Universidade Estadual Paulista (UNESP) Programa de Pós-Graduação em Economia

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1 Universidade Estadual Paulista (UNESP) Programa de Pós-Graduação em Economia Aglomeração Calçadista de Birigüi: Origem e Desenvolvimento ( ) Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Economia da Unesp para obtenção do título de Mestre em Economia. Candidato: Marco Aurélio Barbosa de Souza Orientador: Profª Dra Maria Alice Rosa Ribeiro Araraquara Junho de 2004

2 II Para meu pai Pedro Ois Menino, para minha mãe (Berenice) e meus irmãos (Milene e Pedro Filho).

3 III RESUMO O presente estudo tem por objetivo investigar a origem e o desenvolvimento da aglomeração produtora de calçados infantis de Birigüi (SP), no período que se estende do final da década de 50 até o ano de Procura-se determinar se a aglomeração industrial formada no município gerou vantagens competitivas para as empresas de calçados da cidade, decorrentes do surgimento de economias externas e da formação de uma eficiência coletiva. Entre o final da década de 60 e começo dos anos 70 observou-se a presença de um núcleo de fábricas de calçados, juntamente com alguns fornecedores, e com uma mão-de-obra especializada, fatores que impulsionaram a formação de uma atmosfera industrial voltada à produção de calçados no município. Esses elementos, que são chamados de economias externas, ampliaram as vantagens do agrupamento de empresas e formaram uma aglomeração industrial na cidade. As economias externas, ao reduzirem as barreiras à entrada e à saída, intensificaram o processo de instalação de empresas de calçados e de fornecedores e propiciaram ao arranjo produtivo a conquista de uma participação expressiva na indústria de calçado estadual e nacional. O crescimento do aglomerado na década de 80 ilustra bem esse processo, pois no referido período ocorreu a instalação de mais de 250 empresas (fábricas de calçados e fornecedoras) e a produção ultrapassou 25 milhões de pares anuais em Durante as décadas de 60, 70 e 80, as vantagens das empresas locais vieram de economias externas puras. Já na década de 90, em conseqüência da crise que atingiu o parque produtivo de Birigüi, desenvolveram-se formas de cooperação entre as empresas e as instituições locais, dando origem a uma eficiência coletiva.

4 IV ABSTRACT This study intends to examine the origin and development of the producing of agglomeration of Birigüi s (SP) child shoes industries from the end of the 50 s through the year Its purpose is to determine if the industrial agglomeration existing in Birigüi has created competitive advantages for the city arising out of the existing external economies as well as the formation of a collective efficiency. Between the end of the 60 s and beginning of the 70 s the presence of shoes industries, together with some suppliers and a specialized manpower, was observed. Those were factors that boosted the formation of an industrial atmosphere directed to the production of shoes in the city. These elements which we call external economies increased the advantages of the gathering of factories thus bringing of the city an industrial clusters. The external economies, reducing the barriers for the sale and buy, intensified the process of installment of factories and suppliers and provided to the productive arrangement the takeover of an expressive participation in the state and national shoes industry. The growing of the gathering in the decade of 80 s shows well this process for, in the referred period, more than 250 industries (shoes and suppliers industries) were installed and the production surpassed 25 million pairs in During the decades of 60 s, 70 s and 80 s, the industries advantages come from external economies themselves. In the 90 s decade, however, because of the crisis that hit the productive park of Birigüi, new forms of cooperation were created among the industries and the local institutions, bringing up a collective efficiency.

5 V SUMÁRIO Resumo... iii Abstract... iv Sumário... v Lista de Tabelas... vii Lista de Figuras... ix Agradecimentos... x Lista de abreviaturas e siglas adotadas... xii Introdução Capítulo 1 A formação da aglomeração calçadista de Birigüi ( ) A Evolução das atividades econômicas no município de Birigüi e a origem da indústria de calçados A origem da indústria de calçados de Birigüi e o início da especialização na produção de calçados infantis ( ) Aglomerações industriais, economias externas e eficiência coletiva O desenvolvimento da indústria de calçados, o surgimento de empresas fornecedoras e a formação da aglomeração industrial A instalação dos fornecedores, a formação de mão-de-obra especializada e a instalação de um centro de treinamento O mercado consumidor dos calçados de Birigüi, a produção de calçados infantis e a participação do aglomerado na indústria nacional de calçados nos anos 60 e O mercado consumidor de calçados nas décadas de 60 e A produção de calçados infantis entre 1966 e 1972 e a participação na indústria nacional de calçados Capítulo 2 A Consolidação da aglomeração calçadista de Birigüi na década de O desempenho da indústria de calçados durante a década perdida... 42

6 VI 2.2 Entrada de novas empresas e a expansão da cadeia produtiva nos anos A produção de calçados alternativos: a difusão de uma nova matériaprima A expansão da produção, do número de empregados e o aumento da participação na indústria nacional de calçados na década de As maiores empresas de calçados de Birigüi nos anos 80: Kiuti, Popi e Bical Capítulo 3 A formação da eficiência coletiva nos anos A crise da indústria brasileira, os reflexos no setor calçadista nacional e o impacto na aglomeração calçadista de Birigüi na década de A formação da eficiência coletiva Vantagens competitivas das empresas de calçados de Birigüi em 2001 e Mão-de-obra especializada, fornecedores e prestadores de serviços especializados Formas de cooperação entre as empresas aglomeradas O papel das instituições locais Considerações finais Bibliografia Fontes Entrevistas Anexos

7 VII LISTA DE TABELAS TABELA 1.1 Produção de café no município de Birigüi em TABELA 1.2 Empresas, número de empregados e atividades industriais em Birigüi em TABELA 1.3 Evolução da produção anual e do número de empregados das fábricas de calçados de Birigüi entre 1962 e TABELA 1.4 Empresas de calçados e empresas fornecedoras instaladas em Birigüi entre 1966 e TABELA 1.5 Dados gerais sobre o crescimento da cadeia produtiva de Birigüi em 1968 e TABELA 1.6 Número de empregados das empresas de calçados de Birigüi entre 1966 e TABELA 1.7 Produção anual de calçados de Birigüi entre 1966 e TABELA 1.8 Produção brasileira por tipo de calçados (em mil pares) e número de estabelecimentos em TABELA 1.9 Produção de calçados infantis (em mil pares) e número de estabelecimentos do estado de São Paulo 1968 e TABELA 2.1 Taxa de crescimento médio anual do Produto Interno Bruto e agregados da indústria de transformação brasileira entre 1980 e TABELA 2.2 Instalação de empresas de calçados e empresas fornecedoras na década de TABELA 2.3 Empresas fornecedoras e representantes instalados na década de 80 em Birigüi TABELA 2.4 Número de empresas de calçado de Birigüi entre 1980 e TABELA 2.5 Distribuição das empresas calçadistas de Birigüi por número de empregados em 1986 e TABELA 2.6 Consumo per-capita de calçados no Brasil entre 1980 e TABELA 2.7 Taxa média anual (%) de crescimento da produção de calçados no estado de São Paulo entre 1980 e TABELA 2.8 Produção de calçados em Birigüi (em milhões de pares) entre 1985 e

8 VIII TABELA 2.9 Produção de calçados, segundo o material utilizado, e principais tipos do Estado de São Paulo entre 1980 e 1988 (em 1000 pares) TABELA 2.10 Número de empregados das fábricas de calçados de Birigüi entre 1983 e TABELA 2.11 Crescimento demográfico de Birigüi entre as décadas de 60 e TABELA 2.12 Produção e número de empregados da Kiuti, Popi e Bical em 1983 e TABELA 2.13 Número de empregados da calçados Kiuti em TABELA 3.1 Implantação de empresas de calçados e de empresas fornecedoras na década de TABELA 3.2 Empresas fornecedoras e representantes instalados na década de 90 em Birigüi Evolução dos indicadores de concentração de Birigüi na fabricação de TABELA 3.3 calçados (empresas, empregados e índice de especialização) entre 1990 e TABELA 3.4 Número de empregados desagregados na indústria de calçados do Brasil, do Estado de São Paulo e de Birigüi em TABELA 3.5 Empresas de calçados e número de empregados de Birigüi entre 1989 e TABELA 3.6 Empresas de calçados classificadas como industrialização para terceiros instaladas entre 1995 e TABELA 3.7 Número de empregados desagregados na indústria de calçados do Brasil, do Estado de São Paulo, e de Birigüi em TABELA 3.8 Distribuição das empresas de Birigüi por número de empregados em TABELA 3.9 Distribuição das empresas visitadas segundo seu porte em 2001 e TABELA 3.10 Dados sobre as empresas visitadas em 2001 e TABELA 3.11 Empresas fornecedoras com produção local em TABELA 3.12 Exportação de calçados da APEMEBI entre 2000 e

9 IX LISTA DE FIGURAS FIGURA 1.1 Mapa das cidades da região Noroeste em FIGURA 1.2 Birigüi: segunda no país em calçados infantis em FIGURA 1.3 Birigüi é a capital do sapato infantil em FIGURA 1.4 Instalação de duas esteiras de calçados nas fábricas de Pérola e Bical em FIGURA 1.5 Escola para oficiais de calçados fundada em FIGURA 1.6 Exportação de calçados da Rassum em FIGURA 1.7 Calçados infantis produzidos pela PAF em FIGURA 1.8 Calçados infantis produzidos pela Bical em FIGURA 2.1 Birigüi: a Capital Latino-Americana dos Calçados Infantis em FIGURA 2.2 Propaganda da Jofer Embalagens em FIGURA 2.3 Propaganda dos fornecedores de Birigüi em FIGURA 2.4 Calçados produzidos pela Milla em FIGURA 2.5 Calçados produzidos pela Kiuti em FIGURA 2.6 Desistência da Kit-Net em participar da Francal em FIGURA 2.7 Foto externa da fábrica de calçados Kiuti em FIGURA 2.8 Foto da linha de produção da calçados Kiuti em FIGURA 3.1 Falta de empregados em Birigüi em FIGURA 3.2 Crise do setor de calçados em FIGURA 3.3 Crise do setor de calçados em

10 X AGRADECIMENTOS Nestes anos de pesquisa tive a satisfação de contar com o apoio de diversas pessoas e instituições aos quais devo agradecimentos. À minha orientadora, professora Dra Maria Alice Rosa Ribeiro, pela orientação do trabalho e pelo aprendizado que tive com ela nesses últimos anos; À FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), cujo financiamento à pesquisa me permitiu a dedicação exclusiva ao trabalho, o que tornou possível o acesso a toda infra-estrutura necessária para a sua execução; Aos colegas da Pós-Graduação em Economia da Unesp/Araraquara (2002) meu muito obrigado pelo convívio, pela amizade, pela troca de idéias e experiências ocorridas nesses últimos anos; Aos professores do mestrado da Unesp, sou grato pela amizade e pelo conhecimento transmitido; À Regiane, relações públicas do Sindicato da Indústria do Calçado e Vestuário de Birigüi, pela disposição em sempre cooperar para o desenvolvimento do trabalho; Ao meu amigo Nalberto de Milton Vedovotto, que sempre me recebeu com muito carinho; Ao professor Ms. Marçal Rogério Rizzo, pela privilegio de sua amizade e pelas trocas de idéias ocorridas durante o desenvolvimento da pesquisa; Aos professores Renato Colistete e Alexandre Sartori pelas sugestões apresentadas durante o exame de qualificação; À professora Dra. Vera Alves Cêpeda, pelo auxílio durante a elaboração do projeto inicial de pesquisa e por ter sido uma incentivadora durante a graduação; Ao Joel, da Gelu Publicidade de Franca, representante de Jornal Exclusivo que mesmo tendo inúmeros afazeres muito gentilmente me recebeu e me apoiou durante minha estadia em Franca; Ao meu amigo Wellington pelas sugestões apresentadas ao trabalho; Aos funcionários da Biblioteca Municipal de Birigüi pela ajuda dada durante a pesquisa realizada nos jornais arquivados na biblioteca; Ao Fininho e ao Cláudio, funcionários da Prefeitura Municipal de Birigüi, que me auxiliaram na coleta de dados realizada na Prefeitura;

11 XI Ao meu amigo e colega de moradia, Glauber, pelo apoio, pela convivência e pela paciência durante o tempo de realização da pesquisa; Ao núcleo de conjuntura econômica da Unesp/Araraquara pela gentileza em ceder para a consulta a base de dados da RAIS/MTb; Aos professores Renato de Castro Garcia (Poli/Usp) e Wilson Suzigan (Unicamp), pela amizade e pelo aprendizado recebido durante as duas pesquisas realizadas em Birigüi; Ao João, à Mariluce, à Marisa e ao Diego pela paciência e pelo apoio; À Lucimari pelo apoio, paciência e carinho.

12 1 INTRODUÇÃO O estudo da localização da produção industrial em determinados espaços geográficos é um tema que tem despertado o interesse da literatura econômica nacional e internacional, sendo alvo de intensa reflexão e diversos estudos no Brasil 1. As concentrações geográficas de empresas vêm recebendo os mais variados nomes: Distritos Industriais, Sistemas Produtivos Locais, Arranjos Produtivos Locais, Sistemas Locais de Inovação, Aglomerações Industriais e Clusters 2. Todos esses termos se relacionam com um mesmo objeto de estudo concentrações de empresas de um mesmo setor industrial em um espaço geográfico delimitado, que desenvolvem localmente a sua cadeia produtiva com um conjunto de empresas fornecedoras e prestadoras de serviços. O despertar pelo tema derivou de diferentes preocupações e se desdobrou em várias formas de abordagens. Uma delas tem investigado a capacidade de desenvolvimento que estas estruturas apresentam para as localidades em que estão inseridas, em virtude do potencial de crescimento e desenvolvimento de sua cadeia produtiva, chamada por Porter (1990) de indústria correlata e de apoio. Essas concentrações de empresas podem ser estudadas sob o ponto de vista das inovações tecnológicas, estimuladas pela reunião das empresas em uma área geográfica, facilitando as inter-relações entre os diversos elementos da cadeia produtiva. O presente trabalho tem como foco o estudo das vantagens competitivas de empresas em aglomerações industriais. Nesse sentido, apresenta-se embasado no referencial teórico de vários autores que destacaram a capacidade das concentrações de empresas em gerar vantagens competitivas como uma das suas principais características, entre os quais: Garcia (2001), Porter (1990 e 1998), e Schmitz (1997). As explicações das vantagens dos aglomerados são de duas naturezas. A primeira, procura resgatar os trabalhos pioneiros de Marshall (1984) e aponta que as vantagens das aglomerações são decorrentes do desenvolvimento de três elementos: o mercado de trabalho especializado, o conjunto de 1 Vários estudos de casos podem ser encontrados na Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos locais (Redesist) do instituto de economia da UFRJ, que pode ser acessada através do site ( 2 Alguns autores trabalham com um leque ainda maior de sinônimos, como é o caso de Markusen (1995), que desagrega em alguns NDIs (Novos Distritos Industriais): NDI Marshalliano, Centro Radial (Hub and Spoke) e Plataforma Satélite. Alguns trabalhos procuram diferenciar essas concentrações de empresas dividindo-as em algumas denominações como Sistemas Locais de Produção ou Arranjos Produtivos Locais conforme apresentado pela (Redesist).

13 2 fornecedores e o conhecimento acumulado que é transmitido de geração em geração. Esses três elementos são chamados de economias externas. Já a segunda, aponta as facilidades para a instauração de uma cooperação local entre empresas, fornecedores e instituições pela proximidade entre eles. A presença de economias externas juntamente com algumas formas de cooperação permite o desenvolvimento de uma eficiência coletiva, fatores que diferenciam as empresas aglomeradas das que estão isoladas e constituem a fonte de sua competitividade. Normalmente, as vantagens competitivas geradas nos aglomerados são estudadas através de uma análise do estágio produtivo atual deles, buscando determinar a existência de economias externas e de formas de cooperação, que caracterizem a formação de uma eficiência coletiva. No entanto, poucos estudos disponíveis têm discutido a origem dessas aglomerações industriais e investigado seu processo de desenvolvimento subseqüente. Será que no início da formação dessas concentrações de empresas já é possível caracterizar a presença de economias externas e de uma eficiência coletiva? Qual a importância desses elementos para seu crescimento? O setor de calçados no estado de São Paulo tem a característica de concentrar quase todo o emprego em três cidades: Franca, Birigüi e Jaú. Juntas, essas cidades concentravam 73,7% dos empregos da indústria de calçados do estado em 2001 e 13,5% dos empregos da indústria nacional de calçados (RAIS/MTB 2001). Cabe observar mais um dado interessante: cada cidade é especializada na produção de um tipo de produto. Franca é especializada na produção de calçados masculinos de couro, Birigüi na produção de calçados infantis e Jaú na produção de calçados femininos. Quais são os fatores que levaram essas aglomerações à especialização na produção de um determinado artigo e à conquista de uma participação expressiva na produção estadual ou nacional desse produto ao longo do tempo? Será que o surgimento de economias externas durante a formação dessas aglomerações explica o processo de concentração? No intuito de analisar detalhadamente essas questões realizou-se um estudo de caso na aglomeração produtora de calçados infantis de Birigüi 3. A escolha desse objeto deve-se 3 O município de Birigüi está situado na região noroeste do Estado de São Paulo, sendo a segunda maior cidade da região administrativa de Araçatuba, que é formada por 43 municípios. Segundo dados do IBGE (2000), a cidade possui uma população de habitantes, e encontra-se distante 521km da capital paulista. Possui uma extensão territorial de 537 km 2 e é servida por uma malha viária constituída pela Rodovia Marechal Rondon (SP 300), Rodovia Gabriel Melhado (SP 461) e pela Rodovia Senador Teotônio Vilela. Como alternativa de transporte conta ainda com a Ferrovia Novoeste e o projeto da Hidrovia Tietê-Paraná.

14 3 principalmente a duas questões: à falta de trabalhos de pesquisa disponíveis sobre a aglomeração calçadista de Birigüi e à importância da indústria local para o setor calçadista nacional. Vários trabalhos de pesquisa foram realizados sobre os pólos produtores de calçados, em especial de Franca (SP) e do Vales dos Sinos (RS). Alguns desses estudos, além de terem analisado a questão das aglomerações industriais e suas vantagens, discutiram também outros aspectos tais, como: as questões referentes à origem das indústrias locais, à reestruturação industrial e tecnológica, à inserção internacional e à globalização, à competitividade, entre outros 4. Entretanto, no que concerne a indústria de calçados de Birigüi, são poucos os trabalhos disponíveis: Zampieri (1976), Vedovotto (1996), Figueiras (2000), Suzigan et alli (2002a e b) e (2003), Rizzo (2004), e (Souza, 2001, 2002 e 2003) 5. Nesse sentido, o presente estudo pretende trazer uma contribuição para a análise da aglomeração calçadista e, dessa forma, ampliar o conhecimento sobre os elementos que configuram esse arranjo produtivo local. Questões importantes para o entendimento do desenvolvimento desse aglomerado ainda permanecem sem respostas, tais como: Qual a estrutura dessa indústria nos anos 70? Quantas empresas deram início a suas atividades nesse período e como estava formada a cadeia produtiva? Qual foi a dinâmica desse aglomerado durante os anos 80 (década perdida)? Quantas empresas existiam, como evoluiu a cadeia produtiva, quantos empregos foram gerados, quanto era produzido, quanto era exportado e qual era a importância do arranjo produtivo para a indústria de calçado nacional? Que tipo de matéria-prima predominava? Como foi o desenvolvimento do aglomerado nos anos 90? Quantas empresas iniciaram atividades nesse período? Qual foi o impacto dos planos econômicos de 1990 e 1994 sobre as empresas? Como estava a cadeia produtiva? Havia cooperação entre as empresas? O trabalho não tem a pretensão de responder a essa gama de questões, mas sim elucidar alguns pontos, vindo a somar à literatura já consolidada sobre a indústria de calçado nacional. 4 Entre os vários trabalhos, pode-se citar os trabalhos de Reis. M (1992), Costa (1978), Reis (1994), Chieza (1997), Tosi (1998), Navarro (1998, 1999), Garcia (1996 e 2001), Galvão (1999), Suzigan et alli (2000a), Vargas e Alievi (2000), Ruppenthal (2001), Barbosa (2004). 5 Zampieri (1976) traz informações sobre a origem da indústria de calçados e seu desenvolvimento até o começo da década de 70, Vedovotto (1996) contextualiza a história da indústria local até a metade da década de 90, Figueiras (2000) traz uma análise das relações entre firmas em 2000, Rizzo (2004) apresenta informações importantes sobre o desenvolvimento da indústria de calçado local, principalmente durante os anos 90. Os estudos de Suzigan et alli (2002a e b) e 2003 apresentam uma metodologia sobre a identificação e delimitação de sistemas produtivos locais e uma discussão sobre formas de governança.

