Apelação Cível n , da Capital Relator: Des. Fernando Carioni

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1 Apelação Cível n , da Capital Relator: Des. Fernando Carioni APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. MATÉRIA JORNALÍSTICA VEICULADA EM PERIÓDICO QUE NOTICIA MOVIMENTO GREVISTA DE MOTORISTAS E COBRADORES DO TRANSPORTE COLETIVO DE PASSAGEIROS. UTILIZAÇÃO DA IMAGEM DA AUTORA NO MOMENTO EM QUE PARTICIPAVA DA MANIFESTAÇÃO. FOTOGRAFIA QUE APENAS ILUSTROU A MATÉRIA. AUSÊNCIA DE CUNHO OFENSIVO, VEXATÓRIO OU DEPRECIATIVO. OFENSA AO DIREITO DA PERSONALIDADE NÃO CONFIGURADO. DEVER DE COMPENSAR RECHAÇADO. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n , da comarca da Capital (3ª Vara Cível), em que é Apelante Ana Paula Gonçalves e Apelado Editora Noticias do Dia Ltda.: A Terceira Câmara de Direito Civil decidiu, por votação unânime, negar provimento ao recurso. Custas legais. Participaram do julgamento, realizado nesta data, os Exmos. Srs. Des. Marcus Túlio Sartorato e Saul Steil. Florianópolis, 3 de abril de Fernando Carioni PRESIDENTE E RELATOR

2 RELATÓRIO Trata-se da Ação de Indenização por Danos Morais n proposta por Ana Paula Gonçalves contra Jornal Notícia do Dia, na qual relatou trabalhar como cobradora de ônibus e que, em 4 de julho de 2013, participou de movimento grevista, ocasião em que a requerida veiculou uma fotografia sua em que aparenta estar parando o trânsito dos coletivos, embora os veículos estivessem parados e diversas pessoas a frente deles. Acrescentou que a reportagem tinha como título Não passa. Motoristas e cobradores começam bloqueio no final de tarde, o que denota a nítida intenção de a caluniar. Postulou, diante disso, a procedência do pedido para que a ré fosse condenada na reparação do constrangimento e do abalo moral que lhe ocasionou. Deferido o benefício da justiça gratuita à autora. Citada, a ré apresentou contestação, na qual alegou que a matéria veiculada tinha interesse social e noticiava o movimento de greve dos motoristas e cobradores de ônibus, momento em que a autora estava no local protestando. Sustentou não ter havido intuito de agredir moralmente a demandante, de sorte que inexiste danos morais a serem reparados. Pugnou, ao final, pela improcedência do pedido. Houve réplica. Conclusos os autos, o MM. Juiz de Direito da 3ª Vara Cível da comarca da Capital, Dr. Humberto Goulart da Silveira, proferiu sentença nos seguintes termos: Ante o exposto, com fundamento no art. 487, I, do CPC, e com fulcro no art. 355, I do CPC, julgo improcedentes os pedidos formulados por Ana Paula Gonçalves contra Jornal Noticia do Dia. Condeno a autora ao pagamento das despesas processuais, bem como dos honorários advocatícios, fixados em R$ 1.000,00 (um mil reais), a teor do

3 que preceitua o art. 85, 8º, do Código de Processo Civil, cuja exigibilidade fica suspensa nos moldes do art. 98, 3º do CPC, eis que beneficiária da justiça gratuita. Descontente, a autora interpôs recurso de apelação cível, na qual alegou excesso na notícia veiculada pela ré, uma vez que buscou fazer uma chamada sensacionalista ao exibir sua imagem como se estivesse parando o trânsito dos ônibus de transporte, fato que denegriu a sua imagem. Com as contrarrazões, os autos foram remetidos a este Tribunal. Este é o relatório.

4 VOTO A insurgência tem por desiderato reformar a sentença que julgou improcedente o pedido formulado nos autos da ação de indenização por dano moral pelo uso não autorizado de imagem em matéria jornalística veiculada em periódico de circulação estadual. A responsabilidade civil e a obrigação de indenizar estão previstas no art. 927 do Código Civil, segundo o qual "aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo". O art. 186 do Código Civil, por seu turno, esclarece em que consistem essas condutas antijurídicas que, se praticadas, ensejam a reparação civil: "aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito". Regina Beatriz Tavares elenca os elementos essenciais para a caracterização dessa responsabilidade: Para que se configure o ato ilícito, será imprescindível que haja: a) fato lesivo voluntário, causado pelo agente, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência; b) ocorrência de um dano patrimonial e/ou moral, sendo que pela Súmula 37 do Superior Tribunal de Justiça serão cumuláveis as indenizações por dano material e moral decorrentes do mesmo fato; c) nexo de causalidade entre o dano e o comportamento do agente (Código Civil comentado. São Paulo: Saraiva, p. 157). Trata-se, pois, da responsabilidade civil subjetiva, porquanto "se esteia na ideia de culpa. A prova da culpa do agente passa a ser pressuposto necessário do dano indenizável. Dentro dessa concepção, a responsabilidade do causador do dano somente se configura se agiu com dolo ou culpa" (GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. São Paulo: Saraiva, p. 21). Além disso, no que se refere especificamente à tutela do direito à imagem, dispõe o artigo 5º, X, da Constituição Federal serem invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o

