Os Beats graphic novel

Transcrição

1 Os Beats graphic novel Roteiro de Harvey Pekar et al. Arte de Ed Piskor et al. Edição original de Paul Buhle Tradução de Érico Assis beats_miolo.indd 3 17/09/10 08:28

2 Título original: The Beats A Graphic History Publicado sob acordo com a Hill and Wang, um selo de Farrar, Straus and Giroux, LLC, Nova York, representada por Marco Vigevani Agenzia Letteraria. Copyright 2009 by Harvey Pekar e Paul Buhle (texto) Copyright 2009 by Ed Piskor (arte) Tradução: 2010 by Editora Benvirá Diretor Editorial Thales Guaracy Gerente editorial Carla Fortino Editora Fabiana Medina Assistente editorial Carolina Hidalgo Castelani Revisão Laila Guilherme e Max Gimenes Arte-finalização Eduardo Amaral - Duligraf Arte de capa original Aaron Artessa e Ed Piskor P432 CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ Pekar, Harvey Os Beats: graphic novel / texto por Harvey Pekar et alii ; arte por Ed Piskor et alii ; edição original por Paul Buhle ; tradução Érico Assis. - São Paulo : Saraiva, principalmente il. Tradução de: The Beats : a graphic history Texto em quadrinhos ISBN Geração Beat - História em quadrinhos. 2. Contracultura - História em quadrinhos. 3. Geração Beat - Biografia - História em quadrinhos 4. Escritores americanos - Entrevistas. 5. Poetas americanos - Entrevistas. I. Piskor, Ed. II. Buhle, Paul, III. Título CDD: CDU: A City Lights e os Beats em San Francisco, copyright 2009 by Nancy J. Peters (texto) e copyright 2009 por Jay Kinney (arte). Kenneth Patchen, copyright 2009 by Nick Thorkelson (arte e texto). Lamantia, copyright 2009 by Nancy J. Peters e Penelope Rosemont (texto) e copyright 2009 by Summer McClinton (arte). Gary Snyder, copyright 2009 by Peter Kuper (arte). Diane Di Prima, copyright 2009 by Mary Fleener (texto e arte). O Zelador, copyright 2009 by Jerome Neukirch (texto e arte). Garotas Beatnik, copyright 2009 by Joyce Brabner (texto) e copyright 2009 by Summer McClinton (arte). Jay DeFeo: a Rosa, copyright 2009 by Trina Robbins (texto) e copyright 2009 by Anne Timmons (arte). Beats da Arte, copyright 2009 by Gary Dumm (arte e texto). Jazz e Poesia, copyright 2009 by Lance Tooks (arte). O Tormento de d.a. levy, copyright 2009 by Gary Dumm. Tuli Kupferberg, copyright 2009 by Jeffrey Lewis (arte e texto). Agradecemos imensamente a permissão para reproduzir as letras das seguintes músicas: Lord of the Trenches, de Edward Sanders, PCC Music, BMI. CIA Man, de Tuli Kupferberg, PCC Music, BMI. Hallucination Horrors, de Tuli Kupferberg, Heavy Metal Music, BMI. I Couldn t Get High, de Ken Weaver, Heavy Metal Music, BMI. Slum Goddess, de Ken Weaver, Heavy Metal Music, BMI. Doin All Right, de Ted Berrigan, Heavy Metal Music, BMI. Exorcism of the Pentagon, de Ed Sanders, Heavy Metal Music, BMI. Também somos gratos à permissão obtida para reproduzir poemas de Kenneth Patchen, gentilmente cedida pela UC Santa Cruz Special Collections Kenneth Patchen Archive. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida, disponibilizada para download ou transmitida por qualquer meio (eletrônico, mecânico, fotocópia), sem a autorização por escrito do proprietário do copyright. Direitos exclusivos para a língua portuguesa cedidos à Saraiva S.A. Livreiros Editores Rua Henrique Schaumann, 270 CEP São Paulo SP Brasil beats_miolo.indd 4 17/09/10 08:28

3 Sumário Introdução...vii Os Beats: Kerouac, Ginsberg e Burroughs... 1 Jack Kerouac... 3 Allen Ginsberg William S. Burroughs Os Beats: Perspectivas O Renascimento da Poesia em San Francisco Michael McClure Philip Whalen Entre Rexroth e Gary Snyder na região de San Francisco Robert Duncan Lawrence Ferlinghetti Gregory Corso LeRoi Jones / Amiri Baraka Charles Olson v beats_miolo.indd 5 17/09/10 08:28

