EFEITO IN VITRO DO EXTRATO DE Leonurus sibiricus (Lamiaceae) CONTRA ESTRONGILÍDEOS

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1 EFEITO IN VITRO DO EXTRATO DE Leonurus sibiricus (Lamiaceae) CONTRA ESTRONGILÍDEOS Klécila PortesReis 1 ; *Idelvânia dos Anjos Nonato 1, Gabriel Domingos Carvalho 2 ; Camilo Amaro Carvalho 3, Artur Kanadani Campos 4 1 Estudante do Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Viçosa (UFV) Viçosa/Brasil; klepory@yahoo.com.br; 2 Professor do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG) 3 Professor do Departamento de Enfermagem e Medicina da UFV 4 Professor do Departamento de Veterinária da UFV Recebido em: 31/03/2015 Aprovado em: 15/05/2015 Publicado em: 01/06/2015 RESUMO O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficácia in vitro do extrato aquoso de Leonurus sibiricus (Lamiacea) no controle de estrongilídeos. Aplicou-se o método da coprocultura quantitativa, usando-se extratos aquosos de caule e folhas em concentrações de 5 e 10%, extraídos por meio de ultrassom. Foram realizadas 36 coproculturas, com 6 repetições para cada um dos tratamentos. Utilizou-se como meio umidificador soluções do extrato aquoso do caule e das folhas, a 5 e 10%. Como controle negativo foi utilizada água mineral e como controle positivo solução de dicromato de potássio (K 2 Cr 2 O 7 ) 0,33mM. Verificou-se efeito significativo dos tratamentos com de extrato aquoso de L. sibiricus diferenciando-se do controle negativo com relação porcentual de mortalidade larval. O extrato aquoso de L. sibiricus mostrou-se eficaz na redução da eclodibilidade dos ovos de estrongilídeos, além de possuir uma eficácia de mortalidade larval de 56 a 76%. O tratamento com extrato aquoso do caule a 10% foi o que obteve o melhor efeito em relação à diminuição da eclodibilidade dos ovos de estrongilídeos. PALAVRAS-CHAVE: erva-de-macaé, fitorerapia, helmintose. IN VITRO EFFECT OF Leonurus sibiricus (Lamiaceae) EXTRACT AGAINST STRONGYLIDES ABSTRACT The objective of this study was to evaluate the in vitro efficacy of aqueous extract of Leonurus sibiricus ( Lamiacea ) in control of strongyles. Were used the method of quantitative fecal culture, using aqueous extracts of leaves and stems at concentrations of 5 and 10%, extracted by means of ultrasound. Were performed 36 stool cultures with six replicates for each treatment. As humidifier medium was used solutions of the stem and leaves aqueous extract at 5 and 10%. As a negative control was used mineral water and as positive control solution of potassium dichromate (K 2 Cr 2 O 7 ) 0.33mM. After seven days of growth in controlled conditions at 25 C was made to recover the hatched larvae. Was verified signification on the effect of ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21; p

2 treatments with aqueous extract of L. sibiricus differentiating from the negative control compared the percentage of larval mortality. The aqueous extract of L. sibiricus was effective in reducing the hatchability of eggs of strongyles, and also showed an efficacy of larval mortality of 56 to 76%. Treatment with the aqueous extract of stem at 10% was the one that had a superior effect on reduce of the hatchability of eggs of strongyles. KEYWORDS: helminth diseases, herb-of-macae, phytotherapy. INTRODUÇÃO Entre os parasitos de maior prevalência na infecção de equídeos estão os estrongilídeos, que apresentam infecção por ingestão da larva que está presente na pastagem após eliminação de ovos nas fezes de animais infectados (CARVALHO, 2011). Os estrongilídeos podem permanecer até um ano no organismo do animal em grau de hipobiose até encontrar condições ambientais favoráveis para o seu desenvolvimento (BEZERRA, 2007; COSTA, 2011; FROUCO, 2011; MEDEIROS, 2012). O método de criação intensiva aumenta o número de larvas na pastagem sendo uma fonte constante de reinfecção, provocando queda no desempenho e mortalidade dos animais, além de gastos