PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA GABINETE DO DES. LUIZ SILVIO RAMALHO JÚNIOR
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- João Vítor Figueira Alencastre
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1 PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA GABINETE DO DES. LUIZ SILVIO RAMALHO JÚNIOR ACÓRDÃO APELAÇÃO CRIMINAL (Processo n /001) RELATOR: Desembargador Luiz Silvio Ramalho Júnior APELANTE: Guilherme Mateus de Barros ADVOGADO: Severino Eilson Ramos APELADO: Justiça Pública PENAL E PROCESSUAL PENAL. Apelação criminal. Crime de trânsito. Embriaguez ao volante. Condenação. Absolvição pretendida por ausência de prova técnica da embriaguez. Acolhimento. Termo de Constatação de Embriaguez do condutor firmado por policial militar que não supre exame técnico para comprovação de requisito objetivo instituído pela Lei n /2008. Negativa do réu em submeter-se a exame técnico que não pode ser usada em seu desfavor, diante do seu direito constitucional de não produzir prova contra si mesmo. Provimento do apelo. - A imputação delituosa do crime de trânsito de embriaguez ao volante há de ser feita somente quando comprovado teor alcoólico igual ou superior ao previsto em lei. Não tendo sido realizado o teste do etilômetro ou exame de alcoolemia. falta. obviamente, a certeza da satisfação desse requisito, necessário, repita-se, à configuração típica. VISTOS, RELATADOS E DISCUTIDOS estes autos, em que são partes as acima identificadas. ACORDA a Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, por maioria, em dar provimento parcial à apelação, nos termos do voto do Relator, e em desarmonia com o parecer da Procuradoria Geral de Justiça. RELATÓRIO Trata-se de Apelação Criminal interposta por Guilherme Mateus de Barros, que tem por escopo impugnar a sentença proferida pela Juiza de Direito da 1a Vara Criminal da Comarca de Campina Grande, que o condenou pelos crimes do art. 306 P _05.6c
2 do Código de Trânsito Brasileiro e dos arts. 329 e 331 do Código Penal às penas de 01 (um) ano e 02 (dois) meses de detenção, em regime inicialmente aberto, 30 (trinta) diasmulta à razão de 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente, bem como suspensão da habilitação para dirigir por 02 (dois) meses, substituindo a pena privativa de liberdade por duas penas restritivas de direito, consistentes na prestação de serviços comunitários à razão de 01 (uma) hora de trabalho por dia de condenação e na prestação pecuniária do valor equivalente a 01 (um) salário mínimo vigente (fs. 110/116). Alega que não restaram provadas a materialidade e a autoria do crime de embriaguez ao volante, capitulado no art. 306 do CTB. haja vista a fragilidade e insubsistência das provas orais. Afirma, ainda, que a ausência de prova técnico-cientifica apta a demonstrar o estado de embriaguez e o nível de álcool no sangue do réu afasta a tipicidade da sua conduta, não restando provada, pois, a materialidade delitiva. Pugna, ao final, pela sua absolvição (fs. 119/132). O apelado oferta contrarrazões, argumentando que com a alteração legislativa oriunda da chamada "Lei Seca", o tipo penal previsto no art. 306 do CTB passou a ter o requisito de apresentar o condutor o nível de álcool no sangue descrito no delito, o que configura uma elementar do tipo, que somente pode ser provada por exame pericial, jamais por testemunhas. Aduz que não há nos autos a necessária prova técnica e pugna pela reforma da sentença para absolver o réu com relação ao crime do art. 306 do CTB (fs. 138/140). A Procuradoria de Justiça opina pela manutenção integral da sentença, sustentando que o crime de embriaguez ao volante pode ser comprovado por outro modo, e não apenas pela prova pericial (fs. 144/150) É o relatório. - VOTO - Desembargador Luiz Silvio Ramalho Júnior (Relator) 1) Da embriaguez ao volante (art. 306, do CTB). O recurso deve ser provido, em parte.,. Antes, porém, de enfrentarmos o seu ponto fulcral, façamos um indispensável relato do processo. Muito bem. O representante do Ministério Público, ora recorrido, denunciou o réu/apelante pelos crimes de embriaguez ao volante, desacato e resistência (fs. 02/03). Processado regularmente o feito e encerrada a instrução criminal, pela Juíza a quo foi acolhida a denúncia, restando o réu condenado a pena de 01 (um) ano e 02 (dois) meses de detenção, inicialmente em regime aberto, bem como 30 (trinta) P _05.doc
