás Cubas cansou-se do ofício; fez um grande donativo e deixou-o. Não quer, porém, encerrar o capítulo sem contar que, no hospital da Ordem, viu Marcela morrer, feia, magra e decrépita. No mesmo dia, ao visitar um cortiço, para distribuir esmolas, vira Eugênia, "tão coxa como a deixara, e ainda mais triste". Ao ver Brás Cubas, Eugênia baixou os olhos por um instante, mas logo ergueu a cabeça e fitou-o com muita dignidade. "Compreendi que não receberia esmolas da minha algibeira, e estendi-lhe a mão, como faria à esposa de um capitalista." Capítulo CLIX - A semidemência Ao reconhecer-se velho, Brás Cubas sentiu que precisava de uma força; mas Quincas Borba estava em Minas Gerais. Alguns meses depois, quando o filósofo voltou, Brás Cubas constatou que vinha louco. Brás Cubas constatou que Quincas não só estava louco, como sabia que estava louco. Não sofria, porém; dizia que era uma prova de Humanitas, "que assim brincava consigo mesmo". Disse ter queimado o manuscrito e que ia recomeçá-lo. Pouco tempo depois, morreu na casa de Brás Cubas, "jurando e repetindo sempre que a dor era uma ilusão..." Capítulo CLX - Das negativas "Entre a morte do Quincas Borba e a minha, mediaram os sucessos narrados na primeira parte do livro. O principal deles foi a invenção do emplasto Brás Cubas, que morreu comigo, por causa da moléstia que apanhei. Divino emplasto, tu me darias o primeiro lugar entre os homens, acima da ciência e da riqueza, porque eras a genuína e direta inspiração do céu. O acaso determinou o contrário; e aí vos ficais eternamente hipocondríacos. Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de Dona Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas. Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria. LEIA- MUITO BOM Apesar de inaugurar em 1881 tanto a fase realista de Machado de Assis quanto o próprio Realismo, Memórias Póstumas de Brás Cubas é marcado pelo fantástico e absurdo, a começar pelo título (como memórias podem ser póstumas?) e pela dedicatória ( ao verme que primeiro roeu as carnes de meu cadáver ). Esses elementos, somados à óptica do narrador, um defunto autor, que analisa tudo de forma sarcástica e isenta, pois está no reino dos mortos, fazem o texto filiar-se a uma tradição literária do início da era cristã e que já havia alimentado outras obras, como o Auto da Barca do Inferno: a sátira menipeia.( A sátira menipeia é um gênero em verso e prova, de caráter sério-cômico, criado pelo filósofo e satirista grego Menipo de Gádara.)

48 A crítica, portanto, é a grande preocupação desse livro. No entanto, não é por causa dela, nem mesmo do aproveitamento da visão pessimista da existência, que a obra pode ser considerada como típica do Realismo. De fato, supera os limites dessa escola e torna-se universal. Os julgamentos feitos pelo morto vão-se tornar mais eficientes graças a outros ingredientes, como a quebra da linearidade narrativa garantida pela digressão, metalinguagem e intertextualidade. Além de contribuírem para a intemporalidade do texto que pode ser resultado ou do ponto de vista da morte ou mesmo da análise psicológica, que impede um suceder cronológico, garantem a intenção de impossibilitar o envolvimento do leitor com a narração, para que a visão da realidade seja a mais objetiva possível. A personagem principal dessas memórias sempre se mostrou de forma nada idealizada já a partir da infância, em que é apresentada como traquinas, mimada e vingativa. Suas estripulias fazem-na assemelhar-se a outra criança, o Leonardo de Memórias de um Sargento de Milícias. É interessante notar já nessa fase muitas temáticas ácidas do autor. A primeira manifesta-se por meio do moleque Prudêncio, escravo constantemente humilhado pelo menino Brás Cubas. Mais tarde, quando ganha a liberdade, ao invés de conseguir o pão com o suor de seu próprio rosto, compra um escravo e descarrega nele tudo o que havia recebido do sinhozinho. Essa atitude, aparentemente paradoxal, acaba exibindo um quadro cruel de nossa civilização, fortemente ajustada na exploração do homem pelo homem. Prudêncio, assim como Juliana, de O Primo Basílio, acaba legitimando um sistema injusto, pois, apesar de ter sido vítima dele, quando assume determinado poder, não luta por melhorá-lo, apenas repete e reforça os erros imperantes. Outro elemento cruel, ainda na mesma temática do absurdo, ocorre durante uma festa que o pai de Cubas oferece para celebrar a queda de Napoleão. Em um dado momento, o menino ouve a conversa de dois sujeitos sobre a negociação de escravos. Não parece fazer sentido como a mesma sociedade que se reunia para homenagear a restauração da liberdade, o mesmo grupo que se dizia adepto do Liberalismo, vivia escusamente da escravidão. Mais outro aspecto, comum em toda a obra, surge nessa comemoração. O pai do protagonista a dá inspirado aparentemente em ideais nobres. No entanto, o que ele quer é exibir-se diante da nata fluminense. Usando a mesma metáfora do narrador, embaixo de grandes bandeiras sobrevivem pequenas, muitas vezes até por mais tempo do que as outras. É o tema do espadim do menino Cubas: nem pensa em grandes ideais quer é curtir seu brinquedo. Essa busca egoísta por brilho, escondida em atos nobres, é constante no romance. Ainda nesse mesmo episódio fica-se conhecendo Eusébia e o Dr. Vilaça, flagrados pelo vingativo menino em situação vexatória atrás de uma moita. Esse será um mote a ser retomado. Por enquanto, fica marcada na mente do leitor a peraltice que foi o escândalo da criança em gritar no meio de todos o que havia visto. O próximo passo da narrativa é a adolescência, quando o memorando conhece a cortesã Marcela. Cegado pela paixão libidinosa, quase dilapida a fortuna da família para saciar a sede dessa esperta espanhola. Mostra-se, mais uma vez, a temática da exploração. Brás tem um desempenho medíocre na universidade, pois está mais preocupado com a boemia do que com os estudos. Ainda assim, ironicamente consegue formar-se, o que lhe traz uma certa crise, pois é hora de tomar responsabilidade por sua vida. Talvez isso explique a delonga em voltar ao Brasil. Volta à pátria, no entanto, por causa da proximidade da morte de sua mãe. É um capítulo tocante que servirá para uma reflexão capital. O memorando não entende como uma pessoa tão bondosa, que nunca desejou o mal de ninguém, foi morrer de uma doença tão cruel quanto o câncer. Estabelece-se a outra ponta da temática do absurdo: o lado existencial. Que lógica a vida tem? Derrubado, isola-se em Tijuca. Lá conhece Eugênia, chamada ironicamente pelo narrador de flor da moita, já que era filha do Dr. Vilaça com D. Eusébia. Há um leve enlace amoroso, que não se desenvolve, pois o protagonista não é forte o suficiente para romper três barreiras: ela é bastarda, pobre e coxa. Vê-se, de forma bem realista, que o amor tem limites. Vê-se, também, mais uma vez, certa perplexidade diante da inteligibilidade da existência: por que bonita, se coxa? Por que coxa, se bonita? Essa aventura amorosa é deixada de lado, pois o pai do personagem principal apresenta-lhe uma proposta interessante: Virgília. Casar-se com ela seria uma forma de garantir uma excelente carreira política, pois o pai da moça, o Conselheiro Dutra, possuía muita influência. Mais uma vez está em ação o desespero humano por brilho social. No entanto, não age. Deixa-se, assim como Leonardo e Macunaíma, levar passivamente. Resultado: perde sua noiva para Lobo Neves, muito mais ambicioso e ativo. Brás Cubas e Virgília tempos depois voltam a se encontrar. Apesar de ela já ser uma senhora casada, o triângulo amoroso estabelece-se. O narrador fica mais uma vez intrigado quanto às leis da vida: quando eram noivos, não havia amor; agora que está casada com outro é que surge esse sentimento. O adultério começa perigosamente a dar na vista. É por isso que os dois arranjam uma casinha para encontraremse sossegadamente. E para cuidar dela contratam D. Plácida, ex-agregada da família de Virgília. É mais um momento para Machado de Assis dedicar-se à análise da condição humana.

49 D. Plácida, ao perceber que serviria de medianeira para os amantes, sofre uma crise de consciência. É por isso que não trata bem Cubas no início, o que dá a ele certo desconforto. No final, ela acaba adaptando-se à nova condição, mais ainda quando recebe uma gorda quantia, suficiente para lhe garantir uma velhice tranquila. Além disso, o protagonista apazigua sua própria consciência com uma cínica reflexão de que o vício é o estrume da flor-virtude. Ou seja, é um pecado grave utilizar-se da miséria da velha senhora. No entanto, foi assim que a tirou da mendicância. Combina-se, pois, toda uma rica temática ligada ao pessimismo e à exploração da miséria. No entanto, muito depois um homem vai-se tornar amante de D. Plácida e levará todo o seu dinheiro, fazendo-a morrer na pobreza. Então, para que ela viveu? Só para sofrer? Só para passar dificuldades? Só para servir? Mais reflexões que escapam à compreensão. Ainda assim, mesmo com a ajuda da pobre mulher, essa calmaria durou pouco. Lobo Neves está para ser indicado presidente de província, o que poderá separar os amantes. Virgília resolve a situação, convencendo seu marido a nomear Brás secretário. Mas tudo em Machado de Assis é dilemático. Ao mesmo tempo em que esse ato ajuda-os, atrapalha em igual monta. É o que percebemos com a visita de Sabina, irmã de Cubas. Os dois estavam brigados por causa da divisão da herança do finado pai. Agora o reatar é realizado graças à preocupação dela com o nome da família: o triângulo amoroso é comentário em toda a Corte; seria o cúmulo levar isso em frente com a ida à província. Para evitar essa vergonha, chega a arranjar casamento com Eulália, jovem vinda dos novos-ricos. Mais uma vez o matrimônio funcionando como escada social, pois seria uma forma da menina obter o que faltava aos seus nobreza, mesmo que graças a tal expediente. Complicações rondam não só a possível noiva. Parecem também cercar Lobo Neves. Há várias pistas na obra que nos fazem desconfiar de que ele sabe que está sendo traído. Mas, por que não toma atitude? A explicação revela um aspecto vil da personagem: agir seria acabar com sua carreira política. É o status atropelando a honra. A catástrofe moral não ocorreu. O candidato apresentou uma estranha alegação supersticiosa ligada ao 13 que o fez recusar a nomeação. Ao que parece, foi a melhor saída para a situação em que se encontrava a narrativa: se ele aceitasse, o adultério viraria desavergonhado; se recusasse Brás Cubas como secretário, levantaria incômodas suspeitas. Sem obstáculos, o relacionamento adulterino cai num marasmo que vem para arrefecer tudo. Tanto que Lobo Neves foi mais uma vez escolhido presidente de província (num decreto que sai no dia 31) e parte levando Virgília sem causar grandes fraturas já estava tudo esgarçado. A partir daí acelera-se o fim das memórias. Brás Cubas embarca na política, mas demonstra um desempenho ridículo e vergonhoso. É também nessa época que reencontra Quincas Borba, colega de infância que fora rico, virara mendigo chegou a roubar um relógio do protagonista e que agora estava afortunado novamente, graças a uma herança de um tio de Barbacena. E vinha apaixonado por uma filosofia que havia inventado, destinada a derrubar todas as outras: Humanitismo. Na realidade, era nada menos do que uma paródia de Machado de Assis em cima das inúmeras teorias que surgiram no final do século XIX, principalmente o Positivismo, o Darwinismo e a sua idéia de seleção natural. Quincas, que havia escolhido seu amigo como discípulo, no final acaba enlouquecendo. Então Brás dedica-se a um projeto que se torna idéia fixa: a criação de um emplasto que eliminaria da humanidade todo sofrimento. Mais uma vez o tema do espadim, pois tal descoberta, aparentemente altruísta, nada mais era do que fruto de um pensamento egoísta: o desejo de ter o seu nome impresso em todo vidrinho de remédio em cada casa da nossa civilização. Esse sonho torna-se tão obsessivo que o pesquisador chega a apanhar um resfriado e nem se preocupa em se cuidar. Complica-se numa pneumonia que o coloca às portas da morte. É nesse momento que Virgília, já senhora, vem reconciliar-se. É também o instante em que ele tem um delírio. É um capítulo importantíssimo para a obra. Nele, Brás Cubas viaja à origem dos séculos até encontrar a Natureza, com quem estabelece um diálogo em que são expressas claramente as idéias básicas do romance, como o vazio da existência humana, baseada na dor, miséria e sofrimento. É um discurso que faz lembrar Schopenhauer, filósofo que influenciou a literatura machadiana. No final, o personagem pede mais tempo de sobrevivência, no que é atendido. Fica a impressão de que a Natureza nos concede a vida como um grande escárnio do qual se deleita. O personagem agüenta mais alguns dias, o suficiente para conviver um pouco mais com Virgília. Logo depois, morre. Daí nasce o narrador. É importante lembrar neste ponto alguns conceitos básicos quanto à estrutura narrativa do livro. Em primeiro lugar, há dois Brás Cubas. O primeiro é o personagem das memórias, dono de caráter que vacila entre o preocupar-se com a opinião alheia e o deixar-se levar pelo sabor do acaso. Falta-lhe, pois, consciência firme, tornando-se, assim, um fraco. Esse ser sem vigor acaba sendo superado pelo narrador Brás Cubas. É dotado de enorme sagacidade e espírito crítico. Suas observações são agudas e saborosas. O seu toque de Midas dá enorme valor estético ao relato de uma existência medíocre.

50 Nota-se, portanto, como é necessário diferenciar narrador de personagem. Este respeita a opinião alheia. Aquele a desdenha e tem motivos para tanto: já está morto. Não deve nada a ninguém. Por isso, é capaz de analisar a sociedade e a existência humanas. Ainda dentro desse aspecto, crucial se faz discriminar o tempo do enunciado e o tempo da enunciação. Tempo do enunciado refere-se à história narrada. Pertence, portanto, à personagem. No caso do romance, é o pretérito, pois está ligado a ações anteriores ao ato de produção textual. Tempo da enunciação está ligado ao ato de narrar. No caso do romance é, na maior parte das vezes, o presente, seja por ser a forma mais adequada para a intemporalidade da narrativa, pois quem a redige caiu na eternidade da undiscovered country, seja porque é o que mais adequada e eficientemente reporta o ato da escritura. Há mais outro aspecto interessante, que é justamente a presença de elementos que antecipam o Modernismo. Trata-se dos capítulos que abusam dos aspectos iconográficos, como De Como Não Fui Ministro, O Velho Diálogo de Adão e Eva e Epitáfio. Neles, o leitor é levado a completar a mensagem, num esquema que lembra a iconoclastia de um Oswald de Andrade e António de Alcântara Machado. Do balanço da obra fica a análise social aguda que não se restringe ao mundo carioca, muito menos ao final do século XIX. Alguns dos seus problemas ainda podem ser vistos em boa parte do mundo. O primeiro é a luta incessante por prestígio, numa preocupação exagerada com a opinião e o conceito alheios. É algo que o próprio Velho do Restelo já havia criticado. Outro elemento a ser levado em conta é o absurdo da sociedade em que vivia Brás Cubas: escravocrata, apesar de defender o liberalismo, concentradora violenta de renda e exploradora da miséria alheia. Há também absurdo na questão existencial. A vida parece ilógica. Tentar entender esses elementos, expostos nos dois parágrafos anteriores, é encaminhar-se para a loucura tema muito comum na obra ou como válvula de escape a indicar que a mente falhou (o mundo é incompreensível), ou como chegada a um nível superior a indicar que a mente evoluiu (o mundo é compreensível). Qualquer que seja o ponto de vista a ser assumido, não há como não enxergar que essa obra é um monumento da Literatura Brasileira, por fazer uma análise profunda e ainda atual da condição humana. Exercícios TEXTO Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco. (Machado de Assis, in Memórias Póstumas de Brás Cubas) 1) Pode-se afirmar, com base nas idéias do autor-personagem, que se trata: a) de um texto jornalístico b) de um texto religioso c) de um texto científico d) de um texto autobiográfico e) de um texto teatral 2) Para o autor-personagem, é menos comum: a) começar um livro por seu nascimento. b) não começar um livro por seu nascimento, nem por sua morte.

51 c) começar um livro por sua morte. d) não começar um livro por sua morte. e) começar um livro ao mesmo tempo pelo nascimento e pela morte. 3) Deduz-se do texto que o autor-personagem: a) está morrendo. b) já morreu. c) não quer morrer. d) não vai morrer. e) renasceu. 4) A semelhança entre o autor e Moisés é que ambos: a) escreveram livros. b) se preocupam com a vida e a morte. c) não foram compreendidos. d) valorizam a morte. e) falam sobre suas mortes. 5) A diferença capital entre o autor e Moisés é que: a) o autor fala da morte; Moisés, da vida. b) o livro do autor é de memórias; o de Moisés, religioso. c) o autor começa pelo nascimento; Moisés, pela morte. d) Moisés começa pelo nascimento; o autor, pela morte. e) o livro do autor é mais novo e galante do que o de Moisés. 6) Deduz-se pelo texto que o Pentateuco: a) não fala da morte de Moisés. b) foi lido pelo autor do texto. c) foi escrito por Moisés. d) só fala da vida de Moisés. e) serviu de modelo ao autor do texto. 7) Autor defunto está para campa, assim como defunto autor para: a) intróito b) princípio c) cabo d) berço e) fim 8) Dizendo-se um defunto autor, o autor destaca seu (sua): a) conformismo diante da morte ; b) tristeza por se sentir morto c) resistência diante dos obstáculos trazidos pela nova situação d) otimismo quanto ao futuro literário e) atividade apesar de estar morto

52 Gabarito- 1- d 2-c 3- b 4- e 5- d 6- c 7- d 8- e 4-- Memórias de um Sargento de Milícias de Manuel Antônio de Almeida Ser ou ser: é essa a questão? Não há um consenso quanto classificação de Memórias de um sargento de milícias. Pergunta-se: TEXTO ROMÂNTICO? Há a idealização das personagens? A observação dos fatos é subjetiva? Há ausência das camadas inferiores da população e presença de camadas superiores? Há tensão entre o bem x mal, herói x vilão? TEXTO REALISTA? Há análise psicológica que investiga os motivos das ações das personagens? A história está centrada no presente? A narrativa é lenta e minuciosa? Ação e enredo perdem importância para a caracterização das personagens? As personagens são impulsionadas por suas necessidades e seus interesses? Há, portanto todo esse questionamento em torno de Memórias de um sargento de milícias, romance de costumes por representar os hábitos de uma sociedade de uma determinada época. O certo é que a narrativa transita entre o Romantismo e o Realismo, porém mais do que se preocupar com a sua exata classificação. O resgate de um moleque esperto e de um Brasil com suas gentes e costumes A obra Memórias de um sargento de milícias não foi muito bem aceita na época de sua publicação, pois o público era sedento por heróis e heroínas românticos, com os quais buscavam identificação e sonhavam. Quem então resgatará essa obra? Um grande estudioso do folclore e da cultura popular brasileiros, criador do que podemos entender como síntese de um presumido modo de ser brasileiro -o herói sem nenhum caráter Macunaíma, Mário de Andrade. Teria esse grande escritor modernista detectado algum elo de identificação entre esse seu anti-herói e Leonardo, o primeiro malandro brasileiro? Manuel Antônio de Almeida - vida breve - 30 anos -Obra escrita, de início, em folhetim. Publicou o livro com um nome falso Um Brasileiro Antônio César Ramos o verdadeiro Sargento de Milícias contou para o escritor suas aventuras, peripécias e passou para o livro. Memórias Alheias - Manuel Antônio pegou as Memórias de outro; História Central - diabruras de Leonardo; 0bservações a serem guardadas: Realidade do Brasil no século XIX - Rio de Janeiro; Época diferente apresentada pelos românticos; Período da vinda da família real ao Brasil - D.João VI(refugiou-se no Rio); Tempo do compadrio - vida suburbana ao contrário da vida na corte. A elite não é o foco; Mundo carnavalesco - Avesso do clero, justiça, família; Linguagem simples, bem humorada, popularesca, coloquial; Personagens-tipo; Linguagem próxima da jornalística; Algumas caricaturas e diálogos bem humorados; Intenção- diversão-vida dos portugueses - costumes e peculiaridades; Festas populares carioca - modinhas, danças da época - procissões e macumba; Rompimento com o padrão romântico (obras de Macedo e Alencar); Quebra do maniqueísmo - rompe com a distinção entre herói e vilão; Queda da idealização romântica das personagens - anti-herói, Luisinha feia e desajeitada, não idealizada. Forma de início do romance entre Leonardo Pataca e Maria da Hortaliça pisão e beliscão ;

53 Realismo existente é casual e não técnico; Traços carnavalizados, contraste - seriedade e ordem e os momentos de completa desorganização; O caricatural, o que faz rir, a ironia, misturam-se em um conjunto que retrata o ridículo de diversas situações retratadas; Não é considerado romance histórico, e sim novela humorística. Crônica de costumes; Realismo espontâneo-próxima da tradição pitoresca; Obra ainda romântica-caráter picaresco herança espanhola-visão divertida de determinada época; Obra não linear-digressões e quebra do enredo para comentários; Metalinguagem - explicações sobre a obra na própria obra; Foco narrativo-terceira pessoa, com um narrador onisciente, que interfere no texto, faz observações e busca contato com o leitor (tentativa de diálogo); Várias tramas desenvolvem-se ao mesmo tempo, sendo Leonardo, o personagem central, responsável por atálas tornando-se o elo, entre elas, o que permite que seja denominada também de novela; Linguagem conotativa ou figurada; Final vida de Leonardo organizada tudo se encaixa satisfatoriamente, mostrando-nos claramente a presença do Romantismo no texto. Final tipicamente feliz-leonardo se regenera enquanto obra realista -final feliz é reprovado; Dinamismo no decorrer da obra - Rio de Janeiro - análise dos costumes, desde as roupas, ruas, instituiçõesvocabulário específico (linguagem do povo da época); Final da obra-impera a ordem sobre a desordem, fechando-se o processo de carnavalização; Seria Leonardinho um pícaro? Nem a própria cultura espanhola sabe o que seja pícaro. É um anti-herói, malandro, guia-se pelo próprio prazer.ele se assemelha a um. É considerado a um malandro neopicaresco; São personagens lascivos - Brás Cubas, Leonardo e Macunaíma; Leonardo - precursor de Macunaíma- malandro carioca - avesso ao trabalho, levar vantagem - Deixa a vida me levar... ; Manuel Antônio de Almeida diz que: Luisinha e Leonardo não são ingênuos, e o escritor põe em dúvida o caráter da personagem e suas intenções ; Leonardo, filho de uma pisadela e um beliscão -a forma como foi o namoro não tem nada de idealização; Estrutura da obra Os episódios são quase autônomos, só ligados pela presença de Leonardo, dando à obra uma estrutura mais de novela que de romance, como já ficou observado. O leitor acompanha o crescimento do herói com sua infância rica em travessuras, a adolescência com as primeiras ilusões amorosas e aventuras, e o adulto, que, com o senso de responsabilidade, que essa idade exige, vai-se enquadrando na sociedade, o que culmina com o casamento. ESPAÇO Cidade do Rio de Janeiro-romance urbano. Tempo - Apesar de se tratar de memórias de fatos ocorridos no início do século XIX, elas seguem a linha do tempo. A obra é dividida em duas partes: a primeira com vinte e três capítulos e a segunda com vinte e cinco. Enredo O narrador, baseando-se em uma história contada por um sargento de milícias aposentado, adota a postura de contador de histórias para narrar os costumes e acontecimentos de mais ou menos cinqüenta anos atrás. Logo, o narrador não viveu na época das estripulias de Leonardo. Leonardo, filho de dois imigrantes portugueses, a sabia Maria da Hortaliça e Leonardo, algibebe em Lisboa e depois meirinho no Rio do tempo do Rei D. João VI: nascimento do herói, sua infância de endiabrado, suas desditas de filho abandonado mas sempre salvo de dificuldades pelos padrinhos, não casados (a parteira e um barbeiro); sua juventude de valdevinos; seus amores com a dengosa mulatinha Vidinha; suas malandrices com o truculento Major Vidigal, chefe de polícia; seu namoro com Luisinha; sua prisão pelo major; seu engajamento, por punição, no corpo de tropa do mesmo major; finalmente, porque os fados acabaram por lhe ser propícios e não lhe faltou a proteção da madrinha, tudo tem conclusão feliz -: promoção a sargento de milícias e casamento com Luisinha. Narrador Apesar de se tratar de um livro de Memórias (memórias dos outros), Memórias de um sargento de milícias é narrado em 3ª pessoa por um narrador que conhece todos os fatos, mas que deles não participa. Por meio de uma linguagem mais próxima da fala que da escrita (pela 1ª vez na literatura brasileira), vemos desfilar também pela primeira vez, os representantes dos segmentos mais simples da sociedade do tempo do rei Quem são eles? Personagens de camadas inferiores, como meirinhos (espécie de oficial de justiça), barbeiro, parteira, saloia, algibebe,ciganos, padre, polícia, comadres, e compadres, entre os quais destacamos: Leonardo: anti-herói, herói às avessas, herói picaresco - desde a infância é esperto, vagabundo e mulherengo, assemelha-se ao protagonista, Macunaíma. Leonardo-Pataca: oficial de justiça, sentimental, sempre enroscado em suas paixões.

54 Maria-da-Hortaliça: mãe do herói Major Vidigal: temido e respeitado por todos.severo punidor é, ao mesmo tempo, policial e juiz. Comadre: protetora de Leonardo vive tentando livrá-lo dos enroscos em que se metia. Compadre Barbeiro: outro protetor. Cria o menino como se fosse o seu filho, sonhando um próspero futuro para ele; só que isso não acontece. D. Maria: velha, rica e bondosa. Era apaixonada por causas judiciais. Tia e tutora de Luisinha, amiga da comadre e do compadre. Luisinha: primeiro amor de Leonardo. Suas características fogem da idealização dos modelos românticos: era feia, pálida e desajeitada. José Manuel: caça-dotes representa uma crítica à burguesia. Vidinha: cantora de modinhas, segunda paixão de Leonardo. Chiquinha: filha de D. Maria e esposa de Leonardo Pataca. Maria-Regalada: amante de Vidigal. Além desses, há outros como: A vizinha, a cigana, o mestre-de-rezas, Tomás, etc. Os personagens encaixam-se na categoria de tipos alegóricos, pois não possuem profundidade psicológica e são como caricatura de uma classe social: o povo, a classe média carioca da época.não dá para deixar de reconhecer o arrojo de Manuel Antônio de Almeida que, aos 21 anos, tece a ousadia de apresentar o homem brasileiro tal qual ele culturalmente se configura: como aquele que quer levar vantagem, um malandro. Essa coragem não se revela nas obras de seus contemporâneos românticos. Por exemplo, José de Alencar exibiu o nosso índio como o bom selvagem, não canibal, não poligâmico e cristão (Peri-O Guarani). Bernardo Guimarães expôs uma escrava branca que fala francês e toca piano.(isauraescrava Isaura). Além de retratar o típico homem brasileiro, o autor igualmente fotografa os costumes do Rio de Janeiro, na época de D.João VI. Estão ali : A pisadela e o beliscão-declaração de interesse amoroso; As festas religiosas e ciganas; Os ajustes matrimoniais; O acato e veneração ao mestre de reza; A castidade duvidosa dos padres; A atividade das parteiras; A palmatória; O agregado; Três outras práticas da época observada na obra são: Aplicação personalíssimas da justiça; A relação social do jeitinho do favor e da ajuda; Os favorecimentos na administração pública diretamente relacionados à atuação da policia-o major Vidigal. Quem era ele? O major Vidigal era o rei absoluto, o árbitro supremo de tudo que dizia respeito a esse ramo de administração; era o juiz que julgava e distribuía a pena, e ao mesmo tempo o guarda que dava a guarda aos criminosos...(cap. V).É ele que faz do prisioneiro Leonardo um granadeiro e, atendendo às solicitações de uma antiga amante Maria Regalada, perdoa-lhe todas as suas faltas, livra-o das chibatadas e o promove a soldado de linha para, em seguida, por achar o perdido muito justo, fazer dele um sargento de milícias. Vidigal - Corrompe-se por interesses particulares (Maria Regalada). Vidigal existiu e impôs respeito de verdade. Fluxo Narrativo

55 Memórias de um Sargento de Milícias é romance narrado em terceira pessoa, sendo um narrador-onisciente e observador quem conta a história, que interfere no texto, faz observações e busca contato com o leitor (tentativa de diálogo); 1. O cinismo bem-humorado, as sistemáticas interferências nas situações sempre divertidas que relata, as ironias e as brincadeiras envolvendo costumes e personagens da época constituem alguns traços marcantes deste narrador, cujo juízo crítico a respeito do que vai documentando algumas vezes revela-se de forma claramente debochada. Além de romper com a tradicional postura idealizadora do narrador romântico, em relação aos indivíduos e também à terra, o narrador da obra ora suprime etapas narrativas, ora transita da terceira para a primeira pessoa. Assim, ele assume uma cumplicidade de caráter metalinguístico com o leitor, o que significa um anúncio de procedimentos modernistas, também percebido nas conversas com o leitor e nos comentários jocosos que faz à propósito do que conta. Memórias de um sargento de milícias foi publicado semanalmente, em fascículos, no suplemento A Pacotilha, do jornal Correio Mercantil entre 30 de junho de 1852 e 31 de julho de 1853.Somente em 1854 e 1855 foi lançado em livro, em dois volumes.o fato de lançar um capítulo a cada 7 dias, totalizando 48 capítulos ao final de treze meses exigiu que seu autor estabelecesse algumas estratégias na condução da narrativa.não é difícil perceber o ritmo acelerado da narrativa.podemos exemplificar tal constatação com a seguinte passagem do livro: Leonardo é despedido da ucharia (espécie de despensa em que se guardavam e se manipulavam carnes e outros alimentos para o consumo dos moradores de um castelo). Ao relatar o acontecido para a namorada Vidinha, esta vai tirar satisfação com a mulher do Toma Largura, enquanto Leonardo ainda do lado de fora da casa é preso pelo Major Vidigal. O Toma Largura se encanta com a moça e a segue de longe para saber onde é sua casa. Logo depois começam a namorar. A família da moça resolve então fazer uma festa. Toma Largura alegre, bebe demais e faz voar sobre a cabeça dos convidados pratos, garrafas e tudo mais. Eis que surge o Major Vidigal e ordena a um de seus homens que detenha o bêbado. Qual não é a surpresa de todos ao reconhecerem no granadeiro o malandro Leonardo. Ou seja, a promoção do prisioneiro (cap. XXXIX) a granadeiro ( cap. XLI), passando da condição de fora da lei à de defensor do exército,dá-se com uma ligeireza tão desabalada que é como se tivesse acontecido da noite para o dia. O mesmo já havia ocorrido na ocasião do fim do namoro com Luisinha e do despertar da paixão por Vidinha, no capítulo XXX, Remédio aos Males. Leonardo que ainda pensava em Luisinha, bastou ouvir boquiaberto, a modinha que Vidinha cantava: Se os meus suspiros pudessem Aos teus ouvidos chegar, Verias que uma paixão Tem poder de assassinar, Não são de zelos Os meus queixumes, Nem de ciúme Abrasador; São das saudades Que me atormentam Na dura ausência Do meu amor. Trecho dessa modinha aprece na letra da música Memórias de um sargento de milícias-de Paulinho da Viola, interpretado também por Martinho da Vila-samba enredo da escola de samba Portela, no carnaval de 1966, que vale a pena conhecermos: Memórias de Um Sargento de Milícias Martinho da Vila Composição: Paulinho da Viola

56 Era o tempo do rei Quando aqui, chegou Um modesto casal feliz pelo recente amor Leonardo, tornando-se meirinho Deu a Maria Hortaliça um novo lar Um pouco de conforto e de carinho Dessa união, nasceu Um lindo varão Que recebeu o mesmo nome do seu pai Personagem central da história que contamos neste carnaval Mas um dia Maria Fez a Leonardo uma ingratidão Mostrando que não era uma boa companheira Provocou a separação Foi assim que o padrinho passou A ser do menino tutor A quem lhe deu toda dedicação Sofrendo uma grande desilusão Outra figura importante em sua vida Foi a comadre parteira popular Diziam que benziam de quebranto A beata mais famosa do lugar Havia nesse tempo aqui no Rio Tipos que devemos mencionar Chico Juca, era mestre em valentia E por todos se fazia, respeitar O reverendo amante da cigana Preso pelo Vidigal AINDA VEJA O RESUMO DE CADA CAPÍTULO Em síntese, o enredo de Memórias de um Sargento de Milícias, tecido, como observa Antônio Soares Amora no já citado Pequeno Dicionário de Literatura Brasileira, com muitas peripécias e intrigas, que não deixam, ainda hoje, de entreter e prender o leitor, pode resumirse na história da vida de Leonardo, filho de dois imigrantes portugueses, a sabia Maria da Hortaliça e Leonardo, algibebe em Lisboa e depois meirinho no Rio do tempo do Rei D. João VI: nascimento do herói, sua infância de endiabrado, suas desditas de filho abandonado mas sempre salvo de dificuldades pelos padrinhos, não casados (a parteira e um barbeiro); sua juventude de valdevinos; seus amores com a dengosa mulatinha Vidinha; suas malandrices com o truculento Major Vidigal, chefe de polícia; seu namoro com Luisinha; sua prisão pelo major; seu engajamento, por punição, no corpo de tropa do mesmo major; finalmente, porque os fados acabaram por lhe ser propícios e não lhe faltou a proteção da madrinha, tudo tem conclusão feliz : promoção a sargento de milícias e casamento com Luisinha. Para que se tenha uma ideia mais precisa do conteúdo do livro no que se refere ao enredo, vamos transcrever aqui o resumo sobre Memórias de um Sargento de Milícias, no qual o presente trabalho está apoiado. A obra é dividida em duas partes: a primeira com vinte e três capítulos e a segunda com vinte e cinco..:. PRIMEIRA PARTE I - Origem, Nascimento e Batizado. A novela se abre com a frase Era no tempo do rei, que situa a estória no século XIX, no Rio de Janeiro. Narra a vinda de Leonardo-Pataca para o Brasil. Ainda no navio, namora uma patrícia, Maria da Hortaliça, sabia portuguesa. Daí resultou o casamento e... Sete meses depois teve a Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de comprido, gordo e vermelho, cabeludo, esperneador e chorão; o qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas seguidas sem deixar o peito. Esse menino é o Leonardo, futuro sargento de milícias e o herói do livro. O capitulo termina com o batizado do garoto, tendo a Comadre por madrinha e o barbeiro ou Compadre por padrinho, personagens importantes da estória.

57 II - Primeiros Infortúnios. Leonardo-Pataca descobre que Maria da Hortaliça, sua mulher, o traía com vários homens; dá-lhe uma surra e ela foge com um capitão de navio para Portugal. O filho, depois de levar um pontapé no traseiro, é abandonado e o padrinho se encarrega dele. III - Despedida às Travessuras. O padrinho, já velho, e sem ter a quem dedicar sua afeição, ficou caído pelo garoto, concentrando todos os seus esforços no futuro de Leonardo e desculpando todas as suas travessuras.depois de muito pensar, resolveu que ele seria padre. IV - Fortuna. Leonardo-Pataca apaixonou-se por uma cigana que também o abandona. Para atraí-la novamente, recorre a feitiçarias de um caboclo velho e imundo que morava num mangue. Na última prova, à noite, quando estava nu e coberto com o manto do caboclo, aparece o Major Vidigal... V - O Vidigal. Este capítulo descreve o Major - um homem alto, não muito gordo, com ares de moleirão; tinha o olhar sempre baixo, os movimentos lentos, e a voz descansada e adocicada. Era a polícia e a justiça da época, na cidade. Depois de obrigar todos que se achavam na casa do caboclo a dançar, até não agüentarem mais, chicoteia-os e leva Leonardo para a Casa da Guarda, espécie de depósito de presos. Depois de visto pelos curiosos, é transferido para a cadeia. VI - Primeira Noite Fora de Casa. Leonardo filho vai acompanhar uma Via Sacra de rua, muito comum naquela época, e junta-se a outros moleques. Acabam passando a noite num acampamento de ciganos. Descreve-se a festa e a dança do fado. De manhã, Leonardo pede para voltar para casa. VII - A Comadre. Era a madrinha de Leonardo - uma mulher baixa, excessivamente gorda, bonachona, ingênua ou tola até um certo ponto, e finória até outro; vivia do oficio de parteira, que adotara por curiosidade e benzia de quebranto.... Gostava de ir à missa e ouvir o cochicho das beatas. Viu a vizinha do barbeiro e logo quis saber do que é que ela falava. VIII - O Pátio dos Bichos. Assim era chamada a sala onde ficavam os velhos oficiais a serviço de El-Rei, esperando qualquer ordem. No meio deles, estava um Tenente-Coronel a quem a Comadre vai pedir para interceder junto a El-Rei para soltar Leonardo-Pataca. IX - O Arranjei-me do Compadre. O autor conta-nos como o barbeiro conseguiu arranjarse na vida, apesar de sua profissão pouco rentável: improvisou-se de médico, ou melhor, sangrador, a bordo de um navio que vinha para o Brasil. O Capitão moribundo entregou-lhe todas as economias para que as levasse à sua filha (do Capitão). Quando chegou a terra, ficou com tudo e nunca procurou a herdeira. X - Explicações. O Tenente-Coronel interessara-se pelo Leonardo porque, de certa forma, ele o havia livrado de certa obrigação: seu filho, um desmiolado, é que havia infelicitado a tal de Mariazinha, a Maria da Hortaliça, ex-mulher de Leonardo. Por isso empenha-se e, por meio de um outro amigo, consegue que El-Rei solte Leonardo. XI - Progresso e Atraso. Este capítulo é dedicado às dificuldades que o padrinho encontra para ensinar as primeiras letras ao afilhado e às implicâncias da vizinha. A seguir vem um bateboca entre os dois, com o menino arremedando a velha, e com grande satisfação para o barbeiro que se julga vingado. XII - Entrada para a Escola. É uma descrição das escolas da época. Aborda a importância da palmatória e nos conta como o novo e endiabrado aluno leva bolos de manhã e à tarde. XIII - Mudança de Vida. Depois de muito esforço e paciência, o padrinho convence ao afilhado de voltar para a escola, mas ele foge habitualmente e faz amizade com o coroinha da Igreja. Pede ao padrinho, e este acede, para também ser coroinha. Pensava assim o barbeiro que seria meio caminho andado para se tomar padre. Como coroinha, aproveitou-se dessa função para jogar fumaça de incenso na cara da vizinha e derramar-lhe cera na mantilha. Vingava-se assim dela. XIV - Nova Vingança e Seu Resultado. Neste capitulo, aparece o Padre Mestre de Cerimônias, que, embora de um exterior austero, mantinha relações com a cigana, a mesma que abandonara Leonardo Pataca e fora causa de sua função. No dia da festa da Igreja da Sé, o Mestre de Cerimônia prepara-se orgulhosamente para proferir seu sermão. O menino Leonardo, encarregado de avisar-lhe a hora do sermão, informa-lhe que será às 10 horas, quando na verdade devia ser às 9:00 h.um capuchinho italiano, para cooperar, e porque o pregador não chegava, começou a homilia. Depois de algum tempo, chega o Mestre, furioso, e corre para o púlpito também. Após um

58 bate-papo com o religioso, toma o lugar dele e continua o sermão. O resultado foi o sacristão ser despedido. XV - Estralada. Leonardo Pataca, sabendo que o Mestre de Cerimônias é que lhe tirara a cigana e que este iria ao aniversário dela, contratou Chico-Juca para criar confusão na festa. Avisou antecipadamente o Major Vidigal, que prende todo mundo, inclusive o Padre, e os leva para a Casa da Guarda. XVI - Sucesso do Plano. O Mestre de Cerimônias, com o escândalo, foi obrigado a deixar a cigana, voltando para Leonardo, que recebe as censuras da Comadre. XVII - D. Maria. O capitulo é dedicado a D. Maria, uma mulher velha, muito gorda; devia ter sido muito formosa no seu tempo, porém dessa formosura só lhe restaram o rosado das faces e a alvura dos dentes... ;... tinha bom coração e era benfazeja, devota e amiga dos pobres, porém, em compensação destas virtudes, tinha um dos piores vícios daquele tempo e daqueles costumes; era a mania das demandas... Em sua casa, estavam reunidos, por causa da Procissão dos Ourives, o Compadre e o menino, a Comadre e a vizinha O assunto gira em tomo das peripécias do garoto, que aproveita a ocasião e pisa a saia da vizinha, rasgando-a. A seguir, todos discutem o futuro do rapaz. Depois de cada um dar o palpite, D. Maria sugere que ele seja Procurador de Causas.... XVIII - Amores. Leonardo não correspondeu a nenhum dos desejos do padrinho: não foi para Coimbra, não se fez padre, não trabalhou em cartório algum e não foi para a Conceição. Tomou-se um vadio. Um vadio comum, que simplesmente não pensa em nada, vai-se deixando levar pelos acontecimentos sem tirar proveito pessoal de nenhum. Enquanto isso, Leonardo Pataca acaba casando-se com a sobrinha da Comadre. Por sua vez, D. Maria ganha a demanda para ser tutora de uma sobrinha órfã e começa a receber a visita freqüente do Compadre com o afilhado. A sobrinha de D. Maria era já bem desenvolvida, mas muito desajeitada: tinha perdido a graça da menina e não adquirira ainda a beleza da moça.leonardo saiu rindo dela, mas não a esqueceu jamais. XIX - Domingos do Espírito Santo. Na Festa do Divino, o Compadre vai com D. Maria e Leonardo ao Campo para ver o fogo. Leonardo começa a apaixonar-se pela sobrinha de D. Maria. XX - O Fogo no Campo. Terminada a Festa do Divino com foguetes e fogos de artifício, Leonardo e Luisinha, sobrinha de D. Maria, tomam-se íntimos. XXI - Contrariedades. Luisinha voltou ao seu silêncio interior e um novo personagem aparece: é o José Manuel. Muito experiente na vida, passa a cortejar D. Maria, mas interessado na sobrinha e principalmente na herança dela. XXII - Aliança. O Padrinho e a Comadre aliam-se num só plano contra José Manuel. XXIII - Declaração. Numa cena ridícula, todo desajeitado, depois de muitas tentativas e retrocessos, Leonardo consegue declarar-se a Luisinha. SEGUNDA PARTE I - A Comadre em Exercício. Aqui, o autor narra o nascimento da filha de Leonardo Pataca e de Chiquinha. A Comadre faz o parto, e o autor aproveita para fazer interessante descrição dos costumes da época. II - Trama. A Comadre, numa aliança com o sobrinho e o Compadre contra José Manuel, inventa para D. Maria que este fora o raptor da moça na porta da Igreja (um caso policial da época). III - Derrota. José Manuel põe-se em campo para saber quem é seu adversário e quem tinha feito a intriga perante D. Maria. IV - O Mestre de Reza. Os mestres de reza da época eram geralmente cegos que ensinavam às crianças as primeiras rezas e o catecismo. Faziam-no á base da palmatória. O Mestre de Reza encarregou-se de descobrir, para José Manuel, quem era o intrigante. V - Transtorno. O Compadre morre e deixa Leonardo como seu herdeiro. Segue-se a cerimônia de luto e o enterro. Leonardo volta para a casa do pai. A Comadre, que também mora com a filha, faz agora as vezes do Compadre. Leonardo não se entende com a madrasta, Chiquinha. VI - Pior Transtorno. Leonardo, ao voltar da casa de Luisinha, aborrecido por não a ter visto, briga com Chiquinha. O pai intervém de espada, e Leonardo foge de casa. A Comadre censura os dois e vai procurar o afilhado, enquanto os vizinhos comentam as ocorrências...

