Concepção espacial: metodologia de composição aplicada em espaços residenciais

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1 1 Concepção espacial: metodologia de composição aplicada em espaços residenciais Ana Carolina Gomes Sampaio Pereira Design de Interiores: Ambientação e Produção do Espaço Instituto de Pós-Graduação IPOG Vila Velha, ES, 04 de março de 2017 Resumo O artigo apresenta um método utilizado para compor espaços residenciais que sejam bonitos e ao mesmo tempo funcionais, atendendo aos anseios do cliente, visto que apresentar soluções de moradia diferenciadas, torna-se um desafio para os profissionais de design de interiores. Tal desafio torna-se fato quando surge o seguinte problema: como projetar espaços de alta qualidade estética sem perder a funcionalidade destes, levando também em consideração as necessidades do cliente? Diante disso, o objetivo desse artigo será o de mostrar como o método de composição aplicado num espaço residencial permite, simultaneamente, funcionalidade e estética. Para contextualizar a pesquisa foi feita uma revisão bibliográfica sobre o assunto e posteriormente a apresentação da pesquisa de campo, mostrando o método aplicado por um escritório de design para a composição espacial de um apartamento, tipo loft. Os resultados encontrados significam que com esse método é possível desenvolver um espaço com alta qualidade estética e que seja funcional. Logo, conclui-se que o método de concepção espacial utilizado é funcional e permite apresentar aos clientes diferentes opções para alcançarem o que buscam. Palavras-chave: Composição. Espaço. Estética. Funcional. Loft. 1. Introdução Esse artigo aborda os resultados de um método aplicado por um escritório de design para a composição de um apartamento, tipo loft, como forma de apresentar possíveis opções de planta para venda da unidade residencial. A elaboração desse estudo foi motivada durante o módulo de Composição e linguagem espacial no design de interiores, onde o professor apresentou um método que poderia ser uma alternativa para a concepção/organização dos espaços internos, visando apresentar ao cliente diferentes opções para alcançar o que busca. Projetar e apresentar soluções diferentes são o principal desafio dos profissionais do design de interiores. Um projeto bem elaborado deve levar em consideração fatores objetivos e subjetivos. Conforme Gurgel (2002), o papel do design de interiores é o de criar ambientes onde a estética e a funcionalidade convivam em harmonia, e que seja um reflexo das aspirações individuais. Então, para iniciar um projeto se faz necessário estudar a personalidade do cliente e entender quais são os seus desejos (diretrizes projetuais x condicionantes). Logo, surgiu o seguinte questionamento: como projetar espaços com alta qualidade de estética sem perder a

