Nicole Marinho Horta Graduanda em Biblioteconomia pela Universidade Federal de Minas Gerais.
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1 Nicole Marinho Horta Graduanda em Biblioteconomia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Felipe Santiago Flores Rocha Graduando em Biblioteconomia pela Universidade Federal de Minas Gerais. A Biblioteconomia possui uma variedade de tipologias de bibliotecas, entre elas as bibliotecas comunitárias. Este artigo tem como objetivo expor uma breve reflexão sobre as bibliotecas comunitárias como espaços de ações integradoras de saberes, sociabilidades e mediações informacionais e comunicacionais, além de traçar os paralelos de realidades distintas entre duas bibliotecas comunitárias e sua importância na inclusão social através do acesso à leitura e à informação para as minorias. Foram analisadas a Biblioteca Comunitária Livro Aberto, no bairro Goiânia em Belo Horizonte, e a Biblioteca Comunitária Borrachalioteca, no bairro Caieira em Sabará, em Minas Gerais.Foi observado a importância de projetos de apoio para sobrevivência das duas bibliotecas comunitáriase para ampliação de suas ações dentro da comunidade, atuando como espaços de inclusão social por meio do acesso à informação e apoio ao desenvolvimento sociocultural de comunidades carentes, atendendo ao objetivo de desenvolvimento sustentável 4 da Agenda 2030 da ONU (Educação de qualidade: assegurar a educação inclusiva e equitativa de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos). Palavras-chaves: Biblioteca comunitária; sociabilidade; inclusão social; inclusão informacional Página1781
2 Library Science has a variety of library typologies, between them the community libraries. This paper aims to expose a brief reflection on community libraries as spaces of knowledge integration actions, sociabilities, informational and communicational mediations, as well as drawing the parallels of distinct realities between two community libraries and their importance in social inclusion of minorities through access to reading and information. The Open Book community library, in the Goiânia neighborhood at Belo Horizonte city and the Borrachalioteca community library, in the Caieira neighborhood at Sabará city were analyzed. It was observed the importance of support projects for the maintenance survival and expansion of both community libraries actions within its communities, acting as social inclusion spaces through access to information and support for socio-cultural development of poor communities, attending to objective 4 of the UN Agenda 2030 for the sustainable development (Ensure inclusive and equitable quality education and promote lifelong learning opportunities for all). Keywords: Community library; sociability; social inclusion; informational inclusion 1 INTRODUÇÃO A Biblioteca Comunitária é um tipo de biblioteca que desperta o interesse de pesquisadores e profissionais 1 da área de Biblioteconomia, principalmente, por se apresentarem como alternativa de acesso à informação e cultura para comunidades carentes e/ou afastadas do aparato informacional público, que o estado dispõe aos cidadãos.almeida Junior (1993 e 1997), por exemplo, apresenta em seus trabalhos uma revisão de literatura sobre bibliotecas públicas e alternativas. O autor identifica menção ao 1 MACHADO (2009), JESUS (2007), GUEDES (2011), ALMEIDA JÚNIOR (1997) Página1782
3 termo biblioteca popular na década de 1830, mas o termo biblioteca comunitária aparece na literatura brasileira pela primeira vez, citado por Carminda Nogueira de Castro Ferreira, já na década de 1970, ao se referir à experiência americana que tratava da integração da biblioteca pública com a escolar. O autor já apontava para a falta de um consenso absoluto sobre o conceito de bibliotecas comunitárias, e a dificuldade de diferenciá-las do conceito de biblioteca pública: Não há, tanto para bibliotecas populares como para bibliotecas comunitárias, uma definição aceita consensualmente pelos autores preocupados com o assunto. Em muitos casos, são esses termos entendidos como sinônimos, além de se confundirem com a biblioteca pública tradicional.(almeida JUNIOR, 1993, p.126) Apesar da semelhança com as bibliotecas públicas pontuadas por Almeida Junior, algumas particularidades conceituais que ajudam a caracterizar as bibliotecas comunitárias são apontadas por Machado (2008, p.60-61), em sua pesquisa de doutorado: 1. a forma de constituição: são bibliotecas criadas efetivamente pela e não para a comunidade, como resultado de uma ação cultural. 