59 VII - Remédio dos Males. Ao fugir de casa, Leonardo encontra o antigo colega, o Sacristão da Sé, num pique-nique em companhia de moças e rapazes, o qual o convida para ficar; ele aceita e enche-se de amores por Vidinha, cantora de modinhas, que tocava viola. Vidinha era uma mulatinha de dezoito a vinte anos, de altura regular. Ombros largos, peito alteado, cintura fina e pés pequeninos; tinha os olhos muito pretos e muito vivos, os lábios grossos e úmidos, os dentes alvíssimos. a fala era um pouco descansada, doce e afinada. VIII - Novos Amores. Este capitula faz a descrição da nova família que acolhe Leonardo. Era composta de duas irmãs viúvas, uma com três filhos e a outra com três filhas. Passavam dos quarenta anos e eram muito gordas e parecidas. Os três filhos da primeira tinham mais de 20 anos e eram empregados no trem. As moças, mais ou menos da idade dos rapazes, eram bonitas, cada uma a seu modo. Uma delas era Vidinha. IX - José Manuel Triunfa. A Comadre procurou Leonardo por toda parte e, não o encontrando, foi à casa de D. Maria, que a repreendeu por ter cometido um grande... Ela logo entendeu e percebeu que José Manuel estava regenerado aos olhos de D. Maria; e também chegou à conclusão de que o cego Mestre de Reza é que tinha desvendado tudo. A Comadre desculpa-se e toma conhecimento do interesse de José Manuel por Luisinha. X - O Agregado. Leonardo fica agregado na nova família, como era costume naquela época. Dois irmãos pretendentes a Vidinha unem-se contra Leonardo, que estava gostando dela. Vidinha e as Velhas tomam o partido de Leonardo. Houve briga e confusões. Leonardo decidiu sair da casa, mas as velhas não consentem. Leonardinho conhece Vidinha, mulata que gosta de tocar viola e cantar suas modinhas, quando reencontra um ex-sacristão seu amigo, que o chama para fazer companhia a ele e ao bando de amigos que o segue naquela ocasião. Agrada-o ouvir Vidinha, com seus dentes brancos e os lábios umedecidos, cantar entre eles. Tomás da Sé leva-o para a casa na qual também vive Vidinha e Leonardinho ali permanece, ligando-se à moça. Capítulo 8 As viúvas e seus filhos vivem na mesma casa. Leonardinho passa a conviver com a família. Vidinha é uma das três moças que lá moram. Além delas, existem três rapazes. Os moços são funcionários da estrada de ferro. A idade dos jovens todos está por volta dos vinte anos. Capítulo 9 José Manuel procura desfazer a má impressão que as intrigas haviam deixado em D.Maria a respeito dele. A madrinha procura o afilhado, sem conseguir encontrá-lo em lugar algum. Quando vai até a casa de D.Maria, leva uma reprimenda, por tudo o que dissera a respeito de José Manuel, já que o pretendente de Luisinha conseguira livrar-se das acusações, auxiliado pelo Mestre de Rezas. A Comadre pede desculpas a D.Maria, já que não tem meios de ajudar Leonardinho naquele momento. Capítulo 10 Vidinha é o pomo da discórdia em sua casa, pois desperta o interesse do primo e também o de Leonardinho. Acontece uma briga e o rapaz deseja partir. As viúvas e Vidinha estão a favor dele.é convencido a permanecer com a família. A Comadre consegue achá-lo logo após a briga. Capítulo 11 A Comadre e as viúvas conversam. Leonardinho fica. Quando está em um piquenique, divertindo-se, acaba prisioneiro do Major Vidigal, por vadiagem. Capítulo 12 José Manuel ganha uma das demandas para D.Maria e, desta forma, consegue o sim da velha senhora, ao seu pedido de casamento. Luisinha está bastante acabrunhada com o desaparecimento de Leonardinho, que não mais a procurara. Sem qualquer entusiasmo, aceita casar-se. O noivo vive a fazer os cálculos de quanto irá lucrar com o enlace. Casam-se os noivos e é feita uma grande festa. Capítulo 13 O Major Vidigal acaba desmoralizado, pois Leonardinho serve-se de uma agitação que ocorria na rua por onde passava aprisionado e foge. Volta para a casa da mulata Vidinha. Como jamais nenhum safado lhe escapara e por não estar acostumado com falta de respeito, Vidigal irrita-se como nunca e procura-o incansavelmente, em companhia dos granadeiros. Capítulo 14 Encontrar o fujão é uma questão de honra para o Major. Quer se vingar, pois não aceita ter sido

60 alvo de chacotas. A Comadre, por sua vez, implora a Vidigal pelo afilhado, sem saber que ele já não está mais na prisão. Chega a chorar, ficando de joelhos, mas riem de sua atitude. Capítulo 15 Sabendo que o afilhado está em liberdade e desejando salvá-lo da ira do Major Vidigal, a Comadre vão até a casa ds viúvas, passa uma descompostura em Leonardinho e exige que ele comece a trabalhar. Consegue-lhe um emprego na despensa ou ucharia real, local em que estão depositados mantimentos. Para Vidigal, essa é uma notícia ruim, pois seu perseguido deixa de ser um vadio, não havendo mais motivo para prendê-lo. Leonardinho, porém, não toma jeito. Rouba provisões da ucharia, levando-as para Vidinha. Envolve-se com a mulher de um dos empregados do Paço Real - o toma -largura -, visitando-lhe a mulher, na ausência deste, pois a moça é bela e desperta-lhe o interesse. O toma-largura acaba encontrando o maroto tomando um caldo com sua mulher e, desconfiado, persegue-o. Leonardinho acaba na rua, sem emprego. Capítulo 16 Vidinha, que já andava abandonada pelo moço, acaba sabendo do que acontecera, pois as notícias correm de boca em boca. Movida pelo ciúme e pela raiva, toma satisfações com a mulher do toma-largura e aproveita para fazer desfeita para o pobre coitado. Leonardinho, que seguira a jovem até a ucharia, termina em poder de Vidigal. Capítulo 17 O toma-largura e a mulher não reagem, ante os desacatos de Vidinha. O homem, ao contrário, interessa-se por ela e procura saber onde mora, depois que ela se vai. Quer conquistá-la, ter uma aventura e vingar-se daquele que o ultrajara. Capítulo 18 Ninguém consegue encontrar Leonardinho, que está devidamente oculto por Vidigal. Procuram-no, mas é em vão. Nem na Casa da Guarda pode ser encontrado. A família de Vidinha chega à conclusão de que ele não deseja que o encontrem. Tirada essa conclusão, todos passam a detestá-lo. A Comadre é outra que perde seu tempo inutilmente, pois não consegue achar o afilhado. Somente quando o Major Vidigal surge, em uma reunião festiva, em que o toma-largura se excede, após beber demais, em companhia dos familiares de Vidinha, é que o desaparecimento de Leonardinho se esclarece. Em realidade, Vidigal fizera-o granadeiro e seu auxiliar, a fim de aproveitar-lhe a sabedoria em malandragem. Como o toma-largura ficasse rondando a casa de Vidinha, a família dela terminou por convidá-lo para participar de uma "patuscada em Cajueiros", que foi exatamente onde o granadeiro Leonardo deu-lhe ordem de prisão. Capítulo 19 Leonardinho, granadeiro do Regimento Novo por ordem de Vidigal, sentara praça assim que saíra da prisão. O Major vê que não se enganara com relação ao moço, pois este se mostra competente em suas funções. No entanto, continua a fazer suas peraltices, o que não lhe permite cumprir completamente com as funções que lhe haviam sido atribuídas. Capítulo 20 Em casa de Leonardo Pataca acontece uma comemoração. Teotônio - jogador, tocador e cantor - está presente, entoando suas melodias. Entretanto, ele irrita o Major Vidigal, ao lhe imitar os trejeitos na presença de todos, despertando-lhes o riso. Vidigal inconforma-se com a brincadeira e dá ordens a Leonardinho, para que aprisione o outro. O granadeiro segue até a casa do pai, para cumprir as ordens recebidas. É acolhido com simpatia e gosta de Teotônio, o que o leva a revelar-lhe a missão que lhe haviam destinado. Ele e Teotônio, então, resolvem tapear o Major Vidigal e, para tanto, traçam um plano adequado. Capítulo 21 Um amigo desmascara Leonardinho diante de Vidigal, ao cumprimentá-lo pela façanha que tramara com Teotônio. O Major percebe-se enganado e mais uma vez prende o maroto. A madrinha consegue libertá-lo, ao descobrir uma antiga namorada do Major, por meio de D.Maria. José Manuel revela seu verdadeiro caráter, quando chega ao fim a lua-de-mel. Capítulo 22 Auxiliadas por Maria Regalada, a Comadre e a tia de Luisinha tentam libertar o moço. Regalada e a Comadre procuram obter um relaxamento de prisão para ele. O Major não quer ceder,

61 porém a ex-namorada segreda-lhe, ao ouvido, algo que o faz mudar de idéia, soltar o moço e ainda ajudá-lo no que é possível. Capítulo 23 Concluem-se os fatos iniciados no capítulo anterior. Capítulo 24 O sargento Leonardo e Luisinha reencontram-se durante o velório de José Manuel, que falecera devido a um ataque do coração, causado por uma demanda que D.Maria havia movido contra ele. Ao rever a moça, Leonardo admira-a e é correspondido nisto. Capítulo 25 O namoro de ambos é retomado, assim que termina o luto da jovem pelo falecido. Como o granadeiro não pode se casar, por ser um sargento de linha, o casal recorre ao Major, pedindo sua intervenção. Vidigal vive com Maria Regalada, que cumprira o que lhe prometera, para que libertasse Leonardinho anteriormente. É ela, mais uma vez, quem interfere e convence o Major a passar Leonardo de granadeiro a Sargento de Milícias, a fim de que possa se casar com Luisinha. De posse da herança que o padrinho lhe deixara e que o pai, Leonardo Pataca, acabara por devolver-lhe, o moço desposa Luisinha finalmente. Fecha-se o romance, noticiando-se a morte de D.Maria e a de Leonardo Pataca, além de vários acontecimentos tristes, que o narrador diz preferir poupar o leitor de conhecer. 4- O Cortiço-Aluísio de Azevedo ANÁLISE DETALHADA Neste livro, já não é mais a estória dos personagens que interessa tanto. Mais do que ela, salienta-se rivalidade entre o espaço de João Romão e do comendador Miranda, a simbolizarem todo um processo de transformação econômica em momento de expansão urbana. João Romão, um ganancioso comerciante de origem portuguesa, possui uma pedreira, uma taverna e um terreno razoável, onde constrói casinholas de baixo custo para alugar. Secundando-o nas tarefas e com ele repartindo a cama, a figura da negra Bertoleza ex-escrava forte e também ambiciosa, supostamente alforriada. A poucos metros da venda, havia um sobrado que veio a ser ocupado por Miranda, Estela e Zulmira, uma família economicamente segura, cujo chefe vendia pano por atacado. A proximidade do cortiço incomodava Miranda que, por sua vez incomodava João Romão com seu ar de fidalguia e seu título de comendador. A contratação de Jerônimo, um operário português,para o trabalho na pedreira altera um pouco a competição do cortiço,para onde ele se muda em companhia da mulher, a Piedade e a filha Senhorinha.Essa alteração ganha intensidade, sobretudo a partir do momento em que nasce o interesse amoroso entre o operário e Rita Baiana,beleza máxima daquele agrupamento. Rita,no entanto tinha compromisso com Firmo,mulato garboso e gabola, capoerista hábil,morador de um cortiço vizinho, o Cabeça de Gato. No primeiro enfrentamento,firmo leva a melhor, e atinge Jerônimo com uma navalha. Enquanto isso, Botelho, um agregado em casa de Miranda,começa a estimular o interesse de João Romão por Zulmira,a filha do atacadista de panos. Nesse projeto, evidentemente,inclui-se um plano para dispensar Bertoleza. A essa altura Rita e Jerônimo já vivem juntos, e a preocupação deste é vingarse da navalhada que o atingira e, se possível eliminar seu rival de vez. Através de uma combinação prévia,dois tipos escusos atraem Firmo para uma cilada e Jerônimo assassinao a pauladas.

62 Em consequência dessa morte, os Cabeça-de-Gato atacam os carapicus do cortiço de João Romão e a luta só se interrompe por causa de um incêndio provocado( pela bruxa, a lavadeira Paula). Na verdade.desse fogo arrasador renasce um cortiço novo e mais próspero. O fogo ajudara, indiretamente, os planos de João Romão que, agora já vinha mantendo boas relações com a família de Miranda.Só restava o empecilho de Bertoleza.Mas o providencial Botelho descobrira o dono daquela escrava, cujo dinheiro da alforria,tão duramente economizado,fora embolsado por João Romão. Diante da ameaça de retorno ao cativeiro,bertoleza estripa-se,enquanto João Romão recebe um prêmio como amigo da Sociedade Abolicionista. Vamos lá... ESTRUTURA DA OBRA A obra apresenta 23 capítulos não intitulados e não muito curtos. Presença constante de diálogos. Foco Narrativo Narrado em 3ª pessoa, a obra tem um narrador onisciente que se situa fora do mundo narrado e/ou descrito. Há um total distanciamento entre o narrador e o mundo ficcional, por vezes no cortiço de João Romão, outras no sobrado de Miranda. Como o narrador exerce a onisciência, por vezes sua fala se confunde com a dos personagens, principalmente com João Romão, por meio do discurso indireto livre. Há o predomínio na narrativa do discurso indireto livre, o que permite ao autor revelar o pensamento das personagens. ESPAÇO- A narrativa transcorre em alguns bairros do Rio de Janeiro, mas seu foco de atenção se atém ao cortiço de João Romão, situado em Botafogo. O cenário é descrito com ambiente e os caracteres em toda a sua sujeira, podridão e promiscuidade, com uma intenção crítica - mostrar a miséria do proletariado urbano - sem esconder a náusea que o narrador sente diante da realidade que revela, mas posicionando-se de maneira solidária junto ao povo do cortiço: "Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras...o prazer animal de existir,... E naquela terra,...naquela umidade quente e lodosa, começou a minhoca a esfervilhar, a crescer,... uma coisa viva, uma geração que parecia espontânea,... multiplicar-se como larvas no esterco." TEMPO A narrativa apresenta tempo cronológico, bem marcado, co inúmeras situações de horas, dias da semana etc...porém em alguns capítulos o narrador conta em flashback acontecimentos passados, que orientam a narrativa. Romance de cunho social, O Cortiço, de Aluísio Azevedo, é o marco da literatura realista-naturalista brasileira. Uma história envolvente e sombria de uma habitação coletiva no Rio de Janeiro do Segundo Império (período em que as estalagens coletivas proliferavam) que tem como tema a ambição e a exploração do homem pelo próprio homem. De um lado, João Romão, que aspira à riqueza, e Miranda, já rico, que aspira à nobreza. Do outro lado, a "gentalha", caracterizada como um conjunto de animais, movidos pelo instinto e pela fome. Todas as existências se entrelaçam e repercutem umas nas outras. O cortiço é o núcleo gerador de tudo e foi feito à imagem de seu proprietário, cresce, se desenvolve e se transforma com João Romão. O SEXO O sexo é, em O Cortiço, força mais degradante que a ambição e a cobiça. A supervalorização do sexo, típica de determinismo biológico e do naturalismo, conduz Aluísio a focalizar diversas formas de "patologia" sexual: "acanalhamento" das relações matrimoniais, adultério, prostituição, lesbianismo etc. Na elaboração de O Cortiço, Aluísio Azevedo seguiu, como em Casa de Pensão (que é bastante inferior), a técnica naturalista de Zola. Visitou inúmeras habitações coletivas do Rio; interrogou lavadeiras, sapoeiras, vendedores, cavouqueiros; observou-lhes a linguagem; escutou atento os ruídos coletivos dos cortiços; sentiu-lhes o cheiro (como na obra de Zola, as imagens olfativas têm importância na fixação do ambiente, segundo um processo criado pelos naturalistas); viu-

63 lhes a promiscuidade e notou que as coletividades, apesar de divergirem, são ligadas por um estranho sentimento de classe que as une, nos momentos mais críticos, quando são esquecidos os ódios e as divergências. Com toda essa documentação, criou o enredo em tomo de um problema social que se tomava mais e mais grave, com a formação de grandes massas urbanas proletárias, constituídas em boa parte pelos operários dos primórdios da industrialização do país. O VISUAL Duas grandes qualidades devem ser observadas no estilo de O Cortiço: uma é a grande capacidade de representação visual do autor, certamente relacionada com sua habilidade para o desenho (Aluísio exerceu, em certa época, a atividade de caricaturista) e que faz que tenhamos frequentemente, ao ler o romance, a impressão de estarmos assistindo a um filme; a outra é a sua formidável habilidade para dar vida à multidão, ao grande grupo humano dos moradores do cortiço. De fato, vemos, no romance, essa coletividade pulsar, reagir, legando-se, deprimindo-se ou irando-se e ocupando o lugar de personagem central da obra. Desse grupo variado e animado destacam-se alguns tipos, a que o romancista soube atribuir urna individualidade marcante. Entre estes últimos, é inesquecível a figura de Rita Baiana, a bela, sensual, generosa e graciosa mulata, que se tornou uma das personagens mais notáveis da literatura brasileira. Deve se notar que no romance, as mulheres são reduzidas a três condições: de objeto, usadas e aviltadas pelo homem: Bertoleza e Piedade; de objeto e sujeito, simultaneamente: Rita Baiana; e de sujeito, são as que se independem do homem, prostituindo-se: Leonie e Pombinha. Veja exemplos de descrição realista e objetiva dos tipos humanos na obra: PERSONAGENS As personagens em O Cortiço não podem ser tratadas como entidades independentes, podendo ser vistas preferencialmente como partes de uma rede intrincada de influências e interações. Alguns podem ser separados em grupos de forma mais clara em grupos de relacionamento, esquema no qual serão apresentados a seguir. O cortiço e o sobrado: personagem principal; sofre processo de zoomorfização; é o núcleo gerador de tudo e foi feito à imagem de seu proprietário, cresce, se desenvolve e se transforma com João Romão. Apesar de seu crescimento, desenvolvimento e transformação acompanharem os mesmos estágios nas pessoas de João Romão, é, na verdade, o estabelecimento que muda o dono, não o contrário. Vê-se na evolução do cortiço um processo que não se pode evitar ou reverter, determinado desde o início da história, tendo João Romão apenas feito o que estava em seu instinto de homem desprovido de livre-arbítrio fazer. O sobrado representa para o cortiço o mesmo que Miranda representa para Romão, criando-se entre eles a mesma tensão que existe entre os dois homens. João Romão: E seu tipo baixote, socado, de cabelos à escovinha, a barba sempre por fazer, ia e vinha da pedreira para a venda, da venda hortas e ao capinzal, sempre em mangas de camisa, tamancos, sem meias, olhando para todos os lados, com o seu eterno ar de cobiça apoderando-se, com os olhos, de tudo aquilo de que ele não pode apoderar-se logo com as unhas....possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava resignado as mais duras privações. Dormia sobre o balcão da própria venda, em cima de uma esteira, fazendo travesseiro de um saco estopa cheio de palha. Miranda- português, 35 anos, negociante de tecidos. Muda-se para um sobrado, ao lado do cortiço de J. Romão. Casa-se por interesse com Estela, que não o ama, sente-se humilhado e aos poucos irá invejar J. Romão que ascendeu sozinho, sem precisar se casar por conveniência Estela- esposa de Miranda, pretensiosa e com fumaças de nobreza. Zulmira- suposta filha de Miranda e Estela- tinha de 12 para 13 anos, pálida, com pequeninas manchas roxas nas narinas.- sardas pelo rosto- unhas moles e curtas, olhos grandes, vivos e maliciosos. Bertoleza- quitandeira,, escrava que enganada por J. Romão crê que está alforriada. Trabalhadeira, humilde e servil

64 Piedade- esposa de Jerônimo, não se adapta aos costumes do cortiço mantém seus hábitos portugueses, tanto na alimentação como em não tomar banho todos os dias.abandonada pelo marido, vai se degradando até ser expulsa do cortiço. Jerônimo-português de uns 35 a 40 anos,, alto, barba áspera,cabelos pretos e maltratados caindo-lhe sobre a testa, pescoço de touro e e cara de Hércules.,olhos que exprimiam bondade. A princípio mostra-se trabalhador, bom marido, bom pai. Ao se apaixonar por Rita Baiana passa por uma degradação muito grande-( chamamos abrasileiramento).no final da narrativa busca sua mulher e filha e abandona o cortiço, na esperança de voltar a ser o que era. Rita Baiana- mulata muito sensual, amiga de todos no cortiço. E toda ela respirava o asseio das brasileiras e um odor sensual de trevos e plantas aromáticas. Mulher independente, causadora da transformação de Jerônimo que fica fascinado por ela. Tudo começa quando ela lhe oferece um café. Firmo- capoeirista, amante de Rita Baiana.Teria seus trinta e poucos anos,mas não parecia ter vinte e poucos.pernas e braços finos, pescoço estreito,porém forte; não tinha músculos, tinha nervos.não tinha barba, e sim um bigodinho crespo, petulante onde reluzia à brilhantina de barbeiro; grande cabeleira encaracolada, negra e bem negra, dividida ao meio na cabeça, estufando debaixo da aba do chapéu de palha, que ele punha de banda derreado sobre a orelha esquerda. João Romão, Miranda, Bertoleza e secundariamente, Zulmira, Botelho e D.Estela: de acordo com o crítico literário Rui Mourão, os elementos conflitantes na obra "não se isolam em planos equidistantes. Ao contrário, o que existe [...] é um estado de permanente tensão e mútua agressão". Afirma, em outra ocasião, que dessas lutas ninguém sairá vencedor ou vencido. Miranda e João Romão, apesar de aparentarem ser diferentes frente à sociedade, são essencialmente influenciados pelos mesmos elementos, tendo que ter, portanto, o mesmo destino. Seus rumos se tornam entrelaçados similarmente aos laços existentes entre sobrado e cortiço: vizinhos, porém distantes; diferentes, porém iguais sob olhar mais minucioso. Romão e Miranda são complementares. Bertoleza e D.Estela são, sob todas as óticas, o oposto uma da outra: a negra escrava, pobre e fiel, e a mulher branca, nobre e adúltera. Não há relação de complementação nesse caso, apenas uma forma de acentuação do abismo de inveja que une João e Miranda. Enquanto um deseja a independência, a prosperidade e a fidelidade conjugal do outro, o outro almeja os contatos, a nobreza e a capacidade de esbanjamento do um. Zulmira e Botelho têm aqui papéis de meros instrumentos do autor para dar andamento à história. Jerônimo, Rita, Firmo e Piedade: nas relações entre essas personagens é demonstrado mais claramente o princípio naturalista que rege a obra de Azevedo. Suas interações são baseadas puramente no instinto, no desejo sexual, no ciúme, na ira. Jerônimo e Firmo, são como Romão e Miranda, complementos um do outro. Um era "a força tranqüila,o pulso de chumbo, em constante tensão com a força nervosa (...) o arrebatamento que tudo desbarata no sobressalto do primeiro instante". Mas, nas palavras de Azevedo, ambos corajosos. O autor deixa claro que nenhum deles pode fugir ao que lhes está destinado. Jerônimo, desde o dia em que viu Rita dançar pela primeira vez, estava fadado à perdição, arrastando Firmo e Piedade para o caminho do ciúme e da destruição a morte, no caso de Firmo, e a miséria e a quase-loucura, no caso de Piedade. A metamorfose de Jerônimo se dá como tentativa de se tornar Firmo antes de tirar o que lhe pertence não só Rita, mas tudo o que ela implicava: a beleza, os encantos da terra, a vida feliz do malandro sem preocupações. Cada um reage mais ou menos de acordo como suas características pessoais, notoriamente a raça (a submissão da portuguesa e a belicosidade do mulato capoeira), mas se faz presente em todos a conformação, a inércia. Com a morte de Firmo, Jerônimo assimila o papel de seu rival, mantendo um fantasma do que era no passado, que a bebida e a Rita contribuem para esmaecer. Os elementos naturais e as circunstâncias estão sempre a sufocar qualquer manifestação psicológica independente, carregando os personagens numa correnteza inevitável e irreversível. Pombinha, Leónie e Senhorinha: desde o momento em que é apresentada, a prostituta Leónie, madrinha de uma das filhas de Augusta, representa a independência financeira que aqueles

65 que têm vida honesta não conseguem alcançar. Vende seu corpo, mas o que faz não é crime aos olhos dos moradores do cortiço, que não tem as cínicas restrições sexuais da burguesia brasileira. Pombinha, filha de D.Isabel, era uma garota de 18 anos que ainda não se havia tornado mulher. Após anos esperando o momento de se casar, irá se separar do marido após pouco tempo para seguir num relacionamento homossexual com Léonie, que havia lhe iniciado no prazer sexual. Ao atiçar a sexualidade de Pombinha, fazendo com que ela atinja a puberdade, Leónie põe em funcionamento uma dinâmica de acontecimentos que passam a independer da vontade dos personagens. Pombinha possuía um desenvolvimento intelectual maior que a maioria dos personagens do cortiço, talvez por não se ter visto envolvida tão cedo nas tramas de sexo e ciúme que os consumiam. Ao ter que começar uma vida como mulher casada, não conseguiu se adaptar à falta de liberdade e foi viver com Leónie, aprendendo seu ofício. Ironicamente, a comercialização do sexo protagonizada por Leónie e Pombinha se contrapõe à vulgarização do sexo pelos moradores do Cortiço enquanto esses são escravos de seus impulsos, Leónie e Pombinha se tornam mais senhoras de si através do desejo alheio. Nesse quadro, Senhorinha, a filha de Jerônimo se insere para provar que ninguém foge ao meio: tendo sido criada num cortiço, substituindo Pombinha para seus moradores, com os pais separados e vendo homens tirar proveito da mãe de forma constante, termina tendo o mesmo destino de Pombinha, apesar da educação que teve. Alguns personagens secundários, usados por Azevedo principalmente como objetos de estudo da temática determinista: As LAVADEIRAS- Leandra( a machona), Augusta Carne-Mole ( esposa de Alexandre, mãe de Juju),Leocádia ( esposa de bruno), Paula ( a bruxa), Marciana e sua filha Florinda,D. Isabel ( mãe de Pombinha) - Henrique: filho de um fazendeiro importante que se encontra aos cuidados de Miranda até o fim de seus estudos. Cultivará um caso com D.Estela. - Valentim: filho alforriado de uma escrava por quem D. Estela nutria afeição ilimitada. - Leonor: negrinha virgem, moradora do cortiço. - Leandra (Machona): portuguesa feroz, habitante do cortiço. - Ana das Dores: filha desquitada de Machona. - Neném: filha virgem de Machona, muito cobiçada. - Agostinho: filho caçula de Machona que morre num acidente da pedreira. - Augusta Carne-Mole: brasileira branca, honesta, casada com Alexandre e com muitos filhos. - Alexandre: mulato, militar, dava muito valor ao seu emprego. - Juju: afilhada de Leónie., - Leocádia: portuguesa, esposa de Bruno, comete adultério com Henrique. - Bruno: ferreiro casado com Leocádia. - Paula (a Bruxa): cabocla velha que exercia função de curandeira. Põe fogo no cortiço duas vezes após enlouquecer, morrendo na segunda tentativa. - Marciana: mulata velha, com mania de limpeza, mãe de Florinda, que perde o juízo quando a filha foge de casa. - Florinda: filha virgem de Marciana, que engravida de um dos vendeiros de Romão e foge de casa. - Dona Isabel: mãe de Pombinha. Seu maior sonho é ver a filha casada. - Albino: Fechava a fila das primeiras lavadeiras, o Albino, um sujeito afeminado, fraco, cor de aspargo cozido e com um cabelinho castanho, deslavado e pobre, que lhe caia, numa só linha, até o pescocinho mole e fino.- lavadeiro homossexual, morador do cortiço. - Delporto, Pompeo, Francesco e Andrea: imigrantes italianos que residiam no cortiço. Azevedo foi um dos primeiros a caracterizar literariamente a figura do imigrante italiano no Brasil, mesmo que de forma preconceituosa, retratando-os como carcamanos imundos. - Porfiro: mulato capoeira amigo de Firmo. - Libório: velho pão-duro que esmolava entre os outros moradores do Cortiço, mas que possuía uma fortuna escondida, da qual Romão irá se apoderar depois da morte de Libório no segundo incêndio provocado por Bruxa. - Pataca: cúmplice de Jerônimo no assassinato de Firmo, torna-se um dos aproveitadores de Piedade depois que Jerônimo vai morar com Rita.

66 Botelho: Era um pobre-diabo caminhando para os setenta anos, antipático, cabelo branco, curto e duro como escova, barba e bigode do mesmo teor; muito macilento, com uns óculos redondos que lhe aumentavam o tamanho da pupila e davam-lhe à cara uma expressão de abutre, perfeitamente de acordo com o seu nariz adunco e com a sua boca sem lábios: viam-lhe ainda todos os dentes mas, tão gastos, que pareciam 1imados até ao meio. (...) Atirou-se muito às especulações; durante a guerra do Paraguai ainda ganhara forte, chegando a ser bem rico; mas a roda desandou e, de malogro em malogro, foi-lhe escapando tudo por entre as suas garras de ave de rapina. Pombinha- considerada a flor do cortiço, bonita, loira,muito pálida, modos finos e educados, recebeu instrução até em francês.depois de violentada por Léonie, casa-se,mas insatisfeita, separa-se e, juntamente com Léonie, dominam o meretrício da região. João da Costa- noivo e depois marido de Pombinha- Traído pela mulher, depois a abandona. Léonie- cocote de procedência francesa.prostituta e lésbica era muito querida por todos no cortiço. Gosta de Pombinha e a força numa experiência homossexual.ao final ambas dominam o meretrício. Enredo O Cortiço conta principalmente duas histórias: a de João Romão e Miranda, dois comerciantes, o primeiro, o avarento dono do cortiço, que vive com uma escrava a qual ele mente liberdade. Com o tempo sua inveja de Miranda, menos rico, mas mais fino, com um casamento de fachada, leva-o a querer se casar com sua filha (e tornar-se Barão no futuro, tal qual Miranda se torna no meio da história). Isto faz com que ele se refine e mais tarde tente devolver Bertoleza, a escrava, a seu antigo dono (ela se mata antes de perder a liberdade). A outra história é a de Jerônimo e Rita Baiana, o primeiro, um trabalhador português que é seduzido pela Baiana e vai se abrasileirando. Acaba por abandonar a mulher, para de pagar a escola da filha e matar o ex-amante de Rita Baiana. No pano de fundo existem várias histórias secundárias, notavelmente as de Pombinha, Leocádia e Machona, assim como a do próprio cortiço, que parece adquirir vida própria como personagem. Vejamos. A área suburbana do Rio de Janeiro do século XIX é o cenário da história de um esperto e pãoduro comerciante português chamado João Romão. Comprando um pequeno estabelecimento comercial, este consegue se aliar a uma negra escrava fugida de nome Bertoleza, proprietária de uma pequena quitanda. Para agradá-la, falsifica uma carta de alforria que asseguraria à negra a tão desejada liberdade. O pequeno estabelecimento, mantido pela esperteza de João Romão e o trabalho árduo de Bertoleza, começa a crescer. Aos poucos o português começa a construir e alugar pequenas casas, o que leva a edificação de um grande cortiço: a "Estalagem São Romão." Logo se ergueriam novas pendências, como a pedreira (que servia emprego aos moradores) e o armazém (onde os mesmos compravam seus artigos de necessidade). O crescimento só não agrada ao Senhor Miranda, dono de um sobrado vizinho. Nas casas do cortiço, figuras das mais variadas caracterizações podem ser vistas e apreciadas: entre eles o negro Alexandre, a lavadeira Machona, a moça Pombinha, Jerônimo e Piedade (casal de portugueses), e a sensual Rita Baiana, que desfilava toda a sua sensualidade dançando nas festas. Num desses encontros feitos de música e gritos, Jerônimo se encanta com a dança de Rita Baiana, o que provoca ciúmes em Firmo, amante da moça. Há uma violenta briga, e Firmo fere o jovem português com uma navalha, fugindo logo depois. Jerônimo vai parar num hospital. Forma-se um novo cortiço perto dali, recebendo o apelido de "Cabeça-de-gato" pelos moradores do cortiço de João Romão. Estes, por sua vez, os apelidam de "Carapicus", o que já indica a competição e a rincha entre eles. Enquanto isso, Jerônimo volta do hospital e, numa emboscada, mata Firmo, agora morador do cortiço rival. Enquanto o jovem português larga a mulher para viver com Rita Baiana, o pessoal do "Cabeça-de-gato" entra em guerra com os moradores do cortiço de João Romão para vingar a morte de Firmo. Um incêndio misterioso acaba com o conflito e destrói grande parte do cortiço do velho comerciante português.

67 João Romão reconstrói sua estalagem, que fica ainda mais próspera, e se alia a Miranda, com a intenção de freqüentar rodas mais finas e elegantes e se casar com uma moça de boa educação. O verdadeiro intento do esperto comerciante é a mão de Zulmira, filha do novo amigo. Concretizando seu sonho, só resta agora se livrar do incômodo de sua companheira Bertoleza. Isso se dá através de uma carta enviada aos proprietários da negra fugida, revelando seu esconderijo. Estes não demoram a aparecer no cortiço com o intuito de levá-la de volta. Bertoleza, percebendo a traição, suicida-se com a mesma faca de limpar peixes que usou a vida inteira para preparar as refeições de João Romão e os clientes do seu armazém. A homossexualidade retratada em O Cortiço No naturalismo brasileiro o homem é visto como produto do meio e biológico. A questão da homossexualidade é tratada como desvio de conduta, anormal, patológico, animalesca. Assim as personagens apresentam desvios. O naturalismo é material, é do corpo não humano. Retratando a realidade de forma objetiva, descrevendo grupos marginalizados. O autor retrata a vivência e o comportamento da sociedade sobre uma ótica estética, rica em detalhes, com teor denunciativo, rompimento com o romance convencional. Na época em que foi publicado o romance causava choque aos leitores, por seus temas que mostrava através do ficcional o factual, como, por exemplo, a homossexualidade de Léonie e Pombinha. Léonie configura-se como a pervertida, que desvia Pombinha do caminho, havendo apelos carnais. O autor descreve as personagens com instinto animal, patente o depreciativo, relações de interesse, sedução, desejo, poder, culminados nos processos deterministas do cientificismo/ evolucionismo.os furtos, estupros, homicídios ocorrem sem justificativa. Léonie - Nos dias atuais poderíamos definir Léonie, como uma mulher forte, autêntica, a frente do seu tempo. Mais por se tratar de um romance naturalista há controvérsia, já que no naturalismo Léonie seria definida como mulher pervertida, impura, aquela que tem que ser banida, pois é um "mal" que assola a sociedade e pode contaminar os que conviverem com ela. A mulher no naturalismo era tratada como objeto sexual, e tudo sobre os desvios na sexualidade estavam relacionados a fatores internos e externos. O autor caracteriza Léonie como mulher de procedência francesa que possuía um sobrado na cidade, o que demonstrava status. A busca por relação sexual para satisfazer-se: (...) Os seus lábios pintados de carmim, sua pálpebras tingidas de violeta; o seu cabelo artificialmente loiro. (AZEVEDO, 2009, p.105). Utiliza faceta para seduzir, abocanhar sua presa, um jogo de interesse, dava-lhe presente, premiando-a constantemente: O troco ficou esquecido, de propósito, sobre a cômoda (...). (pag.108) Leónie entregou á Pombinha uma medalha de prata (...). (pag.109) (...) tomou a mão de Pombinha e meteu-lhe um anel cercado de pérolas. (pag.139) Quando sua presa caía na armadilha, ela saciava sua sede, devorando-a ferozmente toda. -Vem cá, minha flor!... Disse-lhe, puxando-a contra si (...). Sabes? Eu te quero cada vez mais!...estou louca por ti!(p.135) E, num relance, desfez para o lado, examine, inerte, os membros atirados num abandono de bêbado. (p ) No jogo do homoerotismo, essa mulher subjuga as vontades da afilhada utilizando discurso

68 sedutor: Léonie saltava para junto dela e pôs-se a beijar-lhe, á força, os ouvidos e o pescoço, fazendo-se muito humilde, adulando-a, comprometendo-se a ser sua escrava e obedecer-lhe como um cachorrinho. (p.137). Pombinha - Na segunda análise da personagem vale ressaltar seu estereótipo de fraca, nervosa, doente, enfermiça, doente, loira, muito pálida, sua sensualidade associada a doses de inocência, pureza, boa família, asseada. A relação homossexual entre Pombina e sua madrinha Léonie se dá em consequência de um estupro.pombinha rompe drasticamente com os padrões impostos por ima sociedade preconceituosa, desigual, desumana. A moral cristã do naturalismo aniquila com os padrões qualquer possibilidade do "patólogico", defeituoso, se dar bem. A personagem tem a figura da mãe, que a protege e a figura do pai, um homem que fracassa e comete suicídio. Talvez essa figura do pai é substituída pelas carícias e mimos de sua madrinha Léonie. O que conta muito segundo os estudiosos para a formação da personalidade de Pombinha. Léonie perverteu Pombinha desviando-a para uma vida de prostituição, sexo e embriagues. Pombinha toma Léonie como espelho, modelo de vida a ser seguido. Observemos à afilhada, antes da relação homoérotica: "A folha era a flor do cortiço (...)". (p.37) "As mãos ocupadas com o livro de rezas, o lenço e a sombrinha(...) é mesmo umaflor(...)orçando pelos dezoito anos, não tinha pago a natureza o cruento tributo da puberdade". (p.38). Este assunto não era segredo para ninguém, porém quando menstruou, todos ficaram sabendo, houve comemoração, é como se as janelas da liberdade fossem abertas e um pássaro pudesse finalmente voar. "E devorava-a de beijos violentos, repetidos, quentes, que sufocavam a menina, enchendo de espanto e de um instinto temor (...)" (p.135) A ruptura acontece quando Pombinha se separa do seu marido, após adultério. Atirou-se as coisas mundanas e foi morar com Léonie, mais sustentava a mãe com o dinheiro da prostituição, a qual se tornou perita e com sua sagacidade, conquistava todos os homens. Pombinha tinha uma afilhada e a tratava com a mesma simpatia que fora tratada por Léonie. "A cadeia continuava e continuaria interminavelmente; o cortiço estava preparando uma nova prostituta naquela pobre menina desamparada, que se fazia mulher" (p.236) Você que vai prestar FUVEST-UNICAMP-FAMEMA- veja estas questões, resolva-as e, se quiser, traga para a professora olhar. 1. Caracterize o narrador em personagem ou observador-onisciente. Justifique com passagens do texto. 2. De que forma resume o narrador, no capítulo I, A RIVALIDADE ENTRE João Romão e Miranda? 3. Quem foi Bertoleza, descrita no capítulo I? Relacione: João Romão > venda > cortiço >pedreira João Romão > Bertoleza Como se apresenta, o casal Miranda e D. Estela? Sobrado > Miranda > Estela

69 4. Uma reflexão feita por Miranda, no cap. II,dá bem a medida do interesse crítico de Aluísio de Azevedo pelo imigrante português.localize a passagem e transcreva-a. 5. O cap. III inicia-se por uma longa descrição do amanhecer no cortiço. Redija um texto semelhante acerca de outro tema, por exemplo, uma multidão aglomerada na porta de um estádio de futebol ou a entrada solene da noiva em casamento de gala.observe que é indispensável, num quadro assim a ordem dos detalhes colhidos.caracterize as lavadeiras - perspectiva naturalista: busque exemplos. 6. Durante todo o romance, Aluísio de Azevedo opõe o mundo dos brasileiros ao mundo dos portugueses, descrevendo-lhes os hábitos, as crenças, os gostos, etc,,,no capítulo VII, a polaridade inclui também a música pela contraposição da dolência do fado à sensualidade do samba.comente o trecho em que essa cena acontece. 7. Quem era o suposto dono do cortiço cabeça de gato?( cap. XIII) 8. Quase no fim do capítulo III aparece em cena Jerônimo, cuja história será contada apenas no capítulo V. De que forma é descrito? 9. Jerônimo x João Romão > consciência do valor do trabalho x interesse capitalista-caracterize Jerônimo e Piedade 10. Quem era Firmo? Caracterize- Caracterize também o velho Libório 11. O que acontece com Jerônimo? Piedade sente o perigo por instinto ou por inteligência? 12. Relacione: Henriquinho x Leocádia x Bruno 13. Ao longo e cínico diálogo entre João Romão e Botelho termina com o ditado: O dente que já não presta arranca-se fora ( cap. XXI). Que sentido tem no contexto da conversa? 14. Jerônimo > processo de abrasileiramento > Rita > Firmo > Piedade-O que descobriu Marciana? Que proveito tira João Romão da situação? 15. Caracterize Leonie e seu relacionamento com as pessoas do cortiço. 16. O que se comemora no sobrado de Miranda?A revolta de Marciana e suas conseqüências. Por que a bruxa sorriu quando Miranda ameaçou João Romão? 17. Por que Firmo e Jerônimo brigaram? Quem representava a força? Quem representava a agilidade? O que colocou fim na briga? Por que os moradores temiam a presença da policia? 18. O que o narrador revela sobre a visita de Pombinha a casa de Leonie? Como o narrador apresentou a transformação de Pombinha em mulher? Os preparativos do casamento de Pombinha. Qual o efeito que o pedido de Bruno provocou em Pombinha? 19. O que era o Cabeça de Gato? Quem eram os Carapicus? Que transformações aconteceram com J. Romão? O que as motivava? Ao final do cap. II,qual recurso utiliza Botelho para aquietar a consciência do jovem Henrique, amante de D. Estela? Qual o acordo que fez com o Botelho? 20. Rita x Firmo x Jerônimo: o que os aproxima? O que os distancia? O que Aconteceu com o Firmo? 21. A descrição da chegada de Rita Baiana no Cortiço ( cap. VI) exemplifica a maestria de Azevedo na criação de tipos populares, um dos segredos também de Camilo Castelo Branco( veja-se o João da Cruz de Amor de Perdição) Explique o trecho, anotando-o. Qual a reação do cortiço com a volta de Rita? 22. No capítulo VIII, Piedade, mulher de Jerônimo, sente pela primeira vez, ciúmes de Rita Baiana. Assim o expressa o narrador: Não era a inteligência nem a razão o que lhe apontava o perigo, mas o instinto, o faro sutil e desconfiado de toda fêmea pelas outras, quando sente o seu ninho exposto. O que aconteceu com Rita e Piedade? Como reagiram os habitantes do cortiço diante da disputa das duas? O que voltou a unir os habitantes do cortiço? 23. Que fato importante da trajetória do cortiço é focalizado no 17º capitulo? Quem o provocou? O que os fatos deste capítulo revelam sobre a solidariedade entre os menos favorecidos? 24. O capítulo II de Iracema(1865), de Alencar, começa pela descrição da heroína, aquela que ficou conhecida como a Virgem dos lábios de mel.curiosamente o parágrafo iniciado por Naquela mulata estava o grande mistério... (CAP.VII) faz uso do mesmo tipo de metáfora para dizer dos tormentos íntimos de Jerônimo. Comparar os dois textos é bom exercício de verificação de proximidades e das distâncias entre Romantismo e Realismo,

70 vizinhança que se explica muito bem nas obras de Raul Pompeia Aluísio Azevedo ou Camilo C. Branco. 25. A quem Piedade culpa por ter sido abandonada pelo marido? Como Piedade passou a se comportar depois que foi abandonada por ele? Por que Senhorinha também foi atingida por esse fato? 26. Qual o problema que J. Romão tem de resolver para poder casar-se com Zulmira? Era um casamento por amor? Justifique. Como J. Romão tentou resolver o problema? Qual foi a solução definitiva? Quanto ele pagou por ela? 27. O reencontro entre Jerônimo e Piedade, no capítulo XIX, pode ser considerado um momento de romantismo, dos tantos em que resvala o narrador ao longo da obra? 28. A última hora, às vésperas do casamento, os sonhos românticos de Pombinha com que se desfazem( cap. XII). Por quê? O que aconteceu com Pombinha depois do casamento? 29. Por que no final de O Cortiço revela certo gosto de Aluísio pelo melodramático? 30. Que cenas marcaram o final da narrativa? Leia, ainda, que é importante!!!!!! O Protagonista do Cortiço é o próprio cortiço Conjunto 1 Cortiço São Romão Define-se por sua composição elementar.seus elementos têm uma constituição primária e estão ao nível da natureza do instinto. O Conjunto 2- Casa do Miranda- mostra a vigência de certas regras mais definidas culturalmente.existe entre seus elementos uma coexistência baseada num maleável regime de trocas que indica a predominância de outros interesses que não o puramente instintivo. Portanto,ainda que correndo o risco de simplificar a questão se poderia dizer que o conjunto 1 está do lado da Natureza e o conjunto 2 está do lado da cultura.toda a movimentação de Romão,por exemplo, é para sair do solo puramente biológico e instintivo em que se agita o cortiço e entrar numa organização social regida por um sistema jurídico e político representativo da cultura. O conjunto simples nivela-se em vários sentidos,porque sua dominante é a horizontalidade.de um ponto de vista racial sua grande maioria é de preto e mestiços e os elementos de outras raças que acabam por se comportar como a maioria.de um ponto de vista social todos são empregados e assalariados vivendo de pequenos misteres sendo, portanto, economicamente dependentes do regime imposto pelos elementos do conjunto 2. Nivelam-se por baixo pela miséria e pobreza.agrupam-se num coletivismo tribal e identificam-se mais pelas semelhanças do que pelas diferenças..o próprio nome CORTIÇO-marca a sua natureza.num cortiço, metaforicamente falando também a grande quantidade de abelhas são as operárias com funções semelhantes, excetuando-se somente a abelha rainha.não estranha, portanto, que o narrador insista numa sequência de imagens de animais e insetos para caracterizar esse conjunto.tome-se como exercício e pesquisa o campo III relatando o despertar do cortiço.por aí através de um processo de antropomorfização não se diferem objetos, homens,animais e vegetais.é tudo um bando de machos e fêmeas, numa fermentação sanguínea,naquela gula viçosa de plantas rasteiras,mostrando o prazer animal de existir.há um verminar constante de formigueiro assanhado e destacam-se risos, sons de vozes que se alternavam,sem saber onde grasnar de marrecos,cantar de galos,cacarejar de galinhas. Para ressaltar essa borda de seres primitivos, o narrador acentua a degradação tipos aproximando-os insistentemente de animais e conferindo-lhes apelidos.leandra com äncas de animal do campo,neném como uma enguia ; Paula com dente de cão e Pombinha,com esse nome no diminutivo ocultando seu verdadeiro nome,significa a fusão do natural e do cultural,quando o narrador privilegia o apelido de caracterização zoomórfica.e assim, narrativa a dentro persiste um movimento de zoomorfização das criaturas, nivelando-as por baixo,pelo que tem de mais elementar.romão e Bertoleza trabalham como uma junta de bois, o cortiço exala um fartum de besta no coito,os personagens se xingam de cão,vaca, galinha, porco

71 ; Jerônimo com suas lascívias de macaco e cheiro sensual de bodes ;Piedade abandonada surge ululante como um cão,soltando um mugido lúgubre como uma vaca chamando de longe. PERSONAGENS Relação Bruno/Leocádia: quando Bruno descobre que Leocádia encontra-se com Henriquinho, a solução que encontra é a destruição de sua casa e a expulsão da mulher sob ameaça de morte. Relação Jerônimo/Firmo: a rivalidade por causa da mulata Rita configura-se por uma briga de porrete versus navalha, e num outro ponto da narrativa pelo assassinato de Firmo. Relação Romão/Bertoleza: ao se ver traída por Romão, Bertoleza comete violência contra si mesma e rasga a barriga derramando as vísceras no chão da cozinha. Relação Rita/Piedade: reduplicando o conflito Firmo/Jerônimo, brasileiro/ português, branco/mulato xingando-se as personagens como os mais diferentes nomes de animais, reafirmando o primitivismo de seu conjunto. Já o outro conjunto- o complexo, soluciona os conflitos efetivando trocas de objetos e dons. Na verdade, mais objetos do que dons, uma vez que o romance se esforça por cumprir os preceitos naturalistas ressaltando sempre o aspecto físico/objetivo das relações. Relação Estela/Miranda: Apontada desde o príncipio da narrativa como uma associação de interesses em que a mulher entrava com o capital e o homem com a sua gerência, destacase a função do dote, na formação dessa sociedade econômico - sentimental. João Romão: Significa elemento vitorioso segundo uma seleção das espécies, valores tidos como positivos na cultura brasileira. João Romão vendeiro Miranda: sua posição de aristocrata com pequenas variações se mantém e ele atinge o baronato. Jerônimo: depois de atingir o máximo de sua posição de assalariados, envolvido pelos elementos naturais do conjunto 1 no interior do qual foi viver, entra em degenerescência. Jerônimo: quando aparece na estalagem de Romão. A figura mitológica aí não é acidental,mas ganha mais sentido com a fisionomia da personagem depois que entra em decadência.ele aí chega com ideais de ascensão,pois saíra da roça onde tinha que se sujeitar a emparelhar com os negros escravos e viver com sem aspirações nem futuro, trabalhando eternamente para outro [ cap. V ].Todo esse capítulo é uma exaltação das virtudes de Jerônimo como um tipo clássico-mitológico. A- Mulher Objeto- Exemplifica-se inicialmente em Bertoleza, elemento feminino que se associa ao masculino(romão) para criação do cortiço. Macho e Fêmea trabalham dia e noite, e quanto mais o tempo passa, mais o macho se afasta da Fêmea, uma vez que ela era peça fundamental apenas no principio de carreira de Romão : a medida que ela galgava posição social, a desgraça descia mais e mais, fazia-se mais escrava e rasteira. Outro exemplo é Zulmira: vai ser outro degrau utilizado por Romão, agora não no conjunto 1,mas no conjunto 2. A passagem de um conjunto ao outro implica na presença de um elemento feminino no regime de troca Reafirmam-se certas regras da sociedade, daquilo que José de Alencar chamara de mercado matrimonial. As ligações entre ele e Bertoleza e ele e Zulmira são totalmente circunstanciais. As mulheres aí são elementos cambiáveis no comércio que ele opera. B- A MULHER Sujeito - objeto. A relação Estela / Miranda coloca os dois em nível de igualdade.ambos se beneficiam. Essa relação ajusta o regime de trocas sexuais, que são a contrapartida das trocas econômicas e sociais. A dupla Rita/Jerônimo exemplifica o mesmo regime de trocas. O narrador vem ao nível do enunciado para dizer que entre eles se cumpria o ritual da atração racial. Rita é metonímia da natureza tropical enquanto Jerônimo é o símbolo daquilo que o autor chama de raça superior : mas desde que Jerônimo propendeu para ela, fascinando-a com sua tranqüila seriedade de animal bom e forte, o sangue da mestiça reclamou os seus direitos de apuração, e Rita preferiu no europeu o macho de raça superior. (cap. 15) Todas essas personagens têm a caracteriza-las ou permanência no mesmo status econômico e social ou a decadência. Nenhuma sai de seu conjunto, as transformações são endógenas e não exógenas como se dará com Leonie, Pombinha, Senhorinha.