2 2 funcionalidade e usos condicionados pelo cliente? É de suma importância estudar esse método, visto que pretendemos aliar o que para o cliente é considerado belo, bonito e a sua vontade, com a funcionalidade dos espaços. Também é importante ressaltar que com esse método pretende-se desenvolver um espaço bonito, interessante e único, além de funcional, já que são os percursos e usos que irão nortear o projeto de concepção espacial. O objetivo geral da pesquisa é mostrar como o método de composição aplicado num espaço residencial permite, simultaneamente, funcionalidade e estética. Já os objetivos específicos, consistem em apresentar os fatores objetivos e subjetivos que condicionam o projeto, descrever os diferentes espaços que compõem uma residência e seus usos e conhecer o método de composição espacial. O desenvolvimento desse artigo é uma pesquisa bibliográfica. Conforme Gil (2008:44) A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. No decorrer da revisão bibliográfica se buscou contextualizar como o projeto adequado para compor os diferentes espaços de uma casa, deve propiciar o acontecimento de todas as atividades às quais uma casa se destina, ou seja, um local onde se possa dormir, comer, guardar coisas importantes, receber os amigos, viver e se sentir protegido. A apresentação dos resultados dessa pesquisa se constitui numa pesquisa de campo. Para Prodanov e Freitas (2013:59), a pesquisa de campo é aquela utilizada com o objetivo de conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um problema para o qual procuramos uma resposta. Como qualquer outro tipo de pesquisa, a de campo parte do levantamento bibliográfico, conforme apresentado a seguir. 2. Fatores condicionantes do projeto de desing de interiores Um bom projeto de design de interiores deve ter como objetivo organizar as partes como um todo para atingir o que se espera. O design de interiores, conforme Ching e Binggeli (2006: 44), tem como objetivo a melhoria funcional, o aprimoramento estético e a melhoria psicológica dos espaços internos. O projeto de desing de interiores pode ser visto como uma solução imaginada para resolver um problema existente, enquanto que o processo de desenvolvimento do projeto geralmente inicia-se com base num modelo de situação real, o que reune uma série de fatores condicionantes de projeto. Estes fatores condicionantes são apresentados a seguir Fatores objetivos Os fatores objetivos estão ligados à ideia de alívio do desconforto consequente das sensações de dor e/ou insegurança, originados da exposição direta ao ambiente natural e ao perigo. De acordo com Gurgel (2002:17), os fatores objetivos são aqueles regidos por normas técnicas, medidas ergonométricas, pela topografia, pelo clima, entre outros, e mais recentemente pelos conceitos de sustentabilidade e ecodesign. Em outras palavras, os fatores objetivos são aqueles que garantem a integridade física humana e devem ser considerados num projeto de design de interiores, a saber, a segurança, a adequação da residência ao ambiente (terreno) e a ergonomia. A segurança acaba sendo um condicionante objetivo, visto que funciona como base para o

3 3 bem estar, pois ela está na base da própria existência dos seres humanos. Tal segurança se dá com relação não só às intempéries, mas também com relação a outros sujeitos. A adequação ambiental é um outro exemplo de fator objetivo. Nos escritos de Vitruvio (2006) apud Silva e Santos (2011:144) podemos encontrar a preocupação com a adequação entre a arquitetura, clima e os efeitos dessa adequação para a saúde. [...] A funcionalidade é definida como a correta adequação do uso do solo e a orientação com relação à exposição solar. Não se pode deixar de mencionar a ergonomia como condicionante objetiva do design de interiores, uma vez que as preocupações relacionadas a altura das superfícies, a luminosidade e emprego de materiais devem ser considerados no projeto Fatores subjetivos Os fatores objetivos mencionados acima, possuem uma estreita relação com os condicionantes subjetivos. Para Gurgel (2002:17) os fatores subjetivos estão diretamente relacionados com a utilização propriamente dita do espaço, do ambiente, com todos os detalhes referentes às atividades que nele serão realizadas e com todas as preferências pessoais de quem o ocupará. Podem ser considerados condicionantes subjetivos: o território, o lar, a privacidade e a beleza. O território, que possui uma estreita relação com a sensação de segurança, é definido por Fischer (1984) apud Silva e Santos (2011:147) como: [...] o uso que fazemos de lugares segundo os significados psicológicos e culturais que lhe conferem quadros sociais. Um território corresponde geralmente a um espaço físico delimitado; é muitas vezes organizado para uma atividade definida e para acolher uma pessoa ou um grupo. O lar toma outro sentido quando configura o abrigo familiar seguro que comporta as relações de entes queridos que se amparam e estabelecem uma mútua relação de confiança entre si. O projeto de design deve considerar que em um lar há sempre lembranças, que vão desde uma simples conversa a um cheiro diferente e agradável. Um lar guarda também a história daqueles que lá habitam. Quanto à privacidade, uma pessoa também precisa de momentos de isolamento ou de compartilhar com outra pessoa um momento íntimo, nesse sentido, as residências passaram a ser divididas em compartimentos. A partir disso, Silva e Santos (2011) esclarecem que com o tempo as residências foram sendo divididas em cômodos, embora as algumas atividades permanecessem compartilhadas, o que as tornam mais privadas. Por fim, a respeito da beleza, pode-se iniciar o conceito de belo como imitação da natureza. Para Botton (2007) apud Silva e Santos (2011:149) considera-se que obras de arte são belas quando conseguem evocar aqueles que nos parecem ser os atributors mais atraentes e significantes dos seres humanos e animais. Logo, o projetista deve avaliar junto ao morador qual é o seu conceito de belo para desenvolver o projeto. Em resumo, um projeto de design de interiores está condicionado por fatores objetivos e subjetivos. Os fatores objetivos estão ligados aos anseios mais primitivos do ser humano, enquanto que os subjetivos estão relacionados ao que é difícil de mensurar, mas é imprescindível para a sensação do bem-estar. Esses dois fatores funcionam sempre de forma