elevados com medicamentos antihelmínticos. O controle químico não oferece eficácia adequada, provocando seleção de parasitos resistentes, além de deixar resíduos no ambiente (NASCIMENTO, 2008; SILVA, 2008). Dessa forma a relutância dos produtores em buscar auxílio técnico ou orientações fica frente ao problema de um não controle das endoparasitoses (SILVEIRA & COSTA, 2013). A erva-de-macaé ou rubim (Leonurus sibiricus L.) pertence à família Lamiaceae e ordem Lamiales, esta família compreende um grande número de espécies de valor medicinal, espalhadas por todo o planeta (LARCHER, 2000). De origem na Sibéria, China e Japão, a Erva de Macaé, assim conhecida, se tornou planta invasora sendo encontrada em todo território brasileiro. O uso de L. sibiricus para fins farmacêuticos é conhecido popularmente no controle da cólica, sangramentos e edemas. Possui efeito antiinflamatório e antioxidante (ALMEIDA et al., 2006; NAZATO et al., 2006). Quanto a eficácia anti-helmíntica da planta L. sibiricus, não há comprovação científica dessa atividade, porém, muitos relatos sobre plantas da mesma família (Lamiaceae) sugerem que sejam eficazes no combate a de nematoides gastrointestinais de bovinos (NASCIMENTO et al., 2008). De acordo com MARTINS (2010), os extratos de L. sibiricus mostram metabólicos primários como carboidratos, aminoácidos e lipídeos e metabólitos secundários como compostos fenólicos, terpenóides, óleos essenciais e alcalóides, os quais podem estar envolvidos com essa ação anti-helmíntica. Estudos fitoterápicos com ênfase no controle parasitológico têm se estabelecido como alternativa em substituição aos medicamentos químicos (ROSA 2012; OLIVEIRA, 2013). A validação do efeito fitoterápico de uma planta pode ser feita por teste in vitro e in vivo, sendo o primeiro uma forma mais segura, de menores gastos e principalmente por não exporem os animais diretamente aos testes (AMARANTE, 2004; NASCIMENTO et al., 2008; SILVA, 2008; COSTA, 2013; PINTO, 2014). ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21; p

3 Dessa forma, este trabalho teve como objetivo avaliar a eficácia in vitro do extrato aquoso de L. sibiricus em concentrações de 5% e 10%, no controle de parasitos de equídeos, como uma proposta alternativa de controle parasitológico. MATERIAIS E MÉTODOS Obtenção do extrato vegetal de Leonurus sibiricus Foram coletados exemplares espécie L. sibiricus, conhecida popularmente como Erva-de-Macaé no município de Viçosa localizado na Zona da Mata Norte (649 metros acima do nível do mar e apresenta temperatura amena, com média anual de 13,2 ºC para a temperatura mínima, e de 25,6 ºC para a temperatura máxima a área do município é de 279 km 2, altitude de 649 m, latitude a 20 graus 45' 20" S, longitude a 42 graus 52'40"O), Minas Gerais - Brasil. Uma exsicata foi depositada no Herbário da Universidade Federal de Viçosa - UFV, para identificação taxonômica, sob número Estas amostras foram selecionadas, limpas e secas em estufa a 40 C por três dias para a desidratação completa. As folhas e caule foram separadamente e as raízes foram desprezadas. As folhas e caule foram triturados em moinho de facas (Marconi - Modelo 340). Os extratos aquosos à 5 e 10% (m/v) foram preparados em água destilada e submetidos à extração por uma hora em ultrassom (Unique - MaxiClean 1400) e posteriormente filtrados a vácuo, segundo metodologia proposta por CARVALHO et al., Obtenção das amostras de fecais As amostras de fezes foram coletadas diretamente da ampola retal dos animais (equídeos). Retiraram-se amostras para a prática de contagem de ovos nas fezes dos animais através do método OPG (método de contagem de ovos por grama de fezes de Gordaon e Whithlock). Fezes com alta contagem de ovos de parasitos foram selecionadas para realização da coprocultura ou cultura de fezes de acordo com o método de Loss modificado por ARAÚJO (2006). Pelo exame de OPG identificou-se ovos de estrongilídeos, confirmando