72 C) Mulher-sujeito. O termo sujeito aqui implica numa interpretação dos valores ideológicos da comunidade descrita. Assim como Romão consegue se impor afirmando-se enquanto indivíduo dentro dos padrões vigentes na sociedade, aquelas mulheres(leonie, Pombinha, Senhorinha) também se destacam da dependência contínua ao macho e passam a exercer o poder através do sexo-luxúria. Como Romão, elas extrapolam de seu conjunto original e se realizam no conjunto complexo. Léonie- Como protótipo da mulher do cortiço que saiu para a prostituição de elite, mantém trânsito livre entre um conjunto e outro. Ela pode desfilar com os amantes pelas ruas e teatros com a mesma leveza com que regressa ao cortiço para ver sua afilhada. Sua ascensão social permite-lhe o trânsito. O modelo de Léonie repete-se em Pombinha, que é por ela seduzida, deixando de lado seu aspecto angelical para assumir a imagem da serpente, que o narrador maneja para classificar vigor do instinto e a ameaça sexual. Repete-se em termos onomásticos o determinismo: a pombinha vai ser devorada pela leoa através da iniciação homossexual: a serpente vencia afinal: Pombinha foi, pelo próprio pé, atraída, meter-se-lhe na boca. Pombinha, enfim, desfere o vôo Fique Atento! Bertoleza se considera como pertencente a uma raça superior à negra, pois é cafuza e inferior à branca.seu meio de origem é,evidentemente,inferior ao de João Romão, pois ela era escrava a ele provinha de um país europeu, embora fosse de classe baixa. Daí a admiração que a mulher tem pelo português e daí a sua total subserviência a ele. As imagens que o autor emprega na descrição do desenvolvimento do cortiço são degradantes( lodo, lama,esterco) e reduzem as pessoas ao grau mais baixo e repulsivo da escala animal( larvas). Essa tendência ao rebaixamento e à animalização das pessoas é características do naturalismo. Está implícita na obra que Miranda tem a ideia de que o Brasil é um paraíso para os espertos. O pais não é visto como um lugar de trabalho construtivo, mas sim um lugar para fazer a América., ou seja,enriquecer facilmente e aproveitar de tudo sem escrúpulos. Apesar de ser mais feliz com Rita Baiana, em nova vida cercada de prazeres, Jerônimo perdeu com seu caráter português, sua antiga fibra moral, sua disciplina e seus projetos de enriquecimento.agora, leva vida relaxada, endivida-se, embriaga-se. Existe uma relação entre a mulata e a lua, a mulher é, nos dois textos associada ao brilho prateado da lua.. O narrador diz que Rita Baiana era volúvel( leviana) como toda mestiça. Aqui temos a expressão de um preconceito determinista que era tomado como verdade científica pelos naturalistas.de que preconceito e determinismo se trata?trata-se do determinismo da raça, que era tomado como verdade científica e que degenerou em simples preconceito racial. Aluísio de Azevedo pertence ao Naturalismo, que tem como características principais o zoomorfismo e o descritivismo objetivo, que fixa elementos sensoriais. O zoomorfismo aparece no aglomerado de fêmeas e machos, não molhar o pelo, fossando, pomba no cio e a análise objetiva voltada para elementos sensoriais, aprece em fio d água que escorria da altura de uns cinco palmos, chão inundava-se, dentre outras. O reencontro entre Jerônimo e Piedade, no cap.xix, pode ser considerado um momento de romantismo, pois arrependidos, chorosos, cheios de melancolia e derrotada ternura um pelo outro, eles são vistos comovidamente pelo narrador, que usa de sinais de pontuação subjetivos e de frases entrecortadas, à moda de balbucio, de voz embargada pela tristeza- embora volte quase que imediatamente a postura impessoal. No final do capítulo II,Aluísio de Azevedo põe em boca de Botelho um discurso cuja ironia nos lembra O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós ( 1875) com os argumentos levantados pelos safados padres de Leiria para tornar lícito seu amasiamento ilegal com as devotas, para aquietar a consciência do jovem Henrique, amante de D. Estela, dizendo: Fique então sabendo que não é só a ela que você faz o obséquio, mas também ao marido, quanto mais escovar-lhe você a mulher, mais macia ela fica para ele. Dessa forma ele ficará tranqüilo quando voltar do serviço, um pouco de descanso. Escove-a, escove-a! que a porá macia que nem veludo!

73 Observe a prosopopeia ou personificação Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos,mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas ( cap. III). FUVEST Considere o seguinte excerto de O cortiço, de Aluísio Azevedo, e responda ao que se pede. (...) desde que Jerônimo propendeu para ela, fascinando-a com a sua tranquila seriedade de animal bom e forte, o sangue da mestiça reclamou os seus direitos de apuração, e Rita preferiu no europeu o macho de raça superior. O cavouqueiro, pelo seu lado, cedendo às imposições mesológicas, enfarava a esposa, sua congênere, e queria a mulata, porque a mulata era o prazer, a volúpia, era o fruto dourado e acre destes sertões americanos, onde a alma de Jerônimo aprendeu lascívias de macaco e onde seu corpo porejou o cheiro sensual dos bodes. Tendo em vista as orientações doutrinárias que predominam na composição de O cortiço, identifique e explique aquela que se manifesta no trecho a e a que se manifesta no trecho b, a seguir: a) o sangue da mestiça reclamou os seus direitos de apuração. b) cedendo às imposições mesológicas. Resposta É do naturalismo -poética predominante na composição de Aluísio de Azevedo a concepção de que os comportamentos humanos, obedecem a determinismos de raça, ou seja genético, como se demonstraria, na propensão da mestiça determinada por seu sangue, para o macho de raça superior. B) As imposições mesológicas representam o determinismo do meio, ou seja do ambiente físico e social, sobre o comportamento humano. 6- Capitães da Areia- Jorge Amado Jorge Amado- Baiano, romântico e sensual, mas era bem mais que isso. Escritor brasileiro conhecido e respeitado no exterior. Autor dos romances que fizeram e fazem sucesso intenso hoje, ainda. De sua cabeça nasceram:pedro Bala,Tieta,Gabriela,Quincas Berro d água. Escreveu 25 romances, 2 biografias(castro Alves- AB de Castro Alves e do líder comunista Luís Carlos Prestes- O Cavaleiro da Esperança ), histórias infantis, contos, novelas( A morte e a morte de Quincas Berro d água e poemas( A estrada é assim). É um regionalista cujo estilo despojado e coloquial trouxe para os livros que escreveu os tipos peculiares da Bahia, os coronéis da época do cacau, prostitutas, meninos abandonados de rua, bêbados inveterados, marinheiros, marginais e pescadores, dentre outros. Há em Jorge Amado muita descrição e tessitura narrativa, a sensualidade das cores e de ações. Jorge Amado narra histórias inesquecíveis, como Capitães da Areia, na qual aborda temas extremamente importantes como a infância abandonada e meninos que se criam nas ruas á mercê de sua própria sorte. Obras de Jorge Amado O país do Carnaval (1931) Cacau (1933) Suor (1934) Jubiabá (1935) Mar morto (1936) Capitães da areia (1937) ABC de Castro Alves (1941) Terras do sem fim (1942) São Jorge dos ilhéus (1944) O cavaleiro da esperança; vida de Luis Carlos Prestes (1945) Seara vermelha (1946) O amor de Castro Alves, reeditado com O amor do Soldado (1947) Os subterrâneos da liberdade (1952)

74 I. Os ásperos tempo II. A agonia da noite III. A luz e o túnel Gabriela, cravo e canela (1958) Os velhos marinheiros (1961) Os pastores da noite (1964) Dona Flor e seus dois maridos (1967) Tenda dos milagres (1970) Teresa Batista cansada de guerra (1973) Tieta do agreste (1977) O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá (1978) Farda, fardão, camisola de dormir (1979) O menino Grapiúna (1981) A bola e o goleiro (1984) Tocais grande; a face obscura (1984) O sumiço da Santa (1988) Navegação de cabotagem (1992) A descoberta da América pelos turcos (1994 A história é uma metonímia O Trapiche- lugar onde os meninos infratores se amontoam para dormir e fugir da polícia.é uma metonímia do que hoje acontece nas grandes cidades brasileiras- casarões abandonados e debaixo dos viadutos, nas praças, desestabilizando a sociedade em que se inserem longe dos alcances das autoridades, e quando recolhidos sob a tutela do Estado, esquecidos nas casa que abrigam menores. A Política e a Polícia, as autoridades e os brasileiros mais comuns ensinaram a eles que só é possível viver aos bandos, na rua,, encaminhando para a delinqüência, a desobediência, a transgressão.mas pode se observar que esses tipos de meninos também são capazes de amar(dora), de descobrir Deus (Pirulito),de descobrir a arte (Professor), de se tornarem vigaristas e violentos ( Gato e Volta Seca),preferir a morte a entregar-se ( Sem Pernas), de descobrir a liderança e a sabedoria por vocação (Pedro Bala) Análise da obra Capitães da Areia- romance de 37- foi escrito na primeira fase da carreira de Jorge Amado, e nota-se grandes preocupações sociais. As autoridades e o clero são sempre retratados como opressores (Padre José Pedro é uma exceção, mas nem tanto; antes de ser um bom padre foi um operário), cruéis e responsáveis pelos males. Os Capitães da Areia são tachados como heróis no estilo Robin Hood. Faz neste romance denúncia social que é vista como uma advertência : os meninos pobres do Brasil estão abandonados á própria sorte. Não importa que linguagem falem, as autoridades é preciso olhar por eles, ensinar-lhes a existência e a alegria de viver, dar-lhes escolas, ampliando-lhes os horizontes futuros. Nesse sentido o trapiche abandonado é um microcosmo povoado de criaturas tão diversas: reunidos ali,á margem de todo reconhecimento humano, há gente que guarda histórias, sofrimentos e que antes de mais nada acredita que a liberdade deve ser defendida a qualquer custo. No geral, as preocupações sociais dominam, mas os problemas existenciais dos garotos os transformam em personagens únicos e corajosos Capitães da Areia de Salvador. Pedro Bala é o protagonista- filho de um grevista, atingido e morto por uma bala. Não fora abandonado, o pai morrera em torno de um ideal e ele descobre que a mãe, que era da cidade alta, de origem rica, tinha morrido seis meses antes do pai.os outros personagens são coadjuvantes.- simbólicos- metonímia. A grande admiração de Jorge Amado pelos vagabundos ensejou o romance Capitães da Areia. A narrativa se desenrola no Trapiche (hoje Solar do Unhão e o Museu de Arte Moderna); no Terreiro de Jesus (na época era lugar de destaque comercial de Salvador); onde os meninos circulavam na esperança de conseguirem dinheiro e comida devido ao trânsito de pessoas que

75 trabalhavam lá e passavam por lá; no Corredor da Vitória área nobre de Salvador, local visado pelo grupo porque lá habitavam as pessoas da alta sociedade baiana, como o comendador mencionado no início da narrativa. OBJETIVO DO ESCRITOR Romance de denúncia- um alerta- um indício de que era preciso cuidar das crianças do Brasil, que havia meninos abandonados, a própria sorte, que não existia trapiche, só na Bahia- Salvador, mas também em outras cidades havia Pedros, Professores,Joões, Doras- criaturas do mundo e suas dificuldades. Jorge Amado não registra uma história de violência apenas. Impõe ao leitor uma reflexão.o Brasil que ele registra pulsa. Os meninos capitães existem em outros meninos de ruas nas grandes cidades brasileiras e nos mais longinquos recantos do país:esquecidos, espancados, aleijados, formam um batalhão de seres que não cobram providências para se transformarem em pintores, líderes, humanos, como quaisquer outras criaturas do país.mostra as brutais diferenças de classe e a má distribuição de renda e os efeitos da a marginalidadesistema social perverso. Como eram vistos esses menores abandonados? Pseudo-reportagens mostravam-nos como menores abandonados marginalizados que aterrorizavam Salvador.Dessa forma, Jorge Amado narra de forma realista, e descreve o cotidiano de um grupo de menores que para arranjar dinheiro se marginalizam. O romance supervaloriza a humanidade das crianças e ironiza a ganância e o egoísmo das classes dominantes. Ainda no final do romance encontramos os destinos marginalizados de alguns e a sorte de outros, tais como: Sem Perna se mata antes de ser capturado pela polícia, Gato- torna-se malandro de verdade; Volta Seca torna-se cangaceiro, mata mais de 60 soldados e ao se entregar se suicida. Professor vai para o Rio de Janeiro ser pintor; Pirulito vira frade; Padre José Pedro consegue sua paróquia; João Grande se torna marinheiro; Querido de Deus um grande capoeirista, mas não perde as traquinas de malandro. Dora, personagem do bando que trouxe carinho feminino (papel de mãe e irmã para alguns),ama Pedro Bala e graças a ela que sua vida muda totalmente, pois ao descobrir o amor, que não é só violência, e sim uma entrega afetiva ao próximo) Dora morre com muita febre depois de se entregar a Pedro Bala, que se lembrará dela como uma estrela- momento poético do romance. Pedro Bala cada vez mais fascinado com as histórias de seu pai sindicalista, deixa de ser líder do bando e passa a ser líder revolucionário comunista. Na época o comunismo é considerado algo bom. Tempo - A obra apresenta tempo cronológico demarcado pelos dias, meses, anos e horas conforme exemplificam os fragmentos: "É aqui também que mora o chefe dos Capitães da Areia, Pedro Bala. Desde cedo foi chamado assim, desde seus 5 anos. Hoje tem 15 anos. Há dez anos que vagabundeia nas ruas da Bahia." O tempo psicológico correspondente às lembranças e recordações constantes na narrativa. No final do romance, as marcas da temporalidade se avolumam. Depois de terminada a greve Anos depois E no dia em que ele fugiu... Foco Narrativo A obra Capitães da Areia é narrada na terceira pessoa, onisciente- sendo o autor, Jorge Amado, também narrador expectador. Ele se comporta, durante todo o desenvolvimento do tema, de maneira indiferente, criando e narrando os acontecimentos sem se envolver diretamente com eles. Capta a intensidade dramática daqueles que habitam o trapiche. A obra Capitães é poética, pois há transbordamento pela descrição. Descreve com muita luz, som e cor cada acontecimento, cada aspecto de viver dos meninos. Espaço- Espaço aberto- cidade onde os meninos estão em todas as partes- conhecem todos os becos, ruas, morros: Espaço Fechado- o trapiche- armazém abandonado próximo ao cais.( hoje o Museu da Arte Moderna em Salvador)

76 As recorrências temáticas- Romance típico da literatura urbana- interesse de mostrar o conjunto, a comunidade, o coletivo. Pedro Bala é só um herói- menino. Ele crescerá, tomará vulto e lidará grevista, assim como o pai. O mais gritante é o confronto entre as classes sociais: meninos infratores de um lado e os poderosos de outro (Polícia, Reformatório, Orfanato, Igreja Católica convencional) A Estrutura do romance- O livro é dividido em três partes. Antes delas o Prefácio Cartas Á Redação - Artigo inicial denunciador, publicado no Jornal da Tarde de Salvador( não são cartas verdadeiras, mas um pretexto para o início do romance) Capitães da Areia, que infestam a cidade invadiram á casa do Comendador José Ferreira, apunhalaram o jardineiro e roubaram quantia e um relógio. Várias cartas são enviadas á redação e se fecha com manchetes elogiosa ao reformatório. O Reformatório Baiano é uma grande família. Em suma, uma sequência de reportagens e depoimentos, explicando que os Capitães da Areia é um grupo de menores abandonados e marginalizados, que aterrorizam Salvador. Os únicos que se relacionam com eles são Padre José Pedro e uma mãe-de-santo, Don'Aninha. O Reformatório é um antro de crueldades, e a polícia os caça como adultos antes de se tornarem um. A primeira parte em si, "Sob a lua, num velho trapiche abandonado" conta algumas histórias quase independentes sobre alguns dos principais Capitães da Areia (o grupo chegava a quase cem, morando num trapiche abandonado, mas tinha líderes). Pedro Bala, o líder, tinha uma cicatriz no rosto, uma espécie de pai para os garotos, mesmo sendo tão jovem quanto os outros, que depois descobre ser filho de um líder sindical morto durante uma greve; Volta Seca, afilhado de Lampião, que tem ódio das autoridades e o desejo de se tornar cangaceiro; Professor, que lê e desenha vorazmente, sendo muito talentoso; Gato, que com seu jeito malandro acaba conquistando uma prostituta, Dalva; Sem- Pernas, o garoto coxo que serve de espião se fingindo de órfão desamparado (e numa das casas que vai é bem acolhido, mas trai a família ainda assim, mesmo sem querer fazê-lo de verdade); João Grande, o "negro bom" como diz Pedro Bala, segundo em comando; Querido- de- Deus, um capoeirista amigo do grupo, que dá algumas aulas de capoeira para Pedro Bala, João Grande e Gato; e Pirulito, que tem grande fervor religioso. O apogeu da primeira parte é dividido em quando os meninos se envolvem com um carrossel mambembe que chegou à cidade, e exercendo sua meninez; e quando a varíola ataca a cidade, matando um deles, mesmo com Padre José Pedro tentando ajudá-los e se indo contra a lei por isso. Ainda, A aventura de Ogun- Mãe de santo procura os meninos para pedir ajuda que em uma batida da polícia em seu terreiro, os policiais levaram seu santo do altar. Pedro Bala dá um jeito de armar um assalto e ir até a delegacia, é obrigado a ir à sala de detenção e lá coloca o santo debaixo da camisa e o devolve a mãe de santo. Encontramos outra parte Deus sorri como um negrinho- Pirulito fora a grande conquista de Padre José Pedro. Quando Bala assumiu os meninos acabou com o sexualismo entre eles, não porque condenasse, mas segundo o padre aquilo era coisa indigna num homem.pirulito desde que ouvira falar de Deus não praticara mais a violência, nem brigas, mas um dia roubou uma imagem do menino Jesus e a Virgem Maria e correu para o trapiche com Ele encostado ao peito, tal como tinha feito João Grande quando o encontrara na rua e o levava para o armazém..sua morrera de ataque fulminante no meio da rua e ele com apenas uns meses é levado por João Grande e o D Aninha cuidou dele. Em Família- Sem Pernas simula ser pobre órfão e entra na casa de Dr Raul e D. Ester que perderam o filho único,augusto, que morrera bem pequeno.acolhe-o como um filho, levam-no ao cinema, tomam sorvete.pela 1ª vez tem sensação de família.dr. Raul viajou e os capitães entram na casa e fazem um rapa.ele não quis o resultado do furto e chora...ainda, outro fato importante é Alastrina, que é o mesmo que varíola (bexiga negra). O 1º a pegar varíola foi Almiro.Sem Pernas desesperado manda-o embora para que não pegasse nos demais.resolve entregar Almiro á mãe, uma pobre lavadeira amigada com um agricultor.almiro morre no lazareto(estabelecimento para controle sanitário). A segunda parte, "Noite da Grande Paz, da Grande Paz dos teus olhos", surge uma história de amor quando a menina Dora torna-se a primeira "Capitã da Areia", e mesmo que inicialmente os garotos tentem tomá-la á força, ela se torna como mãe e irmã para todos. Filha do bexiguento- Estevão e Margarida morrem no lazareto de recaída do alastrim. Deixa dois

77 órfãos: Dora de 13 para 14 anos e Zé Fuinha com seis anos. Perambulavam pela cidade e foram achados por João Grande e pelo Professor e levados para o trapiche. Dora, mãe- Dora se integra ao grupo e passa a exerce as funções de mãe dos meninos.professor e Pedro Bala se apaixonam Dora e ela se apaixona por Pedro Bala.Dora, irmã e noiva-veste calças compridas e se junta ao bando e começa a mostrar serviço.professor a olhava sempr4e com olhos doces.reformatório durante um assalto a uma casa a polícia prende Pedro,Dora e João Grande,Sem Pernas e Gato e estes não revelam nada sobre o bando. Pedro Bala foi levado ao Reformatório e Dora para o orfanato.sem Pernas assume o bando até Pedro voltar.sem Pernas manda uma corda a Pedro e este foge do reformatório. Orfanato- Dora ficou um mês no orfanato.professor, João Grande Gato e Pedro buscam-na e ela ainda está com febre.noite de grande- Don Aninha faz uma prece para a febre desaparecer,mas não adianta. Ela é olhada por todos como mãe, irmã, noiva e amada pelo Professor.Dora, esposa A febre continua.dora diz a Pedro Bala que menstruou no orfanato e agora pode ser dele.eles se amam pela primeira vez na praia e ela morre, marcando o começo do fim para os principais membros do grupo. A terceira parte "Canção da Bahia, Canção da Liberdade"-Vocações- Professor olha o trapiche como uma moldura sem quadro. vai nos mostrando a desintegração dos líderes.o destino de cada um, como já foi comentado acima Tudo estava vazio.professor se despede para estudar no Rio.Promete que um dia irá retratar a vida dos meninos: as desigualdades sociais,as barbaridades que fazem contra a pobreza.pirulito parou de furtar e foi vender jornais e carregar bagagens de viajantes. O Padre José Pedro é chamado pelo arcebispo e ganha sua paróquia e traz Pirulito para estudar.mais tarde será o Irmão Francisco da Sagrada Família. Canção de amor da Vitalina Havia na cidade uma solteirona, Joana, rica, feia e nervosa.tinha 45 anos.sem Pernas se aproxima dela e diz que é órfão.ela necessitada de sexo quer brincar um pouco com o menino, mas não cede a ele.ele com raiva rouba-lhe as jóias e cai fora.mas mal sabe ela que Sem Pernas a desejou de verdade. Como um trapezista de circo- Pedro Bala, João Grande e Barandão disparam numa corrida e se livram da prisão, no assalto a casa Rui Barbosa.Mas o Sem Pernas corre de um lado para outro, desesperado e se joga de costas no espaço do elevador, como se fosse um trapezista de circo. Terminava assim a vida de quem escolheu a liberdade á prisão.neste momento, o narrador entra na intimidade da personagem e capta seus pensamentos mais intensos...nuca fora amado pelo que era, menino abandonado, aleijado e triste.os ataques ressoam como clarins de guerra- Acontece uma greve e quando termina o estudante Alberto continua a freqüentar o trapiche.gato reaparece bem vestido.dalva ficou em Ilhéus amigada com um coronel.pedro Bala passa o comando para Barandão e vai cumprir o destino que seu pai deixou pela metade.uma pátria e uma família- Pedro Bala, militante,político,proletário está sendo perseguido pela polícia de cinco estados como organizador de greve, dirigente de partidos dos ilegais e perigoso inimigo da ordem estabelecida. Ao ser preso e levado para uma colônia, recebia dos lares pobres o apoio para continuar a luta. Personagens Personagens: Pedro Bala: Negro, mais alto e mais forte do bando. Cabelo crespo e baixo, músculos rígidos, tem 13 anos. Seu pai, um carroceiro gigantesco, morreu atropelado por um caminhão, quando tentava desviar o cavalo para um lado da rua. Após a morte de seu pai, João Grande não voltou mais ao morro onde morava, pois estava atraído pela cidade da Bahia. Cidade essa que era negra, religiosa, quase tão misteriosa como o verde mar. Com nove anos entrou no Capitães da areia. Época em que o Caboclo ainda era o chefe. Cedo, se fez um dos chefes do grupo e nunca deixou de ser convidado para as reuniões que os maiorais faziam para organizar os furtos. Ele não era chamado para as reuniões porque ele era inteligente e sabia planejar os furtos, mas porque ele era temido, devido a sua força muscular. Se fosse para pensar, até lhe doía a cabeça e os olhos ardiam. Os olhos ardiam também quando viam alguém machucando menores.então seus músculos ficavam duros e ele estava disposto a qualquer briga. Ele era uma pessoa boa e forte, por isso, quando chegava pequenino cheio de receio para o grupo, ele era escolhido o protetor deles. O chefe dos capitães da areia era amigo de João Grande não por sua força, mas porque Pedro o achava muito bom, até melhor que eles. João Grande aprende capoeira com o Querido-de-Deus junto com Pedro Bala e Gato. João Grande tem um grande pé, fuma e bebe

78 cachaça. João Grande não sabe ler. João Grande era chamado de Grande pelo professor, admirava o professor. O professor achava João Grande um negro macho de verdade. Dora: Morreu de uma febre muito forte, depois de se tornar esposa de Pedro Bala*. Morreu como uma santa, pois havia sido boa. *Para ele, virara uma estrela. Sem-Pernas: Morrera, jogando-se de um penhasco (elevador), depois de muito correr fugindo da polícia após um roubo. Ele preferira morrer a se entregar. Professor: Com seu dom de pintar, fora ao "Rio de Janeiro" tentar sucesso. Lá com os quadros dos Capitães da Areia ficou famoso. Boa-Vida: Era mais um malandro da cidade, que fazia sambas e cantava pelas ruas, nas calçadas, nos bares, a "vagabundar". Querido-de-Deus: Ensinava os meninos a lutar capoeira. Todos no trapiche o admiravam. Era pescador. Dalva: Era uma mulher de uns trinta e cinco anos, o corpo forte, rosto cheio de sensualidade. Gato a desejou imediatamente. Pirulito: Garoto magro e muito alto, olhos encovados e fundos. Tinha Hábito de rezar. Volta-Seca: Mulato sertanejo. Viera da caatinga. Tinha como ídolo o cangaceiro Lampião.era afilhado deste. O Gato: Candidato a malandro do bando, era elegante, gostava de se vestir bem. Tinha um caso com a prostituta, Dalva, que lhe dava dinheiro, por isso, muitas vezes, não dormia no trapiche. Só aparecia ao amanhecer, quando saía com os outros, para as aventuras do dia. João-de-Adão: Estivador, negro fortíssimo e antigo grevista, era igualmente temido e amado em toda a estiva. Através dele, Pedro Bala soube de seu pai. Enredo Tendo como cenário as ruas e as areias das praias de Salvador, Capitães da Areia trata da vida de crianças sem família que viviam em um velho armazém abandonado no cais do porto. Os motivos que as uniram eram os mais variados: ficaram órfãs, foram abandonadas, ou fugiram dos abusos e maus tratos recebidos em casa. Aproximadamente quarenta meninos de todas as cores, entre nove e dezesseis anos, dormiam nas ruínas do velho trapiche. Tinham como líder Pedro Bala, rapaz de quinze anos, loiro, com uma cicatriz no rosto. Generoso e valente, há dez anos vagabundeava pelas ruas de Salvador, conhecendo cada palmo da cidade. Durante o dia, maltrapilhos, sujos e esfomeados, mostravam-se para a sociedade, perambulando pelas ruas, fumando pontas de cigarro, mendigando comida ou praticando pequenos furtos para poder comer. Esse contato precoce com a dura realidade da vida adulta fazia com que se tornassem agressivos e desbocados. Além desses pequenos expedientes, os Capitães da Areia praticavam roubos maiores, o que os tornou conhecidos, temidos e procurados pela polícia, que estava em busca do esconderijo e do chefe dos capitães. Esses meninos se pegos, seriam enviados para o Reformatório de Menores, visto pela sociedade como um estabelecimento modelar para a criança em processo de regeneração, com trabalho, comida ótima e direito a lazer. No entanto, esta não era a opinião dos menores infratores. Sabendo que lá estariam sujeitos a todos os tipos de castigo, preferiam as agruras das ruas e da areia à essa falsa instituição. Um dia, Salvador foi assolada pela epidemia de varíola. Como os pobres não tinham acesso à vacina, muitos morriam, isolados no lazareto. Almiro, o primeiro capitão a ser infectado, ali morreu. Já Boa-Vida teve outra sorte; saiu de lá, andando. Dora e o irmão, Zequinha, perderam os pais durante a epidemia. Ao saber que eram filhos de bexiguentos, o povo fechava-lhes a porta na cara. Não tendo onde ficar, os dois acabaram no trapiche, levados por João Grande e o Professor. A confusão, causada pela presença de Dora no armazém, foi contornada por Pedro. Os meninos aceitaram-na no grupo e, depois de algum tempo, vestida como um deles, participava de todas as atividades e roubos do bando. Pedro Bala considerava Dora mais que uma irmã; era sua noiva. Ele que não sabia o que era amor, viu-se apaixonado; o que sentia era diferente dos encontros amorosos com as negrinhas ou prostitutas no areal.

79 Quando roubavam um palacete de um ricaço na ladeira de São Bento, foram presos. Parte do grupo conseguiu fugir da delegacia, graças à intervenção de Bala que acabou sendo levado para o Reformatório. Ali sofreu muito, mas conseguiu fugir. Em liberdade, preparou-se para libertar Dora. Um mês no Reformatório feminino foi o suficiente para acabar com a alegria e saúde da menina que, ardendo em febre, se encontrava na enfermaria. Após renderem a irmã, Pedro, Professor e Volta-Seca fugiram, levando Dora consigo. Infelizmente, não resistindo, ela morreu na manhã seguinte. Don'aninha embrulhou-a em uma toalha de renda branca e Querido-de-Deus levou-a em seu saveiro, jogando-a em alto mar. Pedro Bala, inconsolável e muito triste, chorou com todos a ausência de Dora. Alguns anos se passaram e o destino de cada um do grupo foi tomando rumo. Graças ao apoio de um poeta, o Professor foi para o Rio, e já estava expondo seus quadros. Pirulito, que já não roubava mais, entrara para uma ordem religiosa. Sem-Pernas morreu, quando fugia da polícia. Volta-Seca estava fazendo o que sempre tinha sonhado; aliou-se ao bando de seu padrinho, Lampião, tornando-se um terrível matador de polícia. Gato, perfeito gigolô e vigarista, estava em Ilhéus, trapaceando coronéis. Boa-Vida, tocador de violão e armador de bagunças, pouco aparecia no trapiche. João Grande embarcou como marinheiro, num navio de carga do Lloyd. Após o auxílio na greve dos condutores de bonde, o bando Capitães da Areia de Pedro Bala, tornou-se uma "brigada de choque", intervindo em comício, greves e em lutas de classes. Assim como Pirulito, Bala havia encontrado sua vocação. Passando a chefia do bando para Barandão, seguiu para Aracaju, onde iria organizar outra brigada. Anos depois, Pedro Bala, conhecido organizador de greves e perigoso inimigo da ordem estabelecida, é perseguido pela polícia de cinco estados. Os Capitães da Areia são heroicos, "Robin Hood"s que tiram dos ricos e guardam para si (os pobres). O Comunismo é mostrado como algo bom. No geral, as preocupações sociais dominam, mas os problemas existenciais dos garotos os transforma em personagens únicos e corajosos. IMPORTANTE... Capitães da Areia-Jorge Amado Ficção e realidade Em 1980, o cineasta Hector Babenco também se inclinou sobre o tema do menor abandonado e realizou o filme Pixote, a lei dos mais fracos. Roteiro de Leitura Entretanto, se a temática á a mesma, no filme ela é elaborada de forma diferente da de Jorge Amado em Capitães de areia. O enredo pode ser resumido da seguinte maneira: o retrato nu e cru da vida de menores abandonados que fogem de um reformatório e passam a viver com uma prostituta. Porém, diante do descaso das autoridades competentes e da própria sociedade, a história de ficção não está muito ou nada distante da realidade. Mais uma vez, contrariando os preceitos aristotélicos, a vida imita a arte. Não muito tempo depois de sua participação como personagem principal no cinema, todos pudemos ver nos meios de comunicação o destino de Pixote Fernando Ramos da Silva: morre em 1988, assassinado pela polícia em uma favela em Diadema (SP). Ficção ou realidade? Atônitos, porém inertes, ainda estamos longe de conseguir responder... Um livro muito atual Capitães de areia, como se sabe, foi publicado pela primeira vez em mais de meio século depois, o livro continua surpreendentemente atual. Basta dar uma olhada na manchete dos jornais e revistas dos últimos anos, para se perceber como o romance de Jorge

80 Amado ainda mexe diretamente com muitos de nossos fantasmas e nossas culpas. Por isso mesmo, é que nos comove e provoca reflexões bastante sérias sobre o modelo econômico, a organização social e a consciência dos cidadãos do Brasil. Em síntese, Capitães de areia é um dos poucos romances de denuncia social, escritos com talento e amor, que põe o dedo numa das maiores feridas de nosso país: a situação do menor abandonado. Aparentemente, muita coisa mudou no Brasil de 37 pra cá. O país passou por um desenvolvimento econômico extraordinário: estabeleceu-se um processo de industrialização, que teve como conseqüência o crescimento das grandes metrópoles, o aumento da produção agrícola e da produção agrícola e da produção dos bens de consumo. Mas esse desenvolvimento econômico esconde uma triste verdade: o Brasil é uma nação de ilhas de prosperidade em meio à miséria generalizada, como se o Primeiro Mundo dos carros importados, dos aparelhos eletrônicos, das roupas de griff convivesse com o Terceiro Mundo das favelas, dos rios poluídos e das crianças sobrevivendo precariamente nas ruas. O que se verifica, portanto é que o país cresceu em todos os sentidos. Tornou-se uma potência emergente (principalmente nos idos de 70, coma a ditadura militar) e talvez, em conseqüência de um crescimento sem um planejamento social, tornou-se também uma indústria da miséria mais abjeta, com o aumento do desemprego, das levas de retirantes do Nordeste, dos sem-tetos e da impunidade, principalmente no que diz respeito aos assustadores crimes contra os desprotegidos da sorte. Desse modo, o romance de Jorge Amado provoca uma curiosa reflexão: de um lado, comove com sua visão lírica, ás vezes apaixonada, dos meninos que atendem pelos nomes e apelidos de Pedro Bala, Sem-Pernas, Pirulito, Professor, Gato, Volta Seca, etc,; por outro lado, deixa no ar uma série de interrogações, se cotejarmos o que o livro conta com o que ocorre no nosso tempo: a) No que diz respeito aos fatos narrados por Jorge Amado piorou ou melhorou a condição do menor? b) No que diz respeito ao comportamento das personagens e seu destino seria possível pensar que as coisas se modificam para melhor ou para pior? c) No que diz respeito ao interesse das autoridades pela criança abandonada, mudou alguma coisa de 37 pra cá? A resposta a essas três questões é desoladora, porque, baseando-nos em fatos, verificamos que, tendo em vista o crescimento, o de desenvolvimento econômico do país, as coisas, em vez de melhorarem, pioraram bastante. Para ilustrar o que afirmamos, vamos nos servir de um fato ocorrido a opinião publica e que ilustra muito bem a débâcle de uma sociedade alienada e de um sistema econômico iníquo, injusto. O massacre da Candelária Numa quinta-feira, noite fira de julho, uns quarenta meninos de rua dormiam sob a marquise dos prédios da Praça Pio X, onde fica a igreja da Candelária. Encolhidos e embrulhados em velhos cobertores tinham como cama apenas o chão duro revestido de pedaços de carpete e papelão. Passava da meia-noite quando, fazendo o mínimo ruído possível, chegaram dois Chevettes, em amarelo-claro, e o outro marrom. Do primeiro, saíram quatro homens, do segundo dois. Alguns meninos acordaram, mas a maioria continuou adormecida. Um dos homens dirigiu-se a um garoto de cabelos loiros e perguntou-lhe rispidamente: - Você é que é o Russo? - Não, meu nome é Marco Antônio, respondeu o garoto. O homem, que era alto e forte, tirou um revólver e berrou: - Não mente pra gente seu safado! Sabemos que você é O Russo. Com o barulho, Caveirinha, um outro garoto, acordou assustado e saiu correndo. Um dos homens apontou-lhe o revólver, mas a arma não disparou. Russo (ou Marco Antônio) não teve a mesma sorte. Levou dois tiros á queima-roupa: um, no olho e outro, na coxa. Mais tiros foram disparados indiscriminadamente: três meninos morreram na hora. Pimpolho, que dormia sobre a banca de jornais e que completaria doze anos na semana seguinte, chagou, em estado

81 desesperados, ao hospital, juntamente com Russo. Ambos morreriam logo depois, não resistiram logo depois, não resistindo aos ferimentos. A continuação do massacre Não muito longe da Candelária provavelmente os mesmos homens do Chevette claro abordaram Wagner, Paulo e Gambazinho. Sob a ameaça de armas, os meninos foram obrigados a entrar no bando de trás do carro. Um dos homens, alto, forte, com um dente da frente quebrado, tirou o capuz e disse que era da polícia. Foi a senha, para que mais uma cena de brutalidade começasse: os três garotos foram espancados a socos e pontapés. Wagner escapou milagrosamente da segunda chacina, com uma bala alojada na nuca, muito próxima da coluna cervical. E, assim, se tornou a testemunha de uma noite de horrores, que aumentou o numero de vítimas de cinco para sete. Horas depois, no hospital, com o rosto inchado e cheio de hematomas, recordou-se penosamente dos fatos. Depois do espancamento, um homem branco, franzino, sentara-se em cima dele e apontara-lhe um revólver para a cabeça. Os outros homens, também armados, interrogavam e ameaçavam Paulo e Gambazinho. Foi a última coisa que Wagner pôde ver, pois um tiro fez que ele perdesse a consciência. Wagner acordou em frente ao Museu de Arte Moderna, que dista três quilômetros da Praça Pio X. esvaindo-se em sangue, verificou que os companheiros estavam mortos. Saiu andando e foi a um posto de gasolina, onde o encaminharam para o hospital. A opinião pública e a negligência oficial O surpreendente nisso tudo, além da extrema crueldade das execuções, foi a opinião pública e a reação das autoridades. Os principais jornais e revistas do Brasil não só fizeram extensas reportagens sobre o fato, bem como rediscutiram a questão do menor abandonado. Chegaram à estarrecedora conclusão de que se matam quatro crianças por dia no país! A noite da Candelária foi uma exceção, e uma exceção, dolorosamente, para mais, de uma grave, terrível realidade. Mas o tom indignado, às vezes mesmo apaixonado, das reportagens não escondeu uma verdade: o público nem sempre reagiu como devia e as autoridades, como não podia e as autoridades, como não podia deixar de acontecer, se omitiram, apesar da aparência em contrário. Quanto ao público, muita gente, vítima ou não da ação criminosa dos menores ou mesmo assustada com sua presença ostensiva e ofensiva pelas ruas, respirou aliviada, como se a questão do menos abandonado só devesse ser resolvida pela via mais rápida: o puro e simples extermínio. Quanto às autoridades, lavaram as mãos como Pilatos, ainda que se ouvisse depoimentos veementes dos governantes, prometendo isso e aquilo, para unir os responsáveis, como também para tentar solucionar o problema. Água de bacalhau E tudo acabou em águas de bacalhau, ou, utilizando uma expressão mais em moda nos dias de hoje (haja vista o freqüente envolvimento de nossos parlamentares em casos de corrupção), tudo acabou em pizza. Escolheram-se alguns bodes expiatórios, para encobrir os verdadeiros culpados pela chacina, remanejaram-se algumas autoridades policiais, e o crime ficou impune. Mesmo que sete crianças, de doze a dezessete anos, tivessem sido fuziladas à queima roupa, sem oportunidade alguma de defesa. Mas o pior de tudo (se é que pode dizer que haveria algo pior do que tudo que aconteceu...) é que, globalmente, nada mudou na condição do menor. Organizações assistenciais, na época, movimentaram-se, verbas foram prometidas, mas as ruas continuam cheias de menores e mais menores são, todos os dias, despejados nas ruas. Outros Russos, Caolhos, Gambazinhos continuam a roubar, a matar, a cheirar cola, sem saber (ou mesmo sabendo) que, à sombra, grupos de extermínio esperam a poeira da opinião pública assentar, para dar continuidade à genial solução para a questão do menos abandonado: a morte súbita, a tiros de revólver.

82 Enquanto isso, o Brasil procura meios de sair do buraco, tapando os olhos para a miséria absoluta de seus pobres cidadãos, entre os quais, vivem, em condições subumanas, um simulacro de futuros homens, um simulacro de forças de trabalho. Dolorosas respostas a algumas questões Cremos que a essa altura já é possível responder às questões formuladas anteriormente. Se compararmos a situação descrita por Jorge Amado com a situação do menor abandonado hoje, verificaremos tristemente que tudo evoluiu para pior. Ou seja, a condição do menor, o destino das crianças e a atuação das autoridades revelam a quem leu o livro e a quem acompanhou o horrível fato de julho de 93 que o país, em vez de andar para frente, andou para trás. E, paradoxalmente, parece que os fatos narrados pelo romancista são muitos suaves, como se seu livro, hoje, fosse incapaz de chocar tanto como chocou na época em que foi escrito. Não precisamos ir muito longe para justificar nossa afirmativa. Basta examinar a trajetória das personagens e a atuação das autoridades de Capitães da areia para chegar a essa conclusão. No livro, verificamos, por exemplo, que não há propriamente grupos de extermínio que liquidem de modo gratuito as crianças. De todas elas, somente Sem-Pernas é que morre em confronto com as forças policiais. Mas tal fato se dá às claras, nas ruas da cidade e sob a forma de suicídio da personagem, quando ela prefere a morte à perda da liberdade. O que há de idêntico entre os fatos que Jorge Amado conta e a realidade de nossos dias diz respeito às casas de correção. O juizado de menores, o orfanato de 37 e a Febem de hoje são muito semelhantes, o que vem somente confirmar nosso ponto de vista, já que, meio século depois, tais instituições deveriam ter sofrido sensível melhora. O mesmo se pode dizer da condição do menor e seu destino. Em Capitães da areia, apesar da visão degradante da situação do menor, verifica-se que há uma luz no final do túnel, uma luz de esperança. Os delitos que as crianças cometem são leves, se comparados ais que os menores abandonados cometem hoje: pequenos roubos, golpes, nada que implique, por exemplo, atentados contra a vida humana ou mesmo o tráfico de drogas (a esse respeito, leia a entrevista com um menor abandonado no final). Se o Sem-Pernas morre, porque está sem saída, outras personagens superam as adversidades com tenacidade, com grandeza. São os caos de Pedro Bala, Pirulito e Professos. O primeiro torna-se um líder operário, bastante respeitado pelos seus iguais, Pirulito entra para o seminário, respondendo a uma vocação acentuada desde o início da narrativa, e o Professor será um pintor de sucesso no Rio de Janeiro. Será que Russo, Pimpolho e Gambazinho teriam outras opções de vida, outro destino? Essa comparação sumária entre o romance de 37 e a realidade de hoje revela uma triste verdade: Jorge Amado, sem dourar a pílula, produziu um dos documentos mais sinceros, mais chocantes sobre a condição do menor. Contudo, a realidade, por incrível que pareça, em vez de se modificar, ao sofrer o impacto do romance-reportagem, mostrou-se mais chocante, mais cruel, a ponto de acentuar as iniqüidades que o romancista havia denunciado na década de 30. Por isso mesmo, Capitães da areia continua vivo, pois nos acorda para fatos que a nossa consciência às vezes prefere que sejam esquecidos ou, nos casos mais drásticos, como acontece com as pessoas sem um mínimo de humanidade, que a consciência prefere apagar, mesmo que seja com um tiro no olho de quem a incomoda. Veja algumas questões sobre o livro: Jorge Amado, em Capitães da Areia tem como núcleo a cidade de Salvador, com seus tipos inesquecíveis, com seus heróis extraídos das classes menos favorecidas. O escritor dá destaque ao coletivo, procurando abarcar a história de uma comunidade, mais especificamente, a dos menores abandonados.o Foco Narrativo utilizado por ele é em 3ª pessoa, com o narrador se permitindo a onisciência, ou seja, narrando os fatos de fora, e ao mesmo tempo de dentro, quando penetra na interioridade de diferentes personagens. É possível ler a obra dentro de duas vertentes temáticas: a primeira, confronto entre classe social que se antagonizam, levando a um desfecho mais ou menos previsível.o outro lado, temos os desprotegidos da sorte que se tornam senhor de um espaço vazio, a areia a

83 que deu assim o título metafórico: os menores são capitães da terra devoluta,em que se ergue um trapiche abandonado. 01-O romance inicia-se com a descrição do trapiche, quase derruído, que servirá de contraste a construções suntuosas dentro do espaço da cidade propriamente dito, como é o caso da sede do Arcebispado, ou ainda casas em que moram os burgueses. a) Explique o efeito de contraste acentuado nitidamente. b) Qual a primeira personagem a ser introduzida no romance? Justifique. c) Por que essa personagem citada por você foi engajada no grupo dos Capitães da Areia? 02- Jorge Amado monta o romance Capitães da Areia através de quadros mais ou menos independentes. Ainda, ao lado da narração, intercalam notícias de jornal, bem como, reflexões poéticas- daí o nome de romance híbrido.outro aspecto que chama a atenção no que diz respeito à estruturação da narrativa, é a divisão em partes. a) Comente a divisão do romance.descreva-as. 03-Por que o episódio, intitulado As luzes do Carrossel, indica que os Capitães, apesar dos roubos, eram ainda crianças? Copie uma passagem que justifique sua resposta..quais personagens se relacionam diretamente com o Carrossel? O destino final dessas personagens indica que a sociedade criou condições para que se tornassem cidadãos respeitáveis? Justifique. 04-A relação entre o Padre José Pedro e os Capitães é de autoritarismo ou é amistoso?copie uma frase que justifique. A atitude do Padre José Pedro representa a posição da igreja ou se opõe a ela?justifique. 05- Por que o episódio Família talvez seja um dos mais consistentes de todo o livro?comente com o relacionamento com a figura de Sem Pernas. 06-A presença de Dora no grupo reafirma a carência afetiva dos Capitães. a) Copie uma passagem que confirme essa carência. b) Quem a via como mãe? c) Quem a sentia como irmã? d) Quais se apaixonaram por ela? A quem ela correspondeu? Como o outro ( não correspondido a imortalizou? 07- Numa cena bastante poética, Jorge Amado mostra Pedro Bala seguindo nas águas do rio o corpo de Dora, que irá simbolicamente se transformar numa estrela do céu. Comente. Qual a função de Dora no romance? Explique. 08-O autor fecha o romance, retratando o destino de cada membro do grupo.comente. Os Capitães da Areia eram muitos, mas o narrador destaca alguns. Quais são eles? Qual a origem do apelido de cada um? Qual continuou na vida adulta, com as mesmas malandragens da época, em que convivia com os Capitães? Copie uma passagem para justificar. 09-Quem era o líder dos Capitães.Como ele conseguiu essa liderança?qual a ligação do destino desse líder com a situação política e social da época, depois que se tornou adulto? 10- Comente o último parágrafo do livro: Apesar da miséria dos meninos desamparados, da alienação de alguns deles, o romance termina positivamente, pois Jorge Amado irá concentrar em Pedro Bala toda sua crença na força do homem, em seu poder para modificar o destino, através da luta, através da ação. Com isso, acaba por deixar às claras a sua concepção de romance: um tipo de narrativa que se presta a desalienar e a conscientizar o homem, não só lhe chamando a atenção para as mazelas sociais, como também lhe indicando o caminho da redenção.