4 4 interligada, visto que as condicionantes subjetivas estão correlacionadas com as sensações que o ambiente residencial pode trazer. 3. Os espaços residenciais e seus usos O espaço que será discutido nesse artigo é o espaço compreendido entre as paredes, teto e o piso de um ambiente/casa. Esse espaço pode ser dividido como espaço social e espaço privativo. Conforme Ching Binggeli (2006:57): Os seres humanos, assim como os animais, têm a percepção dos usos apropriados do espaço em torno de seus corpos, o que varia conforme grupos, a cultura e os indivíduos de um grupo. Isso se chama de espaço territorial ou de defesa de um indivíduo. Os outros têm a permissão de penetrar nessas áreas somente por curtos perídos de tempo. A presença de outras pessoas, objetos e do ambiente imediato pode expandir ou contrair nossa sensação de espaço pessoal. A invasão do espaço pessoal de um indivíduo pode afetar sentimentos da pessoa e as reações em relação a tudo em torno dela. Apresenta-se a seguir cada local onde são desenvolvidas as várias atividades dentro de uma residência, visto que em cada um dos diferentes espaços encontramos áreas com distintas funções e necessidades, que se relacionam conforme seus usos Espaços sociais Para Gurgel (2002), o espaço social é composto pela sala de estar, almoço/jantar, TV, lavabo, varandas, cozinha, copa, lavanderia, escritórios, etc. Esses ambientes devem proporcionar uma atmosfera de convivência entre as pessoas, estimular a conversação, inspirar o relaxamento e a concentraçao. É imprescindível que o projetista estude a dinâmica das relações entre as pessoas que utilizarão o espaço, bem como o que elas esperam desses ambientes. A autora ainda complementa que deve ser feito um levantamento criterioso das atividades que serão realizadas nos espaços sociais, bem como todos os elementos que necessariamente devem estar presentes no projeto para que as atividades ocorram de modo satisfatório Sala de Estar É um espaço destinado a convivência familiar, recepções sociais ou simplesmente um local para relaxamento ou refúgio. Para um projeto que atenda aos usos que essa área terá, é importante definir que atividades acontecerão neste espaço, quantas pessoas e com que frequência o utilizarão Sala de almoco/jantar É necessário que esteja localizada próximo da cozinha e com fácil acesso a mesma Copa

5 5 É um local para se reunir a família e onde as pessoas passam muitas horas, por isso deve ser aconchegante Sala de TV (Home Theater) É um ambiente muito popular, e muito solicitado nos projetos ou reformas residenciais. A sala de TV ou home theater, veio como solução inteligente para reagregar a família e mantê-la dentro de casa, onde teoricamente, a vida é mais segura. O mais importante deste ambiente é saber que equipamentos serão utilizados para dimensionar o espaço de acordo com suas especificações técnicas Cozinha A cozinha reflete o estilo de vida de uma família. Seu tamanho será determinado pela importância que esse ambiente tem no contexto familiar Lavanderia As atividades básicas dessa área são: lavar, passar, secar e guardar roupas. Sua localização deve permitir um fácil acesso a área externa, onde serão penduradas as roupas Banheiros e lavabos Os banheiros podem ser locais simples e racionais ou verdadeiras salas de banho com sauna, spa e área de repouso. Para algumas famílias é o local onde se deve permanecer o tempo necessário para fazer a higiene pessoal. Para outras, são locais para descancar e relaxar, devendo ser espaços confortáveis Escritório As famílias costumam exercer suas atividades em escritórios dentro de casa. Neste ambiente deve-se atentar para as facilidades que a tecnologia permite, tal como o wireless internet Varandas e sacadas Em caso de apartamentos, é necessário consultar a legislação condominial antes de fazer qualquer alteração na fachada de um prédio, visto que a maioria deles não permite alterações nas varandas e sacadas. Numa reforma, a varanda pode ser utilizada para ampliar o espaço útil do apartamento Espaços privativos Nesse tipo de espaço ficam situados os dormitórios (casal, criancas/adolescentes, bebê, solteiros e hóspedes), além de closets e banheiros/lavabos. Para Gurgel (2002:143): dormir é uma necessidade básica do ser humano e o espaco destinado a essa atividade deve ser relaxante, ventilado e bem iluminado. Ler, relaxar, ver TV, ouvir música, escrever, organizar as próprias coisas e finalmente dormir são as atividades que podem acontecer num dormitório. O projeto de desing de interiores deve considerar cada uma dessas atividades, conforme o tipo