que a amostra era positiva, estando os animais parasitados. A média dos resultados dos exames de OPG foi ovos por grama de fezes. Realização da Coprocultura e Método de Baermann Para a análise de eficiência dos extratos aquosos de L. sibiricus L. foram realizadas coproculturas e recuperação das larvas com os diferentes extratos vegetais. Após a realização dos OPGs pela carga parasitaria realizou-se a coprocultura usando vermiculita segundo método de Loss modificado, de acordo com ARAÚJO (2006). Foram realizadas 36 coproculturas, com seis repetições para cada um dos seis grupos de tratamento, onde se teve: a) Grupo 1 (controle negativo): coproculturas para a recuperação das larvas, adicionando água mineral em cada amostra. b) Grupo 2: coproculturas com extrato aquoso das folhas a 5%. c) Grupo 3: coproculturas com extrato aquoso das folhas a 10%. d) Grupo 4: coproculturas com extrato aquoso do caule a 5%. e) Grupo 5: coproculturas com extrato aquoso do caule a 10%. f) Grupo 6 (controle positivo): coproculturas com solução de dicromato de potássio (K 2 Cr 2 O 7 ) a 0,33mM, para inativação das larvas, segundo técnica descrita por CARVALHO et al. (2009). ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21; p

4 As coproculturas foram colocadas em estufa de crescimento a 25 C por sete dias, e após este período foi realizado o método de Baermann de acordo com ARAÚJO (2006), onde o conteúdo das coproculturas foi colocado em contato com água a 45 C no aparelho de Baermann. O sedimento or iundo deste método foi colocado em lâminas para análise da eficácia do extrato de L. sibiricus na eclodibilidade dos ovos e/ou mortalidade de larvas infectantes de estrongilídeos. Análise dos Dados Os dados obtidos foram analisados utilizando-se o método de Lilliefors, para se comprovar a normalidade. Uma vez verificado a normalidade dos dados, realizouse a análise de variância para verificar o efeito dos tratamentos sobre os parâmetros e o teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade para comparação das médias por meio do pacote estatístico Sistema para Análise Estatística SAEG (2007). RESULTADOS E DISCUSSÃO As coproculturas apresentaram-se eficazes quanto a simulação de um ambiente adequado para eclosão dos ovos e desenvolvimento das larvas infectantes. Observou-se no grupo controle negativo um número elevado de larvas, a média do total de larvas foi Na Tabela 1 pode-se observar as médias de larvas totais, larvas vivas, larvas mortas e percentual de mortalidade larval nos seis tratamentos distintos. Verificou-se efeito significativo dos tratamentos com de extrato aquoso de L. sibiricus diferenciando-se do controle negativo (água mineral) com relação porcentual de mortalidade larval. Os tratamentos, caule a 5% e 10% e folhas a 5% e 10%, não se diferenciaram estatisticamente (p>0,05) do controle positivo (dicromato de potássio) quanto a porcentagem de mortalidade larval. Entretanto, o tratamento com caule a 10% obteve melhores resultados quanto a prevalência de larvas vivas, mostrando eficácia sobre a eclodibilidade dos ovos presentes nas fezes. Mesmo em concentrações consideradas baixas (5 e 10%) o extrato aquoso de L. sibiricus mostrou-se eficaz na redução da eclodibilidade dos ovos de estrongilídeos, com eficácia de mortalidade larval de 56 a 76%. O tratamento com extrato aquoso do caule a 10% apresentou os melhores resultados, demonstrando o potencial larvicida do extrato em estudo. A prospecção fitoquímica dos extratos aquosos do caule e folha a 10% indicaram a presença de metabólitos secundários que podem estar relacionados à sua ação no tratamento de diversos distúrbios, dentre eles: açúcares redutores, compostos fenólicos, taninos, flavonóides, cumarinas, heterosídeos cardiotônicos, triterpenos e alcalóides. Somente no extrato do caule foi identificada a presença saponinas (FERRÃO et al., 2012). FERRÃO et al. (2012) ao analisarem espectrofotométricamente extratos aquosos a 