3 dias-muita à razão de 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente, e ainda, suspensão da habilitação para dirigir por 02 (dois) meses. Objetivando a reforma desta decisão, o réu interpõe a presente apelação (fs. 119/132). Com efeito, a autoria delitiva encontra-se sobejamente demonstrada no caderno processual, conforme evidenciam os depoimentos dos policiais militares que abordaram o apelante no momento dos fatos narrados na denúncia, os quais, de modo uníssono, apontaram o réu como autor dos crimes de embriaguez ao volante, desacato e resistência (fs ). e abordado Anote-se que, apesar do apelante negar ter cometido os crimes mencionados, o mesmo confirmou que conduzia veículo automotor nas margens do Açude Novo, inclusive indicando que entrara na contramão de direção para comprar um remédio para sua esposa em uma farmácia existente naquela localidade, quando fora pelos policiais ouvidos como testemunhas (fs. 88/89). Ademais, as testemunhas de defesa que prestaram depoimento durante a instrução processual fizeram afirmações bastante lacônicas, posto que nenhuma delas estava com o apelante no momento dos fatos em análise. Noutra senda, repousa a discussão em relação à materialidade criminosa, já que o recorrente sustenta a insuficiência de provas em relação ao crime de embriaguez ao volante. Para a análise desta questão, faz-se imprescindível a transcrição do quanto disposto no art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro, com vistas ao seu melhor entendimento, senão veja-se: Pois bem. "Art Conduzir veiculo automotor. na via pública, estando com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob a influência de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência: (Redação dada pela Lei n , de 2008) Penas - detenção, de seis meses á três anos, multa e Suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor." (grifo nosso) Diante da atual redação do artigo transcrito, alterada pela Lei n /2008, conhecida popularmente como "Lei Seca", é possível afirmar que são elementares do tipo penal em destaque: a) a condução de veículo automotor em via pública e; b) que o condutor tenha uma concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou ainda, que este mesmo condutor esteja sob a influência de outra substância psicoativa que determine dependência. Portanto, à falta de qualquer dessas elementares, conclui ser atípica a conduta, salvo se não restar configurada outra figura penal. AP _05.doc ;dell ("
4 In casu, verifica-se que o apelante, Guilherme Mateus de Barros, conduzia um veículo automotor Fiat Uno numa via pública nas margens do Açude Novo, no município de Campina Grande-PB, inclusive na contramão de direção, consoante confissão do mesmo, às fs. 88/89 dos autos. Por outro lado, restou igualmente comprovado que o mesmo chocou seu veículo contra uma barreira de sinalização conhecida como "gelo baiano", ocasionando a retirada do obstáculo do local, assim como danos no seu próprio carro, fato ocorrido às 04:00h da madrugada, a teor dos depoimentos dos policiais militares Alisson Fernandes Vieira e Kleiton Araújo Silva, que o abordaram no momento do fato, conforme fs. 77/78 do processo. Dessa forma, resta devidamente caracterizada a primeira elementar, eis que o acusado dirigia seu veículo em via pública na data mencionada na denúncia. No entanto, a questão mais tormentosa diz respeito à presença da segunda elementar do tipo penal em análise, qual seja a concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, relativamente ao condutor. É que,' de acordo