AS PROJECÇÕES DEMOGRÁFICAS: aplicação e métodos
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1 AS PROJECÇÕES DEMOGRÁFICAS: aplicação e métodos Maria José Carrilho * Hoje é prática corrente os Institutos Nacionais de Estatística elaborarem projecções de natureza demográfica. A forte baixa da natalidade, o aumento da esperança de vida e a importância dos fluxos migratórios internacionais alteraram as estruturas das populações e tornaram incerto o futuro demográfico das sociedades industrializadas. Em sociedades envelhecidas como as do mundo ocidental com todas as consequências conhecidas no campo demográfico, económico e social tornou-se cada vez mais premente conhecer melhor o futuro para melhor o preparar. Ao público em geral, às organizações públicas e privadas, à indústria, aos serviços e aos investigadores, a todos interessa conhecer os efectivos populacionais, a sua repartição segundo o sexo e por idades e a distribuição geográfica. De facto, elaborar planos de educação, de saúde, de energia, de transportes, de comunicações ou de outra natureza, exige o conhecimento prévio das populações alvo. O recente desenvolvimento da ecologia incrementou a procura da informação sobre a dimensão, estrutura da população e a desagregação regional, num horizonte temporal mais ou menos vasto. A população é, pois, no presente, um denominador de muitos indicadores no domínio do económico e do social. * Directora Adjunta do Gabinete de Estudos / Área Demográfica e Social do Instituto Nacional de Estatística
2 Cadernos Regionais As projecções são cálculos que permitem conhecer a população de um país no futuro, se se verificarem determinadas hipóteses sobre a evolução da fecundidade, da mortalidade e das migrações internacionais. As projecções têm subjacente uma condição, o que as distingue das previsões (forecasts), e a sua aderência à realidade resulta do concretizar ou não das hipóteses que as fundamentam. As previsões, que são utilizadas também nas projecções, mostram as tendências futuras de população a partir do conhecimento dos fenómenos, mas não têm associada nenhuma condicionante. A incerteza no evoluir dos fenómenos demográficos leva à construção de um conjunto de hipóteses que se combinam e permitem apresentar a evolução futura da população num número variado de cenários, normalmente agregados em Cenário Baixo, Cenário Médio e Cenário Alto, com indicação daquele que se considera o mais plausível. Actualmente, é frequente criar cenários que retratam a população jovem e a população idosa, evidenciando as premissas que permitem concretizá-las. As projecções da população para o conjunto dos países da União Europeia preparadas pelo seu órgão estatístico, o Eurostat, são exemplo de cenarização desta natureza. As primeiras projeccções de população mundial, a longo prazo, são atribuídas a Gregory King (1696) e assentavam na extrapolação de taxas de crescimento aplicadas às estimativas da população. O desenvolvimento da teoria da população e dos métodos de análise, a maior disponibilidade e melhor qualidade de informação, e o constante aperfeiçoar da tecnologia, permitiram criar bases de dados e calcular projecções com recurso a modelos mais sofisticados. O método das componentes no cálculo das projecções demográficas, ainda hoje utilizado, foi introduzido por Frank Nottestein (1945) num estudo sobre a população europeia iniciando-se assim, o cálculo das modernas projecções de população. Neste método, as populações de partida são envelhecidas, aplicando-se sucessivamente as probabilidades de sobrevivência por idades, para cada sexo separadamente, determinando-se os sobreviventes de cada quinquénio do período de observação (projecções quinquenais), ou para cada ano (projecções anuais). De seguida, calculam-se os nados vivos de cada quinqénio (ou ano) aplicando aos efectivos populacionais médios femininos em idade de procriar as taxas específicas de fecundidade hipotéticas. Os nados vivos assim obtidos são repartidos segundo a relação de masculinidade observada (106 %). Os sobreviventes dos nados vivos resultam da aplicação das probabilidades de sobrevivência à nascença fixadas para cada sexo.