6 6 de dormitório em questão Dormitório de casal O tamanho da cama irá variar de acordo com tamanho do espaco. Deve haver uma boa circulação nos dois lados da cama Dormitório de criancas e adolescentes Num quarto infanto-juvenil, a função primária será a de repousar e dormir. Mas com o passar do tempo a necessidade do espaço começa a mudar. É um lugar de refúgio, brincadeira, onde se recebe os amigos, assiste-se a TV, joga-se videogame, se estuda e por fim as crianças vão dormir Dormitório do bebê É um espaço para dormir, então precisa ser silencioso e acolhedor. As superficieis devem ser de fácil limpeza, a temperatura agradável e com uma boa ventilação Dormitório de solteiro Esse espaço pode ser privativo ou um local para receber os amigos. Pode ter TV, DVD, som, bancada para escrever, entre outros diferentes objetos Dormitório de Hóspedes Se o espaço da residência não permitir, esse ambiente poderá ter dupla função, isto é, um escritório com portas de correr ou sanfonadas pode ser utilizado, quando possível, como quarto de hóspedes Closet Antes considerado um espaço de luxo, hoje cada vez mais, os closets são incluídos nos projetos e tornaram-se indispensáveis para a maioria das pessoas. As atividades possíveis e as várias composições de um closet irão depender do tamanho da área destinada ao mesmo. 4. O método de concepção espacial 4.1. Necessidades do usuário Para Gurgel (2002), as razões que levam a uma obra de reforma são as mais variadas. Por exemplo, a necessidade de um novo dormitório para o filho que cresceu, a aquisição de um novo imóvel, a ampliação do banheiro ou mesmo um familiar idoso que passa a morar na casa. Seja qual qual for o motivo da reforma, levante quais são as necessidades do cliente e quais os problemas que devem ser solucionados para que o projeto seja funcional. Ching e Binggeli (2006:64) também escreveram sobre a funcionalidade de um projeto: Um critério primordial para se julgar o sucesso de um projeto de interiores é se ele é funcional. Funcionalidade é o nível mais fundamental de projeto. Projetamos para melhorar o funcionamento dos espaços internos e tornar mais convenientes as tarefas e atividades que neles executamos. O funcionamento adequado de um projeto está, naturalmente, diretamente relacionado aos propósitos daqueles que o habitam e

