PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA GABINETE DO DESEMBARGADOR LUIZ SILVIO RAMALHO JÚNIOR
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- Amélia Duarte Lameira
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1 PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA GABINETE DO DESEMBARGADOR LUIZ SILVIO RAMALHO JÚNIOR ACÓRDÃO APELAÇÃO CRIMINAL (Processo N /001) RELATOR :Desembargador Luiz Silvio Ramalho Júnior APELANTE :Josemir Amaro de Araújo vulgo "Frank Aguiar" APELADO :Justiça Pública PENAL. Apelação criminal. Tráfico ilícito de drogas. Pretensão de desclassificação do crime de tráfico para consumo próprio. Impossibilidade. Mercância cáracterizada (art. 28, 2, da Lei n /2006). Dosimetria da pena. Sanção fixada de acordo com a lei (art. 42 da Lei n /2006). Desprovimento do recurso. O crime de tráfico resta caracterizado quando aferido de acordo com os parâmetros estabelecidos pelo parágrafo segundo do art. 28 da Lei n /2006, e, havendo denúncia, o acusado é flagrado portando a droga ilícita. Considera-se justa a sanção aplicada em observância aos critérios determinados no art. 42 da Lei n /2006, cuja norma ordena que o juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância sobre o previsto no art. 59 do Código Penal, a natureza e a quantidade da substância ou do produto, a personalidade e a conduta social do agente. VISTOS, RELATADOS E DISCUTIDOS estes autos, em que são partes as acima identificadas. ACORDA a Câmara Criminal do Tribunal de Justiça da Paraíba, à unanimidade, em negar provimento à apelação, nos termos do voto do Relator, e em desarmonia com o parecer da Procuradoria-Geral de Justiça. RELATÓRIO Trata-se de Apelação Criminal interposta por Josemir Amaro de Araújo vulgo "Frank Aguiar", que tem por escopo impugnar sentença que o condenou AP _05.doe 1 de 6
2 como incurso no art. 33 da Lei n /2006 (f. 84). Alega, em síntese, que deve ser absolvido com base no princípio da inocência, da ampla defesa, do contraditório, da carência de ação e fragilidade das provas; que não se comprovou a materialidade e a autoria do crime. Afirma que a droga era para consumo próprio, pleiteando a desclassificação para o consumo de drogas. Requer a reforma da sentença para absolvê -lo (fs. 86/89). O Ministério Público apresenta contrarrazões pugnando pela manutenção da sentença e desprovimento do apelo (fs. 90/93). A Procuradoria-Geral de Justiça oferta parecer em que, inicialmente, ressalta a ausência de mandato judicial ao advogado constituído pelo réu, mas que se trata de mera irregularidade, não constituindo óbice ao conhecimento do recurso. No mérito, entende que a materialidade e a autoria do crime de tráfico restou provada, pois o réu, aproveitando-se da progressão do regime para o aberto, passou a adquirir droga para vender na cadeia pública daquela Comarca. Todavia, quanto à cominação da pena, compreende que esta foi exacerbada, uma vez que se trata de pouca quantidade de droga apreendida, pois não chega a 20 (vinte) gramas de maconha e 2 (duas) pedras de crack, sendo insuficientes para causar maiores danos. aplicada (f.100/106). Por fim, opina pelo provimento parcial do apelo, para reduzir a pena É o relatório. - VOTO - Desembargador Luiz Silvio Ramalho Júnior (Relator) 1) Preliminar - Da ausência de procuração nos autos Preliminarmente, cumpre esclarecer que a ausência da procuração nos autos não constitui vício processual nem incide em mera irregularidade, uma vez que o defensor constituído acompanhou o réu durante o interrogatório judicial, conforme ata de audiência de interrogatório constante à f. 62 dos autos, sendo dispensável o instrumento procuratório, nos termos do art. 266 do CPP, que assim dispõe: Art A constituição de defensor independerá de instrumento de mandato, se o acusado o indicar por ocasião do interrogatório. Destarte, não há qualquer vício a ser sanado, uma vez que o intrumento de mandato é prescindível quando a constituição do defensor ocorre no interrogatório do réu, como se deu na espécie. j(-1( APO _05.doc 2 de 6