2. a perspectiva comum do grupo em torno do combate à exclusão informacional como forma de luta pela igualdade e justiça social. 3. o processo participativo gerando articulação local e forte vínculo com a comunidade. 4. a referência espacial: estão, em geral, localizadas em regiões periféricas. 5. o fato de não serem instituições governamentais, ou com vinculação direta aos Municípios, Estados ou Federação. A maior parte dos autores analisados discernem a biblioteca comunitária como uma alternativa criada através da iniciativa de indivíduos ou associações, para suprir as necessidades de acesso a informações da população de uma determinada região onde não há uma biblioteca pública e/ou esta é de difícil acesso, como afirma Jesus (2007, p. 2-3): Página1783
4 Bibliotecas comunitárias são instituições voltadas para disseminar informação e cultura em locais de carência econômica. [...]Isso se deve ao fato de que a informação só está acessível a quem pode pagar por ela, pois a informação está contida em suportes informacionais como: Internet, livros, revistas, etc., cujo valor ultrapassa o poder aquisitivo de grande parcela da população. Guedes (2011) também descreve os fatos que levam ao surgimento das bibliotecas comunitárias, e ainda comenta sobre a construção de seu acervo: As bibliotecas comunitárias são ambientes físicos criados e mantidos por iniciativas das comunidades civis, e geralmente sem intervenção do poder público. Esses centros comunitários possui um arquivo bibliográfico multidisciplinar, abarcando diversas tipologias documentais. Suas coleções, por vezes, possuem organização improvisada ou intuitiva, pois o objetivo principal desses espaços é ampliar o acesso da comunidade à informação. (GUEDES,2011, p.75) Mesmo com o grande desenvolvimento e diversificação dos meios de acesso à informação eletrônica (computadores, tablets, celulares, etc.), seu acesso ainda é relativamente restrito a uma grande parcela da população brasileira. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), organizado pelo Instituto Brasileiro de Geografias e Estatística (IBGE), aponta que o acesso à internet, importante fonte informacional, ainda é restrita. Embora a pesquisa apresente um crescimento significativo do acesso, com base de referência o ano de 2004, onde apenas 12,2% da população acessava a internet, chegando a 57,8% no ano de 2015(Gráfico 1), é necessário pensar na outra quase metade da população desprovida do mesmo benefício. Página1784
5 Gráfico 1 Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) p. 42. Afora o acesso promovido pelas novas tecnologias de informação e comunicação não cheguem a quase metade da população, meios tradicionais como as Bibliotecas ainda não conseguem alcançar a população como alternativa para acesso ao conhecimento e à cultura. Em termos de acesso ao livro, ainda não são a principal forma de acesso ao Página1785
6 conhecimento conforme (Gráfico 2) resultado da pesquisa feita pelo Instituto Pró- Livro (IPL) 2. Gráfico 2 Fonte: Retratos da Leitura no Brasil - 4ªEd. Março, p.44. As bibliotecas públicas não são capazes de resolver esse problema sozinhas. Nesse contexto, as bibliotecas comunitárias se apresentam como alternativa de acesso ao conhecimento. E vem se tornando alternativa para ampliar o acesso à informação em comunidades menos amparadas pelo aparato público de informação, sendo cada vez mais reconhecidas como espaços de acesso, principalmente ao livro e à leitura, apesar de ter um grande desafio pela frente para atuar no incentivo ao hábito de leitura (Gráfico 3). 2 O Instituto Pró- Livro IPL é uma associação de caráter privado e sem fins lucrativos mantida com recursos constituídos, principalmente, por contribuições de entidades do mercado editorial, com o objetivo principal de fomento à leitura e à difusão do livro. Página1786
7 Gráfico 3 Fonte: Retratos da Leitura no Brasil - 4ªEd. Março, P As bibliotecas comunitárias se encarregam de fornecer acesso informacional e também permitem o desenvolvimento sociocultural, sendo suporte para o desenvolvimento de projetos educacionais, culturais e profissionais, contribuindo por vezes também para o desenvolvimento econômico da comunidade e dos indivíduos nela inseridos. Mas, embora a motivação para a construção de uma biblioteca comunitária seja fomentada pelos mesmos ideais, o desenvolvimento de cada biblioteca segue caminho diferente. Seus espaços dialogam com a cultura local, se moldam de acordo com a comunidade na qual estão inseridas. Página1787