7 7 usam, assim como as suas habilidades e dimensões físicas. Em outras palavras, é necessário traduzir as necessidades dos clientes e integrá-las ao contexto espacial. Para análise de tais necessidades Ching e Binggeli (2006:64) elaboraram o seguinte check-list: a) Necessidades do usuário Identifique os usuários (indivíduos, grupos de usuários, características de usuários, grupos etários) Identifique as necessidades (necessidades e habilidades individuais específicas, necessidades e habilidades de grupos) Estabeleça as necessidades territoriais (espaço pessoal, privacidade, interação, acesso e segurança) Determine as preferências (objetos favorecidos, cores favoritas, locais espaciais e interesses especiais) Investigue as preocupações ambientais b) Necessidades das atividades Identifique as necessidades primárias (nome e função das atividades primária e secundária ou relacionadas) Análise da natureza das atividades (ativas ou passivas, ruidosas ou silenciosas, públicas ou privadas, com que frequência o espaço será usado?, em que horários do dia ou da noite?) Determine as exigências para: privacidade, acesso, diretrizes de acessibilidade, flexibilidade, luz, qualidade acústica, segurança, manutenção e durabilidade c) Necessidades de acessórios Determine as necessidades de equipamentos e acessórios para cada atividade (número, tipo e estilo de assentos, mesas, superfícies de trabalho, unidades de armazenagem e acessórios) Identifique outros equipamentos especiais necessários (iluminação, eletricidade, mecânica, tubulações, tecnologia de informação e comunicações) Estabeleça exigências de qualidade para acessórios (conforto, segurança, variedade, flexibilidade, estilo, durabilidade e manutenção) Desenvolva layouts possíveis (agrupamentos funcionais, layouts customizados e layouts flexíveis Selecionar e escolher o layout que melhor se adapta as necessidades do cliente é uma tarefa cautelosa e que requer análise de todos os componentes envolvidos no projeto. A solução ideal será aquela que melhor atenda aos anseios dos moradores/usuários. A partir da análise de todos estes condicionantes, é gerada uma diversidade de soluções projetuais, que são analisadas e priorizadas, levando à escolha do projeto final. Todo esse processo é acompanhado pela concretização das novas ideias geradas e explícitadas por intermédio da expressão gráfica (layouts em seus diferentes níveis de necessidades).

8 A concepção de espaços Planejar um espaço envolve o uso eficiente e produtivo desses ambientes, ou seja, é necessário adequar os padrões de moradia aos padrões arquitetônicos do espaço. Ching e Binggeli (2006:66) usam o termo planejamento do espaço para se referir à tarefa específica de se planejar e projetar espaços de grande escala. Nesse sentido estrito, os planejadores de espaço programam as necessidades dos clientes, estudam as atividades dos usuários e analisam as exigências espaciais. Em outros termos, um projeto deve alocar adequadamente os espaços internos desejados ou disponíveis para as várias atividades exigidas. Outros pontos, que devem ser observados com relação às atividades durante a concepção espacial, foram mencionados por Ching e Binggeli (2006:69): Certas atividades podem exigir uma relação de intimidade ou adjacência entre si, ao passo que outras podem estar mais distantes ou isoladas, por questões de privacidade. Algumas atividades podem exigir uma fácil acessibilidade; outras podem precisar de entradas e saídas controladas. Algumas atividades podem exigir iluminação ou ventilação natural, já outras talvez não precisem estar localizadas perto de janelas externas. Algumas atividades podem ter exigências específicas, enquanto outras podem ser mais flexíveis ou permitir a divisão de um espaço comum. Conforme os espaços internos estão organizados, o projetista irá iniciar a concepção espacial. A própria configuração do espaço dará dicas ao profissional de como ele pode ser melhor utilizado. Por exemplo, o acesso a um espaço pode definir um padrão de movimento que divide a área em zonas. Cabe ressaltar que o zoneamento de um espaço pode ser definido pelo formato do recinto ou pela arquitetura. Após verificar as demandas das atividades e o espaço, o projetista irá relacionar as características espaciais de cada atividade com as caracterísiticas dos espaços disponíveis. Surge a partir de então uma nova demanda que é a de selecionar e dispor o mobiliário, os acessórios e os pontos de iluminação. Essa concepção do espaço deve atender tanto aos critérios funcionais como estéticos, apresentados abaixo: Função Agrupamento de mobiliário conforme atividades específicas Dimensões e afastamentos adequados Distâncias sociais apropriadas Privacidade visual e acústica correta Flexibilidade ou adaptabilidade adequada Iluminação apropriada e outros serviços elétricos ou mecânicos Estética Orientação apropriada em relação à luz, à vista ou um foco interno Escala apropriada à função Agrupamento visual : unidade com variedade Leitura de padrões geométricos em plantabaixa Forma, cor, textura e padrão Orientação apropriada em relaçaõ a Composição tridimensional: ritmo, harmonia, equilíbrio Tabela 1 Critérios funcionais e estéticos Fonte: Ching e Binggeli (2006:72-73)

