PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Santos, em que é apelante ROSEMEYRE GOIS DE LIMA (JUSTIÇA GRATUITA), é apelado VINICIUS DOMINIQUE GOMES (JUSTIÇA GRATUITA). ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 5ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram provimento em parte ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores A.C.MATHIAS COLTRO (Presidente) e ERICKSON GAVAZZA MARQUES. São Paulo, 15 de novembro de Fernanda Gomes Camacho Relatora Assinatura Eletrônica

2 Apelação nº Relatora: FERNANDA GOMES CAMACHO Órgão Julgador: 5ª CÂMARA DE DIREITO PRIVADO APELANTE: ROSEMEYRE GOIS DE LIMA (JUSTIÇA GRATUITA) APELADO: VINICIUS DOMINIQUE GOMES (JUSTIÇA GRATUITA) Comarca: Santos - 9ª Vara Cível Processo de Origem: Juiz Prolator: Carlos Ortiz Gomes VOTO nº 5859 RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MORAIS. Ofensas proferidas contra o autor em redes sociais. Conteúdo provocativo e ofensivo. Ofensa à imagem e honra do autor. Ré que não nega a prática do ato. Justificativas apresentadas que não afastam a responsabilidade da ré. Dano moral configurado. Valor da indenização reduzido para R$10.000,00, ante as circunstâncias fáticas. Sentença parcialmente reformada. Fixados honorários recursais devidos pelo réu e mantida verba honorária devida pela ré fixada em primeiro grau. Recurso parcialmente provido. Vistos. Trata-se de ação relativa a indenização por danos morais julgada procedente pela sentença de fls.197/200, cujo relatório fica adotado, para condenar a ré a pagar ao autor a quantia de R$17.000,00, a título de dano moral, que serão atualizados a partir desta sentença (Súmula 362 do STJ), com juros moratórios simples de 1% ao mês a partir da citação. Pela sucumbência, a ré foi condenada a arcar com o pagamento das custas e despesas processuais, bem como honorários advocatícios arbitrados em 15% sobre o valor da condenação. Inconformada, apela a ré, sustentando, em síntese, que o apelado contribuiu para o evento danoso. Afirma que foi impedida de estacionar seu veículo em vaga na rua pelo apelado que se colocou na frente do carro para guardar a vaga para o carro de sua namorada que dava a volta no quarteirão. Argumenta que, indignada com a atitude reprovável do apelado, desabafou na rede social sobre o fato, postagem que ficou apenas algumas horas on line. Pede a reforma da sentença e, alternativamente, a redução do quantum indenizatório a fim de que não seja caracterizado enriquecimento ilícito, ante a Apelação nº Voto nº 5859 DAG 2

3 conduta reprovável do apelado (fls. 211/214). A parte contrária apresentou contrarrazões (fls.217/220). Regularmente processado o recurso, sem preparo por ser beneficiária da justiça gratuita (fls. 197). É o relatório. O recurso comporta parcial provimento. No mais, trata-se de ação de indenização por danos morais em que o autor pretende a condenação da ré ao pagamento do 'quantum' indenizatório de R$25.000,00, pelas ofensas a ele proferidas. Narra o autor que foi alvo de ofensas verbais proferidas pela ré, em 01 de janeiro de 2015, quando reservada vaga em via pública para sua namorada, afirmando que a ré jogou o carro sobre ele. Alega, que, posteriormente, a ré proferiu outras ofensas com a foto do autor, por meio das redes sociais Facebook e Wathsapp e, ainda, no dia 24 de março de 2015, ofendê-lo nas dependências de seu ambiente de trabalho (agência bancária). Por fim, esclarece que moveu queixa crime contra a ré, a qual aceitou a transação penal. A Constituição Federal garante a liberdade de manifestação do pensamento, vedado o anonimato (artigo 5º, inciso IV), e coloca a salvo de qualquer restrição, sob qualquer forma, também o direito à informação (Art.220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição). Ao mesmo tempo, assegura ao ofendido o direito de resposta, proporcional ao agravo, além de indenização por dano material, moral ou à imagem (artigo 5º, inciso V), e torna invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação (artigo 5º, inciso X). Restou demonstrado nos autos a intenção da ré em ultrajar e difamar o autor com a inclusão sua foto, por meio de redes sociais Facebook e Wathsapp, este o grupo de trabalho do autor (fls.34/45). Apelação nº Voto nº 5859 DAG 3

4 Não obstante a conduta equivocada do autor em guardar vaga para estacionamento de veículo em via pública, a conduta da ré também é desabonadora, porém em maior dimensão e gravidade, uma vez que proferiu impropérios contra a pessoa do autor, publicou a sua imagem e o difamou em redes sociais. O cunho da mensagem é provocativo e ofensivo, e certamente teve o condão de macular a imagem e honra do autor, inclusive perante terceiros que acessam a rede mundial de computadores. Ademais, como bem observado na r. sentença: O conjunto probatório demonstra a intenção inequívoca da demandada em constranger o demandante, quer chamando-o de moleque aos gritos, tanto que segundo a testemunha houve um agrupamento de pessoa que tiveram a atenção chamada pela conduta da demandada. Mas a demandada foi além, como já assentado alhures, partiu para difamar o requerente nas redes sociais, com a inclusão da sua fotografia, deixando inequívoca sua intenção de ultrajar o requerente, tanto diretamente, como pela difamação pelo meio eletrônico (fls.198). Os danos morais na hipótese analisada são evidentes e decorrem da publicação, que, pelo seu teor, são aptas a provocar sofrimento psicológico e grave abalo emocional, ante seus efeitos negativos sobre a imagem do autor. Ressalte-se que a garantia constitucional da liberdade de expressão (art. 5º, IV) não foi exercida dentro de seus estritos limites, porquanto feriu a inviolabilidade da honra e da imagem do indivíduo (art.5, X, CF), merecendo aqui ser reparada. Ademais, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça entende que: O mero dissabor não pode ser alçado ao patamar do dano moral, mas somente aquela agressão que exacerba a naturalidade dos fatos da vida, causando fundadas aflições ou angústia no espírito de quem a dirige (AgRg no Resp n /RO, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira e AgRg no Ag nº /DF, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito). Apelação nº Voto nº 5859 DAG 4