84 11- Entre as variedades de preconceito enumeradas a seguir, aponte aquelas que o grupo dos capitães da areia (do romance homônimo) rejeita e aquelas que acata e reforça: Preconceito de raça e cor; De religião; De gênero (homem e mulher); De orientação sexual. Justifique suas respostas. 12- Em Capitães da Areia temos a "cidade alta" como cenário principal. Pedro Bala é o chefe de um grupo de jovens arruaceiros que roubam para sobreviver. Nunca ninguém havia mencionado em literatura este bando de jovens que engenhosamente desafia as autoridades, roubando a classe privilegiada e dividindo o produto do roubo entre os seus camaradas subnutridos. Explique essa assertiva 13-Os personagens são em sua maioria masculinos, e dentre eles, Pedro Bala, cuja agilidade sugerida pelo apelido, merece especial atenção - Sem Perna, Pirulito, O Professor são os mais destacados: Ainda temos no grupo João Grande, Volta Seca, Boa Vida muito bem configurados pelos seus apelidos baseados na aparência física. Explique o porquê dos apelidos, 14-Dora é a única figura feminina merecedora de destaque, pois ela passa a assumir o referencial feminino da família, a mãe. Por que Dora é considerada dessa forma entre os capitães? 15-- Ao mesmo tempo que eles se relacionam bem com o padre José Pedro, eles se dão bem com a Mãe de Santo D. Aninha. Envolviam-se no candomblé, capoeira e respeitavam a igreja. Qual o relacionamento dos meninos com essas duas figuras/ O padre era hostilizado pela igreja/ Justifique. 16- A imprensa fazia o papel de porta-voz de problemas relacionados aos Capitães da Areia; mas o espaço era sempre o mais destacados quando o material era para acusá-los. Isso acontece atualmente? Justifique. 17-Qual o espaço em que se desenrola a narrativa? A obra apresenta tempo psicológico ou cronológico? Dê exemplos. 7-VIDAS SECAS- Graciliano Ramos 2ª geração do modernismo no Brasil Em Literatura, o período de 1930 e 1945 caracteriza-se pela tendência do posicionamento ideológico, político e social dos intelectuais brasileiros. A rebeldia estética da 1ª fase modernista cedeu lugar à literatura socialmente comprometida, sobretudo no que diz respeito à prosa de ficção.a revolução de 1930, o declínio e a dissolução das estruturas sociais e econômicas do Nordeste a imigração nas estradas do Sul apareciam nos novos estilos de ficção, caracterizados pela observação real e direta dos fatos.euclides da Cunha e Lima Barreto, do Pré Romantismo não eram mais exceções, mas sim os primeiros a abordar o elemento regional/social e, como tal ganharam sucessores. As elites urbanas e seus intelectuais analisavam e procuravam compreender o país nos seus novos aspectos. Diante de tal complexidade, a prosa passou a ser o gênero mais cultivado, principalmente na vertente regionalista, com as produções de Graciliano Ramos, Érico Veríssimo, Jorge Amado, Raquel de Queirós José Américo de Almeida e José Lins do Rego. Além do aspecto regional, usava-se o texto também para analisar ou denunciar injustiças sociais como dificuldades com o trabalho, o meio, o abandono do cidadão por parte do Estado, resumindo tudo na falta de perspectiva de uma vida minimamente decente para o cidadão anônimo, modelo, aliás, ao qual se enquadra a temática de Graciliano Ramos, autor de Vidas Secas. A preocupação com essas realidades foi tão intensa nesses autores que a linguagem literária evoluiu muito pouco, principalmente se considerarmos as propostas inovadoras da geração modernista de 1922, isso porque preocupações com a linguagem foram relegadas a segundo plano, haja vista que a essência do projeto artístico desses autores centrava-se nos planos social e histórico.

85 Vidas Secas uma novela desmontável? Uma obra cíclica? Romance novela ou uma coletânea de contos? O próprio Graciliano Ramos, em Alguns tipos sem importância, uma das crônicas de seu livro Linhas tortas depõe: Em 1937 escrevi algumas linhas sobre a morte de uma cachorra, um bicho que saiu inteligente demais, creio eu, e por isso um pouco diferente dos meus bípedes.dediquei em seguida várias páginas aos donos do animal. Essas coisas foram vendidas, em retalho, a jornais e revistas. E como José Olimpio (proprietário da Livraria José Olympio Editora) me pedisse um livro para o começo do ano passado, arranjei outras narrações, que tanto podem ser contos como capítulos de romance.assim nasceram Fabiano, a mulher, os dois filhos e a cachorra Baleia, as últimas criaturas que pus em circulação. Portanto, Vidas Secas é a junção de treze contos formando uma novela ( ou romance como disse o próprio autor) já que todos eles estão ligados entre si, sendo o primeiro ( agora capítulo ) uma espécie de apresentação das personagens. Nos demais há capítulos especialmente feitos para cada componente da família (aí se inclui a cachorra Baleia), em que os outros viventes não passam de coadjuvantes, dando à obra um caráter novelístico.obra neorrealista, mostra a denúncia social, a miséria física e intelectual do homem do sertão nordestino.esses treze capítulos demonstra a saga do vaqueiro Fabiano, Sinhá Vitória, MMV, MMN e a cadela Baleia. Os capítulos (ou contos) de Vidas Secas são: Mudança; Fabiano; Cadeia; Sinhá Vitória; O menino mais novo; O menino mais velho; Inverno; Festa; Baleia; Contas; O soldado amarelo; O mundo coberto de penas; Fuga. Graciliano Ramos escreveu uma carta a coluna de João Conde da Revista O Cruzeiro em 1944, explicando a construção do livro.primeiro escreveu Baleia, depois Sinhá Vitória e Cadeia. Aos poucos, a partir das lembranças da sua própria vida escreveu o restante- cujo tema Nordeste e seus problemas- A seca que transforma as pessoas em bichos esfomeados e sedentos. A- Quanto às influências recebidas Vidas Secas se enquadra na linha regionalista, introduzida na Literatura Brasileira, pelo romancista romântico Franklin Távora ao publicar em 1876 O Cabeleira, obra cujo assunto gira em torno do banditismo no Nordeste.Mas foi com romances regionalistas do Naturalismo que não só Vidas Secas, mas vários romances da geração de 1930-como, por exemplo, A Bagaceira (José Américo de Almeida), O quinze (Raquel de Queirós)-mais se identificaram.estamos falando de Dona Guidinha do Poço, de Manuel Oliveira Paiva e, principalmente Luzia Homem de Domingos Olimpio, obra em que a seca se faz presente. B-Quanto à linguagem Linguagem direta, concisa, direta,objetiva, frases curtas e diretas.entanto há momentos de reflexão,no momento em que faz repetições de palavras e expressões. Até mesmo em Vidas Secas, em que tudo é minguado água, comida, dinheiro, diálogos, adjetivos, podemos encontrar algumas figuras de linguagem que quebram a seca narrativa de personagens secos vivendo em terra seca: símiles e onomatopéias são as mais utilizadas, isto porque as personagens são a todo o momento comparadas a animais e, por vezes a vegetação da região, além de balbuciarem, grunhirem rugirem imitando cabras, bois, ventos em sons omomatopaicos.usa o discurso indireto livre, em abundância, para mostrar intimidade entre narrador e personagem.capta a emoção e o pensamento mais interior das personagens protagonistas. Aproximações psicológicas, sonhos, lembranças. Tipo de simbiose: Estava direito aquilo....era bruto. Debaixo dos couros, Fabiano andava banzeiro, pesado, direitinho um urubu. Há na história momentos narrativo-descritivo. Faz uso de verbos no Pretérito Perfeito que indicam as ações pontuais e, no Pretérito Imperfeito, indicando ações habituais. Os substantivos são concretos. Ainda, Baleia representa os sonhos e desejos das pessoas. O enredo é quase surreal, para isso o uso do Futuro do Pretérito. Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás.

86 As personagens não dialogam, resmungam. Usam interjeições e gestos. C-Quanto ao foco narrativo Narrador em 3ª pessoa onisciente- único romance escrito em 3ª pessoa. Graciliano deixa de lado a impessoalidade, passando a sofrer com a família (inclusive Baleia),aí não seria exagero dizermos que o narrador é o próprio Graciliano Ramos. Ao narrador interessa registrar além da tragédia a opressão social que recai sobre Fabiano que evita o olhar dos filhos. Fabiano tenta compreender o mundo, mas devido ao conflito interno, rebela-se contra seu destino. Como as personagens, principalmente Fabiano, são monossilábicos, pouco se expressam pela fala, os autores lança mão do discurso indireto livre. (mistura da fala do narrador e personagem) D- Quanto aos temas; Observa-se nos nomes de Sinhá Vitória e Baleia uma oposição em relação á realidade, pois Vitória significa realização de ideais e Baleia gorda que vive nas águas. Podemos citar outros temas em Vidas secas: - a miséria física e mental- a penúria em que vive a família, - a arbitrariedade ou o abuso da figura do soldado amarelo, - a exploração no trabalho- a figura do fazendeiro explorador e do empregado explorado, - a corrupção governamental- a figura do cobrador de impostos da prefeitura, - a falta de perspectiva de vida na figura do próprio narrador, - a marginalização do sertanejo submisso, - sujeição do homem pelo homem, - impotência diante da natureza, - revolta interior, - (in)consciência do existir, - ZOOMORFIZAÇÃO. - E-.Comentário Até certo ponto os capítulos podem ser lidos separadamente. No entanto, ligam-se pela temática: família de nordestinos- problemática- desigusldade- desgraças cotidianas- medossonhos- sofrimentos e privações. Primeira Visão- Parece ser fácil de ler, mas engano.é difícil, escrito como protesto para que os brasileiros, políticos em geram voltassem os olhos para os dramas dos nordestinos.-tema de reflexão e denúncia..vidas Secas é um canto de amor ao homem cheio de coragem e teimosia.é uma metonímia do sertão. F- Tempo narrativo A história acontece entre duas secas. 1ª Seca- Família de sertanejos migram á procura de um lugar para recomeçar a vida,vem para a fazenda abandonada- juazeiros. Fabiano apresenta-se ao patrão como vaqueiro- marcador de gado- símbolo de marcarse a si mesmos.seres animalizados, perdidos dentro de si mesmos. 2ª Seca- Família parte para o Sul, pois os meninos precisam se alfabetizar- busca de novas possibilidades. O capítulo Fuga fecha a narrativa. Não sabemos para onde vão..o restante é psicológico. G- Espaço- Sertão do Nordeste- qualquer lugar que tem seca H- Comentário Vidas Secas é a história de uma família de retirantes, que, paradoxalmente, não chega a constituir propriamente uma história. A dura andança, sob a implacabilidade da seca, de certa forma justifica a inutilidade da comunicação ente os membros da família, o fato dos meninos não apresentarem, as dificuldades lingüísticas de Fabiano, a inquietação constante. E também o

87 sacrifício do papagaio, que tinha acompanhado a família, e que veio a transformar-se em alimento providencial.o papagaio ao ser comido representa a ruptura da linguagem. Fabiano é considerado um anti-herói- duro como a própria terra que nunca cria raízes.. É branco, de olhos claros, mas como ele mesmo se compara um bicho Como se não bastasse tal infortúnio, Fabiano vem a ser preso pelo soldado amarelo, símbolo do autoritarismo local. Ao contrário de Fabiano, que se mostra matuto em tudo, Sinhá Vitória apresenta sinais de ter vindo de um meio social menos duro. Baleia, a cachorra, consegue sentir e reagir com inteligência superior à media dos animais. Sua humanização progressiva acompanha a também progressiva animalização dos membros da família. Fabiano teve de sacrificar a cachorra, por suspeitar que ela estivesse padecendo de raiva. Embora se revolte contra as coisas do patrão, Fabiano tem de aceitá-las, para não perder o emprego. Seu reencontro com o soldado amarelo, depois, em plena caatinga, faz-lhe reconhecer sua própria superioridade. Acaba perdoando, ensinando ao soldado o caminho de volta. Mas a temida seca enfim está chegando. As árvores se enchem de aves de arribação. Fabiano recomeça a analisar sua vida. Quem lhe dá ânimo é Sinhá Vitória. Os retirantes deixam a casa da fazendo, e retornam o caminho de sempre. No pensamento de Fabiano brilha uma certa esperança, materializada pelas promessas de chegar ao sul do país. Mas a perspectiva que vem do narrador é a da contínua andança, sem definição e sem destino certo. Vejamos agora como se distribuem os principais acidentes dentro de cada capítulo: A FUGA DA SECA Este primeiro capítulo já supõe toda uma narrativa anterior, sobre a qual para o silêncio, e cujas características podemos adivinhar: Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados famintos. Vinham tocados pela seca. Chegam ao pátio de uma fazenda abandonada. Fabiano arruma uma fogueira. Baleia traz no dentes um preá. Levantaram-se todos gritando. O menino mais velho esfregou as pálpebras afastando pedaços de sonho. Sinhá Vitória beijava o focinho de Baleia, e como o focinho estava ensangüentado, lábia o sangue e tirava proveito do beijo.fabiano enche-se de alegria com a promessa de chuvas no poente. Já se anuncia neste capítulo a compreensível rudeza de Fabiano com os filhos, resultado da incomunicabilidade. Podemos dizer que este primeiro capítulo apresenta as regras sérias do jogo, ou seja, o conjunto de princípios e situações que não se vão mudar substancialmente. É desse tabuleiro inicial que se podem escolher alguma peça para dar-lhes desenvolvimento particular m cada um dos capítulos seguintes. Dos treze capítulos do livro, apenas três fogem um pouco a esse esquema e trazem à cena alguma coisa inesperada: Caldeira, Festa e O soldado amarelo. Não nos deve admirar o fato de que esses três capítulos são os que estabelecem uma mínima relação da família com a periferia da sociedade, e denunciam, por isso mesmo, uma crise da comunicação e da receptibilidade. VOCÊ É UM BICHO, FABIANO! Apossara-se da casa porque não tinha onde cair morto passara uns dias mastigando raiz de imbu e sementes de mucunã. Viera a trovoada. E, com ela, o fazendeiro, que o expulsara. Fabiano fizera-se de desentendido e oferecera os seus préstimos, resmungando, coçando os cotovelos, sorrindo aflito. O jeito que tinha era ficar. E o patrão aceitara-o, entregara-lhe a marca de ferro.fabiano trabalha como um negro. Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. Aparecera com um bicho, entocara-se como um bicho, mas criara raízes, estava plantado. Contente, dizia a si mesmo: Você é um bicho, Fabiano. Sua vida era com os brutos, sua linguagem era deficiente: Admirava as palavras compridas e difíceis da gente da cidade, tentava reproduzir algumas, em vão, mas sabia que

88 elas eram inúteis e talvez perigosas. Lembrava-se sempre do seu Tomás da bolandeira (máquina de descaroçar algodão). Aquele sim é que falava bem. Seu Tomás lia demais O patrão mostra autoridade. Fabiano obedece, pois se preocupa com o futuro, com a educação dos filhos. Nota-se que a presença do patrão obedece a um movimento circular. Ele já despedira Fabiano antes. Reencontra Fabiano, e a pedido deste, deixa-o ficar. Depois despede-o de novo. A família então teve de retomar o ciclo da andança CADEIA vs FABIANO Na feira da cidade, Fabiano é convidado por um soldado amarelo para jogar trinta e um. Perde, e sai. O soldado o insulta por ter saído sem se despedir. Fabiano é levado para cadeia e apanha. Obviamente o soldado não prende Fabiano por uma antipatia pessoal,,que o vaqueiro lhe inspirasse. Prende-o, porque, afinal, com alguém ele deve exercer a autoridade. Para o soldado amarelo, Fabiano é apenas um tipo, o tipo social contra quem ele pode exercer sua discriminação e seu autoritarismo. SINHÁ VITÓRIA Sinhá Vitória que já há mais de um ano uma cama de lastro e couro, igual à do seu Tomás da bolandeira. Vêm-lhe as recordações da viagem, a morte do papagaio. Tem medo da seção. Mas a presença do marido a deixa segura. A figura de seu Tomás da bolandeira funciona como um modelo um paradigma de gente culta, que a família pôde conhecer. Mas, aqui, sobretudo é importante verificar como Graciliano, atento Talvez à lição machadiana, faz a mulher ocupar um plano psicologicamente distinto do plano masculino. Dizem alguns antropólogos que a mulher te uma reação mais íntima com a natureza que o homem. Entretanto, Graciliano parece inverter esse princípio, pois Sinhá Vitória está mais próxima da cultura do que Fabiano. Portanto, sua animalização é menor. O MENINO MAIS NOVO (MMN) Quer ser igual ao pai, e por isso deseja realizar algo notável, para despertar a admiração do irmão e da cachorra. Queria amansar uma égua e montá-la, como o pai fizera. Por isso ele tentar montar o bode, e cai sob risadas do irmão, e a desaprovação e Baleia. Aqui também notamos uma resistência a brutalização, pois o menino continua com seus sonhos de menino, tal como sua mãe, que continua a sonhar com uma cama de lastro de couro. O MENINO MAIS VELHO (MMV) Sente imensa curiosidade pela palavra inferno. Não obtendo explicação do pai, recorre à mãe, que fala em espetos quentes e fogueiras. Ao perguntar à mãe se ela tinha visto tudo isso, Sinhá Vitória lhe dá um cocorote. Indignado, o menino se esconde. Fica abraçado com a cachorrinha. Seu ideal é ter um amigo. Todos o abandonavam, a cadelinha era o único vivente que lhe mostrava simpatia. Ao contrário de seu irmão, o menino mais velho já começa a apresenta sinais de mais efetiva (e mais dolorosa) imitação paterna. O desejo de saber o que significava inferno, a, e a lição recebida da mãe, já constituem, por si sós, maneiras de evidenciar como a linguagem não tem boa qualidade no contexto dos retirantes. Isso também explicaria um pouco as dificuldades lingüísticas de Fabiano, que não parecem de origem patológica, mas resultam de inadaptação cultural. E, por outro lado, no plano do narrador, o desejo de saber o que é inferno não passa de uma discreta (mas intensa) ironia, pois todos estavam, afinal, submetidos ao inferno do sol. INVERNO RIGOROSO

89 O inverno também é rigoroso. A família se reúne ao pé do fogo. Fabiano inventa uma história, mas a família não entende, nem ele a sabe exprimir direito.todos temem a violência ameaçadora da chuva. Também tem a seca, que virá depois. Esta imagem da família reunida, a ouvir uma história contada pelo pai, pode, de certa forma, parecer-nos excessiva. Porque nós, leitores, colocados num plano existencialmente superior ao das personagens, estranhamos que elas ainda tenham tempo para se preocupar com algo supérfluo, tanto mais que a situação delas era de completa abertura. Mas este modo de ler seria incorreto porque as situações de angústia prolongada conhecem bem um movimento de vai-e-vem, entre a angústia e a distração. Graciliano conhecia muito bem esse fenômeno FESTA NA CIDADE Festa de natal na cidade. As roupas da família ficaram apertadas. Os meninos estranham tudo em volta. Comparando-se ao tipo da cidade, Fabiano reconhecia-se inferir. Depois da missa, convida a mulher e filhos para os cavalinhos. Quer ir às barracas de jogo, mas sinhá Vitória desaprova. Bebe em demasia, fica valente. Mas acaba pegando no sono na calçada. Fabiano sonha com soldados amarelos que lhe pisavam os pés e ameaçavam com facões terríveis. Este capítulo procura exprimir o sentimento de inferioridade da família. Mas não fica nisso. Porque a obediência forçada é muitas vezes pulverizada pela revolta repentina. Isso, aliás, é típico do comportamento sertanejo, pelo menos no que está testemunhado pela ficção regionalista. Há um sentimento de dignidade humana, que mais cedo ou mais tarde se vem a manifestar. BALEIA (o nome que lembra água) Baleia não estava bem. Fabiano calcula que era raiva (hidrofobia) e resolve matar o animal. Sinhá vitória tem de conter os meninos. Desconfiada Baleia tenta esconder-se. Feriada na perna, Baleia foge, mas não consegue alcançar os juazeiros. Baleia não conseguia entender o que estava acontecendo. Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. Pode-se dizer que o realismo contínuo de Graciliano Ramos encontra em Baleia seu ponto de inversão. De fato, o carinho, a ternura com que o narrador se transfere para dentro do animal,,a sabedoria com que soube preparar a cena patética, o clímax de humanização do bichinho antes da morte, tudo isto nos mostra repentinamente com Graciliano muito próximo dos modos sublimes da literatura narrativa, coisas que contrasta com a paisagem constante do livro. Digamos que esse é um momento de poesia trágica de Vidas Secas. O ACERTO DAS CONTAS O patrão rouba Fabiano nas contas. Os bezerros e cabritos que lhe cabiam, como paga do trabalho, Fabiano os tem de vender ao patrão. Fabiano reclama, pois as contas do patrão não conferem com as feitas por sinhá Vitória. O patrão lhe aconselha procurar serviço noutra fazenda. Fabiano depois recorda a injustiça que sofreu de um fiscal da prefeitura por ter tentado vender um porco. O pai vivera assim, o avô também. Cortar mandacaru ensebar látegos aquilo estava nos sangue. Conformava-se, não pretendia mais nada. O SOLDADO AMARELO (amarelo = seca =sol) E eis que Fabiano encontra na caatinga o soldado amarelo que levara para a cadeia. O soldado, acovardado, fica à mercê de Fabiano, que vacila em sua intenção de vingança, e acaba ensinando ao soldado o caminho do retorno. Este é um dos momentos de grande ironia. Pois o soldado aí aparece naquilo que pessoal e socialmente ele é, não mais naquilo que a instituição o fazia parecer. E ele é, enfim, sob vários aspectos, inferior a Fabiano. Existe uma proporção entre ambos. Fabiano é tanto

90 mais forte quanto mais próximo da caatinga. O soldado é tanto mais forte quanto acobertado pelas instituições. A força de Fabiano vem do próprio Fabiano; o poder do soldado, o autoritarismo que exerce sobre os outros, ao contrário,,não vem dele, mas da organização a que pertence. O MUNDO COBERTO DE PENAS (é a volta da seca) A seca estava voltando. É o que anunciam as aves de arribação. Sinhá Vitória adverte: as aves estão tomando a água que mantém vivo os outros animais. Fabiano se admira da inteligência de sua mulher, e procura matar várias aves com a espingarda. Servirão de alimento.. Fabiano não consegue esquecer Baleia. Era preciso sair dali. Novamente se vai precipitar a andança. FUGA (obra cíclica) Prepara a viagem, partem de madrugada. Fabiano mata o bezerro que possuem e salga a carne. Sinhá Vitória fala de seus sonhos ao marido. Este se enche de esperança. E andavam para o sul, metidos naqueles sonhos. Uma cidade grande, cheia de pessoas fortes. Os meninos em escolar, aprendendo coisas difíceis e necessárias. Eles dois velhinhos, acabando-se como uns cachorros, inúteis, acabando-se como Baleia. Que iriam fazer? Retardaram-se temerosos. Chegariam a uma terra desconhecida e civilizada, ficariam presos nela. E o sertão continuaria a mandar gente para lá. O sertão mandaria pra cidade homens fortes, brutos como Fabiano, sinhá Vitória e os meninos. Este final, senão representa nem de longe um final feliz, é, pelo menos, uma porta aberta para sair-se do contínuo giro circular. É um final importantíssimo para a solução do romance, pois introduz uma pequena abertura para a utopia das grandes metrópoles, e reproduz com verossimilhança, aquilo que de fato vem acontecendo na cena abrasileira. F. A ESTRUTURA DO ROMANCE Um dos elementos mais aguardados, num romance regionalista, é o enredo, a intriga, ou seja, a forma que no romance assuma a sociedade. Já se vê que Vidas Secas não pôde contar com um intriga sólida, complexa. Enfim, Vidas Secas não tem uma história, no sentido romancístico do termo. Pois, para que haja uma história substancial, é necessário que a sociedade se manifeste. Ora, as relações sociais, em Vidas Secas, são apenas vislumbradas de longe, ou sinalizadas em circunstâncias muito rápidas e muito fortuitas. A família é projetada para o âmbito agressivo da natureza. Portanto, a fisionomia heróica da família se vai formar na luta contra a hostilidade natural, na organização mínima do instinto de sobrevivência. A sociedade reaparece aqui ou ali,mas tensa e vigilante, como os guardas de uma fronteira. Isto, por reflexo, acaba apontando uma sociedade dividida entre grandes proprietários rurais e seus trabalhadores, que representam apenas disponibilidade eventual de força de trabalho. Do ponto d vista do narrador, que se manifesta em terceira pessoa e é onisciente a discrição tática é sensível. Repare-se que os capítulos lembram verdadeiras tomadas fílmicas. São cenas colocadas umas ao lado das outras, com pouca continuidade narrativa, embora apresentasse em constante movimentação. Obviamente, este mosaico é uma função da realidade social representada. Daí que a maioria dos capítulos passa ser lida com contos autônomos. E, de fato, a intenção primeira de Graciliano Ramos oi a de escrever um conto. Sua secura não vinha de um projeto de concisão abertamente definido, como foi o projeto de modernidade apresentado por Oswald de Andrade ou Mário de Andrade. A secura de Graciliano Ramoso tinha principalmente duas fontes. Uma era o caráter do homem, um caráter coeso e determinado, que o fazia sentir com despudor todo excesso verbal, sobretudo se fosse romântico, expansivo. A outra fonte era a

91 própria necessidade de harmonizar a linguagem ao panorama seco e inóspito que estava descrevendo. No fundo, isto revela necessidade de adequação imitativa adequação entre a realidade representada e o estilo de representação -, fundamental para o neo-realismo regionalista. A prosa de Graciliano Ramos corresponde a um esforço de análise dos dramas sociais. E Graciliano foi, em sua geração, a chamada geração regionalista dos anos 30, aquele que melhor soube casar a denúncia com a elaboração artística Observe: Três são os opressores de Fabiano; a seca; o soldado amarelo e o patrão. Conclusão- Urge salientar que o problema social tratado em Vidas Secas é extremamente brasileiro e de âmbito regional. A seca gera miséria, e a miséria: a morte e a desolação. Nesse sentido, é lícito pensar que não sobram alternativas para os retirantes, a não ser as migrações contínuas de terra para terra, na mesma região, caracterizando a mudança, transfigurando-se em fuga. Em qualquer cenário, é nítido observar a relação de vassalagem e de exploração, uma vez que esses homens acabam sendo tomados como mão de obra barata. No entanto, percebe-se que o vaqueiro respeita o trabalho que executa e ama a terra em que vive. O meio agride o homem, interferindo nas relações sociais. Nesse sentido, ao lado da tendência neorrealista coexiste a forte tendência neonaturalista em Vidas Secas. Leia que vale a pena COMENTÁRIO PRÁTICO -Vidas Secas - Graciliano Ramos Movimento Literário: Modernismo (2ª geração/ ), José de Alencar- linguagem enfeitada,frases simples,não abusa de subordinadas,coordenadas justapostas; Graciliano Ramos-linguagem seca-oração coordenada justaposta-linguagem simples (não-pobre) abordagem social (questão social); Guimarães Rosa-estilo barroquista- lado místico-religioso; Temáticas de Graciliano Ramos- 1-Afetividade; 2- Opressão, 3-Linguagem; Personagens não estabelecem afetividade- O sistema social é tão terrível que o sertanejo perde características humanas. Em Vidas Secas, entretanto uma personagem a cadela Baleia é afetiva.(o animal ganha características humanas- o homem perde) O massacre do homem é violento; Baleia é a ponte entre o inconsciente do meio em que vivem; Questão do autoritarismo-soldado amarelo oprime Fabiano, este oprime a mulher e os filhos; O homem (Fabiano) quando tem o poder também massacra; Aumenta a problemática do oprimido; Baleia-quando recebe um tiro de Fabiano, tem vontade de reagir, mas não reage porque é seu dono;

92 Fabiano e Soldado Amarelo- momento sozinho não protestam; Fabiano e Patrão submissão; Se a seca é opressão, a chuva quando vem também; Vidas Secas não é romance só nordestino toda civilização-injustiça social = Romance atual. Se Fabiano tivesse o domínio da linguagem, não seria explorado- Fabiano é seduzido pela linguagem de Tomás da Bolandeira. VIDAS SECAS-nasceu de um conto, do conto Baleia. Três histórias com estrutura autônoma. Poderia ser novela. NOVELAcélulas narrativas ligadas a um elemento em comum, preocupadas com a efabulação (prender a atenção do leitor).vidas SECAS não têm essa característica. É a problemática do mundo Problemática do sistema social massacrando as personagens. Isto é característica de romance. Estrutura desmontável (começo-meio-fim). Obra cíclica- 1º e último capítulos amarrados-seca A narrativa parte da estabilidade- conflito- clímax desfecho. FABIANO louro e queimado (sol);olhos azuis (céu limpo) pés duros resistentes aos espinhos; Homem rude, de pouco falar. Assusta-se com o desconhecido, é desconfiado e manipulado pelos poderosos. Identifica-se com os bichos, o que denuncia a condição subumana a que está confinado. Seu modo de ser e de viver muitas vezes aproxima-o do modo de ser e viver de um animal, no processo conhecido como zoomorfização. Os Meninos- : referidos como o menino mais velho o menino mais novo não recebem nomes.o texto deixa entender que os garotos perpetuarão o mesmo tipo de vida dos pais,compondo um círculo vicioso. MMV- queria saber o significado da palavra INFERNO.Viu uma benzedeira falar.a mãe descreve tão bem,que ele pergunta se ela já foi lá. MMN: que ser igual ao pai.um dia monta um bode,mas cai- humilhante Sinhá Vitória: versão feminina de Fabiano. Seu sonho é ter uma cama de couro igual à de Seu Tomás da Bolandeira Baleia: a cadela é a personagem que mais se assemelha a um ser humano. É solidária, atenciosa, amiga. Baleia é o elemento que confere humanidade ao grupo, sendo exemplo de antropomorfização.baleia doente- Fabiano lhe dá um tiro, e ela cai, arrasta-se e sonha. O sonho não é realizado no momento atual. VERBO NO FUTURO Soldado Amarelo: símbolo do poder,autoritário,que subjuga Fabiano e todos aqueles que como ele vive. VIDAS SECAS - a obra mais otimista que às outras, poia as personagens sonham. Hipálage- O voo negro dos urubus- deslocamento do adjetivo negro. Discurso Indireto Livre- É o discurso em que notamos polifonia de vozes. Há ambiguidade- consegue retratar o sonho das personagens com fidelidade. ÚLTIMO CAPÍTULO- Eles fariam- Os meninos estudariam. Eles viveriam melhora-os verbos sempre no futuro, pois G Ramos não acredita no sonho de suas

93 personagens. Essa situação nunca melhorará. O problema da seca não está ligado à seca, mas a estrutura social de opressão. = PROBLEMA DA NOSSA SOCIEDADE. Estrutura frasal (oração justaposta)-há coerência entre os capítulos pois os mesmos são justapostos- como a própria estrutura de raciocínio dos personagens. Sinhá Vitória diz:-essas aves vão matar o gado. Fabiano não consegue entender. Vê= pequena; gado = grande Não estabelece causa e consequência, isto é pista-índice que a seca está chegando. O livro não tem clímax. É uma estória retilínea. Característica - Estilo: seco e econômico. O autor usa poucas palavras exatas. A adjetivação farta. Os ornamentos linguísticos, a expressão rara, etc. Cedem lugar a uma redação concisa. As frases são curtas, diretas e nos remetem apenas ao essencial, ao concreto descrito nas cenas. Através de seu estilo e vocabulário, Graciliano Ramos ambienta seu livro no mundo desolador das secas, que, em muitas passagens, remete o leitor ás característica do Naturalismo. - Estrutura: Vidas Secas é o último romance de Graciliano Ramos e a única experiência do autor com foco narrativo em terceira pessoa. A obra é construída em forma de espiral, cujo início fechado ( Mudança, cap.1) abre-se no final, com o último capítulo ( Fuga ) conduzindo os personagens para um destino inusitado, mas que mantém o elo da desdita, de miséria, da forme e da pobreza. Entre os dois capítulos-limite são constituídos 11 quadros, que, aparentemente, nada têm em comum a não ser os personagens e a paisagem. Um tênue fio narrativo faz o leitor conhecer a história de uma família de retirantes nordestinos que fogem da seca, encontram período da passageira estabilidade e partem novamente em tirada, quando as chuvas deixam de cair, prenunciando novo período de seca. A economia (de estilo, de linguagem, de vida e de cenário) pode ser destacada como característica básica do volume. 8- Sentimento do Mundo de Carlos Drummond de Andrade Análise Publicado pela primeira vez em 1940, Sentimento do mundo é o terceiro trabalho poético de Carlos Drummond de Andrade. Os poemas deste livro foram produzidos entre 1935 e São 28 no total. Traz o olhar do poeta sobre o mundo à sua volta, tendendo para um olhar crítico e significativamente político. É uma obra que retrata um tempo de guerras, de pessimismo e sobre tudo, de dúvidas sobre o poder de destruição do homem. Escrito na fase em que o mundo se recuperava da Primeira Guerra Mundial e em que já se encontrava iminente a Segunda Grande Guerra, com a imposição do Estado Novo de Getúlio Vargas e o crescimento do Nazi-fascismo, percebe-se em Drummond a luta, a contestação, pela palavra, das atrocidades que o mundo parecia aceitar ( Tudo acontece, menina / E não é importante, menina ). Drummond lançou-se ao encontro da história contemporânea e da experiência coletiva, participando, solidarizando-se social e politicamente, descobrindo na luta a explicitação de sua mais íntima apreensão para com a vida como um todo. Em Sentimento do mundo, Drummond revê o fazer poético. Amadureceu o poeta individualista de Alguma Poesia, tomando consciência do mundo, apesar de não se esquecer de seu coração. O poeta de Sentimento do mundo constata que vive em um tempo em que a vida é uma ordem, que vive num mundo grande, onde os homens de diferentes cores vivem suas diferentes dores e que não é possível amontoar tudo isso/num só peito de homem. Ele constata, arrependido, que se voltou para si e para seus ínfimos problemas: Outrora escutei os anjos,

94 as sonatas, os poemas, as confissões patéticas. Nunca escutei voz de gente. Em verdade sou muito pobre. ("Mundo grande", Sentimento do mundo) Mais que constatar ele se recusa a ser "o poeta de um mundo caduco", a ser "o cantor de uma mulher, de uma história". O poeta não será uma ilha, mas cantará "o tempo presente, os homens presentes, / a vida presente" ("Mãos dadas, Sentimento do mundo"). O versocachaça dá lugar ao verso-combate, que alimenta o coração do poeta, para lhe dar forças para lutar: Então, meu coração também pode crescer. Entre o amor e o fogo, entre a vida e o fogo, meu coração cresce dez metros e explode. Ó vida futura! nós te criaremos. ("Mundo grande", "Sentimento do mundo") Nos poemas de Sentimento do mundo, além do traço preciso e corrosivo, próprio da escrita de Drummond, há uma imensa preocupação com os rumos que tomam as pessoas enquanto seres humanos. Nesta obra fica claro que o individualismo está mais próximo da concordância com o modelo da situação que do protesto e que, somente unidos ( Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas ), através dos mesmos sentimentos, ainda que mal se compreendam ( Ele sabe que não é nem nunca foi meu irmão, que não nos entenderemos nunca. E me despreza... ), os homens conseguiriam modificar o mundo:...as mãos dos sobreviventes se enlaçam, os corpos hirtos adquirem uma fluidez, uma inocência, um perdão simples e macio... Havemos de amanhecer ("A noite dissolve os homens") Não há, entretanto, otimismo na visão do poeta. É sombria e pessimista a visão de mundo que se justapõe à esperança da revolução e da utopia. Assim, dor e esperança são os temas básicos que regem os poemas de Sentimento do Mundo. Uma dor, talvez, maior que a esperança que a contempla, ou talvez esta não esteja tão próxima dos homens. A dor é o "Sentimento do Mundo"; dor de todos os homens e que se concentra em um só o poeta: Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo mas estou cheio de escravos minhas lembranças escorrem e o corpo transige na confluência do amor. ("Sentimento do mundo) E, então, ele, o poeta, sente-se responsável pelas pessoas a sua volta; sofre por elas; sente-se elas. Como se vê em: É preciso casar João, é preciso suportar Antônio, é preciso odiar Melquíades, é preciso substituir nós todos. (...) ("Poema da necessidade") E em: Eu sou a Moça-Fantasma que espera na Rua do Chumbo

95 o carro da madrugada. (...) ("Canção da Moça-Fantasma de Belo Horizonte") O "nós" é muito empregado em Sentimento do Mundo e é através do "nós" que surgirá a esperança. Ressalte-se que ela, a Esperança, nunca está no presente, mas, sempre, no futuro, virá. Vem, assim como a dor, personificada em imagens possíveis de se encontrar em nosso cotidiano: o sorriso do operário, que caminha firme ("Vejo-o que se volta e me dirige um sorriso úmido"); a aurora, que dissolve a noite que traz o sofrimento ("Aurora, / entretanto eu te diviso, ainda tímida, / inexperiente das luzes que vais acender"); o soluço de vida, que resiste ao verme roedor de lembranças: Havia a um canto da sala um álbum de fotografias intoleráveis, alto de muitos metros e velho de infinitos minutos, em que todos se debruçavam na alegria de zombar dos mortos de sobrecasaca. Um verme principiou a roer as sobrecasacas indiferentes e roeu as páginas, as dedicatórias e mesmo a poeira dos retratos. Só não roeu o imortal soluço de vida que rebentava Que rebentava daquelas páginas. ("Os mortos de sobrecasaca") Assim, os temas políticos, o sofrimento do ser humano e as guerras, a solidão, o mundo frágil, os seres solitários predominam. A dor humana está lá; o eu-lírico se resguarda e canta o outro, tão mais importante que ele próprio. Poemas de Sentimento do mundo 1. SENTIMENTO DO MUNDO Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo, mas estou cheio escravos, minhas lembranças escorrem e o corpo transige na confluência do amor. Quando me levantar, o céu estará morto e saqueado, eu mesmo estarei morto, morto meu desejo, morto o pântano sem acordes. Os camaradas não disseram que havia uma guerra e era necessário trazer fogo e alimento. Sinto-me disperso, anterior a fronteiras, humildemente vos peço que me perdoeis. Quando os corpos passarem, eu ficarei sozinho desfiando a recordação do sineiro, da viúva e do microcopista que habitavam a barraca e não foram encontrados ao amanhecer

96 esse amanhecer mais noite que a noite. "Sentimento do mundo" é primeiro poema e o que deu nome ao livro. Ele nos revela a visãode-mundo do poeta: não é alegre, antes, é cheia da realidade que sempre nos estarrece, porque, por mais que sonhemos, a realidade geralmente é dura e muito desafiante. O poeta inicia (estrofe 1) indicando suas limitações para ver o mundo: Tenho apenas duas mãos; mas aponta, em seguida, alguns elementos auxiliares que o ajudarão a suprir suas deficiências de visão: escravos, lembranças e o mistério do amor (versos 3 a 5); escravos podem ser os meios escusos de que nos utilizamos para tocar a vida e decifrá-la e dela nos aproveitarmos. O pessimismo denuncia-se com as mortes do céu e do próprio poeta, na estrofe 2. Apesar da ajuda incompleta dos companheiros de vida ("Camaradas"), o poeta não consegue decifrar os códigos existenciais e pede, humilde, desculpas. Nas duas últimas estrofes, Drummond pinta uma visão de futuro bem negativo, mas bem real: mortos, lembranças, tipos de pessoas que sumiram nas batalhas da vida ("guerra", na estrofe 3). Conclui, na estrofe 5, que o futuro ("amanhecer") é bem negro, tenebroso. Feita só de dois versos, sintetiza seu sentimento do mundo. 2. CONFIDÊNCIA DO ITABIRANO Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira. Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas. E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação. A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes. E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança itabirana. De Itabira trouxe prendas que ora te ofereço: este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas; este orgulho, esta cabeça baixa... Tive ouro, tive gado, tive fazendas. Hoje sou funcionário público. Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói! O poema começa com a saudade profunda de seu lugar de nascimento, traçado em quatro belas, mas sofredoras estrofes. Confessa (estrofe 3) que aprendeu a sofrer por causa de Itabira; mas, paradoxalmente: "A vontade de amor (...) vem de Itabira"; vale dizer que o amor nasce e é servido no sofrimento. De Itabira vem a explicação de Drummond viver de "cabeça baixa" (estrofe 3, verso 6). Afinal, apesar das negatividades, o poeta sente uma incomensurável saudade de sua cidade natal. 3. POEMA DA NECESSIDADE

97 É preciso casar João, é preciso suportar Antônio, é preciso odiar Melquíades é preciso substituir nós todos. É preciso salvar o país, é preciso crer em Deus, é preciso pagar as dívidas, é preciso comprar um rádio, é preciso esquecer fulana. É preciso estudar volapuque, é preciso estar sempre bêbado, é preciso ler Baudelaire, é preciso colher as flores de que rezam velhos autores. É preciso viver com os homens é preciso não assassiná-los, é preciso ter mãos pálidas e anunciar O FIM DO MUNDO. As necessidades do poeta são postas no poema, como se assim, a carência delas fosse suprida. Mas não se pode esperar que o canto do poeta transformasse as pessoas: "A poesia é incomunicável". E no entanto, o poeta crê na necessidade de mudar o mundo e credita muito valor ao poema. Mas o coração do poeta é mais vasto que o mundo. Em "Poema da necessidade", o discurso tem uma enunciação fundamentalmente determinista e apocalíptica. Utilizando-se do recurso da anáfora (repetições), o poeta anuncia o fim do mundo, num cotidiano frenético. 4. CANÇÃO DA MOÇA-FANTASMA DE BELO HORIZONTE Eu sou a Moça-Fantasma que espera na Rua do Chumbo o carro da madrugada. Eu sou branca e longa e fria, a minha carne é um suspiro na madrugada da serra. Eu sou a Moça-Fantasma. O meu nome era Maria, Maria-Que-Morreu-Antes. Sou a vossa namorada que morreu de apendicite, no desastre de automóvel ou suicidou-se na praia e seus cabelos ficaram longos na vossa lembrança. Eu nunca fui deste mundo: Se beijava, minha boca dizia de outros planetas em que os amantes se queimam num fogo casto e se tornam estrelas, sem ironia. Morri sem ter tido tempo

98 de ser vossa, como as outras. Não me conformo com isso, e quando as polícias dormem em mim e foi-a de mim, meu espectro itinerante desce a Serra do Curral, vai olhando as casas novas, ronda as hortas amorosas (Rua Cláudio Manuel da Costa), para no Abrigo Ceará, não há abrigo. Um perfume que não conheço me invade: é o cheiro do vosso sono quente, doce, enrodilhado nos braços das espanholas. Oh! deixai-me dormir convosco. E vai, como não encontro nenhum dos meus namorados, que as francesas conquistaram, e cine beberam todo o uísque existente no Brasil (agora dormem embriagados), espreito os Carros que passam com choferes que não suspeitam de minha brancura e fogem. Os tímidos guardas-civis, coitados! um quis me prender. Abri-lhe os braços... Incrédulo, me apalpou. Não tinha carne e por cima do vestido e por baixo do vestido era a mesma ausência branca, um só desespero branco... Podeis ver: o que era corpo foi comido pelo gato. As moças que ainda estão vivas (hão de morrer, ficai certos) têm medo que eu apareça e lhes puxe a perna... Engano. Eu fui moça, Serei moça deserta, per omnia saecula. Não quero saber de moças. Mas os moços me perturbam. Não sei como libertar-me. Se o fantasma não sofresse, se eles ainda me gostassem e o espiritismo consentisse, mas eu sei que é proibido vós sois carne, eu sou vapor. Um vapor que se dissolve quando o sol rompe na Serra.

