Congregação dos Sagrados Estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo A VOCAÇÃO NO DOCUMENTO "PASTORES DABO VOBIS"

Transcrição

1 Congregação dos Sagrados Estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo 1 o Curso por Correspondência às Equipes Vocacionais Paroquiais SEGUNDO TEMA: A VOCAÇÃO NO DOCUMENTO "PASTORES DABO VOBIS" 1. Introdução É bom lembrar que todos os temas deste Curso têm por finalidade tecer uma corda que ligue a nossa vida, de modo especial aquela dedicada à Equipe de Pastoral Vocacional, a Deus, e Deus à nossa vida aí. Essa corda (que não é para se enforcar... mas, ajudar!) pode estar faltando em nossa vida. E se ela é para nos ajudar, precisa ser muito bem entrelaçada. Só assim nos ajudará a aguentar os desafios de nossa existência e trabalho. E o primeiro desafio já começou quando apresentamos o primeiro tema deste Curso: "Todos somos chamados à santidade". Pode ter causado uma certa surpresa: falar de santidade, logo assim "de cara"?!? Por que? Responde nosso Papa João Paulo II: "O Espírito revela-nos e nos comunica a vocação fundamental que o Pai, desde a eternidade, dirige a todos: a vocação a ser 'santos e imaculados na sua presença na caridade', em virtude da predestinação para sermos seus filhos adotivos por obra de Jesus Cristo (Ef 1,4-5). Mais. Revelando e comunicando-nos esta vocação, o Espírito se torna em nós princípio e garantia da sua própria realização; ele, o Espírito do Filho (Gl 4,6), conforma-nos a Jesus Cristo e nos torna participantes de sua vida filial, ou seja, de seu amor ao Pai e aos irmãos" ("Pastores dabo vobis", n o. 19; "Lumen Gentium", n o. 40. O grifo é nosso). A resposta do Papa, diante de uma certa surpresa por causa do primeiro tema do nosso Curso, é clara e precisa: a santidade é uma "vocação fundamental" para todos. Seria o mesmo que dizer: uma faca de mesa é feita para cortar pão e passar manteiga; não serve para abrir lata ou tirar pregos. Isso estraga a faca. Se o fizer, não adianta depois você reclamar e dizer: "As facas de hoje já não prestam para nada!". Se não se topa a santidade como vocação fundamental, ponto de partida, vai-se correr o risco de vier a vida toda e, em osso caso como componente da Equipe de Pastoral Vocacional, como uma faca que acaba sendo "pau pra toda obra", mas não faz aquilo que é fundamental para ela como faca. É por isso que o segundo tema deste Curso vai tratar da "vocação", uma vez que "todos somos chamados à santidade". E que é chamado é um convocado, ou seja, com vocação para a santidade. É bom relembrar também que todos os temas deste Curso têm como fonte principal o Documento "Pastores dabo vobis". A que troco este e não outro documento? Responde de novo o Papa João Paulo II: "Fez-se sentir, clara e diligente, a voz das diversas Igrejas particulares, proclamando a sua fé no cumprimento da promessa de Deus: 'Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração' (Jr 3,15), e renovando o seu empenho pastoral no cuidado das vocações e na formação dos sacerdotes, conscientes de que delas depende o futuro da Igreja, o seu desenvolvimento e a sua missão universal de salvação" ("Pastores dabo vobis", n o. 4. O grifo é nosso). 7