4 Robert Creeley A City Lights e os Beats em San Francisco Roteiro de Paul Buhle e Nancy J. Peters e arte de Jay Kinney Kenneth Patchen Roteiro de Harvey Pekar e Nick Thorkelson e arte de Nick Thorkelson Lamantia Roteiro de Nancy J. Peters e Penelope Rosemont e arte de Summer McClinton Gary Snyder Roteiro de Harvey Pekar e arte de Peter Kuper Diane di Prima Roteiro de Harvey Pekar e Mary Fleener e arte de Mary Fleener O Zelador Roteiro e arte de Jerome Neukirch Garotas Beatnik Roteiro de Joyce Brabner e arte de Summer McClinton Jay DeFeo: A Rosa Roteiro de Trina Robbins e arte de Anne Timmons Beats da Arte Roteiro e arte de Gary Dumm Jazz e Poesia Roteiro de Harvey Pekar e arte de Lance Tooks O Tormento de d.a. levy Roteiro de Harvey Pekar e Paul Buhle e arte de Gary Dumm Tuli Kupferberg Roteiro de Jeffrey Lewis e Tuli Kupferberg e arte de Jeffrey Lewis Sobre nossos artistas e escritores Agradecimentos vi beats_miolo.indd 6 17/09/10 08:28

5 Introdução Nunca houve um grupo como o deles na literatura e na cultura dos Estados Unidos e é improvável que venha a existir outro semelhante. A Geração Beat esteve entre o coletivismo social dos anos Franklin D. Roosevelt e o faça você mesmo dos anos 1960, enquadrada (embora odiasse os quadrados ) na angústia da Guerra Fria. Contra o conformismo compulsório, os Beats propunham sexo selvagem, uso de drogas recreativas, afastamento das raízes por vontade própria e, o mais importante, escrita experimental de todos os tipos. Uivo e outros poemas, de Allen Ginsberg, para ficar em apenas um exemplo, marcou novos precedentes legais para a liberdade de publicação e restabeleceu o papel do poeta no espaço público com a influência e a relevância desaparecidas há gerações nos Estados Unidos. Os Beats também introduziram a poesia e a prosa que soavam como jazz, a literatura que adotava religiões orientais (o budismo, acima de todas), os temas dos índios americanos, a homossexualidade, a resistência ao alistamento militar e toda uma gama de ideias anteriormente inaceitáveis, quase impronunciáveis. Os Beats logo desapareceram, vítimas de seus próprios estilos de vida, mas a influência deles ainda viria a crescer. A contracultura dos anos 1960 parecia, de certa forma, ter sido feita por eles e para eles. Esta última opinião é certamente um exagero, mas significativa, e não apenas para o público norte-americano. Allen Ginsberg foi coroado Rei de Maio em Praga, num levante pacífico de calças jeans, em 1968, contra a ocupação russa. Em partes da América Latina, da África e da Ásia, bem como na Europa, os escritores Beat provavelmente tinham maior ressonância com poetas, romancistas, rebeldes sociais e excêntricos do que nos Estados Unidos. Sua influência de maneira alguma foi desperdiçada. Jovens, particularmente, parecem redescobri-los com frequência, hoje em maior quantidade graças à web. O significado maior dos Beats é e provavelmente sempre será de difícil compreensão. Em um famoso ensaio de 1957, Norman Mailer o defensor deles de maior prestígio sustentou sua importância coletiva. Escrevendo numa época em que a coragem de ser indivíduo estava sendo testada severamente nos reprimidos Estados Unidos, Mailer defendia aqueles que se identificavam com os renegados, que buscavam nas palavras capturar o que a maioria dos compatriotas não podia ou não queria ver. Estes homens e estas mulheres, escreveu, tinham uma missão política, cultural e espiritual solene vii beats_miolo.indd 7 17/09/10 08:28