99 Agora estou consolada, disse tu do que queria, subirei àquela nuvem, serei lâmina gelada, cintilarei sobre os homens. Meu reflexo na piscina da Avenida Paraúna (estrelas não se compreendem), ninguém o compreenderá. Neste poema Drummond parte do que seria uma lenda urbana para abordar, na imagem metafórica do espectro noturno assombrado pela solidão pós-morte, o seu isolamento e o de toda humanidade. Assumindo a voz dramática dessa alma que vaga pelas ruas da cidade mineira em busca da comunhão amorosa desconhecida em vida, o gauche assume uma sutil máscara heterônima, marcada pelo halo do fantástico, como se sua solidão também fosse um espectro fantasmagórico a transitar pela desconcertada modernidade do mundo caduco. A reflexão poética sobre a solidão, tecida por Drummond nesse poema, mescla-se com o questionamento sobre o próprio sentido do existir e já guarda, de certa forma, um embrião do pessimismo metafísico que dominará sua escrita a partir de Claro Enigma. O poeta-moça-fantasma se defronta diante de uma transcendência vazia, pois a morte e a possível vida espiritual não surgem como solução para o enigma da existência, com o reencontro com o Criador, porém como um intolerável castigo, a expiação de uma solidão eterna, Oh! Deixai-me dormir convosco, distante das benesses gloriosas das promessas do paraíso que imperam no imaginário judaico-cristão. Ultrapassar a fronteira da morte e encontrar a eternidade não propicia à Moça-Fantasma a onisciência sobre o sentido do existir, a comunhão adiada com a humanidade, o contato amoroso desconhecido, mas a consciência da incomunicabilidade plena de um ser ainda repleto de paixões irrealizadas. Essa alma passa a desvelar o abandono eterno do gênero humano, excluído agora de sua substância corpórea, a transpassar corpos viventes plenos de vida e jamais conseguir com eles comungar. Esse ser etéreo, que se apresenta sensivelmente aos homens, não causa pavor ao poeta, mas apenas uma inquietante identificação. Resgatando a dimensão simbólica da escuridão como elemento soturno, opressor, de erupção do medonho, o ambiente da noite ressurge na trajetória dessa aparição das ruas desertas da província mineira. Metáfora da comunhão adiada de Drummond com a humanidade, a Moça-Fantasma é aquele ente que, apartado do mundo dos vivos, sofre por perder a dimensão humana de ser vivente que, nem em vida, nem na morte, consegue o encontro com o outro. Morri sem ter tido tempo / de ser vossa, como as outras. Canção da Moça-Fantasma de Belo Horizonte é uma alegoria de uma mundana-fantasma representando as vicissitudes da vida ingrata das mulheres de rua. A originalidade está na forma de representação e na forma poética feliz com que Drummond realizou o projeto alegórico. Com esse projeto, Drummond consegue mexer com o imaginário popular e mundano sempre atento aos percursos do amores marginais ou clandestinos. O espectro da moçafantasma assume a narrativa em primeira pessoa numa intenção de apresentar uma mensagem necessária como se fosse uma purgação: Agora estou consolada, disse tudo que queria, subirei

100 àquela nuvem, serei lâmina gelada. 5. TRISTEZA DO IMPÉRIO Os CONSELHEIROS angustiados ante o colo ebúrneo das donzelas opulentas que ao piano abemolavam bus-co a cam-pi-na se-re-na pa-ra li-vre sus-pi-rar, esqueciam a guerra do Paraguai, o enfado bolorento de São Cristóvão, a dor cada vez mais forte dos negros e sorvendo mecânicos uma pitada de rapé, sonhavam a futura libertação dos instintos e ninhos de amor a serem instalados nos arranha-céus de Copacabana, com rádio e telefone automático. A relação irônica do modernismo com a História, prato preferido de Oswald de Andrade, aparece na poesia de Drummond. É um poema social de crítica aos ideais burgueses. 6. OPERÁRIO DO MAR (prosa) Na rua passa um operário. Como vai firme! Não tem blusa. No conto, no drama, no discurso político, a dor do operário está na blusa azul, de pano grosso, nas mãos grossas, nos pés enormes, nos desconfortos enormes. Esse é um homem comum, apenas mais escuro que os outros, e com uma significação estranha no corpo, que carrega desígnios e segredos. Para onde vai ele, pisando assim tão firme? Não sei. A fábrica ficou lá atrás. Adiante é só o campo, com algumas árvores, o grande anúncio de gasolina americana e os fios, os fios, os fios. O operário não lhe sobra tempo de perceber que eles levam e trazem mensagens, que contam da Rússia, do Araguaia, dos Estados Unidos. Não ouve, na Câmara dos Deputados, o líder oposicionista vociferando. Caminha no campo e apenas repara que ali corre água, que mais adiante faz calor. Para onde vai o operário? Teria vergonha de chamá-lo meu irmão. Ele sabe que não é, nunca foi meu irmão, que não nos entenderemos nunca. E me despreza... Ou talvez seja eu próprio que me despreze a seus olhos. Tenho vergonha e vontade de encará-lo: uma fascinação quase me obriga a pular a janela, a cair em frente dele, sustar-lhe a marcha, pelo menos implorar lhe que suste a marcha. Agora está caminhando no mar. Eu pensava que isso fosse privilégio de alguns santos e de navios. Mas não há nenhuma santidade no operário, e não vejo rodas nem hélices no seu corpo, aparentemente banal. Sinto que o mar se acovardou e deixou-o passar. Onde estão nossos exércitos que não impediram o milagre? Mas agora vejo que o operário está cansado e que se molhou, não muito, mas se molhou, e peixes escorrem de suas mãos. Vejo-o que se volta e me dirige um sorriso úmido. A palidez e confusão do seu rosto são a própria tarde que se decompõe. Daqui a um minuto será noite e estaremos irremediavelmente separados pelas circunstâncias atmosféricas, eu em terra firme, ele no meio do mar. Único e precário agente de ligação entre nós, seu sorriso cada vez mais frio atravessa as grandes massas líquidas, choca-se contra as formações salinas, as fortalezas da costa, as medusas, atravessa tudo e vem beijar-me o rosto, trazer-me uma esperança de compreensão. Sim, quem sabe se um dia o compreenderei? O poema número 6 da obra Sentimento do mundo faz o autor escapar da linguagem poética material (versos) e se apropriar dessa linguagem poética sem versos, mas bastante poesia imaterial, em belo painel-definição explicita a grande diferença social entre operários e nãooperários. Esta belíssima crônica poética, de base surrealista, tão em voga nos anos 30 e 40, serve bem para duas constatações:

101 1ª) o sentimento socialista de Drummond que iria espraiar-se cinco anos após Sentimento do mundo, na publicação de Rosa do povo, em 1945; 2ª) a visão-de-mundo onírica e bem poética de um operário universalizado em São Pedro; ele anda sobre águas por graça de Deus, enquanto burgueses se espantam por não poderem realizar a mágica; isto é, aos humildes: a magia divina, aos prepotentes: a inveja. Esta crônica poética também pode permitir que se compare a "apreensão do mistério da palavra" nos poemas explícitos de Drummond diante desta prosa poética; por exemplo: "minhas lembranças escorrem" ("Sentimento do mundo", estrofe 1, verso 4) e "feixes escorrem" (das mãos do operário, em "O operário no mar", linha 26). O mistério poético de lembranças escorrem é bem mais profundo do que peixes escorrerem imaginariamente das mãos do operário. "Operário no mar" é um texto discursivo em prosa, sem aparato versificatório e de um grande sentido poético. No fundo aparece como uma grande parábola poética que mede a distância entre o operário e o burguês, e declara uma nítida separação de classes, como se percebe na passagem: Ele sabe que não é meu irmão. Um poema em prosa carregado de símbolos: Esse é um homem comum, apenas mais escuro que os outros, e com uma significação estranha no corpo, que carrega desígnios e segredos no mar. Pela leitura fica clara a distância entre o eu poético burguês e o operário. Mas há uma mudança, uma ligeira metamorfose: em seu caminhar frontal e firme, a figura do operário se impõe. Caminha, é insistente em suas lutas e transforma muita coisa, quase faz milagres. É uma alusão à luta trabalhista, a qual, com o tempo, conseguirá suas vitórias, entre elas, o derretimento de gelos, a derrubada de preconceitos, e o milagre da aproximação, a humanização. 7. MENINO CHORANDO NA NOITE Na noite lenta e morna, morta noite sem ruído, um menino chora. O choro atrás da parede, a luz atrás da vidraça perdem-se na sombra dos passos abafados, das vozes extenuadas, e, no entanto, se ouve até o rumor da gota de remédio caindo na colher. Um menino chora na noite, atrás da parede, atrás da rua, longe um menino chora, em outra cidade talvez, talvez em outro mundo. E vejo a mão que levanta a colher, enquanto a outra sustenta a cabeça e vejo o fio oleoso que escorre pelo queixo do menino, escorre pela rua, escorre pela cidade, um fio apenas. E não há mais ninguém no mundo A não esse menino chorando. Drummond tem um enorme sentido social e uma vontade de que a utopia da fraternidade e

102 solidariedade seja possível no mundo. Nesta sensibilidade enquadra-se o poema "Menino chorando na noite" que classifica-se como um poema de ternura, enquanto nele se sublinha a força da criança, como símbolo de vida, tendo em vista sua dor e os cuidados que a ele são prestados. Um poema bastante emotivo onde o poeta sofre com o sofrimento do outro. As lágrimas caindo simbolizam a dor intensa e universal. Ser triste dói. 8. MORRO DA BABILÔNIA À noite, do morro descem vozes que criam terror (terror urbano, cinquenta por cento de cinema, e o resto que veio de Luanda ou se perdeu na língua geral, Quando houve revolução, os soldados se espalharam no morro, o quartel pegou fogo, eles não voltaram. Alguns chumbados, morreram. O morro ficou mais encantado. Mas as vozes no morro não são propriamente lúgubres. Há mesmo um cavaquinho bem afinado que domina os ruídos da pedra e da folhagem, e desce até nós, modesto e criativo, como uma gentileza do morro. Espaço carioca, onde o poeta aborda a violência e a gentileza (música) envolvendo os moradores. Em Morro da Babilônia temos fundamentalmente um poema social. Se por um lado, por vezes, na noite, as vozes que vêm do morro provocam terror, por outro lado, também, as vozes do morro não são necessariamente lúgubres pois dele vem, de vez em quando, o som de um cavaquinho bem afinado, que é uma gentileza do morro CONGRESSO INTERNACIONAL DO MEDO Provisoriamente não cantaremos o amor, que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos. Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços, não cantaremos o ódio porque esse não existe, existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro, o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos, o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas, cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas, cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte, depois morreremos de medo e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas. Neste poema, Drummond evidencia claramente o sentimento comungado por todos, simples mortais. É nele que Drummond fala do "amor que se refugiou no mais baixos dos subterrâneos, do medo que esteriliza o braço, no medo da morte e do depois da morte, e principalmente, no medo dos ditadores e no medo dos democratas". O poema escrito há pelo menos 60 anos contrasta com a página amarela e triste da nossa história que insiste em não virar, e se tornar passado de nossas vidas. Em Congresso internacional do medo Drummond com verdade e ironia coloca o medo como o grande dominador de nossa sociedade: Provisoriamente não cantaremos o amor, que se

103 refugiou mais abaixo do subterrâneos. Cantaremos o medo que esteriliza os abraços OS MORTOS DE SOBRECASACA Havia a um canto da sala um álbum de fotografias intoleráveis, alto de muitos metros e velho de infinitos minutos, em que todos se debruçavam na alegria de zombar dos mortos de sobrecasaca. Um verme principiou a roer as sobrecasacas indiferentes e roeu as páginas, as dedicatórias e mesmo a poeira dos retratos. Só não roeu o imortal soluço de vida que rebentava que rebentava daquelas páginas. Neste poema Drummond enaltece o soluço de vida que destila um simples retrato. O passado configurado no álbum de fotografias dos antepassados. Embora, inicialmente, as pessoas do presente zombem dos mortos, nos últimos versos a ironia dá lugar ao intenso sentimento. Esse poema é uma antecipação da poesia que vai falar da família e da memória. Não há como se desfazer do passado, da memória, mesmo que as fotos se acabem um dia. As lembranças boas e belas que nos acontecem ficam. O poema "Os mortos de sobrecasaca" estabelece uma tensão entre o estado de fixidez inerente à natureza do objeto fotografado e o movimento sugestivo e peculiar fornecido pela figura do verme que desliza sua concretude formal sobre a imagem química desbotada pelo tempo. O tom de sépia descrito pelo espectador no poema, metáfora recorrente para representar os estragos do tempo no papel "perecível" que registra a "eternidade" do estado de fixidez, sublinha a ideia de que a fotografia, neste caso consequência do rito familiar, fornece a possibilidade de realização de experiências óticas. Ou seja, o envelhecimento progressivo do papel de registro (primeira sugestão de movimento através do tempo) se rebela contra o estado já envelhecido e estático dos personagens da fotografia (natural e já registrado / congelado no momento do ato). 11. BRINDE DO JUÍZO FINAL Neste poema Drummond mostra a sobrevivência da poesia, e dos poetas honrados, além da morte e de todas as catástrofes. Em "Brinde no juízo final", o texto é modernista e homenageia os poetas populares contra os acadêmicos. Mostra a impotência da poesia burguesa no mundo capitalista. Fala que a poesia não é feita só de temas nobres, consagrados, mas de termos e temas banais. Drummond faz um brinde a essa poesia considerada, anteriormente, ridícula. 12. PRIVILÉGIO DO MAR Neste terraço mediocremente confortável, bebemos cerveja e olhamos o mar. Sabemos que nada nos acontecerá. O edifício é sólido e o mundo também. Sabemos que cada edifício abriga mil corpos labutando em mil compartimentos iguais. Às vezes, alguns se inserem fatigados no elevador e vem cá em cima respirar a brisa do oceano, o que é privilégio dos edifícios.

104 O mundo é mesmo de cimento armado. Certamente, se houvesse um cruzador louco, fundeado na baía em frente da cidade, a vida seria incerta... improvável... Mas nas águas tranquilas só há marinheiros fiéis. Como a esquadra é cordial! Podemos beber honradamente nossa cerveja. No poema número 12, o autor continua detendo-se alegoricamente no problema social das diferenças humanas. Drummond aqui destila uma ironiazinha sobre a segurança no mundo: o poeta cria uma situação em que um grupo bebe cerveja no terraço de um edifício enquanto todos olham o mar. O edifício é sólido, o mundo também (...) O mudo é mesmo de cimento armado (...) Podemos beber honradamente nossa cerveja. Portanto, "Privilégio do mar" é uma crítica à alienação burguesa. O poeta inclui-se entre os alienados que, se não atingidos, não se mobilizam e desfrutam de certa tranqüilidade, privilegiados em suas moradias. 13. INOCENTES DO LEBLON Os inocentes do Leblon não viram o navio entrar. Trouxe bailarinas? trouxe emigrantes? trouxe um grama de rádio? Os inocentes, definitivamente inocentes, tudo ignoram, mas a areia é quente, e há um óleo suave que eles passam nas costas, e esquecem. Ainda no enfoque da visão social, o poeta fala da riqueza: "inocentes" significa os que querem ignorar; por isto fingem e se aproveitam. Crítica à alienação dos burgueses que tudo ignoram, ou seja, enquanto a guerra acontece, os inocentes passam um óleo suave nas costas, e esquecem. 14. CANÇÃO DO BERÇO O amor não tem importância. No tempo de você, criança, uma simples gota de óleo povoará o mundo por inoculação, e o espasmo (longo demais para ser feliz) não mais dissolverá as nossas carnes. Mas também a carne não tem importância. E doer, gozar, o próprio cântico afinal é indiferente. Quinhentos mil chineses mortos, trezentos corpos [de namorados sobre a via férrea e o trem que passa, como um discurso, irreparável: tudo acontece, menina,

105 e não é importante, menina, e nada fica nos teus olhos. Também a vida é sem importância. Os homens não me repetem nem me prolongo até eles. A vida é tênue, tênue. O grito mais alto ainda é suspiro, os oceanos calaram-se há muito. Em tua boca, menina, ficou o gosto do leite? ficará o gosto de álcool? Os beijos não são importantes. No teu tempo nem haverá beijos. Os lábios serão metálicos, civil, e mais nada, será o amor dos indivíduos perdidos na massa e só uma estrela guardará o reflexo do mundo esvaído (aliás sem importância). Um dos poemas mais interessantes e fortes do livro. De intensa carga negativa que reforça as idéias contidas nos anteriores, como o reforço do mundo ser um mundo caduco (em "Elegia 1938" e "Mãos dadas"), tempo em que não se diz mais: meu amor (em "Os ombros suportam o mundo"), tudo está decomposto e nada mais tem importância, pois a vida é tênue, pequena, frágil e ligeira, não adiantando gritar, pois nenhum grito será ouvido; as pessoas não se solidarizam mais: Os homens não me repetem / nem me prolongo até eles ; há uma frieza nas relações pessoais: Os lábios serão metálicos, e o mundo está acabado e sem importância. Através deste poema Drummond transmite a mensagem de que desde o berço o destino está marcado: o amor, a carne, a vida e os beijos não têm a importância imediata que a sociedade de consumo lhe dá. No poema é elaborado um tipo de conhecimento baseado no determinismo e nas experiências negativas centradas num tipo de discurso dogmático: "o amor não tem importância(...) nem a carne não tem importância(...)". Tudo isto, à primeira vista parece uma antífrase profetizante que nos mostra um poeta descrente da autenticidade do amor a partir dos comportamentos mecanizados e formalizados adotados pelos homens de seu tempo, que priorizavam a mecanização sobre os sentimentos puros e naturais. 15. INDECISÃO DE MÉIER Teus dois cinemas, um ao pé do outro, por que não se afastam para não criar, todas as noites, o problema da opção e evitar a humilde perplexidade dos moradores? Ambos com a melhor artista e a bilheteira mais bela, que tortura lançam no Méier! 16. BOLERO DE RAVEL A alma ativa e obcecada enrola-se infinitamente numa espiral de desejo e melancolia Infinita, infinitamente... As mãos não tocam jamais o aéreo objeto esquiva ondulação evanescente

106 Os olhos, magnetizados, escutam e no círculo ardente nossa vida para sempre está presa está presa... Os tambores abafam a morte do Imperador.. A música Bolero de Ravel, foi criada instintivamente pelo maestro Maurice Ravel ( ), que queria fornecer um exercício prático que envolvesse todos os nypes musicais e uma orquestra (cordas, percussão, metais e sopro). Trata-se de uma canção repetitiva, que apenas retorna ao seu tema a todo instante, e a cada repetição, intensifica um pouco mais a sua força. Drummond trabalha as características da canção no seu poema, principalmente ao citar: infinita, infinitamente, espiral de desejo e círculo ardente. Seu valor intrínseco está na capacidade contrastiva que o poeta estabelece entre a alma ativamente aplicada ao desejo e à vida e o obstáculo, a distração ou o barulho que prendem ou abafam a entrega profunda à vivência a ser protagonizada pelo homem vivo. A dinâmica da vida é destacada com leveza e verdade. 17. LA POSSESSION DU MONDE Neste poema 17, Drummond indica o membro da Academia Francesa de Letras, em 1884, Georges Duhamel, pedindo uma risível fruta estragada; como se isso fosse, como diz o título do poema, ter o mundo nas mãos. É nada mais nada menos que uma ironia forte a um cientista estrangeiro que larga sua teoria científica para aderir ao apelo tropical de um mamão. 18. ODE AO CINQUENTENÁRIO DO POETA BRASILEIRO O belo elogio do poema 18 é a palavra drummondiana a Manuel Bandeira, nascido em 1886 e que, em 1936, completava 50 anos de vida. Drummond pede que "seu canto confidencial (a poesia de Bandeira) ressoe acima dos vãos disfarces do homem"! Trata-se de um poema terno e profundo: Este incessante morrer que nos teus versos encontro é tua vida. (...) a violenta ternura, a gravidade simples, a acidez e o carinho simples, a fidelidade a si mesmo, a fraternidade, o poeta acima da guerra e do ódio, a acidez e carinho que (...) a sua pungente, inefável poesia, ferindo as almas, sob a aparência balsâmica, queimando as almas, fogo celeste, ao visitá-las (...) Por isto sofremos pelas mensagens que nos confias. 19. MÃOS DADAS Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, considero a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. Não serei o cantor de uma mulher, de uma história, não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins. O tempo é a minha matéria, do tempo presente, os homens presentes, a vida presente. Neste poema o poeta reafirma a sua consciência da existência de outros homens, seus

107 companheiros. Com eles é que se sente de mãos dadas, e renunciou aos seus temas pessoais: uma mulher, uma história, a paisagem vista da janela. Não mais se refugiará na solidão porque o que lhe interessa é o tempo presente em que se acha inserido, e os homens que o cercam. O poema "Mãos dadas" anuncia a utópica e festiva solidariedade humana. Como um ativista dos direitos humanos Drummond muitas vezes nega a influência do mundo moderno em sua obra, é o fugir do individual e o olhar para o coletivo e a solidariedade. Como vimos, em "Mãos Dadas", Drummond diz: "Não serei o poeta de um mundo caduco / também não contarei o mundo futuro.". Isto é, o poeta não é arcaísta nem invencionista. E prossegue: "Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem da janela / Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicidas." O poeta afirma que não há espaço para o lirismo contemplativo, o escapismo romântico ou o pessimismo decadentista em sua poesia. 20. OS OMBROS SUPORTAM O MUNDO Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. Tempo de absoluta depuração. Tempo em que não se diz mais: meu amor. Porque o amor resultou inútil. E os olhos não choram. E as mãos tecem apenas o rude trabalho. E o coração está seco. Em vão mulheres batem à porta, não abrirás. Ficaste sozinho, a luz apagou-se, mas na sombra teus olhos resplandecem enormes. És todo certeza, já não sabes sofrer. E nada esperas de teus amigos. Pouco importa venha a velhice, que é a velhice? Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança. As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios provam apenas que a vida prossegue e nem todos se libertaram ainda. Alguns, achando bárbaro o espetáculo, prefeririam (os delicados) morrer. Chegou um tempo em que não adianta morrer. Chegou um tempo em que a vida é uma ordem. A vida apenas, sem mistificação. O sentimento do mundo que dá título ao livro começa a fazer presente neste poema. O poeta fala na renúncia dos seus desejos e inquietações pessoais, que só o deixarão na mais absoluta solidão: não importa a sua própria vida, o tempo que passa e a velhice que avança, em face dos problemas do mundo, dos quais ele tem uma dolorosa consciência. Sente-se solidário com os que ainda não se libertaram do sofrimento. Sua vida se impõe como uma ordem: ela deve continuar, para enfrentar a realidade de um mundo que ele imagina carregar nos ombros e que não deve pesar mais do que a mão de uma criança. Um poema profundo de grande significação ontológica e existencial. Seu núcleo é o que o poeta chama de absoluta depuração e nele está presente mais uma vez o clima estóico e depurado da vida. Com a sombra de Ricardo Reis e tudo, das doutrinas da Stoá e até e Epicuro

108 21. DENTADURAS DUPLAS Dentaduras duplas! Inda não sou bem velho para merecer-vos... Há que contentar-me com uma ponte móvel e esparsas coroas. (Coroas sem reino, os reinos protéticos de onde proviestes quando produzirão a tripla dentadura, dentadura múltipla, a serra mecânica, sempre desejada, jamais possuída, que acabará com o tédio da boca, a boca que beija, a boca romântica?...) Resovin! Hecolite! Nomes de países? Fantasmas femininos? Nunca: dentaduras, engenhos modernos, práticos, higiênicos, a vida habitável: a boca mordendo, os delirantes lábios apenas entreabertos num sorriso técnico e a língua especiosa através dos dentes buscando outra língua, afinal sossegada... A serra mecânica não tritura amor. E todos os dentes extraídos sem dor. E a boca liberta das funções poéticosofístico-dramáticas de que rezam filmes e velhos autores. Dentaduras duplas: dai-me enfim a calma que Bilac não teve para envelhecer. Desfibrarei convosco doces alimentos, serei casto, sóbrio, não vos aplicando na deleitação convulsa de uma carne triste

109 em que tantas vezes me eu perdi. Largas dentaduras, vosso riso largo me consolará não sei quantas fomes ferozes, secretas no fundo de mim. Não sei quantas fomes jamais compensadas. Dentaduras alvas, antes amarelas e por que não cromadas e por que não de âmbar? de âmbar! de âmbar! feéricas dentaduras, admiráveis presas, mastigando lestas e indiferentes a carne da vida! Sátira bem construída e bem humorada, o poema nos mostra que através das dentaduras chega a focalizar a evanescência da vida que se vai aos poucos: "admiráveis presas, mastigando lestas e indiferentes a carne da vida". Há associações surpreendentes, influência surrealista e o deboche do próprio envelhecimento do eu-lírico. Portanto, o tema deste poema dedicado a Onestaldo de Pennafort, é a velhice. 22. REVELAÇÃO DO SUBÚRBIO Quando vou para Minas, gosto de ficar de pé, contra a vidraça do carro, vendo o subúrbio passar. O subúrbio todo se condensa para ser visto depressa, com medo de não repararmos suficientemente em suas luzes que mal têm tempo de brilhar. A noite come o subúrbio e logo o devolve, ele reage, luta, se esforça, até que vem o campo onde pela manhã repontam laranjais e à noite só existe a tristeza do Brasil. Este poema nos remete à ideia de que o mundo tem sentimento. As luzes são precárias e a aurora traz a visão das frutas, fatia saborosa da vida. O título do poema reflete o inusitado efeito estético das luzes do subúrbio aos olhos daqueles que o observam durante uma viagem noturna. O ambiente noturno interiorano é triste e contrasta com o ambiente suburbano, cheio de luzes. O eu lírico vê tristeza e simplicidade no cenário do subúrbio. Ao lermos o poema percebemos que a viagem do eu lírico rumo a Minas Gerais dura aproximadamente um dia. 23. A NOITE DISSOLVE OS HOMENS

110 A noite desceu. Que noite! Já não enxergo meus irmãos. E nem tão pouco os rumores que outrora me perturbavam. A noite desceu. Nas casas, nas ruas onde se combate, nos campos desfalecidos, a noite espalhou o medo e a total incompreensão. A noite caiu. Tremenda, sem esperança... Os suspiros acusam a presença negra que paralisa os guerreiros. E o amor não abre caminho na noite. A noite é mortal, completa, sem reticências, a noite dissolve os homens, diz que é inútil sofrer, a noite dissolve as pátrias, apagou os almirantes cintilantes! nas suas fardas. A noite anoiteceu tudo... O mundo não tem remédio... Os suicidas tinham razão. Aurora, entretanto eu te diviso, ainda tímida, inexperiente das luzes que vais ascender e dos bens que repartirás com todos os homens. Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações, adivinho-te que sobes, vapor róseo, expulsando a treva noturna. O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos, teus dedos frios, que ainda se não modelaram mas que avançam na escuridão como um sinal verde e peremptório. Minha fadiga encontrará em ti o seu termo, minha carne estremece na certeza de tua vinda. O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes se enlaçam, os corpos hirtos adquirem uma fluidez, uma inocência, um perdão simples e macio... Havemos de amanhecer. O mundo se tinge com as tintas da antemanhã e o sangue que escorre é doce, de tão necessário para colorir tuas pálidas faces, aurora. Apesar da consciência da plena incomunicabilidade dos homens, destinados a uma transcendência vazia, Drummond tenciona o ensaio de um movimento rumo à enigmática humanidade, um deslocamento que se tornará mais vigoroso na imagem Essa imagem luminosa, a cromática da claridade do amanhecer e da mão redentora em poemas que desvelam um esforço de superar seus temores através de uma escrita poético-filosófica, propicia ao gauche vislumbrar um utópico futuro fraterno e superar seus temores no plano estético da criação lírico-meditativa, e surge no segundo movimento do poema A Noite dissolve os homens. Todo primeiro movimento textual desse poema parece ser marcado pela imagística sombria da escuridão noturna, (A noite desceu. Que noite!), metáfora, no macrocosmo, dos horrores do

111 avanço nazifascista, da alienação das massas, do totalitarismo do Estado Novo, e, no microcosmo, do sentimento de culpa, medo e solidão do gauche. Entretanto, a claridade esperançosa de uma futura aurora surge como saída para o legado de impasses até agora experienciados. A diluição do que havia de mais humano e grandioso nos homens dissolvidos nesse período trevoso, reificados e petrificados com o medo espalhado pela noite, encontra uma possibilidade de renascimento tal como a fênix que emerge das cinzas. É um importante poema de sentido sociológico e político. Ele se destaca pelo contraste que estabelece entre a noite "mortal, completa, em reticências que dissolve os homens" e a esperança da aurora que será o termo da espera: "Minha fadiga encontrará em ti seu termo... minha carne estremece na certeza da tua vida..." Este poema foi dedicado ao pintor Cândido Portinari. 24. MADRIGAL LÚGUBRE Madrigal lúgubre" é um tocante e trágico poema em tempo de guerra. Poema lírico, pastoril, que valoriza um cenário alegre, bucólico, matinal e amoroso. O adjetivo lhe traz feições funéreas e macabras. Nesse poema, o eu-lírico fala da frustração afetiva e insatisfação sexual. É um texto de intensa sátira, em que acusa a necessidade subjetiva do amor. Com um olhar desencantado sobre seu século repleto de crises e falências morais, o mineiro itabirano constrói o lirismo reflexivo amargo e irônico deste poema. Em "Madrigal lúgubre" o desencanto amargo com os horrores provocados pela omissão da elite burguesa dominante, representada metonimicamente na imagem da princesa encastelada num mundo artificial, já assume o tom do grotesco no próprio título que unifica no mesmo plano a forma poética do Madrigal, composição engenhosa e elegante, um galanteio dirigido às damas e o vocábulo lúgubre, que se refere ao fúnebre, lutuoso, triste, desencantado. ó princesa! ó donzela em vossa casa, de onde o sangue escorre quisera eu morar Ao desconstruir as expectativas do que seria a função galanteadora do Madrigal, Drummond prepara o ambiente da crítica moral dirigida à apodrecida elite burguesa dominante, seja essa cooptada pelo jogo de interesses econômicos internacionais, ou seja, diretora da máquina do mundo capitalista. Os detentores do poder e seu falido projeto civilizador são simbolizados na imagem da princesa omissa, de beleza longínqua que habita um mundo ilusório, à margem da espessura da vida real, e que tece com "mãos níveas e mecânicas (...) algo parecido com um véu", alienador, mas que não consegue ocultar a crueldade de sua civilização. "O mundo, sob a neblina que criais, torna-se de tal modo espantoso / que o vosso sono de mil anos se interrompe para admirá-lo". As imagens grotescas da lama e dos detritos humanos, gerados por essa elite omissa, surgem no verso de abertura do poema, que desvela o inumano soerguimento desse mundo artificial e alienado das minorias hegemônicas detentoras do poder. A metafórica "casa feita de cadáveres" de onde o sangue escorre, a sociedade capitalista, se erigiu através da destruição da dignidade humana, da exploração física da mão-de-obra dos estratos mais inferiores da pirâmide social e se sustenta através da morte de anônimos combatentes de guerra a expandir os mercados consumidores das elites nas conquistas dos campos de batalha. Essa semântica do dejeto humano (os cadáveres) transita pelos demais versos com algumas variações vocabulares

112 (meninos mortos, mutilados, dois mil e oitocentos atropelados). Não vos direi dos meninos mortos (nem todos mortos, é verdade, alguns apenas mutilados). Tampouco vos contarei a história Algo monótona talvez Dos mil e oitocentos atropelados No casamento do rei da Ásia (...) Mas volta, com pungência crítica, na incômoda consciência culposa da princesa-burguesia na quarta estrofe, onde surge a imagem grotesca e surrealista do sangue criminoso de séculos de exploração social a fluir pelas escadarias desse castelo-mundo capitalista. Sutil flui o sangue nas escadarias Ah, esses cadáveres não deixam Conciliar o sono princesa? Mas o corpo dorme; dorme assim mesmo. É interessante notar como Drummond assume a função de porta-voz dessas sobras humanas que regressam dos campos de batalha ou que são exterminadas nas invasões das cidades europeias, com certo ar de compaixão por serem tão estigmatizadas quanto ele. A "sujeira" desse mundo é representada, escatologicamente, na imagem do "palácio em ruínas", que se corrói despertando a necessidade de despertar a velha princesa (a burguesia alienada) para a construção de um novo momento histórico-social mediante os gritos e o despertar dos mortos (os cidadãos alienados) pelo soar das trombetas. Este despertar retumbante surge como uma clara releitura social da passagem bíblica do livro Apocalipse (o juízo final) do Novo Testamento, como metáfora da esperança utópica de reação popular contra o atual estado caótico da sociedade. Princesa, os mortos! Gritam os mortos! Querem sair! Querem romper! Tocai tambores, tocai trombetas, Outras manifestações grotescas da imundice moral desse mundo em decomposição surgem no sexto verso da segunda estrofe na imagem do "jornal sujo, embrulhando fatos, homens e comida guardada". Há uma possível alusão aos tabloides da imprensa oficial, que compactuavam com a sujeira moral de seu tempo por distorcer os fatos, embrulhar a divulgação verídica das profundas iniquidades sociais. Além disso, há uma clara referência aos jornais usados, sujos, que aquecem o frio dos sem tetos (embrulhando os homens) e guardam os restos de refeições lançadas ao lixo (embrulhando comida). Num gesto de desespero, nesse madrigal fúnebre e desencantado, o poeta almeja uma reconciliação com a distante princesa-burguesia ("arrastar-me-ei pelo morro e chegarei até vós"), mas somente vislumbra esse acerto de contas num futuro utópico. Adeus, princesa, até outra vida. 25. LEMBRANÇA DO MUNDO ANTIGO Clara passeava no jardim com as crianças. O céu era verde sobre o gramado, a água era dourada sob as pontes, outros elementos eram azuis, róseos, alaranjados, o guarda civil sorria, passavam bicicletas,

113 a menina pisou a relva para pegar um pássaro, o mundo inteiro, a Alemanha, a China, tudo era tranquilo em redor de Clara. As crianças olhavam para o céu: não era proibido. A boca, o nariz, os olhos estavam abertos. Não havia perigo. Os perigos que Clara temia eram a gripe, o calor, os insetos. Clara tinha medo de perder o bonde das onze horas, esperava cartas que custavam a chegar, nem sempre podia usar vestido novo. Mas passeava no jardim, pela manhã!!! havia jardins, havia manhãs naquele tempo!!! Novamente a persona-lírica fala da miséria humana e dos horrores da guerra (como em "Madrigal lúgubre"), contrasta passado e presente usando a figura feminina como contraponto: uma mulher chamada Clara. As exclamações triplas substituem as reticências, tão comuns neste livro. Pedem que com urgência e espanto se observe que a vida foi modificada, e que o nosso mundo não é mais o mesmo. E que a mudança é recheada de horror. 26. ELEGIA 1938 Trabalhas sem alegria para um mundo caduco, onde as formas e as ações no encerram nenhum exemplo. Praticas laboriosamente os gestos universais, sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual. Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas, e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção. À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas. Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra e sabes que, dormindo, os problemas de dispensam de morrer. Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras. Caminhas entre mortos e com eles conversas sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito. A literatura estragou tuas melhores horas de amor. Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear. Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota e adiar para outro século a felicidade coletiva. Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan. Neste poema o poeta volta a falar de um "mundo caduco", da existência de uma "grande máquina", sobre caminhar "entre os mortos", e usa a segunda pessoa do singular como se estivesse falando consigo mesmo: "A literatura estragou tuas melhores horas de amor", e sentencia de modo inusitado: "Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição / porque não podes sozinho dinamitar a ilha de Manhattan.". Esta ilha, referência à cidade de Nova Iorque, símbolo de um capitalismo tão injusto. Ao contemplar a realidade e mergulhar profundamente na sua existência buscando integrar-se à humanidade, vemos muitas vezes no livro Sentimento do mundo, o eu-lírico desdobrando-se na terceira pessoa, ou mesmo num "tu" problemático, como se fosse uma poética de auto referência, cheia de seriedade e paradoxal humor diante da realidade que parece tão errada,

114 mas que exige uma percepção prática. Drummond conversa com seu leitor, irmana-se. Mostranos talvez que a eternidade é uma palavra expressa, porém de obscura compreensão. "Elegia" era o nome dado pelos gregos a um tipo cujo tema estava ligado à morte. Seu tom era, portanto, sempre triste, de lamentação. O ano de 1938 identifica-se com um período de grande desenvolvimento industrial e uma grave crise social e política, que teria como uma das suas decorrências a Segunda Guerra Mundial. A esse quadro o poeta refere-se como um mundo caduco 27. NOTURNO À JANELA DO APARTAMENTO Contemplação da noite e o farol da Ilha Rosa. Traz a ideia do fluxo da vida circulando. Sentimento de sátira: poemas em que predominam a sátira e a ironia. 28. MUNDO GRANDE Não, meu coração não é maior que o mundo. Ê muito menor. Nele não cabem nem as minhas dores. Por isso gosto tanto de me contar. Por isso me dispo. Por isso me grito, por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias: preciso de todos. Sim, meu coração é muito pequeno. Só agora vejo que nele não cabem os homens. Os homens estão cá fora, estão na rua. A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava. Mas também a rua não cabe todos os homens. A rua é menor que o mundo. O mundo é grande. Tu sabes como é grande o mundo. Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão. Viste as diferentes cores dos homens. as diferentes dores dos homens. sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso num só peito de homem... sem que elo estale. Fecha os olhos e esquece. Escuta a água nos vidros, tão calma. Não anuncia nada. Entretanto escorre nas mãos, tão calma! vai inundando tudo... Renascerão as cidades submersas? Os homens submersos voltarão? Meu coração não sabe. Estúpido, ridículo e frágil é meu coração. Só agora descubro como é triste ignorar certas coisas. (Na solidão de indivíduo desaprendi a linguagem com que homens se comunicam.) Outrora escutei os anjos,

115 as sonatas, os poemas, as confissões patéticas. Nunca escutei voz de gente. Em verdade sou muito pobre. Outrora viajei países imaginários, fáceis de habitar. ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio Meus amigos foram às ilhas. Ilhas perdem o homem. Entretanto alguns se salvaram e trouxeram a notícia de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias, entre o fogo e o amor. Então, meu coração também pode crescer. Entre o amor e o fogo, entre a vida e o fogo, meu coração cresce dez metros e explode. Ó vida futura! nós te criaremos São os últimos versos do livro. Novamente as reticências, a menção do suicídio, talvez uma morte coletiva que brotava a partir da incompreensão, da falta de solidariedade que o poeta constatava tão presente entre os homens. O poeta agora percebe que o mundo cresce entre o amor e o fogo, entre a vida e o fogo, cresce todos os dias entre os homens, e que há esperança por trás de tanta maldade e sofrimento. Mas ele agora sabe que todos nós precisamos uns dos outros para criar uma vida futura mais melodiosa e agradável e fazer renascer as cidades submersas, onde nós poderemos fechar os olhos e esquecer, para somente escutarmos a água calma batendo nos vidros, escorrendo nas mãos e inundando tudo de verdades e vidas futuras. Neste poema o poeta observa a noite. Percebemos a ânsia do eu-poético em enlaçar destinos (o poeta / os outros), reunir os homens, nem que seja em forma de arquipélagos. Drummond se reconhece no mundo que precisa ser salvo, mas reconhece também o fatal distanciamento entre os homens. Transfigura-se então de poeta solitário em poeta solidário, recria o mundo depurando-o, buscando sua essência. Ao silêncio contrapõe a imagem poética. AULA COMPLETA SOBRE Gramática DA LÍNGUA PORTUGUESA-para vestibulares/ 2013-Profª Sônia Targa 1 2 A- Funções da Linguagem B- Métrica C- Ritmo A- Fonemas B- Morfemas C- Regras de Acentuação D- Regras de Escrita 3 Morfologia introdução 4 Pronomes 5 Sintaxe introdução 6 A- Tipos de Sujeito

116 B- Tipos de Predicado A- Complementos Verbais (Objeto Direto e Indireto) B- Adjunto Adverbial C- Complemento Nominal 7 D- Adjunto Adnominal E- Aposto F- Vocativo A- Orações Subordinadas 8 B- Coordenadas 9 Regência Nominal 10 Pontuação 11 Vozes do Verbo 12 Diversos: sinônimos, antônimos, parônimos, regras gramaticais Figuras de linguagem 14 Verbos 15 Concordância Verbal NOVA ORTOGRAFIA PARTE 1 A-) FUNÇÕES DA LINGUAGEM - são seis: emotiva, conativa, referencial, metalinguística, fática e poética. 1) Função emotiva (ou expressiva): Quando um emissor é posto em destaque, está carregado com os próprios sentimentos do emissor, geralmente tem ponto de exclamação, verbos e pronomes na 1ª pessoa. Eu nunca estive tão bem quanto estou agora!. 2) Função conativa (ou apelativa): ocorre quando o receptor é posto em destaque. Você quer passar no vestibular? Entre no Site /. Se organiza no sentido de convencer o receptor por meio de estímulo. É comum o uso de verbos no imperativo ou verbos e pronomes na 2ª ou 3ª pessoa. Ex.: anúncios e publicidade. 3) Função referencial: Ocorre quando o referente é o posto de destaque os professores entrarão em greve... - tem objetividade, pois sua finalidade é traduzir a realidade, ex.: textos jornalísticos e científicos. 4) Função metalinguística: ocorre quando o código é posto em destaque. Ex.: A língua é um sistema de signos que exprimem ideias..., está falando dos signos linguísticos usando os próprios, outro exemplo é um poema que reflete a criação poética. Os melhores exemplos são os livros de gramática e os dicionários. 5) Função Fática: Ocorre quando o canal é posto em destaque. Ex. As primeiras palavras de quem atende o telefone Alô! Pronto!) os cumprimentos diários (Tudo bem? Boa tarde.) 6) Função poética: ocorre quando a própria mensagem é posta em evidência. Ocorre em textos literários, poesias e versos. Quase sempre há mais de uma função no texto, cabe ao receptor identificar na mensagem recebida a sua função predominante, e por conseguinte, a intenção do emissor. Denotação - Sentido literal (verdadeiro) da palavra. Conotação - sentido figurado. Linguagem referencial - preocupação fundamental é veicular, de modo objetivo, informações sobre a realidade. Linguagem literária - trata de modo pessoal, figurado e artístico uma realidade concreta ou fictícia. Recriação da realidade a partir de fatos concretos.

117 A linguagem referencial é denotativa, a literária é conotativa. B- ) MÉTRICA - é a medida dos versos. Escansão, processo segundo o qual o verso é dividido em sílabas poéticas, depreende-se a métrica de um verso. Por ter base na oralidade da fala ou canto - a divisão silábica poética obedece a princípios diferentes da divisão silábica gramatical. As vogais são agrupadas numa única sílaba, e a contagem das sílabas deve ser feita até a última tônica. Divisão gramatical: Man/das/te/ a/ som/bra/ de/ um/ bei/jo = 10 sílabas Divisão poética: Man/das/te a/ som/bra/ de um/ bei/jo na terceira e sexta sílaba as vogais átonas agruparam-se (elisão) e a última sílaba, por ser átona, foi desprezada. Monossílabo (uma sílaba), dissílabo (duas), trissílabo (três), etc. Os mais conhecidos são redondilhas, a menor com cinco sílabas e a maior com sete. Decassílabo, com dez. alexandrino, com doze. O verso cuja métrica se repete é chamado verso regular, só mais recentemente surgiu o verso livre, que não obedece a uma regularidade métrica. C-) RITMO - qualquer alternância regular de elementos numa dada sequência temporal. Em poesia, o ritmo se dá pela alternância de sílabas acentuadas e não acentuadas, o conceito poético de sílaba acentuada nem sempre coincide com o conceito gramatical de sílaba tônica. A acentuação de uma sílaba é determinada pela sequência melódica a que ela pertence. Tu choraste em presença da morte? Na presença de estranhos choraste? (Gonçalves Dias) Quem dera Que sintas As dores De amores Que louco Senti! (Casimiro de Abreu) Rima - recurso musical baseado na semelhança sonora das palavras no final dos versos, as vezes no interior dos versos (rima interna). AABB, ABAB... Aliteração, assonância e parassonância: Aliteração - é a repetição de sons consonantais idênticos ou aproximados, normalmente no início das palavras: Vozes veladas, veludosas vozes, Volúpia dos violões, vozes veladas Vagam nos velhos vórtices velozes Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas. (Cruz e Souza). Assonância - é a repetição de um mesmo som vocálico: Ó Formas alvas, brancas, Formas claras (Cruz e Souza)

118 Parassonância - é a aproximação de palavras de um texto pela sua semelhança na forma ou no som. Tal semelhança pode envolver toda a palavra ou parte dela, como exemplifica a expressão horrendo Henrique. PARTE 2 Alfabeto o Nova regra: O alfabeto é agora formado por 26 letras Regra antiga: O k, w e y não eram consideradas letras do nosso alfabeto. Como será: Essas letras serão usadas em siglas, símbolos, nomes próprios, palavras estrangeiras e seus derivados. Ex: km, watt, Byron, byroniano. A-) FONEMAS - são as unidades sonoras de que uma palavra é constituída ao ser pronunciada, tradicionalmente simbolizada entre barras inclinadas (//). Assim, os fonemas da palavra pato são /p/,/a/, /t/, /u/ * considera-se a pronúncia predominante entre os falantes de português no Brasil. Na escrita a menor unidade da palavra é a letra, na fala é o fonema, a função do fonema é constituir palavras. Um mesmo fonema pode ser representado na escrita por letras diferentes: sair, sinto, cinto, caça (s,c,ç). Um mesmo fonema pode ser representado por uma só letra ou por uma combinação de duas letras. Dígrafo - Quando uma combinação de duas letras representa um único fonema. (ascensorista, desça, vassoura, exceto) Dífono - Uma mesma letra pode representar um só fonema ou uma combinação de fonemas (máximo, êxodo, enxame, táxi). Na produção da fala, o ar sai dos pulmões, passa pela traquéia, até chegar à laringe. Aí encontra as cordas vocais, que podem ser vibradas ou não. A seguir, a corrente de ar alcança a faringe até chegar à boca, onde se realizam os movimentos articulatórios da língua, dos lábios e do maxilar inferior, que modificam a forma da boca, a fim de que o som que está sendo produzido seja diferenciado em fonemas. Quando a corrente de ar, ao passar pelo aparelho fonador encontra obstáculo parcial ou total, são produzidos os fonemas consonantais, quando encontra livre passagem, são produzidos os fonemas vocálicos. A vogal tônica da palavra - pronunciada sempre com maior intensidade do que as outras vogais - é a responsável pela formação da sílaba tônica. Excluída a vogal tônica, as restantes são átonas. Amor - fonema vocálico tônico é /o/ e a sílaba tônica é mor, sílaba átona é a. Vatapá - fonema vocálico tônico é /a/ e a sílaba tônica é pá, sílaba átona é va, ta. Fonemas semivocálicos - /Y/ e /W/. boi /boy/ louco /lowku/ Ditongo - É o encontro de uma vogal e uma semivogal. Pai - pay (a = vogal e y = semivogal) Quando for semivogal + vogal é ditongo crescente. água = /agwa/ Quando for vogal + semivogal é ditongo decrescente. Pai = /pay/ Separam-se os dígrafos rr, ss, sc, sç, xc e os encontros consonantais sç e cc: car-ro / nas-cer / ex-ce-to. B-) MORFEMAS - A menor unidade de uma palavra, capaz de portar um sentido é o MORFEMA. - Um primeiro nível de segmentação de um poema é a estrofe, que é segmentado em unidades menores que são os versos, que é dividido em palavras.

119 Elemento mórfico ou morfema é a menor unidade portadora de significado de uma palavra. A palavra meninos: 3 morfemas - menin-, designando ser humano, relaciona-se com o universo da realidade; os morfemas -o e -s, informando respectivamente gênero e número. - morfema relacionado ao universo da realidade e os morfemas relacionados ao universo da língua. - Morfena da realidade é chamado de radical, informa o significado básico da palavra: pov-o, pobr-es. As palavras que se formam com o mesmo radical são chamadas cognatas ou da mesma família etimológica. - Morfemas relacionados ao universo da língua - São Afixo, vogal temática, desinências. Completa ou altera o sentido do radical. a) Afixos - são morfemas que se agregam ao radical, modificando seu sentido básico. Quando colocados antes do radical, são chamados de prefixos; quando depois de sufixos. Indispensável b) Vogal temática - é a vogal que sucede o radical de verbos e nomes. Em verbos, indica a conjugação a que estes pertencem: -a, que indica a 1ª conjugação; -e 2ª e -i 3ª. Fit a ndo - faz e m - sent i r As vogais temáticas dos nomes determinam a formação de substantivos e adjetivos. -a, -e,-o ajunt a mento peix e espant o Obs.: são atemáticas as palavras oxítonas terminadas em a,e,i, o, u, como alvará, cancomblé,tupi, avó, urubu, e palavras terminadas em consoantes, como feliz, mulher, flor, que recuperam sua vogal temática no plural: felizes. c) Tema é o radical somado a vogal temática: fit a ndo rad. + vog.tem = tema d) Desinências são morfemas que se colocam após o radical. Nos nomes informam gênero e número: menin o s Nos verbos informam modo, número e pessoa: apregoa va s va = imperfeito do indicativo s = 2ª pessoa do singular AS DESINÊNCIAS VERBAIS Modo-temporais Número-pessoais -va: imp.do indic. (amava) 1ª pes. Sing: desin. Zero ou -o (pres indic.) ou -i (pret.perf) -ia: imp.do indic. (partia) 2ªpes. Sing: -s (amas) -ra: mais-que-perf. Do indic. (amara) 3ªpes sing = zero(ama) -sse: imp. do subj. (amasse) 1ªpes plural: -mos (amamos) -ria: fut. Pret. Do indic. (amaria) 2ªpes plural: -is, -des (amais) (amardes) -ra/re: fut. do subj. (quiser) 3ªpes plural: -m (amam) -r: fut. do subj. (quiser) -a: pres. Do subj. (peça) -e: pres. Do subj. (ame) -u: pret. perf. Do indic. (amou) - Vogais e consoante de ligação - facilitam a pronúncia mas não modificam o radical: gasômetro, cafeicultura, mamadeira, chaleira. - indispensável tem o prefixo in- e o sufixo -ável, como várias outras palavras do mesmo tipo, isto modifica um substantivo e funciona, portanto como adjetivo: mercadoria indispensável - Derivação é o processo pelo qual de uma palavra se formam outras, por meio do acréscimo de certos elementos que lhe alteram o sentido primitivo ou lhe acrescentam um sentido novo, a palavra que lhe dá derivação chama-se primitiva.