5 direito à indenização pelo dano moral oriundo de sua violação. No caso em exame, pretende a apelante ser ressarcida por prejuízos de ordem moral que afirma serem advindos da veiculação da sua imagem em movimento grevista que sugere estar bloqueando o trânsito de coletivos, veiculadas no Jornal Notícia do Dia. Alega, para tanto, que houve excesso na matéria jornalística, que lhe causou constrangimento e abalo moral. Não obstante, como bem retratou o douto Togado sentenciante, É evidente o cunho jornalístico da matéria em questão, estando presente o interesse público diante do direito de informação, possuindo o réu o único intuito de noticiar o movimento de greve dos motoristas e cobradores de ônibus, de modo que inexiste o objetivo de macular a imagem da autora, uma vez que não restou claro ser a sua pessoa o foco da reportagem, cabendo ainda destacar que em nenhum momento foi mencionado o seu nome. Ademais, A autora encontrava-se, de fato, fazendo parte da manifestação e, por coincidência, apareceu na imagem veiculada. Vale dizer que foi um risco que assumiu, pois estava ciente de que haveria a presença de meios de comunicação no local. Se alguém expõe sua imagem em cenário público, não é ilícita ou indevida a sua reprodução pela imprensa, uma vez que a proteção à privacidade encontra limite na própria exposição realizada (fl. 46). Desse modo, a toda evidência, a matéria publicada no periódico não teve o objetivo macular a honra da recorrente, tampouco a sua fotografia foi utilizada de maneira vexatória, depreciativa ou agressiva, servindo apenas para ilustrar a matéria jornalística. Nesse diapasão, tem-se que, embora a apelante não tenha autorizado o uso de sua imagem, não ficou caracterizada a ofensa à personalidade, principalmente se considerarmos que ela participava do movimento grevista da sua categoria profissional, em local público e de notória participação da imprensa.

6 Além disso, não demonstrou a recorrente que a utilização de sua imagem tenha lhe causado grande sofrimento, sentimento de humilhação ou abalo psicológico. Alias, a apelante sequer alega algo nessa linha, limitando-se a afirmar que foi exposta a uma situação constrangedora, mas sem consequências que ultrapassem o mero aborrecimento. Por conseguinte, não ficou caracterizado o ato ilícito imputado à empresa apelada, razão pela qual não esta configurada a responsabilidade e o dever de indenizar. A respeito, colhe-se da jurisprudência deste Tribunal de Justiça: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. USO DA IMAGEM DA AUTORA EM MATÉRIA JORNALÍSTICA SEM AUTORIZAÇÃO E VINCULADA AO COMPORTAMENTO DE SALVA-VIDAS. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. [...] AUSÊNCIA DE ANIMUS DIFAMANDI, CALUNIANDI OU INJURIANDI. DIREITO CONSTITUCIONAL À INFORMAÇÃO E À LIBERDADE DE IMPRENSA. FOTOGRAFIA QUE SOMENTE ILUSTROU A REPORTAGEM. SEM FINS COMERCIAIS. ABALO MORAL NÃO CONFIGURADO. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. "A utilização indevida de imagem, embora reprovável, só acarreta indenização por danos morais quando tiver fins comerciais e houver ofensa à personalidade" (Apelação Cível n , de Blumenau, rel. Des. Monteiro Rocha, julgada ) (TJSC, Apelação Cível n , da Capital, rel. Des. Jairo Fernandes Gonçalves, j. em ). APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ORDINÁRIA DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. VEICULAÇÃO DE SUPOSTA FOTO DO AUTOR EM REVISTA DE CIRCULAÇÃO NACIONAL EM MATÉRIA JORNALÍSTICA REFERENTE AO ALCOOLISMO. DIVULGAÇÃO NÃO OFENSIVA. ABALO MORAL NÃO CARACTERIZADO. INVERSÃO DOS ÔNUS SUCUMBENCIAIS. RECURSO PROVIDO. Ainda que não haja comprovação inequívoca de que a utilização da imagem não foi autorizada expressa ou tacitamente, seu uso não foi potencialmente lesivo à pessoa do postulante, não sendo capaz de prejudicá-lo ou de reduzir seu conceito perante a sociedade. Por isso, afasta-se a necessidade de indenização por danos morais. [...] (AC n , Des. Subst. Henry Petry Junior). (TJSC, Apelação Cível n , de Gaspar, rel. Des. Sérgio Izidoro Heil, j. em ). Desse modo, não caracterizado o ato ilícito, mantém-se a sentença de improcedência do pedido. À vista do exposto, nega-se provimento ao recurso para manter

7 inalterada a sentença. Condena-se a autora no pagamento dos honorários recursais, fixados em R$ 200,00 (duzentos reais), nos termos do disposto no art. 85, 11, do CPC, observada a gratuidade judiciária deferida. Este é o voto.