8 Machado (2008, p.145) amplia a questão das bibliotecas comunitárias apontando dois caminhos para seu surgimento: um natural, pela luta contra a falta de acesso à informação ao qual comunidades carentes estão submetidas; e um caminho artificial, impulsionadas por agentes externos à comunidade, que por meio de programas e projetos, dirige suas ações à melhoria da situação de grupos vulneráveis da sociedade. Partindo desta perspectiva, foi possível observar o impacto do apoio fornecido pela Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias RNBC, criada em 2015, no Encontro Nacional do Programa Prazer em Ler, do Instituto C&A. O grande aporte da RNBC para o desenvolvimento das bibliotecas comunitárias inseridas no processo, potencializando suas capacidades de atendimento à comunidade. Porém, também ficou evidente uma orientação para o acesso ao livro e à leitura, foco do Programa Prazer em Ler, que já apoiava as bibliotecas que vieram a compor essa rede. A Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias (RNBC) é fruto do trabalho de redes que, há anos, atuam em prol do acesso ao livro e à leitura pelo Brasil. Surgiu em 2015, no Encontro Nacional do Programa Prazer em Ler, do Instituto C&A. Tem como visão, ser referência na representação das bibliotecas comunitárias, disseminando o conhecimento adquirido ao longo dos anos na incidência política, na mediação da leitura e na gestão compartilhada. Tem como objetivo, fortalecer as bibliotecas comunitárias de todo o território brasileiro, fomentando a política pública na área do livro, leitura, literatura e biblioteca, efetivando a leitura como direito necessário ao desenvolvimento humano. 3 Atualmente a RNBC atua nos estados do Pará, Maranhão, Ceará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro com 11 Redes locais e 115 bibliotecas comunitárias 4. 3 Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias (vídeo institucional): Acesso em: 29 nov Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias (site oficial): Acesso em: 29 nov Página1788
9 Embora a RNBC tenha se consolidado somente em 2015, o impulso da atuação em rede começou a ser articulado desde 2009, por bibliotecas apoiadas pelo Programa Prazer em Ler (desde 2006). Em Minas Gerais, por exemplo, a rede local, Sou de Minas, Uai, teve início no ano de 2009, ainda como Polo de Leitura, tendo como base instituições de Belo Horizonte: Grupo de Desenvolvimento Comunitário GDECOM, com a biblioteca Mundo do Saber, Associação Comunitária da Vila Presidente Vargas com a biblioteca Livro Aberto, Grupo de Apoio à Criança e ao Adolescente da Cabana e Região com a biblioteca Além das Fronteiras, Centro Cristão Evangélico Educacional com a biblioteca Tia Clô, e no ano de 2013 a Borrachalioteca de Sabará integra-se a rede. Ao longo dos anos, o trabalho em rede foi se desenvolvendo e, noano de 2017 a agora denominada Rede de Leitura Sou de Minas, Uai, passa a integrar a RNBC e atualmente atua nos municípios de Belo Horizonte, Sabará, Santa Luzia e Betim. 5 Essas organizações fazem com que os serviços prestados nas comunidades que as bibliotecas estão inseridas, sejam de melhor qualidade, através da troca de experiência e a construção de projetos coletivos. Dentre as questões relevantes para organizações comunitárias pode-se ainda ressaltar a importância das metas da agenda 2030 da ONU. No ano de 2015, chefes de Estado e de governo se reuniram na sede da ONU em Nova York, onde foram traçados Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Globais. Criando assim os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e 169 metas a serem executadas até o ano de 2030, com intuito de erradicar a pobreza, baseando-se no equilíbrio das três dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental. Na perspectiva deste trabalho será enfatizado o Objetivo 4: Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todas e todos. As bibliotecas comunitárias visam suprir as necessidades informacionais e culturais das comunidades nas quais estão 5 Rede Sou de Minas, Uai. (site oficial): Acesso em: 29 nov Página1789