120 - Concordância - orienta a seleção e a combinação de palavras nas frases. SUJEITO PREDICADO Artigo Substantivo Adjetivo verbo Os assaltantes italianos enviam... C-) REGRAS DE ACENTUAÇÃO 1) São acentuadas apenas os monossílabos tônicos terminados em a(s), e(s), o(s): pá(s), pé(s), pó(s). Chamam-se monossílabos tônicos as palavras de uma única sílaba que tem intensidade sonora forte. Os monossílabos átonos, por serem mais fracos acabam por apoiar-se em outras palavras tônicas. Os monossílabos que pertencem às classes dos substantivos, adjetivos, advérbios, alguns pronomes, etc. são tônicos. São monossílabos átonos: preposições, conjunções, artigos e os pronomes oblíquos me, te, o, a, nos, vos, os, as, lhe, lhes, se. Substant ivos Adjeti vos artig os verb os advérb ios prono mes numer ais conjunç ões interjeiç ões preposiç ões tônic flor Má - dá lá mim três - ó - os áton - - o - - me - mas - de os 2) Acentuam-se as oxítonas terminadas em a(s), e(s), o(s), em (ens): Vatapá, você, Belém. 3) Acentuam-se as paroxítonas terminadas em ps, ditongos, l, ã(s), r, i(is), us, x, um(uns), n, ão(s): fórceps, jóquei, vírus, álbum, tórax, júris, órgão, ímã. 4) Acentuam-se todas as proparoxítonas. 5) Nova regra: Ditongos abertos (ei, oi) não são mais acentuados em palavras paroxítonas. Regra antiga: Assembléia, platéia, idéia, colméia, boleia, panacéia, Coréia, hebréia, bóia, paranóia, jibóia, apóio, heróico, paranóico. Como será: assembleia, plateia, ideia, colmeia, boleia, panaceia, Coreia, hebreia, boia, paranoia, jiboia, apoio, heroico, paranoico. Obs: nos ditongos abertos de palavras oxítonas e monossílabas o acento continua: herói, constrói, dói, anéis, papéis. Obs 2: o acento no ditongo aberto eu continua: chapéu, véu, céu, ilhéu. o 6) Nova regra: O hiato oo não é mais acentuado. Regra antiga: enjôo, vôo, corôo, perdôo, côo, môo, abençôo, povôo. Como será: enjoo, voo, coroo, perdoo, coo, moo, abençoo, povoo. O hiato: ee não é mais ecentuado. Regra antiga: crêem, dêem, lêem, vêem, descrêem, relêem, revêem. o Nova regra: creem, deem, leem, veem, descreem, releem, reveem. o 7) Nova regra: não existe mais o acento diferencial em palavras homógrafas. Regra antiga: pára (verbo), péla (substantivo e verbo), pêlo (substantivo), pêra (substantivo), péra (substantivo), polo (substantivo). Como será: para (verbo), pela (substantivo e verbo), pelo (substantivo), pera (substantivo), pera (substantivo), polo (substantivo) Obs: o acento diferencial ainda permanece no verbo poder (3ª pessoa do pretérito perfeito do indicativo pôde ) e no verbo pôr para diferenciar da preposição por. o 8) Nova regra: Não se acentua mais a letra u nas formas verbais rizotônicas, quando precedido de g ou q e antes de e e ou i (gue, que, gui, qui). Regra antiga: argúi, apazigúe, averigúe, enxagúe, enxagúemos, obliqúe. Como será: argui, apazigue, averigue, anxague, enxaguemos, oblique.

121 o 9) Nova regra: Não se acentua mais i e u tônicos em paroxítonas quando precedidos de ditongo. Regra antiga: baiúca, boiúna, cheiínho, saiínha, feiúra, feiúme. Como será: baiúca, boiuna, cheiinho, saiinha, feiura, feiume. 10) Acentuam-se os hiatos tônicos em i(s), u(s). Se seguidos na mesma sílaba de outra letra diferente de s, não receberão o acento gráfico. Saí, saíste, baú, balaústre, caiu, juiz, cair, Raul... Exceção: Os hiatos em i, seguidos de nh na sílaba seguinte não devem ser acentuados: rainha, tainha, bainha. Observação: Os verbos vir e ter na 3ª pessoa do plural do presente do indicativo, apesar de monossílabos tônicos terminados em em, recebem o acento circunflexo para diferenciar-se da 3ª pessoa do singular: ELE VEM- ELES VÊM ELE TEM - ELES TEM 11 Trema o Nova regra: Não existe mais trema em língua portuguesa. apenas em casos de nomes próprios e seus derivados, por exemplo: Muller, mülleriano. Regra antiga: Agüentar, conseqüência, cinqüenta, qüinqüênio, freqüência, freqüente, eloqüência, eloqüente, argüição, delinqüir, pingüim, tranqüilo, lingüiça. Como será: aguentar, consequencia, cinquenta, quinquênio, frequência, frequente, eloquência, eloquente, arguição, delinquir, pinguim, tranquilo, linguiça. D- ) REGRAS DE ESCRITA - Emprego do x - Emprega-se x após ditongos: caixa, feixe, trouxa Exceções: caucho e derivados (recauchutar) e guache. - Sufixos -izar e -ar nos verbos derivados de palavras cujo radical contém -s. Caso contrário, emprega-se -izar: agonia ê agonizar. análise ê analisar. - Sufixos -ês / -esa e sufixos -ez / -eza - ês/- esa - indicam origem, procedência: português / portuguesa. -ez / -eza - formam substantivos abstratos a partir de adjetivos: rico ê riqueza. -E ou i? Verbos terminados em -oar e -uar grafam-se com e: perdoem, continue. Verbos terminados em -air, -oer e -uir grafam-se com i: atrai, dói, possui. Emprego do S: 1) Procedência, naturalidade, classe social - português, freguês, marquês, montês, calabresa, francesa. 2) esa e isa feminino - princesa, javanesa, poetisa, calabresa. 3) palavra de origem grega -ase;-ise;-ose, fase, catalise, osmose. 4) Verbos: pôr, querer, usar. 5) derivados de verbos que já apresentam S: Aviso - avisar, paralisação = paralisar, análise = analisar, pesquisa = pesquisar. 6) adjetivos qualificadores c/ sufixo oso ou osa : bom = bondoso, bondosa. 7) Depois de ditongos: Sousa. A história do S: 1) Um freguês que era marquês falava português, 2) Namorava uma princesa que era poetisa que comia calabresa. 3) Fez uma experiência de uma fase que por catalise fez osmose.

122 4 e 5) Quis, pôs e usou o s para avisar 6)que suas qualidades eram: ser bondoso, piedoso, mas horroroso 7) Deu uma pausa e escreveu na lousa. Emprega-se Z: 1) subst. abstratos terminados em -ez; -eza, 2) derivados de adjetivos: pobre = pobreza; inválido = invalidez. 3) verbos com sufixo -izar: fértil = fertilizar. 4) derivados de palavras terminas em Z: cruz - cruzeiro. - História do Z: 1 ) Era uma vez dois substantivos abstratos o ez e a eza, eles moravam na realeza 2) tinham muitos adjetivos mas viviam na pobreza, na escassez e na invalidez. 3) um dia decidiram fertilizar um lindo verbo terminado em izar. 4) seu sobrenome era Cruz, acabava com Z, então seu apelido foi Cruzeiro. Emprega-se J: 1) origem indígena: canjica, pajé. 2) verbos terminados em -jar: alvejei, viajem. História do J: Existia um índio africano que se chamava J, era filho do pajé, comia canjica, jiló, berinjela e acarajé, era muito cafajeste, só vivia na sarjeta pedindo gorjeta, foi viajar e entrou em todos os verbos terminados com jar. (essa foi podre, invente a sua) Emprega-se X: 1- após ditongos: frouxo 2- após a inicial me: mexer, mexerico. 3- após a inicial en: enxada. 4- Exceções; mecha e mechoação (planta); vocábulos derivados de palavras com -ch: cheio = encher. - História do X: o homem frouxo, era ditongo, sempre que deixava- ME ele começava a mexer; e quando xingava o começava com EN ele pegava na enxada, e ficava muxoxo usando o xale da vovó. * Obs.: catequese, catequizar. flecha, piche, pichação, chafariz, chácara (quinta), charque, chocalho, chávena, chulo, chacina, chalé, charada, chita. xarope, xaxim, xodó, xale, xenofilia, xisto, xote, xingar, muxoxo. tigela, girino, a viagem, gengibre, gengiva, gironda, aragem, gesto, gergelim, megera, gerânio, girândola, ABORÍGINES, ginete berinjela, jiló, sarjeta, gorjeta,, cafajeste, jeito, pajé, pajem, lambujem, alfanje, ojeriza, jenipapo, jegue, jerimum, jibóia, jérsei. destilar, prevenir, dessecar (enxugar), delatar (denunciar), continue, continues, efetues, efetue, abençoes. - núp-cias; pers-pi-caz, ab-so-lu-to, sub-lin-gual,ra-diou-vin-te, Is-ra-el, des-mai-a-do, fe-é-ri-co. - aonde? (idéia de movimento - para onde); onde (sem idéia de mov. - onde estão?) - mau (- adjetivo - bom); mal (adv. de modo: se comportou mal, está mal estruturado - bem; conjunção temporal: equivalente a assim que... mal chegou ; substantivo: foi atacada por um mal incurável. - Há: tempo passado (equivale a faz); - a - indica tempo futuro ê Pode ser: - Preposição (liga palavras) ê daqui a pouco. - Artigo ê quando acompanha um substantivo ê A garota.

123 - Pronome oblíquo ê quando pode ser substituído por ela - Eu não a vi. - Pronome demonstrativo ê quando tem o mesmo valor de aquela - geralmente vem antes de um pronome relativo ê Essa bolsa não é a que eu vi. Essa bolsa não é aquela que eu vi. * Gêneros biformes(duas formas)homem/mulher; aluno/aluna. - heterônimo - marcado pelo radical (padrinho - madrinha; cavaleiro - amazonas); ê uniformes: a) epicenos: animais (onça, jacaré = fêmea ou macho); b) comum de dois: pelo artigo: o/a estudante, c) sobrecomuns: invariáveis: a criança, o cônjuge. êo champanha, o dó, o anátema; a aluvião, a omoplata, a cal, a comichão, a bacanal, a libido. ê o lente (professor) a lente (vidro de aumento). ê superlativo absoluto: não se compara com outra qualidade: a) sintético - adjetivo + sufixo - uma só palavra = o rio é poluidíssimo b) analítico - com advérbio de intensidade = ou muito poluído. superlativo relativo: compara-se: é o mais poluído de todos. * Dia a dia (cotidiano - substantivo - o meu dia-a-dia...) * Dia a dia (advérbio de tempo o dia a dia das pessoas...) USO DO HIFEN Hífen: o Nova regra: O hífen não é mais utilizado em palavras formadas de prefixos (ou falsos prefixos) terminados em vogal + palavras iniciadas por r ou s, sendo que essas devem ser dobradas. Regra antiga: ante-sala, ante-sacristia, auto-retrato, anti-social, anti-rugas, arqui-romântico, arqui-rivalidade, auto-regulamentação, auto-sugestão, contra-senso, contra regra, contra senha, extra-regimento, extra-sístole, extra-seco, infra-som, ultra-sonografia, semi-real, semisintético, supra-renal, supra sensível. Como será: antessala, antessacristia, autoretrato, antissocial, antirrugas, aquirromântico, arquirrivalidade, autorregulamentação, contrassenha, extrarregimento, extrassístole, extrasseco, infressom, infrarrenal, ultrarromântico, ultrassonografia, suprarrenal, suprassencível. Obs: em prefixos terminados por r, permanece o hífen se a palavra seguinte for iniciada pela mesma letra: hiper-realista, hiper-requintado, hiper-requisitado, inter-racial, inter-regional, inter-relação, super-racional, super-realista, super-resistente etc. o Nova regra: O hífen não é mais utilizado em palavras formadas de prefixos (ou falsos prefixos) terminados em vogal + palavras iniciadas por outra vogal. Regra antiga: auto-afirmação, auto-ajuda, auto-aprendizagem, auto-escola, auto-estrada, autoinstrução, contra-exemplo, contra-indicação, contra-ordem, extra-escolar, extra-oficial, infraestrutura, intra-ocular, intra-uterino, neo-expressionista, neo-imperialista, semi-aberto, semiárido, semi-automático, semi-embriagado, semi-obscuridade, supra-ocular, ultra-elevado. Como será: autoafirmação, autoajuda, autoaprendizagem, eutoescola, autoestrada, autoinstrução, contraexemplo, contraindicação, contraordem, extraescolar, estraoficial, infraestrutura, intraocular, intrauterino, neoexpressionista, neoimerialista, semiaberto, semiárido, semiautomático, semiembriagado, semiobscuridade, supraocular, ultraelevado. Obs: esta nova regra vai uniformizar algumas exceções já existentes antes: Antiaéreo, antiamericano, socioeconômico etc. Obs 2: esta regra se encaixa quando a palavra seguinte iniciar por h : anti-herói, anti-higiênico, extra-humano, semi-herbáceo etc.

124 o Nova regra: Agora utiliza-se hífen quando a palavra é formada por um prefixo (ou falso prefixo) terminado em vogal + palavra iniciada pela mesma vogal. Regra antiga: antiibérico, antiinflamatório, antiinflacionário, antiimperialista, arquiinimigo, arquiirmandade, microondas, microônibus, microorgânico. Como será: anti-ibérico, anti-inflamatório, anti-inflacionário, anti-imperialista, arqui-inimigo, arqui-irmandade, micro-ondas, micro-ônibus, micro-orgânico. Obs: esta regra foi alterada por conta da regra anterior: prefixo termina com vogal + palavra inicia com vogal diferente = não tem hífen; prefixo termina com vogal + palavra inicia com mesma vogal = com hífen. Obs 2: uma exceção é o prefixo co. Mesmo se a outra palavra inicia-se com a vogal o, NÃO se utiliza hífen. o Nova regra: Não usamos mais hífen em compostos que, pelo uso, perdeu-se a noção de composição. Regra antiga: manda-chuva, pára-quedas, pára-quedista, pára-lama, pára-brisa, pára-choque, pára-vento. Como será: mandachuva, paraquedas, paraquedista, paralama, parabrisa, párachoque, paravento. Obs: o uso do hífen permanece em palavras compostas que não contêm elemento de ligação e constitui unidade sintagmática e semântica, mantendo o acento próprio, bem como naquelas que designam espécies botânicas e zoológicas: ano-luz, azul-escuro, médico-cirurgião, contagotas, guarda-chuva, segunda-feira, tenente-coronel, beija-flor, couve-flor, erva-doce, mal-mequer, bem-te-vi etc. Observações gerais O uso do hífen permanece: 1. Em palavras formadas por prefixos ex, vice, soto Ex: ex-marido, vice-presidente, soto-mestre. 2. Em palavras formadas por prefixos circum e pan + palavras iniciadas em vogal, M ou N. Ex: pan-americano, circum-navegação. 3. Em palavras formadas com prefixos pré, pró e pós + palavras que tem significado próprio Ex: pré-natal, pró-desarmamento, pós-graduação. 4. Em palavras formadas pelas palavras além, aquém, recém, sem. Ex: além-mar, além-fronteiras, aquém-oceano, recém-nascidos, recém-casados, sem-número, sem-teto. Não existe mais o hífen: Em locuções de qualquer tipo (substantivas, adjetivas, pronominais, verbais, adverbiais, prepositivas ou conjuncionais.) Ex: cão de guarda, fim de semana, café com leite, pão de mel, sala de jantar, cartão de visita, cor de vinho, à vontade, abaixo de, acerca de etc. Exceções: água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao-deusdará, à-queima-roupa. PARTE 3 MORFOLOGIA - FORMA (morfologia) - artigo, substantivo, adjetivo, verbo. - FUNÇÃO (sintaxe)- adjunto adnominal, sujeito, obj. direto, obj. indireto. A gramática que estuda a forma das palavras recebe o nome de morfologia, tirando da frase a palavra continua tendo a forma de artigo, substantivo, adjetivo ou verbo, na sintaxe a palavra muda de acordo com o contexto.

125 * De acordo com a forma as palavras se classificam em: substantivos, adjetivos, pronomes, artigos, verbos, preposições, conjunções e interjeições. Ex.: O garoto entrou na casa. A palavra garoto: Morfologia - substantivo. Sintaxe - sujeito (nessa situação) Variáveis 1) Substantivo, dá nome as coisas e pode variar em gênero, número e grau. O nome da ação de chegar = chegada. O nome do sentimento de amar = amor. O nome do adjetivo belo: beleza. * Tudo tem nome. Substantivo comum - designa qualquer elemento da espécie; Substantivo próprio= especifica um elemento; Substantivo Concreto: seres que posso visualizar: saci, bruxa, fada. Subst. Abstrato: impossível visualizá-lo como um ser: altura, beleza. 2) Adjetivo - Depende do substantivo, qualifica-o. ê Locução adjetiva: Expressão formada de Preposição + substantivo, e tem valor de adjetivo. Ex.: de irmão = fraternal; de rei = real; de marfim = ebúrnio; de andorinha = hirundina (do latim hirundo = andorinha). Adjetivo substantivado- nomeia o adjetivo como se fosse substantivo. Ex.: A garota magra chegou ê pode-se só dizer : A magra chegou (o adjetivo tem função de substantivo). 3) Artigo - Existe em função do substantivo, divide-se em definido e indefinido. 4) Numeral: depende do substantivo, indica: ordem, quantidade, fração. 5) Pronome: ou acompanha ou substitui o nome. Ex.: Meu amigo chegou ( meu - acompanha o nome amigo ) ; Ele chegou ( Ele substitui o nome). Podem ser: Pessoais (reto e oblíquo), possessivo, indefinidos, interrogativos relativos. 6) Verbo - não depende do substantivo nem de nada. Ex.: Choveu. Cheguei. Invariáveis: 8) Advérbio: indica circunstância (verbo, adjetivo, advérbio). ê Locução adverbial: Expressão que tem valor de advérbio, normalmente começa com preposição: ex.: sentiu-se à vontade. 9) Preposição: liga palavras. - Preposição contraída com outras palavras = aonde (a + onde); naquela (em + aquela), disto. 10) Conjunção: liga orações. 11) Interjeição: expressar emoções súbitas. - Oba! PARTE 4 PRONOMES * Representando substantivo = pronome substantivo: ele(cachorro) chegou; * Quando determina o subst., restringindo seu significado = pron. adjetivo: esta casa é antiga (esta), meu livro é antigo (meu). 1) pessoais: número pessoa caso reto caso oblíquo singular 1ª eu me, mim, comigo

126 2ª 3ª tu ele, ela te, ti, contigo se, si, consigo, o, a, lhe Plural 1ª 2ª 3ª nós vós eles, elas nos, conosco se, si, consigo, os, as lhes ê Pronomes oblíquos átonos (não tem sentido sozinho) - Me, te, se, na, lhe, o, a, nos, vos. (Mete-se na leoa, nos vos.) ê Pronomes oblíquos tônicos - pronome que se usa com preposição. - Entre mim e ela. - Como tem preposição (entre) não pode ser o sujeito e sim o pronome, pois não existe sujeito preposicionado. - Comigo = com (preposição com e igo (ego) = eu) - devem ser empregados somente na função sintática de sujeito e nunca como complemento, onde deve ser usado o oblíquo. Convidei ele (errado) ê e sim: convidei-o. - quando precedidas de preposição não se usam as formas retas eu e tu e sim as oblíquas: mim e ti. A não ser como sujeito de um verbo no infinitivo: PARA EU FAZER. PARA TU LERES. (NUNCA DIGA: PARA MIM FAZER) - se, si, consigo - somente na forma reflexiva ê feriu-se, o professor trouxe consigo (ele). NUNCA DIGA VOU FALAR CONSIGO. - queriam conversar convosco (com vós próprios). - Pronomes oblíquos combinados: me+a(s) = ma(s); te + a(s) = ta (s). * você pagou o livro ao livreiro? Sim, paguei-lho (lhe = representa o livreiro ) + (o = representa o livro) -LHE ê SEMPRE OI ê chamei-lhe de cretino ê (cretino neste caso é Predicativo do Objeto Indireto porque não é um adjetivo inerente ao sujeito e sim uma qualidade transitória, eu apenas o chamei assim não quer dizer que ele seja. ê o, a, os, as sempre VTD. VTI. errado: eu lhe vi ontem; e sim, eu o vi ontem. ê pronome oblíquo só pode funcionar como sujeito com os verbos: deixar, fazer, ouvir, mandar, sentir, ver - seguidos de infinitivo: deixe-o sair (deixei que ele saísse - sujeito) ; vi-o chegar. - pronomes oblíquos equivalentes a possessivos são sintaticamente ADN: ex.: roubaram-me o livro: roubaram meu livro. - vossa = usamos quando nos dirigimos à pessoa; - sua = quando falamos dela. 2) possessivos: meu, teu (2ª pessoa), seu (2ª ou 3ª pessoa, para evitar ambigüidade, trocar por dela), vosso(a), dele(a)... 3) demonstrativos: este, isto (1ª pessoa), esse, isso (2ª), aquele e aquilo (refere-se à 3ª pessoa). - Precedidos de preposição DE, usa-se apenas no plural: um palavrão desses, uma coisa daquelas. - O e A equivalendo aquela, isto. * Isto em início de frase = então * Tal é pronome substantivo: não creio em tal (=tal coisa). - Tal - é pronome adjetivo: quando acompanha o nome, ex.: a expressão que tal?, tal pai, tal filho. 4): indefinidos: algum, nenhum, vários, tantos, qualquer, certo, pouco, muito, outro, flexões. Referemse à 3ª pessoa do discurso de modo vago: algo o incomoda. Encontrei quem pode me ajudar. - Indefinidos adjetivos: cada, certo, certos, certa, certas. 5) interrogativo: que, quem, qual, em frases interrogativas. Que há? qual será? 6) de tratamento: Vossa refere-se à pessoa a quem se fala, embora a concordância seja feita em 3ª pessoa. Vossa Alteza - V.A. - duques, príncipes Vossa Eminência - V. Em a - Cardeais

127 Vossa Excelência - V. Ex a - Altas autoridades Vossa Magnificência - V. Mag a -Reitores de Univ. Vossa Reverendíssima - V. Revm a - Sacerdotes Vossa Santidade - V.S. - Papas Vossa Senhoria - V.S. a - Funcionários graduados Vossa Majestade - V.M. - Reis, imperadores senhor (a), você, vocês. - Pronomes substantivos (são pronomes pessoais do caso reto). - Eu e ele - pronomes diferentes, prevalece o 1º para o plural (eu - nós) ê nós - 1ª nós - se tiver a 1ª pessoa - você e eu estamos = nós estamos - 2º vós - se não tiver a 1ª pessoa, só tiver a 2ª então é = tu e os demais = vós. - 3ª Eles - quando não tiver nem 1ª nem 2ª usa-se - Eles 7) relativos: o qual, cujo, quanto, quem, onde, que, e flexões. Relacionados com a palavra anterior. PRONOMES RELATIVOS - sempre se refere a um termo antecedente. Além de marcar a subordinação iniciando uma oração adjetiva, o pron. Relativo exerce uma função sintática na oração a que pertence. (Pronome relativo: função de OI) - Achei o remédio de que você precisa. OP OS adj. Restritiva (desdobrando: 1) achei o remédio - 2) você precisa do remédio. VTD OD S VTI OI * Os pronomes relativos desempenham as seguintes funções: sujeito (as cartas que mandei...); OI; OD, predicativo (reduz-me ao pó que fui); CN ( o projeto com o qual ficou entusiasmado..); adjunto adnominal (o homem cujo carro comprei...); adjunto adverbial (a cidade onde nasci...); agente da passiva (o amigo por quem fomos enganados desapareceu). A-) REGRAS DE COLOCAÇÃO PRONOMINAL: * Ênclise: língua culta: levantei-me. * Mesóclise: é a colocação do futuro do presente e do pretérito, desde que não haja próclise: contarlhe-ia. * ex.: jamais convencê-lo-ei (errado) pois jamais é fator proclítico (é advérvio) ê jamais o convencerei. * Próclise: - palavra negativa não seguida de pausa (nunca nos revelou); - advérbio não seguido de vírgula. Se houver vírgula depois usa-se ênclise: não, disse-me ele. Em seguida, despediu-se. - pronomes relativos e indefinidos: quem te acompanhou? ; - conjunção subordinada: pensei que lhe dariam. - preposição em, seguida de gerúndio: Em se tratando.; - infinitivo pessoal precedido de preposição: para se desculparem, enviaram-nos flores e bombons. - orações optativas, com suj. antes do verbo: Deus lhe pague. * Em relação aos tempos compostos e às locuções verbais: O pronome oblíquo pode estar: - enclítico em relação ao verbo principal se este estiver no infinitivo ou no gerúndio, nunca se estiver no particípio: Eu quero contar-lhe a verdade. ê nunca diga: temos prevenido-o. e sim: o temos prevenido - proclítico ou enclítico em relação ao verbo auxiliar: Eu lhe tinha contado/ eu tinha-lhe contado. - mesoclítico, se o auxiliar estiver no futuro do presente ou do pretérito: ter-lhe-ia contado. ê Se tiver fator próclise: (pron. relativo, advérbio, etc): Disse que lhe quero contar/ Disse que quero contar-lhe (e nunca disse que quero-lhe contar).

128 - já lhe estou contando./ já estou contando-lhe ( e nunca já estou-lhe contando). - já lhe tinha contado. (auxiliar) e nunca já tinha-lhe contado. ê pois não pode usar enclise com fator próclise. PARTE 5 Frase - É a menor unidade da comunicação com sentido completo: Polícia! A festa durou cerca de quatro horas. Oração - é a unidade centrada num VERBO (predicado). Geralmente apresenta também um sujeito. Mas enquanto este pode faltar, o predicado é indispensável: NÃO HÁ ORAÇÃO SEM PREDICADO. Eles partiram logo cedo. A madrugada estava rompendo calma. Período - é a frase organizada em oração ou orações: 1) Simples - uma só oração O médico esclareceu a causa da doença. 2) Composto - duas ou mais orações Tenho a certeza de que ele dirá a verdade. O período composto: a) Dá-se o nome de coordenadas às orações que tem sentido próprio. A mãe levanta, abre as cortinas e chama as crianças. b) Dá-se o nome de subordinadas às orações que funcionam como termos de outra oração. Espero que você me devolva hoje mesmo o livro que eu lhe emprestei 1ª Espero - rege-se por si, não desempenha nenhuma função sintática em outro período e, por isso chama-se oração principal. 2ª que você me devolva hoje mesmo o livro - depende da 1ª, pois funciona como objeto direto do verbo da oração principal. 3ª que eu lhe emprestei - depende da 2ª, pois funciona como adjunto adnominal de seu objeto direto (o livro). c) Ao tipo de período composto que apresenta orações coordenadas e subordinadas dá-se o nome de período composto por coordenação e subordinação. O professor orientou os trabalhos e sugeriu que interpretássemos o texto 1ª O professor orientou os trabalhos - oração principal 2ª e sugeriu - oração coordenada 3ª que interpretássemos o texto - objeto direto do verbo da oração principal. * ORAÇÕES SEPARAM-SE POR VERBOS. B-) Sujeito - é o ser de quem se diz alguma coisa, é o elemento com o qual concorda o verbo. Soou na escuridão uma pancada seca. C-) Predicado - é aquilo que se informa a respeito do sujeito. Pode ser formado por um elemento nominal (substantivo, adjetivo, advérbio) ou verbal: O guarda-noturno lê romances policiais. Na oração sem sujeito, o predicado é a enumeração pura de um fato qualquer: Choveu fino e mansinho ontem à noite. PARTE 6

129 A-) TIPOS DE SUJEITO - Determinado, indeterminado ou inexistente. * Determinado - ocorre quando, pela terminação do verbo ou pelo contexto, o sujeito tem por núcleo um nome (substantivo, pronome ou palavra ou expressão substantivada). a) Simples - um núcleo: Cinco elefantes enormes desfilaram. Núcleo b) Composto: mais de um núcleo - Na dúvida, velhos e moços calaram-se. - elíptico ou oculto - Coleciono (eu) moedas antigas. Sábados, eu e meus amigos saímos, ficamos (nós) felizes. * Indeterminado: quando não se exprime nem se identifica com precisão o sujeito, por que não se pode ou não se quer. Rasgaram meu livro de Matemática. - O sujeito pode ser indeterminado de dois modos: a) Colocando-se o verbo na 3ª pessoa do plural, sem referência a seres determinado : Telefonaram para você. b) Colocando-se a partícula se, índice de indeterminação do sujeito, agregada à 3ª pessoa do singular nos verbos: - Intransitivos : Vive-se bem aqui. - Trans. Indireto: Precisa-se de motorista. - de ligação: Foi-se infeliz naqueles momentos. * não confundir sujeito oculto (eles, ele) com sujeito indeterminado de orações com verbo na 3ª pessoa do plural. Lembre-se de que o sujeito oculto ocorre quando há informação precisa acerca dos agentes da ação verbal. Observe a diferença: - Meus amigos são impossíveis: esconderam meu material. - 3ª pessoa plural - suj. oculto (eles, meus amigos) - No estacionamento, quebraram a lanterna do meu carro - 3ª pessoa do plural - sujeito indeterminado. ê Oração sem sujeito: ocorre quando a declaração expressa pelo predicado não é atribuída a nenhum ser. Faz calor em Paquetá. Os verbos destituídos de sujeito chamam-se impessoais e se apresentam na 3ª pessoa do singular. Eis os principais: - verbos ou expressões que indicam fenômenos da natureza (chover, nevar, etc) - verbo haver no sentido de existir. - Verbo fazer, haver, ir, na designação de tempo decorrido:fazia dez semanas que não a via. Vai para dois meses que não recebo cartas. - verbo ser na indicação de tempo em geral: Era noite fechada. B-) TIPOS DE PREDICADO ê A predicação verbal trata da relação que se estabelece entre o sujeito e o verbo e o verbo e seus complementos. ê Quanto a predicação, os verbos se dividem em intransitivos, transitivos e de ligação. 1) Intransitivo - expressam uma idéia completa, e por isso não necessitam de complemento. Amanheceu. 2) Transitivo - quando o seu significado não se esgota no próprio verbo, mas se estende a outra palavra que lhe serve de complemento. Marina confia em você.

130 Os verbos transitivos podem ser: a) Diretos (VTD Verbo Transitivo Direto) - Quando exigem um complemento sem preposição obrigatória - objeto direto: O sorveteiro derrubou o carrinho. VTD OD b) Indiretos (VTI Verbo Transitivo Indireto): quando exigem um complemento com preposição obrigatória - objeto indireto: Luís gosta de Matemática VTI OI c) Transitivos diretos e indiretos (VTDI): quando exigem dois complementos, um sem preposição e outro com preposição obrigatória - obj. direto e obj. indireto. A filha ensinava pintura a meia dúzia de garotos. VTDI OD P OI 3) Verbos de ligação - Serve como elemento de ligação entre o sujeito e seu atributo - o predicativo do sujeito. A aluna é estudiosa VL Pred. Sujeito Os verbos de ligação não trazem nenhuma informação, apenas apresentam estado, qualidade ou condição do sujeito. - Predicado verbal - tem como núcleo um verbo significativo, ou seja, que não é de ligação e, por isso, traz uma idéia nova ao sujeito. PV = VI ou PV = VT + OD/OI (Predicado verbal = verbo intransitivo; ou verbo transitivo com objeto direto ou indireto) Todos os ouvintes reclamaram. Pred. verbal e VI. O povo deu-lhe razão. VTDI OI OD (VTDI = verbo transitivo direto e indireto) - Predicado nominal - tem como núcleo um predicativo do sujeito, pois sendo o verbo de ligação, o único termo do predicado que acrescenta informações ao sujeito e um nome (o predicativo do sujeito) PN = VL + PS (Predicado nominal = verbo de ligação + predicativo do sujeito) Fiquei confuso VL PS O livro está rasgado. VL PS - Predicado verbo-nominal - Apresenta simultaneamente dois núcleos: um verbo significativo e um predicativo do sujeito ou do objeto: PVN = VI + PS ou PVN = VT + OD/OI + PS/PO * PVN = pred. verbo-nominal; PS = predicativo do sujeito; PO = predicativo do objeto * Importante: SEMPRE QUE SE FALA EM PREDICATIVO, ASSOCIAR A UMA QUALIDADE TRANSITÓRIA, que só pertence ao sujeito ou objeto naquele momento.

131 O menino caminhava apressado. VI PS A garotada aguardava ansiosa a chegada ao circo VTD PS OD ê PVN (predicado verbo-nominal) ê PVN * Verbo nominal pode ser desmembrado em verbal e nominal: O menino caminhava apressado. O menino caminhava Predicado Verbal O menino estava apressado Predicado Nominal Verbo de ligação PARTE 7 ê Termos ligados ao verbo: Objeto Direto(OD), Objeto Indireto(OI) e Adjunto adverbial (ADV). ê Termos ligados ao nome: Complemento Nominal(CN), Adjunto Adnominal (ADN) e aposto. A-) COMPLEMENTOS VERBAIS São termos que complementam o sentido de um verbo transitivo. Classificam-se em objeto direto e objeto indireto. - Obj. direto - é o complemento de um verbo transitivo direto, ligado ao verbo sem preposição: Convidei todos os amigos. VTD Obj. direto - Obj. indireto - é o termo que completa o sentido de um verbo transitivo indireto e vem sempre acompanhado de preposição. Necessitamos de sua colaboração. VTI Obj. indireto * O objeto direto e o indireto, completam simultaneamente o sentido de um verbo transitivo direto e indireto. Pepe enviou uma carta à sua namorada. VTDI obj.dir. obj. indireto * Os objetos podem ser representados por: ê um substantivo - o menino lê o jornal OD ê um pronome substantivo - Não o vi OD Nós não sabíamos de nada OI ê um numeral - Papai ganhou milhões na loteria. OD Nada interessa aos dois OI ê uma palavra ou expressão substantivada: Como resposta, recebeu um não redondo. OD Vovó já não se lembra de seu amado.

132 OI ê uma oração subordinada substantiva ( OBJETIVA DIRETA OU INDIRETA) Espero que você vença o torneio. OD - Obj. direto preposicionado (OP) Quando um verbo transitivo direto apresenta um objeto precedido de preposição. A preposição, neste caso, não é regida pelo verbo, pois este continua transitivo direto, seu emprego se justifica por motivos de estilo, clareza ou precisão, aparece: - com os verbos que exprimem sentimentos: Ele só ama a você, Ana! VTD OD prep. - para evitar ambigüidade: A Abel matou Caim. OD prep. VTD - para enfatizar o complemento verbal: Cumpri com o prometido VTD OD prep. - para realçar a idéia de parte, porção: Tomava do vinho com prazer VTD OD prep Obj. direto e indireto pleonástico Para enfatizar o termo que funciona como objeto, costuma-se enunciá-lo por meio de um pronome oblíquo com sentido e função equivalentes. Essas meninas, já as vi antes. OD OD pleonástico. Às minhas poesias, não lhes dava nenhuma atenção. OI OI pleo. Os pronomes oblíquos como objeto. Geralmente exercem a função de OD ou OI. Com exceção dos pronomes oblíquos átonos de 3ª pessoa (o, a, os, as - OD; lhe, lhes - OI), os demais (me, te, se, nos, vos) funcionam como OD ou OI, dependendo da predicação do verbo que completam: Vinícius me trouxe um boa notícia. OI VTDI Vinícius me trouxe aqui. OD VTD - pronomes oblíquos tônicos são sempre precedidos de preposição, sua função sintática só pode ser determinada a partir da predicação do verbo ao qual servem de complemento: Entregou o telegrama a mim. VTDI OI Viram a mim. VTD OD prep. B-) ADJUNTO ADVERBIAL (o que está junto do VERBO)

133 - É a função exercida por uma palavra ou expressão que denota circunstância em referência ao verbo, substantivo, adjetivo ou a outro advérbio e, às vezes, a todo um enunciado: O trem partiu às pressas. verbo adj. Adverbial de modo. Ela é muito sentimental. Adj. Predicativo do sujeito. Adv. de intensidade O adj. Adverbial pode vir representado por: - um adverbio: O alpinista subiu cautelosamente a montanha. - uma locução adverbial: O orador falou de repente. - uma oração subordinada adverbial: Voltou para casa porque chovia. C-) COMPLEMENTO NOMINAL - Completa a significação TRANSITIVA de um nome (subst., adjetivo ou advérbio), que pode desempenhar variadas funções, como sujeito, predicativo, objetos, etc. Quase sempre é regido de preposição: subst. O torcedor tinha FÉ OD em seu time. CN Há duas espécies de complementos nominais: a) de adjetivos transitórios e de substantivos e advérbios derivados destes: - avesso (a elogios) ê adjetivo transitório - ávido/avidez (de notícias) - substantivo / advérbio b) de substantivos, adjetivos e advérbios derivados de verbos transitivos diretos, indiretos, ou transitivos diretos e indiretos. Neste caso é fácil perceber a transitividade do nome, pois ele é palavra derivada do verbo: - VTD: amar (a verdade) êderivado do VTD: amor/amante(da verdade) OD CN - VTI: aludir (aos defeitos) ê alusão (aos defeitos) OI CN - VTDI: entregar (os cadernos) (aos alunos) ê a entrega (dos cadernos) (aos alunos) OD OI CN CN * Obs: o complemento nominal pode vir representado por: 1) Substantivo ou palavra/expressão substantivada: Estou ansiosa pelo sábado 2) pronome: Ele estava descontente comigo. (com + ego - eu) 3) numeral: Depositava toda confiança nos dois 4) oração subordinada substantiva (completiva nominal): Tomou consciência de que havia sido enganado * Diferença entre complemento nominal e objeto indireto: Lembre-se que o OI completa o sentido do verbo, ao passo que o CN completa o sentido de um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio):

134 - Necessito de sua ajuda. ( tem preposição de, mas sua ajuda complementa o verbo). OI - Tenho necessidade de sua ajuda ( complementa o substantivo) VTD OD (subst.) CN D-) ADJUNTO ADNOMINAL: TERMO ACESSÓRIO. Pode ser: 1- adjetivo; 2- locução adjetiva (uivos de cães cortavam o silêncio da noite) * obs. Tem função de adjetivo - canino; noturno. 3- artigo (definido e indefinido); 4- pronome adjetivo (possessivo, demonstrativo, indefinido, interrogativo e relativo ê ex.: este, cuja, toda...); 5- numeral; 6- oração subordinada adjetiva (Ela acenava para as crianças que passavam por ali). ê é tudo que está junto ao substantivo ou objeto que não seja o verbo. ê para distinguir complemento nominal de adjunto. O complemento nominal completa o sentido de um nome transitivo (subst. adjetivo ou advérbio) enquanto adjunto adnominal apenas acompanha o substantivo. ê Se o termo introduzido por preposição estiver ligado a um adjetivo ou advérbio será CN. Ele é perito em cirurgia adjetivo CN ê Se o termo introduzido por preposição estiver ligado a um substantivo transitivo funcionando como ALVO (destino da ação - o substantivo recebe a ação) também será CN: alvo da resposta A resposta aos grevistas não os convenceu. Subst. CN transitivo ê é Adjunto adnominal: INDICA TIPO, MATÉRIA, SUBSTÂNCIA OU POSSUIDOR. A resposta do patrão não os convenceu. Subst. adj. Adn. (ele é o agente, o praticante da ação) adj. Adverbial de lugar ê Passo férias na casa DE MEUS AVÓS adj. Adnominal (possuidor) ALVO ê CN AGENTE DA AÇÃO ê ADJ. ADNOMINAL E-) APOSTO: se junta a um subst., um pronome ou a uma oração para dar uma explicação, podem ser isolados por vírgula, dois pontos ou parêntese, ou então nem é necessário. Pode ser representado por: ê substantivo: Paulo, meu irmão, tem uma bela casa. ê pronome: Festas, viagens, nada o aborrecia. ê ou oração subordinada substantiva (apositiva) : Dei-lhe um conselho: que não se familiarize com estranhos. * Pontuação: Só se preocupava com uma coisa: nossa segurança. Aquela hora a Avenida Três Poderes estava intransitável. Meu primo Daniel estuda em Paris.

135 * Aposto pode vir precedido de expressões explicativas: isto é, a saber, ou da preposição acidental como: O resto, isto é, as louças, os cristais e os talheres, irá nas caixas menores. Este advogado, como representante da comunidade, é imprescindível. F-) VOCATIVO: Chama ou interpela o ouvinte, real ou imaginário. Pode iniciar a frase, terminá-la ou intercalá-la. Pode ser precedido de interjeições de chamamento (Ó) ê Você viu, doutor, que notícia agradável? Obs.: o vocativo geralmente ocorre isolado; quando se inclui num período, ele não se anexa à estrutura do sujeito ou do predicado: Pessoal, os exercícios estão fáceis. Vocativo suj. simples predicado PARTE 8 A-) ORAÇÕES SUBORDINADAS: É a que mantém dependência com outra oração. Um viking nunca admite que perdeu 1ª 2ª ê é um período composto, isto é, formado por duas orações (porque tem dois verbos) a 1ª oração é a principal, a segunda é a oração subordinada. * passando-se para o período simples, transformamos o segundo verbo em substantivo: substantivo Um viking nunca admite sua derrota. Suj. simples adj. VTD OD Adverbial ê sua derrota é objeto direto no período simples, e no período composto que perdeu é objeto direto do verbo admite da oração principal e é também uma expressão que consiste numa oração (porque tem verbo). Seu papel morfológico é substantivo e sintático é Objeto direto em relação à oração anterior, então essa é uma oração subordinada (tem dependência da anterior). 1) ORAÇÃO SUBORDINADA SUBSTANTIVA: é a oração que tem valor de substantivo (derrota - no período simples) e exerce em relação à anterior a função de sujeito, objeto direto, objeto indireto, complemento nominal, predicativo ou aposto. * quando o verbo exprime uma certeza emprega-se - ê normalmente tem as conjunções subordinativas que e se ou pronome indefinido, pronome ou advérbio interrogativo ou exclamativo. QUE ê Não sabemos quanto comprou. quem porque Afirmava que colaboraria com a festa * quando o verbo exprime uma dúvida - SE Não sabia se colaboraria com a festa. como ê Classificação das quand subordinadas substantivas: 1) SUBJETIVA ê exerce o função de sujeito da oração dependente ou que se insere: É claro que EU não tenho medo de escuro. (subordinada onde substantiva subjetiva) ê alguns verbos que tem por sujeito uma oração subordinada substantiva: a) certos verbos na 3ª pessoa do singular, acontecer, admirar, constar, cumprir, importar, urgir, ocorrer, parecer, suceder e outros.

136 b) várias expressões na voz passiva (sabe-se, conta-se, diz-se, é sabido, ficou provado, entre outras). c) verbo de ligação acompanhado de predicativo (é bom, é certo, é claro, parece certo, está visto, etc.) 2) OBJETIVA DIRETA - Exerce a função de objeto direto do verbo da oração principal: Dizem que o circo chegará hoje principal OD - subordinada direta 3) OBJETIVA INDIRETA ê Exerce função de objeto indireto do verbo da oração principal: Convenceu-o de que o trabalho era fácil. (principal OI - subordinada - preposição de VTI convenceu a ele) ê PREDICATIVA - Exerce função de predicativo (qualidade transitória) da oração: O problema é que o prazo para a inscrição já se esgotou ê COMPLETIVA NOMINAL - função de complemento nominal da frase principal. É sempre alvo. Estava convicto de que ele era inocente. * Diferença entre complemento nominal e objeto indireto: Lembre-se que o OI completa o sentido do verbo, ao passo que o CN completa o sentido de um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio). ê APOSITIVA - Exerce função de aposto de um nome da oração principal. Geralmente precedida por dois pontos e, às vezes pode ter vírgula. Dei-lhe um conselho: (que) não se importasse mais com o caso. * modo de se reconhecer uma oração subordinada substantiva: troca-se por pronomes substantivos, isto, isso, aquilo, esse, este, aquele. Assim o período torna-se simples (1 só verbo): ex.: peça-lhe que me traga sal. ê peça-lhe isso. O.S.S.OD OD Lembre-se de que a vida é um breve instante. ê Lembre-se disso. O.S.S. OI OI * para passar frases para subordinada substantiva, deve fazer com que o substantivo vire verbo. Duvido de sua vitória. OI Duvido de que você vença. Or. Subordinada substantiva objetiva direta Obs.: 1) Agora é importante que você colabore na campanha. 2 ) Agora é importante colaborar na campanha. * As duas são Orações Subordinadas Subjetivas, porém, a primeira é desenvolvida e a segunda é reduzida. As desenvolvidas apresentam o verbo em uma forma finita (do indicativo ou do subjuntivo), as reduzidas apresentam o verbo uma das formas nominais (infinitivo, gerúndio ou particípio). As orações subordinadas substantivas só podem ser reduzidas de infinitivo. O aluno disse que entendeu a explicação (or. Subord. Subst. objetiva direta desenvolvida). RESUMO *SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS Subordinadas = dependem da oração principal (conjunções êque, se) (orações compostas = dois verbos) Substantivas = tem valor de substantivo e exerce em relação à anterior a função de sujeito, objeto direto, objeto indireto, complemento nominal, predicativo ou aposto. * modo de se reconhecer uma oração subordinada substantiva: troca-se por pronomes substantivos, isto,

137 isso, aquilo, esse, este, aquele. Assim o período torna-se simples (1 só verbo): ex.: peça-lhe que me traga sal. ê peça-lhe isso. (O QUÊ?) O.S.S.OD OD Lembre-se de que a vida é um breve instante. ê Lembre-se disso. (DO QUÊ?) O.S.S. OI OI TIPO DE ORAÇÃO CARACTERÍSTICAS EXEMPLO O.S.S. subjetiva função de sujeito É claro que EU não tenho medo de escuro. O.S.S. objetiva função de Objeto direto. Dizem que o circo chegará hoje direta principal OD - subordinada direta (dizem o quê?) O.S.S. objetiva - função de Objeto indireto Convenceu-o de que o trabalho era fácil. indireta - não confundir com (principal OI - subordinada - preposição completiva nominal que de (diz respeito ao verbo) diz respeito a um VTI convenceu a ele) substantivo, enquanto OI diz respeito ao verbo. O.S.S. completiva nominal função de complemento nominal Estava convicto de que ele era inocente. (diz respeito a convicção que não é verbo é uma qualidade TRANSITÓRIA) O.S.S. predicativa função de predicativo do sujeito (qualidade transitória) O problema é que o prazo para a inscrição já se esgotou. (tem verbo de ligação e o predicativo diz respeito ao sujeito). O.S.S.apositiva função de aposto Dei-lhe um conselho: (que) não se importasse mais com o caso. * identificar a oração subordinada (pode trocar por pronomes substantivos?) : é sujeito? ; é objeto direto (sem preposição)?; é objeto indireto (preposição, diz respeito ao verbo)?; é complemento nominal (está completando o sentido transitório de um nome)?; é predicativo do sujeito (representa uma qualidade transitória do sujeito)? Ou é um aposto (uma explicação)? 2- ORAÇÕES SUBORDINADAS ADJETIVAS A oração subordinada adjetiva tem valor de adjetivo e exerce a função de adjunto adnominal de um substantivo (nome ou pronome) antecedente: VL adj.adnominal núcleo adj.adnominal (adjetivo) porque sou uma velhinha trêmula predicativo do sujeito porque sou uma velhinha que treme oração subordinada oração subordinada adjetiva ê o adjetivo trêmula (adjunto adnominal do substantivo velhinha) corresponde à oração que treme, cujo papel é adjetivar o substantivo velhinha. * são intoduzidas pelos pronomes relativos: QUE, QUEM, ONDE, O QUAL (A QUAL, AS QUAIS, OS QUAIS) CUJO (A, AS, OS). *Para certificar-se de que a expressão constitui pronome relativo, introduzindo, portanto, uma oração adjetiva, procure trocá-la por o(a) qual, os (as) quais, junto ou não de preposição. Isso não é possível fazer com a palavra cujo que entretanto são sempre pronomes relativos. ê podem ser classificadas em: 1) Restritivas: delimita o sentido do substantivo antecedente, é indispensável ao sentido completo do enunciado. Liga-se ao antecessor sem vírgula: Já assisti ao filme que você me indicou. 2) Explicativa: simples explicação ou afirmação adicional ao antecedente já definido plenamente, podendo ser omitida, aparece entre duas vírgulas: Afonso, que é professor de segundo grau, negou-se a responder à pergunta.

