PARÂMETROS FISIOLÓGICOS DE EQUINOS UTILIZADOS EM EQUOTERAPIA

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1 PARÂMETROS FISIOLÓGICOS DE EQUINOS UTILIZADOS EM EQUOTERAPIA Marcelle de Castro ANDRADE 1, Fabiany Sousa Costa FEITOSA 1, Luciano Henrique Cruz MASIERO 2, Márcio Emílio dos SANTOS 2, Felipe Gomes Ferreira PADILHA 3, Diógenes FERREIRA FILHO 1, Iaçanã Valente Ferreira GONZAGA 1, Fernanda Nascimento de GODOI* 1 *autor para correspondência: fernandagodoiufrrj@gmail.com 1 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, Rio de Janeiro, Brasil 2 Centro de Equoterapia e Reabilitação da Vila Militar CERVIM, Rio de Janeiro, Brasil 3 Universidade Federal Fluminense, Niterói, Rio de Janeiro, Brasil Abstract: This study aimed to describe the behaviour of the heart rate and to calculate the energy expenditure of horses during an equine-assisted therapy session. There were made 30 attendances. The heart rate (HR) of eight horses at the beginning and at the end of the equine therapy session were evaluated. From the HR obtained, the energy expenditure and the oxygen consumption were calculated. The means of the HR were compared by paired t-test (P<0.05). Each session of equine therapy lasted an average of 22 minutes. Patient weights ranged from 13.0 to kg. The mean values of initial and final HR were, respectively, 39 and 43bpm (P<0.05). The calculated average energy expenditure was 9.42 kcal min -1 ; with a minimum value of 5.47 kcal min -1 and a maximum of kcal min -1. Thus, under the conditions of the present study, a horse that performed five sessions of equine therapy had an average energy expenditure of kcal d -1 and a maximum of kcal d -1 above the maintenance requirement. It was concluded that there was a change in the heart rate of horses routinely used in equine therapy, with an average increase of approximately 8% in maintenance energy expenditure. Palavras-chave: cavalo, desenvolvimento biopsicossocial, frequência cardíaca, terapia

2 Introdução A equoterapia é um método terapêutico que utiliza o movimento tridimensional do passo do cavalo em prol do desenvolvimento biopsicossocial das pessoas com deficiência e/ou necessidades especiais, possibilitando melhora no equilíbrio, na postura e no movimento dos praticantes. Essa técnica surgiu como terapia auxiliar no desenvolvimento neuropsicomotor, pois a interação com o equino desenvolve diferentes formas de socialização, autoestima e autoconfiança (Lermontov, 2004; ANDE Brasil, 2009). Em abril de 1997, a equoterapia foi reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina como um recurso terapêutico de reabilitação motora; e, em maio de 2006, foi aprovado o projeto de Lei N.º B, que incluiu a Equoterapia nos serviços oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo Boffi (2007), a frequência cardíaca basal dos equinos varia de 28 a 45 batimentos por minuto (bpm). A alteração dos batimentos cardíacos irá ocorrer conforme a intensidade do exercício (NRC, 2007). A mensuração da frequência cardíaca é uma metodologia usada para avaliar a resistência e o gasto energético dos cavalos durante o esforço físico (Williams et al., 2009). Dessa forma, o objetivo desse trabalho é descrever as alterações na frequência cardíaca dos equinos durante o atendimento equoterapêutico habitual e calcular o gasto energético na execução desta atividade. Material e Métodos Foram utilizados oito equinos, de raças variadas, com peso médio de 392 kg e idade de 13 ± 3,12 anos. No dia da avaliação, foram realizadas 30 sessões de equoterapia, igualmente divididas nos dois turnos (manhã e tarde) no Centro de Equoterapia e Reabilitação da Vila Militar do Rio de Janeiro (CERVIM) (Projeto Aprovado CEUA/IZ/UFRRJ / ). Esses animais são utilizados rotineiramente para tal prática. Os praticantes foram pesados em balança digital

