SENTENÇA (EMBARGOS DE DECLARAÇÃO) RELATÓRIO

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1 SENTENÇA (EMBARGOS DE DECLARAÇÃO) RELATÓRIO ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS DA JUSTIÇA DO TRABALHO DA 3ª REGIÃO, qualificada nos autos, interpôs embargos declaratórios à sentença de fls. 181/182, que extinguiu o processo sem resolução de mérito em razão da perda superveniente do interesse de agir. Em síntese, diz que a referida sentença apresenta-se contraditória ao afirmar a inexistência de utilidade do julgamento no que toca ao pleito de decretação de nulidade da decisão contida no OFÍCIO CIRCULAR/CR/VCR nº 01/2014. Alega que o ato vergastado persiste em seus efeitos, ainda que ultrapassadas as datas nas quais determinou-se a inclusão de pautas pelos Magistrados de 1ª instância, transcrevendo trecho do ofício expedido nos autos de procedimento administrativo instaurado pela Corregedoria Regional do TRT3 (PP ). FUNDAMENTAÇÃO Conheço dos embargos, vez que próprios e tempestivos. Dispõe o art. 535 do Código de Processo Civil que cabem embargos de declaração para sanar, na sentença ou acórdão, obscuridade, contradição ou omissão a respeito de ponto sobre o qual o juiz deveria pronunciar-se. Apesar de não vislumbrar a contradição apontada pela parte autora, tenho que, de fato, a sentença foi omissa no que toca ao pedido de posterior declaração de nulidade da decisão contida no OFÍCIO CIRCULAR/CR/VCR nº 01/2014. Pedido de mérito cujo interesse processual Pág. 1/7

2 ainda persiste. Na doutrina clássica: dá-se omissão quando o julgado não se pronuncia sobre ponto, ou questão, suscitado pelas partes, ou que o juiz ou juízes deveriam pronunciar-se de ofício. (Santos, Moacir Amaral) Na espécie, assiste razão à parte autora ao defender a utilidade do exame de legalidade/constitucionalidade do ato administrativo questionado, até por que os Magistrados que atuavam nas Varas do Trabalho e que não incluíram pautas de audiências nos dias 06 e 07/03/2014 e nos dias 14 e 15/04/2014 estão sendo oficiados para prestar esclarecimentos no bojo do PP , instaurado pela Corregedoria Regional do TRT3, conforme noticiado nos embargos. Procedem os embargos de declaração quanto a ser omissa a sentença embargada, cuja apreciação do ponto tido por omitido à apreciação judicial procuro suprir nesta oportunidade. O mérito da pretensão ajuizada reside na imputação de desarmonia, tanto constitucional quanto legal, de ato praticado pela Corregedoria do Tribunal Regional do Trabalho, da Terceira Região, cujo conteúdo normativo determinou providências relacionadas à práticas de atos incertos no âmbito de competência constitucional do magistrado na condução dos processos sob sua apreciação. Ao tempo em que examinada a antecipação dos efeitos da tutela judicial postulada, este Juízo já discorreu acerca dos contornos da lide, oportunidade em que explicitou os fundamentos que nortearam sua convicção acerca da cabível censura para o ato administrativo questionado, à luz do regime jurídico constitucional que define e delimita a atuação da magistratura. Assim, pontuei que para melhor equacionar a questão, mister se faz a ponderação Pág. 2/7

3 entre as atribuições da Corregedoria e/ou do Corregedor do TRT da 3ª Região e as dos Juízes do Trabalho de primeiro grau de jurisdição, sem perder de vista os deveres, direitos e prerrogativas destes. Segundo o art. 96 da Constituição Federal, compete privativamente aos Tribunais b) organizar suas secretarias e serviços auxiliares e os dos juízos que lhes forem vinculados, velando pelo exercício da atividade correicional respectiva;. A Consolidação dos Provimentos da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho estabelece tão somente que a quantidade de dias da semana em que se realizam audiências serão objeto de exame e registro em ata por ocasião da correição ordinária anual em cada Vara do Trabalho (art. 18, fls. 68/69). Já o Regimento Interno do TRT da 3ª Região, que cuida da Corregedoria em seu Capítulo VII, estabelece expressamente as competências do Corregedor e do Vice-Corregedor em seus artigos 30 e 31 (cf. fls. 85/87), entre as quais não se encontra a de determinar a inclusão de processos em pautas, muito menos de determinar as datas de realização destas. Lado outro, no que diz respeito aos deveres, direitos e prerrogativas dos magistrados, a Constituição Federal reza, in verbis: Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário: (...) IV os Tribunais e Juízes do Trabalho; (negritei) Art. 93. Lei complementar de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: (...) Art São órgãos da Justiça do Trabalho: Pág. 3/7