9 9 Em síntese, a concepção espacial visa o uso eficiente dos espaços adequando-os aos padrões de conforto, estética e funcionalidade exigidos pelo cliente. Para conhecer as exigências do usuário, o projetista precisa fazer um levantamento cuidadoso das necessidades de todos os envolvidos, alocando adequadamente os espaços internos para as várias atividades que irão ocorrer naquela residência. Como exemplo, a seguir, apresenta-se a aplicação do método de concepção de espaços em um apartamento. 5. Os resultados da pesquisa sobre a aplicação do método de concepção espacial Os dados da pesquisa apresentados a seguir foram coletados através de uma entrevista não padronizada e não estruturada. Nesse tipo de entrevista, conforme Prodanov e Freitas (2013:106), não existe rigidez de roteiro; o investigador pode explorar mais amplamente algumas questões, tem mais liberdade para desenvolver a entrevista em qualquer direção. Em geral as perguntas são abertas O espaço de aplicação do método Conforme apresentado no item 3 deste artigo, o espaço aqui tratado será o residencial, especificamente um apartamento do tipo loft. Os apartamentos vêm ganhando cada dia mais adeptos devido a sua praticidade e segurança. Nesse tipo de construção não se pode alterar a fachada, porém internamente podem ser usadas alterações respeitando os elementos estruturais e tubulações centrais. Um loft, é descrito por Gurgel (2002:284) como construções centrais de cidades como Paris, Londres e Nova York, que foram desocupadas por indústrias ou grandes depósitos. Para serem usados como moradia, a estes espaços foram adaptados banheiros, cozinhas e algumas divisões internas para permitir maior privacidade aos seus ocupantes. Esse tipo de construção permite maior integração entre os espaços, flexibilidade e otmização da arquitetura, tornandoo atemporal. O nome do edifício, Saint Tropez, é o mesmo de uma conhecida cidade francesa de veraneio, de mar azul e sol intenso. O espaço conta com áreas sociais (cozinha, área de serviço, banheiro, sala de estar, sala de jantar e varanda), áreas privadas (escritório, quarto com suíte) além de uma área de lazer para pequenas reuniões, com SPA, churrasqueira e um pequeno salão de festas. A área de lazer é não é privativa e pode ser usada pelos demais condôminos As necessidades do cliente Numa reunião, o cliente apresentou seu projeto arquitetônico residencial multifamiliar (apartamento), já aprovado por uma Prefeitura Municipal do interior do estado do Espírito Santo. O cliente, que é uma construtora de pequeno porte, informou que gostaria de alterar o público alvo do empreendimento, cuja proposta inicial era a de lançar um empreendimetno com apartamentos de 2 quartos para a classe média/alta. Devido às mudanças no cenário econômico e de mercado, a empresa decidiu lançar um empreendimento para a classe alta, com apartamentos de um quarto, estilo loft, com ambientes integrados e que atendessem a diferentes ambientações, ou seja, diferentes grupos sociais. Porém, a arquitetura não poderia sofrer alterações radicais, visto que o projeto já estava aprovado na Prefeitura Municipal. O cliente solicitou que a fachada do loft deveria

