Intervenção do Presidente do Comité Olímpico de Portugal na tomada de posse das Comissões Consultivas do Comité Olímpico de Portugal

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1 Intervenção do Presidente do Comité Olímpico de Portugal na tomada de posse das Comissões Consultivas do Comité Olímpico de Portugal A cerimónia que hoje aqui nos reúne tem um simbolismo especial e é sobre esse simbolismo que vos quero falar. O desporto é um filho direto da revolução industrial e do desenvolvimento do modo de produção capitalista, mas encontra nos jogos da antiga Grécia um fundamento de natureza histórica que entre outros motivos animou, em finais do século XIX, a renovação dos jogos olímpicos da era moderna. É um fenómeno à escala global que encerra, como poucos outros fenómenos, as contradições próprias da dinâmica social. E é, nos tempos atuais, mais do que um ato estritamente desportivo ou apenas uma dimensão da indústria do espetáculo ou um motivador da cultura do corpo. Basta olharmos para o que se passa à nossa volta e perceberemos que o papel que hoje o desporto assume na sociedade contemporânea está bem para além de um ato motor em busca da excelência performativa. Não percebê-lo, seja por preguiça intelectual ou para acomodação às ideais dominantes, corre o risco de não se entender por que razões as pessoas praticam desporto ou porque o desporto pode ser palco de reivindicações sociais como sucedeu recentemente com o futebol na Taça das Confederações no Brasil. 1

2 Numa sociedade global, o movimento olímpico enquanto repositório de um inestimável património cultural, educativo e cívico, que se expressa em diversas e novas áreas como o desenvolvimento sustentável, a paz, a integridade das competições, o desporto para todos, a diplomacia económica, a inclusão social ou a cidadania, assume um espectro de intervenção transversal no âmbito do desporto, mas também um papel privilegiado de ligação e diálogo social, politico, económico e intercultural. Daqui resulta que o Comité Olímpico é, naturalmente, uma casa do desporto que tem de ter as portas e as janelas abertas ao conhecimento, ao saber, à ciência e à cultura. Tem de estar aberto a todos. O COP tem procurado veicular esta orientação nas suas palavras, nas suas intervenções. E hoje, nesta sala, trata-se de uma ocasião muito especial - porventura das mais importantes deste mandato - para o fazer. Para comprometer perante o movimento olímpico e desportivo, e fundamentalmente perante a sociedade portuguesa, todos aqueles que serão investidos, na missão de valorizar o desporto, em diversas áreas de especialidade, não só através do labor nas comissões consultivas do COP, mas também pelo exemplo cívico nos diversos contextos da sua vida pública veiculando os nobres valores do olimpismo. Num momento cada vez mais órfão e carente de referências, afigura-se decisivo para superar as enormes dificuldades que o país atravessa criar laços de cumplicidade entre as gente do desporto e de outras áreas sociais, consolidar valores e forjar maior coesão social em torno de referenciais humanistas como o são o desporto e o olimpismo. 2

3 Estamos convictos que não vamos mudar tudo o que no desporto precisa de ser mudado, mas estamos seguros que com a vossa ajuda o vamos pensar melhor. Minhas senhoras e meus senhores O desporto vale mais para sociedade do que aquilo que custa. O desporto dá incomensuravelmente mais do que aquilo que recebe. Dá-o desde logo no plano económico-financeiro, mas também no plano educativo, formativo, cultural, ambiental, social e politico E esse serviço à comunidade é um traço distintivo dos inúmeros agentes que diariamente se empenham - frequentemente em circunstâncias adversas -, a competir, a treinar, a dirigir e a gerir para fazer mais e melhor pelo desporto em Portugal. São esses os exemplos que devemos trazer para o espaço público e nos esforçarmos por incorporar na sociedade. É essa a missão do COP. É também esse, a partir desta data, o compromisso que vos pedimos que assumam connosco para juntos, valorizarmos socialmente o desporto Estou seguro que o vosso prestígio, a vossa competência e o vosso profissionalismo capacitarão o COP a estar à altura desta enorme responsabilidade. Mas não se trata de uma responsabilidade perante o COP. É bom que se clarifique. Trata-se sim de uma responsabilidade social perante o esforço e a 3

4 dedicação que, através do desporto, formam gerações de cidadãos e atletas, reforçam a nossa identidade, promovem a nossa cultura e colocam o nome de Portugal ao mais elevado nível. O período que atualmente vivemos na nossa história reclama a importância da ética na vida pública e procura, e bem, promovê-la através do desporto. Permitam-me recuperar uma breve citação: A ética é estar à altura das circunstâncias. Mais do que um manual de boas maneiras tem de ser um repositório de bons exemplos. E quais são essas circunstâncias? Quais os desafios que se colocam? Sensibilizar para a importância do desporto e valorizá-lo junto da sociedade exige uma rotura com uma conceção dominante que enfoca e reduz o seu olhar sobre o desporto como uma atividade de entretenimento e lazer, olvidando as suas dimensões educativas, sociais, culturais, políticas e económicas. Reconfigurar estas circunstâncias, assumindo o desafio de mudar este paradigma dominante, representa a principal missão das comissões consultivas do COP, no sentido de aprofundar, debater, refletir e promover no espaço público um conjunto de temas relacionados com a valorização das referidas dimensões. Vejamos pois, em síntese, alguns desses temas Desde logo a clarificação das múltiplas dimensões do conceito de desporto, que o projetam bem para além de uma certa liturgia higienista em voga que o tende a enclausurar em torno da atividade e do exercício físico, refletindo 4