3 MÉRITO No mérito, não assiste razão ao apelante. Antes, porém, de enfrentarmos o seu ponto fulcral, façamos um indispensável relato do processo. Infere-se dos autos que o réu cumpria pena em regime aberto na prisão pública da Comarca de Esperança e que, no dia 30 de julho de 2010, por volta das 18:30 min, quando se apresentava para o recolhimento noturng, foi preso em flagrante delito por estar portando, dentro de suas vestes íntimas, maconha e duas pedras de crack. Segundo a denúncia, os policiais militares receberam a notícia de que o réu estava fornecendo drogas aos apenados, tendo confessado, na fase inquisitorial, que pretendia vender a droga (fs.02103)., A sentença julgou procedente a denúncia, condenando o réu ao cumprimento da pena privativa de liberdade pelo período de 05 (cinco) anos e 06 (seis) meses de reclusão e a pena de multa em 600 (seiscentos) dias-multa, atualizados, quando da execução, pelos índices vigentes, correspondentes cada dia-multa a 1/30 do salário-mínimo (fs. 73/80). apelação. Objetivando a reforma desta decisão, o réu interpõe a presente 2) Da alegação de que a droga ilícita não se destinava a traficância, mas ao consumo próprio. Com efeito, pretende o apelante desclassificar o crime de tráfico ilícito de entorpecentes para consumo pessoal. A respeito, dispõe 2 do art. 28 da Lei n /2006, que, para determinar se a droga destinava-se ao consumo pessoal, deve o juiz atender à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente. Pois bem, colhe-se dos autos que a droga apreendida em poder do apelante destinava-se a mercância ilícita, e não ao seu consumo pessoal. Infere-se que o recorrente foi pego em flagrante delito portando duas pedras de crack, com peso de 0,30 g (trinta centigramas), além de um pacote de maconha, pesando aproximadamente 19,20 g (dezenove gramas e vinte centigramas), conforme exame químico-toxicológico às fs. 32/32 v e 33/33v. O flagrante ocorreu-na prisão em que o apelante cumpria pena no regime aberto, ou seja, no momento que se apresentava para o repouso noturno, e nos termos do depoimento prestado pela segunda testemunha arrolada na denúncia, Daniel Fiorentino de Souza, policial militar, vislumbra-se que a droga se destinava a um dos AP _05.doc 3 de 6
4 detentos que cumpria pena em regime fechado, vejamos o que disse: "... que ouviu comentários que a droga seria levada para o elemento conhecido por "Adriano de Tassio..." (fs.112/113). Ademais, deve-se considerar que o apelante aproveitando-se da sua condição de albergado adquiria a droga ilícita durante o período em que estava fora da cadeia pública, sem vigilância, para revendê-la aos presos encarcerados em regime fechado. Frise-se que o flagrante ocorreu após denúncia de que o apelante estava vendendo droga dentro da cadeia pública, comprovando-se a tipicidade de sua conduta ilícita como traficante. A respeito, já decidiu esta Câmara Criminal: APELAÇÃO CRIMINAL. TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTE. CONDENAÇÃO. IRRESIGNAÇÃO. PRELIMINAR. NULIDADE DO FEITO. RÉU PORTADOR DE DISTÚRBIOS CEREBRAIS. NÃO ACOLHIMENTO. AUSÊNCIA DE DÚVIDAS SOBRE A INTEGRIDADE MENTAL DO ACUSADO. INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL NÃO REALIZADO. PEDIDO EXTEMPORÂNEO. MÉRITO. REDUÇÃO DA PENA. DISTANCIAÇÃO ENTRE A PENA BASE APLICADA E A MÍNIMA COMINADA À ESPÉCIE. IMPROPRIEDADE DO PEDIDO. VETORES DO ART. 59 DO CP ANALISADOS FUNDAMENTADAMENTE. RECONHECI-MENTO DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA. NÃO APLICAÇÃO. RÉU QUE AFIRMA SER USUÁRIO DA DROGA APREENDIDA, E, NÃO, TRAFICANTE. DESCLASSIFICAÇÃO PARA O DELITO DE USO PRÓPRIO DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE. POSSE DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE PARA CONSUMO PESSOAL DESCARACTERIZADA. APLICAÇÃO DO 4 DO ART. 33 DA LEI N /06. REJEIÇÃO. REQUISITOS SUBJETIVOS EXIGIDOS NÃO PREENCHIDOS. RÉU PORTADOR DE MAUS - ANTECEDENTES. EXISTÊNCIA DE CONDENAÇÃO ANTERIOR DEFINITIVA. