ECOSSISTEMAS E ÁREAS VERDES URBANAS UM ESTUDO DE PERCEPÇÃO AMBIENTAL NO PARQUE JULIEN RIEN, REGIÃO CENTRO- SUL DE BELO HORIZONTE 1
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1 1 ECOSSISTEMAS E ÁREAS VERDES URBANAS UM ESTUDO DE PERCEPÇÃO AMBIENTAL NO PARQUE JULIEN RIEN, REGIÃO CENTRO- SUL DE BELO HORIZONTE 1 Belisa Rabelo Dourado de Andrade 2 (belisarabelo@yahoo.com.br) Fabrício Henrique Lima 3 (fabriciohl@gmail.com) Guilherme de Araújo Marcondes 3 (guilherme.marcondes@gmail.com) Isabela do Nascimento Canhas 3 (isabelacanhas@yahoo.com.br) Mariana Travassos da Fonseca 3 (marytravassos@yahoo.com.br) Sofia Bernardes Lourenço Barbosa 3 (sofiabarbosa2004@hotmail.com) Wallace Carvalho Ribeiro 2 (wallacecarvalho@yahoo.com.br) Eugênio Batista Leite 4 (eugeniobl@pucminas.br) Resumo O Parque Julien Rien, localizado no bairro Anchieta em Belo Horizonte, é uma área verde urbana, por ser um espaço onde há o predomínio de vegetação arbórea, o que o encarrega de diversas funções como a ecológica, sociais entre outras, visando a melhoria do meio ambiente citadino, que é excessivamente impactado. Utilizando-se de pesquisa bibliográfica, observações sistemáticas e entrevistas semiestruturadas, fez-se um estudo de percepção ambiental, que objetivou apurar a visão de diversos agentes sociais envolvidos com este parque sobre a execução de suas distintas funções no contexto do sistema urbano. Nesse sentido, constatou-se que apenas a função ecológica está sendo cumprida e não há no parque programas e/ou atividades de Educação Ambiental, sendo estas imprescindíveis à própria manutenção, conservação e segurança do parque. A Educação Ambiental, assim, emerge como um instrumento favorável no cumprimento dessas indispensáveis funções de uma área verde urbana. Palavras-chave: Área verde urbana; Percepção ambiental; Educação Ambiental; Belo Horizonte. 1 INTRODUÇÃO O sistema urbano não é auto-sustentável e consome recursos naturais provenientes de outros sistemas, tais como os naturais, seminaturais e os agrários. De acordo com Dias (1994) a cidade é um sistema parasita. A discussão do tema áreas verdes urbanas tem sido uma constante na atualidade, dada a sua saliência e centralidade no que concerne à dinâmica do sistema 1 Estudo realizado e apresentado à disciplina Educação Ambiental do Curso de Ciências Biológicas da PUC Minas, no 1º sem Graduados em Geografia pela PUC Minas. 3 Graduandos do Curso de Ciências Biológicas da PUC Minas. 4 Professor da PUC Minas, co-autor e orientador.
2 2 urbano, uma vez que essas áreas amenizam os impactos provocados pelas cidades. Todavia, nem todas as áreas verdes urbanas estão em bom estado de conservação, o que dificulta o cumprimento de suas variadas funções, como a ecológica, social, estética, educacional e psicológica. Este trabalho é fruto de um estudo de percepção ambiental, que objetivou identificar a visão dos diversos agentes sociais envolvidos com o parque Julien Rien, sobre a execução das distintas funções desse parque, no contexto do sistema urbano. Em outras palavras e de acordo com que propõe Chizzotti (1998), tal estudo é uma pesquisa fenomenológica, já que visa identificar o sentido oculto das impressões imediatas, tendo uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto. Para isso, fez-se, inicialmente, um levantamento bibliográfico acerca da dinâmica de funcionamento do sistema urbano e de seus efeitos para o meio ambiente, bem como a importância de suas áreas verdes. Em um segundo momento utilizou-se de pesquisa de campo, através do contato direto com objeto de estudo, mediante observações sistemáticas e entrevistas semiestrutruradas com o responsável do parque, dois funcionários e quatro usuários, sendo estes, dois moradores da área de entorno, e dois residentes em outras regiões. Vale dizer que, tais instrumentos de coleta de dados fazem referência ao Diagnóstico Rural Participativo 5 e aos estudos de percepção ambiental, que preconizam 5 Técnica proposta pela Comissão Nacional do Meio Ambiente de Maputo, Moçambique. Esta é utilizada tanto em áreas rurais quanto em áreas urbanas; é de baixo custo; visa estudar casos em que há participação da comunidade, no que tange ao planejamento de sua realidade; e ainda, pode ter o uso
3 3 trabalhar a realidade local, por meio do conhecimento que os participantes tem ou adquirem desta realidade na qual estão inseridos. Ademais, o levantamento da percepção dos atores sociais envolvidos de uma determinada realidade ambiental legitima o estudo de avaliação, bem como os futuros projetos de intervenção desta realidade. No terceiro momento os dados foram agrupados e cruzados, visando análises conforme a similaridade de respostas. Ao final contatou-se a importância do parque Julien Rien como uma área verde urbana, em face ao cumprimento de suas funções ecológicas, no contexto de um (ecos) sistema urbano. No entanto, as outras funções do parque não estão sendo atingidas, tornando-se necessário revisar o projeto Pro Parque proposto pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), via a Fundação de Parques Municipais (FPM), pois este não contempla programas e/ou atividades de Educação Ambiental. Sendo este, um instrumento necessário e eficaz no cumprimento das diversas funções de uma área verde urbana. 2 O SISTEMA URBANO Autores como Troppmair (1995) advogam a idéia de que o sistema urbano não é um ecossistema, pois até nota-se a ocorrência do processo de entrada, retroalimentação e saída de matéria e energia, porém não se verifica a autoregularização o equilíbrio. Logo, o sistema urbano não pode ser considerado um ecossistema. associado a outros métodos, com vistas a atingir os objetivos propostos (DIAGNÓSTICO PARTICIPATIVO RURAL, 1994).