5 sobre a promoção do desporto ao longo da vida, a generalização da prática desportiva e o fomento da literacia desportiva, de que se ocupará a Comissão de Desporto para Todos. E porque a escola constitui um pilar essencial na educação para o desporto, decisivo na formação de hábitos desportivos regulares ao longo da vida, de acordo com vários estudos de referência, importa identificar os fatores críticos para potenciar estas virtualidades e corrigir eventuais debilidades. A isso estará atenta a Comissão Educação Física e Desporto na Escola. A formação daqueles com responsabilidades de enquadramento técnico, sendo unanimemente reconhecida como um requisito essencial para elevar a qualidade nos diversos níveis de prática desportiva não poderia deixar de ser tomada em consideração pela Comissão de Treinadores, bem como outras matérias relacionadas com o apoio técnico no âmbito da preparação das missões olímpicas cujo enquadramento médico ficará a cargo da Comissão Médica de acordo com as normas estatutárias do COP. A propósito de normas estatutárias, o Comité Olímpico de Portugal carece de atualizar os seus regulamentos e estatutos de acordo com a diversidade de atribuições e competências que hoje exerce, em conformidade com a Carta Olímpica, o ordenamento jurídico vigente e demais disposições emanadas pelo COI. Espera-se dos prestigiados juristas que compõem a Comissão Jurídica um importante contributo nesta matéria. Uma das maiores debilidades identificada no desporto em Portugal situa-se na fraca participação das mulheres, quer enquanto atletas, técnicas ou dirigentes. Diversos motivos concorrem para que tal aconteça, alguns deles claramente 5

6 identificados. Importa, pois, implementar medidas para colmatar tal défice. A Comissão Mulheres e Desporto, estou certo, não deixará de as propor. Meus caros, Valorizar socialmente o desporto passa inquestionavelmente por trilhar um rumo para o futuro em torno destes desafios. Mas não estão aqui em causa apenas desafios que se esgotam em torno dos agentes e organizações desportivos. O desporto, e em particular o olimpismo, são hoje fenómenos globais. Constitui-se como um elemento de diplomacia, gerador de paz e união entre os povos, promotor do desenvolvimento sustentável e do respeito pelos recursos naturais, com um notável legado que Coubertin nos deixou através dos Jogos Olímpicos da era moderna. A Comissão Ambiente e Desporto, tendo presente que o ambiente constitui o 3.º pilar do olimpismo, conforme dispõe o texto da Carta Olímpica, tem aqui um amplo espaço de reflexão e dela se esperam importantes contributos, tendo em atenção que, ao contrário do que acontece por exemplo com o COI, esta problemática não tem em Portugal a relevância que o movimento olímpico lhe atribui. O valor económico de um fenómeno global com esta dimensão carece de ser realçado e analisado com o devido rigor científico, de modo a clarificar os mecanismos de captação de investimento e financiamento a uma atividade com assinalável retorno comercial e fiscal. O conselho da Comissão de Economia e Fiscalidade no Desporto será, por isso, uma importante maisvalia para o COP. 6

7 No entanto, quando se assumem compromissos para o futuro não se pode esquecer o passado. Preservar, divulgar e promover o património e a memória olímpica, muito mais do que um revisionismo representa a ponte entre o passado vivido e o futuro projetado afirmando junto da comunidade a expressão cultural do desporto. As personalidades que compõem a Comissão Cultura e Desporto não deixarão, a este propósito, de ter em consideração a relevância da promoção da cultura através do desporto, em especial nos canais de rádio e televisão com responsabilidades de serviço público. E porque a divulgação da história e da cultura olímpica, mas também de outros temas relacionados com o desporto, é uma responsabilidade que o Comité Olímpico de Portugal considera da maior relevância para aproximar a sociedade deste fenómeno que nos apaixona, fizemos questão de assinar no inicio desta cerimónia dois protocolos nesta âmbito, com o Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas e com a editora Visão e Contextos. Minhas senhoras e meus senhores. O caminho para aproximar o país do desporto e, é bom que se sublinhe, o desporto do país - para além da relação ocasional e ténue que ocorre de quatro em quatro anos, ou por ocasião de um ou outro resultado de excelência - exige de todos nós, tal como o exige àqueles que diariamente se superam por melhores resultados, o engenho e a arte de transmitir à sociedade as potencialidades do único fenómeno que, à escala planetária, movimenta paixões; une povos, atletas e nações; transcende os limites das capacidades humanas; educa o corpo; forma cidadãos, eterniza heróis e reúne em si um inesgotável património cultural construído ao longo de séculos. 7

8 É, pois, chegado o momento de assumirmos esta herança e, a cada ensejo, a cada gesto, a sabermos preservar, promover e transmitir rumo a um futuro em que o desporto assuma um estatuto em harmonia com a dimensão do valor que acrescenta à sociedade portuguesa nas mais variadas dimensões. Para isso o COP conta com os melhores. Para isso o COP conta convosco. Muito obrigado Lisboa,2 de Julho de