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. DESPROVIMENTO DO RECURSO. (...) 4. Ocorrendo denúncia da mercancia ilícita de entorpecentes e, em seguida, perpetrada a prisão em flagrante delito na posse da droga pronta para comercialização, mostra-se comprovado que a substância entorpecente se destinava ao tráfico e, não, ao consumo próprio. 5. Para aplicação da causa de diminuição de pena prevista no 40 do art. 33 da Lei n /06, faz-se necessário que o agente deva ser primário não reincidente, de bons antecedentes e que não se dedique às atividades criminosas traficante, agindo de modo individual e ocasional.' Por tais razões, não há como se acolher a teste de que a droga apreendida era para o consumo pessoal, até porque durante o inquérito policial, o apelante confessou o crime espontaneamente, tecendo detalhes do seu modus operandi, senão vejamos: I (TJPB -Processo: Decisão: Acordãos Relator: DES. LEONCIO TEIXEIRA CAMARA Orgão Julgador: Câmara Criminal Data do Julgamento: 19/01/2010). AP _05.doe 4 de 6
5 "...há aproximadamente, um mês está transportando droga para o interior da cadeia pública da cidade de Esperança, QUE estava traficando as drogas porque estava precisando de dinheiro, QUE adquiriu a referida droga pelo valor de R$ 25,00 e iria lucrar pela revenda da droga a quantia de R$ 10,00 a R$ 15,00, QUE as duas pedras de crack foram adquiridas pelo valor de R$ 10,00 cada uma e o interrogado revende pelo valor de R$ 15,00 cada uma, QUE os apenados que recebem a droga do interrogado são apenas viciados..."(f. 06). Não há dúvida, pois, de que o crime em questão trata-se de tráfico ilícito de entorpecentes previsto no art. 33, caput, da Lei n /2006, não sendo a hipótese do art. 28 da mesma lei que cuida da aquisição da droga para consumo pessoal. 3) Dosimetria da pena. No tocante à dosimetria da pena também não merece reforma. Ora, verifica-se que o magistrado sentenciante atendendo ao disposto no art. 42 da Lei n /2006 2, fixou a pena-base quase em seu mínimo legal, cominando-a em 05 (cinco) anos 03 (três) meses de reclusão, impondo ainda a pena de multa no valor em 550 dias-multa, no valor unitário de 1/30 do salário-mínimo. Deprende-se ainda que foi reconhecida a circunstância atenuante da confissão extrajudicial, uma vez que serviu de fundamento para a condenação, bem corno aplicou-se a agravante da reincidência. Por fim, ausentes as causas de diminuição ou de aumento, fixou-lhe, em definitivo, a pena em 05 (cinco) anos e 06 (seis) meses de reclusão e a pena de multa em 600 (seiscentos) dias-multa, correspondendo cada dia multa a 1/30 do salário-mínimo, de maneira que a pena cominada foi justa, não merecendo qualquer reparo. 4) Conclusão Ante o exposto, nego provimento à apelação. É o voto. Presidiu a sessão o Excelentíssimo Senhor Desembargador Luiz Sílvio Ramalho Júnior, Presidente da Câmara Criminal e relator. Participaram do julgamento os Excelentíssimos Senhores Doutores Carlos Martins Beltrão Filho, revisor e Tércio Chaves de Moura, Juiz de Direito concovado para substituir o Excelentíssimo Senhor Desembargador Amai() Alves Teodósio. Ausente justificadamente os Excelentíssimos Senhores Desembargadores Joás de Brito Pereira Filho e Carlos Martins Beltrão Filho. 'Art. 42. O juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância sobre o previsto no art. 59 do Código Penal, a natureza e a quantidade da substância ou do produto, a personalidade e a conduta social do agente. AP I 600 1_05.doc 5 de 6 (L1
6 Presente à sessão o Representante do Ministério Público, o Excelentíssimo Senhor Doutor Paulo Barbosa de Almeida, Procurador de Justiça. Sala de Sessões da Câmara Criminal "Des. Manoel Taigy de Queiroz Mello Filho do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, em 13 de março de Desembargador Luiz SiEvio Ramalho Junior Relator AP _05.doc 6 de 6
7 TRIBUNAL DE JUSI R.A Diretoria Judiciária Registrado e 2-42,12
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