15 4 Convém ressaltar, ainda, a importância da indústria de calçados de Birigüi para o setor calçadista estadual e nacional. Dados de 2001 (RAIS/MTb) apontam que as empresas de calçados locais (203 fábricas) empregavam trabalhadores, número que representava 29,7% dos empregos gerados neste setor no Estado de São Paulo e 5,4% dos empregos da indústria brasileira de calçados. Os dados desagregados, por tipo de calçado e material, calçados de couro, tênis de qualquer material, calçados de plástico e calçados de outros materiais trazem resultados bem mais expressivos. De qualquer forma, a cidade de Birigüi é considerada a terceira maior produtora de calçados do Brasil (atrás apenas de Franca e do Vale dos Sinos) e a segunda do estado de São Paulo, com uma produção anual de mais de 60 milhões de pares (algo em torno de 10% da produção nacional). Outro ponto a ser destacado é que as empresas locais são especializadas na produção de calçados infantis (mais ou menos 90% da produção anual), fato que coloca o município como o maior produtor de calçados infantis do Brasil, recebendo o nome de Capital Nacional dos Calçados Infantis e até de Capital Latino-Americana dos Calçados Infantis. Repousa nesses elementos o motivo do presente estudo ser realizado na aglomeração de empresas calçadistas de Birigüi. A principal dificuldade para a montagem do trabalho foi a falta de dados e informações sobre a indústria de calçados de Birigüi. Dados como a produção diária e anual, as exportações, o número de empregados, de empresas e de fornecedores, a instalação de empresas e de fornecedores, o faturamento, os preços médios dos calçados, não estão disponíveis. Como essas informações eram imprescindíveis para o entendimento do processo de desenvolvimento do aglomerado durante o período abrangido pelo presente trabalho, foi necessário ampliar o número de fontes de pesquisas consultadas, recorrendo, principalmente, às fontes primárias 6. Foram, então, realizadas pesquisas nos jornais locais, o Birigüiense, a Verdade, o Diário de Birigüi, o Noroestino e a Folha da Região, nos quais se procurou todas as notícias referentes à indústria de calçados da cidade publicadas entre 1960 e Para complementar as informações locais foram realizadas pesquisas nos arquivos do Jornal Exclusivo, na cidade de Franca (SP), jornal especializado na cobertura do segmento de couro e calçado brasileiro e que vem acompanhando o desenvolvimento do setor desde a década de Ao contrário do que ocorre em Franca (SP), onde o Sindicato da Indústria do Calçados possui dados sistematizados desde 1980, o Sindicato da Indústria do Calçados e Vestuário de Birigüi (SICVB), que foi fundado em uma possível instituição que poderia ter esses dados arquivados - não os possui. Na visita realizada, observou-se que o Sindicato não possuía nenhuma informação. As únicas informações disponíveis referem-se ao ano de 2000 em diante, quando o Sindicato iniciou um processo de coleta de dados.

16 5 O jornal tem sede na cidade de Novo Hamburgo (RS) e uma filial em Franca. Em seus arquivos procurou-se informações sobre a indústria de calçados de Birigüi no período de 1970 a As informações encontradas nos jornais foram muito importantes para o trabalho, pois algumas reportagens eram ricas em dados quantitativos e qualitativos. Para as décadas de 60, 70, 80 os destaques foram encontrados nos jornais, o Birigüiense, a Verdade, o Noroestino e o Diário de Birigüi. Já para a década de 80, destacouse o Jornal Exclusivo, que, por várias vezes, publicou edições especiais sobre a indústria de calçados de Birigüi. Essas edições traziam uma breve análise do estágio em que se encontrava a indústria de calçado local e apresentavam dados sobre a produção, as exportações, o número de empregados, de empresas (algumas vezes com a relação nominal de todas as empresas), de fornecedores (inclusive em alguns casos com a relação nominal dos fornecedores). Entrevistas com empresários, presidentes de sindicados, fornecedores entre outros, também foram publicadas. Para a contextualização dos anos 90, os dados da Folha da Região foram de grande valia. Além das notícias extraídas dos jornais, outros tipos de fontes foram utilizadas: dados das estatísticas industriais do Estado de São Paulo, produzidos pela Secretaria da Agricultura, Indústria e Comércio, disponíveis de 1928 a 1937; e os dados coletados no Livro de Registro de Inscrição Industrial, Comercial e Prestação de Serviços da Prefeitura Municipal de Birigüi, que permitiram acompanhar o processo de instalação de empresas de calçados e de empresas fornecedoras ao longo das décadas. Com esse procedimento, foi possível caracterizar períodos de desenvolvimento do aglomerado, facilitando a respectiva análise. Outra fonte utilizada foi a Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho (RAIS /MTb), que informou o número de empregados e de empresas entre o ano de 1986 e O último procedimento foi a realização de entrevistas com empresários, fornecedores e instituições locais. O trabalho está dividido em três capítulos. No primeiro capítulo, são investigados os fatores determinantes da origem da indústria de calçados em Birigüi e o momento em que ocorreu a formação da aglomeração industrial na cidade. Procurou-se analisar se o arranjo produtivo gerou vantagens competitivas, decorrentes do surgimento de economias externas e da formação de uma eficiência coletiva. O critério adotado para caracterizar a existência de uma aglomeração industrial foi a presença de um núcleo de empresas de calçados, de 7 O referido jornal não tinha arquivos das edições dos anos 90.

17 6 fornecedores e de uma mão-de-obra especializada. Como desdobramento do capítulo, investigou-se a dinâmica de instalação de empresas de calçados e empresas fornecedoras entre 1960 e 1979 e conseqüentemente o aumento da participação da aglomeração local na indústria de calçado nacional. No segundo capítulo, discute-se o desenvolvimento do aglomerado durante os anos 80 (década perdida), visto pelo processo de instalação de empresas de calçados e empresas fornecedoras na cidade. Nesse período, consolida-se a aglomeração de Birigüi em decorrência do elevado número de empresas de calçados e de fornecedoras instaladas na década e do aumento da participação da aglomeração na indústria estadual e nacional de calçados, principalmente no segmento infantil. Uma característica importante desse período foi a mudança da principal matéria-prima utilizada na produção de calçados infantis, do couro para os materiais alternativos (borracha, plástico, tecido, sintético). Discute-se, também, se o aglomerado desenvolveu algum tipo de cooperação local que caracterizaria a formação de uma eficiência coletiva. Por último, no terceiro capítulo, investiga-se o impacto das políticas econômica da década de 90 sobre as empresas de calçados do município. A abertura econômica, comercial e financeira iniciada no governo Fernando Collor, e ampliada no governo Fernando Henrique Cardoso, provocou um aumento das importações de calçados desencadeando uma crise nas empresas. Em decorrência das dificuldades do período, as empresas birigüienses juntamente com o Sindicado da Indústria do Calçados e Vestuário de Birigüi iniciaram esforços conjuntos de cooperação como uma estratégia coletiva de sobrevivência frente aos desafios do período. No final do terceiro capítulo, realizou-se uma análise da estrutura produtiva atual da aglomeração, tendo o período entre 2001 e 2004 como foco, com o objetivo de observar se o aglomerado desenvolveu uma eficiência coletiva.

18 7 CAPÍTULO 1 A FORMAÇÃO DA AGLOMERAÇÃO CALÇADISTA DE BIRIGÜI ( ) 1.1 A evolução das atividades econômicas do município de Birigüi e a origem da indústria de calçados A ocupação do território onde posteriormente foi fundada a cidade de Birigüi, assim como o da região de Araçatuba, esteve relacionada ao processo de expansão da chamada marcha pioneira 8. Segundo Monbeig (1984) a marcha pioneira constituiu-se num movimento de ocupação do oeste do estado de São Paulo em fins do século XIX e começo do século XX. Articulado à expansão da marcha pioneira, ocorreu o desenvolvimento da rede ferroviária. No caso de Birigüi, a fundação da cidade e a ocupação do território ligaram-se ao caminho trilhado pela NOB - Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, que partiu de Bauru em 1904 e chegou à Birigüi em 1908: Entre os quilômetros 259 e 261 da Estrada-de-Ferro Noroeste, criouse uma chave na clareira já denominada Birigüi, a qual, a partir de dezembro de 1908, passou a ser ponto de parada de locomotivas. Do nome daquela chave da Noroeste, situada entre Araçatuba e Penápolis, passou a denominação da cidade que foi fundada pelo Sr Nicolau da Silva Nunes, aos 7 de dezembro de 1911, quando aqui pisou, pela primeira vez, à tarde, cerca das 16 horas e 30 minutos. (Ramos e Martins, 1961, p. 33). O fundador Nicolau da Silva Nunes adquiriu uma gleba de 400 alqueires, sendo que 200 alqueires seriam para dois amigos de Orlândia, segundo Ramos e Martins (1961). No início da ocupação de Birigüi, a formação da companhia de colonização, a São Paulo Land and Lumber Company, fundada em 17 de outubro de 1912 e com sede em Birigüi, assumiu um papel importante. Essa companhia possuía 60 mil alqueires de matas virgens situadas entre o rio Tietê e o rio Feio e tinha como objetivo povoar, valorizar as terras do município e facilitar a aquisição das terras por meio de pequenas prestações (Ramos e Martins, 1961). De acordo com Monbeig (1984), a companhia São Paulo Land and Lumber Company realizou uma grande propaganda do empreendimento entre trabalhadores e proprietários das lavouras de Ribeirão Preto, resultando na imigração em massa para Birigüi. Em cinco anos mais de três mil famílias se instalaram na cidade (Monbeig, 1984). Segundo 8 Birigüi derivou do nome de um mosquito que havia em grande quantidade naquela região. Primeiramente o nome foi dado à chave da estrada de ferro e depois, à cidade (Ramos e Martins, 1961).

19 8 Ramos e Martins (1961), em 1922 a companhia de colonização já havia dividido alqueires em lotes que foram vendidos a sitiantes nacionais, portugueses, italianos, espanhóis e japoneses. A empresa manteve suas atividades até o final da década de 20 quando cessaram as vendas de terras (Zampieri, 1976). Em 1921, foi promulgada a lei nº 1.811, que criou o município de Birigüi desmembrando-o do município de Penápolis (vide figura 1.1). A figura 1.1. Mapa das cidades da região Noroeste em Fonte: Epil (Editora Pesquisa e Indústria Ltda). Desde a fundação da cidade, nas duas primeiras décadas, a atividade predominante no município era a cafeeira (vide tabela 1.1). A produção de café continuou na década de 20 e atingiu seu auge na segunda metade da década, época em que (...) o município de Birigüi contava com 584 cafeicultores e havia em franca produção em e em cafeeiros. Durante o ano (1927), Birigüi embarcou pela Estação da Noroeste sacas de café (Ramos e Martins, 1961, p.70).

20 9 Tabela Produção de café no município de Birigüi em 1917 Produtor Nº de Pés de Café. Nicolau da Silva Nunes Luís Stabile José Parpinelli Antônio Gonçalves Tôrres João Schiavinato Antônio Galo Pedro Gardenal Afonso Garcia Franco Francisco Romero João Banha Antônio Lopes Corrêa Américo Carvalho Antônio Moimeso Total Fonte: Prefeitura Municipal de Penápolis, rol de impostos sobre cafeeiros em Extraído de Ramos e Martins (1961, p. 69). No final da década de 20, algumas atividades industriais foram instaladas na cidade de Birigüi. Segundo os dados das estatísticas industriais do estado de São Paulo, em 1929, o município contava com cinco empresas que empregavam 28 funcionários 9. Dessas, duas fábricas produziam bebidas, sendo que uma estava no nome de Achiles Turci e produzia cervejas de alta fermentação, licores, gasosas e outras bebidas, empregando quatro trabalhadores. A outra fábrica de bebidas era a fábrica Brasil, registrada em nome de José Ignácio Arruda Penteado, que produzia gasosas e empregava três trabalhadores. A cidade contava ainda com mais três empresas: a empresa Marco Botteon, que consertava máquinas para a lavoura e empregava quatro trabalhadores; a dos irmãos Valarini, que fabricava e consertava carroças, semi trolys, carrocerias para caminhão e tinha 15 empregados; e uma carpintaria, em nome de Vicente Ciancio com dois trabalhadores. Com o início da Grande Depressão, em 1929, a produção de café entrou em crise no município e, a partir desse período, a cidade mudou sua atividade agrícola para a produção de algodão. Esse deslocamento da produção de café para a de algodão não foi um processo exclusivo da cidade de Birigüi, pois atingiu todo o estado de São Paulo. Negri (1996) mostra que a área cultivada de café em São Paulo declinou de 2,2 milhões de hectares, em 1931, para 9 Nas estatísticas industriais do Estado de São Paulo, referente ao ano de 1928, não consta nenhuma empresa na cidade de Birigüi.

21 10 1,8 milhão, em 1936/39, e para 1 milhão, em 1949/51. Já o plantio de algodão aumentou, pois a safra paulista de algodão que, em 1931 foi de toneladas, em atingiu toneladas (Monbeig, 1984). Segundo Negri: O algodão paulista, a partir da década de 1930, teria três importantes fatores a seu favor: a política de sustentação dos preços do algodão pelo governo americano, por mais de uma década; a ampliação substancial das brechas no mercado internacional para o produto brasileiro, com a importação adicional por parte dos alemães, japoneses e italianos; o espetacular crescimento da indústria têxtil nacional e das indústrias de óleo vegetais, que, juntamente com a têxtil, formavam um conjunto de interesses que se pode denominar de agroindústria algodoeira (Negri, 1996, p.73) A percepção do grande crescimento do setor algodoeiro no Estado de São Paulo é reforçada por dois dados: um, diz respeito à área cultivada que era de 107,1 mil hectares em 1931/33 e que passou para 805,4 mil em 1936/39. O outro mede a participação do algodão no valor da produção agrícola em São Paulo e mostra que o algodão respondia por apenas 1,7% do valor da produção agrícola paulista, em 1931/33, saltando para 7,8%, em 1936/38, e para 20,1%, em 1949/51 (Negri, 1996). O plantio de algodão em Birigüi foi confirmado por Monbeig (1984) por meio do levantamento de dados sobre a compra de sementes de algodão no Estado de São Paulo. Esse levantamento mostrou que Birigüi estava entre os principais municípios compradores de sementes do noroeste do estado. Outro indicativo do plantio de algodão na cidade foi a presença dos imigrantes japoneses, que estavam fortemente agrupados em determinados municípios, como: Lins e Birigüi na Noroeste, e que, segundo Monbeig (1984), asseguraram o sucesso das plantações de algodão no estado. Do ponto de vista da evolução industrial, a cidade continuou em processo de crescimento durante a década de 30 e, em 1933, as estatísticas industriais do estado de São Paulo apontaram para existência de seis empresas na cidade, empregando 42 trabalhadores, o que corresponde a um aumento de 33,4% no número de empregados em relação ao ano de No ano de 1937, ocorreu uma expansão e uma diversificação das atividades industriais (vide tabela 1.2).

22 11 Tabela 1.2 Empresas, número de funcionários e atividades industriais em Birigüi em 1937 Nome da Empresa Capital Número Atividades de operários Fidelcino Pinheiro 40:000$000 7 Madeireira Irmãos Penteriche 150:000$ Madeireira José Teodosio Júnior 120:000$ Madeireira Irmãos Zamboti 12:000$000 4 Esquadrilhas e móveis em geral Décimo Mazzocato & Itavo 80:000$ Consertos de auto-caminhões Irmãos Valarini 80:000$000 8 Conserto de auto-caminhões, automóveis e acumuladores Marco Botteon 17:500$000 3 Reparação em geral (carroças, aranhas e trolys) Waldemar de Arruda Camargo 25:000$000 8 Conserto e reparação de pinturas de autocaminhões Guido Candier 10:000$000 2 Construção de carrocerias para caminhão, carroças e carrinhos. Negrucci & Cetolin 10:000$000 6 Fabricação de portas, janelas, banheiras, caixilhos e venezianas. Pedro Sanches 10:000$000 2 Conserto em geral Francisco Jordão 66:000$ Olaria (telhas, tijolos e ladrilhos) José Rocha Domingues 10:000$000 4 Olaria (telhas, tijolos e ladrilhos) José Xavier Soares 10:000$000 4 Olaria (telha) Aldo Cinquini 150:000$ Fábrica de macarrão comum, especial, sêmola e dietético. Campos & Cia 10:000$000 5 Produtos (vinagre, guaranás, xarope, licores e vinhos) Renato Turci 15:000$000 3 Produtos (gasosas, guaranás, cerveja e licores) Total 815:000$ Fonte: Elaboração própria, com base na Estatística Industrial do Estado de São Paulo. Em 1937, a cidade contava com 17 empresas que empregavam 149 trabalhadores e entre as atividades principais destacavam-se as madeireiras, as oficinas de conserto de caminhões e carroças, as olarias e os fabricantes de licores, vinagres, guaranás e cervejas. Na década de 40, em decorrência da produção de algodão existente em Birigüi, surgiram várias empresas processadoras desse produto. A consolidação desse processo ocorreu com a instalação de um complexo industrial pela Anderson Clayton, em 1946, voltado para a extração de óleo bruto, a prensagem de resíduos, a obtenção da torta e do farelo, ao beneficiamento do algodão e à obtenção do linter (Zampieri, 1976). Além da Anderson

23 12 Clayton, a cidade já possuía, desde 1944, duas usinas de beneficiamento de algodão, a J.J Abdala, com três descaroçadoras de algodão e a Brascott com quatro descaroçadoras 10. Nos anos 40 surgiram as primeiras atividades relacionadas à produção de calçados as chamadas selarias e sapatarias que fabricavam botinas, botas e sapatos. Segundo Vedovotto (1996), em 1941, instalou-se em Birigüi a Selaria e Sapataria Noroeste, fabricante de botinas, botas e sapatos, que eram vendidos diretamente ao consumidor, e produzia também chinelos e sandálias vendidos no atacado. Essa sapataria, a partir de 1945, adquiriu alguns equipamentos entre os quais: lixadeira, chanfradeira, balancim, rachadeira de couros e máquinas de pespontar solados que possibilitaram um aumento da produção para setenta pares de sapatos e botinas e oitenta pares de chinelos por dia (Vedovotto 1996). Já em 1947, instalou-se a fábrica de calçado Birigüiense de propriedade de Avac Bedouian, que produzia em torno de 40 pares de sapatos masculinos e de botinas por dia, trabalhando com quatro a cinco modelos nas cores tradicionais (preto, marrom e café). 1.2 A origem da indústria de calçados de Birigüi e o início da especialização na produção de calçados infantis ( ) A indústria de calçados de Birigüi teve origem no final da década de 50, mais especificamente no ano de 1958, época da instalação da primeira empresa produtora de calçados infantis na cidade: a Ramos & Assumpção, de propriedade dos irmãos Assumpção. Os pioneiros na produção de calçados infantis, Antônio Ramos e Francisco Assumpção, tinham trabalhado com italianos por algum tempo na cidade de São Paulo na produção de calçados infantis e, por esse motivo possuíam informações detalhadas sobre o tipo de calçados produzidos em Franca (SP), em Jaú (SP) e no Estado do Rio Grande do Sul. A cidade de Franca já era conhecida por sua especialização na produção de calçados masculinos de couro, a de Jaú, pela especialização em sandálias femininas e o Rio Grande do Sul (Vale dos Sinos) um importante produtor de calçados femininos. Conforme Zampieri (1976), os irmãos Assumpção verificaram, também, que a modelagem infanto-juvenil tinha poucos concorrentes e que este tipo de calçados necessitava de pouca matéria-prima e equipamentos em relação ao calçado adulto, sendo sua fabricação feita de modo artesanal. Em 10 Segundo Zampieri (1976), a empresa J.J Abdala, em 1968, passou a denominar-se Carioba S/A e a Brascott, em 1952, foi incorporada ao grupo internacional Esteves S/ A.

24 13 decorrência disso, não era necessário ter muito capital, podendo iniciar a fabricação com poucos recursos. Sua empresa começou com uma produção de 20 pares diários cuja modelagem variava do número 18 ao 28 (masculino e feminino). Importante é salientar que a primeira fábrica de calçados do município direcionou sua produção aos calçados infantis, que, ao contrário de outros tipos de calçados, não possuía qualquer região do Brasil especializada nessa produção. A descoberta desse nicho de mercado permitiu que as empresas instaladas subseqüentemente orientassem suas produções para os calçados infantis, desenvolvendo uma especialização local posteriormente. Em 1959, por necessidade de aporte de capital, a empresa Ramos & Assumpção agregou mais dois sócios, Fiorotto, pai e filho, e passou a denominar-se Fiorotto & Assumpção. Após a instalação da empresa Ramos & Assumpção, seguiu-se a instalação de outros empreendimentos na indústria de calçados no começo da década de 60. O Censo Industrial de 1960, no qual consta a existência de quatro firmas em Birigüi, desagrega as atividades industriais em 20 gêneros, entre eles o do vestuário, calçados e artefatos de tecido. Esses estabelecimentos eram as empresas dos irmãos Assumpção (que, conforme explicação acima, transforma-se na Fiorotto & Assumpção em 1959), a Selaria e Sapataria Noroeste, a fábrica de calçados Birigüiense e, segundo Zampieri (1976), uma confecção de roupas masculinas. Zampieri (1976) ainda mostra que, durante este período, quatro fábricas foram instaladas em Birigüi: uma em 1960, duas em 1962 e uma no ano de Em Os dados apresentados a seguir, sobre a abertura e o fechamento de empresas de calçados e de fornecedoras, foram coletados no Livro de Registro de Inscrição Industrial, Comercial e Prestação de Serviços da Prefeitura Municipal de Birigüi de 1967 (primeiro ano disponível) até Em decorrência de alguma alteração societária ou de endereço, algumas empresas que deram início às suas atividades antes de 1967, também possuem registro nos arquivos da prefeitura. Os dados da prefeitura apresentam alguns problemas metodológicos. O primeiro é que a empresa pode iniciar atividades fabris em um ano, e só ser registrada na prefeitura no ano seguinte. Desse modo, o ano de instalação da empresa arquivado na Prefeitura pode não ser o correto. O mesmo vale para as empresas da cadeia produtiva. Outro problema está relacionado ao ano de fechamento das empresas que pode não corresponder ao ano de encerramento das atividades. Para minimizar esses problemas, foram utilizados alguns procedimentos. O primeiro foi comparar os dados da prefeitura com as informações coletadas por Zampieri (1976) que realizou pesquisa na cidade em 1971/72. O segundo procedimento foi utilizar informações de jornais locais entre os quais: O Birigüiense, O Noroestino, O Diário de Birigüi, e o jornal A Verdade, que foram coletados em pesquisa realizada nos arquivos da Biblioteca Municipal de Birigüi. Esses jornais traziam sempre comentários sobre a instalação de empresas de calçados e fornecedoras na cidade. Além de que, algumas vezes, quando uma empresa fazia aniversário, esses jornais montavam uma retrospectiva dessas empresas, na qual contavam o ano de instalação, o número de empregados, o número de máquinas e equipamentos e a produção diária delas em seus primórdios. Um terceiro procedimento foi a realização de entrevistas com os ex-proprietários de empresas de calçados e empresas fornecedoras. Dessa forma, através do cruzamento de informações da

25 14 instalou-se a empresa de calçados Ipiranga, composta por dois sócios: Jovino Pacheli e Gilberto Caparica. Essa empresa produzia calçados femininos para adultos e tinha 18 funcionários, permanecendo alguns anos em atividade (Zampieri, 1976). Jovino Pacheli relatou que tinha uma sapataria e trabalhava sob encomendas quando foi convidado para formar uma empresa, mas por não possuir recursos na época, o sócio entrou com o capital e ele com a experiência 12. A escolha do calçado feminino teve relação com sua sapataria, que consertava e produzia sapatos de mulheres. No ano de 1962, foram instaladas duas empresas a Sandra e a Rassum formadas em ocasiões particulares, pois a origem de ambas esteve relacionada ao desdobramento das empresas anteriores, cuja sociedade foi desfeita, formandose uma nova empresa. No caso da empresa de calçados Sandra, sua constituição deu-se através da união de dois sócios remanescentes da calçados Ipiranga, Jovino Pacheli e Alceu Tossato. A linha de produção da empresa teve como foco o calçado feminino, mantendo os mesmos tipos de calçados da empresa anterior, a calçados Ipiranga. Segundo Jovino Pacheli: Alceu Tossato me convidou para abrir uma fábrica, que naquele tempo estava começando, só tinha uma na cidade. Tinha outras também, mas com ritmo de fábrica só tinha uma. Eu falei que dinheiro para montar não tinha, então ele entrou com o dinheiro. Ai nós começamos. (Jovino Pacheli, em entrevista realizada no dia 26/07/2003). A Rassum (Rahal & Assumpção) foi outro caso de empresa formada através de um quebra de sociedade, constituída por Antônio Ramos Assumpção, sócio remanescente da Fiorotto & Assumpção, e um comerciante local, Raif M. Rahal. Essa empresa focalizou sua produção de calçados na linha infanto-juvenil masculina com uma produção inicial de 70 pares/dia. Em 1963, instalou-se a fábrica de calçados Rinde, formada pela união de cinco sócios, compondo uma sociedade familiar, tendo entre os sócios somente um com experiência no ramo. O produto escolhido foi a linha infanto-juvenil masculina. No ano de 1963, as empresas de calçados da cidade produziram 211 mil pares de calçados, empregando 117 trabalhadores, tendo uma produção diária de 764 pares (vide tabela 1.3) 13. A maior produção prefeitura, do trabalho de Zampieri (1976), dos jornais locais, e das entrevistas, procurou-se reduzir os problemas apresentados pelas fontes. 12 A entrevista com Jovino Pacheli foi realizada no dia 26/07/ Para o calculo da produção diária levou-se em conta 23 dias úteis.