6 ao que podemos acrescentar que os Beats, ao não aceitar uma lógica externa, fosse capitalista, socialista ou qualquer outra, renovaram a emoção da descoberta em seus próprios termos. Dessa forma, inventaram um modelo diferente para o artista/intelectual rebelde e, ao longo de suas vidas e obras, responderam às buscas de uma nova geração. Outra questão é ainda mais complicada: o papel dos Beats na cultura da mídia de massa nos anos 1950 e A escritora e poeta Diane di Prima refletiu, posteriormente, que os Beats haviam nascido em pequenos grupos, isolados e na defensiva quanto a sua semi-invisibilidade, vendo a si mesmos como algumas centenas de almas em uma vasta e hostil sociedade consumista. Então veio a explosão publicitária, que incluiu a própria criação da palavra Beatnik, em 1957, pelo colunista de jornal e simpatizante Herb Caen, de San Francisco. A narrativa Beatnik de repente virou a piada do ano. Ernie Kovaks apareceu na televisão com uma camiseta listrada de mangas compridas, usando uma boina e batendo bongôs, enquanto proferia frases inexplicáveis. Festas Alugue um Beatnik e a campanha Beatnik para Presidente (em 1960) capturaram o sabor pessimista da morte cultural dos anos 1950 e O livro à sua frente é uma produção em quadrinhos sem a pretensão de profundidade e interpretação literária trazida por centenas de livros acadêmicos em diversos idiomas, uma bibliografia em crescimento constante. Este livro tem uma virtude diferente, curiosamente alinhada, de certa forma, à popularização vernacular original dos Beats. Nossos artistas, estejam eles trabalhando a partir de seus próprios roteiros ou daqueles fornecidos por outros, proporcionam uma interpretação visual e narrativa nova e criteriosa à sua maneira. O principal roteirista, Harvey Pekar, e o editor, Paul Buhle, trabalharam juntos ao longo do processo, debruçando- -se sobre questões e personalidades importantes. Ed Piskor, um artista jovem demais para ter vivido a saga Beat, mas que enfaticamente faz parte de seus legados, desenhou a maioria das páginas. Outros artistas, incluindo alguns dos melhores ainda na ativa de diversas gerações, e escritores (incluindo a figura central da City Light Books nestes últimos trinta anos) empenharam-se também em capturar a admiração duradoura pela Geração Beat. Ninguém vê esta abordagem como definitiva. Mas ela é nova, e vital. Paul Buhle e Harvey Pekar viii beats_miolo.indd 8 17/09/10 08:28

7 OS BEATS: KEROUAC, GINSBERG E BURROUGHS ROTEIRO DE: HARVEY PEKAR ARTE DE: ED PISKOR beats_miolo.indd 1 17/09/10 08:28

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10 EM SETEMBRO DE 1939, JACK KEROUAC MUDOU-SE DE NOVA YORK PARA LOWELL, MASSACHUSETTS. FILHO DE PAIS FRANCO-CANADENSES, ELE CHEGARA ALI GRAÇAS A UMA BOLSA DE ESTUDOS QUE RECEBERA DA UNIVERSIDADE DE COLUMBIA. ANTES DE INGRESSAR EM COLUMBIA, PORÉM, ELE TERIA DE CUMPRIR ALGUNS CRÉDITOS DO COLEGIAL NA ESCOLA PREPARATÓRIA HORACE MANN. ELE FEZ PARTE DA EQUIPE DE FUTEBOL americano HORACE MANN, MAS TAMBÉM PUBLICOU contos na revista da escola. DESENVOLVEU o AMOR PELA LITERATURA E decidiu que QUERIA SER ESCRITOR PROFISSIONAL. 4 beats_miolo.indd 4 17/09/10 08:28

11 ENTRE SUAS PRIMEIRAS INFLUÊNCIAS ESTAVA O ROMANCISTA THOMAS WOLFE. JACK era UM AUTODIDATA QUE Lia compulsivamente DESDE O COLEGIAL. EMBORA TIRAsse BOAS NOTAS NA HORACE MANN E já tivesse COMPLETADO SEUS CRÉDITOS, FALTAVA FREQUENTEMENTE ÀS AULAS, PARA CONFERIR OS viciados E AS PROSTITUTAS Da TIMES SQUARE. EI, QUANTO VOCÊ COBRA? LOGO TORNOU-SE FÃ DE JAZZ E ASSISTIU ÀS LENDÁRIAS JAM SESSIONS no SUL DE MANHATTAN, NAS QUAIS CHARLIE PARKER, DIZZY GILLESPIE, THELONIoUS MONK E OUTROS COMEÇAVAM A INVENTAR O BEBOP. É ISSO AÍ, CARA!!! AS LONGAS FRASES MUSICAIS DOS BOPPERS INFLUENCIARAM A PROSA DE KEROUAC. SE EU PUDESSE ESCREVER FRASES LONGAS DO JEITO QUE ELE TOCA... 5 beats_miolo.indd 5 17/09/10 08:28