10 inseridas, e que não têm acesso facilitado às bibliotecas públicas, desenvolvendo assim a inclusão sócio educacional, um dos focos de desenvolvimento da agenda É com base na hipótese de que as diferenças contextuais na criação e no desenvolvimento de bibliotecas comunitárias definem sua capacidade de atender ao objetivo de democratização do acesso à informação e de valorização da cultura que fundamenta-se o presente relato, baseado na observação e caracterização dosespaços e ações de duas bibliotecas comunitárias, uma localizada na periferia de Belo Horizonte e outra na Região Metropolitana, especificamente no município de Sabará. Uma delas com grande dificuldade para manutenção de suas atividades com a qualidade de outrora, e outra com experiência riquíssima e avanços significativos na atuação comunitária, se expandindo e alcançando outras parcerias, inclusive com a administração pública. Pretende-se aqui, analisar os elementos que interferiram no desenvolvimento dessas unidades de informação, procurando entender o que amplia e o que dificulta a atuação desses espaços como promotoras da democratização da informação e da cultura. 3 RELATO DE EXPERIÊNCIA 3.1 Biblioteca Comunitária Livro Aberto A biblioteca Livro Aberto surgiu em 2011, no bairro Goiânia em Belo Horizonte, em uma evolução da biblioteca escolar da creche e escola mantida pela Associação Comunitária Vila Presidente Vargas (VIVA). Com o intuito de atender à necessidade informacional da comunidade, inicialmente manifestada por pais de alunos, a biblioteca deixa o espaço físico da escola e começa a funcionar em um espaço anexo e mais acessível à comunidade. Com sede própria, um pequeno acervo complementado por doações e a vontade da moradora da comunidade, Poliana Natália, que trabalhava na VIVA, a Biblioteca Comunitária Livro Aberto passou a atender demandas da comunidade. A biblioteca teve oportunidade de Página1790
11 organizar e ampliar seu acervo, obter equipamentos e participar de ciclos de debates e treinamentos para seus profissionais através de projeto do Instituto C&A que apoiou não só a melhoria dos espaços comunitários de incentivo à leitura, mas participou intensamente da criação da Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias (RNBC) e de redes regionais como a Rede de Leitura Sou de Minas, Uai. A Livro Aberto chegou a ser biblioteca polo dentro da rede mineira, posto exercido atualmente pela Borrachalioteca. Em relação à visita na Biblioteca Livro Aberto, podem-se destacar algumas observações importantes: Atuação vinculada com a VIVA - Associação Comunitária Vila Presidente Vargas para desenvolvimento da comunidade local (creche, oficinas de grafite, telecentro, equipamentos audiovisuais, etc.); Mobilização de membro da comunidade para criação e envolvimento dos pais dos alunos para ampliação do acesso para atender à demanda da comunidade. O envolvimento se deu após o interesse dos pais ao participarem de oficinas de contação de histórias; Expansão e criação da Biblioteca Comunitária Livro Aberto se efetivou com o apoio das redes e programas de leitura fomentados pelo Instituto C&A; Atualmente, a Livro Aberto não possui mais o convênio com o Instituto C&A, e não conta mais com profissional bibliotecário (ou estagiário) ou com verba para novas aquisições; O atendimento hoje é mais pontual e mantido constante apenas para visitas de alunos da creche e uso dos dois computadores conectados à internet. 3.2 Biblioteca Comunitária Borrachalioteca Surgiu em 2002, com o jovem Túlio Damasceno, morador de uma comunidade em Sabará, Região Metropolitana de Belo Horizonte, que pediu ao pai um espaço na sua Página1791
12 borracharia para que ele pudesse organizar alguns livros e realizar empréstimos à comunidade que frequentava o local. Atualmente, o acervo possui mais de obras literárias, e conta com outras três unidades: a Casa das Artes, a Sala Son Salvador e o Espaço Libertação pela Leitura, todos em Sabará. Em 2006, tornou-se o Instituto Cultural Aníbal Machado e um ano depois ganhou o Prêmio Viva Leitura (MinC, MEC e OEI). Em 2011 passou a ser o Ponto de Cultura Aqui se Lê e em 2013 ingressou na Rede de Leitura Sou de Minas, Uai! rede local de bibliotecas comunitárias da Região Metropolitana de Belo Horizonte do Programa Prazer em Ler do Instituto C&A. Hoje é integrante da Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias RNBC. Em relação à visita na Borrachalioteca, destaca-se algumas observações importantes: Desenvolveu-se de maneira tão positiva que hoje possui 3 unidades sob sua administração, além da matriz Borrachalioteca; Foi verificada a participação de bibliotecário na organização da biblioteca e