26 15 era a da Popi, que produziu 90 mil pares e empregava 50 trabalhadores; a segunda, era a Rassum com 80 mil pares empregando 40 trabalhadores. As duas empresas líderes (Popi e Rassum) foram responsáveis por 81% da produção e 77% da mão-de-obra empregada no ano de Tabela Evolução da produção anual e do número de empregados das fábricas de calçados de Birigüi entre 1962 e 1965 Empresa Produção Empregados Produção Empregados Produção Empregados Produção Empregados Popi Rassum Sandra Rinde Total Fonte: Elaboração própria, com base nos dados extraídos de Zampieri (1976). Em 1965, a Rassum passou a ser a maior produtora de calçados de Birigüi com uma produção de 135 mil pares, empregando 75 trabalhadores. Na estrutura da indústria, não houve grandes alterações, pois as duas empresas líderes continuaram respondendo por 80% da produção e 68,7% do emprego. Nota-se já uma especialização da indústria de calçados de Birigüi na produção de calçados infantis, pois com exceção da empresa de calçados Sandra, que produzia calçado feminino adulto, as outras eram especializadas em calçados infantis, cuja produção, no ano de 1965, foi de 276 mil pares ou 87% do montante produzido naquele ano. Até a metade da década de 60, a cidade de Birigüi contou com quatro empresas de calçados que, através de uma trajetória de sucesso, desenvolveram as condições para que a cidade desse um salto quantitativo e qualitativo no período seguinte, transformando-se, no começo da década de 70, em um grande pólo produtor de calçados. Conforme afirma David (1999) apud Suzigan (2000), muitos processos dinâmicos na economia são dependentes da trajetória, no sentido de que sua evolução não pode livrar-se da influência de sua história. Assim, a trajetória de sucesso das primeiras empresas de calçados teve um papel importante para o desenvolvimento dessa atividade em uma etapa posterior.

27 Aglomerações industriais, economias externas e eficiência coletiva Conforme foi apresentado na introdução do presente trabalho, uma aglomeração industrial pode ser definida como uma concentração geográfica de empresas de um mesmo setor industrial, que desenvolve localmente sua cadeia produtiva e um conjunto de empresas prestadoras de serviços. As empresas localizadas nessas aglomerações auferem vantagens competitivas decorrentes do surgimento de economias externas e da formação de uma eficiência coletiva. Em seu clássico estudo sobre os distritos industriais ingleses, Marshall (1984) apresentou as economias externas, oriundas de concentrações de empresas. As empresas concentradas favorecem o desenvolvimento de três elementos: um mercado de trabalho especializado, um mercado de fornecedores especializados e o transbordamento do conhecimento. A primeira característica diz respeito ao desenvolvimento de um mercado de trabalho especializado, com a formação de uma mão-de-obra treinada e qualificada à disposição das empresas, que não precisam destinar recursos próprios para o treinamento desse pessoal. Segundo Marshall (1984), as concentrações de empresas oferecem vantagens por fornecer um mercado constante de mão-de-obra especializada. A segunda característica corresponde à instalação de fornecedores especializados de insumos, componentes, máquinas e equipamentos para os produtores locais. Esses arranjos produtivos conseguem atrair fornecedores, o que permite o desenvolvimento da cadeia produtiva nas proximidades das empresas. Esses fornecedores foram chamados por Porter (1990) de indústrias correlatas e de apoio. O terceiro elemento compreende o transbordamento do conhecimento, ou spillovers. A mobilidade da mão-de-obra especializada transfere o conhecimento acumulado ao longo do tempo de uma empresa para outra. Nas palavras de Marshall (1984), a especialização possibilita que Os segredos da profissão deixam de ser segredos e, por assim dizer, ficam soltos no ar, de modo que as crianças absorvem inconscientemente grandes números deles. Aprecia-se devidamente um trabalho bem feito, discutem-se imediatamente os méritos de invento e melhoria na maquinaria, nos métodos e na organização geral da empresa. Se uma lança uma idéia nova, ela é imediatamente adotada pelo pelos outros, que a combinam com sugestões próprias, assim, essa idéia se torna uma fonte de outras idéias novas. (Marshall, 1984, p. 234).

28 17 O conjunto desses três elementos, apontados por Marshall, geram economias externas que diferenciam as unidades fabris aglomeradas, dando maior competitividade em relação às outras empresas do mesmo setor que estão isoladas. Essas economias externas desenvolvemse, espontaneamente, são involuntárias/incidentais e ocorrem pelo simples fato das empresas estarem agrupadas. No entanto, por estarem concentradas em uma mesma localidade, essas firmas tendem a desenvolver formas de ações conjuntas, que ampliam seus ganhos de eficiência e auxiliam no aumento de sua competitividade. A concentração de produtores cria um ambiente propício para a instauração da cooperação entre as empresas, fornecedores e instituições locais, proporcionando maiores ganhos de competitividade, pois problemas individuais podem ser solucionados de forma coletiva. Por isso, a presença de economias externas juntamente com formas de cooperação caracteriza a existência de uma eficiência coletiva, conforme aponta (Schmitz, 1997). Ressalta-se que, além das questões referentes ao aumento do desempenho competitivo de empresas aglomeradas, as economias externas também têm outro papel importante, pois facilitam o surgimento de novas empresas, novos fornecedores e novos prestadores de serviços ao reduzirem as barreiras à entrada e à saída. Esse processo encaminha as empresas embrionárias a formarem uma aglomeração industrial especializada na produção de um determinado artigo. Posteriormente, essa aglomeração cresce e aumenta sua participação na indústria em que é especializada, concentrando a produção, o emprego e o número de empresas do país. As economias externas direcionam os investimentos de um detentor de capital residente em uma aglomeração industrial, cujos recursos são canalizados para uma atividade especializada e/ou complementar da aglomeração. As atividades complementares correspondem às empresas fornecedoras de insumos, componentes, máquinas, equipamentos ou prestadoras de serviços, ou seja, as empresas da cadeia produtiva. O empresário localizado em uma aglomeração industrial tem acesso a maior disponibilidade de mão-de-obra especializada ao invés daquele que monta sua empresa em outro lugar. Além disso, a aglomeração propicia o desenvolvimento de empresas da cadeia produtiva, facilitando o contato do empresário com os fornecedores, o que torna desnecessário gastar recursos para obter e processar informações sobre preços dos insumos, de componentes, de máquinas, de

29 18 equipamentos e tipos de matérias-primas. As economias externas (mão-de-obra especializada, fornecedores especializados e atmosfera industrial) induzem os detentores do capital a alocarem seus recursos em atividades em que a aglomeração é especializada ou em empresas da cadeia produtiva. Essa disposição é reforçada pelo efeito demonstração, causado pelo sucesso das empresas da cidade (principais e subsidiárias) que expandem anualmente a produção e o número de empregados, pois são informações que acabam sendo difundidas para os moradores da região. Os depoimentos dados por três empresários sobre os motivos que os levaram a montar uma empresa fornecedora e duas empresas de calçados reforçam a argumentação acima. Os depoimentos foram do ex-proprietário da Petrilli & Oliveira, Valdemar Petrilli, fabricante de solas e solados para calçados, fundada em 1968, de Florival Cervelatti, exproprietário da calçados Cervelatti, fundada em 1967 e de Valentim Alonso, proprietário da empresas de calçados Anita, fundada em Birigüi iniciou a era do calçados e nós verificamos que naquele tempo existia um sapatinho que se dizia que era anatômico. Um saltinho meio diferente, então esse saltinho era muito usado pelas primeiras empresas que montaram aqui, ou foi a Popi ou a Rassum. Essas empresas compravam muito desse saltinho para fazer sapatinho. Foi então que nós tivemos a idéia de montar em Birigüi uma fábrica para produzir esse saltinho para a indústria calçadista daqui. Esse foi o início. Mas nós não sabíamos que ia diversificar tanto a fabricação de solado, isso mudou de mais. Houve um crescimento muito grande. E nós fazíamos de borracha, comprávamos borracha sintética na Petrobrás e depois havia o manufaturamento dela na própria fábrica com a composição de mais alguns elementos químicos. Depois colocava na prensa para cozinhar (Valdemar Petrilli, em entrevista realizada no dia 22/07/2003). Nós participávamos aqui em Birigüi de uma cooperativa de crédito. Esta cooperativa de crédito chegou a ter quatorze agências distribuídas na região. Em um dado momento, essa cooperativa foi transformada em um banco e eu pertencendo a um grupo de companheiros, achamos, na época, por bem, sairmos, deixarmos aquele estabelecimento. Porque era uma filosofia diferente daquela que havia sido preconizada desde o início dessa cooperativa. Nós montamos uma financeira aqui em Birigüi, mas essa financeira não conseguiu operar em virtude da nova política econômica adotada pelo governo na época, que dava prioridade a grandes conglomerados financeiros. Essas financeiras de porte pequeno não conseguiram alcançar o capital exigido na época pelo Banco Central. Que era um capital muito grande e incompatível ao mesmo tempo com uma financeira de pequeno porte, o que nos levou a deixar essa atividade. Foi quando eu comecei a pensar, juntamente com um primo meu e motivado por alguns

30 19 companheiros a montar uma empresa de calçados. (Florival Cervelatti, em entrevista realizada no dia 04/08/2003). Entramos no ramo calçadista por já pertencermos a tal ramo e isso foi fácil para nós investirmos no calçados e também que para Birigüi, na época em que começamos (1976) o calçado era a única opção e a certeza de sermos bem sucedidos e por outro lado, tivemos o receio de investirmos em outro campo devido à falta de mão-de-obra especializada e isso não se dá no setor de calçados (Valentin Alonso, em entrevista concedida ao jornal Diário de Birigüi dia 12/07/1989, os colchetes são meus). Esses depoimentos refletem a maior facilidade que o detentor de capital, residente em uma aglomeração, tem em identificar as oportunidades de investimentos. Esse empresário busca alocar seus recursos na atividade principal ou em atividades correlatas (fornecedoras de insumos, de componentes, de máquinas e equipamentos). De acordo com Porter (1999), os indivíduos que trabalham dentro ou nas proximidades dos aglomerados têm mais capacidade para perceber as lacunas a serem preenchidas em produtos, em serviços ou em fornecedores e, com base nesses insights, deixam as empresas estabelecidas para iniciar seus próprios negócios e preencher esses espaços. Segundo Rizzo (2004), em Birigüi se observa que as empresas nasceram pequenas e, aos poucos, foram crescendo, sendo inúmeros os casos de funcionários que pediram demissão ou foram demitidos das fábricas em que trabalhavam e se reuniram com amigos para montar sua própria empresa. O perfil dos empresários das empresas correlatas é muito parecido com o perfil dos empresários do setor calçadista. As empresas correlatas, normalmente nascem pequenas e vão aos poucos crescendo e se consolidando dentro do mercado. A grande maioria delas nasceu da percepção de determinada carência de algum produto ou serviço no mercado de Birigüi. Grande parte de seus proprietários, antes de serem empresários, estavam trabalhando diretamente com o setor calçadista e isso lhes deu uma visão privilegiada do mercado, facilitando a percepção da existência de um nicho de mercado. Após perceber que o mercado necessitava de algum produto ou serviço, montaram uma empresa para ocupar essa lacuna (Rizzo, 2004, p. 69). Portanto, a partir do momento que se tem uma aglomeração industrial formada, as facilidades para o surgimento de novas empresas se potencializam. Essas vantagens são oriundas das próprias economias externas, que permitem que as concentrações de empresas apresentem reduzidas barreiras de entrada e de saída, facilitando a instalação de novas empresas. Nesse sentido, Porter (1999) diz:

31 20 As oportunidades percebidas nos aglomerados são perseguidas na própria localidade, pois as barreiras de entrada são mais baixas do que em outros lugares. As necessidades de ativos, habilidades, insumos e pessoal, em geral de pronta disponibilidade no aglomerado, são reunidas com facilidade para a constituição de novas empresas (Porter, 1998, p. 238). As facilidades para o surgimento de novas empresas, no caso da indústria de calçados, atividade do setor tradicional da economia, são bem mais expressivas, em decorrência das reduzidas barreiras de entrada e de saída que este setor apresenta. Isso ocorre porque a produção de calçados exige pouca imobilização de capital, uma planta industrial de pequena envergadura, um espaço físico de dimensões reduzidas e uma escala de produção pequena. A tecnologia é simples e de caráter artesanal, necessitando de poucas máquinas e equipamentos. A produção pode ser iniciada de modo artesanal e individualmente. Tudo isso contribui para o surgimento de uma indústria de calçados e para a formação da aglomeração industrial. Exemplos das facilidades encontradas para a formação de uma empresa de calçados e suas dimensões reduzidas podem ser observadas em vários casos de firmas instaladas em Birigüi entre 1960 e 1970, entre as quais destacam-se: a Sandra (1962), a Rassum (1962), a Rinde (1963), a Raquete (1966), e a Joval (1969) e a Ypo (1971). A empresa de calçados Rassum iniciou suas atividades com pouco mais de 10 empregados e uma produção de 70 pares/dia; a Sandra começou com 6 funcionários e uma produção de menos de 50 pares/dia e a Rinde teve um início semelhante ao da Sandra. A Joval começou com uma produção de 60 pares por dia, num prédio alugado, com pouco mais de 180 metros quadrados e a Raquete começou com 20 empregados e uma produção de 30 pares/dia 14. A Ypo começou num prédio de 50 metros quadrados, empregando 6 operários e com uma produção diária de 20 pares, sendo que os proprietários, os irmãos Antônio e Ademir Pulzato, tinham trabalhado por vários anos na empresa de calçados Sandra e conheciam todas as seções de produção dela (Zampieri, 1976). 14 Os dados sobre o início da produção das empresas Raquete e Joval foram extraídos do jornal O Noroestino dia 19/04/1977 e dia 29/04/1977.

32 21 Importante é destacar que aparentemente o processo de formação de aglomerações industriais ocorre com mais freqüência em setores tradicionais da economia, como: o moveleiro, o calçadista e o têxtil 15. No caso da indústria de calçados de Birigüi, as economias externas começaram a se desenvolver a partir da segunda metade da década de 60, ampliando-se na década de 70. Nesse período, novas empresas iniciaram suas atividades, uma mão-de-obra especializada começou a ser formada e instalaram-se várias empresas fornecedoras. A instalação de novas fábricas de calçados e de fornecedores mostra que o conhecimento estava sendo difundido na cidade, criando condições para o desenvolvimento industrial. 1.4 O desenvolvimento da indústria de calçados, o surgimento de empresas fornecedoras e a formação da aglomeração industrial ( ) Na segunda metade da década de 60 e durante toda a década de 70, percebe-se uma intensificação do processo de instalação de empresas de calçados em Birigüi (vide tabela 1.4). O destaque ocorreu na década de 70, com a instalação de 35 fábricas. O elevado número de empresas de calçados atraiu fornecedores de insumos, de componentes e de máquinas, surgindo 12 firmas fornecedoras entre 1966 e Tabela 1.4 Empresas de calçados e empresas fornecedoras instaladas em Birigüi entre Ano Produtores de calçados Empresas fornecedoras Fonte: Elaboração própria, com base nos dados do livro de registro de inscrição industrial, comercial e prestação de serviços da Prefeitura Municipal de Birigüi. 15 Vários casos de aglomerações de empresas desses setores podem ser encontrados no Brasil. Destacam-se a região do Vale do Itajaí (SC), grande produtora nacional de artigos de camas, mesa, banho e malharia, responsável por 10% da produção nacional de artigos têxteis, a região de Americana (SP), grande produtora de tecidos planos e sintético, responsável por 6% da produção nacional, que contava com 166 empresas em 1996 (Garcia, 1996). Outras concentrações de empresas que podem ser arroladas são a região de Votuporanga (SP), que, segundo Suzigan et alli (2000), é a segunda maior concentração de produtores de móveis do Brasil, depois de Bento Gonçalves (RS). A referida região contava, em 2000, com 350 fabricantes, sendo que 170 estavam localizados na cidade de Votuporanga. 16 Os dados coletados na Prefeitura mostram que durante a década de 70 ocorreu a instalação de inúmeras transportadoras (por volta de 50). Possivelmente essas empresas foram formadas para prestar serviços de transporte dos calçados produzidos pelas empresas locais.

33 22 No município de Birigüi, observa-se a formação de uma aglomeração industrial no final da década de 60, com a instalação de 14 empresas de calçados e o surgimento de quatro fornecedores. Nesse período, o município já era conhecido como um grande pólo produtor de calçados infantis e, em 1971, foi considerado a Capital Brasileira do Calçado Infantil (vide figura 1.2 e 1.3). O Jornal Exclusivo publicou um caderno especial, em 16 de dezembro de 1971, com o título Birigüi é a capital do sapato infantil, considerando a cidade a maior produtora de calçados infantis do Brasil no início dos anos Na época, a cidade havia despertado o interesse da imprensa especializada em decorrência do desenvolvimento das empresas instaladas no município e da característica da produção local. A partir desse período, a indústria brasileira de calçados, passou a contar com uma nova região especializada na produção de um tipo de calçado o infantil. Figura 1.2 Página do jornal com o título Birigüi 2º do país em calçados infantis de Fonte: O Birigüiense, dia 3/09/ O Jornal Exclusivo é uma publicação especializada do segmento de couro e calçados e pertence ao Grupo Editorial Sinos S.A. O jornal, que é publicado desde a década de 70, acompanha o desenvolvimento do setor calçadista brasileiro. Para as próximas citações do jornal se utilizará a sigla JE (Jornal Exclusivo).

34 23 Figura 1.3 Página do jornal com o título Birigüi é a capital do sapato infantil, em Fonte: JE (1982). Para um entendimento mais preciso de como ocorreu a formação de uma aglomeração industrial em Birigüi é preciso analisar os elementos formadores das economias externas (mão-de-obra especializada, fornecedores e transbordamento do conhecimento) 18. Esse procedimento permite investigar com mais profundidade as características de cada um deles. Deve-se investigar se o pólo produtivo desenvolveu uma eficiência coletiva através da cooperação e interação entre as empresas e qual foi o papel das instituições locais no período. O surgimento de empresas fornecedoras, a formação de mão-de-obra especializada e a instalação de um centro de treinamento, entre o final da década de 60 e começo de 70, caracterizam a formação de uma aglomeração industrial em Birigüi A instalação dos fornecedores, a formação de mão-de-obra especializada e a instalação de um centro de treinamento Entre 1965 e 1979 foram instaladas 12 empresas fornecedoras em Birigüi, sendo a maioria instalada na década de 70. A produção inicial desses fornecedores destinava-se ao atendimento das necessidades locais, expandindo subseqüentemente as vendas para outras regiões. A maioria das fábricas produziam em Birigüi e foram formadas com capital local, 18 Dados sobre a mão-de-obra empregada e produção anual das fábricas do município não foram encontrados para o período de 1974 a No caso da mão-de-obra empregada foram encontradas informações isoladas para o ano de 1979 e 1983.