4 4 Em contrapartida, outros autores como Dias (1994) e Lima et al (2005) afirmam que as cidades podem ser consideradas como ecossistemas por estarem sujeitas aos mesmos processos que operam em sistemas naturais. Contudo, todos esses autores mencionados são uníssonos em dizer que os (ecos) sistemas urbanos diferem dos ecossistemas naturais, visto que o primeiro se mostra extremamente dependente de tecnologia, pois não possui auto-suficiência e o segundo, por sua vez, possui a capacidade de estabilidade por autoregularização. Ainda Gonçalves (1990) e Dias (1994) acrescentam que, via de regra, a estabilidade dos sistemas naturais aumenta com o crescimento de sua complexidade. Em contrapartida, os sistemas urbanos possuem dinâmica oposta, isto é, quanto mais complexo, mais dependente de tecnologia e menos resistente a perturbações externas. Vale lembrar, que os centros urbanos existem desde a antiguidade, a cerca de a.c. Entretanto, com o advento da Revolução Industrial Inglesa no século XVIII, as cidades ganham gradativamente maior complexidade, graças ao processo de concentração populacional, mediante o fluxo migratório campo-cidade. Além disso, o modo de produção capitalista forçou a uniformização e a padronização das estruturas funcionais citadinas (tipos de bairro) e a fisionomia urbana (prédios, avenidas, postes e outros); volatilizou as relações sociais, fragmentando o espaço do indivíduo no plano do vivido; e produziu um espaço no qual o homem impõe o seu maior impacto sobre a natureza.
5 5 Portanto, o ambiente urbano uma das maiores criações do homem e lugar onde vive a maioria dos povos do mundo atual está, de vários modos 6, tornando-se menos adequado para a vida humana. O preço de morar em uma cidade é um estado constante de ansiedade. As pessoas ficam expostas às mazelas biológicas e psicosociais como violência, perda de identidade, tensão, elevada competitividade, frustração, entre outros (DIAS, 1994). 3 ÁREAS VERDES URBANAS As áreas verdes desempenham importante papel no mosaico urbano, porque constituem um espaço inserido no (ecos) sistema urbano cujas condições ecológicas mais se aproximam das condições normais da natureza. Como afirma Guzzo (2006) as áreas verdes urbanas melhoram o meio ambiente excessivamente impactado das cidades e proporcionam benefícios para os habitantes da mesma. Assim, reina nessas áreas um microclima com médias térmicas diárias e anuais mais amenas e um maior índice pluviométrico, se comparado a sua área de entorno, proporcionando um verdadeiro refúgio para a flora e fauna. Dessa forma, as áreas verdes possuem função ecológica (GUZZO, 2006). Constata-se também outras funções como a social, a estética, a psicológica e a educativa. A função social está intimamente relacionada com a possibilidade de lazer e 6 Guzzo (2006, p.2) preconiza que a urbanização altera o ambiente nas cidades. E essas alterações ocorrem no clima urbano, no ciclo hidrológico, no relevo, na vegetação e na fauna.
6 6 de sociabilidade que essas áreas oferecem à população. A função estética diz respeito à diversificação da paisagem construída e ao embelezamento da cidade. A função psicológica ocorre quando as pessoas, em contato com os elementos naturais dessas áreas, relaxam, tendo um efeito de anti-estresse. Este aspecto está relacionado com o exercício do lazer e da recreação nas áreas verdes. E por último, a função educativa está vinculada à imensa possibilidade destas áreas ao desenvolvimento de atividades extraclasse e de programas de Educação Ambiental (GUZZO, 2006). As atividades de Educação Ambiental possuem uma relação muito próxima com as outras funções supracitadas. E mais, a manutenção, a conservação e a segurança das áreas verdes não se restringem apenas aos órgãos públicos gestores dos parques, mas também afetam aos diversos agentes sociais usuários do local. Logo, a Educação Ambiental emerge como um instrumento proeminente, no que tange ao plano de manejo 7 dos parques, à conservação de seus equipamentos de lazer e de infra-estrutura, bem como à promoção da segurança do mesmo, através de ações que favoreçam o uso constante da população, inibindo atos ilícitos e de má fé de alguns usuários. 4 O PARQUE JULIEN RIEN 7 Manejo é a aplicação de programas de utilização dos ecossistemas naturais ou artificiais, baseada em princípios ecológicos, de modo que mantenham da melhor forma possível as comunidades vegetais e/ou animais como fontes úteis de produtos biológicos para os humanos e também como fontes de conhecimento científico e lazer (DICIONÁRIO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS AMBIENTAIS, 2002 citado por LIMA, 2005, p.55).