suas atividades, desde sua criação; Conta hoje com uma Cordelteca, administrada pelo cordelista membro da Academia Brasileira de Literatura Cordel, Olegário Alfredo, e que conta com amplo acervo de cordéis e uma coleção de matrizes de xilogravura, onde são ministrados cursos de confecção de cordéis, tanto o texto literário quanto as xilogravuras; É a única biblioteca comunitária no Brasil que realiza um festival municipal voltado à literatura, o Festival Literário de Sabará, já em sua terceira edição, onde são feitos debates literários, minicurso, sarau, lançamento de livros, apresentações culturais: música e teatro aberta a toda a comunidade gratuitamente; Página1792
13 Realiza projetos de incentivo à leitura em parceria com o comércio local, caso do Projeto Pão e Poesia, além de apoiar projetos de parceiros, como o Leve um livro, da UFMG; Oferece os serviços básicos de uma biblioteca pública, tais como empréstimo, telecentro, contação de história, etc; Mantém um acervo que hoje chega a obras distribuídas entre suas unidades. Em contato com as bibliotecas Livro Aberto e Borrachalioteca, integrantes da rede mineira, pudemos perceber o impacto do trabalho da rede e a influência do terceiro setor. O apoio do Programa Prazer em Ler proporcionou condições de aquisição de acervo e recursos físicos, treinamentos e recursos humanos para gestão das bibliotecas, além de fomentar a luta por políticas públicas e a atuação em rede. Já inseridas no contexto da RNBC, houve ampliação na capacitação em gestão da biblioteca e em mediação da leitura por meio da troca de experiências locais, além da discussão das políticas em nível nacional. No caso da biblioteca Livro Aberto, é perceptível que grande parte dos recursos e atividades que oferecem são frutos do apoio do Instituto C&A e da participação na RNBC. Nota-se extrema dependência dessas parcerias para a manutenção dos serviços oferecidos à comunidade, evidenciado pelas dificuldades atuais de recursos humanos e financeiros para manter a oferta de atividades para comunidade. Hoje, ela atende somente a escola de ensino infantil mantida pela VIVA e faz empréstimos a comunidade ocasionalmente, mediante agendamento, devido à falta de verbas para contratação de recursos humanos para manter o atendimento e a organização da unidade. Estão em processo de participação em editais e buscando a renovação do apoio financeiro do Instituto C&A para solucionar o problema. Já a Borrachalioteca, amparada por uma forte participação comunitária e tendo conseguido ampliar sua atuação, se tornou a biblioteca polo da rede mineira e estreitou laços com o poder público, se expandindo e se consolidando no cenário local. Com três Página1793
14 unidades na cidade de Sabará, fez valer os incentivos recebidos, sendo considerada um case de sucesso entre as bibliotecas comunitárias. Podemos destacar aqui que, embora ambas tenham sofrido a influência dos objetivos das instituições apoiadoras - o que se caracteriza pelo forte direcionamento de suas atividades para o acesso ao livro e o incentivo à leitura - a Borrachalioteca conseguiu ir além desse objetivo, oferecendo variedade de atividades e realizando ações culturais que vão além da simples leitura, como é o caso do Festival Literário de Sabará, que promove atividades variadas que permitem não só o acesso ao livro mas também o acesso à cultura. 4 CONCLUSÃO Pode-se verificar através das visitas às bibliotecas comunitárias Livro Aberto e Borrachalioteca, as características apontadas por Machado (2008) citadas anteriormente. Ambas foram criada por impulsos internos das comunidades onde se inserem e fruto de iniciativas de combate à exclusão informacional originados dentro da comunidade. A Livro Aberto, criada para atender a demanda da comunidade, ampliando o espaço de leitura que atendia apenas as crianças da escola mantida pela VIVA, para dar acesso à informação para toda a comunidade. A Borrachalioteca, criada por moradores de Sabará que enxergavam a importância de dar acesso à leitura, articulou parcerias que ampliaram seu trabalho e sua estrutura, oferecendo hoje um grande leque de projetos e atividades que complementam seu papel de difusora da informação, do conhecimento e da cultura. Ambas se localizam em regiões periféricas, sendo a Livro Aberto localizada em um beco no centro da comunidade do bairro Goiânia em Belo Horizonte, e a Borrachalioteca, com sua sede principal também em região periférica de Sabará, já conta com outras três unidades distribuídas pela a cidade, atingindo quase toda a comunidade Sabarense. Além disso, foi verificado a importância de programas, projetos e redes de apoio na criação, estruturação, organização e desenvolvimento das bibliotecas comunitárias. A Página1794