10 10 remeter ao verão As condicionantes do projeto Após a reunião com o cliente, buscou-se entender o contexto urbano onde o edíficio estava inserido. Foram elencadas todas as condicionantes arquitetônicas e climáticas do apartamento. Após esse levantamento, a arquiteta responsável, em conjuntno com as estagiárias, fizeram um brainstorming, que de acordo com o dicionário eletrônico Wikipedia, significa literalmente tempestade de cerebral, em inglês e na prática, uma tempestade de ideias. Essas ideias partem do grupo envolvido na criação de um projeto, onde os participantes podem expor até as coisas mais esdrúxulas. O objetivo dessa técnica é o de explorar a potencialidade criativa de um indivíduo ou de um grupo/equipe. A partir disso foi possível, por meio de diagramas analíticos, setorizações (ilhas estimulantes) e setas/linhas de fluxo, promover a elaboração de diferentes ambientações, de caráter alternativo que atendessem diferentes tipologias familiares, por exemplo, um jovem solteiro, um casal recém casado ou um casal de idosos O método Inicialmente o método começa com a marcação dos elementos que não podem sofrer alterações devido a arquitetura ou exigência do próprio cliente, como por exemplo esquadrias (janelas e portas) ou área molhadas (banheiros e cozinhas). Após esse levantamento, elencam-se quais os usos que o espaço deve abrigar, tendo em vista quais são as necessidades espaciais e verificando-se os aspectos relacionados ao conforto (ventilação, iluminação, acústica, etc). A partir disso, inicia-se a divisão dos espaços/usos por meio de manchas ou bolhas, considerando toda a análise anterior e o espaço é dividido por meio de fluxos que desejam-se criar e promover nos ambientes, como a exemplo as figuras 1 e 2. Figura 1 - Pavimento Térreo Fonte: Elaborado por Pereira et al. (2015)

11 11 Figura 2 - Pavimento Superior Fonte: Elaborado por Pereira et al. (2015) Após a definição dos fluxos é feita a composição espacial, como representado pelas figuras 3 e 4. Figura 3 - Pavimento Térreo Fonte: Elaborado por Pereira et al. (2015)

12 12 Figura 4 - Pavimento Superior Fonte: Elaborado por Pereira et al. (2015) 5.5. A aplicação do método Os layouts a seguir tiveram por objetivo aproximar as atividades que são compatíveis dentro de um ambiente residencial como cozinha, área de serviço, banheiro, estabelecendo por meio da circulação direcionada/forçada e disposição dos mobiliários, a distinção entre as áreas sociais (sala de estar, varanda, sala de jantar) e áreas privativas (escritório e quarto com suíte). Dessa forma foi possível apresentar ao cliente diversas opções, visto que um mesmo espaço pode oferecer variadas dimensões e oportunidades. As propostas 1, 2 e 3 foram pensadas em sua disposição para atender tanto jovens solteiros como recém-casados ou casais sem filhos, visto que em todas estas propostas é possível o alcance visual e a integração lumínica e sonora entre os ambientes criados e atividades. A proposta 1 se difere das propostas 2 e 3 por conta das cores e mobiliários utilizados. Na propota 1 foram utilizados tons mais aconchegantes e tadicionais, além de um mobiliário mais planejado. Já nas propostas 2 e 3 foram utilizados mobiliários prontos que permitem maior flexibiliade e mudanaça. Na proposta 1 pode ser percebida uma peculiaridade quanto as demais, a criação de uma cozinha ampla, que permite a integração dos convidados com o cozinheiro, por meio de uma cozinha americana, demanda esta cada vez mais presente em apartamentos.

13 13 Figura 3 Proposta Layout 1 Fonte: Arqlinea Arquitetura, Consultoria e Gestão (2015) Figura 4 - Proposta Layout 2 Fonte: Arqlinea Arquitetura, Consultoria e Gestão (2015)

14 14 Figura 5 - Proposta Layout 3 Fonte: Arqlinea Arquitetura, Consultoria e Gestão (2015) Já a proposta 4 apresenta um layout um pouco mais rígido e possivelmente mais atraente a um casal conservador ou a um casal de idosos. A proposta apresenta uma divisão mais palpável e fixa entre as áreas privativas e as áreas sociais, por meio do mobiliário e uma divisória entre a cozinha e a sala de jantar, diminuindo o alcance visual entre os ambientes. Além disso, o mobiliário utiliza tons mais neutros para tentar promover a durabilidade da ambientação e aceitação por parte dos clientes. Figura 6 - Proposta Layout 4