35 24 sendo que algumas eram oriundas de outros pólos produtores de calçados, principalmente Franca (SP) e o Vale dos Sinos (RS), que já estavam consolidados nesse período. Até 1970 quatro empresas foram instaladas em Birigüi: a Cartonagem Jofer, em 1966; a Petrille & Oliveira, em 1968; a Metalúrgica Fiargo, em 1968; e a Saltos Pérola, em 1969, todas com produção e capital local. O primeiro fornecedor instalado foi a Cartonagem Invicta, que produzia caixas de sapatos individuais e empregava oito funcionários. A empresa foi constituída na forma de uma sociedade familiar, entre pai e três filhos, mudando em 1972 para uma sociedade limitada constituída pelos irmãos, passando a se denominar Cartonagem Jofer 19. Na seqüência surgiram duas empresas em 1968: a Petrilli & Oliveira, fabricante de artefatos de borracha, solas, solados, placas de neolite e placas de látex; e a Metalúrgica Fiargo, produtora de artefatos de metal, ilhoses e fivelas 20. Em 1969 instalou-se a fábrica de Saltos Pérola fabricante de saltos de madeira. O crescimento desses quatro fornecedores de 1968 para 1972 mostra uma outra característica apontada por Marshall (1984) os ganhos de escala (Vide tabela 1.5). Tabela Dados gerais sobre o crescimento da cadeia produtiva de Birigüi em 1968 e 1972 Ano Mão-de-obra Energia (Em KWH/ano) Capital (Em Cr$ mil) Faturamento (Em Cr$ mil) (1968) (1972) (1968) (1972) (1968) (1972) (1968) (1972) Jofer ,0 340,0 527, ,0 Petrilli & Olvr , ,0 Fiargo ,0 30,0 106,0 Saltos Pérola ,0 70,0 312,0 Total ,0 636, , ,0 Nota: Os primeiros dados da Cartonagem Jofer são referentes ao ano de início de suas atividades em 1966, já os primeiros dados da Metalúrgica Fiargo são referentes ao ano de Fonte: Elaboração própria, a partir de dados extraídos de Zampieri (1976). A proximidade física entre produtores e fornecedores possibilitou ganhos de escala, pois o crescimento da produção da empresa de calçados estimulou a produção das empresas fornecedoras. Neste caso, as empresas de calçados não precisam fabricar componentes e insumos, que são produzidos pelas empresas fornecedoras especializadas, produtoras desses 19 Segundo as entrevistas realizadas com os empresários, havia uma outra empresa fabricante de embalagem de calçado anterior à instalação da Cartonagem Invicta. 20 O Jornal A Verdade no dia 29/06/1968 comentou a instalação da empresa Petrilli & Oliveira, formada pelos sócios Otaviano de Oliveira Filho e Carmelo Valdemar Petrilli instalada no prédio da antiga agência Ford na rua Barão do Rio Branco. A produção diária prevista era de 10 mil pares de saltos para crianças e adultos.

36 25 materiais em grande escala. Os ganhos de escala também foram analisados por Marshall (1984), que divide as economias derivadas de um aumento de escala de produção em duas classes: as internas e as externas. As economias internas dependem da organização da empresa, da eficiência de sua administração e da sua gerência, já as externas dependem do desenvolvimento geral da indústria (do aglomerado) 21. Na cidade de Birigüi, em decorrência do crescimento anual da produção e do número de empregados das fábricas de calçados, verifica-se que o crescimento das empresas de calçados estimulou o crescimento das fornecedoras. Um exemplo foi a mão-de-obra empregada pelas empresas fornecedoras que, em 1968, era de 25 funcionários e passou para 126 em Esse crescimento também foi observado nos outros indicadores (consumo de energia, capital e faturamento). Segundo Zampieri (...) o crescimento delas [empresas fornecedoras] foi sempre em decorrência da demanda do mercado local, que chegou a absorver 90 a 95% da produção, caracterizado por ser evolutivo, no decorrer dos anos. Estas não experimentaram decréscimo na produção, o que permitiu uma equipagem constante e uma organização mais definida (Zampieri, 1976, p.124, os colchetes são meus). O crescimento das empresas fornecedoras foi ressaltado por Valdemar Petrilli, exsócio proprietário da Petrille & Oliveira, que comentou ser o crescimento da indústria de calçados importante para o crescimento de sua empresa, fabricante de artefatos de borracha, solas e solados. Chegamos a ter 50 a 60 funcionários, chegou uma época que nós trabalhávamos vinte e quatro horas por dia. Mais ou menos entre 1970 e 1975, porque naquela época não existia aqui outro tipo de empresa igual a nossa. Nós éramos os únicos, estávamos sozinhos. Os únicos fornecedores próximos eram a cidade de Franca, porque Novo Hamburgo também fabricava, mas ficava muito longe daqui, muito fora de mão, pois é lá no Sul. (Valdemar Petrilli, em entrevista dia 22/07/2003). A Cartonagem Jofer foi um exemplo de empresa fornecedora de produto complementar à produção de calçados que expandiu a escala produtiva para atender a 21 Segundo Scitovsky (1952) apud Perroux (1967),...o crescimento duma indústria A pode induzir lucros; - numa indústria B que compre os factores produzidos pela indústria A; - numa indústria C cujo produto seja complementar do produto da indústria A; - numa indústria D cujo produto seja sucedâneo dos factores utilizados na indústria A; - numa indústria E cujo produto seja consumido por indivíduos cujos rendimentos aumentam por efeito do crescimento da indústria A. (Scitovsky, 1952, p. 149 apud Perroux, 1967, p. 168).

37 26 demanda por caixas de sapatos em outras regiões durante a década de 70. Em 1977, a Jofer contava com 110 empregados, que produziam em média 85 mil caixas de calçados por dia 22. Na década de 70, diversificam-se os fornecedores de insumos, de componentes e de máquinas locais, através da implantação de sete unidades fabris e de um representante (vide figura 1.4). Durante o período, foram instaladas três produtoras de colas e solventes (Kicola, Quimisinos e Brasquímica), duas produtoras de saltos e solados (Saltos Lindesa e Saltos Montoro), uma fornecedora de couro (Couros Atlântica) e um representante das máquinas POPPI de Franca 23. A instalação das empresas fornecedoras em Birigüi facilitou a aquisição de insumos, componentes, máquinas e equipamentos pelas fábricas de calçados da cidade. Segundo Jovino Pacheli, a instalação dessas empresas foi extremamente importante para o desenvolvimento de sua empresa, principalmente a Saltos Pérola e a Cartonagem Jofer. A importância da instalação de empresas fornecedoras para o desenvolvimento da indústria de calçados foi estudada em Franca (SP). Segundo Tosi (1998), o crescimento da indústria de calçados francana, após 1945, permitiu o surgimento de um conjunto de outras fábricas dos mais diversos insumos e componentes necessários para fabricação de calçados, bem como de máquinas para tal fim. Com a instalação das atividades correlatas ao calçado em Franca, as empresas de calçados que, já eram o centro articulador, passaram a encontrar facilidades ainda maiores para sua expansão, fato verificado na comparação de sua evolução frente a outros centros produtores do estado. 22 Informação extraída do jornal O Noroestino de 17/04/ A Quimisinos Indústria química, foi instalada no dia 10/04/1975, era a quarta filial da Quimisinos S/A, cuja matriz fica em São Leopoldo (RS) O Birigüiense de 19/04/1975.

38 27 Figura 1.4 Foto da instalação de duas esteiras de calçados que eram produzidas pelas Máquinas POPPI de Franca em Nota: Essas duas esteiras lançadoras de comando central estavam sendo instaladas nas fábricas Pérola e Bical. Fonte: Diário de Birigüi dia 06/07/1977. Além das vantagens na aquisição de insumos e componentes, os fornecedores também contribuíram para a formação de mão-de-obra especializada. Segundo Zampieri, (1976) durante a instalação das empresas de caixas de calçados e de artefatos de borracha, houve a necessidade da vinda de técnicos de fora que, ao se fixarem na cidade, criaram uma mão-de-obra especializada. O proprietário da Petrilli & Oliveira, Valdemar Petrilli, comentou que, naquele tempo, não havia mão-de-obra especializada e a empresa teve que buscar trabalhadores em outro pólo produtor de calçados (Franca), pois lá já existia uma empresa de artefatos de borracha. A mão-de-obra mais simples, que trabalhava com a prensa, ele contratou em Birigüi mesmo. Com relação à mão-de-obra, observa-se que seu crescimento contínuo, juntamente com a instalação de um centro de treinamento, em 1970, indica a formação de trabalhadores especializados no município (vide tabela 1.6). As fábricas de calçados de Birigüi empregavam 347 trabalhadores, em 1966, aumentando para 1.575, em 1972, e chegando a empregar no final da década trabalhadores O número de empregados das fábricas da cidade para o ano de 1979 foi extraído de Vedovotto (1996).

39 28 Tabela 1.6 Número de empregados das empresas de calçados de Birigüi entre 1966 e 1973 Nome da Empresa Popi Rassum Sandra Rinde Bical Raquete Derly Nibere Cervelatti Avac Ina Silp Paf Pérola Gezi Ysbel Joval Ibelca Clyfer Ypo Zilmar Novita Total Fonte: Elaboração própria, com base nos dados extraídos de Zampieri (1976). As duas maiores empregadoras da cidade, entre 1965 e 1973, continuavam sendo a Rassum e a Popi. Em 1966, as duas empresas líderes foram responsáveis pelo emprego de 49,5% da mão-de-obra do aglomerado e, em 1973, essa participação foi reduzida para 29,7%. A queda na participação das empresas líderes ocorreu em decorrência do aumento da participação de algumas empresas. Em 1973, a Sandra, a Bical, a Pérola, e a Clyfer, juntas foram responsáveis por 422 postos de trabalho, que correspondia por 26,7% dos empregados daquele ano. O tamanho médio das fábricas aumentou no período analisado, passando de 43,3 empregados por empresa, em 1966, para 71,6 em A elevada concentração de mão-de-obra na indústria de calçados de Birigüi permitiu que a cidade se projetasse como um grande pólo produtor de calçados no Estado de São Paulo. Os dados do Censo Industrial de 1970 mostram que o Estado de São Paulo tinha empregados na indústria de calçados. O município de Birigüi, empregando 1.169

40 29 trabalhadores, representava 4,2% do número trabalhadores da indústria de calçados do estado 25. Além disso, foi construído para a indústria de calçados de Birigüi, em 1970, um quociente locacional, que segundo (Suzigan et alli, 2002, p. 4) (...) indica a concentração relativa de uma determinada indústria numa região ou município comparativamente à participação dessa mesma indústria no espaço definido como base, neste caso o estado de São Paulo. Desse modo, um QL elevado em determinada indústria numa região (ou município) indica a especialização da estrutura de produção local naquela indústria (Suzigan et alli, 2002). Esse cociente locacional foi definido por Haddad (1989, p ) como: QL E i j E i i j = = E j E Quociente Locacional do setor i na região j E E E E i j j i = emprego no setor i da região j; = = = i j i E E i j i j j = emprego em todos os setores da região j; = emprego E i j = emprego no setor i de todas as regiões; em todos os setores de todas as regiões. No ano de 1970, o Estado de São Paulo tinha trabalhadores em todos os setores de atividade e, na cidade de Birigüi, o número de empregados em todos os setores era de trabalhadores. O município apresentou um coeficiente locacional de 28,37. Apesar das economias externas facilitarem a formação de uma mão-de-obra especializada, a necessidade de trabalhadores qualificados pelas empresas não foi totalmente sanada durante o período formativo do aglomerado de Birigüi. Essa falta de trabalhadores qualificados poderia ser explicada pelas características da indústria de calçados, setor de mãode-obra intensivo, para o qual a necessidade de mão-de-obra é maior que o verificado em outros setores. A falta de trabalhadores especializados causou vários conflitos entre os empresários da cidade. O jornal O Birigüiense, em matéria do mês de fevereiro de 1968, mostrou a disputa por mão-de-obra qualificada entre as fábricas de calçados de Birigüi. O 25 O Censo Industrial de 1970 aponta a existência de 717 estabelecimentos produtores de calçados no Estado de São Paulo, no grupo de indústria, fabricação de calçados para homens, mulheres e crianças. Nesse ano, a cidade de Birigüi contava com 19 empresas de calçados que representava 2,6% do número de estabelecimentos produtores de calçados existentes no Estado de São Paulo.

41 30 motivo do conflito era a disputa entre algumas firmas por trabalhadores experientes. Segundo o jornal, a concorrência por trabalhadores chegou a ponto de as empresas prometerem inúmeros benefícios para que técnicos mudassem de emprego, enquanto algumas empresas até batiam a carta de aviso prévio para atrair o trabalhador para sua empresa. O problema foi parcialmente resolvido através da intervenção da promotoria e do juiz de direito que se reuniram com todos os proprietários de empresas de calçados. Na reunião, ficou decidido que toda empresa iniciante na atividade poderia procurar empregados de outras fábricas até seis meses antes do início de suas atividades, depois disso, estariam enquadradas no código verbal de ética. Uma relação nominal de todos os empregados das fábricas do município seria enviada à Associação Comercial de Birigüi e, no caso de um trabalhador pedir emprego em outra firma, a relação seria consultada averiguando o motivo de sua saída. Segundo Jovino Pacheli, naquele tempo houve (...) bastante confusão, os outros [outras empresas] ofereciam um pouco mais e levavam os empregados. Fizemos uma reunião lá no fórum e resolvemos um pouco, mas já na semana seguinte, as pessoas estavam fazendo oferta de novo. Isso era duro, porque a gente, às vezes, pagava para trazer a mudança do empregado, trazíamos toda a família dele e vinha o outro e tirava o funcionário seu (Jovino Pacheli, em entrevista dada no dia 26/07/2003 os [colchetes são meus] ). Ressalte-se que a disputa pela mão-de-obra especializada atrapalhou o desenvolvimento de uma cooperação entre as empresas de calçados de Birigüi durante os anos 60 e 70, sendo que as vantagens decorrentes do processo de aglomeração na cidade, durante esse período, foram oriundas de economias externas puras. Além disso, os Sindicatos locais, o Sindicato da Indústria do Calçado e Vestuário de Birigüi (SICVB) e Sindicato dos Trabalhadores, só foram fundados no ano de 1979, portanto, não tiveram nenhum papel no desenvolvimento das empresas nos anos Segundo Nalberto Vedovotto, ex-proprietário da empresa de calçados Beni e ex-diretor de qualidade do SICVB, a concorrência entre os empresários pela mão-de-obra especializada provocou desunião e conflitos de interesses Segundo Nalberto Vedovotto (1996) a Associação dos Trabalhares da Indústria de Calçados e Vestuário de Birigüi foi fundado no dia 17 de junho de 1979 e seu primeiro presidente foi Odair Calegari. A referida associação contava com 302 membros. Já a Associação Profissional da Indústria do Vestuário de Birigüi foi fundada em 10 de outubro de 1979, tendo como primeiro presidente Nalberto de Milton Vedovotto, e contava com 26 empresas. Para as próximas citações do Sindicato da Indústria do Calçados e Vestuário de Birigüi, se utilizará a sigla SICVB. 27 A entrevista com Nalberto Vedovotto, ex-sócio proprietário da calçados Beni e ex-diretor de qualidade do SICVB, foi realizada no dia 20/02/2004.

42 31 Até 82 e 83 foi uma guerra, tinha até empresário que se dirigia para empresa do outro com um revólver querendo matar o dono da outra fábrica porque ele havia tomado funcionários seus. Era muito difícil obter mão-de-obra no período. Você treinava um funcionário, por exemplo, uma pespontadeira, deixando-a no auge do seu aprendizado e vinha uma outra empresa pagando 30 a 40% a mais e levava o seu bom funcionário. Às vezes, esse funcionário estava sendo preparado há mais de seis meses e você o perdia. Acontecia também da pessoa pegar um funcionário chave da montagem, prejudicando o andamento da empresa. Essas coisas eram muito complicadas, os empresários sentavam à mesa para conversar e prometiam um monte de coisas, mas era só virar as costas e já estavam tomando novamente os seus funcionários. Hoje ocorre isso em menor escala, acontecendo mais nas áreas de gestão e de processo de desenvolvimento de produtos. Naquela época até o funcionário comum (operador comum) era motivo para brigas. Isso gerava um desconforto, gerava uma desunião. Realmente não tinha união. Era uma guerra, uma briga tremenda. (Nalberto Vedovotto, ex-sócio proprietário da calçados Beni e exdiretor de qualidade do SICVB, em entrevista dia 20/02/2004). Para amenizar as dificuldades referentes à falta de mão-de-obra especializada foi fundado em 1970 um centro de treinamento (vide figura 1.5). Figura 1.5 Página do jornal com a foto da escola para oficiais de calçados fundada em Fonte: O Birigüiense de 01 de março de 1970 O centro de treinamento denominado Escola para oficiais de calçados foi fundado em fevereiro de 1970 e prestou um serviço de apoio importante às empresas locais. O objetivo da escola era a formação de mão-de-obra especializada para as empresas de calçados. Segundo

43 32 Luiz Baptista Pereira, redator do Jornal Exclusivo e responsável pela edição especial de 1971, sobre a indústria de calçados de Birigüi, o trabalho realizado por algumas pessoas da cidade para viabilizar a montagem da escola mereceu posição de destaque no caderno especial daquele ano. À frente desse processo estavam o juiz de direito, Antônio Carlos Cardoso, o empresário Antônio Ramos Assumpção e o prefeito municipal, Wilson Strozzi, que compunham a diretoria da escola, um modelar estabelecimento para a época. Os primeiros alunos foram recrutados na polícia mirim de Birigüi e totalizavam 110 alunos. Segundo Jovino Pacheli, ex-proprietário da calçados Ipiranga, Sandra e Ysbel, a escola foi importante para a formação de trabalhadores qualificados na cidade. 1.5 O mercado consumidor de calçados de Birigüi, a produção de calçados infantis e a participação do aglomerado na indústria nacional de calçados nos anos 60 e O mercado consumidor de calçados na década de 60 e 70 O mercado consumidor dos calçados produzidos pelas fábricas de Birigüi nos anos de 1960 e 1970 foi o mercado interno, pois as exportações representavam uma participação irrisória. No final da década de 70, a produção de calçados do aglomerado era escoada para todo o território nacional. Segundo Zampieri (1976), as fases de comercialização dos calçados podem ser divididas em três. A primeira fase foi a do surgimento da produção local e abrangeu o período de ; a segunda, caracterizou-se pela ampliação das vendas no Estado de São Paulo e nos estados vizinhos, abrangendo o período de ; a terceira fase foi caracterizada pela comercialização do produto em todo o território nacional e abrangeu o período de 1970 em diante. Na primeira fase, a comercialização ficou concentrada nas cidades próximas das linhas férreas, primeiramente na Noroeste, depois na Média e Alta paulista, na Sorocabana e na Araraquarense. Os calçados produzidos eram entregues pelos próprios fabricantes que na época não possuíam vendedores próprios. Na segunda fase, ocorreu a ampliação da área de vendas, atingindo todo o Estado de São Paulo, quando a grande São Paulo tornou-se o mercado consumidor principal. Nessa fase, os calçados produzidos em Birigüi eram comercializados também no Norte do Paraná, no Sul

44 33 do Mato Grosso, no Sul de Goiás, na Zona da Mata, no Triângulo Mineiro, no estado do Rio de Janeiro, na Guanabara e no Estado do Espírito Santo. Com o aumento da área de abrangência, iniciou-se a utilização de transportadoras para a entrega dos produtos e a fixação de vendedores em locais definidos. A terceira fase foi a que abrangeu todo o país, apesar das vendas ficarem concentradas no Estado de São Paulo e nos estados vizinhos, sendo parcialmente atendidas as regiões Nordeste, Norte e Sul. Essa fase pode ser observada por meio da distribuição das vendas em 1972: 18% dos calçados produzidos na cidade foram destinados a grande São Paulo, 27% ao interior do Estado de São Paulo e 54,5% aos outros estados (Zampieri, 1976). O nicho de mercado os calçados infantis atendido pelas fábricas de calçados de Birigüi permitiu uma ampliação crescente dos locais de vendas, pois a concorrência no mercado desse tipo de produto era menor. Segundo Nalberto Vedovotto, ex-sócio proprietário da empresa de calçados Beni, até a década de 80, a cidade de Birigüi teve uma vantagem por ter encontrado um mercado próprio, porque o mercado nacional de calçados infantis era muito carente e havia poucas empresas que o abasteciam. A cidade aproveitou essa lacuna. Isto também foi apontado por Zampieri (1976), ao comentar que o mercado interno de calçados infanto-juvenis era parcialmente atendido pelos produtores nacionais, principalmente os fabricantes da cidade de São Paulo, que restringiam suas vendas às capitais e a grande São Paulo. Apesar do governo federal iniciar uma política econômica a partir da década de 70 voltada para o aumento das exportações, o impacto sobre as empresas de calçados de Birigüi foi reduzido em decorrência do foco das empresas ser o mercado interno 28. A pesquisa realizada nos jornais da década de 70 mostrou somente três notícias sobre exportações de calçados de Birigüi 29. A primeira foi uma matéria no jornal O Birigüiense, em 1971, falando dos contratos firmados pela Rassum (Rahal & Assumpção) para, a partir de 1972, exportar calçados para os EUA e Canadá (vide figura 1.6). Esses contratos estimavam uma exportação de 40 a 50 mil pares de calçados especiais. Em decorrência da demanda de calçados para as exportações, a Rassum ampliou suas instalações físicas, construindo um novo barracão de mil 28 Os diversos instrumentos utilizados para fomentar as exportações nos anos 70 podem ser visto no trabalho de Reis (1994) 29 Os jornais pesquisados foram, O Birigüiense, Diário de Birigüi e o Noroestino.