2 Escolhemos este documento porque nele o Papa João Paulo II propõe critérios e diretivas bem precisas quanto à realidade da Igreja hoje: cuidado das vocações, pois delas depende o futuro da Igreja, o seu desenvolvimento e a sua missão universal de salvação. Seria o mesmo que dizer: "Se você não tem uma base para enfrentar uma problemática, você vai, provavelmente, chegar a nada ou a muito pouco: carro sem combustível não funciona! Quem vai fazer "feira" tem que saber o que lá vai comprar! Ninguém usa um anzol para caçar onça no mato! Se uma casa não tem alicerce, fica na superfície, é superficial!". Se não se tem idéias claras e precisas sobre "vocação" e "problema vocacional" é o mesmo que estar sem combustível, estar na "feira" feito "barata tonta", estar usando anzol para caçar onça no mato, construir uma casa sem alicerce. Para que tudo isso não aconteça, vamos agora refletir um pouco a respeito da "vocação", tendo sempre em mente os dois lembretes do Papa, acima citados: a finalidade deste Curso e a fonte principal deste Curso. Antes, porém, vamos apresentar, em resumo, alguns dados sobre o Documento "Pastores dabo vobis", que será utilizado durante este Curso: Título: Sigla: Modalidade: Autor: Data: Destinatário: "Pastores dabo vobis" (= "Dar-vos-ei pastores"); PDV; é uma "Exortação Apostólica" sobre a formação sacerdotal nas circunstâncias atuais, redigida como complementação ao Sínodo dos Bispos do ano de 1990; Papa João Paulo II; 25 de março de 1992, Solenidade da Anunciação do Senhor; episcopado, clero e fiéis; Esquema: Introdução: n o. 1-4; Capítulo I: Escolhido de entre os homens A formação sacerdotal perante os desafios do final do segundo milênio: n o. 5-10; Capítulo II: Consagrou-me com a unção e me enviou A natureza e a missão do sacerdócio ministerial: n o ; Capítulo III: O Espírito do Senhor está sobre mim A vida espiritual do sacerdote: n o ; Capítulo IV: Vinde ver A vocação sacerdotal na pastoral da Igreja: n o ; Capítulo V: Estabeleceu doze que estivessem com ele A formação dos candidatos ao sacerdócio: n o ; I. As dimensões da formação sacerdotal: n o ; II. Os ambientes da formação sacerdotal: n o ; III. Os protagonistas da formação sacerdotal: n o ; Capítulo VI: Exorto-te a que reanimes o dom de Deus que está em ti A formação permanente dos sacerdotes: n o ; Conclusão: n o

3 2. Explanação Nossa presente reflexão vai apenas se deter no Capítulo IV do Documento citado acima, onde o Papa aborda com muita propriedade o tema sobre "vocação". E, mesmo assim, só analisaremos o n o. 34 desse Capítulo citando-o por inteiro e dividindo-o, para poder entender melhor seu conteúdo, em três partes: CAPÍTULO IV VINDE VER A Vocação Sacerdotal na Pastoral da Igreja PROCURAR, SEGUIR, PERMANECER Primeira parte: Fundamentação Bíblica "Vinde ver" (Jo 1,39) - Desta forma responde Jesus aos dois discípulos de João Batista, que lhe perguntavam onde habitava. Nestas palavras, encontramos o significado da vocação. Eis como o evangelista narra o chamamento de André e de Pedro: 'No dia seguinte, João estava ainda lá com dois dos seus discípulos e, lançando o olhar para Jesus que passava, disse: 'Eis o Cordeiro de Deus!'. E os dois discípulos, ouvindo-o falar daquela maneira, seguiram Jesus. Jesus voltou-se então e, vendo que o seguiam, disse: 'Que procurais?'. Responderam-lhe: 'Rabbi (que significa Mestre), onde moras?' Disse-lhes: 'Vinde ver'. Foram então e viram onde morava e permaneceram com ele naquele dia. Era pelas quatro horas da tarde. Um dos dois que tinham escutado as palavras de João e que o tinham seguido era André, irmão de Siimão Pedro. Encontrou, em primeiro lugar, seu irmão Simão e disse-lhe: 'Encontramos o Messias (que significa Cristo)' e levou-o a Jesus. Jesus, fixando nele o olhar, disse: "Tu és Simão, filho de João. Chamar-te-ás Cefas ( que quer dizer Pedra)". Jo 1, Segunda parte: Descrição da Vocação "Esta página do Evangelho é uma das muitas da Sagrada Escritura onde se descreve o "mistério" da vocação, no nosso caso o mistério da vocação para ser apóstolo de Jesus. A página de São João, que tem também um significado para a vocação cristã enquanto tal, reveste um valor emblemático no caso da vocação sacerdotal. A Igreja, comunidade dos discípulos de Jesus, é chamada a fixar o seu olhar sobre esta cena que, de certo modo, se renova continuamente na história. É convidada a aprofundar o sentido original e pessoal da vocação para o seguimento de Cristo no ministério sacerdotal e o laço indissociável entre a graça divina e a responsabilidade humana, encerrado e revelado nos dois termos que mais vezes encontramos no Evangelho: vem e segue-me (cf. Mt 19,21). É solicitado a decifrar e a percorrer o dinamismo próprio da vocação, o seu desenvolvimento gradual e concreto nas fases do procurar Jesus, do segui-lo e do permanecer com ele". 9