138 Substantiva ou adjetiva? Confusão quando o pronome relativo é precedido pelos pronomes demonstrativos o ou a. Ouvi tudo o que você lhe contou. Ao substituir por isso perde o sentido: Ouvi tudo isso ê portanto não é substantiva. Se * colocarmos Distinção entre seu orações equivalente subordinadas aquilo: substantivas observamos apositivas que a oração e as adjetivas que você explicativas: lhe contou A palavra é adjetiva. que ao introduzir uma oração substantiva é CONJUNÇÃO INTEGRANTE, enquanto ao introduzir uma oração adjetiva é PRONOME RELATIVO. 1- Ele revelou as suas razões, que estava cansado e com fome, e foi embora. : OSS. Apositiva. 2- Ele revelou as suas razões, que todos já conheciam, e foi embora. : OS. Adjetiva explicativa. as quais * na oração 1 ele especifica as razões (função do aposto), na 2 ele somente acrescenta ao substantivo razões um determinante com valor de adjetivo conhecidas ê as razões eram conhecidas). ê Orações adjetivas reduzidas As OS. A - podem se apresentar desenvolvidas ou reduzidas, quando reduzidas, têm o verbo no infinitivo, no gerúndio ou no particípio. :- Encontrei os cabos eleitorais a discutir. / - Você já viu os livros comprados na biblioteca? Ex.:... letra que possa ser lida. ê letra legível - Ela sente um amor que não se pode definir (com pronome relativo que e verbo para formar oração composta ê amor indefinível (valor de adjetivo e função de adjunto adnominal). 3-) ORAÇÕES SUBORDINADAS ADVERBIAIS: tem valor de advérbio e função de adjunto adverbial. *período simples: À sua entrada, caí aos seus pés. Adj. Adverbial de tempo VI adjunto adverbial de lugar * período composto Quando ela entrou, caí aos seus pés oração subordinada oração principal adverbial temporal. * Classificação: de acordo com as circunstâncias: - causais: não veio porque estava doente. (conjunções: porque, visto que, que, como (sempre anteposto à oração principal), posto que, uma vez que). - comparativas: Trabalha como um escravo. (conjunções: como, que, do que, assim como, (tanto) quanto, etc.) ê verbo pode estar subentendido: meu time conquistou mais campeonatos que o seu. (conquistou). - concessivas: Não percebeu nada, embora estivesse atento.(conjunções: embora, conquanto, que, ainda que, mesmo que, por demais, se bem que, etc.) - condicionais: Irei à fazenda, se não chover.(conjunções: se, caso, contanto que, desde que, salvo se, a menos que, sem que, etc.) - conformativa: Conforme prometeu, pagará a dívida amanhã.(conjunções: como, conforme, segundo, consoante). - consecutivas (conseqüência): Trabalhou tanto, que adoeceu. conjunções: que (precedida de tal, tão, tanto, tamanho) de sorte que, de modo que, etc. - finais (finalidade): Fiz tudo para que ele aprendesse bons modos. (conjunções: para que, a fim de que, que.) - proporcionais: À medida que se aproximava a hora, a tensão aumentava (conjunções: à proporção que, ao passo que, quanto mais... (mais), etc. - temporais (indica o momento): Houve protestos depois que o diretor saiu da reunião. (conjunções: quando, enquanto, logo que, mal, assim que, etc.

139 ê OS. Adverbiais Reduzidas: com o verbo no infinitivo, no gerúndio ou no particípio. - reduzida de infinitivo: Voltou para casa por estar doente.(causa) / gerúndio: mesmo estando aborrecido, participou da festa. (concessiva)/ particípio : agredido na recepção, voltou para casa (causa). B-) ORAÇÕES COORDENADAS São independentes, formam um período composto por coordenação. Podem ser: assindética (sem conjunção) sindética (liga-se por conjunção). * SINDÉTICAS: de acordo com a conjunção classifica-se em: - aditivas: ele comprou a passagem e saiu no primeiro trem.(conjunções: e, nem, que ou pelas locuções não só... mas (também), tanto... como e análogas). - adversativas: Estuda, mas não aprende. (pelas conjunções: mas, e, porém, entretanto, contudo, não obstante, senão, todavia,etc). - alternativas (marcam, em relação a outra oração, uma idéia de separação ou exclusão) Todas as tardes, ia ao cinema ou fazia pequenas compras. (conj.: ou...ou, ora...ora, ou...ou, quer...quer). - conclusivas: Seu amigo está triste e decepcionado, deve, portanto, confortá-lo nesse momento. (logo, pois, portanto, de modo que, por isso, etc). - explicativas: Volte logo, porque eu preciso de você. (porque, que, pois (anteposto ao verbo), etc). * Distinção entre OC explicativas e OS Adv. causais: 1) a oração coordenada explicativa cumpre um papel de explicar o que foi confirmado na oração anterior: - Choveu, porque a rua está molhada. O.C. assindética O. C. sindética explicativa 2) a O.S. adv. causal cumpre papel de advérbio em relação à principal: Choveu, porque houve muita evaporação or. Principal or. Subord. Adverbial causal 3) As OC explicativas são empregadas com freqüência depois de orações imperativas e optativas: - Não zombe dele, que está apaixonado. Or. Imperativa Or. Coord. Sindética Explicativa ê Orações intercaladas ou interferentes: se insere dentro de outra, sintaticamente é independente e normalmente aparece entre vírgulas, travessão ou parêntese. Tive (por que não direi tudo?), tive remorsos. ê Oração coordenada (independente) : assindética (sem conjunção, tem vírgula ou ponto e vírgula ê chegou, olhou, partiu) - sindética (tem conjunção): aditiva: e, nem (=e não), mas, também.; adversativa: mas, porém, todavia, no entanto, etc.; alternativa; conclusiva (logo, pois, portanto, por que, de modo que, etc). explicativas (pois, porque, portanto, que, etc). ê OSS Adjetivas: têm valor e função de adjetivo. 1) Explicativas: explicam o termo antecedente, atribuindo-lhe uma qualidade inerente ou acrescentando-lhe uma informação: Ele, que nasceu rico, acabou na miséria. 2) Restritivas: restringem ou limitam a significação do termo antecedente: sendo indispensáveis ao sentido da frase: pedra que rola não cria limo. ê OSS Adverbiais: tem valor de advérbio: 1) causais; 2) comparativas; 3) concessivas (exprimem um fato que se concede, que se admite: por mais que gritasse, não me ouviram); 4) condicionais; 5) conformativas; 6) consecutivas (conseqüência); 7) finais; 8) proporcionais; 9) temporais (indicam o tempo em que se realiza o fato expresso na oração principal ê enquanto foi rico todos o procuravam.); 10) modais: exprimem modo, maneira. ê Orações reduzidas: verbo numa das formas nominais: gerúndio, infinitivo e particípio. : penso estar preparado (penso que estou preparado)

140 PARTE 9 A-) REGÊNCIA NOMINAL Quando a palavra completada é um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio de base nominal), tem-se a regência nominal. Sílvia sentia inclinação pela música. Substantivo Complemento Nominal (CN) Os jogadores estavam desejosos de vitória Adjetivo CN Sujeito Predicado Objeto Direto Objeto Indireto Adj Núcleo AdjAdn. V. trans. Adj Núcleo Adj Adn Adj Adn Núcleo Adn. Adn Artigo Subst. Adjetivo Verbo Artigo Subst. Adjetivo Prep./art Subst. Os assaltantes Italianos enviam os Computadores roubados ao guitarrista B-) REGÊNCIA VERBAL: TERMO REGENTE - pode ser regente verbal (o verbo que rege - é o termo subordinante) ou regente nominal (um nome que é o regente). ASSISTIR 1) MORAR - VI 2) AJUDAR - VTD OU VTDI em pode ter ou não - Ele assiste em São Paulo - O médico assiste o (ao) doente. ASSISTO AO JOGO 3) VER - preposição a obs.: VTI não aceita pronome átono (me te se na lhe o a) e sim pronome oblíquo (comigo, a ele - pois são sempre preprosicionados) Eu assisto ao jogo / eu assisto a ele. - Se estiver se referindo a gente pode usar átono ê o médico assiste-lhe. * Preferir - não admite : prefiro isto do que aquilo / e sim: prefiro isto a aquilo. - Tachar = julgar ê exige predicativo. PARTE 10 ê PONTUAÇÃO: 1) vírgula: é um sinal que liga orações, separa termos das orações e indica a ocorrência de certos fenômenos tais como: inversão, omissão ou intercalação de termos em uma oração: * inversão: - de complementos verbais: A vida, eu compro com as mãos. - de adjuntos adverbiais: À noite, eu faço curso de inglês. - de orações subordinadas adverbiais: Embora não pensassem assim, era a mesma coisa. * Coordenação: - entre termos de mesmo valor sintático: Deu-me de presente livros, revistas de arte e discos. - entre orações assindéticas: Foi à porta, espiou, correu para dentro assustada. - entre orações sindéticas, com exceção das aditivas: Talvez seja engano meu, mas acho-a agora mais serena. Obs.: deve ser usada antes da conjunção aditiva e apenas quando esta aparecer repetida várias vezes e quando ligar orações com sujeitos diferentes: O carro desviou-se, e ao cabo de um segundo o ônibus passou.

141 * Intercalação: - de termos da oração: A aniversariante, meiga, atenciosa com todos, parecia feliz. - de conjunção: Ele é seu pai: respeite-lhe, pois, a vontade. - de expressões explicativas, como: - isto é, - ou melhor, - por exemplo, - ETC. - de orações subordinadas adverbiais: Antigamente, quando eu era menino, ouvia histórias deste lugar. * Supressão de termos: - elipse ou zeugma: Nós moramos no campo, e vocês, na cidade. (zeugma do verbo morar ê e vocês moram na cidade) * Isolamento: - de aposto ou de oração subordinada subst. Apositiva. - de vocativo: Você ouviu, Maria, o que eu disse? - de nome de lugar anteposto à data: Santo André, 13 de junho de de orações subordinadas adjetivas explicativas: Até ele, que é o melhor da turma, não quis participar do torneio. Obs.: Não se deve colocar vírgula entre: - o sujeito e o predicado, - o verbo e seus complementos, - entre a oração principal e a oração ADJETIVA RESTRITIVA. 2) Ponto-e-vírgula - para isolar orações da mesma natureza: Este é o dia de todos os santos; amanhã é de todos os mortos - para organizar enumerações longas, principalmente quando a vírgula já foi utilizada: São esses os poetas líricos do Arcadismo brasileiro; Gonzaga, o Cláudio Manuel da Costa, e Silva Alvarenga. - para separar orações quando houver zeugma (ou elipse - ocultação) na segunda: Vocês anseiam pela violência; nós, pela paz. - PARA SEPARAR ITENS DE DECRETOS, LEIS, PORTARIAS, ETC. 3) Dois pontos: - introduz palavras, expressões, orações ou citações que servem para enumerar ou esclarecer o que se afirmou anteriormente: Lembrem-se do nome e do tipo: era João, caboclo robusto, desconfiado. 4) Aspas: - no final de citações; para destacar palavras estrangeiras; neologismos; gírias; para indicar mudança de interlocutor nos diálogos, etc. 5) Parênteses: - Normalmente para separar palavras ou frases explicativas dentro do período e nas indicações bibliográficas: Depois do jantar (mal servido) Seu Dagoberto saiu do Grande Hotel e Pensão do Sol (Familiar) palitando os dentes caninos. ê CRASE: 1) em locuções adverbiais: às vezes, à toa, às pressas... 2) em locuções prepositivas: em frente à, à procura de... 3) em locuções conjuntivas: à medida que. 4) em pronomes demonstrativos: aquele, aquilo, a, as... àquele. É facultativa diante de pronomes possessivos femininos ou de subst. próprios femininos. Nomes de localidades femininos: Viajaremos à Colômbia (voltamos da Colômbia); Viajaremos a Curitiba (Voltamos de Curitiba); Haverá crase se o sujeito estiver acompanhado de adjunto que o modifique: Ele se refere à saudosa Lisboa. HÍFEN 1) substantivos compostos que constituem uma unidade semântica: pão-de-ló; guarda-chuva. 2) nos adjetivos compostos: à-toa. 3) para ligar pronomes enclíticos e mesoclíticos a formas verbais à palavras eis e aos pronomes nos e vos. Vê-los-ás, no-lo, ei-la. 4) sufixos: açu, guaçu, mirim quando o elemento anterior termina em vogal acentuada (andá-guaçu) ou a pronúncia exige (capim-açu).

142 * bem que não tem autonomia ou a pronúncia requer (bem-aventurado) Prefixos de palavras iniciadas por: exemplos auto, contra, extra, infra, intra, neo, proto, pseudo, semi, ultra vogais, h, s, r. contra-regra, semiselvagem ante, anti, arqui, sobre h, r, s. ante-história, sobrehumano supra vogal, r, s. supra-sumo ab, ad, ob, sob, sub(iniciada também por b) r sub-reino (sub-base) pan e mal vogal e h. pan-americano sem, sota, soto, vice, vizo todos sem-vergonha. PARTE 11 A-) VOZES DO VERBO Voz é a forma que toma o verbo da ação para exprimir as relações de atividade e passividade entre sujeito e verbo. São três as vozes verbais: ativa, passiva e reflexiva. - ATIVA - ação expressa pelo verbo é praticada pelo sujeito. O leão correu atrás dos turistas, Aquele jovem optou por medicina. Sujeito agente - PASSIVA: ação é recebida pelo sujeito. A carta foi escrita a máquina pela secretária suj. paciente voz passiva agente da passiva Obs.: Rigorosamente só admitem voz passiva os verbos transitivos diretos e os transitivos diretos e indiretos: Voz ativa: As formigas destruíram o roçado. Suj.agente voz ativa obj. direto Passiva: O roçado foi destruído pelas formigas. Suj. paciente voz passiva agente da passiva Na mudança da voz ativa para a passiva ocorrem estas transformações: Voz ativa ê Voz passiva analítica Sujeito agente - Agente da passiva Objeto direto - Sujeito paciente. - Voz passiva pode ser: Analítica e Sintética. - Analítica: formada por uma locução verbal (verbo auxiliar: ser + particípio do verbo principal) + agente da passiva. Sujeito paciente verbo auxiliar + particípio Agente da passiva Os edifícios arrojados foram construídos pelo governo federal. - Sintética: Formada na 3ª pessoa + se (pronome apassivador ou partícula apassivadora) + sujeito paciente. Observe que nesse caso inexiste agente da passiva e verbo auxiliar. Verbo + partícula apassivadora Construíram-se Sujeito paciente edifícios arrojados.

143 PARTE 12 - Sinônimos - (Sin - lógica); (nimos - palavra) - mesmo significado básico. - Antônimo - (Ant - contra) - significados opostos. - Parônimos - vocábulos semelhantes na escrita e na pronúncia que tem significados diferentes: ê Flagrante(no ato) - Fragrante (perfumado) ê Flagrância. ê Ratificar (confirmar) - retificar (corrigir); ê vultoso (importante, de grande vulto); vultuoso (inchado). êinfringir - infração (o guarda inflige a pena a quem infringe a lei (- inflação = alta de preços). ê Iminente - algo que está para acontecer; eminente - alguém com elevada importância social. ê Cardeal - membro do clero; Cardial - ou de cardíaco ou nome de pássaro. ê mandato - cumprir determinado ofício legislação; mandado - do verbo mandar. ê meritíssimo e não meretíssimo. ê deferir - pedir aprovação; diferir - diferenciar. ê concessão - ceder. ê conjuntura - conjunto de circunstâncias (situação) na atual conjuntura... ; ê conjectura - discutir, planejar. ê tacha - prego. ê Homônimos (homo - igual, nimos - palavra) - Homógrafos ( uma escrita) - Heterófonos (vários sons ou pronúncias diferentes) ê o controle - talvez controle. - Homófonos (uma pronúncia) - Heterógrafos (grafia diferente) - cessão (ato de ceder) - sessão (reunião), seção ou secção (sem pronunciar o c mudo) - divisão ou cortes (medicina). - Homógrafos -Homófonos (homônimos perfeitos): mesma grafia e mesma pronúncia. O mato - eu mato. * Acento é só: agudo e circunflexo ( crase, trema: não são acentos) * Sótão - TERMINA EM DITONGO NASAL, tem acento, se tapar o nariz não sai som. ê Mal - (bem) - pode ser substantivo (quando vem determinado por artigo ou pronome) ê O mal (O = artigo) - mal educado - educado já é adjetivo, a palavra que acompanha o adjetivo é o advérbio (mal - de modo). - Ele passou mal. ê (adverbial de modo). - mal entrou e já deu bronca. (conjunção temporal) conjunção liga orações. - mal humorado - bem humorado. ê Mau - (bom) - Sempre é adjetivo (caracteriza um substantivo). - mau humor - bom humor. ê a - Pode ser: - Preposição (liga palavras) ê daqui a pouco. - Artigo ê quando acompanha um substantivo ê A garota. - Pronome oblíquo ê quando pode ser substituído por ela - Eu não a vi. - Pronome demonstrativo ê quando tem o mesmo valor de aquela - geralmente vem antes de um pronome relativo ê Essa bolsa não é a que eu vi. Essa bolsa não é aquela que eu vi. ê Há - Do verbo haver ê a) existir, ocorrer, acontecer. b)indica tempo passado. PARTE 13 A-) FIGURAS DE LINGUAGEM - recurso lingüístico para expressar de formas diferentes experiências comuns, conferindo originalidade, emotividade ou poeticidade ao discurso. São divididos em:

144 a) figuras de palavras; b) figuras de pensamento; c) figuras de construção ou sintaxe. a) Figuras de palavras: termo com sentido diferente daquele convencionalmente empregado, a fim de se conseguir um efeito mais expressivo: Metáfora: comparação abreviada (sem conectivos = conjunções), subjetiva.... o amor é fogo que arde sem doer... Comparação: ligado por termos comparativos explícitos: como, tal qual, que nem, etc. isso é como aquilo. Catacrese: pé da mesa, céu da boca Sinestesia: fusão harmônica de pelo menos dois dos cincos sentidos físicos: a doce música. Ou a fusão de sensações físicas e psicológicas: paixão luminosa. Antonomásia substituir um nome próprio por uma qualidade, atributo ou circunstância que individualiza o ser e natabiliza-o. O filósofo de Genebra (Calvino); O água de Haia (Rui Barbosa), o Aleijadinho esculpiu (Antônio Francisco Lisboa). Metonímia troca de palavras, sendo que uma sugere a palavra que foi omitida. Li Machado de Assis - A obra pelo todo. Bebi um Martini. Obs.: alguns autores chama de Sinédoque - parte pelo todo, singular pelo plural. A cidade inteira viu b) Figuras sonoras: Aliteração repetição do mesmo fonema consonantal, geralmente no início: vozes veladas, veludosas Assonância: repetição do mesmo fonema vocal: Sou Ana, da cama, da cana, fulana... Paranomásia: vocábulos semelhantes na forma ou na prosódia, mas diferente no sentido: Berro pelo aterro pelo desterro, berro por seu berro pelo seu erro... Onomatopéia: imitação de um ruído ou som: tic-tac, os ratos é que ruíam a paciência. Corrote, correte, era como se roessem qualquer coisa dentro de mim. ê são verbos onomatopaicos: cacarejar, tiquetaquear, miar, etc. c) Figuras de pensamento: Se referem ao significado das palavras, ao seu aspecto semântico. Antítese aproximação de palavras de sentidos opostos: quando um muro se separa, uma ponte se une Paradoxo Aproximação não apenas de palavras, mas de idéias que se contradizem: :É o dizer e o desdizer. O mito é o nada que é o tudo. Eufemismo expressão para atenuar, suavizar uma verdade tida como penosa ou desagradável. Gradação enumeração de idéias em ordem gradativa, visando um efeito de intensificação: dissecou-a, a tal ponto, e com tal arte que ela, rota, baça, nojenta, vil... Hipérbole exagero para chocar ou emocionar Ironia é o processo em que o autor diz o contrário do que pensa, com intenção sarcástica: A excelente dona de casa era mestra na arte de judiar de crianças. Prosopopéia ou Atribuir movimentos, ação, fala de seres animados a inanimados: O vento beija personificação Apóstrofe chamado: Ó mar, porque não apagas co a espuma de tuas vagas, de teu manto borrão? Perífrase: também chamada de circunlóquio, consiste na substituição de uma palavra por outras que se refiram à primeira: Flor do Lácio = Língua Portuguesa; rei da selva = leão; Cidade-luz = Paris ê extinção, espontâneo, consenso, contenção, prescinde, cansaço, ânsia. - mal educado - educado já é adjetivo, a palavra que acompanha o adjetivo é o advérbio (mal - de modo). - Figuras de Sintaxe: desvios em relação à concordância entre os termos da oração, ordens, repetição. * omissão: ê assíndeto (sem conjunções - separada por vírgula)

145 ê elipse (supressão de palavra facilmente subentendida - compareci ao Congresso (eu)). ê zeugma (omissão de palavras já expressas anteriormente) * repetição: ê anáfora (da mesma palavra - dentro do tempo...dentro do sol...dentro de nós); ê pleonasmo (repetição de idéia - literário dá ênfase; vicioso é errado) ê polissíndeto (repetição intencional de uma conjunção coordenativa mais do que exigido) * inversão: ê anástrofe ê hipérbato ou inversão (alteração da ordem direta - passeia, à tarde, as belas na avenida) ê sínquise - ê hipálage - inversão da posição do adjetivo - em cada olho um grito castanho de ódio (em cada olho castanho um grito de óedio) * ruptura: ê anacoluto - interrupção do plano sintático com que se inicia a frase: E o desgraçado, tremiam-lhe as pernas. Aquela mina de outro, ela não tinha nada. * Concordância ideológica: PARTE 14 ê silepse - a) gênero: não há concordância de gênero aquela criança, não é um estranho.. b) de pessoa: não há concordância de pessoa verbal com suj.: Na noite do dia seguinte, estávamos reunidos algumas pessoas ; de número: sem concordância de número verbal e suj. da oração: corria gente de todos os lados, e gritavam. A-) VERBOS: INDICATIVO (certeza) Ela corria na frente. INFINITIVO 1) Presente - falo 2) Pretérito: a) imperfeito: falava b) perfeito: falei c) + que perf.: falara 3) Futuro: a) do presente - falarei b) do pretérito - falaria 1) impessoal - falar 2) pessoal - (falar eu, falares tu...) SUBJUNTIVO (dúvida) talvez ela corra. FORMAS NOMINAIS: Gerúndio: falando Particípio: falado 1) Presente: (que eu)fale 2) pretérito imperfeito: (se eu) falasse 3) Futuro(se eu) falar - forma rizotônica: acento tônico no radial: Falo; - forma arrizotônica: acento fora do radical: falamos. * Verbo haver: no singular e 3ª pessoa = existir, acontecer, suceder, decorrer e fazer com referência ao tempo passado, quando pode ser substituído por fazia. - o verbo haver concorda com o pretérito imperfeito e não com o presente: Havia (e não há) meses; morávamos ali havia (e não há) dois anos. PARTE 15 A-) CONCORDÂNCIA VERBAL Concordância verbal é a concordância do verbo com o sujeito. 1) Concordância do verbo com o sujeito simples: a)sujeito for substantivo coletivo ê verbo ficará no singular: A torcida invadiu o campo e agrediu o juiz. Obs.: se o verbo estiver longe do sujeito pode ser plural: O grupo de estudantes gritavam (ou gritava)

146 b) sujeito for representado por nomes próprios de lugar ou títulos de obra precedidos de artigo no plural, verbo ficará no plural: Os Estados Unidos estão concedendo... (Obs.: silepse = palavra de origem grega ação de reunir tomar em conjunto, é um erro de concordância: ex. a) silepse de gênero ê Senhor presidente, Vossa Excelência é muito generoso, b) silepse de número: Esta equipe está muito bem fisicamente. Correm em campo e não perdem um lance de bola. - fui eu quem fez (ou fiz)/ - era uma das pessoas que mais desconfiavam (desconfiava) - qual de nós apitará o jogo?/ algum dentre vós é o culpado / mais de uma pessoa socorreu as vítimas. (se a expressão mais de um estiver associada a verbos com idéias de reciprocidade, o verbo ficará no plural: mais de um atleta se abraçaram(uns aos outros). - com suj. composto: Se o sujeito estiver anteposto ao verbo, este ficará no plural: O diretor e o secretário compareceram à reunião. Podem ser usados no singular quando der idéia de gradação: uma raiva, uma inveja, um ódio imenso tomou (ou tomaram) conta de seu coração. - quando forem sinônimos; quando forem formados por infinitivos: ler e praticar esportes faz bem.; porém se os infinitivos forem antônimos, o verbo só poderá ficar no plural. Amar e sofrer são próprios do ser humano. / resumidos por pronome indefinido com função de aposto: músicas, festas, tudo o aborrece. ê Se o sujeito estiver posposto (depois) ao verbo, este concordará com o núcleo mais próximo ou com todos, ficando no plural. Está (estão) em férias, o pai, a mãe e o filho. ê pessoas gramaticais diferentes, fica no plural concordando com a pessoa que prevalece: eu, tu, ele, ficaremos. / tu e ele sóis amigos. / tu e ele partistes (2ª) ou partiram (3ª). OU: * exclusão (fica no sing.) : João ou Pedro dirigirá. / * adição (no plural): cinema ou teatro agradamme. / * retificação (concordará com o verbo mais próximo): o pai ou os pais dela virão. * expressões um ou outro, nem um nem outro - sing.: Nem um nem outro rapaz tinha. - se o sujeito for um e outro - singular ou plural. - se o núcleo do suj. for ligado por com - plural: a mulher com as filhas entraram. - conjunções tanto... como, não só.. mas também. Plural. Tanto Emília como Eleonor saíram. ê Concordância do verbo ser - ora se faz com o sujeito, ora com o predicado. A) quando um dos dois for ser humano ou pronome pessoal, a concordância se fará com a pessoa gramatical: Renato era o jogador. - quando um dos dois for nome de coisa e tiverem números diferentes, o verbo concordará, de preferência com o que estiver no plural: Os livros são a minha paixão./ ou pode-se realçar: a vida é esperanças. - quando o sujeito for um dos pronomes: tudo, isso, isto, aquilo, o verbo concordará de preferência c/ o predicativo: Aquilo eram os restos do automóvel. ê quando o verbo ser constituir, junto com seu predicativo, as expressões é muito, é pouco, etc. ficará invariável: cinco quilos é muito. - VD ou VTD apassivados pelo pron. se concordam com o suj.: Discutiu-se o projeto. Vendem-se casas. * os demais (VI, VTI e VL) seguidos do pron. Se (índice de indeterminação do suj.), ficam na 3ª pess. Do sing., já que seu suj. é termo independente: precisa-se de serventes de pedreiro. ê Os verbos dar, bater e soar, na indicação de horas, concordam normalmente com o sujeito expresso nas horas: deu uma hora há pouco; bateram dez horas no relógio. Esses verbos podem ter outros sujeitos, com os quais devem então concordar: deu (bateu, soou) dez horas no relógio da matriz. ê Os verbos impessoais ficam na 3ª do sing. *exceto o verbo ser:

147 * fenômenos da natureza: relampejou a noite toda; * verbo haver no sentido de existir, acontecer: já houve duas discussões. ê verbos haver, fazer, estar, ir na indicação de tempo: há três dias não a vejo; faz dois anos que não saio; está frio hoje, vai em dois ou mais anos que eles não vêm. ê Na indicação de hora e distância, o verbo ser é impessoal, concorda com o predicativo: é uma hora, são três horas. É um quilômetro, são cinco quilômetros. - na indicação do dia do mês admite duas construções: é (dia) doze de junho; são doze (dias) de julho. nas locuções verbais os verbos impessoais transmitem sua impessoalidade para os auxiliares: está fazendo alguns dias. Ainda deve haver ingressos. é que - invariável: Nós é que arcamos... nas frases em que o verbo parecer segue-se um infinitivo, ocorrem dois tipos: Os exames parecem terminar/ os exames parece terminarem. - Hajam vista os quadros deste pintor./ - Haja vista os quadros deste pintor/ - Haja vista aos quadros deste pintor. palavra se: substantivo: sem arriscar um se.; conjunção subordinativa: se o tempo melhorar... - pronome apassivador: VTD ou VTDI. Ouviram-se pancadas no portão. - índice de ind. do suj. - VTI, VI e VL na 3ª pessoa do sing.: quando se é jovem. - pronome reflexivo (equivale a si mesmo - recíproco): sempre se maquilava. - parte integrante do verbo, faz parte da sua conjugação (pronominais): queixar-se. - partícula expletiva ou de realce: pode ser eliminada. Passaram-se os anos. Palavra que: substantivo (um que de pecado); pronome: pron. substantivo indefinido (equivale a que coisa - que aconteceu hoje?); pronome adjetivo indefinido (também chamado adj. Interrogativo) (determina o subst. e funciona como ADN - que livro vai ler?)/ pron. Relativo: quando apresenta um determinado antecedente e serve de elemento subordinante da oração subordinada adjetiva restritiva (ou explicativa) que inicia; funcionando como suj., Objeto, etc.: este é o livro que comprei ontem. - advérbio (quão) que longe é o sítio! / preposição (equivale a a ter, ligando dois verbos em locução, na qual o auxiliar é ter: Tenho que chegar cedo. / conjunções: coordenativa (aditivas, adj., e explic.); subordinadas. Comentário sobre a reforma ortográfica Profª Sônia Targa Alfabeto o Nova regra: O alfabeto é agora formado por 26 letras Regra antiga: O k, w e y não eram consideradas letras do nosso alfabeto. Como será: Essas letras serão usadas em siglas, símbolos, nomes próprios, palavras estrangeiras e seus derivados. Ex: km, watt, Byron, byroniano. Trema o Nova regra: Não existe mais trema em língua portuguesa. apenas em casos de nomes próprios e seus derivados, por exemplo: Muller, mülleriano. Regra antiga: Agüentar, conseqüência, cinqüenta, qüinqüênio, freqüência, freqüente, eloqüência, eloqüente, argüição, delinqüir, pingüim, tranqüilo, lingüiça. Como será: aguentar, consequencia, cinquenta, quinquênio, frequência, frequente, eloquência, eloquente, arguição, delinquir, pinguim, tranquilo, linguiça. Acentuação o Nova regra: Ditongos abertos (ei, oi) não são mais acentuados em palavras paroxítonas.

148 Regra antiga: Assembléia, platéia, idéia, colméia, boleia, panacéia, Coréia, hebréia, bóia, paranóia, jibóia, apóio, heróico, paranóico. Como será: assembleia, plateia, ideia, colmeia, boleia, panaceia, Coreia, hebreia, boia, paranoia, jiboia, apoio, heroico, paranoico. Obs: nos ditongos abertos de palavras oxítonas e monossílabas o acento continua: herói, constrói, dói, anéis, papéis. Obs 2: o acento no ditongo aberto eu continua: chapéu, véu, céu, ilhéu. o Nova regra: O hiato oo não é mais acentuado. Regra antiga: enjôo, vôo, corôo, perdôo, côo, môo, abençôo, povôo. Como será: enjoo, voo, coroo, perdoo, coo, moo, abençoo, povoo. O hiato: ee não é mais ecentuado. Regra antiga: crêem, dêem, lêem, vêem, descrêem, relêem, revêem. o Nova regra: creem, deem, leem, veem, descreem, releem, reveem. o Nova regra: não existe mais o acento diferencial em palavras homógrafas. Regra antiga: pára (verbo), péla (substantivo e verbo), pêlo (substantivo), pêra (substantivo), péra (substantivo), polo (substantivo). Como será: para (verbo), pela (substantivo e verbo), pelo (substantivo), pera (substantivo), pera (substantivo), polo (substantivo) Obs: o acento diferencial ainda permanece no verbo poder (3ª pessoa do pretérito perfeito do indicativo pôde ) e no verbo pôr para diferenciar da preposição por. o Nova regra: Não se acentua mais a letra u nas formas verbais rizotônicas, quando precedido de g ou q e antes de e e ou i (gue, que, gui, qui). Regra antiga: argúi, apazigúe, averigúe, enxagúe, enxagúemos, obliqúe. Como será: argui, apazigue, averigue, anxague, enxaguemos, oblique. o Nova regra: Não se acentua mais i e u tônicos em paroxítonas quando precedidos de ditongo. Regra antiga: baiúca, boiúna, cheiínho, saiínha, feiúra, feiúme. Como será: baiúca, boiuna, cheiinho, saiinha, feiura, feiume. Hífen: o Nova regra: O hífen não é mais utilizado em palavras formadas de prefixos (ou falsos prefixos) terminados em vogal + palavras iniciadas por r ou s, sendo que essas devem ser dobradas. Regra antiga: ante-sala, ante-sacristia, auto-retrato, anti-social, anti-rugas, arqui-romântico, arqui-rivalidade, auto-regulamentação, auto-sugestão, contra-senso, contra regra, contra senha, extra-regimento, extra-sístole, extra-seco, infra-som, ultra-sonografia, semi-real, semisintético, supra-renal, supra sensível. Como será: antessala, antessacristia, autoretrato, antissocial, antirrugas, aquirromântico, arquirrivalidade, autorregulamentação, contrassenha, extrarregimento, extrassístole, extrasseco, infressom, infrarrenal, ultrarromântico, ultrassonografia, suprarrenal, suprassencível. Obs: em prefixos terminados por r, permanece o hífen se a palavra seguinte for iniciada pela mesma letra: hiper-realista, hiper-requintado, hiper-requisitado, inter-racial, inter-regional, inter-relação, super-racional, super-realista, super-resistente etc. o Nova regra: O hífen não é mais utilizado em palavras formadas de prefixos (ou falsos prefixos) terminados em vogal + palavras iniciadas por outra vogal. Regra antiga: auto-afirmação, auto-ajuda, auto-aprendizagem, auto-escola, auto-estrada, autoinstrução, contra-exemplo, contra-indicação, contra-ordem, extra-escolar, extra-oficial, infraestrutura, intra-ocular, intra-uterino, neo-expressionista, neo-imperialista, semi-aberto, semiárido, semi-automático, semi-embriagado, semi-obscuridade, supra-ocular, ultra-elevado. Como será: autoafirmação, autoajuda, autoaprendizagem, eutoescola, autoestrada, autoinstrução, contraexemplo, contraindicação, contraordem, extraescolar, estraoficial, infraestrutura, intraocular, intrauterino, neoexpressionista, neoimerialista, semiaberto, semiárido, semiautomático, semiembriagado, semiobscuridade, supraocular, ultraelevado.

149 Obs: esta nova regra vai uniformizar algumas exceções já existentes antes: Antiaéreo, antiamericano, socioeconômico etc. Obs 2: esta regra se encaixa quando a palavra seguinte iniciar por h : anti-herói, anti-higiênico, extra-humano, semi-herbáceo etc. o Nova regra: Agora utiliza-se hífen quando a palavra é formada por um prefixo (ou falso prefixo) terminado em vogal + palavra iniciada pela mesma vogal. Regra antiga: antiibérico, antiinflamatório, antiinflacionário, antiimperialista, arquiinimigo, arquiirmandade, microondas, microônibus, microorgânico. Como será: anti-ibérico, anti-inflamatório, anti-inflacionário, anti-imperialista, arqui-inimigo, arqui-irmandade, micro-ondas, micro-ônibus, micro-orgânico. Obs: esta regra foi alterada por conta da regra anterior: prefixo termina com vogal + palavra inicia com vogal diferente = não tem hífen; prefixo termina com vogal + palavra inicia com mesma vogal = com hífen. Obs 2: uma exceção é o prefixo co. Mesmo se a outra palavra inicia-se com a vogal o, NÃO se utiliza hífen. o Nova regra: Não usamos mais hífen em compostos que, pelo uso, perdeu-se a noção de composição. Regra antiga: manda-chuva, pára-quedas, pára-quedista, pára-lama, pára-brisa, pára-choque, pára-vento. Como será: mandachuva, paraquedas, paraquedista, paralama, parabrisa, párachoque, paravento. Obs: o uso do hífen permanece em palavras compostas que não contêm elemento de ligação e constitui unidade sintagmática e semântica, mantendo o acento próprio, bem como naquelas que designam espécies botânicas e zoológicas: ano-luz, azul-escuro, médico-cirurgião, contagotas, guarda-chuva, segunda-feira, tenente-coronel, beija-flor, couve-flor, erva-doce, mal-mequer, bem-te-vi etc. Observações gerais O uso do hífen permanece: 1. Em palavras formadas por prefixos ex, vice, soto Ex: ex-marido, vice-presidente, soto-mestre. 2. Em palavras formadas por prefixos circum e pan + palavras iniciadas em vogal, M ou N. Ex: pan-americano, circum-navegação. 3. Em palavras formadas com prefixos pré, pró e pós + palavras que tem significado próprio Ex: pré-natal, pró-desarmamento, pós-graduação. 4. Em palavras formadas pelas palavras além, aquém, recém, sem. Ex: além-mar, além-fronteiras, aquém-oceano, recém-nascidos, recém-casados, sem-número, sem-teto. Não existe mais o hífen: Em locuções de qualquer tipo (substantivas, adjetivas, pronominais, verbais, adverbiais, prepositivas ou conjuncionais.) Ex: cão de guarda, fim de semana, café com leite, pão de mel, sala de jantar, cartão de visita, cor de vinho, à vontade, abaixo de, acerca de etc. Exceções: água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao-deusdará, à-queima-roupa. TESTE SEU CONHECIMENTO Reforma ortográfica da língua portuguesa Avalie se as palavras sublinhadas nas sentenças abaixo estão corretas, segundo as novas regras

150 ortográficas que entram em vigor em Depois de escolher entre as alternativas Certo ou Errado, você pode consultar a respectiva norma. Ao final, confira a sua pontuação. 1. A crise financeira dos EUA pode trazer conseqüências para o Brasil. Certo Errado 2. Quando ele para para pensar, desiste. Certo Errado 3. Livro de auto-ajuda permanece no topo da lista dos mais vendidos. Certo Errado 4. A sonda Phoenix realizou um pouso histórico no pólo Norte de Marte. Certo Errado 5. O consumo frequente de álcool durante a juventude causa danos ao cérebro. Certo Errado 6. A idéia do presidente é que todos os países se unam contra o aquecimento. Certo Errado 7. O empresário deve cumprir pena por roubo em regime semiaberto. Certo Errado 8. Avião permitirá que passageiros fumem durante o vôo. Certo Errado 9. O síndico marcou uma assembleia para decidir sobre a reforma do prédio. Certo Errado 10. Pesquisa revela que 97% dos brasileiros crêem em Deus. Certo Errado 11. A estréia de Katie Holmes foi marcada por protestos. Certo Errado 12. O coautor do estudo explicou que a descoberta ajuda no tratamento do câncer. Certo Errado 13. Os homens mais vaidosos já encontram no mercado tipos de creme antirrugas. Certo Errado 14. Ela perdeu tudo que estava dentro da caixa de joias. Certo Errado 15. Cerca de 5% da população mundial têm comportamento anti-social. Certo Errado

151 16. O ex-vereador participou da reunião extraoficial durante a madrugada. Certo Errado 17. No momento decisivo, ele recuou e desistiu de saltar de pára-quedas. Certo Errado 18. Eu apoio qualquer acordo entre os países. Certo Errado 19. Ele achou a nova estátua uma feiura. Certo Errado 20. Ela é a coherdeira da indústria da soja. Certo Errado Nós trabalhamos neste bimestre sobre Prefixo e Sufixo. Leia as informações a seguir sobre esse mesmo assunto, na nova ortografia. Prefixos Os prefixos hiper-, inter- e super- sempre serão separados por hífen quando o segundo elemento começar por h ou r: Hiper-requintado, inter-resistente, super-revista, inter-racial, super-homem, inter-relação Os prefixos circum- e pan- separam-se por hífen quando o segundo elemento começa por vogal, h, m ou n: Circum-escolar, circum-ambiente, circum-hospitalar, circum-murado, circum-navegação, panamericano, pan-helênico, pan-mágico, pan-negritude Quando os prefixos mal- e bem-: a) Mal- separa-se por hífen quando o segundo elemento começa por vogal ou h: mal-afortunado, mal-estar, mal-humorado b) Bem- separa-se quase sempre do segundo elemento por meio do hífen, não importando se o segundo elemento se inicia por vogal ou consoante (inclusive o h): bem-aventurado, bem-estar, bem-humorado, bem-criado, bem-ditoso, bem-falante, bem-nascido, bemfalante, bem-mandado, bem-soante, bem-visto, bem-vindo Hífen com sufixo Os sufixos de que trata o Acordo são aqueles de origem tupi-guarani, originariamente forma adjetivas: - açu, -guaçu, -mirim. Haverá hífen em vocábulos terminados por esses sufixos quando o primeiro elemento acabar em vogal acentuada graficamente ou quando a pronúncia exigir a distinção gráfica dos dois elementos. Amoré-guaçu, anajá-mirim, andá-açu, capim-açu, Ceará-Mirim.