15 biblioteca Livro Aberto está com seu atendimento limitado devido à ausência de fontes de financiamento, já que está sem apoio financeiro de nenhuma instituição, não podendo contar com profissional para o atendimento e gestão da unidade. Já a Borrachalioteca mostra como uma iniciativa bem gerida, com apoio de profissionais e muito esforço empreendido, pode ser mantida e ampliada, buscando parceiros, incluindo o comércio e a administração pública local. Cabe ressaltar que, a Livro Aberto teve o terceiro setor envolvido desde sua criação até o seu desenvolvimento, tendo o atendimento mais voltado ao público já envolvido nos projetos da VIVA e uma orientação para o incentivo à leitura, foco do Programa Prazer em Ler, do Instituto C&A, e parece apresentar uma relativa dependência contínua desses apoios. O que parece diferenciar a Borrachalioteca, e justificar seu sucesso, foi sua origem essencialmente comunitária, na figura do morador Túlio Damasceno, sem apoio inicial do terceiro setor, trazendo em si a orientação essencialmente ao atendimento das demandas da comunidade. Também é importante dizer que, aliado a esse fator, a presença contínua de bibliotecários na gestão dessa biblioteca desde sua gênese, parece ter permitido um desenvolvimento mais consistente e autônomo para a biblioteca. Presume-se aqui, que a presença desse profissional influenciou em uma orientação das atividades da biblioteca de dentro pra fora, ao contrário de bibliotecas que mostram mais dependência do apoio do terceiro setor. É importante perceber, também, que as bibliotecas comunitárias se articulam à Agenda 2030, estabelecida em 2015, onde foram traçados 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (os ODS). Elas apoiam a implementação do Objetivo 4, que define a Educação de Qualidade, confirmando o compromisso de assegurar a educação inclusiva e equitativa de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos. As bibliotecas comunitárias se destacam como agentes integradores de saberes e informacional com suas ações de incentivo à leitura, desenvolvimento cultural e até profissionalizante. Pode-se observar o impacto da criação destas bibliotecas dentro das Página1795
16 comunidades que estão inseridas. Independente das dificuldades enfrentadas, percebe-se que ambas as instituições visitadas seguem se esforçando para manter seu trabalho que, contribui para a redução das diferenças por meio do acesso à informação e a cultura. REFERÊNCIAS ALMEIDA JÚNIOR, O. F.Bibliotecas públicas e alternativas. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, v. 26, n. 1/2, p , Disponível em: < Acesso em: 29 Set GUEDES, Roger de Miranda.Bibliotecas comunitárias e espaços públicos de informação.disponível em: < _Roger_Guedes.pdf>. Acesso em: 29 set INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios: Síntese de indicadores Disponível em: < Acesso em: 29 set INSTITUTO PRO-LIVRO.Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil Disponível em:< Acesso em: 29 set JESUS, Maria. Implantação de bibliotecas comunitárias nos municípios do Estado da Bahia. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO E PESQUISA EM INFORMAÇÃO, 7., 2007, Salvador. Anais eletrônicos... Salvador: CINFORM, Disponível em:< Acesso em: 01 jun MACHADO, Elisa Campos. Identidade cultural de Heliópolis: biblioteca comunitária. Informação & Sociedade: Estudos. João Pessoa, v. 15, n. 2, p , jul./dez Disponível em:< Acesso em: 25 maio MACHADO, Elisa Campos. Bibliotecas comunitárias como prática social no Brasil Tese (Doutorado em Cultura e Informação) - Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, Disponível em:< /publico/Tese.pdf>. Acesso em: 29 set Página1796
17 MACHADO, Elisa Campos; VERGUEIRO, Waldomiro. Bibliotecas Comunitárias como prática social no Brasil. CRB-8 Digital, São Paulo, v. 3, n. 1, p. 3-11, ago NAÇÕES UNIDAS BRASIL.Objetivo 4: Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todas e todos. Disponível em: < Acesso em: 29 nov REDE NACIONAL DE BIBLIOTECAS COMUNITÁRIAS. Conheça a RNBC. Disponível em: < em: 29 nov SOU DE MINAS, UAI! História. Disponível em: < em: 29 nov Página1797
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