com a denúncia, os policiais militares que faziam rondas pela localidade avistaram o acusado conduzindo o referido veiculo de forma descontrolada. Em reforço a esta afirmação, aduziu ainda o parquet que os policiais resolveram abordar o acusado, que apresentava visíveis sintomas de embriaguez, o qual se dirigiu aos policiais de maneira bastante alterada, desacatando-os, tendo sido necessário o uso de força para retirá-lo do veículo, ante a sua resistência à ordem legal. Finaliza, o representante do Ministério Público, informando que o acusado se recusou a realizar o teste do etilômetro, conhecido por "bafômetro", pelo que foi lavrado o Termo de Constatação de Embriaguez pela CPTRAN. Cumpre destacar que, das provas carreadas aos autos, em especial dos depoimentos dos policiais militares referidos, dessume :se que o apelante aparentava sintomas de embriaguez alcoólica. Apontam, ainda, as provas produzidas na instrução que o apelante foi conduzido ao posto da Polícia Rodoviária Federal para realização do teste do etilômetro, entretanto o acusado recusou-se a realizar o mencionado teste. Ato contínuo, o mesmo foi levado à Unidade de Medicina Legal, a fim de realizar o exame sanguíneo, o que também não foi possível, pois não havia médico plantonista naquele momento, conforme apontam, de modo uníssono, os depoimentos dos policiais ouvidos e até mesmo do acusado. Dessa forma, os policiais da Companhia de Policiamento de Trânsito da,policia Militar, mediante o exame dos sinais e sintomas externos observados no condutor, lavraram o Termo de Constatação de Embriaguez, constante à f. 13 dos autos. Analisando o quadro fático delineado na denúncia verifica-se que o mesmo indica que o acusado conduzia seu veículo sob efeito de álcool e que, por isto, deve ser incurso nas penas do art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro, deixando de AP _05.doc
5 mencionar expressamente a quantidade de álcool encontrada no sangue deste. Entretanto, é preciso ressaltar que o Direito Penal é informado, dentre outros, pelo principio da legalidade, segundo o qual, não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal (art. 5 0, XXXIX, CF; art. 1, CP). Ora, a definição exata do crime em comento requer não apenas que a condução de veículo automotor ocorra sob a influência de álcool (como o era de 'acordo com a redação anterior), mas também que haja uma concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a -6 (seis) decigrámas, posto que se tal concentração for inferior ao limite legal não há o que se falar em crime. E neste aspecto, cumpre fazer importantes indagações: Quais são os meios hábeis à demonstração da concentração de álcool no sangue exigida pela norma incriminadora? Pode o acusado recusar-se a realizar exames periciais que venham a incriminá-lo? Será possível a comprovação do fato mediante prova testemunhal? É preciso reconhecer que aqui reside uma das questões mais debatidas na jurisprudência e doutrina pátrias na atualidade e sobre a qual não há consenso, como bem demonstra este processo, em que o Promotor de Justiça atuante perante o Juizo de primeiro grau posicionou-se contrariamente à consideração exclusiva das provas testemunhais (fs. 138/40), enquanto a Procuradoria Geral de Justiça opinou nesta instância superior pela suficiência destas provas para a condenação (fs. 144/150).. Nesta senda, entendemos que, com a nova redação dada ao art. 306 do CTB pela Lei n /08, passa a ser necessária, para a caracterização do crime de embriaguez ao volante, a constatação de que o motorista dirija com concentração de 6 decigramas de álcool por litro de sangue, a qual só pode- ser precisamente -aferida em exame realizado por intermédio do etilômetro, ou por exame laboratorial, o que torna atípica a conduta do paciente, porquanto não se submeteu a qualquer desses procedimentos. É que a "concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (sèi'clecigramas" é o que deve constar expressamente na denúncia, sendo que essa