152 Principais radicais gregos e latinos: Radicais gregos: acro (alto, elevado = acrobata, acrópole, acrofobia); aer, aero (ar = aeronave, aeronauta); agogo (o que conduz = pedagogo, demagogo); agro (campo = agronomia, agrônomo); alg, algia (dor, sofrimento = analgésico, nevralgia); andro (homem, macho = andrógino, androfobia); anemo (vento = anemógrafo, anemômetro); antropo (ser humano = antropocentrismo, antropofagia); arcai, arqueo (antigo, velho = arcaísmo, arqueologia); aristo (ótimo, o melhor = aristocracia, aristocrata); aritmo (número = aritmética, aritmologia); arquia (governo = monarquia, anarquia); asteno, astenia (fraqueza, debilidade = astenopia, neurastenia); astro (corpo celeste = astronomia, astrodinâmica); atmo (gás, vapor = atmosfera, atmômetro); baro (pressão, peso = barômetro, barítono ); bata (o que anda = acrobata, nefelibata ); biblio (livro = biblioteca, bibliotecário); bio (vida = biologia, biografia); caco (feio, mau = cacofonia, cacoépia); cali (belo = caligrafia, calidoscópio); cardio (coração = cardíaco, cardiograma); cefalo (cabeça = acefalia, cefaléia); ciclo (círculo = ciclometria, bicicleta, triciclo); cine, cinesi (movimento = cinética, cinesalgia); cito (célula = citologia, citoplasma); cosmo (mundo, universo = cosmovisão, macrocosmo); cracia (poder, autoridade = gerontocracia, tecnocracia); cromo (cor = cromogravura, cromógeno); crono (tempo = cronômetro, cronograma); datilo (dedo = datilografia, datiloscopia); deca (dez = decâmetro, decalitro); demo (povo = democracia, demográfico); derma (pele = dermatologista, dermite); di (dois = dissílabo, ditongo); dinamo (força, potência = dinamite, dinamismo); doxo (crença, opinião = ortodoxo, paradoxo); dromo (corrida = autódromo, hipódromo); eco (casa, domicílio, habitat = ecologia, ecônomo, ecossistema); edro (base, face = poliedro, pentaedro); ergo (trabalho = ergofobia, ergógrafo); esperma, espermato (semente = espermatologia, espermatozóide); etio, etimo (origem = etiologia, etimologia); etno (raça, nação = etnia, etnocentrismo); fago (que come ou aquele que come = antropófago, necrófago); filo (amigo, amante = fílósofo, filantropo); fisio (natureza física ou moral = fisiologia, fisionomia, fisioterapia); fobo (aversão = claustrofobia, xenofobia); fono (som, voz = fonógrafo, fonoteca); fos, foto (luz = fosfeno, fotografia); gamo (casamento = gamomania, monogamia); gastro (estômago = gastronomia, gástrico); gene (origem = gênese, genética);

153 geo (terra = geografia, geóide); gine, gineco (mulher = andrógino, ginecocracia); gono, gonio (ângulo = polígono, goniômetro); grafia (escrita = ortografia, caligrafia); helio (sol = heliocentrismo, heliografia); hemo (sangue = hemorragia, hemograma); hepato (fígado = hepatite, hepático); hetero (outro, diferente = heterossexual, heterogêneo); hidro (água = hidrografia, hidrófilo); higro (umidade = higrômetro, higrófilo); hipno (sono = hipnose, hipnotismo); hipo (cavalo = hipódromo, hipopótamo); homeo, homo (semelhante = homeopatia, homossexual); icon, icono (imagem = iconoclasta, iconografia); ictio (peixe = ictiofagia, ictiologia); iso (igual = isóbaro, isósceles); latria (culto = idolatria, alcoólatra); lito (pedra = litografia, aerólito); log, logia (estudo = ginecologia, astrologia); macro (grande = macrocosmo, macrobiótica); mancia (adivinhação = quiromancia, cartomancia); mani, mania (loucura = manicômio, cleptomania); mega, megalo (grande = megalomaníaco, megalocefalia); meso (meio = Mesopotâmia, mesóclise); metro (que mede, medição = barômetro, termômetro); micro (pequeno = microcosmo, microfone); miso (ódio, aversão = misantropia, misossofia); mito (fábula = mitologia, mitomania); mnemo (memória = amnésia, mnemônico); mono (único, sozinho = monarquia, monobloco); morfo (forma = zoomórfico, amorfo, morfologia); necro (morte, cadáver = necrotério, necrofilia); neo (novo, moderno = neologismo, neolatino); neuro (nervo = neurite, neuralgia); nomo (regra, lei = nomologia, agrônomo); odonto (dente = odontologia, odontalgia); oftalmo (olho = oftalmologista, oftalmia); oligo (pouco = oligarquia, oligopólio); onimo (nome = ortônimo, sinônimo); onir, oniro (sonho = onírico, oniromancia); ornito (ave = ornitologia, ornitofilia); orto (reto, correto = ortônimo, ortografia); oxi (agudo, ácido = oxítona, oxidação); paleo (antigo = paleografia, paleontologia); pato (doença, sofrimento = patologia, patogenia); pedia (educação = ortopedia, pediatria); pole, polis (cidade = metrópole, acrópole, Florianópolis); poli (muito = poligamia, polígono, politeísmo); potamo (rio = Mesopotâmia, hipopótamo); pneumato (ar, gás, espírito = pneumatologia, pneumatólise); pneum(o) (pulmão = pneumonia, pneumotórax); proto (primeiro = protozoário, protótipo); pseudo (falso = pseudônimo); psico (alma, espírito = psicologia, psiquiatria);

154 quiro ( mão = quiromancia); rino (nariz = rinite, rinoceronte); rizo (raiz = rizotônico, rizófago); scopio (o que faz ver = telescópio, microscopia); sema, semio (sinal = semáforo, semiótica); sidero (ferro, aço = siderurgia, siderografia); sismo (terremoto = sísmico, sismógrafo); sofo (sábio = filosofia, sofomaníaco); soma, somo, somato (corpo, matéria = cromossomo, somatologia); stico (linha, verso = dístico, hemistíquio); tanato (morte = eutanásia, tanatofobia); taqui (rápido = taquicardia, taquigrafia); teca (coleção = fonoteca, filmoteca, discoteca); tecno (arte, ofício = tecnologia, tecnocracia); tele (ao longe, distância = telefone, telescópio, telégrafo); teo (deus, divindade = teocentrismo, teocracia); termo (calor, temperatura = termômetro, térmico, termostato); topo (lugar, localidade = topografia, topônimo); xeno (estranho = xenofobia, xenofilia); xer, xero (seco, secura = xerófilo, xerografia); xilo (madeira = xilogravura, xilófago); zoo (animal = zoologia, zoomorfo). Radicais latinos: agri (campo = agricultura, agrícola); ambi (ambos = ambivalência, ambidestro, ambíguo); ambulo (caminhar, andar = sonâmbulo, noctâmbulo); animi (alma = animicida, anímico); arbori (árvore = arborícola, arboriforme, arboricultura); beli (guerra = bélico, belicista, beligerante); bi, bis (repetição, duas vezes = bisavô, bilíngüe, bissexual); calori (calor = caloria, calorífero); cida (que mata = vermicida, inseticida); cola (que habita, que cultiva = vinícola, citrícola); cole, colo (pescoço = colar, colarinho); color (cor, coloração = colorífico, quadricolor); cordi (coração = cordial); corn(i) (chifre, antena = cornear, cornudo, cornucópia); crimino (crime = criminoso, criminologia); cruci (cruz = crucificado); cultura (ato de cultivar = suinocultura, piscicultura); cupr(i) (cobre = cúprico, cuprífero); curvi (curvo = curvilíneo); deci (décimo = decímetro, decigrama); digit(i) (dedo = digitador, digitação); dui (dois = duidade, duelo); ego (eu = egocentrismo, egoísmo); equi (igual = equivalência, eqüidistante); estil(i) (estilo = estilista, estilismo); estrato (coberta, camada = estratosfera, estrato); evo (idade = longevidade, longevo, medievo); fero (que contém = mamífero, carbonífero); ferr(i), ferro (ferro = ferrovia, ferrífero, ferrugem); fico (que faz, que produz = benéfico, maléfico, frigorífico); fide (fé = fidelidade, fidedigno); fili (filho = filiação, filial);

155 forme (forma = uniforme, disforme, cordiforme); frater (irmão = fraterno, fratricida); frig(i) (frio = frigidez, frigorífico); fugo (que foge = centrífugo, vermífugo); genito (relativo a geração = genitor); gradu (grau, passo = centígrado, graduação); herbi (erva = herbívoro, herbicida); homin(i) (homem = hominal, homicídio); igni (fogo = ignição, ígneo); lati (largo, amplo = latifúndio, latofólio); loquo (que fala = ventríloquo, altíloquo); luc(i) (luz = lucidez, lúcido); mini (muito pequeno = minissaia, mínimo); multi (numeroso = multissecular, multiangular); ocul(i) (olho = oculista, oculiforme); odori (odor, cheiro = odorífero, desodorante); oni (tudo, todo = onipresente, onisciente); pani (pão = panificadora); pari (igual = paridade, paritário); ped(i), pede (pé = pedestre, pedicuro, bípede); personal(i) (pessoal = personalidade, personificar); petr(i) (pedra = petrificar, petróleo); pisci (peixe = piscicultura, pisciano); plani (plano = planisfério, planície); pluri (muitos = pluralizar, pluricelular); pluvio (chuva = pluviômetro, pluviosidade); popul(o) (povo = populoso, populismo); primi (primeiro = primogênito, primícias); quadr(i), quadru (quatro = quadrangular, quadrúpede, quadricular); radic(i) (raiz = radicar, radiciação); reti (reto, direito = retificar, retilíneo); reti (rede = reticulado, retiforme); retro (movimento para trás = retroceder, retroagir); sabat(i) (sábado = sabatina, sabatismo); sacar(i) (açúcar = sacarífero, sacarose, sacarina); sesqui (um e meio = sesquicentenário, sesquipedal); sexi, sexo (sexo = sexologia, assexuado); sideri (astro = sideral, sidério); silvi (selva = silvícola, silvicultura); sino (da China = sinologia, sino-brasileiro); socio (sociedade = sociologia, sociolingüística); sono (som, ruído = sônico, sonoplastia); sudor(i) (suor = sudoríparo, sudoral); telur(i) (terra, solo = telúrico, telurismo); toni (tom, vigor = tônico, tonificar); toxico (veneno = toxicomania, toxina); triti (trigo = triticultura, triticultor); veloci (veloz = velocípede, velocímetro); vermi (verme = vermífugo, vermicida); vin(i) (vinho = vinicultura, vinícola); vitri (vidro = vitrina, vitrificar, vitral); voto (que quer, que deseja = malévolo, benévolo); voro (que devora = carnívoro, herbívoro). retroceder, retroagir;

156 sabatina, sabalismo; saçarífero, Sílcarose; sacarina sesquicenlenário; se-squipedal sexülogía, assexuado sideral; sidério silvícola, silvicultura sinologia; sino-brasileiro sociologia, soeíoíingílísüca sônico; sonoplastía sudoríparo, sudoral telúrico. As luzes se apagaram, e todos seguraram firme no balde de pipocas; o filme ia começar. Mas não começou! E continuou escuro... Lá na frente, um pessoal ficou chateado, e abriu bem a boca para dizer: - Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa... Aí todos fizeram biquinho e deram uma grande vaia: - Uuuuuuuuuuuuuuuuuuu... Tomás Nota começou a ficar irritado com as pessoas do cinema. - Que droga! Vocês só sabem usar vogais? Existem consoantes também! Realmente, o simpático bloquinho de notas está certo. Mas ele não sabe de uma coisa: além de consoantes e vogais, existem as semivogais. Os fonemas podem ser classificados em vogais, semivogais e consoantes. Você não sabe o que é fonema? Os fonemas são os sons que formam as palavras. A gente escreve com letras, mas fala com fonemas. Por exemplo, para falar uma vogal ou uma semivogal, deixamos o ar sair livremente pela boca. Você quer experimentar pra ver como é? Então, prepare-se! Tudo pronto para começar a experiência? Então abra bem a boca: EXPERIMENTO ALFA: a e i o u... Perceba agora a diferença entre vogais e semivogais.

O céu. Aquela semana tinha sido uma trabalheira! www.interaulaclube.com.br

O céu. Aquela semana tinha sido uma trabalheira! www.interaulaclube.com.br A U A UL LA O céu Atenção Aquela semana tinha sido uma trabalheira! Na gráfica em que Júlio ganhava a vida como encadernador, as coisas iam bem e nunca faltava serviço. Ele gostava do trabalho, mas ficava

Leia mais

DANIEL EM BABILÔNIA Lição 69. 1. Objetivos: Ensinar que devemos cuidar de nossos corpos e recusar coisas que podem prejudicar nossos corpos

DANIEL EM BABILÔNIA Lição 69. 1. Objetivos: Ensinar que devemos cuidar de nossos corpos e recusar coisas que podem prejudicar nossos corpos DANIEL EM BABILÔNIA Lição 69 1 1. Objetivos: Ensinar que devemos cuidar de nossos corpos e recusar coisas que podem prejudicar nossos corpos 2. Lição Bíblica: Daniel 1-2 (Base bíblica para a história e

Leia mais

Manoel de Barros Menino do mato

Manoel de Barros Menino do mato Manoel de Barros Menino do mato [ 3 ] SUMÁRIO Menino do mato 7 Caderno de aprendiz 23 [ 5 ] Primeira parte MENINO DO MATO O homem seria metafisicamente grande se a criança fosse seu mestre. SÖREN KIERKEGAARD

Leia mais

TIPOS DE RELACIONAMENTOS

TIPOS DE RELACIONAMENTOS 68 Décima-Segunda Lição CONSTRUINDO RELACIONAMENTOS DE QUALIDADE Quando falamos de relacionamentos, certamente estamos falando da inter-relação de duas ou mais pessoas. Há muitas possibilidades de relacionamentos,

Leia mais

O menino e o pássaro. Rosângela Trajano. Era uma vez um menino que criava um pássaro. Todos os dias ele colocava

O menino e o pássaro. Rosângela Trajano. Era uma vez um menino que criava um pássaro. Todos os dias ele colocava O menino e o pássaro Era uma vez um menino que criava um pássaro. Todos os dias ele colocava comida, água e limpava a gaiola do pássaro. O menino esperava o pássaro cantar enquanto contava histórias para

Leia mais

Desafio para a família

Desafio para a família Desafio para a família Família é ideia de Deus, geradora de personalidade, melhor lugar para a formação do caráter, da ética, da moral e da espiritualidade. O sonho de Deus para a família é que seja um

Leia mais

Sugestão de avaliação

Sugestão de avaliação Sugestão de avaliação 6 PORTUGUÊS Professor, esta sugestão de avaliação corresponde ao segundo bimestre escolar ou às Unidades 3 e 4 do livro do Aluno. Avaliação - Língua Portuguesa NOME: TURMA: escola:

Leia mais

MALDITO. de Kelly Furlanetto Soares. Peça escritadurante a Oficina Regular do Núcleo de Dramaturgia SESI PR.Teatro Guaíra, no ano de 2012.

MALDITO. de Kelly Furlanetto Soares. Peça escritadurante a Oficina Regular do Núcleo de Dramaturgia SESI PR.Teatro Guaíra, no ano de 2012. MALDITO de Kelly Furlanetto Soares Peça escritadurante a Oficina Regular do Núcleo de Dramaturgia SESI PR.Teatro Guaíra, no ano de 2012. 1 Em uma praça ao lado de uma universidade está sentado um pai a

Leia mais

RECUPERAÇÃO DE IMAGEM

RECUPERAÇÃO DE IMAGEM RECUPERAÇÃO DE IMAGEM Quero que saibam que os dias que se seguiram não foram fáceis para mim. Porém, quando tornei a sair consciente, expus ao professor tudo o que estava acontecendo comigo, e como eu

Leia mais

4 o ano Ensino Fundamental Data: / / Atividades de Língua Portuguesa Nome:

4 o ano Ensino Fundamental Data: / / Atividades de Língua Portuguesa Nome: 4 o ano Ensino Fundamental Data: / / Atividades de Língua Portuguesa Nome: Olá, amiguinho! Já estamos todos encantados com a sua presença aqui no 4 o ano. Vamos, agora, ler uma história e aprender um pouco

Leia mais

ALEGRIA ALEGRIA:... TATY:...

ALEGRIA ALEGRIA:... TATY:... ALEGRIA PERSONAGENS: Duas amigas entre idades adolescentes. ALEGRIA:... TATY:... Peça infanto-juvenil, em um só ato com quatro personagens sendo as mesmas atrizes, mostrando a vida de duas meninas, no

Leia mais

Transcriça o da Entrevista

Transcriça o da Entrevista Transcriça o da Entrevista Entrevistadora: Valéria de Assumpção Silva Entrevistada: Ex praticante Clarice Local: Núcleo de Arte Grécia Data: 08.10.2013 Horário: 14h Duração da entrevista: 1h COR PRETA

Leia mais

A.C. Ilustrações jordana germano

A.C. Ilustrações jordana germano A.C. Ilustrações jordana germano 2013, O autor 2013, Instituto Elo Projeto gráfico, capa, ilustração e diagramação: Jordana Germano C736 Quero-porque-quero!! Autor: Alexandre Compart. Belo Horizonte: Instituto

Leia mais

Como conseguir um Marido Cristão Em doze lições

Como conseguir um Marido Cristão Em doze lições Como conseguir um Marido Cristão Em doze lições O. T. Brito Pág. 2 Dedicado a: Minha filha única Luciana, Meus três filhos Ricardo, Fernando, Gabriel e minha esposa Lúcia. Pág. 3 Índice 1 é o casamento

Leia mais

Estórias de Iracema. Maria Helena Magalhães. Ilustrações de Veridiana Magalhães

Estórias de Iracema. Maria Helena Magalhães. Ilustrações de Veridiana Magalhães Estórias de Iracema Maria Helena Magalhães Ilustrações de Veridiana Magalhães 2 Era domingo e o céu estava mais azul que o azul mais azul que se pode imaginar. O sol de maio deixava o dia ainda mais bonito

Leia mais

Os dois foram entrando e ROSE foi contando mais um pouco da história e EDUARDO anotando tudo no caderno.

Os dois foram entrando e ROSE foi contando mais um pouco da história e EDUARDO anotando tudo no caderno. Meu lugar,minha história. Cena 01- Exterior- Na rua /Dia Eduardo desce do ônibus com sua mala. Vai em direção a Rose que está parada. Olá, meu nome é Rose sou a guia o ajudara no seu projeto de história.

Leia mais

Convite. Poesia é brincar com palavras como se brinca com bola, papagaio, pião. Só que bola, papagaio, pião de tanto brincar se gastam.

Convite. Poesia é brincar com palavras como se brinca com bola, papagaio, pião. Só que bola, papagaio, pião de tanto brincar se gastam. Convite Poesia é brincar com palavras como se brinca com bola, papagaio, pião. Só que bola, papagaio, pião de tanto brincar se gastam. As palavras não: quanto mais se brinca com elas mais novas ficam.

Leia mais

PERDOAR E PEDIR PERDÃO, UM GRANDE DESAFIO. Fome e Sede

PERDOAR E PEDIR PERDÃO, UM GRANDE DESAFIO. Fome e Sede PERDOAR E PEDIR PERDÃO, UM GRANDE DESAFIO HISTÓRIA BÍBLICA: Mateus 18:23-34 Nesta lição, as crianças vão ouvir a Parábola do Servo Que Não Perdoou. Certo rei reuniu todas as pessoas que lhe deviam dinheiro.

Leia mais

UMA ESPOSA PARA ISAQUE Lição 12

UMA ESPOSA PARA ISAQUE Lição 12 UMA ESPOSA PARA ISAQUE Lição 12 1 1. Objetivos: Ensinar que Eliézer orou pela direção de Deus a favor de Isaque. Ensinar a importância de pedir diariamente a ajuda de Deus. 2. Lição Bíblica: Gênesis 2

Leia mais

Dia 4. Criado para ser eterno

Dia 4. Criado para ser eterno Dia 4 Criado para ser eterno Deus tem [...] plantado a eternidade no coração humano. Eclesiastes 3.11; NLT Deus certamente não teria criado um ser como o homem para existir somente por um dia! Não, não...

Leia mais

SAMUEL, O PROFETA Lição 54. 1. Objetivos: Ensinar que Deus quer que nós falemos a verdade, mesmo quando não é fácil.

SAMUEL, O PROFETA Lição 54. 1. Objetivos: Ensinar que Deus quer que nós falemos a verdade, mesmo quando não é fácil. SAMUEL, O PROFETA Lição 54 1 1. Objetivos: Ensinar que Deus quer que nós falemos a verdade, mesmo quando não é fácil. 2. Lição Bíblica: 1 Samuel 1 a 3 (Base bíblica para a história o professor) Versículo

Leia mais

Entrevistado por Maria Augusta Silva. Entrevista realizada na ocasião em que recebeu o Prémio Nacional de Ilustração.

Entrevistado por Maria Augusta Silva. Entrevista realizada na ocasião em que recebeu o Prémio Nacional de Ilustração. ANDRÉ LETRIA Entrevistado por Maria Augusta Silva Entrevista realizada na ocasião em que recebeu o Prémio Nacional de Ilustração. Um traço sinónimo de qualidade. Desenho e cor para a infância. Aos 26 anos

Leia mais

PREGAÇÃO DO DIA 08 DE MARÇO DE 2014 TEMA: JESUS LANÇA SEU OLHAR SOBRE NÓS PASSAGEM BASE: LUCAS 22:61-62

PREGAÇÃO DO DIA 08 DE MARÇO DE 2014 TEMA: JESUS LANÇA SEU OLHAR SOBRE NÓS PASSAGEM BASE: LUCAS 22:61-62 PREGAÇÃO DO DIA 08 DE MARÇO DE 2014 TEMA: JESUS LANÇA SEU OLHAR SOBRE NÓS PASSAGEM BASE: LUCAS 22:61-62 E, virando- se o Senhor, olhou para Pedro, e Pedro lembrou- se da palavra do Senhor, como lhe havia

Leia mais

Você foi criado para tornar-se semelhante a Cristo

Você foi criado para tornar-se semelhante a Cristo 4ª Semana Você foi criado para tornar-se semelhante a Cristo I- CONECTAR: Inicie o encontro com dinâmicas que possam ajudar as pessoas a se conhecer e se descontrair para o tempo que terão juntas. Quando

Leia mais

A PROSA ROMÂNTICA BRASILEIRA

A PROSA ROMÂNTICA BRASILEIRA A PROSA ROMÂNTICA BRASILEIRA Introdução A ficção no Brasil: romances, contos e novelas aparecem na literatura brasileira no período romântico. Folhetins (romances publicados semanalmente em jornais ou

Leia mais

A origem dos filósofos e suas filosofias

A origem dos filósofos e suas filosofias A Grécia e o nascimento da filosofia A origem dos filósofos e suas filosofias Você certamente já ouviu falar de algo chamado Filosofia. Talvez conheça alguém com fama de filósofo, ou quem sabe a expressão

Leia mais

Era uma vez, numa cidade muito distante, um plantador chamado Pedro. Ele

Era uma vez, numa cidade muito distante, um plantador chamado Pedro. Ele O Plantador e as Sementes Era uma vez, numa cidade muito distante, um plantador chamado Pedro. Ele sabia plantar de tudo: plantava árvores frutíferas, plantava flores, plantava legumes... ele plantava

Leia mais

Palavras do autor. Escrever para jovens é uma grande alegria e, por que não dizer, uma gostosa aventura.

Palavras do autor. Escrever para jovens é uma grande alegria e, por que não dizer, uma gostosa aventura. Palavras do autor Escrever para jovens é uma grande alegria e, por que não dizer, uma gostosa aventura. Durante três anos, tornei-me um leitor voraz de histórias juvenis da literatura nacional, mergulhei

Leia mais

A formação moral de um povo

A formação moral de um povo É um grande desafio evangelizar crianças nos dias de hoje. Somos a primeira geração que irá dizer aos pais e evangelizadores como evangelizar os pequeninos conectados. Houve um tempo em que nos colocávamos

Leia mais

Quem tem medo da Fada Azul?

Quem tem medo da Fada Azul? Quem tem medo da Fada Azul? Lino de Albergaria Quem tem medo da Fada Azul? Ilustrações de Andréa Vilela 1ª Edição POD Petrópolis KBR 2015 Edição de Texto Noga Sklar Ilustrações Andréa Vilela Capa KBR

Leia mais

ENTRE FERAS CAPÍTULO 16 NOVELA DE: RÔMULO GUILHERME ESCRITA POR: RÔMULO GUILHERME

ENTRE FERAS CAPÍTULO 16 NOVELA DE: RÔMULO GUILHERME ESCRITA POR: RÔMULO GUILHERME ENTRE FERAS CAPÍTULO 16 NOVELA DE: RÔMULO GUILHERME ESCRITA POR: RÔMULO GUILHERME CENA 1. HOSPITAL. QUARTO DE. INTERIOR. NOITE Fernanda está dormindo. Seus pulsos estão enfaixados. Uma enfermeira entra,

Leia mais

LIÇÕES DE VIDA. Minha mãe Uma mulher fascinante Guerreira incessante Gerou sete filhos Em tentativa pujante De vencer as dificuldades com amor!

LIÇÕES DE VIDA. Minha mãe Uma mulher fascinante Guerreira incessante Gerou sete filhos Em tentativa pujante De vencer as dificuldades com amor! LIÇÕES DE VIDA Regilene Rodrigues Fui uma menina sem riquezas materiais Filha de pai alcoólatra e mãe guerreira. Do meu pai não sei quase nada, Algumas tristezas pela ignorância e covardia Que o venciam

Leia mais

AS VIAGENS ESPETACULARES DE PAULO

AS VIAGENS ESPETACULARES DE PAULO Bíblia para crianças apresenta AS VIAGENS ESPETACULARES DE PAULO Escrito por: Edward Hughes Ilustradopor:Janie Forest Adaptado por: Ruth Klassen O texto bíblico desta história é extraído ou adaptado da

Leia mais

18/11/2005. Discurso do Presidente da República

18/11/2005. Discurso do Presidente da República Discurso do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na cerimônia de entrega de certificado para os primeiros participantes do programa Escolas-Irmãs Palácio do Planalto, 18 de novembro de 2005

Leia mais

este ano está igualzinho ao ano passado! viu? eu não falei pra você? o quê? foi você que jogou esta bola de neve em mim?

este ano está igualzinho ao ano passado! viu? eu não falei pra você? o quê? foi você que jogou esta bola de neve em mim? viu? eu não falei pra você? o quê? este ano está igualzinho ao ano passado! foi você que jogou esta bola de neve em mim? puxa, acho que não... essa não está parecendo uma das minhas... eu costumo comprimir

Leia mais

Acorda, seu Zé Preguiça, hoje é domingo. Dia do Senhor. A sua mãe tá passando a roupa que você separou ontem, e o seu café já está pronto, só

Acorda, seu Zé Preguiça, hoje é domingo. Dia do Senhor. A sua mãe tá passando a roupa que você separou ontem, e o seu café já está pronto, só Acorda, seu Zé Preguiça, hoje é domingo. Dia do Senhor. A sua mãe tá passando a roupa que você separou ontem, e o seu café já está pronto, só esperando a sua boa vontade. Felipe tentou voltar a dormir,

Leia mais

MÓDULO 5 O SENSO COMUM

MÓDULO 5 O SENSO COMUM MÓDULO 5 O SENSO COMUM Uma das principais metas de alguém que quer escrever boas redações é fugir do senso comum. Basicamente, o senso comum é um julgamento feito com base em ideias simples, ingênuas e,

Leia mais

Centro Educacional Souza Amorim Jardim Escola Gente Sabida Sistema de Ensino PH Vila da Penha. Ensino Fundamental

Centro Educacional Souza Amorim Jardim Escola Gente Sabida Sistema de Ensino PH Vila da Penha. Ensino Fundamental Centro Educacional Souza Amorim Jardim Escola Gente Sabida Sistema de Ensino PH Vila da Penha Ensino Fundamental Turma: PROJETO INTERPRETA AÇÂO (INTERPRETAÇÃO) Nome do (a) Aluno (a): Professor (a): DISCIPLINA:

Leia mais

1º Domingo de Agosto Primeiros Passos 02/08/2015

1º Domingo de Agosto Primeiros Passos 02/08/2015 1º Domingo de Agosto Primeiros Passos 02/08/2015 JESUS ESTÁ COMIGO QUANDO SOU DESAFIADO A CRESCER! OBJETIVO - Saber que sempre que são desafiados a crescer ou assumir responsabilidades, Jesus está com

Leia mais

Para gostar de pensar

Para gostar de pensar Rosângela Trajano Para gostar de pensar Volume III - 3º ano Para gostar de pensar (Filosofia para crianças) Volume III 3º ano Para gostar de pensar Filosofia para crianças Volume III 3º ano Projeto editorial

Leia mais

O PASTOR AMOROSO. Alberto Caeiro. Fernando Pessoa

O PASTOR AMOROSO. Alberto Caeiro. Fernando Pessoa O PASTOR AMOROSO Alberto Caeiro Fernando Pessoa Este texto foi digitado por Eduardo Lopes de Oliveira e Silva, no Rio de Janeiro, em maio de 2006. Manteve-se a ortografia vigente em Portugal. 2 SUMÁRIO

Leia mais

Entrevista exclusiva concedida pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ao SBT

Entrevista exclusiva concedida pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ao SBT Entrevista exclusiva concedida pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ao SBT Brasília-DF, 30 de outubro de 2006 Jornalista Ana Paula Padrão: Então vamos às perguntas, agora ao vivo, com

Leia mais

Mostra Cultural 2015

Mostra Cultural 2015 Mostra Cultural 2015 Colégio Marista João Paulo II Eu e as redes sociais #embuscadealgumascurtidas Uma reflexão sobre a legitimação do eu através das redes sociais. Iago Faria e Julio César V. Autores:

Leia mais

Área - Relações Interpessoais

Área - Relações Interpessoais Área - Relações Interpessoais Eu e os Outros ACTIVIDADE 1 Dar e Receber um Não. Dar e Receber um Sim. Tempo Previsível 60 a 90 m COMO FAZER? 1. Propor ao grupo a realização de situações de role play, em

Leia mais

o coração ruge como um leão diante do que nos fizeram.

o coração ruge como um leão diante do que nos fizeram. um o coração ruge como um leão diante do que nos fizeram. 11 pois eles tinham coisas para dizer os canários estavam lá, e o limoeiro e a mulher velha com verrugas; e eu estava lá, uma criança e eu tocava

Leia mais

Luís Norberto Pascoal

Luís Norberto Pascoal Viver com felicidade é sucesso com harmonia e humildade. Luís Norberto Pascoal Agradecemos aos parceiros que investem em nosso projeto. ISBN 978-85-7694-131-6 9 788576 941316 Era uma vez um pássaro que

Leia mais

Em algum lugar de mim

Em algum lugar de mim Em algum lugar de mim (Drama em ato único) Autor: Mailson Soares A - Eu vi um homem... C - Homem? Que homem? A - Um viajante... C - Ele te viu? A - Não, ia muito longe! B - Do que vocês estão falando?

Leia mais

Eclipse e outros fenômenos

Eclipse e outros fenômenos Eclipse e outros fenômenos Oficina de CNII/EF Presencial e EAD Todos os dias vários fenômenos ocorrem ao nosso redor, muito próximo de nós. Alguns são tão corriqueiros que nem percebemos sua ocorrência.

Leia mais

Reflexões e atividades sobre Ação Social para culto infantil

Reflexões e atividades sobre Ação Social para culto infantil Reflexões e atividades sobre Ação Social para culto infantil Apresentaremos 4 lições, que mostram algum personagem Bíblico, onde as ações praticadas ao longo de sua trajetória abençoaram a vida de muitas

Leia mais

POR QUE SONHAR SE NÃO PARA REALIZAR?

POR QUE SONHAR SE NÃO PARA REALIZAR? POR QUE SONHAR SE NÃO PARA REALIZAR? Como Encontrar a Verdadeira Felicidade Rosanne Martins Introdução Este livro foi escrito com o intuito de inspirar o leitor a seguir o sonho que traz em seu coração.

Leia mais

12/02/2010. Presidência da República Secretaria de Imprensa Discurso do Presidente da República

12/02/2010. Presidência da República Secretaria de Imprensa Discurso do Presidente da República , Luiz Inácio Lula da Silva, na cerimônia de inauguração da Escola Municipal Jornalista Jaime Câmara e alusiva à visita às unidades habitacionais do PAC - Pró-Moradia no Jardim do Cerrado e Jardim Mundo

Leia mais

Os Quatro Tipos de Solos - Coração

Os Quatro Tipos de Solos - Coração Os Quatro Tipos de Solos - Coração Craig Hill Marcos 4:2-8 Jesus usava parábolas para ensinar muitas coisas. Ele dizia: 3 Escutem! Certo homem saiu para semear. 4 E, quando estava espalhando as sementes,

Leia mais

Marcelo Ferrari. 1 f i c i n a. 1ª edição - 1 de agosto de 2015. w w w. 1 f i c i n a. c o m. b r

Marcelo Ferrari. 1 f i c i n a. 1ª edição - 1 de agosto de 2015. w w w. 1 f i c i n a. c o m. b r EUSPELHO Marcelo Ferrari 1 f i c i n a 1ª edição - 1 de agosto de 2015 w w w. 1 f i c i n a. c o m. b r EUSPELHO Este livro explica como você pode usar sua realidade para obter autoconhecimento. Boa leitura!

Leia mais

meu jeito de dizer que te amo

meu jeito de dizer que te amo Anderson Cavalcante meu jeito de dizer que te amo Dedicatória A Tabata, minha esposa, mulher, amante e melhor amiga, que com muito charme, carinho e um pouco de paciência compartilha comigo as descobertas

Leia mais

HISTÓRIA DE LINS. - Nossa que cara é essa? Parece que ficou acordada a noite toda? Confessa, ficou no face a noite inteira?

HISTÓRIA DE LINS. - Nossa que cara é essa? Parece que ficou acordada a noite toda? Confessa, ficou no face a noite inteira? HISTÓRIA DE LINS EE PROF.PE. EDUARDO R. de CARVALHO Alunos: Maria Luana Lino da Silva Rafaela Alves de Almeida Estefanny Mayra S. Pereira Agnes K. Bernardes História 1 Unidas Venceremos É a história de

Leia mais

GRUPO IV 2 o BIMESTRE PROVA A

GRUPO IV 2 o BIMESTRE PROVA A A GERAÇÃO DO CONHECIMENTO Transformando conhecimentos em valores www.geracaococ.com.br Unidade Portugal Série: 6 o ano (5 a série) Período: MANHÃ Data: 12/5/2010 PROVA GRUPO GRUPO IV 2 o BIMESTRE PROVA

Leia mais

JOSÉ DE ALENCAR: ENTRE O CAMPO E A CIDADE

JOSÉ DE ALENCAR: ENTRE O CAMPO E A CIDADE JOSÉ DE ALENCAR: ENTRE O CAMPO E A CIDADE Thayanne Oliveira Rosa LUCENA¹, Dr. Gustavo Abílio Galeno ARNT² 1. Bolsista PIBIC/IFB - Instituto Federal de Brasília- Campus: São Sebastião- DF thayanne.001@gmail.com

Leia mais

Entrevista coletiva concedida pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, por ocasião da visita à Comunidade Linha Caravaggio

Entrevista coletiva concedida pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, por ocasião da visita à Comunidade Linha Caravaggio Entrevista coletiva concedida pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, por ocasião da visita à Comunidade Linha Caravaggio Chapecó-SC, 23 de junho de 2006 Presidente: É um programa, talvez

Leia mais

Guia Prático para Encontrar o Seu. www.vidadvisor.com.br

Guia Prático para Encontrar o Seu. www.vidadvisor.com.br Guia Prático para Encontrar o Seu Propósito de Vida www.vidadvisor.com.br "Onde os seus talentos e as necessidades do mundo se cruzam: aí está a sua vocação". Aristóteles Orientações Este é um documento

Leia mais

05/12/2006. Discurso do Presidente da República

05/12/2006. Discurso do Presidente da República , Luiz Inácio Lula da Silva, no encerramento da 20ª Reunião Ordinária do Pleno Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Palácio do Planalto, 05 de dezembro de 2006 Eu acho que não cabe discurso aqui,

Leia mais

Evangelização Espírita Ismênia de Jesus Plano de Aula 1º Ciclo. Título: Chico Xavier

Evangelização Espírita Ismênia de Jesus Plano de Aula 1º Ciclo. Título: Chico Xavier Plano de Aula 6 Centro Espírita Ismênia de Jesus Evangelização Espírita Ismênia de Jesus Plano de Aula 1º Ciclo Educadora: Rafael e Andréia Dia: 16/03/2015 Título: Chico Xavier Horário: 20 às 21hs Objetivos

Leia mais

DESAFIOS CRIATIVOS E FASCINANTES Aula de Filosofia: busca de valores humanos

DESAFIOS CRIATIVOS E FASCINANTES Aula de Filosofia: busca de valores humanos DESAFIOS CRIATIVOS E FASCINANTES Aula de Filosofia: busca de valores humanos Glorinha Aguiar glorinhaaguiar@uol.com.br Eu queria testar a metodologia criativa com alunos que eu não conhecesse. Teria de

Leia mais

Nem o Catecismo da Igreja Católica responde tal questão, pois não dá para definir o Absoluto em palavras.

Nem o Catecismo da Igreja Católica responde tal questão, pois não dá para definir o Absoluto em palavras. A pregação do Amor de Deus, por ser a primeira em um encontro querigmático, tem a finalidade de levar o participante ao conhecimento do Deus Trino, que por amor cria o mundo e os homens. Ao mesmo tempo,

Leia mais

Festa da Avé Maria 31 de Maio de 2009

Festa da Avé Maria   31 de Maio de 2009 Festa da Avé Maria 31 de Maio de 2009 Cântico Inicial Eu era pequeno, nem me lembro Só lembro que à noite, ao pé da cama Juntava as mãozinhas e rezava apressado Mas rezava como alguém que ama Nas Ave -

Leia mais

Língua Portuguesa 4 º ano. A camponesa sábia *

Língua Portuguesa 4 º ano. A camponesa sábia * Avaliação 3 o Bimestre NOME: N º : CLASSE: Na sétima unidade você leu algumas histórias com príncipes e princesas em seus majestosos castelos. O texto a seguir é mais uma dessas histórias. Ele nos conta

Leia mais

Para colocar a vida em ordem é preciso primeiro cuidar do coração. O coração é a dimensão mais interior da nossa existência

Para colocar a vida em ordem é preciso primeiro cuidar do coração. O coração é a dimensão mais interior da nossa existência Para colocar a vida em ordem é preciso primeiro cuidar do coração O coração é a dimensão mais interior da nossa existência Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração, porque dele procedem as fontes

Leia mais

5º ano. Atividade de Estudo - Português

5º ano. Atividade de Estudo - Português Atividade de Estudo - Português 5º ano O texto que você vai ler abaixo pertence ao gênero crônica. As crônicas transformam um acontecimento comum, do nosso dia a dia, em uma história muito interessante.

Leia mais

Era uma vez um príncipe que morava num castelo bem bonito e adorava

Era uma vez um príncipe que morava num castelo bem bonito e adorava O Príncipe das Histórias Era uma vez um príncipe que morava num castelo bem bonito e adorava histórias. Ele gostava de histórias de todos os tipos. Ele lia todos os livros, as revistas, os jornais, os

Leia mais

Aula 3.1 Conteúdo: Elementos da narrativa: personagens, espaço, tempo, ação, narrador. Conto: conceitos e características LÍNGUA PORTUGUESA

Aula 3.1 Conteúdo: Elementos da narrativa: personagens, espaço, tempo, ação, narrador. Conto: conceitos e características LÍNGUA PORTUGUESA 2 CONTEÚDO E HABILIDADES FORTALECENDO SABERES DESAFIO DO DIA Aula 3.1 Conteúdo: Elementos da narrativa: personagens, espaço, tempo, ação, narrador. Conto: conceitos e características 3 CONTEÚDO E HABILIDADES

Leia mais

A OFERTA DE UM REI (I Crônicas 29:1-9). 5 - Quem, pois, está disposto a encher a sua mão, para oferecer hoje voluntariamente ao SENHOR?

A OFERTA DE UM REI (I Crônicas 29:1-9). 5 - Quem, pois, está disposto a encher a sua mão, para oferecer hoje voluntariamente ao SENHOR? A OFERTA DE UM REI (I Crônicas 29:1-9). 5 - Quem, pois, está disposto a encher a sua mão, para oferecer hoje voluntariamente ao SENHOR? Esse texto é um dos mais preciosos sobre Davi. Ao fim de sua vida,

Leia mais

Semeadores de Esperança

Semeadores de Esperança Yvonne T Semeadores de Esperança Crônicas de um Convite à Vida Volume 11 Crônicas de um Convite à Vida Livre d IVI Convidados a Viver PREFÁCIO Estou comovida por escrever este prefácio : tudo o que se

Leia mais

Copos e trava-línguas: materiais sonoros para a composição na aula de música

Copos e trava-línguas: materiais sonoros para a composição na aula de música Copos e trava-línguas: materiais sonoros para a composição na aula de música Andréia Veber Rede Pública Estadual de Ensino de Santa Catarina andreiaveber@uol.com.br Viviane Beineke Universidade do Estado

Leia mais

TESTE DE ELENCO COM UMA CENA. Por VINICIUS MOURA

TESTE DE ELENCO COM UMA CENA. Por VINICIUS MOURA TESTE DE ELENCO COM UMA CENA Por VINICIUS MOURA * Embora seja uma cena que contenha dois atores os candidatos serão avaliados individualmente. Os critérios de avaliação se darão a partir da performace

Leia mais

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação Coordenação de Biblioteca 24 Discurso na solenidade de entrega

Leia mais

ESCOLA SECUNDÁRIA DE RAUL PROENÇA COMPETÊNCIAS DE LÍNGUA PORTUGUESA

ESCOLA SECUNDÁRIA DE RAUL PROENÇA COMPETÊNCIAS DE LÍNGUA PORTUGUESA 1. Caça ao intruso. Os textos têm palavras a mais. Encontra-as. Volta a escrever o texto corrigido. Foram umas duas férias maravilhosas horríveis! Conta a Sara girafa ao companheiro, corada de tristeza

Leia mais

Memórias do papai MEMÓRIAS DO PAPAI

Memórias do papai MEMÓRIAS DO PAPAI MEMÓRIAS DO PAPAI 1 2 PREFÁCIO 1 - O PESADELO 2 - A MAMADEIRA 3 - O SHORTS 4 - O IMPROVISO 5 - SOLITÁRIO 6 - A TURMA A 7 - PRIMEIRAS IMPRESSÕES 8 - A TABUADA 9 - O MAU JOGADOR 10 - ARREMESSO DE DANONE

Leia mais

Fábula. Obs: A estrutura das fábulas segue a mesma explicada no gênero anterior Conto. Afinal fazem parte do mesmo tipo textual: Narrativa.

Fábula. Obs: A estrutura das fábulas segue a mesma explicada no gênero anterior Conto. Afinal fazem parte do mesmo tipo textual: Narrativa. 10 Fábula O que é: Trata-se de um gênero narrativo ficcional bastante popular. É uma história curta, vivida por animais e que termina com uma conclusão ético- moral. As fábulas eram narrativas orais, e

Leia mais

Objetivo principal: aprender como definir e chamar funções.

Objetivo principal: aprender como definir e chamar funções. 12 NOME DA AULA: Escrevendo músicas Duração da aula: 45 60 minutos de músicas durante vários dias) Preparação: 5 minutos (se possível com introduções Objetivo principal: aprender como definir e chamar

Leia mais

O mar de Copacabana estava estranhamente calmo, ao contrário

O mar de Copacabana estava estranhamente calmo, ao contrário epílogo O mar de Copacabana estava estranhamente calmo, ao contrário do rebuliço que batia em seu peito. Quase um ano havia se passado. O verão começava novamente hoje, ao pôr do sol, mas Line sabia que,

Leia mais

A fábula da formiga. Post (0182)

A fábula da formiga. Post (0182) A fábula da formiga Post (0182) Todos os dias, uma formiga chegava cedinho ao escritório e pegava duro no trabalho. A formiga era produtiva e feliz. O gerente besouro estranhou a formiga trabalhar sem

Leia mais

Jefté era de Mizpá, em Gileade, terra de Jó e Elias. Seu nome (hebraico/aramaico - יפתח Yiftach / Yipthaχ). Foi um dos Juízes de

Jefté era de Mizpá, em Gileade, terra de Jó e Elias. Seu nome (hebraico/aramaico - יפתח Yiftach / Yipthaχ). Foi um dos Juízes de Jefté era de Mizpá, em Gileade, terra de Jó e Elias. Seu nome (hebraico/aramaico - יפתח Yiftach / Yipthaχ). Foi um dos Juízes de Israel por um período de seis anos (Jz 2:7 ). Jefté viveu em Gileade e foi

Leia mais

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação Coordenação de Biblioteca 43 Discurso na cerimónia de inauguração

Leia mais

A CURA DE UM MENINO Lição 31

A CURA DE UM MENINO Lição 31 A CURA DE UM MENINO Lição 31 1 1. Objetivos: Mostrar o poder da fé. Mostrar que Deus tem todo o poder. 2. Lição Bíblica: Mateus 17.14-21; Marcos 9.14-29; Lucas 9.37-43 (Leitura bíblica para o professor)

Leia mais

curiosidade. Depois desta aula toda, só posso dizer que também

curiosidade. Depois desta aula toda, só posso dizer que também James recém havia saído de férias. Seu pai havia prometido que, se fosse bem aplicado na escola, passaria alguns dias na companhia do vô Eleutério. O avô de James era um botânico aposentado que morava

Leia mais

Assunto: Entrevista com a primeira dama de Porto Alegre Isabela Fogaça

Assunto: Entrevista com a primeira dama de Porto Alegre Isabela Fogaça Serviço de Rádio Escuta da Prefeitura de Porto Alegre Emissora: Rádio Guaíba Assunto: Entrevista com a primeira dama de Porto Alegre Isabela Fogaça Data: 07/03/2007 14:50 Programa: Guaíba Revista Apresentação:

Leia mais

Meu nome é José Guilherme Monteiro Paixão. Nasci em Campos dos Goytacazes, Norte Fluminense, Estado do Rio de Janeiro, em 24 de agosto de 1957.

Meu nome é José Guilherme Monteiro Paixão. Nasci em Campos dos Goytacazes, Norte Fluminense, Estado do Rio de Janeiro, em 24 de agosto de 1957. Rio de Janeiro, 5 de junho de 2008 IDENTIFICAÇÃO Meu nome é José Guilherme Monteiro Paixão. Nasci em Campos dos Goytacazes, Norte Fluminense, Estado do Rio de Janeiro, em 24 de agosto de 1957. FORMAÇÃO

Leia mais

claudia houdelier - maternidade maternidade

claudia houdelier - maternidade maternidade claudia houdelier - maternidade maternidade dedicatória para alexandre, meu único filho. de fora para dentro Tudo começa no ventre materno com certeza, a nossa história começa aqui. Uma história de uma

Leia mais

ESTUDO 1 - ESTE É JESUS

ESTUDO 1 - ESTE É JESUS 11. Já vimos que Jesus Cristo desceu do céu, habitou entre nós, sofreu, morreu, ressuscitou e foi para a presença de Deus. Leia João 17:13 e responda: Onde está Jesus Cristo agora? Lembremo-nos que: Jesus

Leia mais

Quando vemos o mundo de forma diferente, nosso mundo fica diferente.

Quando vemos o mundo de forma diferente, nosso mundo fica diferente. BOLETIM TÉCNICO JULHO 2015 Quando vemos o mundo de forma diferente, nosso mundo fica diferente. Segundo a Psicologia atual ajudada pela compreensão do mundo real que nos trouxe a Física moderna, nós, seres

Leia mais

MISSIoNários acorrentados

MISSIoNários acorrentados NOTA DE CONVOCAÇÃO MISSIoNários acorrentados yuri ravem foco na pessoa 40 Por Pr. Yuri Ravem Desde que me tornei um pastor, há treze anos, tenho percebido pessoas com grandes talentos nas mais diversas

Leia mais

Série 6 o ANO ROTEIRO DE ESTUDOS DE RECUPERAÇÃO E REVISÃO 3º BIMESTRE / 2011

Série 6 o ANO ROTEIRO DE ESTUDOS DE RECUPERAÇÃO E REVISÃO 3º BIMESTRE / 2011 Disciplina LINGUA PORTUGUESA Curso ENSINO FUNDAMENTAL II Professor MARIANA Série 6 o ANO ROTEIRO DE ESTUDOS DE RECUPERAÇÃO E REVISÃO 3º BIMESTRE / 2011 Aluno (a): Número: 1 - Conteúdo: Substantivos: comum

Leia mais

Narrar por escrito a partir de um personagem

Narrar por escrito a partir de um personagem Narrar por escrito a partir de um personagem Aproximação das crianças as ao literário rio Emilia Ferreiro Ana Siro Vozes narrativas e pontos de vista em relatos de ficção: possibilidades discursivas de

Leia mais

BOM DIA DIÁRIO. Guia: Em nome do Pai

BOM DIA DIÁRIO. Guia: Em nome do Pai BOM DIA DIÁRIO Segunda-feira (04.05.2015) Maria, mãe de Jesus e nossa mãe Guia: 2.º Ciclo: Padre Luís Almeida 3.º Ciclo: Padre Aníbal Afonso Mi+ Si+ Uma entre todas foi a escolhida, Do#- Sol#+ Foste tu,

Leia mais

Amor em Perspectiva Cultural - Artur da Távola & Érico Veríssimo

Amor em Perspectiva Cultural - Artur da Távola & Érico Veríssimo Page 1 of 5 Universidade Federal do Amapá Pró-Reitoria de Ensino de Graduação Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia Disciplina: Filosofia da Cultura Educador: João Nascimento Borges Filho Amor em Perspectiva

Leia mais

Desde sempre presente na nossa literatura, cantado por trovadores e poetas, é com Camões que o Amor é celebrado em todo o seu esplendor.

Desde sempre presente na nossa literatura, cantado por trovadores e poetas, é com Camões que o Amor é celebrado em todo o seu esplendor. Desde sempre presente na nossa literatura, cantado por trovadores e poetas, é com Camões que o Amor é celebrado em todo o seu esplendor. O Poeta canta o amor platónico, a saudade, o destino e a beleza

Leia mais

Meu nome é Rosângela Gera. Sou médica e mãe de uma garotinha de sete anos que é cega.

Meu nome é Rosângela Gera. Sou médica e mãe de uma garotinha de sete anos que é cega. Prezado Editor, Meu nome é Rosângela Gera. Sou médica e mãe de uma garotinha de sete anos que é cega. Gostaria de compartilhar com os demais leitores desta revista, minha experiência como mãe, vivenciando

Leia mais

JOSÉ DE SOUZA CASTRO 1

JOSÉ DE SOUZA CASTRO 1 1 JOSÉ DE SOUZA CASTRO 1 ENTREGADOR DE CARGAS 32 ANOS DE TRABALHO Transportadora Fácil Idade: 53 anos, nascido em Quixadá, Ceará Esposa: Raimunda Cruz de Castro Filhos: Marcílio, Liana e Luciana Durante

Leia mais

Índios Legião Urbana Composição: Renato Russo

Índios Legião Urbana Composição: Renato Russo Nome: Nº: Turma: Português 2º ano Índios João J. Mai/09 Índios Legião Urbana Composição: Renato Russo Ter de volta todo o ouro Que entreguei a quem Conseguiu me convencer Que era prova de amizade Se alguém

Leia mais

A Cura de Naamã - O Comandante do Exército da Síria

A Cura de Naamã - O Comandante do Exército da Síria A Cura de Naamã - O Comandante do Exército da Síria Samaria: Era a Capital do Reino de Israel O Reino do Norte, era formado pelas 10 tribos de Israel, 10 filhos de Jacó. Samaria ficava a 67 KM de Jerusalém,

Leia mais