4 Terceira parte: Conteúdo da Vocação "A Igreja identifica neste 'Evangelho da vocação' o paradigma, a força e o impulso de sua pastoral vocacional, ou seja, de sua missão destinada a cuidar do nascimento, discernimento e acompanhamento das vocações, particularmente das vocações ao sacerdócio. Precisamente porque 'a falta de sacerdotes é por certo a tristeza de cada Igreja' ("Discurso" final ao Sínodo dos Bispos: 27 de outubro de 1990, 5), a pastoral vocacional exige, sobretudo hoje, ser assumida como um novo, vigoroso e mais decidido compromisso por parte de todos os membros da Igreja, na consciência de que aquela não é um elemento secundário ou acessório, nem um momento isolado ou setorial, quase uma simples 'parte', ainda que relevante, da pastoral global da Igreja: é sim, como repetidamente afirmaram os Padres sinodais, uma atividade intimamente inserida na pastoral geral de cada Igreja ("Propositio" 6), um cuidado que deve ser integrado e plenamente identificado com a 'cura de almas' dita ordinária ("Propositio" 13), uma dimensão conatural e essencial da pastoral da Igreja, ou seja, da sua vida e da sua missão ("Propositio" 4). Sim, a dimensão vocacional é conatural e essencial à pastoral da Igreja. A razão está no fato de que a vocação define, em certo sentido, o ser profundo da Igreja, ainda antes do seu operar. No próprio nome da Igreja, Ecclesia, está indicada a sua íntima fisionomia vocacional, porque ela é verdadeiramente "convocação". Assembléia dos chamados: 'A todos aqueles que olham com fé para Jesus, como autor da salvação e princípio da unidade e da paz, Deus convocou-os e constituiu com eles a Igreja, para que seja para todos e cada um o sacramento visível desta unidade salvífica' ("Lumen Gentium", n o. 9). Uma leitura propriamente teológica da vocação sacerdotal e da pastoral que lhe diz respeito pode brotar apenas da leitura do mistério da Igreja como "mysterium vocationis". Aprofundamento Vamos agora aprofundar um pouco cada uma das três partes. Cada uma delas tem destaques importantes sobre "vocação". Destaques da primeira parte - Fundamentação Bíblica: Tanto o episódio de João Batista como o de André sublinham uma sequência de verbos com profundo significado. O Papa, no documento, escolhe os três principais: procurar, seguir, permanecer. Por que? Porque "o dinamismo próprio da vocação, o seu desenvolvimento gradual e concreto" fazem parte de um longo processo de amadurecimento humano e espiritual: "procurar Jesus, segui-lo, permanecer com ele. Notem bem os três destaques desta primeira parte: 1) Procurar, seguir, permanecer (é a caminhada da Bíblia); 2) Vocação é um processo rumo ao amadurecimento humano e espiritual; 3) Ponto de partida e de chegada: Jesus Cristo. 10