elementar nunca se demonstrará por exame visual. E mais, a Constituição da República impede que se extraia qualquer conclusão desfavorável àquele que, suspeito ou acusado de praticar alguma infração penal, exerce o direito de não produzir prova contra si mesmo. Acerca deste tema, encontra-se precedente na decisão monocrática do Ministro Eros Grau, proferido no Habeas Corpus n /DF, do Supremo Tribunal Federal: "Decisão. Habeas Corpus, com pedido de liminar, impetrado contra ato monocrático consubstanciado em decisão, do STJ, _que indeferiu pleito cautelar em idêntica via processual. O paciente, preso em flagrante sob a acusação da prática do crime tipificado n6 art. 306 do Código de Trânsito, foi posto em liberdade mediante o pagamento de fiança arbitrada em R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais). Os A P doc 5dell
6 impetrantes alegam que à configuração do mencionado delito é necessária a comprovação clínica da embriaguez, que se dá com a presença de 6 (seis) decigramas de álcool por litro de sangue. Assim. não tendo havido essa comprovação, sua conduta seria atípica. Requerem seja afastada a Súmula 691 desta Corte e concedida a liminar a fim de suspender a audiência destinada à proposta de transação penal, a ser realizada no dia 1 de setembro vindouro. É o relatório. Decido. O tipo previsto no art. 306 do CTB requer, para sua realização. concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas por litro de sangue. Parece-me evidente que a imputação delituosa há de ser feita somente quando comprovado teor alcoólico igual ou superior ao previsto em lei. Ora, não tendo sido realizado o teste do "barómetro", falta, o'bviamente, a certeza da satisfação desse requisito, necessário, repita-se, à configuração típica. O periculum in mora resulta da possibilidade de a transação penal ser concretizada, com gravames para o paciente; se não for, a instauração de ação penal em situação passível de ser reconhecida a atipicidade justifica, igualmente, a concessão de liminar. Excepciono a regra da Súmula 691/STF e concedo a liminar, a fim de suspender a audiência designada para o dia 1 de setembro do corrente ano." (grifo nosso) No mesmo sentido é o entendimento da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, consoante precedente do Ministro Og Fernandes, proferido no Recurso Especial n /DF, cuja ementa ora se transcreve, in verbis: "PENAL. CONDUÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR EMBRIAGADO. ART LEI N NÍVEL DE CONCENTRAÇÃO ALCOÓLICA NO SANGUE. PRINCÍPIO: NINGUÉM É OBRIGADO A PRODUZIR PROVA CONTRA SI MESMO. PRECEDENTE STF. PROVA TÉCNICA. INEXISTÊNCIA. ATIPICIDADE DA CONDUTA. 1. Sem embargo da intenção do legislador em penalizar mais severamente os condutores de veículos embriagados, _o certo é que ao exigir o nível_de concentração ãlcoólica por litro de sàngue igual ou superior a 6 (seis) decigramas para tipificar O delito previsto no art. 306 da Lei n ,2008 culminou por dificultar a sua punição em razão do princípio de que ninguém é obrigado a produzir prova em seu desfavor. 2. Não se pode presumir que a embriagues de quem não se submete a exame de dosagem alcoólica: a Constituição da República impede que se extraia qualquer conclusão desfavorável àquele que, suspeito ou acusado de praticar alguma infração penal, exerce o direito de não produzir prova contra si mesmo: Precedentes'. (HC 93916/PA - Relatora: Min. Cármen Lúcia julgamento: 10, Órgão julgador: Primeira Turma). 3. A alteração dada pela Lei n é mais benéfica ao réu que a lei anterior, na medida em que exige para a configuração do delito previsto no art. 306, na redação dada pela nova lei, a concentração de pelo menos 6 decigrátnas de álcool por litro de sangue, cuja prova demanda a realização de exames periciais 1 STF. Ilabeas Corpus n /SP. Rel. Ministro Eros Grau. J. em 27/ DJE 01.09/2009. AP _05.doe 6 de 1 I