45 34 metros quadrados 30. A notícia também menciona que a empresa Sandra, em conjunto com a Rassum, exportaria sandálias finas femininas para os EUA e Canadá. Segundo Antônio Ramos Assumpção, em decorrência das exportações de calçados sua empresa precisaria de mais ou menos 300 empregados para o aumento da produção, pois a fábrica pretendia atingir uma produção de pares/dia 31. Figura 1.6 Fotos do jornal O Birigüiense comentando a possibilidade da Rassum exportar calçados. Fonte: O Birigüiense de 21/11/1971. Em 1972 ocorreu a primeira exportação de calçados pelas empresas birigüienses. Essa exportação foi realizada pela calçados Sandra que exportou pares para o Canadá 32. O envio de calçados ocorreu entre o dia 16 a 20 de outubro de Segundo Lúcia Tossato, esposa de Alceu Tossado, proprietário da calçados Sandra, a empresa de seu marido foi convidada pela Rassum para a realização de uma exportação conjunta, porque os compradores canadenses queriam calçados femininos, e a Rassum só produzia infantil 33. Para a realização dessa exportação, a empresa utilizou-se dos incentivos concedidos pelo governo no período. 30 Tendo em vista as exportações de calçados, a empresa Rassum adquiriu um terreno no bairro Silvares, onde seria construída uma nova fábrica para o atendimento das exportações. Este barracão teria mais ou menos metros de área construída, com cobertura de alumínio, escritório, recepção e gerência (O Birigüiense de 25/12/1971). 31 Antonio Ramos Assumpção, em entrevista ao jornal O Birigüiense de 21/11/ A notícia sobre a exportação de calçados realizada pela Sandra foi o principal destaque do jornal Folha da Região de 22/10/1972. A reportagem também menciona que em entrevista com o proprietário da calçados Sandra (Alceu Tossato) ele garantiu que em breve ocorreria uma outra remessa de calçados para o Canadá tendo em vista a boa aceitação do produto enviado. 33 Informação fornecida por telefone pela esposa do proprietário da calçados Sandra, Lúcia Tossato, em entrevista realizada no dia 26/07/2003.

46 35 No entanto, as exportações não continuaram por causa de algumas dificuldades surgidas. Uma das dificuldades foi a de manter contato com os exportadores e com o escritório responsável pelas exportações. Outra dificuldade foi a de comunicação com São Paulo, pois a ligação telefônica era muito complicada e tinha que ser feita de Coroados (10 km de Birigüi), demorando duas horas para ser completada. Havia dificuldades também na compra de matérias-primas que vinham de São Paulo e na falta de hotéis na cidade, pois os compradores canadenses, tiveram que se hospedar em Araçatuba (15 km de Birigüi) quando vieram para Birigüi. A fábrica de calçados Rassum não conseguiu realizar exportação de sua produção. Conforme Zampieri (1976), isso ocorreu porque a empresa não adaptou seu produto ao modelo norte-americano que é, por natureza, diferente do brasileiro, pois enquanto o nosso modelo é curto e alto, o dos americanos é comprido e baixo. Dessa forma, uma ampla quantidade de calçados ficou sem mercado dada a diferença entre os modelos. Por não realizar as exportações a empresa reduziu sua produção em 37% entre 1971 e 1972, caindo de 664 mil pares para 484 mil. Como forma de atenuar essa situação, a Rassum instalou uma secção de venda a varejo, sendo a primeira empresa de calçados da cidade que utilizou essa estratégia de vendas diretas ao consumidor (Zampieri, 1976). Durante os anos 60 e 70 a principal matéria-prima utilizada na produção dos calçados infantis de Birigüi foi o couro. O material sintético começou a ser utilizado somente por volta da metade da década de 70, de forma lenta e com algumas restrições por parte do empresariado. A primeira empresa a confeccionar seus calçados com o material sintético foi a fábrica de calçados Beni, fundada em 1972, de propriedade de Benedito Vedovotto e Nalberto Vedovotto, especializada na produção de calçados infantis femininos. Segundo Nalberto Vedovotto, sua empresa foi procurada em 1974 por um representante de uma firma japonesa chamada Empasa, que fabricava componentes para calçados. A empresa tinha lançado naquele período um produto sintético que substituía o couro e estava precisando que uma fábrica experimentasse o material. Assim a empresa cederia o produto sintético, sem ser necessário o pagamento imediato, pois importante era o teste da viabilidade da matéria-prima para a produção dos calçados. Disse Vedovotto, que o material deu muito certo, e sua empresa lançou no mercado calçados produzidos com o novo material. A nova matéria-prima reduzia muito o custo final do calçado, pois o material sintético, diferente do couro, tinha a vantagem

47 36 de vir padronizado (um metro por um metro e quarenta), o que permitia trabalhar com várias camadas na hora do corte no balancim, que cortava de uma só vez vários pares de calçados, aumentando a produtividade. No entanto, segundo Vedovotto, a substituição do couro pelo sintético foi lenta, porque os empresários tinham muitas restrições quanto ao uso do material. A predominância da produção dos calçados infantis com material sintético só ocorreu em meados dos anos 80. Demorou entre quatro a cinco anos para que esta cultura [utilização do material sintético] fosse disseminada, porque ninguém acreditava que o material iria dar certo, achavam que não dava um acabamento legal. A gente provava para eles que o material sintético dava certo, mas os empresários não acreditavam, pois estavam trabalhando com o couro que era um sistema totalmente diferente. O couro tinha que ser trabalhado antes de ser usado, o sintético não. Demorou muito para a mudança de cultura, o pessoal falava que o sapato não daria certo. Somente no final de 1982 que todo mundo começou usar o sintético, entrando até mesmo novos fornecedores. (Nalberto Vedovotto, exsócio proprietário da calçados Beni, em entrevista dia 20/02/2004, os colchetes são meus). As figuras 1.7 e 1.8 apresentam algumas fotos dos calçados produzidos em Birigüi durante a década de 70. Figura 1.7 Fotos dos calçados produzidos pela Paf em Fonte: J E (1974).

48 37 Figura 1.8 Fotos dos calçados produzidos pela Bical em Fonte: J E (1979) A produção de calçados infantis entre 1966 e 1972 e a participação da aglomeração na indústria nacional de calçado. Nota-se uma grande elevação do número de calçados produzidos no aglomerado, sendo produzidos 463 mil pares, em 1965, elevando-se para pares, em A especialização das empresas locais era a produção de calçados infantis, o que reforça a denominação de Capital Brasileira do Calçado Infantil, conferido ao município em 1971 pelo jornal Exclusivo (vide tabela 1.7).

49 38 Nome da Empresa Tabela 1.7 Produção anual de calçados de Birigüi entre Tipo de calçado Popi infantil Rassum infantil Sandra Femininos Rinde Infantil e adulto Bical Infantil Raquete Infantil Derly Infantil Nibere Infantil Cervelatti infantil Avac Masculino adulto Ina Infantil e adulto Silp Infantil Paf Infantil Pérola Infantil Gezi Botas e botinas (adulto) Ysbel Infantil Joval Infantil Ibelca Infantil Clyfer Infatil Ypo Infantil Zilmar Infantil Novita Infantil Total Fonte: Elaboração própria, com base nos dados extraídos de Zampieri (1976). A produção de calçados infantis, em 1965, foi de 396 mil pares, que correspondia a 85,5% da produção das empresas daquele ano 34. Essa especialização aumentou, em 1972, para 91,6%, quando foram produzidos pares de calçados infantis. Observa-se uma especialização crescente das empresas do aglomerado na produção de calçados infantis, dando continuidade ao tipo de calçado escolhido pela primeira empresa instalada em Birigüi. Entre 1966 e 1972 a estrutura industrial do arranjo produtivo sofreu algumas alterações, porém, as empresas líderes (Popi e Rassum) continuavam detendo uma parte expressiva da produção anual. Em 1966, as duas maiores fábricas foram responsáveis por 67% da produção do aglomerado e no ano de 1972 essa participação foi reduzida para 34 Como não foi possível determinar o quanto representava a produção de calçados infantis no total produzido pela Rinde, considerou-se que a produção da empresas era toda de calçados adultos.

50 39 30,5% 35. A queda na participação das empresas líderes foi decorrente do aumento da produção de algumas empresas. Em 1972, a Bical, a Raquete, a Derly, a Nibere, a Pérola e a Clyfer, juntas produziram pares, correspondente a 40,6% da produção do pólo. Com essa grande produção de calçados o município de Birigüi aumentou sua participação na indústria de calçados nacional (vide tabela 1.8). Tabela 1.8- Produção Brasileira por tipo de calçados (em mil pares) e número de estabelecimentos em 1968 Especificação Número de estabelecimentos Produção Infantis Masculino Adulto Feminino Adulto Total Fonte: Produção industrial IBGE, Extraído de Zampieri (1976). Observa-se que, em 1968, a cidade de Birigüi contava com 15 fábricas de calçados que produziram pares, sendo responsáveis por 1,56% da produção nacional de , e menos de 1% do número de estabelecimentos. No entanto, a desagregação dos dados, mostra uma participação maior de Birigüi no segmento de calçados em que o pólo é especializado. Em 1968, o município contava com 11 fábricas de calçados infantis, que correspondia a 3,5% dos estabelecimentos produtores de calçados infantis do Brasil. A comparação com o número de pares fabricados traz resultados ainda mais expressivos. Afora a produção das empresas que não eram fabricantes de calçados infantis (Sandra, Avac, Ina, Gezi e Rinde), produtoras de 139 mil pares em 1968, obtém-se uma produção de 936 mil pares de calçados infantis. Com esse saldo, o arranjo produtivo de Birigüi representava 5,6% da produção nacional de calçados infantis. Os dados apresentados acima mostram uma participação crescente da cidade de Birigüi na indústria brasileira de calçados, principalmente no segmento produtor de calçados infantis. Esses dados são reforçados quando 35 O ano de 1971 e 1972 foram anos atípicos para a Rassum, porque, nesse período, houve uma tentativa de exportação realizada pela empresa que acabou fracassando. Em 1971, a empresa ampliou a produção e, em 1972, reduziu substancialmente. 36 A aglomeração calçadista de Birigüi amplia sua participação na produção nacional de calçados para 2,6% em 1970 e 3,5% em Os dados do Anuário Estatístico do IBGE, que foram extraídos de Cruz (1976), mostram que a produção nacional de calçados foi de de pares em 1970 e de de pares em 1972.

51 40 se analisa a participação de Birigüi no Estado de São Paulo, que em 1968, era o maior produtor brasileiro de calçados. A produção do estado foi de pares, que correspondia a mais de 50% da produção brasileira de calçados. Assim, como no caso do Brasil, a posição de Birigüi se sobressai quando se analisa o segmento infantil (Vide tabela 1.9). Tabela 1.9 Produção de calçados infantis (em mil pares) e número de estabelecimentos do estado de São Paulo de 1968 e 1971 Estado Número de estabelecimento Número de pares fabricados (1968) (1971) (1968) (1971) São Paulo Fonte: Produção Industrial IBGE, Extraído de Zampieri (1976). O município de Birigüi contava com 11 estabelecimentos produtores de calçados infantis, em 1968, que representava 23% das unidades fabris do estado. Já com relação a produção de calçados para crianças, a cidade de Birigüi, com uma produção de 996 mil pares, produziu 9% dos calçados infantis do estado. Em 1971, a participação do município na produção estadual elevou-se. Enquanto a produção do Estado de São Paulo foi de pares de calçados infanto-juvenis em 1971; a cidade de Birigüi produziu pares, que correspondiam a 12,9% desse tipo de calçados produzidos no Estado de São Paulo. Em síntese, os dados mostraram a importância crescente que a cidade de Birigüi gradualmente foi obtendo na indústria de calçado paulista, principalmente no que concerne ao segmento infantil. A indústria de calçado local surgiu no final da década de 50, quando foi instalada a primeira empresa produtora de calçados infantis. No começo dos anos 60, novas fábricas de calçados foram instaladas, dando continuidade à especialização da empresa pioneira produção de calçados para crianças fato que permitiu o desenvolvimento de uma especialização local. Entre 1965 e 1979, formou-se uma aglomeração industrial na cidade de Birigüi. Nesse período, instalou-se um elevado número de empresas de calçados e empresas fornecedoras, formou-se uma mão-de-obra especializada e instalou-se um centro de treinamento, impulsionando a criação de uma atmosfera industrial voltada à produção de calçados no município. Esses elementos, que geraram economias externas, ampliaram as vantagens do agrupamento de empresas e facilitaram a instalação de novos estabelecimentos ao reduzirem as barreiras de entrada e de saída. Em decorrência da atuação dessas economias

52 41 externas, o aglomerado de empresas aumentou sua especialidade e ampliou sua participação na indústria estadual e nacional de calçados. A consolidação desse processo foi vista em 1971, quando Birigüi recebeu a denominação de Capital Brasileira do Calçado Infantil e foi responsável por 13% dos calçados infantis produzidos nos Estado de São Paulo. Note-se que as vantagens geradas no agrupamento de empresas foram oriundas de economias externas puras, pois a disputa por mão-de-obra especializada ancorou o desenvolvimento de formas de ações conjuntas, que permitiriam a formação de uma incipiente eficiência coletiva. Por fim, observa-se todo um movimento, quer pelo lado quantitativo quer pelo lado qualitativo, que adensa a atmosfera industrial local, criando vantagens duradouras no tempo. Isso propicia o crescimento contínuo desse agrupamento de empresas que se consolida na década de 80, quando Birigüi passou a ser conhecida como Capital - Latino Americana dos Calçados Infantis e a produção anual ultrapassou 25 milhões de pares em 1986.

53 42 CAPÍTULO 2 A CONSOLIDAÇÃO DA AGLOMERAÇÃO CALÇADISTA DE BIRIGÜI NA DÉCADA DE O desempenho da indústria de calçados na década perdida Durante a década de 80, a indústria brasileira apresentou um baixo crescimento econômico, em conseqüência das políticas de ajuste macroeconômico do início da década e da trajetória da inflação crônica do final (Negri, 1995). Segundo Carneiro (2002), a década de 80 pode ser caracterizada pela drástica redução do crescimento, pela estagnação do produto percapita, pela redução no nível de investimentos e pela transferência de recursos reais para o exterior. Todos estes fatores fizeram com que o referido período fosse denominado década perdida. Apesar da crise dos anos 80, a indústria brasileira de calçados apresentou uma taxa de crescimento positiva, quando comparada a outros indicadores. Isto pode ser visto ao comparar a taxa média de crescimento anual da indústria de calçados nacional com o PIB (Produto Interno Bruto), com a indústria de transformação e com o gênero vestuário, calçados e artefatos de tecido (Vide tabela 2.1). Tabela Taxa de crescimento médio anual do Produto Interno Bruto e agregados da indústria de transformação brasileira entre 1980 e 1990 Variáveis Taxa de crescimento médio anual Produto Interno Bruto 1,5 Indústria de Transformação -0,1 Gênero vestuário, calçados e artefatos de tecido -2,6 Indústria de calçados 2,0 Fonte: IBGE. Contas Consolidadas para nação, Extraído de Reis (1994). Em relação à política econômica, observa-se que sua principal característica foi a busca por constantes superávits comerciais (Reis, 1994) O objetivo era corrigir alguns desequilíbrios macroeconômicos, principalmente o atendimento dos encargos financeiros da dívida externa. Para tanto, o governo procurou promover as exportações e conter as importações. Na política de comércio exterior, o governo utilizou diversos instrumentos, optando por um mix entre as políticas cambiais, fiscais e financeiras (Reis, 1994). A política cambial foi realizada através de minidesvalorizações intercaladas por duas maxidesvalorizações, uma em dezembro de 1979 e outra em fevereiro de As políticas

54 43 fiscais e financeiras foram implementadas por meio de concessões de benefícios ficais e financeiros às empresas (Reis, 1994). O aparato exportador possibilitou que setores com condições de competitividade externa incrementassem suas produções para o mercado internacional, efeito verificado no caso da indústria de calçados. De acordo com Negri (1994), alguns setores que conseguiram conquistar mercados internacionais aumentaram seu peso relativo na estrutura industrial brasileira tais como: a agroindústria, a siderúrgica e setor de calçados. Dessa forma, observou-se um crescimento da indústria de calçados nos anos 80, sustentado por três frentes: pelas vendas de calçados de couro para o mercado externo, pela expansão das vendas de calçados alternativos (borracha, plástico, sintético e tecido) para o mercado interno e, em determinadas ocasiões, por ambos (Reis, 1994). O desempenho positivo da indústria de calçados juntamente com a ampliação das economias externas e a redução das barreiras de entrada e de saída, permitiu que a aglomeração calçadista de Birigüi se consolidasse nos anos 80. Neste período observa-se um crescimento no número de empresas instaladas, o desenvolvimento da cadeia produtiva e uma expressiva participação do aglomerado na indústria estadual e nacional de calçados. 2.2 Entrada de novas empresas de calçados e a expansão da cadeia produtiva de Birigüi nos anos 80 Nos anos 80 ocorreu um crescimento no número de empresas instaladas em Birigüi, superior ao surgimento de fábricas em décadas anteriores. Durante esse período, foram instaladas 211 unidades fabris, sendo que o grande boom ocorreu na segunda metade da década, com a implantação de 158 unidades. O destaque no período foi o ano de 1986, quando foram instaladas 62 empresas. A dinâmica no surgimento de empresas de calçados mostra a consolidação do aglomerado nesse período. Esse desenvolvimento da concentração de empresas fez com que surgisse, em 1981, a menção: Birigüi: a Capital Latino-Americana do Calçado Infantil, em matéria do Jornal Exclusivo, escrito em português e espanhol (vide figura 2.1) 37. Deve-se lembrar que dez anos antes, em 1971, a cidade de Birigüi era considerada a Capital Brasileira do Calçado Infantil. Essa nova denominação mostra um 37 Foi o Jornal Exclusivo que projetou pelo Brasil a denominação Birigüi: a Capital Brasileira do Calçado Infantil durante dos anos 80, sendo esse slogan utilizado posteriormente como uma característica local. Durante a década de 80, nas várias matérias sobre a indústria de calçados de Birigüi, o J E apresentava uma logomarca, que consistia no mapa do Estado de São Paulo com a localização do município de Birigüi, acompanhado com o título: Birigüi: a Capital Industrial do Calçado Infantil.

55 44 salto qualitativo do pólo produtivo que passa a ser considerado o maior produtor de calçados infantis da América Latina no começo dos anos 80. Ressalta-se, no entanto, que a matéria do J E, foi encomendada pelas empresas de calçados do município. No começo dos anos 80, as empresas locais buscavam uma inserção no mercado internacional e, para isso, encomendaram essa publicação neste jornal especializado, sendo, posteriormente, distribuído na Argentina, no Chile, na Bolívia, no Peru e no México 38. O intuito era desenvolver uma marca (uma característica) que chamasse a atenção dos compradores internacionais e projetasse a especialidade das empresas locais, podendo ter surgido daí a referida denominação. Observese que outro destaque na capa da publicação foi a produção de calçados do aglomerado de 2 milhões de pares por mês. Essa produção projetada para um ano ultrapassaria 20 milhões de pares, o que não foi confirmado, pois somente após 1986, as empresas de calçados locais alcançariam uma produção dessa envergadura. Além disso, em 1986, havia 119 empresas, enquanto que em 1981, somente 49, que dificilmente produziriam a quantidade de calçados publicada no jornal. Outro ponto a ser destacado é que nas várias notícias sobre o pólo de calçados de Birigüi publicadas pelo J E, entre 1980 e 1983, o aglomerado aparecia sempre com uma produção de 2 milhões de pares mês. Figura 2.1 Página do jornal com o título Birigüi a Capital Latino Americana do Calçado Infantil em Fonte: J E (maio de 1981). No destaque a produção mensal de calçados (2 milhões de pares mês). 38 Informações extraídas do jornal Diário de Birigüi de 17/05/1981.

56 45 Juntamente com o crescimento do número de empresas instaladas, observou-se a ampliação da aglomeração com a instalação de vários fornecedores. Até 1990, foram instaladas 41 firmas diretamente ligadas ao complexo produtor de calçados de Birigüi, com destaque para a segunda metade da década, quando foram implantadas 32 empresas. A instalação de empresas correlatas e de apoio acompanhou a dinâmica de implantação de fábricas de calçados, que tiveram na segunda metade da década de 80 sua maior expansão (vide tabela 2.2). Entre as empresas, estavam fornecedores de componentes para a fabricação de calçados (adesivos, barbantes, PVCs, cordões, espumas, estopas, grampos, fitas, linhas, nylon e outros), fabricantes de facas, fôrmas, embalagens para calçados, fabricantes de matrizes, moldes, entre outros. Tabela 2.2 Instalação de empresas de calçados e empresas fornecedoras em Birigüi na década de 80 Anos Produtores de calçados Empresas fornecedoras Fonte: Elaboração própria, com base nos dados do livro de registro de inscrição industrial, comercial e prestação de serviços da Prefeitura Municipal de Birigüi. Cabe ressaltar que ao contrário dos anos 60 e 70, a maioria das empresas fornecedoras instaladas na década de 80, eram representações de firmas produtoras de componentes, insumos, máquinas e equipamentos para fabricação de calçados (vide tabela 2.3). No entanto, mesmo que a produção não tenha sido realizada na cidade de Birigüi, a proximidade dos representantes de produtores estimulou o desenvolvimento das empresas, em decorrência das facilidades para a obtenção de matérias-primas, componentes, máquinas e equipamentos. A proximidade dos fornecedores criou vantagens para o arranjo produtivo através da redução dos custos dos insumos, do transporte, do tempo entre o pedido e a entrega das mercadorias, agilizando a troca de mercadorias defeituosas e facilitando o contato entre produtores e fornecedores.