15 15 Fonte: Arqlinea Arquitetura, Consultoria e Gestão (2015) Em todas as propostas é possível visualizar a criação de espaços gourmet, onde as varandas são incorporadas aos espaços internos e/ou são utilizadas como espaços de recepção e têm se tornado uma forte demanda no mercado imobiliário. Apesar da diversidade de propostas, é possível perceber que todos os layouts tentaram promover o conforto e a convivência, possibilitando que um apartamento aparentemente pequeno seja transformado em um espaço amplo e apto a receber convidados e familiares. Além de promover uma concepção espacial aberta e interativa. 6. Conclusão Muitas vezes um ambiente personalizado é interpretado apenas em um patamar meramente estético, não correspondendo satisfatóriamente com o modo de vida, os hábitos e aspectos socias dos moradores. Neste caso, a aparência é levada como o princípio e o fim da concepção estética. O ambiente é uma extensão do ser humano e não podem ser pensados separadamente. Os projetos de design de interiores devem propor simultaneamente funcionalidade, estética e conforto. Para que esses três aspectos sejam plenamente alcançados, observou-se no decorrer do artigo que os condicionantes projetuais têm maior influência na determinação da forma física da solução projetual. Ou seja, as condicionantes, objetivas e subjetivas, do projeto podem ajudar a resolver a problemática central da metodologia de projeto, visto que estão ligados às necessidades básicas do ser humano e a sensação do bem-estar. Conhecer os espaços internos e seus usos também é de suma importância para o projetista, visto que, a natureza das atividades e como estas são desenvolvidas nos distintos ambientes que compõem uma residência, irão influenciar no planejamento, disposição e organização do espaço interno. Pensando nisso, fazer o levantamento das necessidades do cliente, mostrou-se ser ideal para que o projeto atenda aos critérios de funcionalidade e estética. Também é importante salientar que, este artigo trouxe a atenção para a importância de um projeto de arquitetura de interiores bem elaborado e para a contratação de um profissional de design que compreenda as necessidades projetuais, isso fará toda a diferença na concepção de espaços ergonômicos e personalizados. Por fim, conclui-se que, com o método de composição espacial adotado na pesquisa, será possível otimizar o espaço arquitetônico e definir fluxos direcionáveis eliminando os deslocamentos indesejáveis nos ambientes. E também foi possível verificar a importância do método para a concepção de diferentes layouts que promovessem o equilíbrio entre a funcionalidade e a estética. Referências ARQLINEA Arquitetura, Consultoria e Gestão Escritório de Arquitetura de pequeno porte Licalização Vila Velha, E.S. Período de prestação de serviço da autora no local: Março/2015 a Maio/2016.

16 16 CHING, Francis D. K.; BINGGELI, Corky. Arquitetura de interiores ilustrada; tradução Alexandre Ferreira da Silva Salvaterra. 2 ed. Porto Alegre: Bookman, GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, GURGEL, Mirian. Projetando espaços: guia de arquitetura de interiores para áreas residenciais. São Paulo: Editora Senac São Paulo, PEREIRA, Ana Carolina Gomes Sampaio. et al. Melk Milan Artista plástica e designer. In: DISCIPLINA COMPOSIÇÃO E LINGUAGEM ESPACIAL NO DESIGN DE INTERIORES. Vitória: Instituto de pós graduação Ltda, PRODANOV, Cleber Cristiano.; FREITAS. Ernani César de. Metodologia do trabalho científico [recurso eletrônico]: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2. ed., Novo Hamburgo: Feevale, SILVA, Helga Santos da.; SANTOS, Mauro César de Oliveira. O significado do conforto no ambiente residencial. Disponível em: < Proarq18_OSignificadoConforto_SilvaSantos.pdf>. Acesso em: 01 fev WIKIPEDIA. Disponível em: < Acesso em: 27 fev