PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Jundiaí, em que é apelante GISLAINE APARECIDA DA SILVA JAVARES, é apelada REGIANE APARECIDA DE OLIVEIRA. ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 5ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao recurso, com observação. V.U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores A.C.MATHIAS COLTRO (Presidente) e ERICKSON GAVAZZA MARQUES. São Paulo, 16 de novembro de Fernanda Gomes Camacho Relatora Assinatura Eletrônica

2 Apelação nº Relatora: FERNANDA GOMES CAMACHO Órgão Julgador: 5ª CÂMARA DE DIREITO PRIVADO APELANTE: GISLAINE APARECIDA DA SILVA JAVARES APELADO: REGIANE APARECIDA DE OLIVEIRA Comarca: Jundiaí - 6ª Vara Cível Processo de Origem: Juiz Prolator: Dirceu Brisolla Geraldini VOTO nº 5745 RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MORAIS. Ofensas e xingamentos proferidos à autora em rede social. Conteúdo extremamente provocativo e ofensivo. Ofensa à imagem e honra da autora. Ré que não nega a pratica do ato. Justificativas apresentadas que não afastam a responsabilidade da ré. Dano moral configurado. Valor mantido em R$10.000,00. Sentença mantida. Honorários majorados. Recurso não provido, com observação. Vistos. Trata-se de ação relativa a indenização por danos morais julgada procedente pela sentença de fls. 200/204, cujo relatório fica adotado, para condenar a ré a pagar à autora a quantia de R$10.000,00, a título de dano moral, com atualização monetária a partir do arbitramento e juros de mora de 1% ao mês, contados do evento danoso. Pela sucumbência, até foi condenada a arcar com o pagamento das custas e despesas processuais, bem como honorários advocatícios arbitrados em 15% sobre o valor da causa. Inconformada, apela a ré, sustentando, em síntese, que a apelada contribuiu para o evento danoso. Ademais, as palavras utilizadas na mensagem foram proferidas em um momento de total desespero, quando o marido da apelante, um senhor de 60 anos, sentiu-se mal, com risco de ter uma crise cardíaca diante da elevação de sua pressão arterial, pelo fato da autora e seu companheiro terem escondido o veículo, impedindo sua devolução ao banco. Caso mantida a condenação, os danos morais devem ser reduzidos, em razão da culpa concorrente da apelada no evento danoso. Pleiteia a reforma da sentença e Apelação nº Voto nº 5745 VAN 2

3 a aplicação de multa por litigância de má-fé. A parte contrária apresentou contrarrazões (fls.219/230). Regularmente processado e preparado o recurso (fls.215/216). É o relatório. O recurso não comporta provimento. No mais, trata-se de ação de indenização por danos morais, em que a autora alega que foi alvo de calúnia e difamação na rede social Facebook, que atingiram sua honra e imagem. A Constituição Federal garante a liberdade de manifestação do pensamento, vedado o anonimato (artigo 5º, inciso IV), e coloca a salvo de qualquer restrição, sob qualquer forma, também o direito à informação (Art.220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição). Ao mesmo tempo, assegura ao ofendido o direito de resposta, proporcional ao agravo, além de indenização por dano material, moral ou à imagem (artigo 5º, inciso V), e torna invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação (artigo 5º, inciso X). A autora comprovou o envio de mensagens ofensivas a seu companheiro, inclusive com utilização de palavrões, que tiveram o condão de causar dano à sua imagem e honra subjetiva. Seguem trechos das referidas mensagens: Sua mulher a maior prostituta de três lagoas... ; Todos dizem que nem a Rafaela é sua filha. É sim de Silvio amante dela (fls.21). Além disso, a autora comprovou a publicação de mensagem em sua página no facebook, onde a ré proferiu novas ofensas e xingamentos (fls.22/24). O cunho das mensagens é provocativo e extremamente ofensivo, e certamente tiveram o condão de macular a imagem e honra da autora, inclusive perante terceiros que acessam a rede mundial de Apelação nº Voto nº 5745 VAN 3

4 computadores. Ressalte-se que ainda que a primeira mensagem tenha sido encaminhada por meio particular, atingiu sua finalidade de lesar. Ademais, como bem observou o magistrado prolator da sentença: a ré não negou as afrontas efetuadas e alegadas pela autora; preocupou-se em justificar e expor, ao longo de suas manifestações nos autos, os motivos que a deixaram em desespero e a levaram a praticar o ato ilícito. Contudo, o estado de espírito em que se encontrava no momento, bem como a desarmonia existente em sua relação com a autora, não afastam sua responsabilidade uma vez consumada a violação à moral e à intimidade praticada... Como pode ser observado, além de sexual e íntimo, o conteúdo das mensagens é difamador, calunioso e injurioso (fls.202). Os danos morais na hipótese analisada são evidentes e decorrem das publicações, que, pelo seu teor, são aptas a provocar sofrimento psicológico e grave abalo emocional, ante seus efeitos negativos sobre a imagem da autora. Ressalte-se que a garantia constitucional da liberdade de expressão (art. 5º, IV) não foi exercida dentro de seus estritos limites, porquanto feriu a inviolabilidade da honra e da imagem do indivíduo (art.5, X, CF), merecendo aqui ser reparada. Ademais, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça entende que: O mero dissabor não pode ser alçado ao patamar do dano moral, mas somente aquela agressão que exacerba a naturalidade dos fatos da vida, causando fundadas aflições ou angústia no espírito de quem a dirige (AgRg no Resp n /RO, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira e AgRg no Ag nº /DF, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito). Quanto ao valor da indenização, o montante fixado se mostra razoável. Com efeito, A indenização, em caso de danos morais, não visa reparar, no sentido literal, a dor, a alegria, a honra, a tristeza ou a humilhação; são valores inestimáveis, mas isso não impede que seja precisado um valor compensatório, que amenize o respectivo dano, com base em alguns elementos como a gravidade objetiva do Apelação nº Voto nº 5745 VAN 4

5 dano, a personalidade da vítima, sua situação familiar e social, a gravidade da falta, ou mesmo a condição econômica das partes (REsp. nº RN, 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, v. u., Rel. Min. Edson Vidigal, em 16/5/00, DJU de 12/6/00, pág.129). Em verdade, na fixação da indenização a esse título, recomendável que o arbitramento seja feito com moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao nível sócio-econômico dos autores e, ainda, ao porte econômico dos réus, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e pela jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de sua experiência e do bom senso, atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso (REsp. nº MG, 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, v. u., Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, em 29/10/98, DJU de 1º/3/99, pág. 325). Anota-se, por fim, que, À míngua de critérios objetivos seguros para a fixação da indenização, têm-se a doutrina e jurisprudência da equação compensação-repreensão, ou seja, o valor arbitrado deve ser suficiente tanto para compensar o sofrimento da vítima (sem representar um enriquecimento sem causa em favor dela), quanto para atuar, em relação ao responsável, como fator de inibição de conduta culposa futura (Apelação Cível nº São Paulo, 6ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, v. un., Rel. Des. Antônio Carlos Marcato, em 11/2/99). Assim, de rigor a manutenção da sentença. Diante do trabalho desenvolvido pelos causídicos e a data da interposição do recurso, na vigência do atual Código de Processo Civil, majoro os honorários advocatícios para 20% do valor atribuído à causa, nos termos do disposto no artigo 85, 11, do Código de Processo Civil de com observação. Diante do exposto, nega-se provimento ao recurso, FERNANDA GOMES CAMACHO Relatora Apelação nº Voto nº 5745 VAN 5