57 46 Tabela Empresas fornecedoras e representantes instalados na década de 80 em Birigüi Empresas Fornecedoras Número de empresas Representantes de fornecedores de componentes para calçados 26 Representantes de máquinas e equipamentos para fabricação de calçados 8 Fabricante de embalagem e facas para calçados 2 Fabricante de formas, matrizes e injetados para calçados 5 Total 41 Fonte: Elaboração própria, com base nos dados do livro de registro de inscrição industrial, comercial e prestação de serviços da Prefeitura Municipal de Birigüi. A comparação entre as empresas fornecedoras existentes em 1982, com as empresas de 1986, mostra o crescimento e a diversificação das fornecedoras em Birigüi no período em destaque. Já em 1982, o pólo calçadista de Birigüi contava com 14 empresas fornecedoras de insumos, componentes, máquinas e equipamentos. Estavam instaladas na cidade quatro fornecedoras de máquinas e equipamentos (Máquinas Poppi, Máquinas Tochetto, Induserv e Máquinas PFAFF), três fornecedoras de produtos químicos (Artecola, Kicola e Brasquímica), quatro fornecedoras de produtos para calçados (Couroplastic, FCC, Incal e SM representações), duas fornecedoras de artefatos de borracha (Petrille & Oliveira e Saltos Montoro) e uma produtora de caixas para calçados (Cartonagem Jofer) 39. Destas 14 empresas, somente três tinham uma produção local a Petrille & Oliveira, a Saltos Montoro e a Cartonagem Jofer. As demais eram representações de produtores de outras localidades, principalmente de outros pólos produtores de calçados, destacando-se Franca (SP) e o Vale dos Sinos (RS). O pequeno número de fornecedores de componentes, de máquinas e de equipamentos para fabricação de calçados com produção local pode ser explicado pelo breve período de existência da aglomeração calçadista de Birigüi em relação à indústria de calçados de Franca (SP) e do Vale dos Sinos (RS). Os referidos pólos produtores de calçados iniciaram suas atividades no início do século XX, e antes da década de 50, já haviam conquistado uma posição de destaque no mercado calçadista brasileiro. Sendo assim, eles tinham maturidade e escala para formarem produtores locais de insumos, de máquinas e de equipamentos deslocados posteriormente para outras localidades. Como o pólo de Birigüi era mais recente não atingira ainda uma dimensão suficiente para assegurar o surgimento de empresas 39 Além desses fornecedores a cidade contava com seis empresas transportadoras (Rodocerto, Expresso Araçatuba, Selar, Transportadora Andréa, Transdroga e Rápido Paulista S/A).

58 47 fornecedoras locais. Além disso, a solidez das empresas produtoras vindas de outras localidades barrou o surgimento de novas empresas, principalmente nos setores que demandavam grandes investimentos e utilizavam tecnologia mais intensiva, como no setor químico e no de máquinas e equipamentos para calçados. Segundo Tosi (1998), o crescimento das empresas de calçados de Franca (SP) provocou um encadeamento que fez com que empreendimentos de outros setores da economia, localizados, na cidade acabassem sendo direcionados para a sustentação da indústria de calçados e de couro. A partir desse ponto, as empresas experimentaram crescimento, que exigiu novos investimentos. Muitos fornecedores exigiam escalas superiores às das próprias empresas de calçados de Franca; o que os levou a conquistar novos mercados por meio de uma rede de representantes. Figura 2.2 Propaganda da Jofer Embalagens em Fonte: J E, catalogo dos fornecedores de Birigüi em Em 1986, ocorreu crescimento e diversificação dos fornecedores locais. A cidade contava com 47 empresas fornecedoras, suprindo praticamente todos os componentes e insumos necessários para a fabricação de um calçado, desde matérias-primas até máquinas e equipamentos 40. A maior parte destas empresas continuava sendo formada por representantes de produtores de outras regiões, mas o arranjo produtivo de Birigüi conseguiu ampliar o núcleo de fornecedores com produção local. A aglomeração contava com sete desses 40 Ver no anexo a relação nominal dos 47 fornecedores da aglomeração produtora de calçados de Birigüi em 1986.

59 48 fornecedores, sendo uma produtora de facas para calçados (Birifacas), duas produtoras de caixas (Cartonagem Jofer e Koala), uma produtora de fôrmas para calçados (Chiarella Tabini), uma produtora de palmilhas (Fortflex) e duas produtoras de solas, saltos e solados (Saltos Montoro e Petrille & Oliveira). Segundo Luiz Rubens Salzedas, diretor da Fortflex, a instalação da empresa na cidade ocorreu porque havia uma lacuna a ser preenchida para que o ramo de indústrias de calçados fosse servido melhor. Daí a idéia de implantarmos uma fábrica de palmilhas moldadas em Birigüi, uma cidade com mais de 100 indústrias, que não possuía uma empresa que produzisse esse tipo de artigo 41. O depoimento deste empresário reforça a argumentação desenvolvida no capítulo 1 de que as aglomerações facilitam o surgimento de novas empresas, porque os detentores de capital percebem com mais facilidade as lacunas a serem preenchidas, seja no fornecimento de insumos, de componentes, de máquinas e equipamentos ou na prestação de serviços especializados. Figura 2.3 Propaganda dos fornecedores de Birigüi em Nota: Ao lado esquerdo acima, a Azzo comércio e representação de componentes para calçados; ao lado direito, João de Souza e Humberto Manoel representações; abaixo, a empresa de embalagens Koala 42. Fonte: J E, fornecedores da indústria calçadista de Birigüi e região ano II (1986). O elevado crescimento na instalação de empresas de calçados e firmas fornecedoras 41 Informação extraída do J. E de 27/10/ A empresa Azzo representações de componentes para calçados, representava as empresas (Brasquímica, Sulquímica, Norton, Tesa, Reprell, Pirelle e fornecedora São Bernardo de fitas e abrasivos); João de Souza e Humberto Manoel representavam as empresas (Barmag S. A Máquinas Industriais, Ivomaq, Petrocola Ind Química, Maprical, Cardoso e Kefalás artigos de couro, elástico e componente); a Koala era uma produtora de caixas de calçados.

60 49 mostra a ampliação da atuação das economias externas e uma redução das barreiras de entrada e de saída. Essas economias externas aumentam a competitividade dos estabelecimentos aglomerados e facilitam o surgimento de novas empresas. Note-se que a aglomeração formada entre 1960 e 1970 aumentou a participação na estrutura industrial estadual do seu segmento nos anos 80, concentrando a produção, o emprego e o número de empresas. O primeiro indicativo dessa dinâmica foi o aumento da participação das fábricas locais no conjunto de empresas produtoras de calçados do Estado de São Paulo. O aglomerado contava em 1986, com 119 empresas produtoras de calçados, que empregavam em média 81,95 trabalhadores 43 (vide tabela 2.4). Neste ano, a cidade já concentrava 6,8% do número de empresas de calçados existentes no Estado de São Paulo. Esse indicador reflete um aumento na participação da cidade ao longo do tempo, tendo em vista que o indicador para o ano de 1970 era de 2,6%. Tabela Número de empresas de calçados de Birigüi entre 1980 e 1989 Anos Número de Empresas - 49* 59** 67*** 75**** 77***** Fonte: Elaboração própria, com base nas informações do J E e da RAIS/MTb. * J E (maio de 1981) 44. **J E (caderno especial em comemoração aos 71 anos da cidade de Birigüi, novembro de 1982). *** Dados apresentados pelo Posto de Atendimento do Trabalhador de Birigüi (PAT) ao jornal Diário de Birigüi de 03/01/1984. *** *J E (Novembro de 1984). ***** Os dados de 1985 a 1989 foram extraídos da base de dados da RAIS/MTb 45. Durante a década, houve uma ampliação da participação das empresas com até 100 empregados, que, em 1986, representavam 82% das firmas produtoras de calçados do município e, em 1989, aumentou para 86% do total (vide tabela 2.5) Esse aumento da participação de pequenas empresas, em 1989, foi decorrente da ampliação da participação de unidades produtivas com até nove empregados. Em 1989, as fábricas com até nove empregados representavam 44% do total, enquanto que, em 1986, elas representavam 29%. 43 Ressalta-se que os dados RAIS/MTb só cobrem relações contratuais formais, podendo não refletir corretamente o número de empregados existente, bem como o número de empresas. Essa fonte de dados também apresenta alguns outros eventuais problemas, ressaltados por (Suzigan et. alli., 2000a). 44 Ver no anexo a relação nominal de 47, das 49 empresas de calçados existentes na cidade de Birigüi no ano de 1981 e a marca de seu principal produto. 45 Ver no anexo a relação nominal de 107, das 119 empresas produtoras de calçados da cidade de Birigüi em Na realidade, a fonte apresenta a relação nominal de 118 empresas, no entanto, o nome de 11 delas não estava legível.

61 50 Tabela 2.5 Distribuição das empresas calçadistas de Birigüi por número de empregados em 1986 e 1989 Número de empresas Números de empregados Números de empregados (1986) (1989) 0 empregados 1 12 Até 4 empregados De 5 a 9 empregados De 10 a 19 empregados 8 14 De 20 a 49 empregados De 50 a 99 empregados De 100 a 249 empregados De 250 a 499 empregados 2 2 De 500 a 999 empregados 2 2 De 1000 ou mais empregados 1 2 Total Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da RAIS/ MTb (1986 e 1989). Como nas décadas anteriores, as vantagens geradas no agrupamento de empresas foram oriundas de economias externas puras, pois inexistia cooperação entre as empresas e foi pequena a participação das instituições locais (SICVB e Prefeitura). Portanto, não se desenvolveram vantagens decorrentes da eficiência coletiva. Um dos motivos da ausência foi o crescimento individual das empresas durante os anos 80 que fez com que elas se isolassem umas das outras, inviabilizando a cooperação. Revendo a entrevista realizada com Nalberto Vedovotto, o empresário contou que até 1983 não havia união entre as empresas por causa das brigas causadas pelo gargalo da falta de mão-de-obra especializada, pois uma empresa tomava o empregado da outra, gerando desentendimentos 46. Isto impediu o desenvolvimento de uma cooperação. Apesar desse problema ter sido, aparentemente, amenizado a partir de 1983 em diante, não houve cooperação, pois as empresas conseguiram crescer individualmente no período, dispensando a cooperação entre elas. Os depoimentos de três empresários mostram a falta de cooperação na aglomeração 47. Segundo Antônio Ramos Assumpção, sócio proprietário da Rassum, não havia aquela união desejada entre os empresários, porque a instalação de novas empresas dificultava a união. Além disso, uma fábrica antiga tinha problemas diferentes das empresas novas o que ocasionava divergências de idéias. O caminho viável para esta completa união seria o aperfeiçoamento da associação, transformando-a em 46 Entrevista realizada no dia 20/02/ Informações extraídas das entrevistas realizadas pelo jornal Diário de Birigüi nos dias 27/08, 11/09 e 6/10 de 1983, com Antônio Ramos Assumpção, Manuel Miranda e Domingos Pauludetto respectivamente.

62 51 um Sindicato. Para Manuel Miranda Loureiro, sócio proprietário da fábrica de calçados Rodimar, não havia união entre os empresários e ainda faltava muito para isso, principalmente humildade entre a maioria no sentido de realmente se unirem. Quando foi perguntado para o empresário se havia concorrência leal entre as empresas de calçados, a resposta foi: não, um procura furar o olho do outro. Já Domingos Pauludetto, sócio proprietário da Rinde, comentou que estava faltando muito relacionamento entre todos os empresários para um melhor conhecimento e uma análise dos problemas existentes. Como será visto no próximo capítulo, formas de união entre as empresas de calçados de Birigüi só ocorreram a partir de 1995, segundo Nalberto Vedovotto. Em relação ao desempenho do SICVB, nas notícias pesquisadas nos jornais locais foram encontradas informações sobre o trabalho da instituição. Umas delas refere-se ao ano de 1981, que destacava a movimentação do Sindicato junto à Carteira do Comércio Exterior (CACEX), no sentido de esclarecer dúvidas sobre as exportações de calçados e a dinâmica de operação junto ao Banco do Brasil para este fim 48. Segundo Marcos Antônio Oliveira e Marcos Antônio Noale, respectivamente presidente e vice-presidente do SICVB, o Sindicato tinha como projeto a realização de um curso de comércio exterior a ser ministrado na própria cidade, com o objetivo de fornecer maiores esclarecimentos sobre os trâmites legais que envolviam as exportações. A instituição pretendia, também, convidar novas empresas para se filiarem, no intuito de aumentar a representatividade do Sindicato no setor calçadista nacional. Marcos Antônio Oliveira, presidente eleito no ano de 1983, comentou que a pretensão para o ano de 1983 era transformar a associação em Sindicato para ampliar a representatividade, buscava-se, também, o aumento do quadro de sócios, a realização de mais cursos de especialização e a divulgação com mais intensidade do nome de Birigüi como a Capital Brasileira dos Calçados Infantis 49. Uma participação importante do Sindicato Patronal a ser destacada, foi a implantação, juntamente com a Prefeitura e com o Serviço Nacional da Indústria (SENAI), de um centro de treinamento em 1985 o Centro Calçadista Avak Bedouian 50. Outras atuações do Sindicato ocorreram com a criação de cursos (como o de cálculo de custos de calçados, ministrado em março de 1984), e com a organização dos empresários 48 Informação extraída do J E mês de maio de Somente em 1986 a Associação da Indústria do Vestuário de Birigüi se transformou em Sindicato. 50 A instalação do centro de treinamento será discutida em outro momento.

63 52 para participarem das várias feiras de calçados (Francal, Couromoda) promovidas no Brasil durante a década de O SICVB atuou no combate à especulação, aumento constante das matérias-primas e componentes, ocorrido em 1986, por causa do Plano Cruzado. Na ocasião, as empresas de calçados se reuniram na sede da instituição e definiram estratégias para combater a especulação. Neste mesmo período em que ocorriam disputas entre fabricantes e fornecedores por causa dos aumentos de preço, em Nova Serrana (MG), outro pólo produtor de calçados, as empresas já haviam formado uma cooperativa de compra, para negociar preços melhores com seus fornecedores 52. Este caso ilustra mais uma vez, a falta de cooperação entre as empresas locais durante a década de 80, tornando-as muito distantes das experiências observadas em outras localidades. Sendo assim, observa-se que o SICVB começava a participar do desenvolvimento do setor de calçado local, porém, não conseguiu provocar maior cooperação entre as empresas de calçados, que poderia gerar maior competitividade oriunda de uma eficiência coletiva. Com relação ao papel das instituições públicas a Prefeitura Municipal teve uma atuação junto ao setor de calçado pouco expressiva. Colaborou somente o auxílio para a instalação do centro de treinamento e para algumas empresas participarem da Francal e Couromoda. A Prefeitura contava, na década de 80, com um órgão voltado ao setor industrial o Conselho de Desenvolvimento Industrial (CONDEI), criado em 1973 (Lei nº 1416, de 16 de dezembro de 1973). Além disso, outras duas leis municipais reforçavam a capacidade de atuação da Prefeitura: a Lei 2.172, de 12 de abril de 1984, criando o parque industrial de Birigüi; e a Lei 2.293, de 22 de outubro de 1985 autorizando a doação de terrenos localizados no Parque Industrial concedendo benefícios fiscais e outros incentivos para a instalação de empresas. Porém, das 15 empresas aprovadas para instalação de unidade no Parque Industrial até novembro 1986, somente uma empresa estava relacionada ao setor de calçados (Indústria e Comércio de Produtos para Couros e Peles), não havia nenhuma fábrica de calçado listada 53. Segundo Nalberto Vedovotto (1996), as empresas de calçados de Birigüi nunca tiveram o 51 A informação sobre o curso ministrado em 1984 foi extraída do jornal Diário de Birigüi de 26/02/ Informação extraída do jornal O Noroestino de 16/03/ As outras empresas listadas pelo CONDEI em 1986 eram: Birigüi Ferro Biferco, Madeireira Ponta Porá, Atlanta Construções Comércio e Empreendimentos, Fábrica de Moveis Birigüi, Eduardo Valera e Cia, Metalpama Indústria e Comércio, Diamante Colchões e Espumas, Marmoraria São Judas Tadeu, Indústria de Barcos Garcia, Camas Birigüi, Indústria de Gaiolas Birigüi, ITB Indústria de Transformação de Birigüi, Arnaldo Fortuna e Zuccolotto e irmãos.

64 53 auxílio do poder público, elas cresceram e se desenvolveram sozinhas. Ressalte-se que até os dias de hoje (2004) nenhuma empresa de calçados está instalada no Distrito Industrial A produção de calçados alternativos: a difusão de uma nova matéria-prima Durante a década de 80 ocorreu um aumento na produção de calçados infantis com materiais alternativos. Principalmente a partir de 1985, quando cresceu a confecção de calçados com borracha, plástico, sintético e tecido. Os calçados alternativos, por apresentarem um preço mais reduzido, tinham uma demanda superior a dos calçados confeccionados com couro, conforme apresenta a tabela 2.6. Tabela 2.6 Consumo per-capita de calçados no Brasil entre 1980 e 1990 Anos Calçados de couro Calçados alternativos Total ,35 2,46 3, ,31 2,46 3, ,32 2,43 3, ,25 2,37 3, ,33 2,38 3, ,32 2,24 3, ,40 2,51 3, ,26 2,96 4, ,22 2,67 3, ,33 2,92 4, ,09 2,40 3,49 Fonte: Sindicato das Indústrias de Calçados do Estado de São Paulo, extraído de Reis (1994). Durante a década de 80, segundo Reis (1994), houve uma predominância no consumo de calçados alternativos em detrimento ao tradicional calçado de couro. O consumo de calçados alternativos chegou a ser o dobro dos produzidos com o couro, em alguns períodos ( ). São dois os principais elementos que podem explicar isso. O primeiro, está relacionado ao perfil da distribuição de renda do país; e o segundo, são os efeitos das crises econômicas sobre o poder aquisitivo da população brasileira. Os dois fatores têm impactos importantes sobre o poder aquisitivo da população, provocando alterações em seu padrão de consumo (Reis, 1994). Note-se que os calçados produzidos com materiais alternativos apresentavam ganhos de produtividade e de custo. Segundo Amauri César Bini, ex-sócio proprietário da empresa de calçados Carbi, a produção do calçados com o couro (raspas de couro) apresentava uma menor produtividade quando comparado ao sintético, pois o couro

65 54 tinha muitos defeitos 54. Para a produção do cabedal (parte de cima do calçados) o couro tinha que ser cortado pé a pé (peça por peça). No sintético o processo era diferente, pois você dobrava o material e num movimento de corte do balancim era possível cortar dois pares de calçados, porque o material não apresenta defeitos. Além disso, o sintético era um produto mais fácil de costurar que o couro, pois era mais leve e mais fino. Segundo o empresário o sintético entrou firme no mercado, talvez por causa do custo e dos ganhos de produtividade. Além dos ganhos de produtividade e de custos, a partir da segunda metade da década de 80 (em particular no ano de 1986) ocorreu uma substituição mais acentuada do couro pelo sintético. No ano de 1986, a explosão nas vendas de calçados, após o Plano Cruzado, encareceu o custo da matéria-prima couro e os fabricantes começaram a utilizar mais os produtos sintéticos. Esse foi o caso da empresa de calçados Carbi, que em decorrência do aumento da demanda em 1986, substituiu totalmente a linha de produção com raspas de couro para utilizar apenas o sintético. De 1987 em diante, a empresa só produziu calçados utilizando materiais sintéticos. Os dados da tabela 2.6 indicam o aumento do consumo de calçados alternativos após o ano de 1985, quando o consumo per-capita de calçados alternativos foi bem superior ao de couro. A produção de calçados alternativos, no aglomerado calçadista de Birigüi, pode ser confirmada em decorrência da especialidade das empresas locais os calçados infantis. A utilização de outros materiais pelas fábricas de calçados de Birigüi foi observada pelo comportamento de várias empresas durante a década de 80. Esse foi o caso da calçados Mimo, que já 1979, utilizava o sintético e o tecido para a confecção de calçados. Outros exemplos são o da calçados Tip Toe que, em 1980, produziu calçados infantis com tecido cristalizado; da calçados Glisa, utilizando o couro sintético e os emborrachados; da calçados Biri que usava o nylon, ambas em 1982; da calçados Caruse, que utilizou a lona em Destacam-se, ainda, os casos da Pucky, que utilizava a lona; da Kit-Net, que usava o poletine e o nylon, ambas em 1986, da Kiuti, empregando o sintético, o tecido e o nylon, em 1987; e da Protective, que confeccionava os calçados com o plástico, em As figuras 2.4 e 2.5 mostram algumas fotos de calçados produzidos pelas empresas de Birigüi. 54 Entrevista concedida pelo sócio-proprietário da empresas de calçados Carbi, Amauri César Bini, em 16/02/2004. A empresa de calçados Carbi produzia sandálias ortopédicas infantis que eram confeccionados com o laminado sintético, de forro de poliéster ou algodão e solados injetados. A empresa encerrou suas atividades no começo da década de 90.

66 55 Figura 2.4 Fotos dos calçados produzidos pela Milla em Fonte: J E (1981). Figura 2.5 Fotos dos calçados produzidos pela Kiuti em Fonte: J E, edição especial dedicada ao industrial do ano de 1988, Antônio Ramos Assumpção. O crescimento da produção de calçados alternativos no Estado de São Paulo, durante os anos 80, indica uma evolução maior no uso de materiais alternativos em relação ao couro para fabricação de calçados (vide tabela 2.7). A desagregação do crescimento da produção de calçados alternativos em dois segmentos, adulto e infantil, mostra um aumento considerável para a última categoria.

67 56 Tabela 2.7 Taxa média anual (%) de crescimento da produção de calçados no Estado de São Paulo entre 1980 e 1989 Especificação Taxa de crescimento médio anual Calçados de couro 0,8 Calçados de plástico -2,2 Calçados de borracha 4,4 Tênis 1,3 Total 1,2 Fonte: Reis (1994). O destaque do período foi o crescimento da produção de calçados de borracha (4,4%), enquanto o setor como um todo cresceu a uma taxa de 1,2%. De acordo com Reis (1994), o destaque no segmento de calçados de borracha foi a produção de sandália para crianças com uma taxa de 4,6% junto com a produção de sandálias para adultos, com um crescimento médio de 4,3%. Mesmo na produção de calçados de couro (que apresentou o menor desempenho do período) a produção de calçados para crianças apresentou um desempenho positivo com uma taxa média de crescimento de 2,4% (Reis, 1994). Esse desempenho positivo da produção de calçados infantis com materiais alternativos e o desenvolvimento da aglomeração possibilitaram uma expansão da produção local e um aumento da participação de Birigüi na indústria nacional de calçados. 2.4 A expansão da produção, do número de empregados e o aumento da participação na indústria nacional de calçados na década de 80 Em 1985, a produção de calçados do pólo chegou a pares, uma produção diária de pares. Os calçados produzidos na cidade, durante os anos 80, eram comercializados em todo território nacional. Assim como nas décadas anteriores as vendas eram realizadas por meio de vendedores próprios que se deslocavam para vários estados brasileiros. Em relação à produção, observe-se que ocorreu uma elevação substancial em 1986, refletindo os impactos do Plano Cruzado (vide tabela 2.8).