7 (etilômetro e ou exame de sangue). Não havendo nos autos tais exames, tem-se por atípica a conduta. 4. Recurso provido para absolver o réu com fulcro no art. 386, III, do CPP." 2 (grifo nosso) É oportuno destacar ainda julgados precedentes oriundos deste Egrégio Tribunal de Justiça no mesmo sentido, senão veja-se: "APELAÇÃO CRIMINAL. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE - CONCENTRAÇÃ O IGUAL OU SUPERIOR A 6 (SEIS) DECIGRAMAS DE ÁLCOOL POR LITRO DE SANGUE - AUSÊNCIA DE PROVA TÉCNICA SENTENÇA ABSOLUTÓRIA RECURSO DESPROVIDO. Com a nova redação dada ao artigo 306 do CTB pela L. n /08, passa a ser necessária, para a caracterização do crime de embriaguez ao volante, a constatação de que o motorista dirija com concentração de 6 decigramas de álcool por litro de sangue, a qual só pode ser precisamente aferida em exame realizado por intermédio do baftimetro, ou por exame laboratorial, o que torna atípica a conduta do paciente, porquanto não se submeteu a qualquer desses procedimentos. Ausente, pois, a prova técnica cabal pertinente, absolvição é medida que se impõe."' (grifo nosso) "ACIDENTE DE TRÂNSITO. Homicídio culposo na condução de veículo, e embriaguez ao volante (artigos 302, e 306, da Lei n 9.503/97). Condenação. lrresignação do réu. Apelo no tocante as penas aplicadas. Redução do período de suspensão da Carteira Nacional de Habilitação. Possibilidade. Redução proporcional ao período da pena de detenção. Exegese do art do CTB. Diminuição da pena pecuniária aplicada. Quantum que deve se adequar as condições econômica do réu (artigos 45, 1 2, e 60, do CP). Redução da pena privativa de liberdade. Impossibilidade. Sanção aplicada próximo ao mínimo legal estipulado para os tipos penais. Total da pena adequada e fundamentada ante o concurso formai existente. Reforma da sentença para absolver o réu do delito previsto no art. 306, do CTB. Ausência do teste de alcoolemia. Prova imprescindível. Interpretação -da nova Lei' n /2008. Manutenção da condenação pelo delito do art do CTB. Provimento parcial do apelo. (...) - Inexistindo nos autos o Laudo de Teste Alcoolêmico, dando conta de que o réu tinha concentração de algo em -seu sangue superior aquela permitida por lei, impossível a sua condenação pelo delito do art. 306, do CTB, devendo, portanto ser absolvido por esse delito, e, em razão disto, reparos serão necessários no tocante a sua condenação, uma vez que, não mais restou configurado o crime." (grifo nosso) Avalizando este entendimento, a doutrina pátria afirma: ISTJ. Recurso Especial n DF. Rel. Ministro 011 Fernandes. J. em 28/ ale 18/ I() TJPB. Apelação Criminai n ;001. Rel. p acórdão Juiz Comocado Eslu Elos Filho. J. em 2904/2010. TJPB. Apelação Criminal n` Rel. Des. Ari -16Mo Alves Teodosio..1. em AP _05.doc
8 "Conforme já mencionado, a quantidade mínima de álcool por litro de sangue. de acordo com a nova redação típica do art. 306 do CTB, passou a constituir elementar do tipo penal. Nada tem a ver com a materialidade delitiva sobre o 'estado de embriaguez', mas com a tipicidade da conduta. Se a quantidade mínima de álcool no sangue do condutor não ficar comprovada e, portanto, não for mencionada expressamente na denúncia ou queixa, o fato narrado na exordial será evidentemente atípico, sendo o caso de rejeição da peça acusatória, ex vi do disposto no art. 395, 1 c/c art. 41, -ambos do. Código Processual Penal de regência, ou mesmo rejeição por falta de uma das condições da ação (art. 395, II do CPP), qual seja, a possibilidade jurídica do pedido, em razão da atipicidade do fato (dirigir sob o efeito de álcool, por si só, não é crime; crime é conduzir veículo com o mínimo de seis decigramas de álcool por litro de sangue). Percéba-se que a alteração do tipo penal trouxe mudanças relevantes. Na redação anterior do art. 306 do CTB bastava a denúncia mencionar a influência por álcool do condutor, sendo que a comprovação dessa elementar se fazia por meio de um dos meios de aferição mencionados. De acordo com a nova redação, porém. a 'concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas' é o que deve