4 I O Tribunal Superior do Trabalho; II os Tribunais Regionais do Trabalho; III Os Juízes do Trabalho. (negritei) Art A lei disporá sobre a constituição, investidura, jurisdição, competência, garantias e condições de exercício dos órgãos da Justiça do Trabalho. Art Nas Varas do Trabalho, a jurisdição será exercida por um juiz singular. (...) A lei referida nos artigos 93 e 113 da Constituição cuida-se da Lei Orgânica da Magistratura Nacional (Lei Complementar nº 35, de ), que disciplina: Art São deveres do magistrado: I - Cumprir e fazer cumprir, com independência, serenidade e exatidão, as disposições legais e os atos de ofício; (...) Art A atividade censória de Tribunais e Conselhos é exercida com o resguardo devido à dignidade e à independência do magistrado. (negritei) Por sua vez, o Provimento Geral Consolidado do TRT da 3ª Região (Provimento nº 1, de 03/04/2008, fls.138/157), prescreve: Art. 2º A designação de audiências iniciais nas Varas da Capital será efetuada a critério do Juiz Titular ou Substituto por intermédio da Diretoria da Secretaria de Atermação e Distribuição de Feitos, e nas Varas do interior através das Diretorias do Foro ou, não havendo, nas próprias Varas, de segunda a sextafeira, durante o horário legal. E mais, ao dispor sobre o funcionamento do Juízo Auxiliar e da Substituição, reza: Pág. 4/7

5 Art. 118-A. As decisões sobre funcionamento, administração do órgão jurisdicional de 1ª Instância e de sua Secretaria são prerrogativas do Juiz Titular. (...) Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro, os Juízes correspondem ao exercício de uma parcela da soberania do Estado, consistente na função de dizer o direito em última instância. Nesse sentido, o STF, no Recurso Extraordinário /SP, em que foi relator o Ministro Néri da Silveira, referiu-se aos magistrados como agentes políticos, investidos para o exercício de atribuições constitucionais, sendo dotados de plena liberdade funcional no desempenho de suas funções, com prerrogativas próprias e legislação específica (DJ de ). Quanto ao vínculo com o poder público, é de natureza estatutária, regido pela Lei Orgânica da Magistratura. Ora, não obstante sejam louváveis os fundamentos expressos no OFÍCIO CIRCULAR/CR/VCR Nº 01/2014, tenho por indevida qualquer intervenção direta, e prévia, à forma de condução dos procedimentos judiciais de exclusiva competência do magistrado, consoante regime seu regime jurídico constitucional e sua explicitação pela respectiva Lei Orgânica. Em outras palavras, os Juízes devem exercer livremente o seu ofício, que inclui a condução dos procedimentos administrativos internos das varas, sem a ingerência de órgãos dirigentes do próprio judiciário e até mesmo dos tribunais superiores, no que se refere à forma de conduzir atos de cunho estritamente judiciais. A existência de pautas/prazos elastecidos para realização de audiências fora dos padrões e tradição do Tribunal Regional do Trabalho da Terceira Região não se presta como fundamento para o procedimento adotado pela Administração do Tribunal, ao arrepio das disposições constitucionais, legais e regulamentares acerca do tema, em especial do Provimento Geral Consolidado do TRT3, cujos artigos 2º e 118-A já transcritos são de clareza solar e, diversamente do afirmado na contestação, atribuem expressamente aos Magistrados de primeira instância (titulares e substitutos) o critério para a designação de audiências nas Varas do Trabalho Pág. 5/7

6 em que atuam, o que poderá se dar de segunda a sexta feira, durante o horário legal, e não em todos os dias da semana ou em datas previamente estabelecidas a critério da Corregedoria. Por fim, hei por bem ressaltar que não há falar em usurpação da função administrativa por parte deste Juízo, vez que cabe ao Poder Judiciário o controle da legalidade dos atos administrativos, o que efetivamente constitui objeto da postulação em exame nestes autos. DISPOSITIVO Em face deste contexto, ACOLHO OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, para, suprindo a omissão existente na sentença, JULGAR PROCEDENTE o pedido nos termos em que formulado. Condeno a Ré ao pagamento das custas e de honorários, estes fixados em 10% do valor atribuído à causa, conforme os termos do 3º do art. 20 do CPC. Sentença sujeita ao duplo grau de jurisdição, pelo que com ou sem recurso voluntário remetam-se os autos à douta Instância Revisora. Publique-se. Registre-se. Intime-se. Belo Horizonte,6 de junho de ITELMAR RAYDAN EVANGELISTA JUIZ FEDERAL - 20ª VARA Pág. 6/7

7 W:\GABJU\Assessoria\20 VARA_ \SENTENCAS\EMBARGOS DE DECLARAÇÃO\2014\ord_ec amatra3_sem contradição_com omissão_acolhe_ doc LAV Pág. 7/7