68 57 Tabela 2.8 Produção de calçados em Birigüi (em pares) entre 1985 e 1989 Anos Produção de calçados Exportações Nota: A produção de 1989 foi fornecida por Marco Antônio de Oliveira, presidente do (SICVB), em entrevista concedida ao J E de 18/01/1990. Fonte: Elaboração própria, com base nos dados fornecidos pelo (SICVB) ao jornal Diário de Birigüi de 05/07/1989. O Plano Cruzado provocou aumento do poder aquisitivo da população brasileira acarretando também aumento no consumo de calçados 55. Em 1986, a implantação do Plano Cruzado trouxe de fato uma mudança nos rumos da política econômica: a inflação reduziu-se drasticamente, cresceu o nível de emprego da economia, os salários cresceram em termos reais, a indústria cresceu 11,3% e as importações cresceram, reduzindo o superávit da balança comercial a US$ 8,3 bilhões. A expansão da economia foi acompanhada de ligeiro aumento nos investimentos, com crescimento de bens de capital e de bens de consumo duráveis, mas sobretudo do setor produtor de bens de consumo não-duráveis, decorrência do aumento real nos salários e do nível de emprego. (Negri, 1996, p. 157). A percepção de crescimento das vendas de calçados e de perspectivas positivas para o ano de 1986 podem ser evidenciadas através dos comentários de vários empresários da cidade em entrevistas realizadas pelo J E em junho de O Diretor da calçados Gamcal, João Carlos Sfaciotti, comentou sua pretensão de aumentar em 50% a produção de calçados, que era de 500 pares/dia naquele período. A empresa pretendia atingir, num prazo de 30 dias, uma produção de pares/dia. Segundo Sfaciotti, o aumento da produção não seria difícil, considerando o acentuado incremento das vendas de calçados no país e a situação favorável do mercado. O diretor da Gamcal comentou que as perspectivas otimistas para o segundo semestre eram reflexo do aumento da demanda. Para o diretor da Kelly calçados, Sergio Hecht; e para o diretor da Puky calçados, Armando dos Reis, havia um grande otimismo em relação às vendas do segundo semestre 56. Segundo Armando dos Reis, as perspectivas para o segundo semestre eram ótimas, já que as vendas estavam motivadas pelas reformas econômicas (os) reflexos estão sendo positivos e a 55 Nos primeiros 20 dias do mês de março, após o pacote de medidas do Plano Cruzado, as empresas de calçados de Birigüi tiveram venda zero. Outro problema do período esteve relacionado com a compra de matéria-prima, principalmente a cola. Os fornecedores de matérias-primas e componentes estavam reajustando constantemente o preço, ocasionando dificuldades nas negociações. 56 A produção da calçados Puky era de pares/dia com perspectivas de atingir pares/dia.

69 58 tendência é melhorar ainda mais nos próximos períodos. Para Edson Luiz Pulzatto e Saleh Mustafá, da calçados Ortofino, a mudança monetária no país reaqueceu as vendas de calçados e a venda projetada era de 50 mil pares durante a Francal 57. Segundo José Manoel Sanches, diretor da calçados Glisa, em decorrência do bom desempenho do comércio varejista após o Plano Cruzado, esperava-se um segundo semestre bom para vendas. Para Sanches, durante a Francal, (os) lojistas devem comparecer de forma acentuada na feira. Eles comprarão muito, dada a demanda que está ocorrendo. Aqueles que não programarem suas compras poderão correr o risco de ficar sem mercadorias até o final do ano (J E, de 10/06/1986). Para o diretor da Kiuti, Antônio Ramos Assumpção, a participação da empresa na Francal não tinha o objetivo de vender seus produtos, mas de manter contato direto com clientes e rever amigos. Segundo Assumpção a Kiuti este ano está numa situação diferente dos outros anos em que estivemos expondo. Ao invés de vendas imediatas só poderemos atender pedidos para faturamento no mês de julho. Antônio Liranço, diretor da Bical calçados, também destacou o momento favorável para vendas em função do Plano Cruzado. Para o diretor da Danzer (...) a política econômica implantada pelo governo brasileiro já provou sua validade. O reaquecimento do consumo aconteceu e o pacote tem muito a ver com isso, pois as vendas estão crescendo e o setor tem tudo para dar certo. (J E, junho de 1986). Devido a grande demanda por calçados que absorveu grande parte da produção da empresa Kit Net, a fábrica desistiu de participar da Francal (vide figura 2.6). Segundo José Roberto Rodrigues, diretor da empresa, (o) reaquecimento nas vendas foi além das perspectivas, o que acabou impossibilitando de atender as encomendas. Com uma produção de pares/dia a empresa pretendia aumentar em 30% por cento sua produção a fim de atender melhor as encomendas dos clientes. A empresa estava com sua produção comercializada até agosto de No ano de 1986, a Francal, tradicional feira do setor coureiro-calçadista, foi realizada no mês de julho.

70 59 Figura 2.6 Notícia sobre a desistência da empresa Kit Net em participar da Francal em Fonte: J E de 10/06/1986. O crescimento nas vendas de calçados provocou uma expansão da aglomeração que pode ser vista de várias formas. A primeira característica do crescimento esteve relacionada ao processo de implantação de empresas na cidade, no qual se observou a instalação de 62 fábricas de calçados em Essa implantação de empresas de calçados estimulou a instalação de empresas fornecedoras, surgindo oito firmas. A segunda característica refere-se à produção de calçados, aumentada substancialmente em relação ao ano de No ano de 1986, a produção local de calçados atingiu pares, um aumento de 30% em relação ao ano de Com relação ao número de empregados das fábricas de calçados da cidade, ocorreu um aumento de 26%, passando de trabalhadores, em 1985, para 9.753, em As exportações de calçados atingiram 2,5% da produção anual, sendo exportados pares. O desenvolvimento do aglomerado provocou um aumento da participação das empresas locais na indústria estadual e na nacional de calçados, principalmente no segmento infantil (vide tabela 2.9). 58 A produção diária em 1986 foi de pares.

71 60 Tabela 2.9 Produção de calçados, segundo o material utilizado, e principais tipos, do estado de São Paulo entre 1980 e 1988 (em pares) Especificação Calçados de couro Sapatos para homem Calçados para crianças Sapatos e sandálias para senhoras Sandálias esportivas para senhoras Outros Calçados de plástico Sandálias de material plástico Calçados para crianças Calçados para adultos Outros Calçados de borracha Sandálias para adultos Sandálias para crianças Calçados diversos Tênis ou guides Calçados para esporte Outros Total Fonte: IBGE/Seção de estatísticas e informações industriais, Fiesp/Ciesp/Decad. Extraído de Reis (1994). A produção de calçados no Estado de São Paulo, no ano de 1986, foi de milhões de pares, já a produção brasileira foi de milhões 59. O arranjo produtivo de Birigüi com uma produção de , representava 14,5% da produção do estado e 4,2% da produção brasileira de calçados. Em relação ao setor calçadista brasileiro, houve uma elevação da participação, pois o município foi responsável por 1,5% da produção nacional em 1968, aumentando para 2,5%, em 1970, para 3,5%, em 1972, e chegando a 4,2%, em No entanto, o que salta aos olhos, é a importância que o aglomerado assumiu na produção de calçados infantis, especialidade das fábricas da cidade. Nesse segmento, Birigüi passou a ser o maior produtor brasileiro, responsável por uma parte significativa da produção estadual e nacional de calçados para crianças. O Estado de São Paulo produziu 31.1 milhões pares de calçados infantis, já o município de Birigüi, com uma produção de pares, foi responsável por 73% da produção do estado. 60. Comparando-se com a produção brasileira de calçados para crianças, que foi de 75.6 milhões pares em 1986, observa-se que Birigüi foi 59 A informação sobre a produção brasileira de calçados foi extraída de Reis (1994). 60 Considerou-se que 91% da produção do aglomerado eram de calçados infantis.

72 61 responsável por 30% dessa produção. A forte concentração da produção desse tipo de calçados reforça o conceito de Capital Brasileira do Calçado Infantil dado ao município. No ano de 1987, ocorreu uma queda de 20% na produção de calçados e uma redução de 18% no nível de emprego em relação ao ano de Naquele ano, a produção de calçados local foi de pares, sendo que as exportações atingiram 2,2%, ou seja, pares. A queda no nível de emprego e na produção decorreu da falência do plano de estabilização econômica (Plano Cruzado) que causou uma redução no poder aquisitivo da população, freando a expansão do mercado interno brasileiro. Conforme Amauri César Bini, várias empresas da cidade tomaram empréstimos durante o ano de 1986, época em que os juros estavam baixos. Com o fim do Plano Cruzado, em 1987, os juros se elevaram, acarretando uma crise no setor calçadista de Birigüi. No ano de 1988, aumentou o nível de produção e de emprego, porém, em menor escala se comparado a 1989, quando ocorreu uma ampliação substancial na produção de calçados do aglomerado. Segundo o SICVB, foram produzidos 30 milhões de pares de calçados durante o ano de 1989, um acréscimo de 30% em relação a Essa atuação positiva foi atribuída (...) à posição consolidada dos produtos fabricados em Birigüi no mercado brasileiro, em especial ao sapato infantil. Além disso, temos um processo inicial de diversificação que contribui para elevação das atividades (Marco Antônio de Oliveira, presidente do SICVB, em entrevista concedida ao J E de 18/01/1990). Durante o ano de 1989 iniciou-se um processo de diversificação da produção de calçados na cidade de Birigüi. A produção de calçados adultos, principalmente femininos atingiu 4,5 milhões de pares ou 15% da produção do aglomerado. Isto porque algumas empresas ampliaram a produção de calçados adultos, como o caso da Kiuti, que planejava destinar 60% da produção de 1990 para o tipo adulto masculino 61. Para isso, o grupo Kiuti, constituído pelas empresas Pé de Anjo, Protective e pela própria Kiuti, pretendia centralizar a produção de calçados adultos masculinos na Kiuti, deixando a produção de calçados infantis para a Pé de Anjo e Protective 62. Para Antônio Ramos Assumpção, a estratégia do grupo Kiuti 61 Informação extraída de entrevista realizada com o proprietário da Kiuti, Antônio Ramos Assumpção, realizada pelo J E de 18/01/ A empresa de calçado Pé de Anjo foi instalada em 1988, empregando 11 funcionários que produziam 150 pares/dia de calçados infantis masculinos e femininos do número 16 ao 22 (J. E dia 28/08 a 04/09/1988). A Protective, no mês de agosto de 1989, contava com 80 funcionários que produziam pares de calçados por

73 62 visava aprimorar os produtos fabricados em cada unidade e melhorar a distribuição. Segundo Assumpção a Kiuti vai investir esse ano no sapato e no tênis masculino, cabendo as outras empresas abastecer o mercado infantil. O aumento da produção de calçados provocou a instalação de novas empresas na cidade. No ano de 1989 foram instaladas 45 empresas produtoras de calçados e nove empresas fornecedoras, sendo o segundo ano de maior implantação de empresas de calçados na cidade, ficando atrás somente do ano de A expansão da produção de calçados possibilitou um aumento na mão-de-obra empregada pelas fábricas de calçados (vide tabela 2.10). Tabela 2.10 Número de empregados nas empresas de Birigüi entre 1983 e 1989 Anos Número de 4785* empregados Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da RAIS/MTb. * Informação extraída do jornal Diário de Birigüi de 03/01/ O destaque do período foi o ano de 1986, época em que as empresas empregaram o maior número de trabalhadores. Nesse ano, a cidade de Birigüi concentrava 11,9% dos empregos formais da indústria de calçados do Estado de São Paulo que era de trabalhadores. Esse número relacionado aos indicadores nacionais comprova que a indústria local concentrava 3,6% dos empregos da indústria brasileira de calçados, que era de trabalhadores. Calculando o índice de especialização para o ano de 1986, chega-se a um valor de 47,8, em relação ao Estado de São Paulo, o que indica uma forte concentração da indústria de calçados na cidade de Birigüi. O resultado indica que a concentração da indústria de calçados do estado em Birigüi era maior em 1986, do que em Em 1970 o índice de concentração foi 28,37. dia, tendo as sandálias infantis produzidas com o cabedal de plástico e o solado de EVA como produto principal (J. E de 28/08/1989). As duas empresas eram propriedade dos filhos do proprietário da calçados Kiuti. 63 O número de empregados de 1983 foi estimado tendo como parâmetro os dados apresentados pelo Posto de Atendimento do Trabalhador de Birigüi (PAT) ao jornal Diário de Birigüi de 03/01/1984. Na ocasião, o PAT apresentou dados de uma pesquisa realizada nas empresas de calçados da cidade cujo objetivo era mensurar o número de mulheres com mais de 16 anos. A pesquisa visava determinar o número de creches necessárias para a cidade. As mulheres empregadas eram Estimou-se que o número de empregados do sexo masculino seria 5% menor, porque, em 1986, os dados da Rais/Mtb mostravam que o emprego de mulheres em Birigüi na indústria de calçados era de 4% maior que o dos homens.

74 63 Para treinar os trabalhadores locais foi inaugurado, em 1985, o Centro Calçadista Avak Bedouian, um importante centro formador de mão-de-obra especializada para as empresas de calçados contribuindo para a redução do gargalo provocado pela falta de mão-deobra qualificada. A escola foi viabilizada por meio de uma parceria entre a Prefeitura, o SICVB e o SENAI. O papel da Prefeitura nessa parceria era ceder as dependências adequadas, as máquinas, o mobiliário, além das despesas de manutenção (luz, água, telefone e pessoal discente). O SENAI entrava com a orientação técnico-didática, os professores e instrutores e o material didático. Já o SICVB, fornecia as matérias-primas, divulgava o trabalho junto às empresas e encaminhava os participantes e concluintes dos cursos para as vagas de empregos 64. A instalação de um centro formador de mão-de-obra aumentou a competitividade do aglomerado, pois facilitou a contratação de trabalhadores qualificados pelas empresas. O depoimento do instrutor da escola, Belmiro Antônio dos Santos, dado em 1987, mostra a importância do centro de treinamento naquele período, pois (a) procura pelos cursos é grande. Como as vagas são limitadas, fazemos um teste de seleção com o interessado. Tenho notado que dentro em pouco a escola se tornará pequena para a grande demanda que tem ocorrido (J E). O centro de treinamento Avak Bedouian treinou trabalhares de 1985 até 1989, sendo 448 cortadores e 559 pespostadores. Para realização desse treinamento o centro consumiu cinco toneladas de retalhos de couro, cortou 109,3 mil pares de calçados e pespontou 48.4 mil peças 65. O crescimento do aglomerado durante os anos 80 desencadeou um processo de migração de famílias de outras cidades vizinhas de Birigüi, acarretando um elevado crescimento demográfico na década de 80 (vide tabela 2.11). Esse foi o caso da cidade de Rinópolis, que fica a 20km de distância de Birigüi, onde se observou o deslocamento de um grande número de famílias para o município. Segundo Nalberto Vedovotto (1996), a migração de Rinopolenses para a cidade, recebeu um destaque no jornal Estadão sobre o título O fenômeno de Birinópolis, junção de Birigüi com Rinópolis. 64 Informação extraída do J. E outubro de 1984 (29/10 a 04/11). 65 Informações extraídas do J. E novembro de 1989 (20 a 26/11/1989).

75 64 Tabela Crescimento Demográfico de Birigüi entre as décadas de 60 e 80 CRESCIMENTO (%) Ano Homens Mulheres Total Na década Ao ano ,69 1, ,39 3, ,75 4,05 Fonte: Elaboração própria, com base nos dados do IBGE. Durante a década de 80, ocorreu um crescimento demográfico médio anual de mais de 4%, sendo o maior crescimento verificado nos últimos 40 anos. A população de Birigüi aumentou de habitantes, em 1980, para , em As maiores empresas de calçados de Birigüi nos anos 80: Kiuti, Popi e Bical O desenvolvimento das empresas de calçados, Kiuti, Popi e Bical, refletiram a consolidação do parque produtivo de Birigüi nos anos Essas três empresas apareceram incluídas em várias listas das cem maiores empresas de calçados do Brasil nos anos A tabela 2.12 apresenta a produção diária e o número de empregados de cada empresa em 1983 e A partir de 1986 a Rassum passou a denominar-se Kiuti, pois Antônio Ramos Assumpção comprou a parte da sociedade que pertencia a Raif M Rahal, em 21 de fevereiro daquele ano. Será utilizado o nome Kiuti para referise a empresa, mesmo para o período anterior a Ver no anexo a relação nominal das 100 maiores empresas de calçados do Brasil em 1985, realizada pelo J E. Entre as 100 maiores estavam a Kiuti (77º), a Popi (75º) e a Bical (7º). Com relação ao posicionamento das três empresas de calçados de Birigüi, deve ter ocorrido alguma inversão na colocação, pois a empresa de calçados Rassum durante a década de 80 foi a maior empresa de Birigüi, seguida pela Popi e depois pela Bical. Reis (1994) apresenta uma listagem das 100 empresas para o ano de 1990, nela a Kiuti estava no 9º lugar, seguido pela Popi (15º) e pela Bical (22º).

76 65 Tabela 2.12 Produção diária e número de empregados da Kiuti, Popi e Bical em 1983 e 1985 Empresa Produção (em pares) Empregados (1983) (1985) (1983) (1985) Kiuti Entre a Popi Bical Total Fonte: Elaboração própria, com base nas informações do J E de 22 a 28/11/1983 e Diário de Birigüi de 10/09/1983. As informações sobre a produção das empresas de calçados Popi e Bical foram extraídas do J E edição especial em comemoração aos 72 anos de Birigüi em Em 1983 as três maiores empresas da cidade superavam uma produção diária de pares, empregando trabalhadores. A calçados Kiuti era a maior empregadora do aglomerado e possuía a maior produção. A maior parte da produção da empresa era destinada ao mercado interno, com a fabricação de calçados sintéticos com forro de couro e, também, às exportações. A produção era vendida para o Chile, Costa Rica, Inglaterra e Estados Unidos 68. No ano de 1983 a empresa foi incluída em um catálogo de informações, chamado Brasil dez mil, que tratava sobre as 10 mil principais empresas brasileiras, com faturamento superior a Cr$ 400 milhões e mais de 200 empregados, o que indica a grande envergadura que a empresa atingiu no período 69. A tabela 2.13 apresenta de forma desagregada os empregados da Kiuti em Tabela 2.13 Número de empregados da calçados Kiuti em 1983 Empregados Quantidade Menores do sexo feminino 188 Menores do sexo masculino 174 Total de menores 362 Adultos do sexo feminino 418 Adultos do sexo masculino 549 Total de empregados maiores 996 Total de empregados Fonte: Elaboração própria, com base nos dados extraídos do jornal Diário de Birigüi de 10/09/1983. Na calçados Popi e na Bical, predominava, também, a comercialização de calçados para o mercado interno. Mas as duas empresas mantinham uma pequena parcela de suas 68 A empresa de calçados Kiuti exportou 10 mil pares de calçados para a Costa Rica em 1981, segundo o Jornal Diário de Birigüi de 14/03/ Informações extraídas do jornal Diário de Birigüi de 28/09/1983.

77 66 vendas para o exterior. A Bical vendia seus produtos para a Inglaterra, Panamá, Porto Rico, EUA, Bolívia e Oriente Médio 70. As três empresas produziam, internamente, o solado necessário para a fabricação dos calçados, mantendo uma divisão interna de injetoras e solados. De 1983 a 1985 ocorreu uma expansão de 30% na produção diária dessas empresas, que, juntas, foram responsáveis por mais da metade da produção diária e do número de empregados do pólo calçadista de Birigüi em A empresa Kiuti manteve uma trajetória de crescimento durante a segunda metade da década e atingiu uma produção de pares diários em Nesse ano, já se observa uma tendência da empresa em diversificar sua produção, pois metade dela foi de calçados infantis e o restante de adultos 71. Nessa época a empresa contava com funcionários distribuídos entre a fábrica e a administração. No ano de 1988, Antônio Ramos Assumpção, recebeu o título de industrial do ano, concedido pela primeira vez a um empresário de Birigüi, que premiava o desempenho das melhores empresas de calçados do Brasil e era dado pelo Jornal Exclusivo e a Revista Lançamentos, durante a realização da Francal. A empresa estava produzindo pares diários empregando funcionários em uma área construída de 21 mil metros quadrados. No ano de 1989 a produção de calçados do grupo Kiuti foi de 7 milhões de pares (mais ou menos 23% da produção do aglomerado em 1989). 70 Em 1986, a Bical atinge uma produção de pares/dia, empregando trabalhadores. 71 A linha infantil da empresa dividia-se em tênis infantil top sider, sapatinhos, botinhas e chuteiras, que eram confeccionadas com material sintético e com tecido (incluindo o nylon).

78 67 Figura 2.7 Foto externa da fábrica de calçados Kiuti em Fonte: J E, edição especial dedicada ao industrial do ano de 1988, Antônio Ramos Assumpção (20/06/1988). Figura 2.8 Foto interna da linha de produção da Kiuti em Fonte: J E, edição especial dedicada ao industrial do ano de 1988, Antônio Ramos Assumpção (20/06/1988).