constar expressamente na denúncia, sendo que essa elementar nunca se demonstrará por exame visual." Frise-se que o Termo de Constatação de Embriaguez, por si só, não se presta a atender as exigências do art. 306 do CTB, porquanto este exige um exame preciso, no sentido de denotar se o denunciado estava ou não com concentração mínima de sangue exigida pela lei. E o citado termo, apesar de atestar que o mesmo estava com sinais clínicos de embriaguez, não faz prova no sentido de evidenciar o que o tipo penal exige: a concentração de 6 decigramas ou mais por litro de sangue. E tal -verificação é feita mediante utilização do etilômetro ou através do exame de alcoolemia. Fato é que, inexiste nos autos qualquer comprovação nesse sentido. Desta forma, tendo em vista a impossibilidade de se caracterizar o tipo penal em tela, entendemos que não restou comprovada a materialidade do crime do art. 306, do CTB, impondo-se a reforma da sentença, para absolver o réu quanto a este crime, com fulcro no art. 386, inc. II, do Código de ProcessO Penal. 2) Dos Crimes de Desacato e Resistência Por outro lado, ainda que não se insurgindo pontualmente, percebese que no pedido recursal, o apelante requer a reforma da sentença, para que seja absolvido dos delitos que lhe foram imputados, de modo que passamos a apreciar os crimes de desacato e resistência pelos quais foi condenado, em razão da ampla devolutividade do recurso em matéria de processo penal.. Neste aspecto, entendemos que a sentença não merece nenhum 5 GOMES. Luiz Flávio. Lei seca: acertos, equívocos, abusos e impunidade. Disponível em 04 julho A mo _05.doc S de 11
9 reparo, eis que apreciou com rigor a hipótese dos autos. Com efeito, a materialidade e autoria relativamente a tais delitos restaram devidamente comprovadas no presente feito, de modo que impõe-se a condenação do réu às penas previstas nos arts. 329 e 331 do Código Penal, É que extrai-se dos depoimentos prestada-pelos policiais militares que abordaram o acusado no momento do fato que o mesmo desacatou os referidos policiais, bem como resistiu à prisão, sendo necessário o uso de força para retirá-lo do seu veiculo, senão veja-se: "Que confirma seu depoimento prestado na esfera políciãl, lido nesta oportunidade; que no dia em que ocorreu o fato se encontrava fazendo rondas juntamente com seus colegas quando percebeu que -um _indivíduo aparentava descontrole ao guiar seu veículo, tendo. inclusive, por conta, passado por cima de alguns gelos baianos; que os policiais entenderam abordar o indivíduo o qual posteriormente foi identificado como sendo a pessoa do acusado Guilherme Mateus de Barros e puderam constatar que este aparentava sintomas de embriaguez alcoólica e que, naquele momento, foi pedido para que saísse do veículo, no que este relutou em desfavor daquela ordem bem corno tentou agredir os policiais, sendo necessário o uso de força física para retirá-lo do automóvel; (...) que o acusado, não se dando por satisfeito, passou a ameaçar os policiais inclusive dizendo que iria lhes tirar as fardas e inclusive tendo insinuado que os policiais haviam levado alguns objetos - pertencentes a ele, mas que não condiz com a verdade; (...) que, erri princípio, o acusado se encontrava bastante alterado; que o acusado se apresentava bastante arrogante, no entanto, a bebida alcoólica ajudou bastante no seu comportamento; (...)" (testemunha Alisson Fernandes Vieira. f. 77 dos autos) "Que confirma seu depoimento pres. tado na esfera polic ra I, lido nesta oportunidade (f. 06); que no dia em que ocorreu O fato se encontrava fazendo rondas juntamente com seus colegas quando se aproximaram do Açude Novo quando perceberam que um indivíduo conduzia seu veículo aparentando certo descontrole, inclusive na contramão de direção; que, como se não bastasse, o acusado não se apercebendo passou por cima de um gelo baiano, inclusive danificando seu veículo; que os policiais entenderam de abordar o indivíduo o qual posteriormente foi identificado