3 Encontrada assim a evolução natural da população é incorporado o efeito demográfico dos saldos migratórios externos, segundo o sexo e por idades. Obtêm-se por este processo interactivo os efectivos populacionais com migrações externas. Esta será a nova população que irá submeter-se aos modelos de sobrevivência e fecundidade escolhidos para o período seguinte (ou ano). No caso de projecções regionais uma outra componente, as migrações internas, terá de ser incluída. Actualmente novas técnicas de projecção estão a ser aplicadas com destaque para as projecções probabilísticas, baseadas nos modelos de séries temporais que permitem medir os erros associados aos cálculos das populações futuras. De referir ainda a previsão de variáveis demográficas através de métodos correntemente designados como Demographic Nowcasts. Este método permite elaborar previsões de nados vivos e óbitos com base nos dados mensais das variáveis, mesmo que não sejam conhecidos os valores para um ano completo. No desenvolvimento do processo de cálculo das projecções, nomeadamente no método das componentes, destacam-se as seguintes etapas: 1ª Identificar a população de partida: normalmente a do último Recenseamento ou a estimativa mais recente. 2ª Limitar o horizonte temporal e geográfico das projecções tendo em conta os objectivos das projecções. 3ª Descrever e analisar a evolução da população e das suas componentes: natalidade, mortalidade e migrações com o fim de determinar a tendência futura e o modelo explicativo. Analisam-se as tendências das taxas específicas de fecundidade, do índice sintético da fecundidade, a evolução das taxas de mortalidade infantil e das taxas específicas de mortalidade, bem como da esperança de vida à nascença. No campo das variáveis do movimento natural da população é comum aplicar métodos de séries temporais e modelos multivariados. A análise comparativa com o comportamento dos fenómenos noutros países é usado com frequência. Relevante para a fixação das hipóteses é o conhecimento que se possa ter das políticas sectoriais estabelecidas pelos governos de sociedades desenvolvidas com o objectivo de incentivar o aumento do número de filhos e combater a morbilidade.
4 Cadernos Regionais Os fluxos migratórios do país são estudados com vista a quantificar os respectivos saldos migratórios a introduzir nas projecções; é necessário ter em conta não só a estrutura demográfica do país, como também a situação económica, quer do país de origem, quer do país de acolhimento e, igualmente, as conjunturas económica e política ao nível internacional. 4ª Construir as hipóteses do modelo, as quais devem ser suficientemente fundamentadas. As hipóteses traduzem-se num conjunto de indicadores para as diversas variáveis e procuram reflectir os resultados dos inquéritos demográficos, sociais e dos estudos efectuados, bem como a experiência de outros países. É comum, por exemplo, utilizar o indicador número de filhos esperados deduzido dos Inquéritos à Fecundidade e Família para fixar o número médio de filhos por mulher. 5ª Extrapolar as tendências dos fenómenos demográficos, ou seja, quantificar as hipóteses. Esta é a fase mais importante do modelo já que se vem a traduzir na aderência da projecção ou não à realidade. As técnicas utilizadas variam de uma simples extrapolação gráfica a modelos de séries temporais, tal como o Arima, ou modelos multivariados. Em síntese, pode adiantar-se que, de um modo geral, a dificuldade em prever o futuro determina o traçar de mais do que uma hipótese, referente aos níveis de fecundidade, mortalidade e saldos migratórios. Posteriormente, as hipóteses, que devem contemplar a interpretação das causas da evolução dos fenómenos, traduzem-se em indicadores como as taxas específicas de fecundidade, o índice sintético de fecundidade, a esperança de vida à nascença e os saldos migratórios. Executar, proceder aos ajustamentos de hipóteses e analisar os resultados são as fases finais das projecções. A capacidade de intervenção do demógrafo e a experiência adquirida são cruciais nesta última etapa. É esta capacidade de actuar e interpretar que permite o cálculo de uma projecção realista, mesmo com recurso a um método não muito sofisticado. Em Portugal, as projecções de população residente segundo o sexo e por idades, para o período , ao nível NUTS II, encontram-se em fase de preparação no Gabinete de Estudos / Área Demográfica e Social (GE/ADS), do Instituto Nacional de estatística e seguem o método das componentes. Está programada uma nova metodologia de cálculo, com base em estimativas efectuadas no campo dos métodos das séries temporais, para o próximo ano, bem como o cálculo de projecções probabilisticas incluindo a técnica da simulação. 21 de Maio de 1997
5 Referências Bibliográficas CARRILHO, Maria José (1990), Perspectivas de Evolução da População Residente no Continente até ao Ano 2010, in Planeamento, vol.12, nº1/2, Março-Julho/90, pp , Lisboa, Departamento Central de Planeamento. CLIQUET, R., ed. (1993), The Future fo Europe s Population: A Scenario Approach, Council of Europe, European Population Commitée, Strasbourg, France. CÓNIM, Custódio, CARRILHO, Maria José (1989), A Situação Demográfica e Perspectivas de Evolução, Portugal , Caderno 16, Instituto de Estudos para o Desenvolvimento, Lisboa. HENRY, Louis (1973), Perspectives Démographiques, 2 ème édition de l Institut National d Études Démographiques. LUTZ, Wolfgang (1996), The Furure Population of the World, What can you assume today?, revision edition, IIASA. UN (1992 e), Long-Range World Population Projections: Two Centuries of Population Growth , ST/ESA/SER.A/125, United Nations, New York, USA. UN (1994), World Population Monitoring, 1993, ESA/P/WP.121, United Nations, New York, USA. UN (1995), World Population Prospects, the 1994 Revision, ST/ESA/SER.A/145, United Nations, New York, USA.
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