79 68 A área de produção da empresa estava dividida em 4 setores: o setor I de corte, serigrafia e alta freqüência (politron); o setor II de pesponto; o setor III de montagem e acabamento e o setor IV a expedição 72. A empresa atendia um público variado, produzindo calçados infantis, femininos e masculinos. A marca Anay dedicava-se ao consumo feminino, do número 33 ao 39; a marca Kiuti, atendia o público infantil, e dividia-se em Kiuti Bebê (tênis 16 ao 22), Kiuti sapatinho (20 ao 32), Kiuti botinha ortopédica (20 ao 27) e Kiuti sandalinha (18 ao 22). Outra marca da empresa era o Biribol (tênis do 20 ao 44), a Cavalo Branco para o público masculino (do 33 ao 44) e Straik para esportistas e jovens (chuteiras, tênis e chinelos, vários números). O impacto do processo de abertura econômica, comercial e financeira sobre as empresas de calçados de Birigüi será discutido no próximo capítulo. A abertura econômica provocou uma queda no número de empregados e na produção local, forçando a formulação de várias medidas defensivas por parte das empresas do aglomerado. O estudo dessas medidas e estratégias será o foco de análise do capítulo. Foi no contexto da crise dos anos 90 que as empresas locais e instituições ampliaram esforços de união e cooperação como uma estratégia coletiva para enfrentar as dificuldades do período. 72 Segundo o gerente do setor I, Isdenir Siqueira, a Kiuti produzia suas próprias facas e navalhas, que garantiam o abastecimento no momento necessário. Além disso, no setor de serigrafia os serviços são realizados pela própria indústria, que possui uma equipe de profissionais especializados na criação de etiquetas, emblemas e logotipos a serem utilizados nos calçados (J. E, edição especial dedicada ao industrial do ano de 1988, Antônio Ramos Assumpção, de 20/06/1988). A produção de facas, navalhas e a serigrafia, juntamente com a produção de solas e solados, indicam que algumas etapas da produção se encontravam verticalmente integradas.

80 69 CAPÍTULO 3 - A FORMAÇÃO DA EFICIÊNCIA COLETIVA NOS ANOS A crise da indústria brasileira, os reflexos na indústria de calçados nacional e o impacto na aglomeração calçadista de Birigüi na década de 90 A década de 90 foi marcada por um processo de abertura econômica, comercial e financeira, que começou no governo Fernando Collor, em 1990, e ampliou-se no governo de Fernando Henrique Cardoso a partir de A abertura econômica teve grande impacto na indústria brasileira e refletiu-se na indústria de calçado nacional. De acordo com Carneiro (2002), a abertura comercial e a desnacionalização da propriedade privada foram as medidas com maior impacto no setor produtivo. A eliminação das barreiras alfandegárias foi a primeira medida que gerou reflexos negativos no setor produtivo. O chamado anexo C, que era uma lista em que faziam parte cerca de produtos com a importação proibida, em razão da produção de similar nacional, foi abolida no período. Segundo Miranda (2001), em 1990, a maior parte das barreiras não tarifárias foi extinta e estabeleceu-se um cronograma de redução das tarifas de importação para vigorar entre 1991 e 1994, contribuindo para que a proteção industrial fosse drasticamente reduzida. A conseqüência desse conjunto de medidas foi o baixo crescimento da economia brasileira durante a década de 1990, embora tenha sido um pouco superior ao verificado nos anos 80 (década perdida). Nesse contexto, a indústria de calçados nacional, que apresentara um desempenho positivo na década de 80, sofreu com as conseqüências negativas do período, ao deparar-se com um crescimento vertiginoso das importações de calçados provenientes principalmente do Sudeste Asiático (Coréia do Sul, Tailândia, China, Indonésia, Filipinas, Hong Kong, Taiwan e Singapura). Esse quadro agravou-se a partir de 1994 com o início do Plano Real e com a sobrevalorização da moeda nacional, que barateou as importações e encareceu as exportações. Conseqüentemente, as empresas nacionais foram forçadas a se reestruturarem durante a década de 90, buscando mecanismos de proteção. Conforme mostra Miranda (2001), essa reestruturação foi centrada em quatro eixos básicos: concentração nas atividades de maior competência; redução da integração vertical; reorganização e compactação dos processos e layouts de plantas e profissionalização da gestão empresarial com a redução das hierarquias e níveis organizativos. A esse conjunto de estratégias pode-se acrescentar uma quinta, a maior interação entre as empresas, principalmente, entre as firmas aglomeradas. A esse respeito

81 70 Souza et alli (2001) afirmam que uma das formas de sobrevivência das empresas num ambiente competitivo é a inserção em modelos comunitários, nos quais as pequenas e médias empresas formam organizações coletivas e cooperativas para aumentar suas chances de manutenção de posições no mercado. A cooperação entre empresas, principalmente entre pequenas e médias, e instituições locais ocorreu na aglomeração calçadista de Birigüi. No período em análise, as empresas de calçados, juntamente com uma associação de classe, iniciaram esforços conjuntos de união como uma estratégia coletiva para enfrentar a crise dos anos 90. Antes de apresentar as características dessa cooperação, é necessário mostrar o desenvolvimento e a crise do aglomerado nos anos 90. Na década de 90 apesar das dificuldades enfrentadas pela indústria calçadista brasileira, 348 fábricas de calçados foram fundadas em Birigüi. O destaque ocorreu na primeira metade da década, com a instalação de 218 empresas, o que indica maior dificuldade na implantação de unidades fabris após O elevado número de empresas de calçados que iniciaram atividades no período foi acompanhado pelo desenvolvimento do aglomerado com a instalação de 70 firmas fornecedoras (fabricantes locais e representantes). As empresas fornecedoras seguiram a dinâmica da implantação das empresas de calçados e tiveram, na primeira metade dos anos 90, o período de maior desenvolvimento com 43 unidades (vide tabela 3.1). A ampliação na instalação de empresas de calçados e de fornecedoras reforça as questões apresentadas no primeiro capítulo, sobre as facilidades para o surgimento de novas empresas que as aglomerações industriais oferecem, em decorrência das reduzidas barreiras à entrada e à saída. No caso em estudo, observa-se que mesmo numa década de crise no setor industrial, um elevado número de unidades fabris iniciou atividades no município. Tabela 3.1 Implantação de empresas de calçados e de empresas fornecedoras na década de 90 Anos Produtores de calçados Empresas fornecedoras Fonte: Elaboração própria, com base nos dados do livro de registro de inscrição industrial, comercial e prestação de serviços da Prefeitura Municipal de Birigüi. Ressalta-se que, assim como nos anos 80, a maioria das empresas fornecedoras instaladas na década de 90 eram representações de firmas cuja produção era realizada em outra localidade. No entanto, o aumento no número de fornecedores instalados na cidade e o

82 71 crescimento das empresas com produção local indicam um adensamento da aglomeração industrial e um desenvolvimento da cadeia produtiva. As empresas fornecedoras com produção local ampliaram sua participação e representavam 30% das fábricas fundadas nos anos 90. Entre as firmas locais, destacam-se os fabricantes de saltos, solados, solas, moldes, fôrmas, injetados, matrizes; os fabricantes de facas e os fabricantes de etiquetas (vide tabela 3.2). Tabela Empresas fornecedoras e representantes instalados na década de 90 em Birigüi Empresas Fornecedoras Número de empresas Representantes de Fornecedores (máquinas, equipamentos, insumos e componentes) 49 Fabricantes de saltos, solados, injetados, matrizes, moldes e formas 10 Fabricante de embalagem e facas para calçados 6 Fabricante dublagens, etiquetas e fivelas 5 Total 70 Fonte: Elaboração própria, com base nos dados do livro de registro de inscrição industrial, comercial e prestação de serviços da Prefeitura Municipal de Birigüi. Como conseqüência do desenvolvimento do aglomerado, observa-se a ampliação da participação de Birigüi na indústria de calçado estadual e nacional (vide tabela 3.3). Na realidade, a melhoria nesses indicadores ultrapassa a década em foco e se estende até o começo da década seguinte (ano de 2001). Em 1990, o pólo produtivo concentrava 13,6% do número de trabalhadores da indústria de calçados no Estado de São Paulo e 3,7% do Brasil. Com relação ao índice de concentração, nota-se um aumento em relação aos anos 80, pois o coeficiente locacional de Birigüi no comparativo com o Estado de São Paulo aumenta de 47,8, em 1986, para 54,7, em Tabela 3.3- Evolução dos indicadores de concentração do município Birigüi na fabricação de calçados (empresas, empregados e índice de especialização) entre 1990 e 1995 Anos Índice de concentração do número de empregados em relação ao estado de SP Índice de concentração do número de empresas em relação ao estado de SP Índice de especialização Índice de concentração do número de empregados em relação ao Brasil Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da RAIS/MTb (1990,1995).

83 72 Os dados apresentados (tabela 3.1 e 3.2) são um indicativo de que as economias externas ampliaram a capacidade aglomerativa do pólo, aumentando o número de empresas de calçados instaladas e o número de empresas fornecedoras. Esses fatores permitiram um crescimento da participação da cidade na indústria de calçados estadual e nacional e um aumento da especialização da aglomeração. Deve-se observar que, em 1970, a cidade de Birigüi concentrava somente 4,2% do número de trabalhadores da indústria de calçados do Estado de São Paulo. Em 1995 essa participação atinge 21,3%. Esses indicadores tornam-se ainda mais expressivos quando a interpretação dos dados recai sobre a especialidade de Birigüi a produção de calçados infantis (vide tabela 3.4). Tabela 3.4- Estrutura do emprego desagregado na indústria de calçados do Brasil, do estado de São Paulo e de Birigüi em 1995 Tipo de calçados Birigüi % Estado de % Brasil % São Paulo Calçados de couro , , ,1 Tênis de qualquer material , , ,1 Calçados de plástico , , Calçados de qualquer material , , ,5 Total Fonte: Elaboração própria, com base no dados RAIS/MTb (1995). A partir de 1994, a base de dados sobre empregos formais (RAIS/MTb) permite maior nível de desagregação. Desde então é possível separar o emprego na indústria de calçados em quatro tipos: fabricação de calçados de couro; fabricação de tênis de qualquer material; fabricação de calçados de plástico e fabricação de calçados de outros materiais. O maior nível de desagregação permite melhor observação sobre a distribuição do emprego entre os diferentes tipos de calçados, segundo o material básico usado, pois, além de se verificar a concentração do emprego na indústria de calçados, é possível analisar em que tipo de produto (calçados de couro, tênis, plástico ou outros materiais) o emprego é mais concentrado. Os dados de Birigüi para o ano de 1995 registram o emprego de trabalhadores, que representava 21,3% do número de empregados da indústria de calçados no Estado de São Paulo e 4,75% em relação ao Brasil. No entanto, a análise do emprego desagregado nos quatro tipos de calçados também mostra alguns resultados interessantes. Conforme os dados da tabela, observa-se que no

84 73 segmento produtor de calçados de couro a participação de Birigüi no emprego gerado no Estado de São Paulo foi de 4,9% e em relação ao Brasil foi de 0,9%. Já com relação aos outros três segmentos, a participação da cidade aumentou substancialmente tanto em relação ao Estado de São Paulo como ao Brasil. Na fabricação de tênis de qualquer material a participação do aglomerado no estado foi de 37,2% e em relação ao Brasil foi de 8,7%. No segmento de calçados de plástico, a cidade concentrava mais de 90% dos empregos gerados no estado e 21,2% em relação ao Brasil. Portanto, neste tipo de calçados, praticamente todo o emprego gerado no Estado de São Paulo estava concentrado em Birigüi. No último item, que trata da fabricação de calçados de qualquer material, a participação do pólo foi de 38,3% em relação ao estado e de 12,6% em relação ao Brasil. Os dados apresentados evidenciam uma forte especialização de Birigüi no segmento de calçados confeccionados com outros materiais. Essas informações corroboram com a análise realizada no capítulo 2, que abordou a substituição do couro pelos chamados materiais alternativos (borracha, plástico, sintético e tecido) como principal matéria-prima para confecção dos calçados infantis. A predominância no uso dos materiais alternativos ocorreu logo após a segunda metade da década de 80. Os dados da tabela 3.4 indicam que somente 13% dos empregados de Birigüi, no ano de 1995, estavam relacionados à produção de calçados de couro. Apesar de ter aumentado a concentração e a especialização da aglomeração produtora de calçados de Birigüi, o desenvolvimento do pólo produtivo foi interrompido em alguns momentos por crises que atingiram a indústria calçadista, principalmente durante a implantação dos dois planos econômicos iniciados na década. De acordo com o presidente do SICVB, Marco Antônio Oliveira, os impactos decorrentes do Plano Collor começaram a ser sentidos a partir de setembro e outubro de No primeiro semestre do ano, um otimismo tinha contagiado o ambiente produtivo do aglomerado, apesar de as empresas não terem vendido nenhum par de calçados durante os primeiros 30 dias do Plano Collor (vide figura 3.1). Segundo o presidente do SICVB, entre 15 de abril e 15 maio as fábricas de calçados da cidade contrataram 900 trabalhadores e ainda precisavam de mais Informação extraída da entrevista realizada pelo jornal Folha da Região de 02/11/1990 com o presidente do SICVB. Para as próximas citações do jornal Folha da Região se adotará a sigla F R. 74 F R de 27/05/1990.

85 74 Figura 3.1 Página do jornal comentando a falta de empregados em Birigüi em Fonte: Folha da Região de 29/07/1990. No entanto, no último quadrimestre do ano, o aumento da taxa de juros e o enxugamento do crédito provocaram cancelamentos e quedas nos pedidos das fábricas de calçados do município, desencadeando uma crise generalizada (vide figura 3.2). Além disso, muitas empresas estavam com dificuldades para receber as duplicatas vencidas. Segundo Amauri César Bini, ex-proprietário da empresa de calçados Carbi, as dificuldades enfrentadas por sua empresa durante o Plano Collor levaram a uma paralisação e, posteriormente ao fechamento da fábrica. A principal dificuldade era a falta de capital de giro. A empresa tinha fechado uma grande venda de calçados para o grupo Pão de Açúcar, no entanto, o bloqueio dos recursos da fábrica inviabilizou a produção e as vendas. Segundo o empresário, o dinheiro das vendas foi depositado na conta da empresa, mas foi retido pelo governo federal, impossibilitando o início da produção.

86 75 Figura 3.2 Página do jornal comentando a crise do setor de calçados em Fonte: Folha da Região de 02/11/1990 A queda acentuada do emprego entre 1989 e 1990 evidencia a crise ocorrida no começo dos anos 90 (vide tabela 3.5). No ano de 1989, as empresas de calçados da cidade empregavam trabalhadores e no ano de 1990 o número de empregados foi reduzido para 8.445, o que representa uma queda de postos de trabalhos ou 31%. Outro indicador foi a queda na produção diária de calçados. Em 1989, a produção era de 138 mil pares/dia e, em 1990, reduziu para 120 mil pares/dia, registrando uma queda de 15% 75. Ressalta-se que a queda da produção só não foi maior por causa do bom desempenho das empresas no primeiro semestre de 1990, no entanto, no segundo semestre (entre outubro e dezembro) a paralisação e o fechamento de várias empresas causaram uma queda na produção de 80% em relação ao começo do ano 76. Tabela 3.5 Empresas de calçados e número de empregados de Birigüi entre 1989 e 1999 Anos Empresas Número de empregados Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da Rais/MTb ( ). No governo de Fernando Henrique Cardoso, com a implantação do Plano Real, houve um agravamento das condições da indústria nacional, devido principalmente a 75 Dados fornecidos pelo Presidente do SICVB, Marco Antônio de Oliveira, em entrevista a F R de 16/01/ Informação fornecida pelo presidente do SICVB a F R de 07/04/1991.

87 76 sobrevalorização cambial. A indústria de calçados, que já vinha sentindo os reflexos negativos da primeira fase liberalizante iniciada no governo Collor, teve sua situação agravada com o novo governo. Note-se que no começo do novo plano econômico, por volta do segundo semestre de 1994, as empresas de calçados de Birigüi aumentaram as vendas de calçados. Esse crescimento de vendas ocorreu devido ao aumento do poder aquisitivo da população brasileira decorrente da queda da inflação. Alguns empresários da cidade consideraram o ano de 1994 como um dos melhores períodos para vendas dos últimos cinco anos 77. Um exemplo foi o caso da Calçados Menopé que, em épocas normais, produzia cerca de pares de calçados por dia e, durante o primeiro semestre do Plano Real, aumentou em 28% sua produção passando a pares/dia 78. Na Calçados Kolli s, logo após o início da nova política econômica, ocorreu também um crescimento de 20% na comercialização dos calçados. Segundo o vice-presidente do SICVB e proprietário da empresa de calçados Klin, Carlos Alberto Mestriner, o aquecimento das vendas de calçados atingiu quase todas as 250 empresas que formavam o parque produtivo de Birigüi. O aumento da produção dessas fábricas mostra a grande explosão do consumo ocorrida no começo do Plano Real. No entanto, já no início de 1995, o aglomerado começou a sentir os efeitos negativos da política econômica. O exemplo da empresa de calçados Menopé, uma das firmas que experimentaram um aumento da produção de calçados no começo do plano, mostra a gravidade da crise. A Calçados Menopé enfrentou uma crise no início de 1995 que acarretou uma redução de 47% de seu quadro de trabalhadores, passando de 380 para 200 empregados. A empresa, por falta de recursos financeiros, pagou a rescisão de 22 empregados com tênis para crianças e adultos fabricados pela própria empresa 79. As fábricas de calçados Kiuti e Popi, duas das cinco maiores do município, enfrentaram as mesmas dificuldades. Na primeira, o número de empregados passou de 1900 para 1360, acarretando uma queda de 29%; já na Popi, 400 trabalhadores foram dispensados entre fevereiro e abril de A empresa de calçados Tip Toe, que produzia calçados infantis, juvenis e adultos, chegou a ter no primeiro trimestre de 1994 uma produção de pares/dia e empregava 300 trabalhadores. No mês de maio de 1995 sua produção reduziu-se para pares/dia confeccionados por 180 empregados. 77 Informação extraída da F R de 18/12/ F R de 18/12/ Informação extraída da F R de 13/05 e 7/7 de Informações extraídas da F R de 13/05/1995.

88 77 As dificuldades acarretadas pela sobrevalorização cambial foram de tamanha envergadura que uma empresa produtora de calçados infantis de Birigüi optou por importar calçados infantis da China 81. A estratégia da empresa consistia em adquirir calçados chineses, que vinham sem marca, colocando posteriormente uma etiqueta com a marca dela e, algumas vezes, os calçados já vinham com uma marca que a empresa havia licenciado. Esta empresa adquiriu por semana um container de calçados com cerca de pares, que eram vendidos a preços bem mais competitivos que os fabricados na própria cidade. Durante o tempo em que o real ficou sobrevalorizado, a firma utilizou-se dessa estratégia e experimentou um crescimento elevado, saltando para uma posição de destaque entre as fábricas da cidade e consolidando-se entre as cinco maiores no final da década. A crise desencadeada a partir de 1995 foi expressa, também, num manifesto entregue pelo SICVB à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) em julho, daquele ano, no qual o Sindicato comentava que o referido período foi o pior momento econômico vivido pelo nosso parque industrial em 40 anos de existência 82. Até a igreja católica uniu-se aos empresários e à Prefeitura para organizar a Feirão das Indústrias do Calçado de Birigüi (I FIBI), realizada entre os dias 7 a 11 de setembro de 1995, no salão da igreja Imaculada Conceição 83. O objetivo da feira, segundo Nalbero Vedovotto, era ajudar os empresários nas vendas de seus produtos para que eles pudessem pagar seus fornecedores e seus trabalhadores 84. Participaram dessa feira 56 empresas, sendo oito de confecções, uma de cinto, uma de bolsa e 46 de calçados. Já em dezembro do mesmo ano foi realizado a II FIBI. As dificuldades do período refletiram de forma mais intensiva na queda do número de empregados, que foi mais acentuada que a ocorrida no começo dos anos 90. Num levantamento realizado pelo Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Calçados de Birigüi, observa-se que, no primeiro semestre de 1995, foram feitas rescisões de contrato, sendo que o maior volume ocorreu entre o dia primeiro de junho e dez de julho, quando foram 81 Informação extraída durante pesquisa de campo no dia 27/04/2004. Optou-se por não divulgar o nome da empresa. 82 F R de 16/07/ Na realidade a primeira Feira Industrial de Birigüi (FIBI) foi realizada no ano de 1972 na escola estadual profª Stélio Machado Loureiro, segundo pesquisa no jornal O Birigüiense de 27/08/1972. Nesta edição o jornal comentou que alunos da referida escola foram até a capital paulista para divulgarem a realização da feira na TV Tupi e nos jornais da capital. Esta informação revela, portanto, as dificuldades das empresas de calçados da cidade que retomaram, 23 anos depois, a idéia de realizar uma feira para vender calçados a preços mais reduzidos para os consumidores da cidade e região. 84 F R de 07/09/1995.

89 78 registradas demissões 85. O resultado final foi uma queda substancial da mão-de-obra empregada nas fábricas entre 1994 e 1995 (vide figura 3.3). Figura 3.3 Página do jornal comentando a crise do setor de calçados em Fonte: Folha da Região de 13/05/1995. Em 1994 quando começou o Plano Real, a indústria de calçados de Birigüi empregava trabalhadores e, no ano de 1995, esse número caiu para 8.923, o que corresponde a uma diminuição de postos de trabalho, ou seja, 34%. Outra conseqüência imediata da crise foi o surgimento de empresas produtoras de calçados para outras, as chamadas subcontratadas, que corresponde a unidades fabris que produzem o calçado infantil por inteiro para as empresas locais 86. Segundo Nalberto Vedovotto, ex-diretor de qualidade do SICVB, a instalação das subcontratadas pode estar relacionada à crise vivida pelo parque produtivo de Birigüi entre os anos de 1994 e Nesse período, muitas empresas da cidade, na tentativa de se manterem no mercado começaram a confeccionar calçados para outras empresas, na esperança de retornarem depois com sua produção própria. No entanto, muitas acabaram entrando num círculo vicioso e permaneceram na condição de subcontratadas por tempo indeterminado. Entre as causas de permanência dessas firmas como produtoras de calçados para outras, estão a falta de capacidade para manter sua estrutura de vendas aberta (canais de comercialização), as 85 Informação extraída do jornal F R de 16/07/ Optou-se por chamar de subcontratadas as empresas que produzem calçados por inteiro para outras.

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