como sendo a pessoa do acusado Guilherme Mateus de Barros e que, naquele momento, foi pedido para que saísse do veículo, no que este relutou em desfavor daquela ordem bem como tentou agredir os policiais, sendo necessário o uso de força física para retirá-lo do automóvel; que o acusado apresentava visíveis sintomas de embriaguez alcoólica e, ato continuo, o mesmo foi levado ao posto da Policia Rodoviária Federal onde ali se negou a se submeterão teste de alcoolemia (...) que durante esse tempo, o acusado afirmava para o depoente e demais colegas seus que iria lhes tirar as fardas e que poderia prendê-lo que tinha quem o soltasse, sendo dada voz de prisão em flagrante. quando levaram o acusado para a Delegacia, na Central de Policia, para as providências legais, não sem antes o acusado A P _05.doc e 9de H
10 insinuar que os policiais haviam se apropriado de alguns pertences seus, no entanto, tal fato não ocorreu, tanto é verdade que seu celular e o óculos que os policiais haviam se apropriado foram encontrados posteriormente no seu próprio bolso - (testemunha Kleiton Araújo Silva. f. 78 do feito) Assim, diante da coerência das declarações das testemunhas e do auto de resistência à prisão (f. 12), aptos a comprovar os crimes de desacato e resistência, bem assim a inexistência de provas em sentido contrário, deve-se prestigiar a condenação imposta. Cumpre afirmar a observância da Juíza a quo quanto à correta aplicação de todas as fases de aplicação das penas. em estrita obediência ao que preceituam os artigos 59 e'68 do Código Penal, analisando de forma clara e individual todas as circunstâncias judiciais. Com efeito, o magistrado deve se ater à análise das circunstancias judiciais previstas no artigo 59 do Código Penal para a fixação da pena-base, as quais, na hipótese em apreço, foram quase todas elas favoráveis ao apelante, o que justifica a fixação da pena-base no mínimo legal. 3) Da Substituição da Pena Privativa de Liberdade: Finalmente, considerando a absolvição do apelante em relação ao crime do art. 306 do CTB, e a manutenção da condenação pelos crimes dos arts. 329 e 331 do CP. fixando-se as penas no mínimo legal, que somadas, em razão do concurso material, totalizam 08 (oito) meses de detenção e 20 (vinte) dias-multa à razão 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente, e observando a regra do art. 44 do CP, substituo a pena privativa de liberdade por uma pena restritiva de direitos: consistente na prestação de serviços comunitários à razão de 01 (uma) hora de trabalho por dia de condenação, excluindo-se, assim, a pena de prestação pecuniária, haja vista o quantum da pena de detenção ser inferior a 01 (um) ano ) Conclusão Ante o exposto, dou provimento parcial à apelação, para absolver o réu com relação ao crime de embriaguez ao volante, com fulcro no art. 386, inc. II, do Código de Processo Penal, mantendo, contudo a condenação pelos crimes dos arts. 329 e 331 do Código Penal,. aplicando-se, assim, pena de 08 (oito) meses de detenção, substituída por uma pena restritiva de direitos, consistente na prestação de serviços comunitários à razão de 01 (uma) hora de trabalho por dia de condenação, e ainda, pena de 20 (vinte) dias-multa à razão 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente. É o voto. Presidiu a sessão o Excelentíssimo Senhor Desembargador Joás de Brito Pereira Filho, Presidente da Câmara Criminal. Participaram do julgamento os Excelentíssimos Senhores Desembargadores Luiz Silvio Ramalho Júnior, Relator, Joás de Brito Pereira Filho e Arnóbio Alves Teodásio. A _05.doc 4?.
11 Presente à sessão o representante do Ministério Público, o Excelentíssimo Senhor Procurador de Justiça, Paulo Barbosa de Almeida. Sala de Sessões da Câmara Crimi I "Des. Manoel Taigy de Queiroz Mello Filho" do Tribunal de Justiça do Estado da P lba, em João Pessoa. 10 de novembro de Desembargador Luiz Silvio Ramalho Júnior? Relator AP _05.doc 11 de 11
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