7 7 O parque possui m 2 e está localizado no bairro Anchieta, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. Este é um bairro nobre da cidade e sua valorização imobiliária se deve, indubitavelmente, à fixação de uma área verde deste porte. Todavia, através de um estudo de percepção ambiental, tendo o intuito de consultar os diversos agentes sociais envolvidos com o parque, por meio de observações sistemáticas e de entrevistas semi-estruturadas, identificou-se que o Julien Rien não possui plano de manejo e nenhum programa e/ou atividade de Educação Ambiental. Tal área verde é, regularmente, utilizada por jovens que fazem uso de drogas, como também por mendigos que se apropriam da nascente para lavar suas roupas e para higiene pessoal. O parque praticamente só é utilizado pela população residente no bairro como ponto de passagem. Nota-se também problemas de infra-estrutura, como a ausência de banheiros para o uso público; as péssimas condições dos equipamentos de lazer como a pista de skate e as arenas teatrais; além do restrito quadro de funcionários apenas um funcionário para a limpeza e outro para a vigilância o que dificulta a manutenção, a conservação e a segurança do parque. Contudo, a FPM elaborou e está executando um projeto chamado Pro Parque, cujo intuito é promover a melhoraria da limpeza e da estética dos parques junto à preservação de sua diversidade biótica. Ressalta-se que, as observações sistemáticas permitiram identificar que o parque possui uma relevante diversidade faunística
8 8 constituída de pequenos mamíferos, aves, anfíbios, pequenos répteis e artrópodes, e a flora, por sua vez, composta por plantas ornamentais como palmeiras e bromélias. No entanto, tal projeto da Prefeitura não vem revestido de programas e/ ou atividades de Educação Ambiental. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Contatou-se por meio das observações sistemáticas que, o parque Julien Rien é uma área verde importante na melhoria do meio ambiente urbano excessivamente impactado. A área de entorno do parque é totalmente urbanizada e possui um trânsito denso, o que proporciona estresse crônico e ruídos diversos à sua população. Segundo os agentes sociais entrevistados, este parque purifica o ar e reduz a poluição sonora, entre outras funções ecológicas. Além disso, o estudo de percepção ambiental nos permitiu identificar o sentimento que estes agentes sociais possuem, por meio de respostas dos sentidos aos estímulos externos (TUAN, 1980). Assim sendo, seus usuários e funcionários se identificam com o parque, através de um elo afetivo. Estes reconhecem que tal área verde é importante para o seu lazer, conforto e sociabilidade, como também de toda sociedade. Entretanto, justamente as funções sociais, psicológicas e, sobretudo, as educacionais não estão sendo atingidas. O projeto proposto pela PBH Pró Parque não
9 9 traz em seu bojo programas e/ou atividades de Educação Ambiental, sendo estas necessárias ao cumprimento de tais funções, bem como imprescindíveis à própria manutenção, conservação e segurança do parque. O ideal seria a proposição de um plano de manejo pelos órgãos públicos responsáveis, em parceria com a comunidade científica acadêmica, tendo as atividades de Educação Ambiental como instrumento de suporte favorável ao cumprimento das funções indispensáveis e relevantes de uma área verde urbana. 6 REFERÊNCIAS CHIZZOTTI, Antonio. Da pesquisa qualitativa. In:. Pesquisas em ciências humanas e sociais. 2 ed. São Paulo: Cortez, 1998, cap. 1, p Coleta de dados qualitativos. Ibid, cap. 2, p DIAS, Genebaldo Freire. As atividades de Educação Ambiental urbana: dos conceitos básicos a serem utilizados em EA urbana. In:. Educação Ambiental: princípios e práticas. 4 ed. São Paulo: Gaia, parte III, cap. 3, p GONÇALVES, Carlos Walter Porto. Harmonia natural. Harmonia?: diversidade, resistência e vitalidade ecossistêmica. In:. Os (des) caminhos do meio ambiente. 2 ed. São Paulo: Contexto, cap. 8, p GUZZO, Perci. Áreas verdes urbanas. Disponíveis em: < Acesso em 14 mar LIMA, Carlos Antônio de et al. Impacto ambiental em parques urbanos: o parque municipal Ursulina de Andrade Mello p. Monografia (Curso de Geografia) Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte. Manual de Técnicas Diagnóstico participativo rural. Copilado por Marti Whiteside, mar. de Comissão Nacional do Meio Ambiente Maputo, Moçambique. TROPPMAIR, Helmut. Biogeografia e Sistemas: sistemas urbanos. In:. Biogeografia e meio ambiente. 4 ed. Rio Claro, cap. 5, p TUAN, Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. Trad. Lívia de Oliveira. São Paulo: Difel, 1980, 288 p.
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