10% de L. sibiricus observaram que ao longo da faixa espectral se enquadram compostos fenólicos das classes isoflavonóides e biflavonóides, aos quais são atribuídas atividades larvicidas, bem como outros compostos como taninos, antraquinonas conforme. Devido aos metabólitos secundários presentes nos extratos aquosos de L. sibiricus e ao resultado obtido de mais de 62,0% de eficácia na mortalidade das larvas, pode-se considerar que esta espécie vegetal possui um potencial efeito anti-helmíntico sobre os estrongilídeos de equídeos, o que permite propor que a planta em estudo sirva como base para o desenvolvimento de novos ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21; p

5 fármacos. Entretanto, novos estudos deverão ser conduzidos para maior comprovação desses resultados, bem como a padronização da concentração ideal, bem como a realização de testes in vivo com o intuito de comprovar a eficácia do produto final em uma formulação farmacêutica. TABELA 1. Média do número de larvas eclodidas e porcentual de mortalidade larval nos diferentes tratamentos. Tratamento Larvas totais Larvas vivas Mortalidade larval (%) Controle negativo A A 1,0 B Caule a 5% 7770 B 1930 B 76,0 A Caule a 10% 3230 BC 1140 B 66,0 A Folhas a 5% 8498 B 4108 B 56,0 A Folhas a 10% 6610 BC 2820 B 62,0 A Controle positivo 90 C 20 B 54,0 A *Médias seguidas de mesma letra nas colunas, não diferem pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. CONCLUSÕES O extrato de L. sibiricus mostrou-se eficaz na redução da eclodibilidade dos ovos e na inativação de larvas de estrongilídeos. O extrato aquoso de L. sibiricus pode ser uma alternativa viável para o controle parasitológico. REFERÊNCIAS ALMEIDA, L. F. R. Constituintes presentes nas folhas de Leonurus sibiricus. 96f Tese (Doutorado) Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista. ARAÚJO, J. V. Diagnóstico de helmintoses. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, p (Caderno Didático, 113), AMARANTE, A. F. T. Controle integrado de helmintos de bovinos e ovinos. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v.13, supl.1, p.68-71, BEZERRA, S. Q. et al.,; Ciatostomíneos (Strongylidae-Cyathostominae) parásitas de cávalos: Ecología experimental dos estágios pré-parasíticos em gramínea tifton 85 (Cynodon spp. cv. Tifton 85) na baixada Fluminense, RJ, Brasil. Parasitología latino-americana, v.62, n.1-2, CARVALHO, C. A.; SILVA, M. B.; OLIVEIRA; T. G.; LIMA, J. M.; ROSA, M. B. Estudo espectrométrico de diferentes estágios fenológicos da Brassica oleracea var. capitata. Revista Brasileira de Farmacognosia., v.18, n.2, p , CARVALHO, C. A.; MATTA, S. L. P., MELO, F. C. S. A.; ANDRADE, D. C. F.; CARVALHO, L. M.; NASCIMENTO, P. C.; SILVA, M. B.; ROSA, M. B. Cipó-cravo (Tynnanthus fasciculatus MIERS Bignoniaceae): Estudo fitoquímico e toxicológico ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21; p

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7 Agronomia e Medicina Veterinária. PINTO, L. N.; FLOR, A. S. O.; BARBOSA, W. L. R. Fitoterapia popular na Amazônia Paraense: uma abordagem no município de Igarapé-Mirí, estado do Pará nos anos de 2000 e Revista de Ciência e Farmacologia Básica, v.35, n.2, p , ROSA, P. R. B. Óleo de nem: tratamento parasitário em ovinos e desenvolvimento ponderal. 47f Dissertação (Mestre em Ciência Animal). Universidade Estadual Paulista. SAEG, Sistema para Análise Estatística. Versão 9.1. Fundação Artur Bernardes, Universidade Federal de Viçosa, SILVA, F. S. Eficiência anti-helmíntica in vitro do extrato aquoso de mastruz (Chenopodium ambrosioides l). 50f Trabalho de Conclusão de Curso (Medicina Veterinária) Universidade Federa de Campina Grande. SILVEIRA, F. A.; COSTA, O. A. D. Fatores a cerca da resistência a verminose em ovinos the factors of resistance to nematode parasites in sheep. In: III Simpósio de sustentabilidade e Ciência Animal. 3p ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21; p