5 Destaques da Segunda Parte - Descrição da Vocação: Por ser a vocação algo dinâmico, vital (logo abaixo veremos), não tem uma definição. Definição é sempre algo estático. Por isso, vocação "se descreve", como diz o Papa. É o que vamos fazer agora: 1) Vocação como sensibilidade interior, ou seja, é impulso de dentro, do íntimo de cada um de nós, que "procura" algo ou alguém quando corresponde aos nossos anseios de sentido de vida; 2) Vocação como algo dinâmico, vital, pessoal, ou seja, "procurar, seguir, permanecer" não são realidades frias, neutras, ou qualidades estáticas: são realidades da pessoa como pessoa em gradual amadurecimento, desejosa de respostas convincentes para sentir-se segura quanto ao sentido da vida; 3) Vocação como mediação entre Deus que propõe e a pessoa que responde, ou seja, "procurar, seguir, permanecer" acontecem sob o impulso da graça divina e o sim do consentimento da pessoa humana na responsabilidade: aí está o valor do compromisso pra valer! Se o plantador (= Deus) joga a semente (= vocação) no chão (= pessoa humana), é porque acredita que aquela terra é boa e pode produzir: "Aqui, em se plantando, dá!". Notem bem a insistência sobre o sentido da vida quando se descreve a vocação. Aí está a "corda bem entrelaçada": sem rumo preciso na vida, dificilmente se corresponde à própria vocação. Destaques da Terceira Parte - Conteúdo da Vocação: O Papa aborda aí duas problemáticas ao mesmo tempo: a da vocação e a da pastoral vocacional, colocando-as sob um mesmo prima: o Evangelho. O Evangelho é que fornece conteúdo para conduzir bem ambas as realidades. Notem bem os critérios que o Papa salienta: 1) O critério do paradigma bem definido: Jesus Cristo (= ponto de partida e de chegada); 2) O critério do sacramento visível ou sinal visível, concreto: compromisso (= falta compromisso: você está na "feira" feito "barata tonta"!); 3) O critério da dimensão vocacional como conatural e essencial à pastoral da Igreja (= Igreja que "faz de conta" que é uma "assembléia de chamados ou convocados" é superficial, não tem alicerce!); 4) O critério das etapas bem definidas: nascimento (= procurar), discernimento (= seguir), acompanhamento (= permanecer). Inexistem vocação e pastoral vocacional "sem combustível"! Releia agora, atentamente, o n o. 34. Sem pressa. E procure: Verificar em "que pé" se encontram sua própria vocação (pessoal) e a pastoral vocacional em que você trabalha, tendo como referencial os critérios e as diretivas que o Papa aponta; Redescobrir outros elementos que possam ajudar sua caminhada vocacional e a pastoral vocacional de sua paróquia; 11

6 Acentuar os pontos que mais chamaram a atenção; eles poderão servir para futuras reuniões formativas de seu grupo. 3. Conclusão Uma vez mais: o que é vocação? É chamamento ou convocação à espera de uma resposta compromissada, com responsabilidade, em vista da tarefa primordial de dar sentido à vida. Por isso é que a vocação é, ao mesmo tempo, realidade pessoal e realidade comunitária. Por que? Porque se fundamenta na realidade das Divinas Três Pessoas: não se vê a olho nu, mas estão aí, movendo a criação, a história, a vida, rumo ao futuro; caminhando lado a lado com sua ajuda segura; e respeitando cada pessoa humana do jeito que é. 4. PERGUNTAS PARA REFLEXÃO: 1. Partilhar no grupo quais conceitos cada um tinha a respeito de "santidade" e "vocação". Os dois primeiros temas ajudaram agora a esclarecer um pouco mais a questão? De que modo? 2. Vocação e Pastoral Vocacional são "mistério", são "Evangelho". Por que? Exemplificar. 12