5 No que tange ao valor, o valor fixado na sentença entremostra-se excessiva, ante as circunstâncias fáticas, embora desabonadora a conduta de ambas as partes e, em que pese a desproporcionalidade da ré, não há notícias de que a publicação tenha ultrapassado a imagem e honra do autor, causando-lhe prejuízos no âmbito profissional ou à sua integridade física. Com efeito, A indenização, em caso de danos morais, não visa reparar, no sentido literal, a dor, a alegria, a honra, a tristeza ou a humilhação; são valores inestimáveis, mas isso não impede que seja precisado um valor compensatório, que amenize o respectivo dano, com base em alguns elementos como a gravidade objetiva do dano, a personalidade da vítima, sua situação familiar e social, a gravidade da falta, ou mesmo a condição econômica das partes (REsp. nº RN, 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, v. u., Rel. Min. Edson Vidigal, em 16/5/00, DJU de 12/6/00, pág.129). Em verdade, na fixação da indenização a esse título, recomendável que o arbitramento seja feito com moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao nível sócio-econômico dos autores e, ainda, ao porte econômico dos réus, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e pela jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de sua experiência e do bom senso, atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso (REsp. nº MG, 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, v. u., Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, em 29/10/98, DJU de 1º/3/99, pág. 325). Anota-se, por fim, que, À míngua de critérios objetivos seguros para a fixação da indenização, têm-se a doutrina e jurisprudência da equação compensação-repreensão, ou seja, o valor arbitrado deve ser suficiente tanto para compensar o sofrimento da vítima (sem representar um enriquecimento sem causa em favor dela), quanto para atuar, em relação ao responsável, como fator de inibição de conduta culposa futura (Apelação Cível nº São Paulo, 6ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, v. un., Rel. Des. Antônio Carlos Marcato, em 11/2/99). Feitas essas observações, entremostra-se razoável a redução do valor da indenização para R$10.000,00, montante suficiente para compensar o sofrimento do autor, sem implicar em enriquecimento sem causa: AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. Erro médico. Falecimento da filha do autor. Atendimento inadequado. Sentença julgou parcialmente procedente a ação, para condenar o corréu Laurindo Laurindo Lucio Fazolli e a Irmandade Santa Casa Leonor Mendes de Barros de Cardoso, solidariamente, ao pagamento de indenização por danos morais ao autor, no importe de R$ ,00; julgou também parcialmente procedente o pedido para condenar o corréu Paulo Tadashi Oikawa e a Irmandade Santa Casa Leonor Mendes de Barros de Cardoso, solidariamente, ao pagamento de R$ ,00; julgou improcedentes os pedidos formulados pelo autor em relação ao Município de Apelação nº Voto nº 5859 DAG 5

6 Cardoso. Data da distribuição da ação: 25/02/2009. Valor da causa: R$ ,00. (...) Responsabilidade dos médicos é subjetiva e do hospital objetiva. Laudo pericial e conjunto probatório demonstraram que o atendimento dispensado à paciente, que veio a óbito, não foi o melhor que poderia se esperar. Responsáveis os corréus médicos e o hospital, solidariamente. Ausência de provas quanto à culpa do município, em relação ao suposto mau atendimento na prestação do serviço de transporte, por meio da ambulância. Valor da indenização fixado com moderação. Recursos improvidos (Apelação nº , Des. Rel. James Siano, data de julgamento: 06/08/2014, 5ª Câmara de Direito Privado TJSP). Indenização por danos morais. Erro médico. Negativa de procedimento. Alta prematura. Morte do paciente. Sentença de improcedência em primeiro grau. Responsabilidade Civil. Erro médico. Ocorrência. Alta médica concedida quando o paciente ainda apresentava graves sintomas. Falecimento em dia posterior à alta hospitalar. Certidão de óbito apontando desnutrição e choque hipovolêmico como causas da morte. Nexo causal e culpa comprovados. Dever de indenizar. Caracterização dos danos morais. Fixação da indenização de acordo com os critérios de razoabilidade e proporcionalidade. Danos morais arbitrados em R$50.000,00, corrigidos monetariamente desde o arbitramento e com juros de mora de 1% ao mês contados da citação. Honorários fixados em 10% sobre o valor da condenação. Recurso provido (Apelação nº , Des. Rel. Edson Luiz de Queiroz, data de julgamento: 05/11/2014, 5ª Câmara de Direito Privado TJSP). Assim, a r. sentença deve ser reformada, para reduzir o valor da indenização para R$10.000,00, mais correção monetária desde o presente julgamento, e juros moratórios de 1% ao mês, a partir da citação. Nos termos do art. 85, 2º e 11, do CPC, pela sucumbência e provimento parcial do recurso, a ré arcará com custas e despesas processuais, bem como honorários advocatícios nos moldes em que fixados na r. sentença. Pela sucumbência recursal, o autor arcará com honorários advocatícios que fixo em R$500,00. Para fins de prequestionamento, consideram-se incluídas no acórdão todas as matérias suscitadas pelas partes, objeto do presente recurso. Diante do exposto, dá-se parcial provimento ao recurso, nos termos da fundamentação supra FERNANDA GOMES CAMACHO Relatora Apelação nº Voto nº 5859 DAG 6