3 antes do início do atendimento e, quando necessária a realização de montaria dupla, o peso do fisioterapeuta foi computado no conjunto. Também foram pesadas a sela e/ou manta utilizadas em cada animal. Para aferir as frequências cardíacas foi utilizado o frequencímetro digital para equinos (Polar Equine ), fixando o transmissor cardíaco na região torácica dos animais, sem interferência no uso da manta e/ou sela. O relógio com o monitor cardíaco foi posicionado próximo do transmissor e foi ativado, imediatamente, antes do início da atividade equoterápica e permaneceu ligado durante todo o atendimento. Nesse estudo, foram considerados somente a frequência cardíaca inicial (FCI - mensurada no início de cada sessão) e frequência cardíaca final (FCF - aferida no fim de cada sessão). Os dados obtidos foram transferidos para o computador e convertidos em tabelas no programa Microsoft Excel O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado, em esquema de dados pareados com dois tratamentos (frequência cardíaca ao início e ao final da sessão) e oito repetições (animais). Os resultados das frequências cardíacas foram submetidos à análise estatística descritiva e as médias comparadas pelo teste t pareado (FCI e FCF) (P<0,05) utilizando o programa R (The R Foundation for Statistical Computing) versão A determinação do gasto energético e do consumo de oxigênio foi realizada aplicando a fórmula descrita no NRC (2007). Resultados e Discussão Cada sessão de equoterapia durou em média 22 minutos, com maior duração de 31 minutos e menor de 11 minutos. Essa variação ocorreu devido às diferenças nos tratamentos, que são individualizados conforme a necessidade do praticante. Os pesos dos pacientes variaram de 13,0 a 132,4 kg. Essa diferença advém da diversidade de idade e da variação da condição físico-psíquica da pessoa com deficiência e/ou necessidades especiais, sendo que os pesos mais elevados foram

4 devido à realização de montaria dupla, ou seja, incluindo o peso do fisioterapeuta. A sela, com peso de 10 kg, foi utilizada em 28 pacientes, enquanto que a manta, pesando 5,6 kg, foi usada apenas em dois. Houve diferença significativa da frequência cardíaca (P=0,015), com maiores valores ao término da sessão de equoterapia. A média da FCI foi de 39 bpm; com menor valor observado de 28 bpm e o maior de 47 bpm. Um animal apresentou FCI de 66 bpm, sendo considerado outlier, e retirado do conjunto de média dos dados. A média da FCF observada foi de 43 bpm, com mínima de 30 bpm e máxima de 62 bpm (Figura 1). Figura 1 - Frequência cardíaca dos equinos ao início e ao final das sessões de equoterapia O gasto energético calculado médio foi de 9,42 kcal min -1 ; com valor mínimo de 5,47 kcal min -1 e máximo de 16,95kcal min -1 (Tabela 1). Sendo assim, nas condições do presente trabalho, um cavalo que realizou cinco sessões de equoterapia durante o dia, obteve o gasto energético médio de 1036,2 kcal d -1 ; com valores mínimo de 601,70 kcal d -1 e máximo de 1864,50 kcal d -1 acima das exigências de mantença.

5 Tabela 1 Gasto energético calculado dos equinos utilizados nas sessões de equoterapia Valor Frequência Cardíaca a Peso total b Consumo de Oxigênio (ml O 2 kg -1 PV min -1 ) c Consumo de Oxigênio (L min -1 ) Gasto energético (kcal min -1 ) d Médio ,57 4,41 1,94 9,42 Mínimo ,40 2,55 1,13 5,47 Máximo ,00 7,01 3,49 16,95 a Frequência cardíaca média; b Peso do cavalo + peso da sela e/ou manta + peso do praticante; c Consumo de Oxigênio (ml O 2 kg -1 PV min -1 ) = 0,0019 (FC) 2,0653 ; d Onde 1 L de oxigênio consumido equivale a 4,86 kcal. Conclusão Conclui-se que houve alteração na frequência cardíaca dos equinos rotineiramente utilizados na equoterapia, com aumento médio de aproximadamente 8% no gasto energético de mantença. Agradecimentos Ao CERVIM por ter disponibilizado os animais, o espaço e a todos os funcionários que prestaram auxílio no decorrer do experimento. Referências Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-Brasil). Equoterapia Disponível em: < Acesso em: 15 nov Boffi, F. M Fisiología del Ejercicio en Equinos. 1 ed. Buenos Aires: Intermédica, 320p. Lermontov, T Psicomotricidade na equoterapia. Aparecida, SP: Ideias e Letras. NRC (National Reserch Concil). Nutrient Requiriments of Horses ed. National Academy of Science. Washington. 360p. Williams, R. J.; Chandler, R. E.; Marlin, D. J Heart rates of horses during competitive dressage. Comparative Exercise Physiology, Wageningen 6:7-15.